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ESHC - COMPLETO PDF

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Prévia do material em texto

Camila de Oliveira Casar
Douglas Ochiai Padilha
Luiz Augusto de Mattos
Osmar Ponchirolli
Paulo Moacir Godoy Pozzebon
2019/I
ESTUDO DO SER HUMANO CONTEMPORÂNEO
CASA DE NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL 
FRANCISCANA, PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA 
CONCEIÇÃO DO BRASIL – ORDEM DOS FRADES MENORES
Presidente
Frei Thiago Alexandre Hayakawa OFM
Reitor
Gilberto Gonçalves Garcia OFM
Pró-reitor de Administração e Planejamento
Adriel de Moura Cabral
Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão
Dilnei Giseli Lorenzi
Coordenador do Núcleo de Educação a Distância - NEAD 
Renato Adriano Pezenti
Desenhista Instrucional 
Katia Paulino
Revisores
Carolina Bontorin Ceccon
Cláudia Mara Ribas dos Santos
Natasha Suelen Ramos de Saboredo
Mayara Drobot da Silva Portela
Diagramadores
Ana Maria Oleniki (projeto gráfico)
Débora Cristina Gipiela Kochani
Evelyn Souza Alves
Thais Suzue Ikuta
Ticiane de Farias Pietro
© 2019 FAE Centro Universitário
Rua 24 de Maio, 135
CEP 80230-080 – Curitiba/PR
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Camila de Oliveira Casara
Mestre em Filosofia – Ética e Política, pela Universidade Federal do Paraná (2012). Graduada em 
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (2008). 
Douglas Ochiai Padilha
Doutor em Sociologia, na modalidade sanduíche, pela Universidade Federal do Paraná e pela 
Université Paris Ouest Nanterre La Défense. Mestre em Sociologia pela UFPR (2008) na linha 
de pesquisa Ruralidades e Meio Ambiente. Graduado em Ciências Sociais pela UFPR (2005), 
atuando principalmente nas seguintes áreas: sociologia ambiental, sociologia rural, teoria 
ator-rede, nova sociologia econômica e redes de movimentos sociais. Atualmente, é professor 
na FAE Centro Universitário.
Luiz Augusto de Mattos
Doutor em Teologia Moral pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (2000). 
Mestre em Teologia Dogmática pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção 
(1984); e em Teologia pelo Centro Universitário Assunção (2009). Graduado em Estudos 
Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1976); em Teologia pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981); e em Geografia pela Pontifícia Universidade 
Católica de Minas Gerais (1976). Atualmente, é professor do Instituto Teológico de São Paulo, 
da Universidade São Francisco e da UNISAL. Assessor da CRB Regional de São Paulo, membro 
e coordenador da equipe interdisciplinar CRB Nacional. Também é assessor de dioceses e 
congregações religiosas. 
Desenhista Instrucional 
Katia Paulino
Revisores
Carolina Bontorin Ceccon
Cláudia Mara Ribas dos Santos
Natasha Suelen Ramos de Saboredo
Mayara Drobot da Silva Portela
Diagramadores
Ana Maria Oleniki (projeto gráfico)
Débora Cristina Gipiela Kochani
Evelyn Souza Alves
Thais Suzue Ikuta
Ticiane de Farias Pietro
Osmar Ponchirolli
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em 
Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Graduado em Filosofia 
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco (1988); e em Teologia pela Studium 
Theologicum (1994). Atualmente, é professor da FAE Centro Universitário. Professor pesquisador 
do grupo Economia Política do Poder em Estudos Organizacionais e Observatório Interdisciplinar 
em Economia Política do Poder. Pesquisador na linha de epistemologia e teoria crítica; 
complexidade e redes em estudos organizacionais. Líder do grupo de pesquisa sobre Teoria do 
Reconhecimento e Organizações da FAE Centro Universitário.
Paulo Moacir Godoy Pozzebon
Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência (Área de Concentração Filosofia Política) pela Universidade 
Estadual de Campinas (1995). Licenciatura Plena em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica 
de Campinas (1985). Atualmente, é professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e 
da Universidade São Francisco. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Metodologia 
da Pesquisa Científica e do Trabalho Científico e Filosofia Política, atuando principalmente nos 
seguintes temas: metodologia científica, educação, filosofia política, ética e filosofia. Possui 
também experiência na área de gestão.
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Tabela de Ícones 7
Informações gerais sobre a disciplina 9
Apresentação 10
O SER HUMANO E A FORMAÇÃO CULTURAL DO OCIDENTE: 
MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO 13
EXPRESSÕES E PROCESSOS DO CONHECIMENTO E O HUMANO 
COMO SER MULTIFACETÁRIO E RELACIONAL 37
ECOLOGIA E PENSAMENTO ECOLÓGICO: QUESTÕES ECOLÓGICAS E
EDUCAÇÃO AMBIENTAL 65
DIMENSÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E O FENÔMENO RELIGIOSO 85
ATIVIDADE 
OBRIGATÓRIA
Indica as orientações da Atividade Avaliativa da Unidade de Estudo.
BIBLIOTECA 
DIGITAL
Indica que o material está disponível na Biblioteca Digital. 
CALCULADO-
RA FINAN-
CEIRA
Indica a utilização da calculadora HP 12C para resoluções mais precisas.
CHECKLIST
Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um 
procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa.
EXEMPLO
Será utilizado sempre que houver necessidade de exemplificar um caso, uma 
situação ou conceito que está sendo descrito ou ensinado.
GLOSSÁRIO
Utilizado sempre que houver necessidade de entender o significado de uma 
palavra ou termo desconhecidos.
HIPERLINK
Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou 
endereço de Internet.
LEIS Indica a necessidade de aprofundamento da lei ou artigo referidos no texto.
LEITURA 
OBRIGATÓRIA
Indica os livros e textos de leitura obrigatória.
PENSE
Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um 
questionamento.
PESQUISE Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação.
PLANILHA
Indica a necessidade de se obter resolução utilizando a planilha Excel, tor-
nando o trabalho mais rápido.
REALIZE
Determina a existência de atividade: um exercício, uma tarefa ou prática a ser 
realizada. Fique atento a ele.
REVEJA Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente.
SAIBA MAIS
Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado, de forma a pos-
sibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado.
SUGESTÃO DE 
LEITURA
Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para 
leitura complementar.
VÍDEOS
Indica vídeos que lhe ajudarão a aprofundar seus conhecimentos sobre o 
conteúdo estudado.
ÍC
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9Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Informações gerais sobre a disciplina
EMENTA
O ser humano e a formação cultural do ocidente: modernidade, pós-modernidade e globalização. 
Expressões e processos do conhecimento. O humano como ser multifacetário e relacional. 
Dimensões políticas, ambientais, sociais e religiosas da contemporaneidade.
OBJETIVOS
Por meio do diálogo com as questões centrais que caracterizam o humano e a sociedade 
contemporâneos, desenvolver uma reflexão que articule um discernimento criterioso das temáticas 
abordadas, contribuindo com uma formação integral, ética e humanizadora.
CARGA HORÁRIA
72 horas
Apresentação
Unidade 1: O SER HUMANO E A FORMAÇÃO CULTURAL DO OCIDENTE: 
MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO
Nesta Unidade, estudaremos a modernidade, com suas características marcantes, seus 
acontecimentos principais e suas peculiaridades. O objetivo é aguçar o olhar para as transformações 
sociais que nos envolve e circunda muitas vezes de maneira invisível e natural, mas, mesmo assim, 
irreversível.
Abordaremos a pós-modernidade e as principais transformações que possibilitaram o 
desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede. Veremos, 
também, a questão da desterritorialização como um dos grandes temas da pós-modernidade.
Para finalizar esta Unidade, estudaremos uma das questões mais comentadas e polêmicas da 
contemporaneidade: a globalização. Vamos analisar suas principaiscaracterísticas - como surgiu, 
os elementos mais importantes responsáveis pela sua intensificação a partir dos anos 1980, e as 
consequências desse processo na definição de novas identidades.
Unidade 2: EXPRESSÕES E PROCESSOS DO CONHECIMENTO E O HUMANO COMO 
SER MULTIFACETÁRIO E RELACIONAL
Nesta Unidade, vamos apresentar as principais modalidades de conhecimento atuantes em nossa 
sociedade: senso comum, mito, ideologia, ciência, tecnologia e filosofia. Buscaremos entender os 
diferentes modos como essas formas explicam o mundo em que vivemos, como se articulam entre si e 
quais são as suas limitações. Conhecer as principais formas do conhecimento nos permite interpretar 
melhor o mundo em que vivemos e escolher com maior liberdade nossos caminhos.
Compreender o ser humano é uma tarefa infinita. Por isso, esta Unidade também pretende traçar 
algumas linhas indicativas das múltiplas dimensões do ser humano. Apresentaremos, na forma de uma 
síntese de ideias provenientes de muitos pensadores, os seguintes aspectos: dimensão biológica e 
animal do ser humano, inteligência, linguagem, cultura, trabalho, historicidade, liberdade, existência, 
alienação e busca do transcendente. Também abordaremos dois dos maiores desafios para o indivíduo 
humano: o autoconhecimento e a elaboração de um projeto de vida.
Unidade 3: ECOLOGIA E PENSAMENTO ECOLÓGICO: AS QUESTÕES ECOLÓGICAS E 
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Nesta Unidade de Estudo, apresentaremos conhecimentos básicos sobre o meio ambiente – 
tais como o desenvolvimento sustentável, a educação ambiental e os riscos produzidos – buscando 
desenvolver sua capacidade de perceber os problemas ambientais como processos complexos que 
envolvem de forma interdependente elementos sociais, políticos, econômicos e ecológicos.
11Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Unidade 4: DIMENSÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E O FENÔMENO RELIGIOSO
A presente Unidade de Estudo focará os temas: política, cidadania, justiça social e o fenômeno 
religioso. A política surgirá sempre que uma pluralidade de indivíduos estiver presente, pois as 
deliberações e ações que daí surgirem caracterizarão o exercício mais nobre e complexo das atividades 
humanas. Também apresentaremos a relação da política com a cidadania e a justiça social.
Para finalizar abordaremos os traços mais determinantes do fenômeno religioso e os conceitos que 
permitem melhor compreendê-lo. As considerações apresentadas são válidas para quaisquer crenças 
religiosas. Não se pode compreender o ser humano – nem ontem, nem hoje, nem nas sociedades 
mais simples, nem nas mais complexas – sem refletir sobre o fenômeno religioso. Nem se pode viver 
plenamente a condição humana sem fazer, em algum grau, a experiência religiosa.
15Estudo do Ser Humano Contemporâneo
UNIDADE DE ESTUDO 1
O SER HUMANO E A FORMAÇÃO CULTURAL DO OCIDENTE: MODERNIDADE, 
PÓS-MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
Esta Unidade de Estudo abordará os tópicos sobre o surgimento e as transformações da 
modernidade, a sociedade pós-industrial e a cultura pós-moderna, e as caracterizações da globalização. 
Veremos que o surgimento e o desenvolvimento de um período histórico específico e importantíssimo, 
chamado modernidade, atinge a todos nós de maneiras diversas, desde a organização de nossas 
instituições sociais mais básicas como família, religião etc. às nossas concepções políticas. A todos 
aqueles e aquelas que desejam formar consciência crítica e reflexiva sobre suas vidas e os contextos 
sociais, econômicos, culturais e políticos em que estamos submersos, recomendamos a leitura 
atenta desta Unidade de Estudo. Estudaremos a modernidade, com suas características marcantes, 
acontecimentos principais e, como sempre, suas idiossincrasias fundamentais. 
Assim, apresentaremos logo no início algumas das transformações históricas cabais para definir 
este período, como o Renascimento e a Revolução Industrial. Longe de serem apenas fatos históricos, 
esses dois eventos marcam o surgimento de uma nova mentalidade social: surge um novo modo de 
vida, de produção, de se relacionar e conhecer o mundo. A relevância do renascimento e da revolução 
industrial é inegável para entendermos as transformações pelas quais passou o mundo. De maneira 
definitiva, nada mais será como antes após estes acontecimentos.
Em seguida, para nos aprofundarmos e entendermos ainda mais sobre os efeitos da modernidade, 
essa interessante época histórica, apresentaremos algumas ideias de um importante sociólogo 
inglês chamado Anthony Giddens. Este pensador é responsável por um dos mais relevantes estudos 
sobre o tema; suas ideias são apresentadas em seu livro: As Consequências da Modernidade, de 
1991. Conhecer um pouco das ideias trabalhadas neste livro contribuirá, e muito, para ampliar as 
possibilidades de entendimento do período denominado modernidade.
Estudaremos, também, as principais características da globalização: como surge, por que se 
intensifica, os elementos mais importantes responsáveis pela sua intensificação a partir dos anos 1980, 
e as consequências desse processo na definição de novas identidades serão algumas das abordagens.
O objetivo desta Unidade de 
Estudo é modesto: esperamos que 
você possa aguçar seu olhar para as 
transformações sociais que o envolve 
e circunda muitas vezes de maneira 
invisível e natural, mas, mesmo assim, 
irreversível. Esperamos, ainda, que 
a leitura aqui proposta aguce suas 
indagações e desperte seu olhar 
para as principais consequências da 
modernidade. 
Bons estudos!
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16 Camila de Oliveira Casara
1 A MODERNIDADE: SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÕES
O período que se convencionou denominar como “modernidade” envolve uma série de 
acontecimentos no campo da política, da cultura, da religião etc. Entre os historiadores, não há 
consenso quanto a datas formais para o início deste período. O que se pode afirmar, portanto, é 
que o início da modernidade engloba uma série de transformações que modificam radicalmente 
a vida de uma parte do mundo, mais especificamente, a Europa. 
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A caracterização da história em períodos, como Antiguidade, Idade Média e 
Modernidade, sempre foi assinalada por determinados acontecimentos, que 
engendram certas rupturas com a ordem anterior, faz sentido quando se pensa em 
modificação da vida social, política, cultural, religiosa em uma parte do mundo, isto 
é, na Europa.
Continentes como Ásia, Oceania e América foram posteriormente influenciados 
pelo modo de vida europeu; isto quer dizer que outras partes do mundo, embora 
já conhecidas, mantinham estruturas de pensamento, organização social, política e 
religiosa diversas.
Portanto, as transformações aqui narradas só farão sentido 
para o continente europeu, o que não invalida a curiosidade 
e a necessidade de conhecimento sobre este tema. Esta 
parte do globo foi e será continente de irradiação de um 
modo de organização social, política, econômica que arrebata 
todos os outros. Será em função da importância e da influência 
deste continente na constituição das outras partes do mundo que 
apresentaremos as características principais da chamada modernidade.
A despeito das diversas possibilidades de entendimento sobre o surgimento da modernidade 
pelos historiadores, o Renascimento e a Revolução Industrial representam marcos históricos 
importantes e contribuem para solapar um modo de vida e possibilitar a irrupção de outro. 
17Estudo do Ser Humano Contemporâneo
1.1 RENASCIMENTO
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Vista de Florença/Itália. Praça Piazzale Michelangelo.
O período que será agora tratado representou uma transformação importantíssima para a 
humanidade. O Renascimento irá inaugurar uma nova fase de conhecimento e descoberta que 
influenciará decisivamente o ocidente. Vamos entender por quê.
O Renascimento, mais do que a maioria dos diversos momentos históricos suscita grandes 
controvérsias. Há quem veja nesse movimento filosófico eartístico o momento de ruptura entre 
o mundo medieval – com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e 
fundiária – e o mundo moderno urbano, burguês e comercial (COSTA, 2005, p. 28).
Isso pode ser afirmado porque muitas mudanças importantes ocorreram na Europa a partir 
do século XV; e estas mudanças serão as bases para a estrutura das sociedades contemporâneas. 
Estrutura feudal: A estrutura da sociedade feudal já não dava mais 
conta das transformações sociais, econômicas e políticas que assolavam 
a Europa. Esta estrutura, agrária em sua essência, mantinha nas mãos da 
nobreza e do clero o poder econômico e político. 
Expansões marítimas: Foram as expansões marítimas (com a circum-
navegação da África e o descobrimento da rota para as Índias e América), os 
excedentes de produção e o desenvolvimento de atividades comerciais, que 
contribuíram fortemente para que este sistema entrasse em colapso. Assim, 
tornou-se cada vez mais presente uma nova mentalidade: mais laica e mais 
centrada em preocupações materiais e, principalmente, no homem.
18 Camila de Oliveira Casara
Doutrinas religiosas: Novas doutrinas religiosas, que propuseram leituras 
interpretativas dos textos sagrados, surgiram como forte contribuição às 
mudanças e ao estabelecimento de outra mentalidade. A partir do século 
XVI o movimento denominado de Reforma Protestante questionava 
o poder clerical. Este movimento foi fundamental para que o “novo 
homem” redescobrisse a possibilidade do questionamento baseado 
na própria razão. “O conhecimento deixa de ser encarado como uma 
revelação, resultante da contemplação e da fé, para voltar a ser, como 
o fora para os gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida 
atividade do pensamento” (COSTA, 2005, p. 30).
Desenvolvimento da ciência: O desenvolvimento das ciências, 
portanto, pode ser entendido como resultado destas transformações 
em curso na Europa renascentista.
Crescimento das cidades: O crescimento das cidades, do comércio, e, 
sobretudo, das transações comerciais engendradas pelas terras recém-
descobertas na América obrigaram o homem medieval a “abrir mão” 
de velhas estruturas explicativas e dar lugar ao novo e surpreendente 
mundo que agora se estabelecia. Foi neste cenário que a forma de 
produção e organização política se modificou para sempre.
19Estudo do Ser Humano Contemporâneo
1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO
Os séculos subsequentes às mudanças iniciais não 
foram menos turbulentos. Uma nova maneira de se 
produzir, a partir do século XVII foi inaugurada: a riqueza 
passou a ser oriunda de indústrias e grandes máquinas, 
estas estavam geralmente alocadas em cidades grandes 
e superpopulosas; pertenciam a uma nova classe 
economicamente poderosa denominada burguesia 
industrial, ao passo que eram operadas por uma também 
recente classe social, denominada proletariado. Neste 
período, chamado de Revolução Industrial, o trabalho e a 
estrutura social ganharam contornos radicalmente novos.
O conhecimento científico aperfeiçoou as técnicas de 
produção: aumentando a produtividade das máquinas e os 
lucros, e diminuindo o uso da mão de obra. Este período 
ficou marcado pelo fenômeno da maquinofatura.
O que era produzido manualmente 
pelos artesãos passou a ser feito 
por máquinas, aumentando muito o 
volume de produção de mercadorias.
Anthony Giddens, um importante pensador inglês sobre o tema da modernidade, pode nos 
ajudar a entender melhor esta fase histórica por meio da seguinte afirmação:
A Revolução Industrial do final do século XVIII e do XIX transformou radicalmente as 
condições materiais de vida e os modos de ganhar dinheiro para sempre, trazendo com 
isso, pelo menos inicialmente, muitos problemas sociais novos, como a superlotação urbana, 
a falta de saneamento e as doenças que a acompanham, e a poluição industrial em uma 
escala sem precedentes (GIDDENS, 2012, p. 63).
