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1 DIREITO PENAL PARTE GERAL TEORIA GERAL DO CRIME 2 1. CONCEITO DE CRIME 1.1. Conceito Formal Crime é toda conduta humana que se amolda a um tipo penal, estando sujeita a uma sanção penal. 1.2. Conceito Material/Substancial Crime é toda ação ou omissão humana (e também da pessoa jurídica em crimes ambientais) que ofende ou expõe a perigo relevante um bem jurídico tutelado. • O conceito material é um limitador do princípio da reserva legal, pois o legislador só pode definir como crime condutas que possam ofender um bem jurídico relevante; INFRAÇÃO PENAL (CRITÉRIO BIPARTIDO) CRIME/DELITO CONTRAVENÇÃO Reclusão ou Detenção Prisão Simples e/ou Multa Pena máxima 30 anos Pena máxima 5 anos Qualquer tipo de ação penal A.P.P. Incondicionada Pune-se a tentativa Não se pune Aplica-se extraterritorialidade Não se aplica Justiça Estadual ou Federal JECRIM SURSIS da pena de 2 a 4 anos SURSIS da pena de 1 a 3 anos Prisão Preventiva e Temporária Não se aplica Pode ocorrer o confisco de bens Não se aplica • Há crimes em que a tentativa é punida da mesma forma como se tivesse sido consumado (crimes de atentado); • A tentativa de contravenção penal é admitida, entretanto não é punida; • A Justiça Federal somente poderá julgar a prática de contravenção penal quando o sujeito ativo possuir foro por prerrogativa de função; • Não cabe decretação de Prisão Preventiva em crimes culposos e em crimes com pena inferior a 4 anos de reclusão; • O único crime no ordenamento jurídico que não prevê pena privativa de liberdade é o porte de drogas para consumo próprio (art. 28 da Lei 11.343/06): Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 3 1.3. Conceito Analítico / Dogmático O crime é conceituado a partir dos elementos estruturais que o compõem (fato típico, ilicitude e culpabilidade). • Para a Teoria Bipartida, o crime é formado por fato típico e ilicitude, sendo a culpabilidade mero pressuposto da pena; • Para a Teoria Tripartida (adotada), o crime é formado por fato típico, ilicitude e culpabilidade; • Para a Teoria Quadripartida, o crime é formado por fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade; TEORIA FINALISTA TRIPARTIDA FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE Conduta Resultado Nexo causal Tipicidade Legítima Defesa Estado de Necessidade Exercício Regular de Direito Estrito Cumprimento do Dever Legal Imputabilidade Potencial Consciência da Ilicitude Exigibilidade de Conduta Diversa 2. SUJEITOS DO CRIME 2.1. SUJEITO ATIVO 1 Crime Comum Pode ser praticado por qualquer pessoa, independentemente de qualquer outra circunstância inerente ao agente. Ex.: Furto, homicídio, estelionato etc. 2 Crime Próprio Pode ser praticado somente por uma determinada pessoa, exigindo uma condição ou qualidade especial. Ex.: Peculato, infanticídio, agente garantidor etc. 3 Mão Própria Pode ser praticado somente por determinada pessoa, exigindo uma conduta infungível. Ex.: Autoaborto, falso testemunho, falsidade ideológica etc. • É possível coautoria e participação em crime próprio, pois as elementares do crime se comunicam; • Não cabe coautoria e participação em crime de mão própria, salvo nos crimes de falsa perícia (ex.: 2 peritos em comum acordo) e falso testemunho (ex.: advogado que induz a testemunha a mentir em juízo) – STF; Lei 9.605/98, art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 2.2. SUJEITO PASSIVO 4 1 Constante/Mediato É o Estado, que visa a paz pública e a ordem social. 2 Eventual/Imediato É o titular do interesse penalmente protegido. • Quando o crime possuir um sujeito passivo indeterminado, destituído de personalidade jurídica (coletividade, família etc.), será considerado um crime vago ou crime de vitimização difusa; • Não se pode ser sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo, salvo no crime de rixa (doutrina minoritária); 3. FATO TÍPICO É um fato humano que se amolda à descrição do tipo penal, sendo composto pelos elementos conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 3.1. CONDUTA É o comportamento humano voluntário e consciente, comissivo ou omissivo, doloso ou culposo, que provoca ou pode provocar uma lesão a um bem jurídico relevante. ELEMENTOS DA CONDUTA 1 Sujeito É o ser humano, pois é quem tem vontade e consciência. 2 Voluntariedade Não existe em caso de coação física irresistível, ato reflexo, sonambulismo, hipnose, caso fortuito e força maior. 3 Consciência Deve abranger o objetivo do agente, os meios usados na execução e as consequências do delito. • Não há crime sem conduta, que precisa ser dolosa ou culposa (elemento subjetivo); • Somente o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes, salvo a pessoa jurídica em crime ambiental; • A conduta é formada pela união da vontade (elemento volitivo) com a consciência (elemento intelectivo), ou seja, a vontade é o elemento da conduta e sem ela não há conduta penalmente relevante; • Apenas os atos lançados no mundo exterior ingressam no conceito de conduta, portanto a cogitação nunca será punível; • Crime de conduta mista é aquele que tem uma fase inicial praticada por ação e uma fase final praticada por omissão (ex.: apropriação de coisa achada); Art. 169, II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 dias. 5 TEORIAS DA CONDUTA 1 Teoria Causalista A conduta é um mero ato mecânico, desprovido de qualquer finalidade. É a simples análise de causa e efeito, sem observância da intenção. 2 Teoria Finalista (Adotada) A conduta é o comportamento humano, voluntário e consciente, destinado a uma finalidade. Em razão dessa teoria, o dolo e a culpa fazem parte da conduta. 3 Teoria Social A conduta é o comportamento que provoca um resultado socialmente relevante e, se não for relevante, não será considerada uma conduta. FORMAS DE CONDUTA Ação (conduta comissiva) É um comportamento positivo, ou seja, um fazer ou realizar. - O agente realiza o que está proibido. Omissão (conduta omissiva) É um comportamento negativo, ou seja, um deixar de fazer ou realizar. - O agente deixa de fazer o que a lei lhe impõe. Omissivo Próprio/Puro Omissivo Impróprio/Impuro É aquele em que a omissão está descrita no próprio tipo penal, respondendo o agente somente pela omissão, de forma autônoma. Ex.: Omissão de Socorro (art. 135) É aquele em que o agente possui um especial dever de agir, mas, em razão da omissão, responde pela produção do resultado. Ex.: Agente Garantidor (art. 13, § 2º) ✓ O dever de agir incumbe a todos; ✓ O omitente responde apenas pela omissão; ✓ Não admite tentativa, pois é um crime unissubsistente (um único ato); ✓ Admite a forma dolosa e culposa; ✓ Quanto ao sujeito ativo, é um crime comum; ✓ O dever de agente incumbe a um agente determinado; ✓ O omitente responde pelo resultado; ✓ Admite tentativa, pois é um crime plurissubsistente (vários atos); ✓ Admite a forma dolosa e culposa; ✓ Quanto ao sujeito ativo, é um crime próprio; Art. 13, § 2º - A omissão é penalmenterelevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. • Em relação aos crimes omissivos impróprios, o CP adotou a teoria normativa para aferir a causalidade, visto que o resultado é atribuído pela lei ao agente que tinha o dever de evitá-lo e foi omisso (descumprimento da norma mandamental); • São exemplos de agentes que têm a obrigação de cuidado imposta por lei: pai, mãe, policial etc.; 6 a) CONDUTA DOLOSA Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; TEORIAS DO DOLO 1 Teoria da Vontade O dolo é a vontade de praticar a conduta e de produzir o resultado. 