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HISTÓRIA DA CIÊNCIA - ebook

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Prévia do material em texto

CIÊNCIA 
dos primórdios da formação humana até a 
revolução científica na era moderna 
uma síntese didática 
H I S T Ó R I A D A 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
 
 
História da ciência: dos primórdios da formação humana até a 
revolução científica na era moderna, uma síntese didática. 
 
 
Primeira Edição 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá, MT 
Edição do Autor 
2018 
 
 
 
 
 
Copyright © 2018 by Antonio Carlos Hidalgo Geraldo 
Todos os direitos reservados 
Ficha catalográfica 
Geraldo, Antonio Carlos Hidalgo 
História da ciência: dos primórdios da formação humana até a era 
moderna, uma síntese didática [livro eletrônico] / Antonio Carlos Hidalgo 
Geraldo. - 1ª edição - Cuiabá, MT: Edição do Autor, 2018. 
117 p. 
Bibliografia 
ISBN: 978-85-540423-0-1 
1.História da ciência – Síntese didática 2.Ensino das ciências naturais 3. 
Professores e Bacharéis – Formação profissional. 
CDU-001(091) 
1ª Edição – agosto de 2018 
Brasil 
 
Capa: Wesley de Oliveira Neto 
 
Edição do Autor 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
achg2@hotmail.com 
 
PREFÁCIO 
 
Este livro tomou como base de conteúdo minha experiência como 
professor de “História e Filosofia do Conhecimento Biológico”, para 
alunos de licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas no Instituto de 
Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT -, e o 
trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor no Programa de Pós-
doutorado da Faculdade de Educação da UNICAMP, Campinas, SP, no 
período de julho de 2015 a junho de 2016, sob supervisão do Prof. Dr. 
Dermeval Saviani, na pessoa de quem venho agradecer a toda a equipe de 
trabalho do referido programa de pós-doutorado que tornou possível o 
desenvolvimento da pesquisa. Também foi importante para o 
desenvolvimento da pesquisa citada, o afastamento das minhas atividades 
de encargos didáticos por um ano, concedido pela UFMT, e o respaldo dos 
colegas de trabalho do Instituto de Biociências - IB -, desta mesma 
universidade, que assumiram meus encargos didáticos durante minha 
ausência naquele período, em especial a Profª. Drª Renata Cristina Cabrera, 
em nome de quem agradeço a toda a equipe do IB - UFMT. 
 
Antonio Carlos Hidalgo Geraldo 
Agosto de 2018 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO...............................................................................................................9 
I - O CONHECIMENTO NA ERA PRIMITIVA..................................................23 
1-Período paleolítico: dos primórdios da formação da espécie humana até 
aproximadamente 10.000 anos atrás.............................................................................23 
1.1-Artes e Linguagens...................................................................................................26 
1.2-Crenças e visão de mundo na era primitiva: a magia..........................................28 
2-Da revolução neolítica à formação das primeiras civilizações: de 10.000 a 5.000 
anos atrás..........................................................................................................................31 
II - A MITOLOGIA E O NASCIMENTO DO PENSAMENTO RACIONALISTA: o 
conhecimento na Antiguidade, a era das primeiras grandes civilizações, de 5.000 
anos atrás até o século V da era cristã..........................................................................37 
1-A elaboração de calendários, a matemática, a linguagem escrita e a 
astronomia........................................................................................................................43 
1.1-A matemática e a linguagem escrita.......................................................................51 
2-A razão: o nascimento da filosofia na era antiga.....................................................54 
3-A Metafísica Idealista de Platão: Grécia 427-347 ac...............................................56 
4-A Filosofia Finalista de Aristóteles: Grécia 384-322 ac.........................................58 
5-Principais características do pensamento aristotélico.............................................59 
6-A ciência Helenística e a Escola de Alexandria.......................................................68 
7-O conhecimento na transição da Era Antiga para a Era Medieval......................73 
III - ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE E DO PENSAMENTO NA 
EUROPA OCIDENTAL MEDIEVAL: do século V ao século XV da era 
cristã..................................................................................................................................81 
1-O contexto sócio-econômico da Europa Medieval................................................81 
2-Cristianismo e Conhecimento na Europa Medieval...............................................85 
3-Características Gerais da filosofia Cristã: o credo, os dogmas católicos, a 
palavra revelada por Deus..............................................................................................88 
4-A teologia natural na idade média.............................................................................91 
IV - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA: o período que vai do século XV ao século 
XVII..................................................................................................................................95 
1-O contexto econômico, social e político europeu nos séculos XV, XVI e 
XVII..................................................................................................................................95 
2- O Humanismo, a Renascença e o Mecanicismo....................................................98 
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................115 
 