Como podemos perceber, Giddens nos esclarece sobre a radicalidade da mudança trazida 
pela nova forma de viver e se organizar da Europa. Esta nova fase trouxe também consequências 
importantes para os séculos seguintes. Será com base nas principais ideias deste autor sobre 
as caracterizações e perigos trazidos pela modernidade, que iniciaremos o segundo tópico 
desta Unidade.
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20 Camila de Oliveira Casara
1.3 OS EFEITOS DA MODERNIDADE
Em seu livro de 1991 chamado As Consequências da modernidade, Anthony Giddens 
caracteriza este período histórico e apresenta os principais efeitos da modernidade para o mundo 
ocidental. O autor a define da seguinte maneira: 
“Modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram 
na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos 
mundiais na sua influência” (GIDDENS, 1991).
Isto é, um período em que a maneira de organização das instituições sociais, políticas e 
econômicas passam a operar diferentemente da anterior e paulatinamente vão sendo incorporadas 
por todo o mundo.
As principais características das novas instituições da modernidade que se diferenciam do 
período anterior, segundo Giddens, serão: o ritmo de mudança, o escopo da mudança e a natureza 
intrínseca das instituições modernas.
Vamos entender mais especificamente cada uma delas:
O ritmo de mudança 
A rapidez com que as mudanças acontecem na modernidade é extrema; 
isso pode ser entendido como resultado do desenvolvimento da tecnologia, 
porém esta movimentação também é observada em outras esferas.
Escopo da mudança
Isto é, o alvo das mudanças trazidas pela modernidade por intermédio 
do uso da tecnologia mais incisivamente, partes do globo são colocadas 
em conexão e as transformações sociais acontecem em todo o planeta.
Natureza intrínseca das instituições modernas
Segundo Giddens (1991), alguns tipos de organização social não 
se encontram em outras épocas históricas, apenas na modernidade. É o 
caso do estado-nação, a necessidade de grandes fontes produtoras de 
energia, o surgimento da mercadoria e do trabalho assalariado.
FONTE: Giddens (1991)
Prosseguindo em sua caracterização da modernidade, Anthony Giddens ressalta a importância 
que alguns debates adquirem neste período. As preocupações com o meio ambiente e a 
instrumentalização da natureza como fonte geradora de riqueza econômica são discussões que 
só farão sentido no contexto moderno. O autor entende que foi somente neste contexto histórico 
específico que as “forças de produção” adquiriram um potencial tão destrutivo em relação ao 
meio ambiente.
21Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Outro tema de relevância para entender a modernidade será a ascensão de episódios de 
totalitarismo. 
“O governo totalitário combina poder político, militar e ideológico de forma mais 
concentrada do que jamais foi possível antes da emergência dos estados-nação 
modernos” (GIDDENS, 1991, p. 18).
Ainda no que diz respeito ao ineditismo do poderio e desenvolvimento das forças militares 
na modernidade, Anthony Giddens afirma que a junção entre inovação industrial e poder militar 
remete à própria origem da industrialização moderna. Isto é, tendo a indústria e as inovações 
tecnológicas neste período se desenvolvido de maneira tão eficiente e complementar, tais inovações 
não deixariam de se estender às forças militares da modernidade.
Neste sentido, este autor sugere que as análises que se empreendam sobre a modernidade 
se esforcem para abarcar não somente as mudanças e avanços da modernidade, como também os 
perigos e riscos que este período carrega no seio de suas características mais essenciais. 
Avançaremos agora para o tópico 2 que aborda os temas sobre a pós-modernidade, a sociedade 
pós-industrial e a cultura pós-moderna.
22 Camila de Oliveira Casara
2 A QUESTÃO DA PÓS-MODERNIDADE: A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E A 
CULTURA PÓS-MODERNA
Abordaremos agora um dos temas mais fascinantes e envolventes da contemporaneidade: a 
pós-modernidade. Compreendero que a constitui e quais as suas consequências para o mundo 
de hoje é uma das tarefas que aqui nos propomos.
Iremos caracterizar a pós-modernidade, de onde surgiu e qual o seu campo de estudos 
originário e apresentaremos as principais transformações que possibilitaram a pós-modernidade, 
como o desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede.
Você poderá enxergar claramente que a realidade que o cerca está permeada pelos efeitos 
da pós-modernidade, pois as consequências da sociedade em rede nas relações de produção e 
nos movimentos sociais fazem parte, mesmo que de maneira indireta, da vida de qualquer cidadão 
do século XXI.
Não poderíamos deixar de apontar para a questão da desterritorialização como um dos grandes 
temas da pós-modernidade. Uma das suas principais transformações, a redefinição de fronteiras e 
territórios, será esclarecida e debatida como manifestação das novas relações sociais, políticas e 
econômicas que a pós-modernidade trouxe para o mundo. 
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23Estudo do Ser Humano Contemporâneo
2.1 A PÓS-MODERNIDADE: CARACTERIZAÇÃO 
Definir pós-modernidade 
exige um esforço bastante grande, 
pois este termo não se originou 
no campo das ciências humanas 
e filosofia; ele começa a ser 
empregado primeiramente no 
campo das artes visuais.
A partir da perspectiva pós- 
-moderna, já não se buscariam 
mais critérios universalmente 
válidos para a arte (como por exemplo, as formas, cores e texturas consideradas boas ou más, belo 
ou feio); regras ou normas não poderiam ser entendidas para toda a produção artística mundial. 
Esta proposta de entendimento dos fenômenos da realidade, nascida nas artes visuais, expande-se 
rapidamente para outras áreas do conhecimento como uma nova forma de compreensão do mundo 
e das relações sociais; um novo paradigma para caracterizar as sociabilidades contemporâneas e 
as modificações profundas trazidas pelas transformações do século XXI. 
“A pós-modernidade passou a designar uma nova proposta de produção artística 
que, por sua ideologia contestadora, associou-se à quebra de valores e de normas de 
comportamento que caracterizou o homem contemporâneo, especialmente nos grandes 
centros urbanos” (COSTA, 2005, p. 232).
A pós-modernidade passa a ser o termo usado, 
então, para denominar rupturas com modelos e padrões 
de entendimento que são postos em xeque no momento 
em que o mundo passa a conviver com intensas e 
profundas mudanças. Para Jurgen Habermas, havia um 
“projeto da modernidade” que consistia:
a) na crença inquestionável à ciência; 
b) na libertação do homem por meio do domínio total da natureza; 
c) no desenvolvimento da racionalidade a ponto de superar mitos, religião e superstição. 
FONTE: Harvey (2007)
O período denominado pós-moderno, seria, portanto, 
o momento em que o “projeto da modernidade” passa a ser 
questionado e superado (HARVEY, 2007, p. 23).
Sendo assim, a pós-modernidade, tendo nascido nas 
artes visuais, pode ser empregada para entendermos os 
novos hábitos, costumes, formas de vida e movimentos 
sociais impregnados pelas mudanças sociais, econômicas, 
políticas e tecnológicas do século XXI.
O conceito de pós-
modernidade, para esta 
área do conhecimento, 
caracterizava uma nova 
forma de entendimento 
das produções artísticas 
pautada no rompimento 
de parad igmas da 
Modernidade.
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Exemplos são Robert Venturi, 
Aldo Rossi, James Corbett, 
entre outros.
24 Camila de Oliveira Casara
Para muitos estudiosos da contemporaneidade, entre eles o sociólogo inglês Anthony Giddens 
(2012), estamos diante de uma nova sociedade: mais plural e diversificada. Isso se deve, em grande 
parte, ao poder dos meios de comunicação incidindo na vida dos seres humanos, trazendo-lhes 
informações, valores e ideias de várias partes do mundo muito rapidamente. 
Em uma quantidade incontável de filmes, vídeos, programas de televisão e sítios da internet, 
as imagens circulam ao redor do mundo. Temos contato com muitas ideias e valores, mas eles 
têm pouca conexão com a história das áreas em que vivemos ou, de fato, com nossas próprias 
histórias pessoais. Tudo parece constantemente em fluxo (GIDDENS, 2012, p. 81).
O pensador inglês chama a atenção para o fato de que na pós-modernidade os meios 
de comunicação permitem a troca de informações e imagens com rapidez e eficiência jamais 
experimentadas. Isso incide decisivamente em diversos aspectos das relações sociais, da economia 
e da política do século XXI.
Para que essa transformação toda fosse possível, alguns acontecimentos foram cruciais no 
decorrer do século XX. Entenderemos melhor do que estamos falando nos tópicos seguintes, ao 
abordarmos as transformações fundamentais que possibilitaram o advento da pós-modernidade.
2.2 A SOCIEDADE EM REDE
O desenvolvimento dos meios de 
comunicação, da informática e da automação 
impactou definitivamente a maneira tradicional 
de articulação e cooperação em todo o planeta. 
A rapidez na produção, nas trocas comerciais 
e nos fluxos financeiros, nos diz Cristina Costa 
(2005, p. 234), “deu à economia um ritmo 
impensável anteriormente”, transformando em 
mercadoria aquilo que passa a circular pelas 
redes de comunicação: a informação. 
Para o sociólogo espanhol Manuel Castells (2013), o desenvolvimento das tecnologias da 
informação e da internet fortaleceu as redes entre diferentes pessoas e organizações em lugares 
extremamente distantes no globo terrestre. Para ele, as redes são as formas de organização que 
definem nossa era; informações podem ser recebidas imediatamente em qualquer parte do mundo, 
não existindo necessidade da presença física dos envolvidos (GIDDENS, 2012, p. 579).