2 Teoria do Assentimento O dolo é a vontade de praticar a conduta, assumindo o risco de que o resultado ocorra. 3 Teoria da Representação O dolo é a vontade de praticar a conduta, prevendo a possibilidade de produção do resultado. • O Código Penal, no art. 18, adotou a Teoria da Vontade na sua primeira parte (dolo direto), e a Teoria do Assentimento na sua segunda parte (dolo eventual); ESPÉCIES DE DOLO 1 Direto O agente visa certo e determinado resultado. De 1º grau O agente quer o resultado e atinge somente o objetivo pretendido. De 2º grau O agente quer atingir o objetivo, mas, para alcançá-lo, precisa provocar outras consequências. 2 Indireto O agente assume o risco de produzir o resultado. Alternativo O agente tem dupla intenção e qualquer dos resultados lhe é satisfatório. Eventual O agente conhece os riscos da conduta, está ciente das consequências, mas prossegue mesmo assim. DOLO EVENTUAL CULPA CONSCIENTE O agente prevê o resultado, que para ele é indiferente. O agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que o evitará. DOLO GENÉRICO DOLO ESPECÍFICO É a vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem um fim especial. (ex.: art. 121/Homicídio) É a vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, com um fim especial. (ex.: art. 158/Extorsão) DOLO NATURAL DOLO NORMATIVO Integra o Fato Típico Integra a Culpabilidade Consciência + Vontade Consciência + Vontade + Consciência da ilicitude Adotado pela Teoria Finalista Adotado pela Teoria Causalista 7 • Segundo a Teoria Causalista, o dolo é conhecido como dolo normativo, pelo fato de existir, nesse dolo, juntamente com os elementos volitivos e cognitivos, elemento de natureza normativa (potencial consciência da ilicitude); • A caracterização de uma conduta dolosa dispensa a consciência ou o conhecimento da antijuridicidade e requer apenas a presença dos elementos que compõem o tipo objetivo; b) CONDUTA CULPOSA É uma conduta consciente e voluntária, que gera um resultado involuntário, em razão da inobservância de um dever objetivo de cuidado. Art. 18 - Diz-se o crime: II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. • O que importa não é a finalidade do agente, mas o modo e a forma imprópria como atua, provocando o resultado em dissonância com aquilo que pretendia; • Deve-se confrontar a conduta praticada com a conduta que teria, nas mesmas condições, uma pessoa prudente e de discernimento; MODALIDADES DA INOBSERVÂNCIA DO DEVER DE CUIDADO 1 Imprudência Caracteriza uma conduta positiva, pois o agente age quando o dever de cuidado impõe que ele não atue. (ex.: avançar sinal vermelho no trânsito) 2 Negligência Caracteriza uma conduta negativa, pois o indivíduo deixa de agir quando o dever de cuidado impõe uma ação. (ex.: esquecer o filho dentro do carro) 3 Imperícia Caracteriza uma conduta positiva causada por incapacidade ou falta de conhecimento técnico no exercício de arte ou ofício. (ex.: eletricista que não faz o aterramento adequado) • Quanto ao resultado, a mera inobservância do dever de cuidado não é suficiente para a caracterização do delito. Logo, é imprescindível a ocorrência de um resultado danoso como fruto da conduta culposa; • A previsibilidade é a possibilidade de conhecimento do perigo que a conduta pode gerar, assim como a possibilidade de prever o resultado; • A previsibilidade pode ser objetiva (leva em consideração a percepção de uma pessoa prudente) e subjetiva (leva em consideração a condição pessoal do agente); • Quanto à tipicidade, é necessário que a lei, expressamente, tipifique a modalidade culposa para a infração. Se a lei não prever a modalidade culposa para a conduta, é sinal de que o delito só admite a modalidade dolosa e, uma vez praticado, será considerado fato atípico; 8 Art. 18, Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. • O tipo culposo é um “tipo penal aberto”, pois o legislador não descreve todas as formas de atuação com imprudência, negligência ou imperícia. Vale ressaltar que não há violação ao princípio da taxatividade, pois sempre haverá um tipo penal doloso correspondente; • O ordenamento jurídico não aceita a compensação de culpas nem a concorrência de culpas, devendo se proceder à análise do caso concreto; ESPÉCIES DE CULPA 1 Consciente O agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra. 2 Inconsciente O agente não prevê o resultado, que era previsível. 3 Mediata O agente produz, indiretamente, um resultado a título de culpa. 4 Presumida O ordenamento jurídico não aceita, pois há presunção de inocência. 5 Própria O agente não quer o resultado criminoso (culpa propriamente dita). 5 Imprópria O agente quer o resultado, imaginando estar em alguma excludente. • A culpa inconsciente distingue-se da culpa consciente no que diz respeito à previsão do resultado: na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente que pode evitá-lo; na culpa inconsciente, o resultado não foi previsto pelo agente, embora previsível; • Para caracterização de crime culposo, a culpa consciente se equipara à culpa inconsciente ou comum; • Os elementos do fato típico culposo são os seguintes: conduta voluntária, resultado involuntário, nexo causal, tipicidade, previsibilidade objetiva (teoria do homem médio) e quebra do dever objetivo de cuidado (negligência, imperícia e imprudência); CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL O agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que o evitará. O agente prevê o resultado, que para ele é indiferente. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPA 1 Caso Fortuito / Força Maior 2 Princípio da Confiança 3 Princípio do Risco Tolerado • Pelo princípio da confiança, não há culpa quando se age na confiança de que a outra pessoa se comportará normalmente; • Pelo princípio do risco tolerado, comportamentos tolerados em razão da urgência ou imprescindibilidade para a vida humana afastam a responsabilidade criminal culposa (ex.: médico que realiza cirurgia sem a adequada estrutura hospitalar); 9 c) CONDUTA PRETERDOLOSA É uma modalidade de crime agravado pelo resultado. Ocorre quando há uma ação dolosa na conduta antecedente e culposa no resultado consequente. Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente. ESPÉCIES DE CRIME AGRAVADO PELO RESULTADO 1 Crime doloso, agravado dolosamente Ex.: Homicídio qualificado pela tortura. Conduta Dolo Resultado Dolo 2 Crime culposo, agravado culposamente Ex.: Incêndio culposo agravado pela morte culposa. Conduta Culpa Resultado Culpa 3 Crime culposo, agravado dolosamente Ex.: Homicídio culposo agravado pelaomissão de socorro dolosa. Conduta Culpa Resultado Dolo 4 Crime doloso, agravado culposamente Ex.: Lesão corporal agravada pela morte culposa. Conduta Dolo Resultado Culpa 3.2. RESULTADO É a modificação no mundo exterior provocada pela conduta do agente. TEORIAS DO RESULTADO 1 Teoria Naturalística Resultado é a modificação no mundo exterior como fruto da conduta criminosa. 2 Teoria Normativa Resultado é toda lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico relevante. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO NATURALÍSTICO 1 Crime Material É aquele que só se consuma com a produção do resultado naturalístico (ex.: homicídio). 2 Crime Formal É aquele que a lei prevê o resultado naturalístico, mas ele é desnecessário para a consumação (ex.: corrupção passiva). 3 Crime de Mera Conduta É aquele que se consuma pela mera conduta, não havendo na lei a previsão do resultado naturalístico (ex.: desobediência). • Os crimes formais são também conhecidos como crimes de consumação antecipada / resultado cortado; • Os crimes formais e os crimes de mera conduta somente admitem tentativa se forem plurissubsistentes (conduta praticada em vários atos); 10 • Nos crimes formais, de mera conduta e materiais tentados só haverá os elementos conduta e tipicidade; • No crime de mera conduta, não há uma alteração no mundo concreto; • Todo crime tem resultado jurídico, pois atinge um interesse penalmente relevante, entretanto existe crime sem resultado naturalístico; CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO JURÍDICO 1 Crime de Dano Exige uma efetiva lesão ao bem jurídico para a sua consumação. Ex. roubo. 2 Crime de Perigo Não exige uma efetiva lesão ao bem jurídico, bastando a simples exposição do bem a um perigo para que ocorra a consumação. Concreto O tipo penal descreve a conduta e a situação de efetivo perigo. Ex.: periclitação da vida. Abstrato O tipo penal descreve somente a conduta e o perigo é presumido pela lei. Ex.: associação criminosa. • Os crimes de perigo abstrato possuem respaldo constitucional, desde que o tipo penal criminalize uma conduta verdadeiramente perigosa para o convívio social - STF; 3.3. NEXO CAUSAL É a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado naturalístico provocado no mundo exterior. Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. • Teoria da equivalência dos antecedentes causais – conditio sine qua non; Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. • Teoria da causalidade adequada, utilizada somente na hipótese de concausa superveniente relativamente independente que, por si só, produziu o resultado; TEORIAS SOBRE A CAUSALIDADE 1 Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais Causa é toda circunstância antecedente sem a qual o resultado não teria ocorrido. 2 Teoria da Causalidade Adequada A conduta só dá causa ao resultado se ela, sozinha, tiver condição de produzi-lo. 3 Teoria da Imputação Objetiva Surgiu para corrigir uma imperfeição da teoria dos antecedentes, que é o regresso ao infinito. 11 • De acordo com o Método Hipotético de Thyren, somente será causa a conduta realizada com finalidade da produção do resultado (elemento subjetivo), verificando sua relevância por meio da sua retirada do curso dos acontecimentos e verificando se, ainda assim, o crime teria ocorrido; • Na teoria da equivalência dos antecedentes causais, as causas são igualmente contributivas (equivalência) para a produção do resultado, respondendo por este, entretanto, apenas quem atuou com dolo ou culpa. Nessa teoria, se eliminar o elemento e o resultado desaparecer, ele deu causa ao resultado ou, se eliminar o elemento e o resultado persistir, ele não deu causa; • A teoria da imputação objetiva não possui previsão no Código Penal. Ela possui como requisitos para a relação de causalidade os seguintes: o risco deve ser criado ou aumentado (existência de nexo físico), a conduta deve criar um risco proibido ou não tolerado e o risco deve ser criado no resultado (o resultado deve ser um desdobramento natural da conduta); • O estudo da relação de causalidade só tem cabimento nos crimes materiais, pois exige um resultado naturalístico; CONCAUSA Ela acontece quando mais de uma causa contribui para a ocorrência do resultado. 1 Absolutamente Independente É uma causa que, sozinha, provoca o resultado, sendo independente da conduta do agente. Preexistente (não responde) Existe antes de a conduta ser praticada, atuando de forma independente para o resultado. Ex.: Atirar em pessoa já envenenada, que morre em razão do veneno. Concomitante (não responde) Ocorre no mesmo momento da conduta principal, produzindo sozinha o resultado. Ex.: No momento em que está inoculando o veneno na vítima, um terceiro entra no quarto e a mata a tiros. Superveniente (não responde) Ocorre após a conduta principal, produzindo sozinha o resultado. Ex.: Após inocular o veneno, a vítima é assassinada por um terceiro a facadas. 2 Relativamente Independente É uma causa que, sozinha, provoca o resultado, mas tem relação com a conduta do agente. Preexistente (responde) Existe antes da conduta principal, sendo que, por desdobramento, provoca o resultado. Ex.: Dar um golpe de faca na perna de um hemofílico. Concomitante (responde) Ocorre no mesmo momento da conduta principal. Ex.: A vítima, após levar um tiro, sofre um ataque cardíaco e morre em razão deste. Superveniente (depende) Ocorre em momento posterior à conduta principal. Ex.: A vítima está sendo transportada para o hospital, mas a ambulância capota e ela morre. 12 • Na concausa absolutamente independente (todas as hipóteses), o agente não responde pelo resultado, já que este é atribuído à concausa; • Na concausa relativamente independente preexistente ou concomitante, o agente responde pelo resultado, já que foi sua conduta que deu causa; • Na concausa relativamente independente superveniente que se agrega ao desdobramento para produzir o resultado, o agente responde pelo resultado, já que foi sua conduta que deu causa; • Na concausa relativamente independente superveniente que por si só produziu o resultado, o agente não responderá pelo resultado, já que este é atribuído à concausa (teoria da causalidade adequada): Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 3.4. TIPICIDADE Segundo a Teoria Clássica, basta que a conduta humana esteja enquadrada na descrição legal para que exista tipicidade (formal). Segundo a Teoria Moderna, é necessário aliar a tipicidade formal (enquadramento da conduta ao texto da lei) à tipicidade material (relevância da lesão ou do perigo de lesão ao bem jurídico). MODALIDADES DE TIPICIDADE FORMAL (ADEQUAÇÃO TÍPICA) 1 Imediata/Direta Representa o enquadramento exato da conduta no tipo penal, não havendo necessidade de utilização de nenhuma outra norma. 2 Mediata/Indireta Representa a deficiência em enquadrar a conduta no tipo penal, havendo necessidade de utilização de normas de extensão. NORMAS DE EXTENSÃO 1 Tentativa (Art. 14, II) É norma de extensão temporal, utilizada de forma combinada com outros tipos legais para reconhecer a forma tentada de determinados crimes. 