 
INTRODUÇÃO 
O que entenderemos por conhecimento científico ao longo deste 
trabalho? 
O conhecimento científico é uma das formas em que se apresenta o 
conhecimento humano em sentido geral; dentre as diferentes formas de 
conhecimento com características específicas, podemos citar algumas: o 
conhecimento popular (conhecimentos prático-utilitários do cotidiano 
ou senso comum), o conhecimento mágico (que predominou na era 
primitiva), o conhecimento mitológico (que predominou na era antiga, 
na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia, em Roma), o conhecimento 
artístico, religioso, filosófico, científico e outros. Estes tipos de 
conhecimento não são isolados entre si, pois sofrem influências mútuas. 
A ciência visa compreender os elementos e fenômenos da natureza e 
da sociedade e suas relações, buscando apreender as suas regularidades, 
seus padrões de comportamento e de transformação, objetivando 
estabelecer conceitos, leis, princípios, teorias, que representem e 
descrevam estes elementos, fenômenos, relações e regularidades por 
meio de uma linguagem própria de cada área de estudos e pesquisa; 
objetivando, também, resolver os problemas que surgem para o homem 
suprir suas necessidades no processo de produção de sua vida, 
controlando ou transformando estas relações entre os elementos e os 
fenômenos da natureza e da sociedade. Estas relações entre elementos e 
fenômenos podem ser: relações de causalidade, de identidade, de 
semelhanças e diferenças, de derivação, de quantidade, de variabilidade 
qualitativa e quantitativa, de transformação, de impulsionamentos 
recíprocos, de conexões, relações de complementariedade, relações de
10 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
contradição, e outras. Ao elaborar uma forma de compreender a 
natureza e a sociedade, a ciência contribui também para a construção de 
uma visão de mundo coerente e objetiva para a humanidade. 
“compreender e relacionar os fenômenos, revelar sua lógica de manifestação, 
controlá-los, conservá-los, transformá-los e adaptá-los às suas necessidades, 
seguindo alguns princípios teórico-metodológicos...”(Geraldo, 2014, p. 34) 
Quais as principais características do conhecimento científico? 
Dentre as principais características específicas do conhecimento 
científico, vejamos algumas: a objetividade, a metodologia, a 
concreticidade e a sistematização lógica. 
a) A objetividade: refere-se à condição de que os fenômenos da 
realidade sejam compreendidos a partir de suas características 
intrínsecas, isto é, compreender o objeto do conhecimento por seus 
elementos formadores, as relações que estes estabelecem entre si, 
tanto em suas partes como em sua totalidade e pelas causas materiais 
que determinam a sua existência e seu processo de mudanças. 
Buscando-se estabelecer uma conexão lógica objetiva, necessária, 
entre o objeto que é representado e a própria representação do 
objeto. 
b) A metodologia: refere-se à condição de que a elaboração do 
conhecimento científico passa necessariamente por um processo de 
problematização da realidade que se quer compreender, de forma 
planejada e sistemática, acompanhado de um levantamento e coleta 
de dados baseados na observação objetiva, numa fundamentação 
teórica, na experimentação, na comparação, na indução 
experimental, na dedução, na análise, na síntese e no registro de 
todas essas etapas, incluindo os resultados obtidos. 
11 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
c) A concreticidade: refere-se à relevância do conhecimento construído 
para o desenvolvimento da humanidade, em sentido cognitivo, 
emocional, comportamental, axiológico (valorativo), econômico, 
social, histórico e outros. Refere-se também à intencionalidade, ainda 
que implícita, do conhecimento. 
“Aqui entendida no âmbito da unidade teoria-prática social (...). Refere-se à 
densidade do conteúdo histórico-social do conhecimento, sua inserção 
enquanto parte de uma totalidade complexa que compõe a cultura humana 
(...). Sua contribuição consciente na construção da visão de mundo do 
homem e na melhoria da qualidade de vida dos homens”. (Geraldo, 2014, p. 
39) 
Cabe aqui ressaltar que a característica acima refere-se ao 
conhecimento científico em sua totalidade, assim, podemos encontrar 
partes específicas da produção cientifica que, devido ao seu alto grau de 
especialização, não identificamos de forma imediata e direta sua 
concreticidade como foi definida acima, todavia quando esses 
conhecimentos específicos são compreendidos como parte fundamental 
de outros conhecimentos cuja relação com as práticas sociais são mais 
diretas, ai então, fica evidente a sua concreticidade mediadora. Como 
exemplo podemos citar os trabalhos de taxionomia entomológica e suas 
relações com as demais ciências que dependem dela: ecologia, 
agronomia, medicina e outras. Assim, podemos compreender a 
relevância histórico-social dos conhecimentos elaborados por um 
taxionomista curador de uma coleção entomológica, na medida em que 
estes conhecimentos são mediadores da elaboração de conhecimentos 
em outras áreas cuja aplicabilidade nas práticas sociais humanas são 
diretas, como as que citamos acima; além de que, os conhecimentos 
científicos específicos que não têm uma aplicabilidade social direta são 
fundamentais na edificação do arcabouço teórico-metodológico da 
12 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
estrutura de totalidade lógica das ciências, e, também neste sentido, 
podemos compreender sua concreticidade mediadora. 
d) A sistematização lógica: refere-se à condição de coesão e coerência 
na estrutura lógica do conhecimento científico. 
“As ideias que compõem o conhecimento científico devem combinar-se e 
estabelecer conexões de sentido em dimensões parciais especificas e em 
dimensões de estrutura e totalidade do conhecimento: conexões de 
ordenação, de concatenação, de derivação, de interdependências, de 
codeterminações, de movimento em sua forma e conteúdo, segundo um 
conjunto de regras lógicas”... (Geraldo, 2014, p.40) 
O conhecimento forma uma estrutura conceitual sistemática, com os 
seguintes elementos básicos: fatos, fenômenos, conceitos, hipóteses, 
teses, leis, modelos, métodos, e teorias, organizados em derivação lógica 
e em conexão com princípios unificadores. Vejamos abaixo um exemplo 
das relações entre estes elementos básicos do conhecimento científico e a 
busca de conexões com princípios unificadores, conforme reflexão 
desenvolvida por Mayr (1998), sobre os estudos da classificação da 
biodiversidade ao longo da Era Moderna: 
“A quase inconcebível riqueza dos tipos de organismos, todavia, apresentou 
um sério desafio para a mente humana. O mundo ocidental preocupava-se 
com a procura das leis (naturais), desde a revolução científica na mecânica e 
na física. Contudo, nenhum outro aspecto da natureza era tão rebelde à 
descoberta de leis como a diversidade orgânica. A única maneira de poder 
detectar tais leis, assim se imaginava, era ordenar a diversidade, mediante sua 
classificação. Isso explica por que os naturalistas dos séculos XVII, XVIII e 
XIX eram tão obsessivos pela classificação. Isso lhes permitia colocar a 
desconcertante diversidade pelo menos numa espécie de ordem. Por 
coincidência, a classificação, eventualmente, conduziu de fato a uma 
13 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
procurada lei: descendência (por modificação) de um ancestral comum. Tão 
importante se afigurava esse proceder de ordenação aos zoologistas e 
botânicos do século XVIII, que a classificação era tratada quase como 
sinônimo de ciência.” (Mayr, 1998, p. 170) 
Encontramos esta estrutura lógica relacionada com o contexto 
histórico e social onde ocorre sua elaboração, no seu tempo e no seu 
espaço geográfico e social, bem como no processo mais geral da 
construção da humanidade em devir em sua totalidade. Isto significa que 
o conhecimento científico não pode ser verdadeiramente compreendido 
apenas como uma estrutura conceitual lógico-sistemática com significado 
em si e “per si”, fora das práticas sociais nas quais e para as quais foi 
construído. Portanto, precisamos apreender o conhecimento científico 
como prática social, como elemento da cultura humana, derivado das 
condições sociais das culturas onde é ou foi socialmente produzido. 
Como compreender o conhecimento científico como processo 
social, como produto cultural de um determinado período histórico, e, 
ao mesmo tempo, como resultado da elaboração individual do 
conhecimento, pelos homens de uma determinada sociedade? 
Consideramos que os processos de “produção social do 
conhecimento científico” e de “elaboração do conhecimento 
científico”, devem ser compreendidos em sua especificidade (sua 
diversidade) e em sua unidade (Saviani, 2000). Como esboço inicial para 
a compreensão das relações de unidade-diversidade nestes processos, 
podemos afirmar que o processo de elaboração do conhecimento é uma 
forma de trabalho, e, como tal, apresenta os mesmos momentos 
fundamentais apresentados pela categoria trabalho: apropriação e 
objetivação (Duarte, 1993). A apropriação se refere à assimilação da 
herança cultural dos conhecimentos (teorias, conceitos, categorias 
lógicas, métodos) já existentes, que os indivíduos que elaboram o 
14 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
conhecimento têm que realizar antes e durante o processo de elaboração 
do conhecimento; e a objetivação se refere às inovações e 
ressignificações teórico-metodológicas criativas que os pesquisadores 
realizam no processo de elaboração do conhecimento científico, que 
podem ser considerados individualmente ou por grupos de 
pesquisadores. 
Assim, o processo de elaboração do conhecimento científico, 
como processo de trabalho, é mediado dialeticamente (determinado e 
determinante) pela “correnteza” da força do desenvolvimento do 
contexto cultural da sociedade ondevivem e trabalham os pesquisadores 
(Bernal, 1979), considerando-se as suas múltiplas determinações 
(econômicas, políticas, ideológicas, jurídicas, filosóficas, psicológicas, 
linguísticas e outras), na medida em que os pesquisadores, em seu 
processo de formação e desenvolvimento pessoal, assimilam e se apropriam 
dos conceitos, das teorias, das categorias lógicas e dos métodos advindos 
do passado e das práticas sociais de seu tempo; e é formado, 
conjuntamente, pela objetivação das inovações criativas desenvolvidas 
pelos pesquisadores no processo de elaboração e de ressignificação dos 
conhecimentos (descoberta de novos fatos, ressignificação dos 
fenômenos já conhecidos, novas hipóteses, novas teorias, novos 
métodos, etc.). 
O processo de produção social dos conhecimentos científicos, 
por sua vez, deve ser compreendido como momento do processo de 
produção e desenvolvimento do conhecimento humano em geral 
(agricultura, comércio, finanças, religiões, filosofia, artes, indústria, 
engenharias, medicina, regras sociais, etc.). A racionalidade e o 
conhecimento humano não têm origem exclusivamente genética, foram 
desenvolvidos ao longo do processo de evolução biológica e cultural do 
homem, no seio do processo de produção da sua subsistência, 
15 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
juntamente com o desenvolvimento da sua capacidade de trabalho, de 
organização em sociedades, das suas características emocionais e do 
desenvolvimento das linguagens complexas; portanto, a racionalidade e o 
conhecimento humano se originam e se transformam ao longo do 
processo de desenvolvimento das relações do homem com a natureza e 
com os outros homens, como processo social e histórico. 
A ação do homem evoluiu de, inicialmente, predominantemente 
reflexa, como os demais animais, para uma ação predominantemente 
reflexiva (Pinto, 1978), e o conhecimento foi sendo acumulando, fixado 
socialmente, transmitido para as novas gerações e desenvolvido 
historicamente, tendo os processos de produção social da vida material, 
do desenvolvimento emocional e do desenvolvimento da linguagem 
como principais elementos determinantes e mediadores. Desta forma, o 
homem desenvolveu ao longo do tempo, as seguintes funções: a 
sensação; a memorização; a percepção; a representação simbólica 
dos objetos, dos seres, das substâncias, dos fenômenos e de suas 
relações; a conceituação, como forma simbólica de fixação das 
representações mentais; a construção de redes de conceitos e de 
relações entre conceitos, isto é, as linguagens complexas; a 
imaginação, criando e codificando mentalmente relações e formas, a 
partir da estrutura cognitiva simbólica já existente e acumulada, que foi e 
ainda é fundamental para o desenvolvimento da criatividade humana; as 
habilidades cognitivas complexas (identificação, diferenciação, 
classificação, quantificação, elaboração de conceitos, generalização, 
indução, dedução, análise, síntese, resolução de problemas); a 
determinação de objetivos e de finalidades, tanto em sentido 
individual como social, tendo como referência suas necessidades; uma 
grande variedade e precisão dos movimentos corporais, como os 