O impacto da tecnologia da informação e sua consequente 
transformação nas relações sociais pode ser sentido em 
diferentes espaços e maneiras. Desde as novas formas e 
processos de produção, isto é, na organização das estruturas de 
trabalho na contemporaneidade, chegando até às reivindicações 
sociais, ou seja, na maneira como os novos movimentos sociais se 
articulam e tomam corpo, a pós-modernidade exerce sua influência.
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25Estudo do Ser Humano Contemporâneo
A pós-modernidade permeia a maneira de se produzir: muito mais rápida e descartável; 
suscetível aos fluxos do mercado e das influências culturais distantes; desterritorializada e 
segmentada em diferentes espaços e países. 
Como também permeia as formas de reivindicação e afirmação de desejos e identidades, 
isto é, os movimentos sociais. Nos tópicos seguintes, abordaremos melhor esses dois impactos.
2.2.1 A Influência das Redes nos Processos de Produção
Uma das consequências de tal transformação pode 
ser sentida nos processos produtivos, isto é, na maneira de 
se produzir sob a influência da informática e da automação 
que passa a ser radicalmente diferente. O resultado 
disso aparece nas novas estruturas organizacionais, mais 
descentralizadas e flexíveis. Cada vez mais, empresas 
estão ligadas em redes e se relacionam com a economia 
global; esse processo torna mais difícil a sobrevivência de 
uma organização comercial – seja pequena ou grande – se 
não fizer parte de uma rede.
O grande catalisador dessa transformação são os 
meios de comunicação, mais especificamente, a internet. 
“A introdução da nova tecnologia permitiu que muitas empresas ‘reprojetassem’ sua estrutura 
organizacional, tornando-se mais descentralizadas, e reforçando a tendência para tipos menores 
e mais flexíveis de empresas, inclusive o trabalho em casa” (GIDDENS, 2012, p. 579).
David Harvey (2007), geógrafo britânico e um dos grandes estudiosos do impacto da tecnologia 
da informação nos processos produtivos, afirma que as transformações no processo produtivo sob 
a influência dos avanços tecnológicos caracteriza o período denominado de acumulação flexível. 
Esse novo modo de organizar a produção se caracteriza pela flexibilizaçãodos processos de 
trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos produzidos e dos padrões de consumo.
Surgem nesse contexto muitos outros setores de produção, bem como novas maneiras de 
fornecimento dos serviços financeiros, novos tipos de mercados, e, principalmente, muita inovação 
comercial, tecnológica e organizacional, nos explica Harvey (2007, p. 140). 
A acumulação flexível traz como resultados imediatos o aumento dos empregos e oportunidades 
de empreendimentos no chamado “setor de serviços”, assim como parques industriais em países 
de industrialização tardia ou capitalismo periférico, como Brasil, Índia e África do Sul. Como 
consequência do aumento da produção pelas novas tecnologias, a maneira de explorar o mercado 
e oferecer mercadorias também se modifica. 
A acumulação flexível confere “uma atenção muito maior às modas fugazes” e mobiliza “todos 
os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural” para induzir o consumo a uma 
forma efêmera e descartável. Atrelado a esse processo, o relacionamento com os produtos (com 
significativa vida útil menor) produzidos passa a ser mais fugaz e caracteriza, portanto, uma “estética 
pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de 
formas culturais” (HARVEY, 2007, p. 148). 
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Cristina Costa (2005, p. 235) corrobora a visão de Harvey e salienta que “a informatização 
acabou gerando modificações radicais nos processos produtivos, levando a uma reengenharia 
industrial com a adoção crescente de sistemas automatizados”. 
2.2.2 A Influência das Redes nas Movimentações Sociais
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Outra face da influência das redes no mundo contemporâneo pode ser sentida na maneira 
de organização das mais recentes movimentações sociais. Manuel Castells, em seu livro Redes de 
indignação e esperança – Movimentos sociais na era da internet (2013) analisou o impacto das novas 
tecnologias da comunicação em protestos recentes da primeira década do século XXI, especialmente 
aqueles acontecidos no mundo árabe e alguns países da Europa. Para este autor, as redes sociais na 
contemporaneidade se constituíram como espaços de autonomia, capazes de levar os sujeitos além 
do controle de governos e empresas. Com a intensificação da comunicação em redes trazida pelas 
novas tecnologias da informação, há a consequente produção de novos entendimentos sobre fatos, 
eventos, políticas, relações sociais etc.
Nesse sentido, Castells afirma que as redes de comunicação (as famosas redes sociais) são, 
em certa medida, temidas por governos e instituições de poder, pois são capazes de construir 
novas formas de pensamento, direcionar atitudes, construir significados e mobilizar agentes sociais, 
sejam eles individuais ou coletivos. Portanto, nos esclarece este autor, as modificações nas formas 
de comunicação afetaram definitivamente as relações de poder. 
“As redes de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana (mas não apenas) 
mediante as redes multimídia de comunicação de massa. Assim, as redes de comunicação são 
fontes decisivas de construção do poder” (CASTELLS, 2013, p. 12).
Capazes de operar novos significados sobre as mais 
diferentes relações e provocar reações inesperadas e 
irreversíveis, os movimentos sociais são definitivamente 
fomentados pelas informações mais imediatas e diversificadas 
possíveis, aptos a articular ações conjugadas nos mais distantes 
lugares do globo ao mesmo tempo.
27Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Não se faz mais necessário que as novas movimentações sociais sejam alocadas em uma sede 
física, com uma escala hierárquica definida entre indivíduos e encontros periodizados entre seus 
membros. Basta que os manifestantes estejam organizados em rede e se identifiquem em suas 
dificuldades e reivindicações. 
“A autonomia da comunicação é a essência dos movimentos sociais, ao permitir que o 
movimento se forme e possibilitar que ele se relacione com a sociedade em geral, para 
além do controle dos detentores do poder sobre o poder da comunicação” (CASTELLS, 
2013, p. 16).
Ainda nas considerações de Manuel Castells sobre a influência das redes nas novas 
movimentações sociais, o pensador espanhol afirma que o poder pode estar se deslocando 
dos Estados-Nações para novas alianças e coalizões não governamentais. Estas relações não 
pertencentes a nenhum território, mais fluidas e inconstantes, podem ser lidas como resultantes 
da sociabilidade típica da pós-modernidade. 
A influência da tecnologia nas relações sociais, econômicas e políticas dá origem a uma sociedade 
muito mais integrada e diversificada. Este fenômeno, aqui chamado de desterritorialização, será 
fundamental para entender o que é e quais as consequências da pós-modernidade nas relações 
sociais do século XXI, que abordaremos a seguir.
2.3 A DESTERRITORIALIZAÇÃO
Se uma das características marcantes da pós-modernidade se faz sentir nos novos movimentos 
sociais, os quais passam a não necessitar mais de encontro físico entre todos os seus participantes, 
então entendemos que a desterritorialização é uma das faces da pós-modernidade. 
Segundo Cristina Costa (2005, p. 237), a desterritorialização seria “a perda da importância do 
território nacional e a transnacionalização da economia”, bem como “as novas alianças que unem 
blocos regionais mais amplos, enfraquecendo as fronteiras nacionais e a circunscrição do Estado” 
(COSTA, 2005, p. 237). 
Nesta perspectiva, os territórios, as fronteiras e as vizinhanças necessitam de constante 
redefinição. São típicas desse processo, as constantes migrações humanas ao redor do globo 
terrestre, motivadas pelas mais diferentes causas: guerras, desastres naturais, alianças políticas, 
atividades econômicas etc. 
Anthony Giddens (2012, p. 467) rotula o século XXI como “a era da migração”, isto porque 
a intensificação da migração global após a Segunda Guerra Mundial, e especificamente em anos 
mais recentes, trouxe questões políticas e de governança muito sérias para todo o mundo. Inegável, 
portanto, é a multiplicidade de dados culturais e influências étnicas que permeiam as sociedades 
atingidas por este processo. 
Tanto os países alvos de imigrantes – geralmente pela prosperidade econômica (como 
Alemanha, França, Inglaterra) – quanto aqueles que “cedem” seus indivíduos a outros espaços 
(como Síria ou Haiti) – mais prósperos ou menos violentos e intolerantes – veem no fenômeno da 
desterritorialização uma mescla de culturas e tradições que atingem em cheio os sujeitos e definem 
novas identidades e relações sociais. 
28 Camila de Oliveira Casara
Constituem exemplos de alguns desses espaços de desterritorialização os campos 
de refugiados, as colônias de imigrantes, multinacionais e empresas de capital misto, 
nos esclarece Cristina Costa (2005, p. 237).
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Campo de refugiados em Domeez, Iraque.
Fronteira entre Grécia e a FYRON (antiga República 
Iugoslava da Macedônia).
A partir de agora, mais abstratos e difíceis de definir, os territórios nacionais, as fronteiras, 
os nacionalismos e as idiossincrasias culturais passam a ser constantemente reelaboradas sob 
uma perspectiva diversificada, múltipla e transnacional que traz a pós-modernidade. Entender 
esse fenômeno contemporâneo irreversível se faz uma das tarefas mais instigantes e complexas 
do pensamento social.
Daremos seguimento ao nosso estudo com o tópico 3 que trata sobre a Globalização. 
29Estudo do Ser Humano Contemporâneo
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3 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E A 
CRÍTICA DO CONHECIMENTO
 Este tópico trata de uma das questões mais comentadas e polêmicas da contemporaneidade: 
a globalização. Tema profícuo entre filósofos, sociólogos, economistas entre outros profissionais 
interessadosem entender os meandros que regem a vida social, política e cultural do século XXI, 
este assunto sempre traz posições contrárias e favoráveis capazes de despertar as discussões mais 
acaloradas.