2 Participação (Art. 29) É norma de extensão pessoal, utilizada de forma combinada com outros tipos legais parareconhecer a participação do agente que auxilia, induz ou instiga o autor da conduta principal. 3 Omissão Imprópria (Art. 13, § 2º) É norma de extensão causal, utilizada de forma combinada com outros tipos penais para reconhecer um especial dever de agir a um agente em virtude de sua omissão. 13 a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA / BAGATELA É um princípio limitador do Direito Penal, tendo em vista que um ato que não ofende de forma significativa um bem jurídico relevante não pode ser considerado como crime (afasta a tipicidade material). • É uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material; • A conduta está formalmente prevista em lei, mas materialmente não viola de forma considerável o bem jurídico; • Não haverá responsabilidade penal, mas, eventualmente, pode ocorrer responsabilidade civil, com o dever de indenizar; • Não é aplicável a crimes em que há emprego de violência ou grave ameaça; • Pode ser aplicado a coisas infungíveis, desde que o agente desconheça essa circunstância; REQUISITOS OBJETIVOS (STF/STJ) M Mínima ofensividade da conduta A Ausência de periculosidade social da ação R Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento I Inexpressividade da lesão jurídica provocada • Além de requisitos objetivos (ex.: até 10% do salário mínimo), observam-se requisitos subjetivos (ex.: capacidade econômica da vítima); APLICA-SE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 1 Crimes contra o patrimônio (sem violência ou grave ameaça) 2 Lesão Corporal Leve, salvo violência doméstica contra a mulher 3 Descaminho (até R$20 mil – STF/STJ) 4 Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) 5 Porte de munição, desde que não integre organização criminosa – STJ NÃO SE APLICA O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 1 Crimes contra a Administração Pública, em regra – STF 2 Crimes contra a Fé Pública – STF 3 Lei de Drogas, ainda que seja para consumo próprio – STF 4 Lei Maria da Penha – STJ 5 Crimes eleitorais – TSE • A reincidência, por si só, não impede a aplicação do princípio, devendo ser analisado o caso concreto – STF; • No caso do crime de descaminho, quando for possível a aplicação do princípio, este servirá até mesmo para trancar a ação penal; 14 b) ERRO DE TIPO É o equívoco sobre as circunstâncias fáticas que integram o tipo penal incriminador ou o tipo permissivo (excludentes de ilicitude), sendo uma causa legal de exclusão da tipicidade. ERRO DE TIPO ESSENCIAL É a falsa percepção da realidade acerca dos elementos constitutivos do tipo, podendo afastar a responsabilidade penal. Erro de Tipo Incriminador Recai sobre a situação fática que integra um tipo penal incriminador. Ex.: levar para casa a mala de outro passageiro, pensando que era própria. Inevitável Desculpável Escusável Não há dolo nem culpa. Logo, não há crime. Evitável Indesculpável Inescusável Não há dolo, mas pune-se a culpa, se prevista em lei. Erro de Tipo Permissivo Recai sobre a situação fática que envolve uma causa de exclusão de ilicitude. Ex.: atirar em um desafeto, pensando que ele iria sacar uma arma, mas, na verdade, era um objeto irrelevante. Inevitável Desculpável Escusável Não há dolo nem culpa. Logo, não há crime. Evitável Indesculpável Inescusável Não há dolo, mas pune-se a culpa, se prevista em lei (culpa imprópria). ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO Recai sobre as circunstâncias ou elementos do tipo Recai sobre a consciência da ilicitude do fato Afasta o fato típico Afasta a culpabilidade Pune a culpa, se prevista em lei Permite a redução de pena (1/6 a 1/3) Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. • Erro de tipo incriminador; • O erro de tipo incriminador pode ser inevitável (não haverá crime) ou evitável (haverá crime se houver previsão na modalidade culposa); 15 Art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. • Erro de tipo permissivo, também conhecido como descriminante putativa por erro de tipo; • Trata-se da culpa imprópria, que ocorre quando o agente, em virtude de erro evitável pelas circunstâncias, dá causa dolosamente a um resultado, mas responde como se tivesse praticado um crime culposo; • A culpa imprópria admite tentativa, pois o elemento subjetivo inicial é o dolo (doutrina majoritária); • O erro de tipo permissivo pode ser inevitável (não haverá crime) ou evitável (haverá crime se houver previsão na modalidade culposa); ERRO DE TIPO ACIDENTAL É aquele que recai sobre os dados diversos dos elementos constitutivos do tipo, não afastando a responsabilidade penal. Erro sobre o objeto (error in objecto) É o erro que recai sobre o bem a ser atingido (ex.: furtar um saco de arroz e acaba levando um saco de trigo). Erro sobre a pessoa (error in persona) O agente quer atingir determinada pessoa, mas se confunde e acerta outra, pensando que era a pessoa desejada. Erro na execução (aberratio ictus) O agente erra o alvo na hora da execução, acertando pessoa diferente da pretendida. Erro no resultado (aberratio criminis) O agente quer atingir um bem jurídico, mas por erro na execução, acerta bem jurídico diverso. Erro sobre o nexo causal (aberratio causae) O agente consegue causar o resultado pretendido, mas com nexo de causalidade diverso do desejado. Art. 20, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. • Erro sobre a pessoa; • Não exclui o dolo ou a culpa e não há isenção de pena; • O agente responde como se tivesse atingido a pessoa pretendida, levando- se em consideração as características desta; Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. 16 • Erro na execução / aberratio ictus / erro de alvo; • Não exclui o dolo ou a culpa e não há isenção de pena; • O agente responde como se tivesse atingido a pessoa pretendida, levando- se em consideração as características desta; • O agente não se confunde quanto à pessoa que pretende atingir; ERRO NA EXECUÇÃO / ABERRATIO ICTUS Unidade Simples (Resultado Único) O agente responde como se tivesse atingido a pessoa pretendida. Unidade Complexa (Resultado Duplo) O agente atinge a pessoa pretendida e um terceiro. • Ao erro de tipo por unidade complexa, aplica-se a regra do concurso formal de crimes, impondo-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2; ERRO SOBRE A PESSOA ERRO NA EXECUÇÃO - A confusão existe na identificação de quem se quer atingir; - O agente acerta em quem mirou, mas é a pessoa errada; - Não há equívoco na identificação da vítima; - O agente executa a conduta, mas erra o alvo; Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. • Erro no resultado / resultado diverso do pretendido / aberratio criminis; • Não se trata de atingir uma pessoa no lugar de outra,mas de praticar um crime no lugar de outro (ex.: arremessar uma pedra para