movimentos das mãos e outros; a criação e a fixação social das 
técnicas e dos instrumentos de trabalhos; dos métodos; criação dos 
sistemas conceituais complexos, logicamente articulados e 
16 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
estruturados, como as teorias; as formas estáveis de relacionamento e 
coesão social; as emoções; os sistemas de comportamento e de 
valores humanos; enfim, o conhecimento humano em sentido geral, 
acumulado e fixado socialmente durante milhares de anos, tendo como 
principal forma de materialização a linguagem e as construções materiais 
desenvolvidas pelo homem ao longo da história (Geraldo, 2014, p. 06 e 
07); e, portanto, do conhecimento científico em particular, como parte 
deste processo de desenvolvimento histórico-cultural mais geral. 
Todo este processo de desenvolvimento irá constituir a cultura 
humana, em sua dimensão particular, nas diferentes sociedades que se 
formaram ao longo da história, e em sua dimensão universal, no 
conjunto que forma a cultura humana como totalidade em processo de 
transformação e desenvolvimento contínuo. A cultura deve ser 
compreendida como realidade em movimento, que influencia e 
impulsiona o desenvolvimento das aquisições materiais (instrumentos, 
construções e outras) e simbólicas (conceitos, métodos, técnicas, regras 
sociais e outras) do seu tempo e lugar e que é influenciada e 
impulsionada por estas mesmas aquisições; em outras palavras, a cultura 
influencia e impulsiona a síntese e os resultados dos conhecimentos 
materiais e simbólicos que são elaborados pelos indivíduos de um 
determinado período e que se fixam social e historicamente, e, ao mesmo 
tempo, é influenciada e tem o seu desenvolvimento impulsionado pelo 
processo de elaboração e de desenvolvimento material, emocional e 
conceitual-metodológico, ativo e criativo, realizado pelos indivíduos 
humanos deste mesmo tempo. Isto acontece, também, com o 
conhecimento científico e com seu processo de síntese e 
desenvolvimento, uma vez que este tipo de conhecimento é parte da 
cultura humana e será, então, efeito e causa ao mesmo tempo, 
determinado e determinante, impulsionado e impulsionador, do 
desenvolvimento cultural compreendido como totalidade histórica. 
17 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
Portanto, a produção social do conhecimento e a elaboração 
individual do conhecimento científico se complementam e se 
impulsionam dialeticamente. Enquanto a elaboração do conhecimento 
manifesta-se, principalmente, como um processo de construção e de 
evolução conceitual teórico-metodológico, de ressignificação e de 
criação, realizado por indivíduos ou por grupos de indivíduos, a 
produção social do conhecimento manifesta-se, principalmente, nos 
processos sócio-culturais que dão condições e suporte (material e 
intelectual) aos indivíduos que se dedicam à elaboração do 
conhecimento, bem como aos processos de seleção e fixação social e 
histórica destes conhecimentos, que dependem da sua viabilidade e 
aplicabilidade nas práticas sócio-culturais de uma determinada sociedade. 
Assim, apesar de suas especificidades, temos que apreender o 
movimento de síntese e unidade entre os processos de produção social 
do conhecimento e de elaboração do conhecimento, como momentos de 
um processo maior, coexistindo com suas diferenças e contradições, 
impulsionando-se e transformando-se mutuamente, e contribuindo para 
a totalidade dos resultados culturais da humanidade em seu devir 
histórico. 
Ainda na forma de esboço, podemos afirmar que as condições 
(materiais e intelectuais) existentes e as necessidades e problemas 
surgidos e enfrentados no processo de sobrevivência e de 
desenvolvimento social do homem, bem como a criatividade, a 
curiosidade e a imaginação, estão entre os principais elementos 
mediadores da unidade entre a produção social e a elaboração individual 
dos conhecimentos, como momentos do processo maior de 
desenvolvimento cultural da humanidade e do processo de humanização 
do homem, que não nasce homem, mas que se faz homem tanto no 
sentido genérico, da humanidade em devir, como no sentido particular, 
da construção da sua individualidade. 
18 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
Estas categorias analíticas e descritivas podem contribuir para uma 
compreensão de síntese da história da ciência: tanto diante de uma 
abordagem “internalista”, como diante de uma abordagem “externalista”, 
uma vez que, em determinados trabalhos deste campo de estudos, pode 
predominar a necessidade de se enfatizar a evolução conceitual “interna” 
de determinadaárea da ciência, já em outros trabalhos pode predominar 
a necessidade de se enfatizar os determinantes culturais “externos” do 
surgimento e da fixação social do conhecimento científico, sem que isto 
signifique a exclusão da importância fundamental que ambas têm na 
compreensão do desenvolvimento científico e sócio-cultural humano. 
Devido à existência desta unidade-diversidade entre o processo 
social de produção dos conhecimentos científicos e o processo 
particular, específico, de elaboração dos conhecimentos científicos, às 
vezes, mais de um pesquisador em um mesmo contexto social, de forma 
independente, chegam a conclusões inovadoras semelhantes: como 
Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, pesquisadores ingleses que 
desenvolveram seus trabalhos em meados do século XIX, ao 
estabelecerem, de forma independente e no mesmo período, a teoria da 
seleção natural como uma das principais causas da evolução e origem das 
novas espécies biológicas. 
Enfim, podemos afirmar que: a dimensão histórica do conhecimento 
científico é elemento fundamental para a sua compreensão objetiva e 
concreta, no sentido formal e dialético. Assimilando tanto a dimensão 
interna da sua evolução conceitual-metodológica, das influências mútuas 
dos conhecimentos específicos elaborados pelos homens de um 
determinado período e no passado, como a dimensão dos 
condicionamentos sócio-culturais, das práticas sociais, de seu contexto 
mais geral. 
19 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
Neste trabalho, vamos priorizar a exposição sintética do movimento 
histórico do conhecimento em sua dimensão sócio-cultural, como 
resultado e síntese de um determinado momento da totalidade do 
processo de desenvolvimento histórico das sociedades, em outras 
palavras, como resultado e síntese da totalidade das práticas sociais e do 
desenvolvimento específico do conhecimento humano em suas 
diferentes subáreas e das suas relações no processo de desenvolvimento 
da humanidade em devir. Os detalhes das suas relações na elaboração 
individual e específica do conhecimento, manifestados na sua evolução 
conceitual e metodológica, com seus fluxos de indução e dedução, de 
análises e sínteses, de reprodução, de ressignificação, de criação 
conceitual e metodológica, de inclusão e exclusão conceitual, de teses e 
antíteses, mutuamente partilhadas pelos homens de um determinado 
período e local, apesar de sua importância fundamental, não seriam 
possíveis de serem abordados e contemplados neste trabalho, devido aos 
objetivos de síntese didática e totalizadora a que nos propomos. 
Em sequência, precisamos nos perguntar: como se produz e se 
desenvolve socialmente o conhecimento científico? Como surgem, se 
fixam socialmente e se desenvolvem as novas teorias e os novos 
métodos científicos? 
Este processo ocorre num movimento histórico cíclico que se inicia 
com as necessidades surgidas no processo de produção e de significação 
da existência humana, que geram problemas para a humanidade; para a 
solução dos problemas o homem constrói seus conhecimentos, inclusive 
o conhecimento científico, delimitando assim, as técnicas, os métodos, as 
teorias, de um determinado período, ressignificando criativamente os 
conhecimentos já existentes e inovando, criando novos métodos, novos 
conceitos e novas relações entre conceitos; a aplicação prática dos 
métodos e teorias no processo de produção e representação da existência 
humana, e as novas necessidades sociais e individuais que surgem neste 
20 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
processo, condicionam o surgimento e a delimitação de novos 
problemas, o que impulsiona a elaboração de novas hipóteses, novas 
soluções, novas teorias e novos métodos. E o ciclo se reinicia, com seus 
diferentes momentos impulsionando-se reciprocamente. 
“Do conhecimento já adquirido ao desconhecido, movido pela força da 
necessidade e das possibilidades humanas, sob as condições sociais materiais 
(...) e intelectuais vigentes. É, pois, com base na abordagem do problema 
histórica e socialmente considerado, abordagem esta que tem como 
fundamento os conhecimentos já desenvolvidos e acumulados, que se inicia 
a sistematização do conhecimento científico em novas teorias gerais e o 
processo de movimento, conexão e totalização da representação dos fatos, 
dos fenômenos, dos conceitos, dos modelos, das teses, das leis, das teorias, 
através de uma forma específica da atividade cognitiva analítico-sintética, 
pelos procedimentos lógicos de indução e dedução, próprios do 
conhecimento científico.” (Geraldo, 2014, p. 57). 
Na fase atual das sociedades contemporâneas, essa forma de 
conhecimento (a ciência) tornou-se dominante em relação às outras 
formas, como elemento fundamental no conjunto das forças produtivas 
e da superestrutura ideológica da humanidade, e deve ser socializada para 
todos os homens, como condição para a própria formação do indivíduo 
e sua capacitação para a vida plena na sociedade. 
O domínio do conhecimento científico é parte fundamental da 
formação da cidadania. É um direito objetivo de todos os homens, pois é 
um patrimônio da humanidade, na medida em que é produzido 
histórico-socialmente no seio das relações sociais de produção da 
existência humana e na medida em que é uma força produtiva, um meio 
fundamental do processo de produção. 
21 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
O acesso ao conhecimento científico tem consequências objetivas e 
diretas na distribuição do poder, nas relações de poder, no acesso ao 
controle sobre o presente e o futuro das relações do homem com a 
natureza (a tecnologia) e dos homens entre si (a sociedade). Assim, o 
ensino das ciências naturais deverá conter em seus princípios básicos os 
fundamentos históricos do conhecimento científico: estudar e socializar a 
ciência como processo e como produto, construído “a partir da” e “para 
a” práxis social humana, como parte do processo de desenvolvimento da 
humanidade (Geraldo, 2014). 
Para isto, o ensino das ciências naturais tem que considerar o 
desenvolvimento histórico das ciências e apreender os determinantes 
histórico-culturais do conhecimento científico, compreendendo: a 
contextualização, a problematização, a interdisciplinaridade, a 
dialogicidade, a sistematização e o enfoque histórico dos conteúdos. A 
aplicação adequada destes princípios didático-metodológicos, ao nosso 
ver, é condição para a objetividade, a sistematização lógica (formal e 
dialética), a totalidade teórico-metodológica e a concreticidade como 
características fundamentais do processo de ensino, em direção à 
construção de uma racionalidade crítica, problematizadora, 
contextualizada e participativa. 
Buscando contribuir com o ensino das ciências naturais 
desenvolvemos, neste trabalho, inicialmente, uma leitura analítica e 
comparativa de duas importantes obras de história do conhecimento 
científico: A Ciência na História, de J. D. Bernal (7 volumes) e O 
desenvolvimento do Pensamento Biológico, de Ernest Mayr (1.106 páginas). 
Foram também utilizadas como referências principais, as seguintes obras: 
Para Compreender a Ciência, (Andery, 2001); Ciência e existência (Pinto, 1978); 
História ilustrada da ciência (4 volumes) (Ronan, 1987). Com o objetivo de 
disponibilizar um texto didático sintético e conciso, com conteúdos 
sistematizados, problematizados, interdisciplinares e contextualizados, de 
22 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
história das ciências naturais, acessível aos estudantes iniciantes das 
licenciaturas e bacharelados nas áreas das ciências naturais e aos 
professores da educação básica. Realizando o processo de transposição 
didática dos conteúdos científicos de história da ciência seguindo os 
princípios da compreensibilidade,da sistematização, da concisão, da 
fidedignidade com os conhecimentos científicos, da relevância e da 
coesão e coerência textual. 
Cabe finalmente ressaltar que, neste trabalho, nos limitamos ao 
período que vai dos primórdios da formação humana até a revolução 
científica na Era Moderna, tendo como foco as ciências naturais e sua 
produção como prática social, como síntese. Assim, o estudo se detém 
no século XVII com o mecanicismo, momento em que se configura a 
ciência no sentido que a entendemos hoje, como um tipo de 
conhecimento com características próprias, destacado da filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
 