 Ainda no intuito de lhe fornecer maior subsídio para as discussões e problematizações acerca 
do tema, propomos uma investigação sobre a questão da ampliação das fronteiras, processo inevitável 
da globalização. Abordaremos a formação dos blocos econômicos e a consequente e dramática 
questão da imigração no século XXI.
 Finalizamos nosso debate apresentando a proposta de uma governança global como saída 
pensada por alguns estudiosos para os problemas gerados em função de uma internacionalização 
das fronteiras. Esperamos contribuir para o despertar de uma consciência crítica e reflexiva acerca do 
tema e levantar ainda mais possibilidades de discussões que busquem a construção de um mundo 
mais justo e humano para todos. 
3.1 GLOBALIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÕES
Nos noticiários, artigos de jornais, conversas informais e tantos outros espaços que 
permeiam nosso cotidiano ouvimos falar sobre a globalização. Esse termo se tornou 
palavra-chave para definir as novas relações no mundo contemporâneo, tanto para os 
debates sociológicos e filosóficos quanto para os econômicos e políticos. 
30 Camila de Oliveira Casara
De uma maneira geral, o termo “global” se refere aos caminhos que as políticas econômicas 
e sociais do mundo capitalista vêm trilhando a partir da década de 1980. 
“A globalização refere-se ao fato de que estamos cada vez mais vivendo em um mesmo 
mundo, de modo que os indivíduos, grupos e nações, se tornaram cada vez mais 
interdependentes”. (GIDDENS, 2012, p. 102).
Muitos estudiosos do assunto tratam da globalização como uma significativa perda de poder do 
Estado Nacional e do mercado interno, o que acarreta trocas comerciais e financeiras internacionais 
intensas e confere muito poder às instituições supranacionais, isto é, corporações, bancos e empresas 
multinacionais. No entanto, podemos afirmar que, relacionada às profundas transformações 
econômicas, acompanhamos uma reviravolta nas relações culturais, sociais e tecnológicas entre os 
países a partir dessa época. Giddens (2012) corrobora essa ideia ao afirmar que:
“Embora as forças econômicas sejam uma parte integral da globalização, seria errado 
sugerir que elas a produzem sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, culturais e 
econômicos cria a globalização contemporânea” (GIDDENS, 2012, p. 102). 
Assim, a globalização não se restringe às novas dinâmicas econômicas e políticas, ela envolve 
outros tantos aspectos sociais capazes de alterar profundamente sociedades inteiras. Somos 
levados a crer, portanto, que a globalização é processo multidimensional, ou seja, seus impactos 
e consequências podem ser sentidos em diversos âmbitos da vida dos indivíduos no século XXI.
Tendo em vista a possibilidade de entendermos melhor essas transformações, propomos uma 
reflexão sobre o funcionamento atual e as possibilidades futuras da globalização enquanto 
nova forma de ordenação das relações sociais, econômicas e políticas da atualidade.
Para isso, explicaremos a seguir alguns dos fatores que contribuíram para a globalização.
3.1.1 A Tecnologia das Comunicações e da Informação
O desenvolvimento das tecnologias da comunicação e da informação pode ser apontado como 
um dos aspectos fundamentais para a intensificação da globalização na contemporaneidade. Isto 
porque elas aumentaram, em muito, a velocidade e o alcance das trocas sociais entre os indivíduos 
por todo o mundo.
Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, esta disseminação da informação sofreu grande 
transformação. Ela foi facilitada por vários avanços na estrutura das telecomunicações do planeta 
como o desenvolvimento de um sistema de cabos mais eficiente e menos caro e o desenvolvimento 
tecnológico dos satélites de comunicações, que a partir da década de 1960 expandem as comunicações 
internacionais. A partir de então, grandes quantidades de informação podem ser comprimidas e 
transferidas por meio digital. 
Nos lares, empresas, escritórios de qualquer país com infraestrutura de comunicações mais 
desenvolvida, as pessoas estão interconectadas, recebendo e mandando informações em tempo 
31Estudo do Ser Humano Contemporâneo
real para qualquer indivíduo ao redor do globo terrestre. Isso acarreta uma transformação na 
concepção do tempo e do espaço substancial aos envolvidos nesses processos. 
Um indivíduo em Tóquio recebe documentos, envia imagens e vídeos em tempo real a 
outro em São Paulo, graças ao desenvolvimento da tecnologia dos satélites.
3.1.2 Os Fluxos Internacionais e Transformações das Identidades
As trocas de informações possibilitadas pela tecnologia da comunicação permite a interconexão 
entre indivíduos no mundo todo. Esse fenômeno, para além das trocas já mencionadas, faz com 
que as pessoas estejam mais conscientes e se identifiquem mais umas com as outras em problemas 
globais do que no passado.
Um exemplo claro das possibilidades trazidas pela tecnologia da comunicação está na mo-
bilização de milhares de pessoas em manifestações políticas e culturais. Movimentos como a 
chamada Primavera Árabe (grandes insurreições nos países árabes, a partir de 2009, quando 
milhares de pessoas saíram às ruas contra governos ditatoriais, inicia-se na Líbia e se expande 
para vários países vizinhos); ou o Greenpeace (importante Organização Não Governamental 
que luta pelas questões ambientais), entre outros, podem ser classificados como ações que 
buscam agir para além de seus territórios nacionais e são possíveis graças à internet.
Explicaremos o fato das trocas de informações facilitadas pela tecnologia a partir de duas dimensões.
A primeira é que indivíduos no mundo todo passam a entender que suas 
responsabilidades vão além de suas fronteiras nacionais. Desastres naturais, 
guerras, fome e injustiças de toda ordem passam a ser vistas como problemas 
de alçada internacional, dignos de ação e intervenção. 
A segunda diz que indivíduos no mundo todo buscam, cada vez mais, forjar 
sua identidade em fontes além de seu Estado-Nação. As identidades culturais 
locais passam por transformações profundas, e um habitante da Irlanda do 
Norte, por exemplo, pode se identificar culturalmente com um da França. A 
ideia da identificação patriótica dos indivíduos com seu Estados-Nação está 
em xeque à medida que as políticas em níveis globais e regionais se orientam 
para além das fronteiras geográficas.
Anthony Giddens (2012) afirma que, embora a globalização seja fomentada por grandes trocas 
econômicas e desenvolvimento tecnológico, ela pode ser sentida nas relações mais cotidianas. As 
transformações são vistas nas formas como as instituições sociais mais elementares, como família, papéis 
sociais, identidades pessoais, relações de trabalho, sexualidade etc., são afetadas e reconfiguradas. 
32 Camila de Oliveira Casara
Neste sentido, para o autor, a globalização inaugura um período de ascensão do individualismo. 
“Em condições de globalização, enfrentamos uma tendência a um novo individualismo, 
no qual as pessoas devem agir ativamente para construir suas próprias identidades” 
(GIDDENS, 2012, p. 116). 
À medida que nos deparamos com transformações profundas nos mais elementares pilares 
de sustentação da vida em sociedade, e tradições e costumes antigos já não fazem mais sentido, 
é preciso que sejamos capazes de alterar a maneira como pensamos a nós mesmos e surjam novos 
padrões identitários.
3.1.3 Os Fatores Econômicos 
Dada a importância que a tecnologia da informação confere às identidades individuais e a 
promoção de novas formas de comunicação, não podemos deixar de salientar que os processos 
econômicos são cruciais para que a globalização atinja os patamares do século XXI. Cada vez mais a 
economia global se orienta para as atividades ligadas à tecnologia da informação, isto é, softwares de 
computador, mídia,produtos do entretenimento e serviços baseados na internet. Segundo Anthony 
Giddens (2012, p. 106), a globalização é orientada “por atividades que não têm peso e são intangíveis”. 
A forma predominante da economia contemporânea passa a ser a rede entre diversas atividades 
que cruzam as fronteiras geográficas, tornando as empresas cada vez mais flexíveis e dispersas 
em suas hierarquias e atividades. É necessário fazer parcerias e participar de redes de distribuição 
mundial para estar presente nos negócios do mundo globalizado.
3.1.4 A Ampliação das Fronteiras
Os processos de integração regional que se delinearam em 
meados do século XX estão diretamente ligados ao desenvolvimento 
do capitalismo globalizado. Novos blocos econômicos surgiram e 
um novo patamar de integração entre os países foi possível.
Nesse tópico, abordaremos as características principais da 
formação de blocos econômicos e suas principais consequências; 
assim como abordaremos a imigração. 
Os Blocos Econômicos
Dentro do sistema internacional de comércio na contemporaneidade, a formação de blocos 
econômicos passa a ser assunto de primeira ordem para os países que desejam estar inseridos na 
economia mundial. Esse fenômeno pode ser definido como um processo político entre dois ou mais 
países para limitar, total ou parcialmente, as barreiras comerciais entre eles. Esse fato contribui muito 
para a internacionalização das economias, e, consequentemente, para o processo globalizador. 
33Estudo do Ser Humano Contemporâneo
A constituição de um bloco econômico é a principal política de integração regional para criar e 
ampliar espaços inter ou supranacionais que permitam maior complementaridade, intercâmbio 
e incremento da capacidade competitiva dos países-membros em relação ao resto do mundo. 
(SILVA, 2013, p. 294)
No entanto, o processo integrador das economias globais assume também as diferenças 
econômicas e políticas entre os países. Serão justamente essas diferenças entre os envolvidos que 
representará um dos principais problemas enfrentados pela formação dos blocos econômicos (por 
exemplo: União Europeia, Mercosul, Nafta, entre outros), símbolos da globalização. 