praticar o crime de dano, mas errar o alvo e atingir alguém, provocando lesão corporal); ERRO NO RESULTADO / ABERRATIO CRIMINIS Unidade Simples (Resultado Único) O agente só atinge o bem diverso do desejado. Unidade Complexa (Resultado Duplo) O agente atinge o bem visado e outro bem. • No erro no resultado por unidade simples, o agente responde pelo resultado produzido, a título de culpa; • No erro no resultado por unidade complexa, aplica-se a regra do concurso formal de crimes, impondo-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2; 17 ERRO SOBBRE O NEXO CAUSAL / ABERRATIO CAUSAE 1 Em sentido estrito Envolve um só ato 2 Com dolo geral ou erro sucessivo Envolve mais de um ato. • Não exclui o dolo ou a culpa, não há isenção de pena e o agente responde pelo resultado; Erro determinado por terceiro Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. • Se o agente provocar o erro dolosamente, responderá pelo crime a título de dolo, mas, se provocar o erro culposamente, responderá a título de culpa, se o crime admitir essa modalidade; • Quanto ao indivíduo induzido a erro, se este for inevitável, não há responsabilidade penal (sem dolo e culpa), mas se for evitável, haverá responsabilidade a título de culpa, se previsto em lei; 4. ILICITUDE É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico. • De acordo com a Teoria da Indiciariedade, adotada no ordenamento jurídico, todo fato típico é indiciariamente ilícito, pois provavelmente é contrário ao direito; • Excepcionalmente, o legislador autoriza a prática um fato típico, excluindo a ilicitude da conduta; • As causas excludentes de ilicitude produzem efeitos na esfera extrapenal e, uma vez reconhecidas na sentença judicial absolutória, alcançam as esferas civil e administrativa; Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. • As causas excludentes de ilicitude constituem um rol exemplificativo, visto que há outras elencadas no decorrer do Código; CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE 1 Aborto Necessário (art. 128) 2 Intervenção Médica (art. 146, § 3, I) 3 Coação para evitar o suicídio (art. 146, § 3, II) 4 Violação de domicílio (art. 150, § 3) 5 Abate famélico de animal (art. 37, I, Lei 9.605/98) 6 Consentimento do ofendido (bens disponíveis) 18 4.1. ESTADO DE NECESSIDADE É a excludente de ilicitude que justifica a conduta de quem sacrifica um bem jurídico, para salvar outro bem, em razão de uma situação de perigo. Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. TEORIAS DO ESTADO DE NECESSIDADE 1 Teoria Unitária (Adotada) Funciona como causa de exclusão da ilicitude., devendo o bem protegido ser de igual valor ou maior. 2 Teoria Diferenciadora É causa excludente de ilicitude (bem jurídico sacrificado de valor menor ou igual) ou de culpabilidade (bem jurídico de maior valor). • De acordo com a Teoria Unitária, se o sacrifício do bem não é razoável, há crime; • De acordo com a Teoria Diferenciadora, quando o sacrifício do bem é razoável, o estado de necessidade afasta-se a ilicitude. Já quando o sacrifício do bem não é razoável (bem de igual ou maior valor), o estado de necessidade exclui a culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa; Art. 24, § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3. • Quando existe a situação de perigo, a pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3; REQUISITOS DO ESTADO DE NECESSIDADE 1 O perigo deve ser atual 2 A situação não pode ter sido causada voluntariamente 3 O perigo pode ameaçar direito próprio ou alheio 4 Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo 5 Inevitabilidade do comportamento 6 Razoabilidade do sacrifício 7 Conhecimento da situação justificante • Perigo atual é o existente no exato momento em que o bem é sacrificado. Entretanto, parte da doutrina, mesmo diante do silêncio da lei, admite o perigo iminente; • A situação de perigo pode ser causada por conduta humana, por fato natural ou por ataque espontâneo de animal; • Se o homem determinar o ataque do animal, este funcionará como instrumento do crime, configurando, portanto, a situação de legítima defesa; • O direito abrange qualquer bem tutelado pelo ordenamento, como a vida, a liberdade ou o patrimônio; 19 • Para defender direito de terceiro, não é necessária sua prévia autorização (consentimento implícito); • Se o agente provocar o perigo dolosamente, não poderá invocar estado de necessidade, mas, se o agente provocar o perigo culposamente, poderá invocar. Dessa forma, o motorista imprudente que foge sem prestar socorro em virtude da possibilidade real de ser agredido por populares está acobertado pela excludente; Art. 24, § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. • Não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o perigo, mas não há exigência de fazê-lo quando o risco é inútil, pois o agente não é obrigado a adotar conduta suicida; • A expressão dever legal é vista em sentido amplo, significando dever jurídico. Logo, o dever pode derivar da lei ou de contrato; • O comportamento lesivo ao bem jurídico alheio deve ser o único meio seguro para salvar do perigo o direito próprio ou alheio; • Se não existir razoabilidade no sacrifício, o estado de necessidade estará descaracterizado, constatando-se a ocorrência de crime (teoria unitária); • Se o agente sacrifica o bem jurídico alheio salvando outro bem, mas a situação de perigo é desconhecida, ele não estará em estado de necessidade; ESPÉCIES DE ESTADO DE NECESSIDADE QUANTO À TITULARIDADE DO BEM 1 Próprio O bem jurídico pertence ao próprio agente. 2 De terceiro O bem jurídico pertence a outrem. QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO 1 Real A situação de perigo existe (exclui a ilicitude). 2 Putativo A situação de perigo não existe (não exclui a ilicitude). QUANTO A QUEM SOFRE A OFENSA 1 Defensivo O bem sacrificado pertence ao causador do perigo. 2 Agressivo O bem sacrificado pertence a terceiro. • No estado de necessidade putativo, se o erro for inevitável, o agente fica isento de pena, mas, se o erro for evitável, o agente responde por crime culposo; 4.2. LEGÍTIMA DEFESA É uma excludente de ilicitude que se caracteriza pela existência de agressão ilícita, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, que pode ser repelida usando-se moderadamente dos meios necessários. 20 Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. REQUISITOS DA LEGÍTIMA DEFESA 1 Agressão Injusta É a conduta (ação ou omissão) humana que ataca ou coloca em risco bem jurídico de alguém. 2 Agressão atual ou iminente É o ataque que está em curso ou prestes a ocorrer no momento da atuação defensiva. 3 Direito próprio ou alheio A LD pode resguardar qualquer direito, independentemente de ser titular do agredido (in persona) ou não (ex persona). 4 Meios necessários É o meio menos lesivo à disposição do agente no momento da agressão, desde que seja eficaz para a repelir. 5 Uso moderado É o emprego dos meios necessários dentro do limite razoável para conter a agressão. 