CAPÍTULO I 
O CONHECIMENTO NA ERA PRIMITIVA 
 
Como surgiram e se desenvolveram as habilidades cognitivas 
complexas na espécie humana? 
1- Período paleolítico: dos primórdios da formação da espécie 
humana até aproximadamente 10.000 anos atrás. 
Neste período ocorreu o estabelecimento de pequenos grupos sociais 
humanos contínuos, com a formação e desenvolvimento de uma cultura 
material e intelectual fixada socialmente, conservada, aperfeiçoada e 
transmitida para as novas gerações por uma linguagem cada vez mais 
complexa. 
No aspecto da cultura material, neste período os homens viviam da 
coleta de produtos naturais e da caça, e o elemento mais marcante é o 
início e a evolução da utilização de instrumentos feitos principalmente 
com pedra, madeira, ossos, peles de animais e fibras vegetais. Estes 
instrumentos eram mediadores das atividades cotidianas, tais como: 
instrumentos cortantes, raspadores, perfurantes, para amarração e para 
armazenamento e transporte de água e de alimentos, chegando até ao 
desenvolvimento do machado de pedra, da lança, do arco-e-flecha, da 
corda, dos cestos, da cabaça, e outros. 
No aspecto intelectual, vemos neste período a utilização de técnicas 
como: o controle do fogo; a culinária; a pintura rupestre; a manufatura 
de peças de estatuetas; a fixação de regras para a manutenção da coesão 
social; o reconhecimento e localização de plantas comestíveis e 
24 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
medicinais; a identificação de animais para a caça; o conhecimento dos 
ciclos de crescimento e reprodução dos seres vivos, que possibilitaram a 
coleta, a caça e a recoleta de alimentos; e o desenvolvimento e fixação da 
linguagem lógica complexa. Observemos que toda esta “cultura 
primitiva” do homem já implica no conhecimento e na fixação social de 
diversas relações constantes e reiterativas entre os elementos e os 
fenômenos da natureza e da sociedade. 
“... os métodos que deram às sociedades humanas as vantagens de que 
gozaram dependiam, em larga medida, do uso de utensílios materiais para 
apanhar, reunir, transportar e preparar alimentos, e também de um meio de 
comunicação rápido que permitisse a cooperação nestas tarefas 
fundamentais – por outras palavras, uma linguagem. Pelo uso de utensílios, o 
homem consegue um domínio muito maior e muito mais generalizado sobre 
o meio ambiente que o de qualquer animal, por muito bem munido que 
esteja com dentes, garras ou cornos. A linguagem, através do gesto e da voz, 
além de servir para indicar a maneira mais eficaz de usar o utensílio, assegura 
também a coerência do grupo e garante a transmissão às gerações vindouras 
da cultura acumulada.” (Bernal, 1979, vol. I, p. 62-63) 
Os instrumentos, as técnicas, as linguagens, as regras sociais, se 
desenvolveram em inúmeras culturas humanas, de diferentes lugares, 
com uma certa uniformidade e continuidade no tempo, com 
aperfeiçoamentos, adaptações e combinações de métodos que descrevem 
a evolução destes elementos culturais no tempo e nos diferentes lugares 
onde habitou o homem primitivo. O desenvolvimento dos instrumentos 
e das técnicas, no processo de trabalho e produção da vida material, 
impulsionou o desenvolvimento das ideias, do planejamento e da 
experimentação por tentativa, erro e acerto, para a inovação e para a 
verificação dos aperfeiçoamentos dos utensílios, das ferramentas e dos 
25 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
elementos da natureza que eram utilizados na subsistência, juntamente 
com o desenvolvimento da linguagem, das emoções, das regras e dos 
comportamentos de convivência social. Estes processos foram 
fundamentais no desenvolvimento das habilidades cognitivas e das 
características emocionais da nossa espécie, compondo um conjunto de 
conhecimentos, habilidades e características que foram fundamentais 
para o desenvolvimento das funções cognitivas complexas (identificação, 
diferenciação, classificação, conceituação, quantificação, indução, 
dedução, análise, síntese, generalização, resolução de problemas). 
As operações mentais necessárias para se criar, fixar e desenvolver 
socialmente as regras de comportamento social, a linguagem, as 
ferramentas de trabalho, os instrumentos (mecanismos complexos como 
o arco-e-flecha), as técnicas, como o domínio do fogo e sua utilização na 
culinária, na cerâmica e posteriormente na metalurgia, irão formar a base 
das habilidades mentais e características emocionais necessárias para o 
desenvolvimento do conhecimento científico num momento bem 
posterior. 
O conhecimento do meio ambiente circundante pela observação, 
pela identificação dos hábitos e características dos animais e das 
diferentes plantas, dos seus ciclos de desenvolvimento e reprodução, 
suas regularidades, suas relações constantes e reiterativas, com o objetivo 
deliberado de suprir as necessidades de alimentação e defesa combinados 
com o planejamento social das ações; todos estes conhecimentos, sua 
fixação e transmissão social através da linguagem, somaram-se como 
aspectos importantes e determinantes na formação das habilidades 
cognitivas complexas e do desenvolvimento emocional da nossa espécie. 
Assim, no conjunto dos elementos culturais primitivos, ainda que de 
forma rudimentar, podemos visualizar as origens de diversas áreas do 
conhecimento sistemático que se desenvolveram posteriormente ao 
26 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
longo da evolução da nossa cultura, tais como: o direito (as regras 
sociais), a mecânica (as técnicas, as ferramentas e seus mecanismos), a 
química (o fogo e sua utilização na transformação de materiais, como a 
culinária e a cerâmica por exemplo) e a biologia, com a observação, 
fixação e classificação dos diferentes tipos de seres vivos, de suas 
características e das relações que estabelecem com o restante do 
ambiente, tais como: as relações com a água, com o solo, com luz do sol, 
com as estações do ano e suas diferentes temperaturas, luminosidade, 
ventos, pluviometria. 
1.1- Artes e Linguagens 
Qual a importância das artes e do desenvolvimento das linguagens na 
formação das habilidades cognitivas humanas? 
O desenvolvimento da pintura rupestre e das estatuetas de osso e 
barro também é bastante significativo para indicar o grande 
desenvolvimento das habilidades cognitivas complexas e das 
características emocionais desde a era primitiva: no preparo das tintas e 
dos instrumentos de pintura, nos ritos de sepultamento dos mortos, na 
sistematização da imaginação e da intenção de determinar o sucesso nas 
caçadas, e isso podemos constatar pelo grande número de pinturas, 
desenhos e esculturas encontrados em sítios pré-históricos: 
“Estas representações não se limitam exclusivamente ao aspecto exterior dos 
animais; encontram-se também desenhos de ossos, do coração, das 
entranhas, que nos oferecem prova de que a origem da anatomia se deve 
buscar na arte de talhar as carcaças dos animais caçados. (...) representações 
pictóricas que não são apenas a fonte das artes visuais, mas também a 
origem do simbolismo gráfico, da matemáticae da escrita, que vieram a 
tornar possível a criação da ciência racional”. (Bernal, 1979, vol. I, p. 68) 
27 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
O desenvolvimento da linguagem é outro aspecto fundamental a ser 
destacado no processo de formação e desenvolvimento das habilidades 
cognitivas e das características emocionais humanas. A vida cotidiana em 
sociedade e o trabalho coletivo só são possíveis pelo desenvolvimento da 
linguagem, em determinações recíprocas: à medida que se desenvolve a 
vida em sociedade e o trabalho coletivo, desenvolve-se conjuntamente a 
linguagem; e o desenvolvimento da linguagem impulsiona 
reciprocamente o desenvolvimento da capacidade de produção, de 
representação, de racionalização, as características emocionais e as regras 
de coesão social. Temos que apreender as relações de unidade-
diversidade destes processos como totalidade em movimento, as suas 
relações de mediação e de impulsionamentos recíprocos. 
A linguagem é um elemento universal das diferentes culturas 
existentes no tempo e no espaço, com as funções de comunicação, de 
fixação cultural e de transmissão dos conhecimentos. Constitui em si 
uma estrutura lógica de codificação, fixação, abstração e generalização: 
dos elementos da natureza, dos fenômenos e de suas relações constantes 
e reiterativas, das emoções, da imaginação, das intenções, do 
planejamento individual e coletivo das ações humanas, do 
comportamento e das regras sociais. 
Juntamente com o desenvolvimento das formas de produção 
material da existência, a evolução da linguagem, desde a era primitiva, 
constituiu-se numa das bases principais para o desenvolvimento da 
racionalidade e da emotividade humana: da capacidade de pensamento, 
de raciocínio, de planejamento social das ações com base em finalidades 
previamente definidas; desde as mais primárias características emocionais 
e as mais rudimentares habilidades cognitivas até a cognição metódica, 
racionalizada e sistematizada. Desenvolvendo-se as seguintes funções: a 
sensação; a memorização; a percepção; a representação mental; a 
identificação de características, propriedades e relações reiterativas dos 
28 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
objetos e fenômenos; a conceituação (generalização); a imaginação; a 
diferenciação; a classificação; a qualificação-quantificação; a análise-
síntese; a indução-dedução; a delimitação e resolução de problemas; as 
características emocionais e o comportamento social humano. 
“No próprio ato de criar uma linguagem, as sociedades humanas são 
obrigadas a generalizar, a permitir que uma palavra sirva para exprimir 
muitas coisas diferentes, a usar uma espécie de simbolismo ou estenografia 
verbal. É a manipulação, dentro do cérebro, destes símbolos, juntamente 
com a imaginação visual direta do que eles representam, que constitui o 
pensamento humano. As fórmulas e teorias da ciência são apenas as extensões 
naturais e cautelosas do processo de estruturar uma linguagem”. (Bernal, 
1979, vol. I, p. 71) 
1.2- Crenças e visão de mundo na era primitiva: a magia 
De que forma o pensamento mágico primitivo contribuiu para o 
desenvolvimento da racionalidade humana? 
Outro aspecto importante da cultura primitiva deste período é o 
desenvolvimento da visão mágica sobre o mundo, sobre as relações entre 
os homens e destes com a natureza: a magia. Algumas das principais 
características desta concepção de mundo são: 
 A realidade é compreendida como sendo formada pela dualidade 
espírito-matéria: espiritualismo. 
 O mundo é povoado por espíritos que habitam e dão vida aos 
homens, aos animais, às plantas, aos astros (sol, lua, estrelas), ao 
mar, aos rios, ao vento, ao trovão, ao relâmpago, à chuva, etc: 
animismo. 
29 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
 As relações podem ser determinadas por imitações simpáticas: 
comer a carne de um animal ou vestir a sua pele para adquirir 
suas qualidades; pintar seres nas rochas para aumentar as chances 
de obter sucesso na sua caça ou na sua coleta; fazer rituais de 
cantos e danças para provocar chuva (associação de fatos ou 
fenômenos por semelhanças e coincidências), prevenir os 
perigos, para ter sucesso na caça e na coleta de alimentos: 
simpatia. 
 A origem e a organização da realidade são explicadas por meio de 
totens, lendas e mitos. Estes se baseiam em animais, plantas, 
objetos ou pessoas (ancestrais), que têm importância no cotidiano 