A Imigração
No contexto dos blocos econômicos, as fronteiras são bastante livres e sem impedimentos 
quando o que circula são as mercadorias. No entanto, quando se trata de pessoas, especialmente 
aquelas vindas dos países de economias periféricas, como África, América Latina e Ásia, as fronteiras 
já não são tão desimpedidas. 
Restrições à entrada de imigrantes e políticas restritivas 
são formas contemporâneas de segregação espacial e 
consequente elemento fundamental de distinção social. 
Idomeni, Grécia. Fronteira entre a Grécia e a FYROM.
“A possibilidade de se deslocar tornou-se um elemento fundamental para distinguir as classes 
sociais em nível global, não só pelos meios com os quais se movimentam, mas também, 
ou principalmente, pelas segregações e restrições espaciais que isso acarreta”. (BAUMAN 
apud SILVA et al., 2013, p. 295).
Atrelada à face positiva e transformadora das relações sociais que a globalização promete, 
está sua face perversa e excludente. Para que o ideal de integração da globalização se realize, é 
necessário abandonar antigas tradições e posições nacionalistas. 
“O nacionalismo tranca as portas, arranca as aldravas e desliga as campainhas, declarando 
que apenas os que estão dentro têm direito de aí estar e acomodar-se de vez” (BAUMAN, 
2001, p. 203).
Neste sentido, podemos afirmar que um dos grandes desafios que se impõem às novas 
relações entre os países é a questão da imigração e circulação de pessoas em busca das promessas 
e benefícios do capitalismo globalizado.
34 Camila de Oliveira Casara
3.1.5 Uma Governança Global é Necessária
No processo da globalização, o avanço tecnológico serve para a promoção da circulação de 
capitais e mercadorias, no entanto, este processo não é homogêneo e igualitário. Àqueles países 
em que o capitalismo ainda é subdesenvolvido (por exemplo: Brasil, Índia, Chile), sobra apenas a 
transferência dos lucros aos países do capitalismo central (por exemplo: Estados Unidos, Inglaterra). 
Já a circulação humana é restrita e problemática, como visto no tópico anterior. 
É por isso que os efeitos negativos da globalização podem ser sentidos principalmente nas 
regiões de capitalismo periférico onde a instalação de grandes multinacionais explora a força de 
trabalho regional muitas vezes de maneira injusta, como por exemplo, pagando salários cada vez 
mais baixos, por muitas vezes mantendo os trabalhadores em condições análogas à escravidão, 
aproveitando-se da pouca organização sindical dos trabalhadores desses países, e ainda, valendo-se 
das isenções fiscais oferecidas por líderes desses países para que instalem suas fábricas nesses locais. 
Também é possível sentir os efeitos negativos da globalização nas consequências ao meio ambiente 
desses países, em que o processo de dilapidação dos recursos naturais se mostra insustentável. 
Por esses motivos, muitos estudiosos da globalização falam em estabelecer uma governança 
global. Esta proposta visa abordar de maneira global problemas que são criados e têm consequências 
num nível global. 
Os efeitos do aquecimento do planeta, da dissemi-
nação de doenças, da regulamentação de mercados 
financeiros instáveis e dependentes internacional-
mente, são exemplos de problemáticas que surgem 
em função de uma nova ordem econômica, política e 
social que é a globalização.
FONTE: Banco de Imagens 123rf
Para a resolução destes entraves gerados pela internacionalização das relações, cada vez 
mais se propõe que as soluções para estes se dê num nível global. Segundo Giddens (2012, p. 
117), o estabelecimento de uma governança global pode ajudar “a promover uma ordem mundial 
cosmopolita, na qual regras e padrões transparentes para o comportamento internacional, como 
a defesa dos direitos humanos, sejam estabelecidos e observados”. 
35Estudo do Ser Humano Contemporâneo
CONCLUSÃO
Nesta Unidade de Estudo abordamos os temas: modernidade, sociedade pós-industrial 
e cultura pós-moderna, e globalização. Vimos que o período que chamamos de modernidade 
se refere a transformações importantes em todas as instituições sociais: desde as relações 
de trabalho, até a política e a economia. O Renascimento, como fato importante e cabal 
trouxe uma nova maneira de o homem enxergar a si e o mundo em que vive, enquanto que 
a Revolução Industrial mudou radicalmente a ordem produtiva da vida econômica e alterou 
para sempre os modos de produção.
Autores importantes da sociologia, como Anthony Giddens e Cristina Costa, elaboraram 
reflexões sobre este período histórico e o caracterizaram a partir da rapidez das mudanças. Para 
o inglês Anthony Giddens, é preciso estar atento para as consequências que a modernidade 
acarreta para vida do planeta como um todo, como o impacto das transformações no meio 
ambiente, o totalitarismo e a associação entre poder militar e industrial.
Estudamos também os temas relacionados à pós-modernidade. Evidentemente todos nós 
já ouvimos os termos pós-modernidade, vida pós-moderna, amores pós-modernos em algum 
momento de nossas conversas mais banais. No entanto, a Unidade de Estudo apresentada 
forneceu aspectos e características desse fenômeno de modo mais complexo e aprofundado. 
Passamos pelas principais faces da pós-modernidade: suas características, a importância das 
tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede, e a ideia de desterritorialização. 
Ao abordarmos a questão das redes, não pudemos nos furtar do impacto disso nas relações 
de produção e nas movimentações sociais.
Todos esses aspectos se dispuseram a agregar dados e possibilidades de entendimento 
da realidade do século XXI a você que está disposto a captar de maneira crítica e reflexiva a 
realidade em que estamos todos inseridos.
Ao longo desta Unidade, também procuramos elucidar aspectos importantes acerca do 
temada globalização. Passamos pelas suas características principais, pelos fatores cruciais para 
que alcançasse os níveis do século XXI, pela importância da tecnologia da informação e do 
desenvolvimento da internet nesse processo. Também salientamos o papel da economia e a 
formação dos blocos econômicos como grandes catalizadores da globalização tal como temos 
hoje. Tratamos do problema da imigração e de como a globalização pode ser perversa com 
aqueles países considerados como capitalismo periférico. Por fim, apontamos como saída para 
estes entraves o sonho da governança global, que, para muitos estudiosos, é a possibilidade 
mais plausível para os problemas criados pela internacionalização das fronteiras.
Esperamos que os elementos aqui apresentados tenham fomentado uma nova e mais 
complexa maneira de enxergar o fenômeno que atinge a todos os cidadãos e todas as cidadãs 
do mundo contemporâneo.
36 Camila de Oliveira Casara
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da 
internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. 
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012.
______. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2007.
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2013.
38 Paulo Pozzebon
39Estudo do Ser Humano Contemporâneo
UNIDADE DE ESTUDO 2
EXPRESSÕES E PROCESSOS DO CONHECIMENTO E O HUMANO 
COMO SER MULTIFACETÁRIO E RELACIONAL
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade abordaremos os tópicos sobre as formas e os processos do conhecimento e 
sobre o ser humano, destacando a dimensão biológica, a inteligência, a linguagem, a cultura, a 
historicidade, a alienação e a busca do transcendente.
Na época em que vivemos, diferentemente das anteriores, abundam informações. Chegam 
até nós turbilhões diários de informações. Nem todas são exatas, verdadeiras e relevantes. Muitas 
vezes temos a sensação de que recebemos informações em excesso, que mais nos confundem do 
que esclarecem. Muitas delas truncadas, grosseiramente simplificadas, cuja fonte não é conhecida, 
que podem ter sido divulgadas com a intenção de iludir as pessoas, não com a intenção de lhes 
auxiliar a conhecer e compreender a realidade em que vivem. Outras tantas vezes as informações 
nos chegam apenas como entretenimento, modeladas (e distorcidas) para provocar emoções e 
divertimento, não para a ajudar elaborar conhecimentos. 
Você já deve ter experimentado isso e provavelmente percebeu que a dificuldade é separar 
informações verdadeiras e não verdadeiras, informações relevantes e meros truísmos que nos 
ocupam a mente e o tempo. Cada vez mais, é necessário discernir entre as informações que podem 
nos ser úteis e as que podem nos iludir. Nesta Unidade, queremos trabalhar alguns conceitos e 
algumas distinções que podem nos ajudar na tarefa de filtrar informações e construir conhecimentos.
Bons estudos!
 
 FONTE: Banco de Imagens 123rf
40 Paulo Pozzebon
1 INFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS
Informações não são conhecimentos. Essa é a primeira distinção que devemos fazer. Informações 
são registros de algumas características de fatos, objetos ou processos que detectamos no mundo. 
Conhecimentos são conjuntos de informações organizadas, articuladas e interpretadas, que nos 
ajudam a compreender uma parte da realidade natural, social ou cultural do mundo em que vivemos.
Pense numa lista telefônica (daquelas antigas, enormes e 
impressas em papel fininho). Você tem nela uma grande quantidade 
de informações, mas, por si só, a lista não representa conhecimento. 
Para transformar aquelas informações em conhecimentos sobre 
a cidade a que se refere essa lista, você precisa analisar essas 
informações, estabelecer relações entre elas e interpretar seu 
significado. Só assim você saberá se a cidade é populosa ou não, se 
é rica ou pobre, antiga ou jovem, que tipos de empresas possui, se seus 
serviços de saúde e de educação estão bem distribuídos ou não. 
Todos os dias somos bombardeados por uma enorme quantidade de informações. Jornais, 
revistas, TV, Internet, rádio, redes sociais... Não nos faltam informações. Na verdade, as temos em 
excesso. Isso cria um dos grandes desafios de nosso tempo: filtrar essas informações, separando 
relevantes e irrelevantes, verdadeiras e falsas, úteis e inúteis. 
A análise das formas de conhecimento, que empreenderemos nesta Unidade, apresenta algumas 
ferramentas para ajudá-lo a enfrentar o desafio de fazer o exame crítico das informações que recebemos.