6 Conhecimento da situação É necessário o conhecimentoda injusta agressão por parte do agente. • Pode haver legítima defesa em razão de uma omissão (ex.: carcereiro que não abre os portões do pátio para que as facções rivais fiquem no mesmo ambiente); • Pode haver legítima defesa em razão de pessoa jurídica (ex.: PJ praticando crime ambiental); • Admite-se a legítima defesa contra ato de inimputável, pois a agressão é analisada objetivamente (ex.: agressão de menor de idade ou de doente mental); • O fato de a agressão ser injusta não significa que deve ser um crime (ex.: furto de uso); • Nos crimes permanentes, a legítima defesa é possível a qualquer momento, enquanto durar a permanência; • Ao contrário do estado de necessidade, em que, existindo a possibilidade de evitar o conflito, o agente deve assim o fazer, na legítima defesa, o agente não possui dever de evitar o conflito – commodus discessus; • Tanto a agressão futura (promessa de agressão) quanto a agressão passada (vingança) não autorizam o estado de defesa; • Se o bem jurídico for indisponível, não é necessária a autorização; • A lei não impõe proporcionalidade entre o bem injustamente atacado e o atingido em legítima defesa (ex.: pode-se atingir a integridade física de outrem para proteger o patrimônio); • Se o meio utilizado para a legítima defesa for desnecessário, estará caracterizado o excesso, respondendo o agente a título de dolo ou culpa; • Se o agente, por erro na execução, atinge terceiro inocente, será considerado como se tivesse atingido o agressor; • Na legítima defesa putativa, se o erro for inevitável, afasta o dolo e a culpa, mas, se o erro for evitável, afasta o dolo, mas o agente responde por crime culposo; 21 • A legítima defesa sucessiva é a repulsa contra o excesso de quem estava em legítima defesa; • Legítima defesa recíproca é aquela praticada em caso de legítima defesa real contra legítima defesa putativa; • A legítima defesa da honra é dividida em respeito pessoal (admite-se o uso da força para impedir a reiteração das ofensas), liberdade sexual (admite-se o uso da força contra quem atente contra a dignidade sexual de outrem) e infidelidade conjugal (não é mais admitida no ordenamento jurídico); QUESTÕES ESPECÍFICAS 1 LEGÍTIMA DEFESA REAL X LEGÍTIMA DEFESA REAL Simultaneamente inexiste tal possibilidade, mas é possível em caso de legítima defesa sucessiva. 2 LEGÍTIMA DEFESA REAL X LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA Tal confrontação é plenamente possível, pois a pessoa pode repelir uma agressão (real) de quem está pensando (putativa) estar sob legítima defesa. 3 LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA X LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA É plenamente possível, pois ambos os agentes podem presumir estar em uma situação que seria legítima a sua defesa. 4 LEGÍTIMA DEFESA X OUTRAS EXCLUDENTES É impossível, pois não haverá injusta agressão. LEGÍTIMA DEFESA ESTADO DE NECESSIDADE Repulsa a uma injusta agressão Conflito de bens jurídicos em virtude de situação de perigo Conduta humana Conduta humana, animal ou fenômeno da natureza Agressão atual ou iminente Perigo atual Pode evitar o conflito Deve evitar o conflito 4.3. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL É a excludente de ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por força de uma obrigação imposta por lei, inerente aos funcionários ou agentes públicos. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. • O dever legal é visto em sentido amplo, abrangendo obrigações decorrentes de outros diplomas legais, como lei, decreto etc.; • A excludente pode abranger particulares que estejam no exercício de função pública de forma temporária (ex.: mesário) ou na condição de coautor, desde que conheça a situação justificadora; 22 4.4. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO É a excludente de ilicitude que autoriza a prática de um fato típico por aquele que atua dentro dos limites do ordenamento jurídico, exercendo uma prerrogativa autorizada por lei. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. • O excesso caracteriza o crime, respondendo o agente por dolo ou culpa; • O ofendículo é um aparato preordenado para defesa do patrimônio, da integridade física e da vida (ex.: cerca elétrica). Enquanto não for acionado, será enquadrado como exercício regular de um direito e, após acionado, será enquadrado como legítima defesa preordenada; OFENDÍCULO DEFESA MECÂNICA PREDISPOSTA Aparatos visíveis Aparatos ocultos Exercício regular de direito Legítima defesa preordenada 4.5. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO É uma causa supralegal (criação doutrinária) de exclusão da ilicitude. REQUISITOS DO CONSENTIMENTO DO OFENDIDO 1 O ofendido deve ser capaz Não se admite que o agente seja menor de idade ou mentalmente incapaz. 2 O consentimento deve ser válido O agente deve ter liberdade e consciência, isento de fraude, coação ou erro. 3 O bem deve ser disponível Não se admite consentimento em face de bem jurídico indisponível. 4 O bem deve ser próprio Não se pode consentir lesão a bem jurídico alheio. 5 O consentimento deve ser prévio ou simultâneo à lesão O consentimento posterior não exclui a ilicitude. 6 O consentimento deve ser expresso O consentimento pode ser oral, gestual ou escrito. TEORIAS DO CONSENTIMENTO 1 Teoria da ausência do interesse Se o titular do bem não tem interesse na proteção, desaparece o interesse do Estado na punição do infrator. 2 Teoria da renúncia à proteção O titular do bem jurídico disponível pode renunciar à proteção do direito penal. 23 3 Teoria da ponderação de valores Entre liberdade humana e o bem atingido, o Estado prioriza a liberdade (teoria adotada). • A doutrina tem considerado a integridade física como um bem jurídico disponível, mas a lesão deve ser leve e não deve contrariar a moral e os bons costumes; • O consentimento do ofendido em crime culposo é plenamente possível, pois o ofendido pode concordar com o risco que alguma conduta possa lhe oferecer; • O excesso nas justificantes atribui a responsabilidade penal para aqueles que se excedem em qualquer excludente de ilicitude, de forma dolosa ou culposa; Art. 23, Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. CLASSIFICAÇÃO DO EXCESSO 1 Doloso/Consciente O agente intencionalmente ultrapassa os limites da excludente, havendo responsabilização penal. 2 Culposo/Inconsciente O agente viola um dever de cuidado ao atuar amparado por uma excludente, respondendo a título de culpa. 3 Acidental Decorre de caso fortuito/força maior, não havendo responsabilidade penal. 4 Exculpante Decorre de erro inevitável, não havendo responsabilização penal. 5 Intensivo Ocorre pelo uso de meio desproporcional durante a injusta agressão. 6 Extensivo Ocorre pela duração desproporcional, quando já cessou a injusta agressão. 