do grupo e são reverenciados e considerados sagrados. 
Os indivíduos da tribo, que se dedicam às tarefas de criação e 
reprodução da magia são chamados de magos, pajés, oráculos, xamãs ou 
sacerdotes, geralmente liberados da coleta de alimentos e da manufatura, 
dedicam-se para: 
 Comunicar-se com os espíritos através de: invocações 
(chamamentos, contatos); feitiços; poções mágicas; rituais... 
 Conhecer as ervas medicinais e os rituais religiosos que ligam os 
homens aos espíritos. 
 Prever o futuro; pedir aos deuses para interferirem nos 
fenômenos da natureza (a chuva; a colheita; as doenças). 
A magia é um conhecimento baseado nas relações do homem com 
as condições que ele encontrava ao seu redor, nos fenômenos e nos 
elementos da natureza, nas relações sociais, nas emoções e na imaginação 
humana; com base numa referência: simbólica, simpática, imitativa, 
espiritualista e animista. Os mitos da era primitiva se referem a 
espíritos sagrados que originavam e ordenavam a vida de todos os 
homens em igualdade, refletindo o modo de vida e a organização social 
30 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
destas populações, organizadas na forma de “comunidades primitivas 
igualitárias”. 
Os espíritos, inicialmente, eram ideias imaginativas da continuidade 
da vida dos ancestrais após sua morte, provavelmente ligadas aos 
fenômenos psíquicos do sonho, da lembrança, do medo e da imaginação 
e à crença na ideia de que os mortos continuavam influenciando no 
mundo real, interferindo nos fenômenos naturais e nos destinos da 
comunidade, por ação direta ou por magia. O conceito de espírito viria a 
formar o conceito de “Deus” (espírito superior) que, posteriormente, 
seria central na formação das religiões institucionalizadas (Bernal, 1979, 
vol. I). 
Quando o mago ou curandeiro se propõe a provocar chuva por meio 
de rezas, cantos, danças e rituais mágicos, baseia-se na compreensão da 
relação que existe entre a chuva e o desenvolvimento das plantas, e de 
que a sobrevivência dos homens depende do mundo natural. 
“Ele sente que há alguma conexão entre o homem e o mundo que o cerca, 
algum entendimento primitivo de que, conhecido o procedimento correto, o 
homem pode controlar as forças da natureza e colocá-las ao seu serviço.” 
(Ronan, 1987, vol. I) 
Além dos conhecimentos complexos descritos acima, os magos ou 
sacerdotes, formulavam e reproduziam os mitos e rituais de magia; 
detinham conhecimentos sobre várias substâncias e seus efeitos para o 
homem: analgésicas, alucinógenas, abortivas, laxativas, embriagantes, 
venenosas, estimulantes, relaxantes, nutritivas, e outras, baseados em 
experiências do tipo “tentativa-erro-acerto”. Assim, controlavam o 
conhecimento da natureza e o acesso direto aos espíritos, o que lhes 
conferia uma função social e um status de poder que foi aumentando 
31 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
com o desenvolvimento das sociedades. Aqui podemos ver os 
rudimentos da formação, no pensamento humano, da necessidade de 
conhecer, controlar e transformar a natureza e as regularidades nos seus 
fenômenos (determinismo); compreender as relações sociais e seus 
conflitos; e a necessidade de um conjunto ideológico sistematizado, 
fixado culturalmente, etransmitido socialmente, importante na 
manutenção e reprodução da coesão social e que serão partes 
significativas da consciência científica futura. 
Com a manipulação das ervas e poções, os magos, pajés ou 
curandeiros, desenvolviam um certo conhecimento empírico das 
substâncias naturais, inicialmente escolhidas por associações mágicas, 
mas, gradualmente, seu sucesso ou fracasso determinaria a fixação das 
substâncias mais eficazes, estabelecendo as suas relações reiterativas de 
causa e efeito. Lentamente, um conjunto de conhecimentos práticos seria 
reunido, utilizado e desenvolvido à luz da experiência, assim, os magos 
tornaram-se os pioneiros no desenvolvimento dos rudimentos da 
investigação experimental, ao fazer testes para encontrar as substâncias 
que produzissem os efeitos desejados. Vemos aí os rudimentos dos 
princípios da causalidade e da experimentação, que mais tarde serão 
básicos para o desenvolvimento da racionalidade científica humana 
(Ronan, 1987, vol. I). 
2- Da revolução neolítica à formação das primeiras civilizações: de 
cerca de 10.000 até aproximadamente 5.000 anos atrás. 
Como o surgimento da agricultura e das cidades-estados 
influenciaram no desenvolvimento da racionalidade humana? 
Neste período constituíram-se as primeiras sociedades humanas 
sedentárias, tendo como principal desenvolvimento técnico inicial a 
agricultura e a pecuária, e em decorrência destas: o aumento 
32 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
populacional; a construção de casas; a construção de canais para o 
controle da água; o estabelecimento das cidades; o desenvolvimento dos 
calendários; o desenvolvimento inicial da matemática; da escrita; da 
metalurgia, da astronomia; da astrologia; da medicina... Como vimos 
acima, toda esta evolução cultural foi possível a partir do 
desenvolvimento gradual: 
 Dos instrumentos: lanças, arco-e-flecha, machados, enxadas, 
cabanas, barcos e outros; 
 Das técnicas de interferência e controle dos fenômenos naturais: 
controle do fogo, recoleta de plantas e caça de animais, cultivo e 
utilização de plantas, domesticação de animais, cerâmica, 
tecelagem, etc...; 
 Da linguagem e das relações sociais, das regras de convivência e 
da divisão social do trabalho. 
 Das habilidades cognitivas e das características emocionais 
humanas, com todos os aspectos que já comentamos acima e que 
impulsionaram o desenvolvimento da racionalidade, da 
capacidade de planejamento social das ações, da imaginação, das 
emoções e do comportamento humano. 
A agricultura e a sedentarização da sociedade, o aumento 
populacional, o desenvolvimento da divisão social do trabalho, o 
desenvolvimento dos instrumentos de trabalho e das técnicas de 
produção, possibilitaram que o homem deixasse de ser 
predominantemente coletor e caçador para ser predominantemente 
produtor dos seus alimentos. Possibilitaram, também, a acumulação de 
produtos alimentares vindos da agricultura e da criação de animais, com 
a produção de excedentes que condicionaram: a necessidade da 
construção e administração de canais de irrigação; a necessidade da 
construção de armazéns para guardar o excedente da produção; a 
33 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
necessidade da instituição de exércitos para vigiar e proteger os produtos 
armazenados; e a necessidade do desenvolvimento dos meios de 
transporte dos alimentos, tanto por via terrestre como fluvial e marítima. 
Todos estes processos sociais culminaram com a instituição de 
diferentes classes sociais dentro de uma mesma população; a instituição 
da propriedade privada dos bens naturais e dos bens de produção, 
surgindo também a instituição de uma classe social especializada na 
administração das obras de interesse comum (tais como: canais de 
irrigação, armazéns, templos, estradas, armas para a guerra...); 
especializada também na organização e manutenção dos exércitos e na 
reunião e distribuição do excedente produzido. Em outras palavras, o 
acúmulo de produtos do trabalho gerou acúmulo de poder, divisão e 
diferenciação social, e este poder foi apropriado pelas classes sociais que 
passaram a administrar e dirigir as necessidades sociais comuns, 
instituindo-se os primeiros estados. 
O aumento populacional e o desenvolvimento da divisão social do 
trabalho, com a formação de indivíduos especializados em diferentes 
ocupações como: a cerâmica, a metalurgia, a manipulação e preparo do 
couro, a manufatura de diferentes tipos de utensílios, ferramentas e 
armas; a centralização dos templos destinados às práticas religiosas, a 
centralização da administração da sociedade e dos conflitos nas relações 
sociais; todos estes fatores em conjunto impulsionaram a formação e 
desenvolvimento das cidades, que, juntamente com o desenvolvimento e 
institucionalização social dos estados, formarão as primeiras cidades-
estados (Uruk, Ur, Nippur, Lagash, Umma, Tebas, Mênfis, Ugarit, 
Biblos, Gericó, ... ) e as primeiras grandes civilizações (Mesopotâmia, 
Egito e outras) 
34 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
 Neste processo de formação das primeiras civilizações, o 
conjunto de avanços acima descritos impulsionaram o desenvolvimento 
da racionalidade, conduzindo a um início de separação da abordagem 
espiritualista para a abordagem técnica (empírico-experimental) 
desenvolvendo-se cada vez mais e mais rapidamente: a agricultura; a 
astronomia; a medicina; a metalurgia; a cerâmica; a tecelagem; a 
construção civil (construção de casas, canais, templos, estradas); a 
construção naval (barcos); o comércio; a matemática; as linguagens, 
incluindo a criação da escrita (cuneiforme na Mesopotâmia, hieróglifos 
no Egito e alfabética na Fenícia e depois na Grécia e em Roma); as 
relações sociais; as características emocionais; o comportamento e as 
regras sociais. 
Observe-se que neste processo evolutivo, a racionalidade, as técnicas, 
os instrumentos, a linguagem e as relações sociais, as características 
emocionais e o comportamento social, impulsionam-se reciprocamente. 
Nesta abordagem, a evolução humana não é constituída e derivada de 
uma racionalidade fixa e inata (que nasce com o indivíduo e é herdada 
geneticamente). Compreendemos aqui, que a evolução humana ocorre a 
partir do desenvolvimento de uma racionalidade em constante 
transformação, que é constituída por componentes biológicos e culturais 
e cujo desenvolvimento é impulsionado reciprocamente com o 
desenvolvimento das formas de produção, reprodução e representação 
da vida material, emocional e social da humanidade: os meios de 
produção (que incluem os instrumentos, as técnicas, as linguagens, os 
bens naturais) e as relações sociais de produção, de representação, de 
sentimentos e de convivência social. 
O que consideramos como inatas no indivíduo são as 
possibilidades biológicas de desenvolver a racionalidade e de 
35 
História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
desenvolver as características emocionais e comportamentais humanas, 
isto é, são transmitidas geneticamente as caraterísticas biológicas do 
homem, tais como: a estrutura morfofisiológica do sistema nervoso, a 
estrutura da mão, mas mesmo neste aspecto ocorre evolução, como na 
estrutura fisiológica das relações entre a mão, o cérebro e o olho; as 
demais características humanas, incluindo as habilidades cognitivas, as 
linguagens, as regras sociais, as teorias, os métodos, as técnicas, os 
instrumentos, as características emocionais e as regras do 
comportamento social, são desenvolvidos histórico-culturalmente desde 
os primórdios da evolução humana e deverão ser transmitidos para as 
novas gerações, deverão ser assimilados e apropriados pelas novas 
gerações no processo de desenvolvimento cultural, no seio do processo 
histórico-socialde produção e reprodução dos bens materiais e das 
relações da vida em sociedade. 
Observemos, também, que nesta perspectiva a categoria “trabalho” 
é essencial (fundamental e primordial). Portanto, em nossa abordagem, 
as categorias culturais, tais como: trabalho, sociabilidade, linguagem, 
racionalidade, educabilidade e as características emocionais humanas, 
estão historicamente imbricadas, inter-relacionadas, em dependência, 
determinação e impulsionamentos recíprocos, formando uma totalidade 
complexa em transformação ao longo da história da humanidade. 
 