1.1 AS FORMAS DO CONHECIMENTO
Ao longo da História, os seres humanos criaram variadas formas de conhecer. São modos diferentes 
de usar sua capacidade intelectual, de articular ideias, imagens, raciocínios, sentimentos. Todas as 
formas de conhecimento – senso comum, mito, ideologia, ciência, tecnologia, filosofia, religião, arte, 
entre outras – atendem de maneiras diferentes à necessidade humana de conhecer e compreender o 
mundo e o próprio ser humano. Analisaremos nesta Unidade apenas algumas dessas formas.
1.1.1 Senso Comum
O senso comum pode ser entendido de duas formas distintas, mas que são complementares:
Como Fenômeno Social: Em todos os grupos sociais percebemos a existência de informações que 
circulam continuamente entre seus membros, formando um cabedal comum, isto é, conhecido por todos. 
Esse cabedal contém normas de comportamento social, fatos históricos, lendas, superstições, informações 
científicas popularizadas, valores morais, crenças religiosas, modos de fazer coisas e organizar a vida, 
mitos, ideologias políticas, representações do que seja o mundo e a sociedade etc. Tudo isso misturado, 
num conjunto pouco organizado e muitas vezes contraditório. Esse cabedal, entretanto, é da máxima 
importância, pois permite a comunicação entre os membros do grupo social e, consequentemente, 
facilita a interação e a cooperação entre eles. O senso comum forma uma visão de mundo, isto é, uma 
representação, uma imagem de como é o mundo, que é a primeira referência que temos do mundo 
que nos cerca e é a referência que as pessoas usam como orientação para a vida cotidiana.
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41Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Como forma de organizar os conhecimentos: Numa outra abordagem, o senso comum é também 
uma maneira de conhecer, isto é, um modo de lidar com informações e elaborar conhecimentos. O 
senso comum elabora conhecimentos de modo assistemático, fragmentário e superficial. Isso porque 
o senso comum é muitas vezes portador de uma atitude crédula e acrítica, que se satisfaz com as 
aparências, que aceita opiniões somente porque foram emitidas por supostas autoridades do saber, 
que admira as opiniões mais chocantes. Podemos resumir afirmando que o senso comum não examina 
seus conhecimentos: não pergunta pela origem das informações, não pergunta por sua veracidade, 
ou pelos interesses que eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos.
02
O que vou comer na lanchonete, se levarei ou não agasalho ao sair de casa, se é moralmente 
certo ou errado o gesto que pretendo realizar para uma pessoa, em que candidato pretendo 
votar, tudo isso é geralmente avaliado por meio de critérios extraídos do senso comum.
Vale atentar para esta característica do senso comum: toda informação que se torna senso comum, 
isto é, que se dissemina na sociedade e é repetida em toda parte, começa a ser tomada como verdadeira. 
É como um boato maldoso: depois que se difunde, ninguém mais se lembra de onde veio, quem o 
proferiu e com que interesse. Tornou-se senso comum, todos o repetem como se fosse verdadeiro. 
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Podemos resumir afirmando que o senso comum não examina seus conhecimentos: 
não pergunta pela origem das informações, não pergunta por sua veracidade,ou pelos 
interesses que eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos. 
O exame do conhecimento é tarefa constante para todos aqueles que não se satisfazem com 
aparências e buscam a verdade. Por isso, apesar de sua enorme importância na vida cotidiana de 
indivíduos e coletividades, não podemos nos limitar a aceitar e reproduzir os conteúdos superficiais 
do senso comum.
1.1.2 Mito
Mitos são também uma maneira de conhecer, que a humanidade vem utilizando desde a mais 
remota antiguidade até hoje. Trata-se de uma forma de conhecimento baseada fundamentalmente 
na compreensão intuitiva dos fatos, que é apresentada, em geral, sob o formato de uma história. 
Essa narrativa apresenta, muitas vezes a saga de um herói, a origem do cosmos ou dos deuses, a 
origem do ser humano, das raças e dos povos, entre outros temas. 
Os mitos são criados, anônima e coletivamente, para explicar o mundo em que vivemos, 
especialmente os acontecimentos que nos amedrontam. Essa explicação não segue critérios racionais, 
muito menos científicos, mas ensinam, por meio do comportamento dos personagens da narrativa, 
a solução dos enigmas da vida, a identidade do grupo social e o modo correto de se conduzir.
42 Paulo Pozzebon
Todos os povos criam seus mitos e os utilizam para compreender os mistérios da vida e do mundo. 
No cinema americano encontramos, onipresente, o mito do herói. Na história política 
brasileira é recorrente o mito do salvador da pátria. Nas tradições religiosas de origem 
hebraico-cristã, em papel fundante o mito da origem do povo. Nas tradições indígenas 
muitas vezes encontramos mitos da origem dos alimentos e das ferramentas.
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É importante observarmos que os mitos estão presentes em nossa vida, mesmo 
que não os percebamos. Nós os tomamos como explicações válidas, até o 
momento em que novas informações nos fazem adotar outras explicações, mais 
afeitas às ciências ou à racionalidade pragmática. Apenas quando as primeiras 
explicações são recusadas como inválidas, percebemos que são explicações 
míticas. O exemplo a seguir apresenta um caso assim.
UM MITO CONTEMPORÂNEO
Alguém já lhe contou a história seguinte? Ela já foi muito difundida no Brasil há algumas décadas. 
Apesar de ser uma explicação mítica, foi aceita como válida por amplos setores da sociedade brasileira:
“O Japão é um país muito pequeno, que fica do outro lado do mundo. Durante a Segunda Guerra 
Mundial, foi inteiramente destruído. Mas os japoneses foram tão esforçados, disciplinados e trabalhadores, 
que rapidamente reconstruíram tudo e ainda se tornaram um dos países mais ricos do mundo”.
Essa narrativa surgiu nos anos 1960, quando o Japão experimentou um crescimento econômico muito 
forte e impressionou o mundo todo com seus trens-bala, automóveis baratos e aparelhos eletrônicos. 
Visto a partir do Brasil, o “milagre econômico japonês” parecia incompreensível e, sobretudo, 
assustador. O Japão não tinha sido inteiramente destruído, inclusive por duas bombas atômicas? Como 
os japoneses conseguiram essa façanha? O que eles faziam de especial para chegar tão longe? 
Desconhecendo os fatores econômicos e geopolíticos que favoreceram a reconstrução do Japão, 
inclusive a enorme cooperação norte-americana, os brasileiros recorreram à consciência mítica, que 
forneceu uma explicação – intuitiva, mas fundamentada na realidade: a tradição japonesa de valorização 
do esforço, do trabalho e da disciplina. 
E o que os brasileiros têm a ver com esse mito? 
Como essa narrativa, criada por brasileiros, pode se referir à identidade dos brasileiros? 
A resposta parece estar em uma espécie de contraposição muda: 
 ▪ o Japão é um país muito pequeno, o Brasil é um país com imenso território; 
 ▪ o Japão foi inteiramente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil sempre se ufanou 
por não ter guerras em seu interior; 
 ▪ o Japão foi reconstruído e se tornou rico por meio do trabalho e do esforço de seus cidadãos, o 
Brasil ainda não chegou lá.
43Estudo do Ser Humano Contemporâneo
1.1.3 Ideologia
Desde Destutt de Tracy e Karl Marx, no século XIX, o fenômeno da ideologia tem despertado 
interesse e inúmeros teóricos já se manifestaram sobre o tema, formulando concepções das mais variadas. 
Com base nas ideias do filósofo polonês Adam Schaff (1913-2000), apresentamos uma concepção ampla 
de ideologia, que nos fornece uma interessante ferramenta para elaborar a crítica do conhecimento.
De acordo com esse pensador, podemos definir ideologia 
como um conjunto de opiniões, baseadas em um conjunto 
de valores admitidos, pelo qual um grupo organizado afirma 
sua identidade e seus interesses (SCHAFF, 1968).
A ideologia é concebida, então, como uma visão de mundo sistematizada (ao contrário do 
senso comum, que é uma visão de mundo desorganizada), modelada pelos interesses do grupo 
que a elaborou, que atua afirmando a identidade do grupo, controlando as divergências de seus 
membros e difundindo por toda a sociedade a visão de mundo desse grupo.
A ideologia pode atuar como instrumento crítico de desvelamento da realidade, num contexto 
em que o grupo que a formula se encontra em situação de subordinação ou de oposição ao grupo 
dominante. Contudo, a ideologia se torna falsa consciência e obstáculo à compreensão da realidade 
sempre que está a serviço da dominação e, por conseguinte, dos interesses de ocultação do real.
Os mecanismos utilizados pela ideologia para ocultar a realidade foram estudados por Marilena 
Chauí (2008. p. 113.). Os principais são:
FONTE: Aranha e Martins (1993, p. 37)
Naturalização – faz com que os processos provocados pela 
intervenção humana sejam interpretados como resultantes de 
fenômenos naturais;
Inversão de causa e efeito – em geral faz com que as 
vítimas de um processo social violento ou excludente 
apareçam como seus causadores;
Universalização de interesses – maneira pela qual os interesses 
do grupo dominante são apresentados como interesses de todos 
os membros da sociedade;
Ocultação de informações – informações que, se 
reveladas, destroem a coerência do discurso ideológico e 
evidenciam seu propósito ocultador.
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Na vida cotidiana e na vida civil, em todos os debates de cunho político, econômico 
social ou cultural, estão presentes as ideologias, ora ocultando a realidade, ora 
forçando seu desvelamento.