5. CULPABILIDADE (FORA DO EDITAL) É o juízo de reprovação que recai sobre o agente que praticou um fato típico e ilícito, sendo uma análise relativa à necessidade de aplicação de sanção penal. • Para a Teoria Bipartida, o crime é formado por fato típico e ilicitude, e a culpabilidade não é elemento do crime, sendo considerada mero pressuposto da pena; • Para a Teoria Tripartida (adotada), o crime é formado por fato típico, ilicitude e culpabilidade, sendo esta considerada tanto elemento do crime quanto pressuposto da pena; • Para a Teoria Quadripartida, o crime é formado por fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade; 24 • A Teoria Limitada da Culpabilidade é a teoria adotada no Brasil no que se refere ao conteúdo da culpabilidade, segundo a qual os elementosda culpabilidade são imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa; • O dolo e a culpa são analisados na conduta, integrando o fato típico. Além disso, o dolo é natural, composto por consciência e vontade; ELEMENTOS DA CULPABILIDADE 1 Imputabilidade 2 Potencial Consciência da Ilicitude 3 Exigibilidade de Conduta Diversa 5.1. IMPUTABILIDADE É a possibilidade de atribuir a alguém a responsabilidade pelo fato, ou seja, é a capacidade de receber pena. Quem não a possui é chamado de inimputável. • No tocante à imputabilidade penal, o CP e a CF adotam um critério cronológico, pois, a partir dos 18 anos, todo ser humano é presumidamente imputável (presunção relativa de imputabilidade); • A perícia médica, além de ser o único meio legal, é obrigatória para afastar a presunção de imputabilidade do maior de idade; • A avaliação da imputabilidade é sempre retroativa, pois visa avaliar o estado mental do réu no tempo do delito; a) CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DA INIMPUTABILIDADE I. Sistema Biológico Somente interessa saber se o agente é portador de alguma doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. • Sistema utilizado para definir a imputabilidade dos menores de idade; II. Sistema Psicológico Não há preocupação com a existência de uma patologia, mas apenas se o agente tinha condições de avaliar o caráter ilícito do fato e se comportar diante desse entendimento. • Sistema utilizado para definir a imputabilidade em caso de embriaguez fortuita/acidental ou situações análogas; 25 III. Sistema Biopsicológico Considera tanto a condição mental da pessoa (causa), como também se tinha condições de entender o caráter ilícito do fato e de se comportar diante desse entendimento (consequência). • Sistema utilizado como regra; b) HIPÓTESES DE INIMPUTABILIDADE I. Menor de idade São considerados inimputáveis por desenvolvimento mental incompleto, tendo como critério o sistema biológico. Como consequência, ficam sujeitos ao ECA, por meio de medidas socioeducativas. Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. • Considera-se a idade no momento da conduta, e não do resultado; CF, art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial. Lei 8.069/90, art. 104 – São penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Art. 27 - Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Súmula 74/STJ - Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil. Súmula 711/STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. • Nos crimes permanentes e continuados, se o menor de idade atingir a maioridade durante a execução, será responsabilizado penalmente; II. Embriaguez É a intoxicação ocasionada pelo álcool ou qualquer outra substância de efeitos análogos. TIPOS DE EMBRIAGUEZ Dolosa O agente conhece o caráter entorpecente da substância, ingerindo- a com a intenção de se embriagar. Não exclui a imputabilidade. 26 Culposa O agente conhece o caráter entorpecente da substância, mas sem a intenção de se embriagar. Não exclui a imputabilidade. Preordenada O agente se embriaga para tomar coragem para praticar a infração. Não exclui a imputabilidade e é considerada um agravante. Patológica O agente é dominado pelo vício, aplicando-se ao indivíduo o mesmo tratamento dado aos doentes mentais. Involuntária É a embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior. Se completa, isenta de pena, se incompleta, reduz a pena de 1/3 a 2/3. • A Teoria da Ação Livre na Causa – actio libero in causa é a adotada no Brasil, segundo a qual o agente tem a livre escolha de se entorpecer ou não e, se optar por isso, responderá por seus atos como se sóbrio estivesse. Nota-se, portanto, que a análise do dolo e da culpa é verificada no momento em que o agente se embriagou; SITUAÇÕES DE EMBRIAGUEZ Se o agente quis o resultado Dolo direto Se ele previu e aceitou o resultado Dolo eventual Se ele previu, mas acreditou que o resultado não ocorreria Culpa consciente Se ele não previu o resultado, que era previsível Culpa inconsciente Se ele não previu o resultado, que era imprevisível Não é punível Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. • Tanto a embriaguez dolosa quanto a culposa não excluem a imputabilidade penal; Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: l) em estado de embriaguez preordenada. • A embriaguez preordenada não exclui a imputabilidade e ainda é considerada uma agravante da pena; Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • A embriaguez patológica, para que exclua a imputabilidade, é necessário que seja completa e o agente esteja totalmente incapaz no momento da conduta; Art. 26, Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto 27 ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • Na embriaguez patológica, se o agente tiver a capacidade apenas reduzida, responderá pelo crime, mas a pena pode ser reduzida; Art. 28, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Art. 28, § 2º - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • A embriaguez involuntária exclui a imputabilidade se for completa ou reduz a pena de 1/3 a 2/3 se for incompleta: III. Doença mental É considerado inimputável e será absolvido, mas receberá medida de segurança, por meio de tratamento ambulatorial ou internação em Hospital de Custódia e Tratamento – HCT (absolvição imprópria). Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • O agente, além de ser portador da doença mental, no momento da conduta, deve ser inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito do fato e de se comportar de acordo com esse entendimento. Com isso, percebe-se que foi adotado como critério o sistema biopsicológico; Art. 26, Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • Se, no momento da conduta, a capacidade de entendimento era reduzida, haverá condenação, com redução de pena de 1/3 a 2/3 ou substituição da pena pormedida de segurança; Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2º do art. 149. • Se a doença mental for posterior ao crime, a excludente não é aplicada e o processo ficará suspenso até a recuperação do acusado; 28 • No momento da aplicação da pena, há dois sistemas possíveis de aplicação: binário (o Juiz pode aplicar pena e medida de segurança) ou vicariante (o Juiz pode aplicar pena ou medida de segurança); • O CP adota o Sistema Vicariante, que impede a aplicação cumulada de pena e medida de segurança a agente semi-imputável, e exige do Juiz a decisão, no momento de prolatar a sentença, entre a aplicação de uma pena com redução de 1/3 a 2/3 ou a aplicação de medida de segurança, de acordo com o que for mais adequado ao caso concreto; INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL A periculosidade é presumida de forma absoluta A periculosidade não é presumida Absolvição imprópria É condenado Medida de segurança (HCT ou CAPS) Pena reduzida (1/3 a 2/3) ou subst. p/ med. de segurança Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; • A emoção é um estado súbito e transitório de instabilidade emocional (psíquica). A paixão é um sentimento duradouro, revelando uma afetividade permanente. Nenhum dos casos exclui a imputabilidade; Art. 121, § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. • O Código Penal, em um primeiro momento, diz que a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade, mas admite a emoção em certos casos; 5.2. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA É a possibilidade de censurar o comportamento do agente, exigindo dele uma conduta não criminosa. a) HIPÓTESES EM QUE A CONDUTA DIVERSA É INEXIGÍVEL I. Coação moral irresistível É aquela decorrente do emprego de grave ameaça. Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. 29 COAÇÃO MORAL (vis compulsiva) COAÇÃO FÍSICA (vis absoluta) Afasta a culpabilidade, pois é inexigível conduta diversa. Afasta a tipicidade, pois exclui o dolo e a culpa. O coator responde pelo crime e o coagido é isento de pena O coator responde pelo crime e o coagido não pratica conduta • A coação moral irresistível (vis compulsiva) é uma excludente da culpabilidade, pois afasta a exigibilidade de conduta diversa. O fato é típico e ilícito, mas o agente não é culpável, pois age em virtude de uma grave ameaça; • A coação física irresistível (vis absoluta) é uma excludente de tipicidade, pois afasta a conduta (dolo/culpa), tornando, portanto, o fato atípico; • Na coação moral resistível, o coagido responde pelo crime, tendo direito a uma atenuante da pena: Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; II. Obediência hierárquica Se o fato é cometido em estrita obediência a ordem não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só responde pelo crime o autor da ordem. Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. REQUISITOS DA OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA 1 A ordem deve ocorrer no setor público. 2 A ordem deve partir do superior hierárquico. 3 A ordem deve estar dentro das atribuições do agente. 4 A ordem não pode ser manifestamente ilegal. • Se a ordem for legal, o superior e o subordinado não cometem crime; • Se a ordem for manifestamente ilegal, o superior e o subordinado cometem crime; • Se a ordem não for manifestamente ilegal, o superior comete crime e o subordinado fica isento de pena; 30 5.3. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE É a possibilidade de o agente, no caso concreto, não só conhecer o caráter ilícito do fato praticado, como também a proibição da conduta. Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. a) ERRO DE PROIBIÇÃO É o equívoco na interpretação leiga da lei, pois o agente pensa que é permitido o que está proibido. É o conhecimento deficiente da lei, recaindo sobre a potencial consciência da ilicitude. • Se o erro for inevitável/invencível/escusável, a consciência da ilicitude será excluída, isentando o agente de pena; • Se o erro for evitável/vencível/inescusável, a consciência da ilicitude não será excluída, e a pena será aplicada com redução de 1/6 a 1/3; 1 Direto O agente erra quanto à ilicitude de sua conduta, desconhecendo a existência do tipo penal ou seu âmbito de incidência. 2 Indireto O agente sabe que sua conduta é ilícita, mas imagina estar amparado por excludente de ilicitude. 3 Mandamental O agente erra quanto ao conhecimento de seu dever de agir para evitar o resultado (crimes omissivos próprios e impróprios). ERRO DE PROIBIÇÃO ERRO DE TIPO Recai sobre a ilicitude do fato Recai sobre as circunstâncias ou elementos do tipo Afasta a culpabilidade Afasta o fato típico Permite a redução de pena (1/6 a 1/3) Pune a culpa, se prevista em lei 6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 6.1. Previsão Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 31 IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. • Rol exemplificativo, visto que há outras hipóteses de extinção além das elencadas: Peculato Culposo Art. 312, § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Reparação do dano Antes do trânsito em julgado Extingue a punibilidade Após o trânsito em julgado Reduz a pena em metade Homicídio Culposo Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Lesão Corporal Culposa Art. 129, § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. Receptação Art. 180, § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. Suspensão Condicional do Processo Lei 9.099/95, art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 ano, abrangidas ou não por esta Lei, o MP, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por 2 a 4 anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensãocondicional da pena (art. 77 do Código Penal). CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE Morte É comprovada exclusivamente por meio da apresentação da certidão de óbito (sistema da prova tarifada). Anistia São modalidades de indulgência soberana emanadas de órgãos estranhos ao Poder Judiciário, que dispensam, em regra, a total ou parcial incidência da lei penal. Graça Indulto Abolitio criminis É a transformação de um fato típico em atípico. Prescrição É a perda da pretensão punitiva ou executória por parte do Estado. Decadência É a perda do direito em face da inércia de seu titular no prazo legal. Perempção É a perda do direito de ação provocada pela inércia do querelante. Renúncia É a desistência do direito de ação pela vítima (ação privada). Perdão É a desistência do direito após o início da ação penal privada. Retratação É o desfazimento de providência já tomada. Perdão Judicial É a desistência por parte do Estado de punir o réu. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art77 32 6.2. Condições Objetivas de Punibilidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 6.3. Condições Negativas de Punibilidade Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. 7. PRESCRIÇÃO 7.1. Causas que interrompem a prescrição Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI - pela reincidência. 1 Recebimento da denúncia ou queixa 2 Pronúncia 3 Decisão de pronúncia 4 Publicação de sentença recorrível 5 Início ou continuação de pena 6 Reincidência § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. 33 § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. 7.2. Causas que impedem a prescrição Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. 1 Enquanto não resolver o reconhecimento de crime em outro processo 2 Enquanto o agente cumprir pena no estrangeiro
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