 
 
 
 
36 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
 
CAPÍTULO II 
A MITOLOGIA E O NASCIMENTO DO PENSAMENTO 
RACIONALISTA: o conhecimento na Antiguidade, a era das 
primeiras grandes civilizações, de aproximadamente 5.000 anos 
atrás até o século V da era cristã. 
Que fatores contribuíram para o desenvolvimento da mitologia e das 
religiões institucionalizadas na era antiga? 
Quais as principais características que diferenciam a magia, a 
mitologia e as religiões monoteístas? 
Quais as características principais do racionalismo da filosofia Grega 
e como ele se diferencia das abordagens míticas sobre o surgimento e o 
desenvolvimento dos fenômenos naturais? 
Quais fatores sociais foram fundamentais para o desenvolvimento da 
racionalidade na era antiga e quais características se desenvolveram na 
racionalidade humana neste período? 
 As novas técnicas; o desenvolvimento da divisão social do 
trabalho; a formação das sociedades sedentárias; o desenvolvimento da 
agricultura; a domesticação e criação de animais; a metalurgia; a 
construção de represas e de canais de irrigação; o grande crescimento 
populacional; a formação dos exércitos; o acúmulo, armazenamento e 
conservação de alimentos e outros produtos; o surgimento e o 
crescimento do comércio contínuo e sistemático; a formação das 
cidades-estados; a instituição da propriedade privada; do dinheiro; da 
escravidão; da servidão coletiva; das diferentes classes sociais... Todo este 
38 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
complexo cultural desenvolvido no período neolítico, impulsionou o 
surgimento da realeza, que se uniu aos sacerdotes para administrar as 
necessidades comuns da sociedade, para se impor como classes 
privilegiadas e hierarquicamente superiores às demais classes sociais e 
para garantir e reproduzir a coesão social. 
Portanto, a realeza e os sacerdotes uniram-se: 
 Para manter e reproduzir o processo de produção dos bens 
materiais e a forma das relações sociais de produção: a 
escravidão, a servidão coletiva, a servidão individual e familiar, as 
formas de apropriação dos bens materiais e intelectuais e a 
legitimação social destas formas de apropriação, como a 
propriedade privada ou familiar, por exemplo; 
 Para garantir e proteger o armazenamento e a distribuição dos 
excedentes de alimentos e demais produtos; 
 Para garantir e desenvolver o comércio e as guerras de conquista 
e domínio; 
 Para garantir o estabelecimento de leis, bem como a legitimação e 
cumprimento das leis e dos costumes. 
Ao longo da formação das primeiras cidades-estados, os sacerdotes 
se especializaram, cada vez mais, na elaboração de um conjunto de 
dogmas e práticas religiosas ritualísticas para reproduzir e perpetuar o 
consenso social, para além da comunicação com os espíritos, num 
mundo cada vez mais cheio de diversidades e desigualdades. O 
surgimento e crescimento da propriedade privada, das diferentes classes 
e setores sociais, da escravidão e da servidão coletiva, foram fatores 
muito significativos neste processo. 
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História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
Assim se formaram as bases para se desenvolverem a mitologia e as 
religiões politeístas e monoteístas, deístas e institucionalizadas: como 
instituições sociais sistematizadas, com diferentes funções, trabalhos 
especializados, hierarquia e um corpo sacerdotal estabelecido; 
arrecadação de bens e de dinheiro e acúmulo de poder (exemplo: o 
dízimo era obrigatório desde o velho testamento). Observemos que os 
totens e mitos da era primitiva eram espíritos sagrados que originavam e 
ordenavam a vida de todos os homens em igualdade; já os deuses e os 
mitos das cidades-estados e das civilizações da era antiga, eram seres 
superiores que devam origem, governavam, controlavam e ordenavam os 
homens, reproduzindo suas diferenças e hierarquias de poder (veja-se a 
mitologia egípcia, mesopotâmica, grega e romana), portanto, a mitologia, 
as religiões politeístas e monoteístas da era antiga irão se constituir e se 
institucionalizar como uma nova forma de crenças e ideologia, não mais 
baseadas na igualdade entre os homens e na magia simpática e animista, 
como predominava na era primitiva, mas sim, baseadas nas desigualdades 
e nas relações de poder, na hierarquia de poder e na dominação de uns 
homens sobre os outros e na apropriação do produto do trabalho pelas 
classes detentoras do poder. 
Os mitos criados e legitimados neste período irão se compor de 
narrativas que explicavam a origem (a história) e a organização da 
realidade social, da natureza, do próprio homem, de suas relações com a 
natureza e entre si, geralmente por meio de seres sobrenaturais (deuses, 
espíritos, totens, criaturas lendárias: centauro, gigantes, heróis e outros). 
Comunicando um sentimento coletivo sobre a realidade, cuja narrativa e 
os fundamentos eram aceitos e partilhados com os demais membros das 
comunidades, geralmente elaborados ou confirmados por uma 
autoridade para estes assuntos, e esta autoridade geralmente é baseada: 
na função social, como o sacerdote; no poder, como o rei; na pureza ou 
na inocência, como no relato de uma criança. 
40 
ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
O mito estabelece sentido, identidade e coesão à vida social na 
medida em que: atribui identidade entre os homens de um mesmo grupo 
social (relações de parentesco); fixa modelos da realidade, dos 
comportamentos, das emoções e das atividades humanas (trabalho, 
crenças, sentimentos, regras sociais, ritos); e explica a origem do mundo, 
dos homens e da natureza. Estas características formam critérios para sua 
aceitação. O mito estabelece, também, formas de interferência na 
realidade, pela invocação dos “seres espirituais” (chamamento, súplica, 
pedido) que se acredita terem poderes sobrenaturais sobre a realidade 
objetiva e que alguns homens teriam poder e autoridade para se 
comunicar com estes seres sobrenaturais. Como se o homem pudesse 
“determinar”, através dos mitos, orações e rituais, realidades e 
fenômenos naturais e culturais que não estão ao alcance de suas 
determinações físicas imediatas (vai chover ou não? quem vai ganhar a 
guerra? a caça ou a coleta vai ser produtiva?). 
O discurso mitológico é formado por ideias aglomeradas, mediadas e 
determinadas por: 
 Emoções, sensações, imaginações, desejos; 
 Associações de fragmentos heterogêneos de ideias (exemplo: os 
raios e os ventos fortes são produzidos pela ira dos deuses; chove 
porque uma deusa chora de paixão); 
 Intuições, causalidades finalistas baseadas na imaginação, no 
interesse e na admissão da existência de uma dualidade material e 
espiritual na realidade. 
Em resumo, a mitologia como forma de pensamento é baseada 
predominantemente: na intuição, pressentimento ou adivinhação; na 
imaginação; na emoção; na autoridade, no poder ou na tradição; na fé, na 
crença, na confiança e nos compromissos intersubjetivos... Assim, chega-
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História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
se à conclusão de um problema, predominantemente,a partir dos 
elementos e características citadas acima, e não, predominantemente, a 
partir de uma base racional, empírica e objetiva. 
Observemos que as características da magia e da mitologia se 
fundiram e coexistiram ao longo da história, com vários pontos em 
comum, tais como: a valorização do espiritualismo (crença na 
coexistência da dualidade espírito-matéria na realidade); a estrutura lógica 
mediada e condicionada, predominantemente, por emoções, 
imaginações, necessidades e consensos intersubjetivos; veja-se, por 
exemplo a história do Oráculo de Delfos na Grécia Antiga. Para maiores 
detalhes sobre a mitologia grega, pode-se consultar as obras de Jean-
Pierre Vernant (“O Universo, os Deuses, os Homens” e “Mito e Pensamento 
Entre os Gregos”, este último publicado pela editora Paz e Terra, 1990); ou 
diretamente nas obras de: Hesíodo (“Teogonia”, sobre a origem dos 
deuses), Ovídio (“Metamorfoses”) e Homero (“Ilíade” e “Odisseia”). 
Apesar dos pontos em comum, a magia e a mitologia também 
apresentam pontos importantes que as diferencia: a magia, animista e 
simpática, predominou na era primitiva, quando as sociedades não eram 
baseadas na diferenciação de classes, assim, a magia, como visão de 
mundo, tinha as funções de representação e organização das relações dos 
homens entre si e de suas relações com a natureza no âmbito das 
comunidades primitivas, que eram baseadas na produção para a 
subsistência igualitária e na divisão social do trabalho baseada 
predominantemente nas diferenças de gênero e idade e portanto com 
uma superestrutura ideológica hegemônica adequada às relações sociais 
do modo de produção das comunidades primitivas; a mitologia, deísta, 
politeísta e associada às funções da realeza e da aristocracia, tinha 
funções de legitimação da diferenciação social e das hierarquias de poder 
e controle sobre a maior parte da população e se desenvolveu 
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ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
juntamente com a formação das primeiras grandes civilizações 
(Mesopotâmia, Egito, Fenícia, Grécia, Roma, etc.), quando se 
desenvolveu a divisão social do trabalho e predominou os modos de 
produção escravista e de servidão coletiva; portanto, a mitologia 
reproduzia os modelos de ideologia adequados a estas sociedades 
divididas em diferentes classes e com diferenças no acesso à propriedade 
dos bens naturais e culturais, com hierarquias de poder e diferenciação 
nas condições da qualidade de vida dos homens que conviviam numa 
mesma sociedade. Podemos destacar também, que as mitologias 
(Egípcia, Mesopotâmica, Grega, Romana) constituíram a base para o 
desenvolvimento das grandes religiões monoteístas (Judaísmo, 
Cristianismo, Islamismo) como instituições sociais, com funções e 
trabalhos especializados, com um corpo sacerdotal organizado e com 
hierarquia, arrecadação de bens e acúmulo de poder, com uma literatura 
e uma liturgia sagrada unificada, seguindo a lógica e a estrutura 
organizacional das sociedades onde se formaram e se desenvolveram. 
Por consequência do que vimos acima, os processos cognitivos de 
indução e dedução, de análise e síntese, desenvolvidos no âmbito do 
pensamento mágico-mitológico, são mediados e determinados 
predominantemente e intrinsecamente por emoções (medos, 
pressentimentos, desejos e outros), por interesses subjetivos, por 
imaginações simbólicas, por necessidades individuais e sociais, e se 
estabeleceram, se reproduziram e se fixaram socialmente, tendo como 