Não existe um “lugar” ou um tipo de discurso ideologicamente neutro. A ideologia 
só pode ser vencida pelo esforço crítico de perceber, em cada caso, em cada 
ponto de discussão, os interesses que estão moldando o discurso e deformando 
a percepção da realidade. É uma tarefa indispensável e permanente. 
1.1.4 Ciência
É muito importante examinarmos também a ciência. 
Trata-se da forma de conhecimento mais prestigiosa dos 
últimos séculos. Dela se esperam conhecimentos verdadeiros 
e uma explicação científica tende a ser aceita como verdadeira 
e incontestável.
A ciência foi buscada, desde a antiguidade Clássica, como 
um ideal de conhecimento certo e seguro, que permitisse superar 
as limitações do senso comum e do mito. Contudo, somente a 
partir da Revolução Científica do Século XVII (protagonizada por 
Galileu Galilei, entre outros), estruturou-se o tipo de saber que hoje denominamos ciência. Sendo assim, 
na escala de tempo da história da humanidade, esse é um acontecimento recente. Seu enorme sucesso 
e suas conquistas se devem à adoção de um método baseado na experimentação. Com ele, a ciência 
moderna foi mais longe e mais fundo que a maior parte das formas de conhecimento. Atualmente, a 
ciência abrange os estudos da natureza, do ser humano, da sociedade e da cultura.
A ciência tem limitações, contudo. Sua capacidade de conhecer vai somente até onde é 
possível fazer experimentações, ou constatações empíricas. Muitas coisas importantes ficam de 
fora do conhecimento científico: 
O campo dos valores éticos e estéticos: pois a ciência não discute valores (o cientista é 
quem deve ter valoreséticos);
A arte: que é também uma forma válida (e indispensável) de interpretar a realidade; 
O campo da fé: que continua a mover a humanidade; 
As profundezas da alma humana: reveladas nos mitos e na arte; 
E os voos mais altos da razão: em que a filosofia ultrapassa a ciência e tematiza a própria razão.
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45Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Dessa forma, o formidável poder explicativo da ciência nunca será capaz de esclarecer toda a 
realidade, nem de afirmar a existência ou inexistência de Deus, a justiça, a beleza e muitos outros 
temas. Não poderá substituir outras formas de conhecimento, como a filosofia, ou a experiência 
religiosa, mas poderá conviver com elas e mesmo cooperar, pesquisando em seu campo próprio 
e com seus métodos específicos os aspectos básicos dos fenômenos que interessam também a 
essas formas de saber. 
Como Podemos Caracterizar o Conhecimento Científico?
O conhecimento produzido pela ciência pretende ser, acima de tudo, objetivo. Objetivo é o 
conhecimento que traduz as características do objeto (a coisa) que está sendo conhecido. É, portanto, 
um conhecimento fiel à realidade, evitando distorções introduzidas pela subjetividade do cientista. 
O conhecimento científico é também organizado e coerente, sem contradições nem lacunas que 
o invalidem. Nisto difere do senso comum, que é um conjunto desorganizado de opiniões. É também 
metódico, isto é, segue com rigor um método científico, evitando saltos, “chutes” e “achologia”. É 
racional, isto é, exprime-se em conceitos e relações lógicas e pode ser compreendido por meio da 
razão humana. É testável, isto é, pode ser submetido à experimentação e, por meio dela, corroborado 
ou refutado.
O conhecimento científico pretende ser válido, isto é, capaz de descrever e explicar fenômenos 
com objetividade, sem pretender constituir verdade definitiva. De fato, os cientistas sabem que 
seu conhecimento é falível e, frequentemente, uma teoria deve ser abandonada em favor de outra 
porque aquela permite explicar fenômenos que a primeira não explica. 
O que são, então, as teorias científicas? 
São modelos que pretendem descrever o funcionamento dos fenômenos, isto é, são maquetes 
da realidade, que nos ajudam a compreendê-la. Nunca são, porém, representações completas 
e infalíveis da realidade.
1.1.5 Técnicas e Tecnologia
Técnicas são as formas que a humanidade foi criando, ao longo da história, para transformar 
materiais naturais nos bens de que tinha necessidade. 
Foram assim inventados, por exemplo, a agricultura e a pecuária; alimentos 
como o pão, os queijos, o vinho e demais bebidas alcoólicas; a fundição de 
metais; a edificação com madeira e/ou pedra etc.
Por sua vez, a tecnologia surgiu com a ascensão da ciência moderna, no final do século 
XVIII. Os cientistas da época procuravam explicar com ajuda da ciência o funcionamento das 
técnicas tradicionais. Com isso, abriram caminho para o aperfeiçoamento dessas técnicas por 
meio do conhecimento científico e para sua utilização na indústria. Surgiu assim a eletrônica e a 
microeletrônica, a informática e todo o aparato que hoje utilizamos nas telecomunicações e no 
processamento de informações. 
Ciência e tecnologia atuam em mão dupla: o conhecimento científico abre caminho para o 
desenvolvimento de tecnologias e a tecnologia dá meios à ciência para o aprofundamento das 
pesquisas. Essa relação é tão profunda que atualmente alguns setores preferem usar o termo 
“tecnociência”, ao invés de “ciência e tecnologia”.
46 Paulo Pozzebon
A tecnologia desempenha papéis fundamentais em nossa 
sociedade. O mais nobre é com certeza a criação de novos 
medicamentos e aparelhagens que facilitam o diagnóstico e o 
tratamento de doenças. Entretanto, os produtos de uso doméstico 
(eletroeletrônicos, químicos, alimentícios), do setor automobilístico 
ou de transportes, do setor agropecuário, entre outros, transformam 
incessantemente a economia, pois ora dão maior eficiência e 
produtividade aos métodos de produção, ora criam produtos que 
introduzem facilidades novas e disseminam novos comportamentos. Isso 
sem mencionar a área militar, onde novas tecnologias bélicas (armas, comunicação e 
transporte) tendem a ser decisivas na guerra. Por essa razão, o desenvolvimento de 
novas tecnologias é preocupação constante de muitos países.
Dessa maneira, é fácil entender que o principal papel da tecnologia tem sido o de estimular 
a economia com novos e melhores produtos, cujo surgimento leva à substituição de produtos 
anteriores e força a realização de novos investimentos. A tecnologia se tornou um dos principais 
motores da economia capitalista. Contudo, seu uso deve ser dirigido e, quando necessário, limitado, 
pela atuação responsável de cientistas e de toda a sociedade.
1.1.6 Filosofia
Também a filosofia é um modo especial de elaborar conhecimentos. A própria palavra filosofia 
o denuncia: no grego antigo, filo + sofia equivale a amor pela sabedoria, isto é, uma busca contínua, 
amorosa e empenhada do conhecimento em direção à sabedoria. Mas esta explicação não nos 
basta atualmente.
Como modo de conhecer, a filosofia pode ser compreendida como reflexão radical, rigorosa 
e de conjunto sobre problemas que a realidade em que vivemos nos apresenta (SAVIANI, 1983). 
Afirmar que a Filosofia é reflexão significa afirmar que a razão (nossa capacidade de raciocinar) 
é o instrumento mais importante para a compreensão da realidade. Mas não é qualquer tipo de 
reflexão que pode ser chamada de filosófica.
 ▪ deve ser radical, na medida em que desce às raízes dos problemas enfrentados; 
 ▪ deve ser rigorosa, quando utiliza de procedimentos com lógica e metodologia, indispensáveis para 
o desenvolvimento reto e seguro da razão, bem como da percepção das racionalidades no real; 
 ▪ deve, finalmente, ser abrangente, na medida em que procura focar seus objetos nos contextos 
que lhes dão sentidos e nas circunstâncias que interagem com os seres humanos.
Os objetivos desta reflexão são variados e diversos, conforme os diferentes autores e correntes 
da filosofia. Observe a seguir:
Filosofia
a) um conjunto de conhecimentos que visa fornecer explicação 
fundamental de todas as coisas; 
b) a tentativa de encontrar sentidos que expliquem radicalmente a 
realidade humana, sua inserção no mundo e suas possibilidades 
existenciais; 
c) a busca pelos fundamentos concretos da realidade, bem como a 
busca pelas possibilidades de conhecê-la; 
d) a busca do direcionamento racional das ações humanas, na ação 
e na ética, e da construção racional do mundo humano.
47Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Vale uma palavra sobre a necessidade e a importância da filosofia. O senso comum a considera 
inútil. Entretanto, apoiada na reflexão rigorosamente racional, a filosofia permite ao homem se distanciar 
do mundo cotidiano, do agir imediato, dos sentidos preconcebidos e impostos pelas ideologias. 
Este distanciamento permite:
 ▪ a retomada crítica dos fundamentos da ação individual e coletiva; 
 ▪ a crítica do pensamento relativista ou mesmo dogmático, tão frequentes no senso comum; 
 ▪ a crítica da especialização fragmentadora das ciências, da estreiteza da razão instrumental 
sacralizada pela tecnologia.
Na filosofia reside a possibilidade de o homem transcender a situação dada e não escolhida, 
reside nela a possibilidade de o homem se tornar capaz de projetar o efetivamente novo e direcionar 
livremente seu destino. 
Pelo exercício do pensamento radicalmente crítico, a filosofia permite elaborar a reflexão sobre os 
fundamentos e limites da ciência, das tecnologias e das profissões e de todas as formas do conhecer. 
Observe o QUADRO 1 a seguir:
QUADRO 1 – Diálogo entre a Filosofia e outras formas do conhecimento
CIÊNCIAS PROFISSÕES E TECNOLOGIAS FÉ E A TEOLOGIA
De fato, no diálogo com a ciência, a 
filosofia se apropria de conhecimentos 
científicos que lhe permitem melhor 
aproximação do real, enquanto as 
ciências se enriquecem com

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