base predominante a sua aplicabilidade social e o consenso 
intersubjetivo. Portanto, neste tipo de pensamento a objetividade e a 
sistematização teórica, são subordinadas e dependentes da mediação das 
categorias acima descritas (emoções, imaginações, necessidade, consenso 
intersubjetivo), e, assim, os processos de indução, de dedução, de análise, 
de síntese, de conceituação e até mesmo de identificação, apresentam 
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História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
estrutura lógica e resultados bem diferentes de como as entendemos na 
abordagem científica atual. Com isto não estou dizendo que deixam de 
ser “verdadeiras” ou “corretas”, apenas digo que apresentam estrutura 
lógica próprias do conhecimento mágico-mitológico; e, apesar destas 
diferenças, foi a partir das práticas sociais deste período, da estrutura 
lógica deste tipo de racionalidade, da sua transformação e da sua 
superação em novas sínteses cognitivas que se desenvolveram as 
habilidades cognitivas de indução e dedução, de análise e de síntese, 
como as entendemos atualmente, determinadas predominantemente por 
uma abordagem empírica, experimental, metódica, logicamente 
estruturada e sistematizada. Vejamos adiante, com mais detalhes, 
algumas das práticas sociais deste período. 
1- A elaboração de calendários, a matemática, a linguagem escrita e 
a astronomia. 
As fases de desenvolvimento das plantas, como a germinação, o 
crescimento, a floração e a frutificação, geralmente ocorrem 
acompanhando os ciclos anuais das diferentes estações climáticas. O 
desenvolvimento biológico e o comportamento dos animais nos 
ecossistemas também, geralmente, se relaciona com as diferentes 
estações climáticas, como os períodos de fertilidade reprodutiva, o 
nascimento, as migrações. Como o homem primitivo dependia da coleta 
de vegetais e da caça dos animais para sua sobrevivência, desde os 
primórdios de sua evolução, necessitava de um certo domínio de 
conhecimentos sobre os ciclos das fases e dos períodos temporais do 
desenvolvimento das plantas e dos animais, além disso, as estações 
climáticas, tais como: o verão, a primavera, o inverno e o outono, 
estabelecem, para uma determinada região geográfica, ciclos ambientais 
de variações relativamente regulares na temperatura, na pluviosidade, na 
luminosidade, o que determina necessidades e possibilidades nas ações e 
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ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
no comportamento humano, específicas para cada estação do ano, assim 
como nas características e fases fenológicas das plantas, no 
desenvolvimento e no comportamento dos animais. 
Portanto, para se relacionar com o ambiente, o homem tem que 
adequar suas ações, aos ciclos da natureza, e para isso precisa conhecer e 
prever o desenvolvimento destes ciclos. Daí decorre a necessidade do 
estabelecimento, do registro, da fixação e da transmissão social de 
conhecimentos sobre estes ciclos climáticos e suas relações com os ciclos 
e fases de desenvolvimento das plantas e dos animais, portanto, daí 
também decorre a necessidade do estabelecimento, do registro e da 
fixação cultural de calendários, com os quais se pode prever os períodos 
de tempo em que estes ciclos ocorrem nos diferentes tipos de 
ecossistemas. Assim, o homem precisou desenvolver sistemas de registro 
e contagem do passar do tempo, relacionando esta contagem do passar 
do tempo com os ciclos climáticos das diferentes regiões onde ele 
habitava: os calendários anuais. 
Em outras palavras o homem precisava, e precisa até hoje, conhecer 
e registrar os períodos de tempo e os ciclos que transcorrem entre as 
diferentes fases de desenvolvimento das plantas e do comportamento 
dos animais para resolver problemas, tais como: quando coletar os frutos 
de uma determinada planta? Quando é o melhor período para a caça de 
determinados tipos de animais? Quando é preciso armazenar alimentos 
para sobreviver no inverno? Quanto alimento precisa armazenar para 
sobreviver no inverno? Quanto alimento precisa coletar para suprir as 
necessidades de todo o grupo? Estas são questões fundamentais para o 
planejamento de todas as atividades dos diferentes grupos humanos. 
Além de ter que resolver o problema de “como” coletar alimentos, caçar 
animais, transportar, armazenar e conservar os alimentos, o homem 
precisava resolver “quando”, “quanto” e “onde” realizar estas tarefas. 
45História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
Conhecer e registrar os ciclos das estações do ano, com a contagem 
dos períodos de tempo que transcorre entre as diferentes fases destes 
ciclos, suas diferentes características e influências nas características do 
meio ambiente e dos seres vivos; calcular o tempo que já se passou e 
prever o tempo que ainda falta para se chegar a uma determinada estação 
do ano, seja o inverno, a primavera, o verão ou o outono, são 
conhecimentos fundamentais para o planejamento das ações e para a 
própria sobrevivência do homem. Assim, para suprir estas necessidades e 
resolver estes problemas, o homem desenvolveu os calendários: um 
sistema de contagem do tempo, de registro e fixação do conhecimento 
sobre os períodos de tempo que transcorrem ao longo dos ciclos naturais 
das diferentes estações do ano. Para isso o homem, desde os primórdios 
da sua evolução, teve que se basear nos próprios ciclos da natureza que 
se relacionam direta ou indiretamente com as diferentes estações 
climáticas, e os ciclos escolhidos para servirem de referência para se 
estabelecerem calendários, foram os ciclos dos movimentos aparentes do 
sol, das demais estrelas e da lua. 
Podemos categorizar os movimentos do sol, das demais estrelas e da 
lua, observáveis a olho nu, como aparentes, pois, na realidade estes 
movimentos são causados pela interação entre os movimentos destes 
astros com os movimentos do planeta terra (rotação em torno do seu 
próprio eixo e translação em torno do sol por exemplo). 
Os homens primitivos e da era antiga consideravam a terra como um 
ponto fixo para a observação dos movimentos dos astros, assim, o 
resultado que obtinham é o que chamamos de movimentos aparentes do 
sol, das demais estrelas e da lua, e que passo a descrever a seguir, de 
forma simplificada e em breves palavras. 
Um observador no hemisfério sul, contemplando o horizonte 
durante a noite, vê o movimento em bloco das estrelas ao redor da terra: 
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ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
como se estas estivessem presas, em posições fixas, numa “abóboda 
celeste”, ou melhor, numa “esfera celeste” que gira ao redor da terra, 
sendo que as mesmas estrelas sempre nascem na mesma posição no 
horizonte e fazem sempre a mesma trajetória. 
Já o sol, visível durante o dia, também faz uma trajetória ao redor da 
terra todos os dias, mas não nasce nem se põe na mesma posição do 
horizonte todos os dias: a partir do dia 22 dezembro, aproximadamente, 
um observador no hemisfério sul, olhando para o ponto onde nasce o 
sol, verá o sol nascer diariamente no horizonte em pontos sempre mais a 
sua esquerda, em comparação com um ponto fixo no horizonte da terra. 
Então, o sol, a partir de 22 de dezembro, aproximadamente, se desloca 
em dois movimentos aparentes distintos, um ao redor da terra (de 
aproximadamente vinte e quatro horas), e outro em direção à esquerda 
de um observador olhando para o sol ao nascer, como se traçasse uma 
trajetória em espiral, até o dia 22 de junho, aproximadamente, quando o 
sol deixa de se deslocar para a esquerda do observador e, a partir deste 
dia, começa a se deslocar no sentido contrário, à direita do observador, 
voltando neste sentido até o dia 22 de dezembro, quando se inicia um 
novo ciclo. 
Portanto, durante seis meses (aproximadamente 182 dias), para um 
observador no hemisfério sul olhando para o ponto do horizonte onde 
nasce o sol, com o passar dos dias, o ponto onde nasce o sol se desloca, 
a partir de 22 de dezembro, para a esquerda do observador, até o dia 22 
de junho, a partir daí, e nos próximos seis meses, o ponto onde nasce o 
sol se desloca no sentido contrário, com o sol nascendo diariamente mais 
à direita do observador, um pouco por dia, até voltar à sua posição de 22 
de dezembro e o ciclo recomeça. Neste caso, o dia 22 de dezembro é 
chamado de solstício de verão e o dia 22 de junho é chamado de solstício 
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História da ciência: dos primórdios da formação humana ate a revolução científica na era moderna, 
uma síntese didática. 
de inverno (estas datas podem variar de um ou dois dias de um ano para 
o outro). 
O ponto médio que marca esta trajetória aparente do sol em espiral 
ocorre quando o dia tem duração igual à duração da noite, isto ocorre 
duas vezes (para um observador no hemisfério sul), uma vez quando o 
ponto onde nasce o sol está se deslocando para a esquerda do 
observador, no caso considerado acima, no dia 21 de março, e outra vez 
quando o sol está se deslocando no sentido contrário, no dia 22 de 
setembro. Estes dias são chamados de equinócio de outono (21 de 
março) e equinócio da primavera (22 de setembro) e também podem 
variar de um ou dois dias de um ano para o outro. 
Observemos que quando o sol inicia seu deslocamento aparente para 
a esquerda do observador, no caso considerado acima em 22 de 
dezembro, no hemisfério sul, inicia-se a estação de verão, quando o sol 
atinge a metade da sua trajetória para a esquerda, em 21 de março, inicia-
se a estação do outono, quando o sol inicia sua trajetória aparente de 
volta, no sentido contrário, à direita do referido observador, dia 22 de 
junho, inicia-se a estação do inverno e quando o sol atinge a metade 
desta trajetória, dia 22 de setembro, inicia-se a estação da primavera. 
Estes “movimentos” aparentes do sol, para a esquerda do 
observador do nascer do sol durante seis meses e no sentido contrário 
nos seis meses seguintes, vistos por um observador do nascer do sol 
localizado no hemisfério sul, na realidade resultam do movimento orbital 
da terra em torno do sol (translação), que dura um ano, isto é, 
aproximadamente 365 dias; e as diferentes estações climáticas que se 
sucedem ao longo deste período, resultam da interação deste movimento 
orbital da terra com a inclinação (23° 27 minutos) do “eixo” central do 
planeta terra em relação ao plano que contém sua órbita ao redor do sol, 
que tem como consequência uma variação cíclica na quantidade de luz 
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ANTONIO CARLOS HIDALGO GERALDO 
 
 
solar que cada região da terra recebe ao longo do ano. Mas, como já 
dissemos acima, os povos primitivos e da era antiga consideravam o 
planeta terra como ponto estático no centro do universo, por isso 
visualizavam e registravam os “movimentos” aparentes do sol na forma 
como descrevemos anteriormente (durante seis meses, para a esquerda 
do observador do nascer do sol e, nos próximos seis meses, para a direita 
do mesmo observador localizado no hemisfério sul, perfazendo sempre 
um ciclo anual). 
O movimento aparente da lua é semelhante ao do sol, também faz 
uma trajetória ao redor da terra, e também se desloca para a esquerda e 
para a direita do observador, mas num ciclo bem mais rápido que o sol: a 
cada 27, 33 dias a lua volta a ocupar o mesmo lugar na esfera celeste, 
enquanto o sol demora 365 dias. A Lua apresenta um fenômeno 
característico que são as quatro diferentes fases lunares: lua nova é 
quando ela está quase invisível, vê-se somente uma borda crescente 
muito fina do disco lunar; lua crescente é quando visualizamos metade 
crescente do disco lunar até atingir a totalidade do disco; lua cheia é 
quando todo o disco lunar é vivível; e lua minguante é quando a parte 
visível da lua vai diminuindo até atingir o estágio de lua nova e o ciclo se 
reinicia. Cada fase da lua dura aproximadamente uma semana, ou pouco 
mais de 7 dias, e na totalidade, o ciclo completo das fases da lua dura 
29,5 dias, aproximadamente um mês. 
Há registros históricos de que o homem conhece e utiliza estes ciclos 
de movimentos aparentes do sol, das demais estrelas e da lua, para 
estabelecer calendários anuais, dividindo o ano em 360 dias, em 
diferentes estações climáticas e em blocos de aproximadamente 30 dias, 
os meses, baseados nas fases da lua, desde aproximadamente 6.000 anos 
atrás.

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