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DIREITO PENAL PARTE GERAL PRINCÍPIOS 2 1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Uma conduta não pode ser considerada criminosa se antes de sua prática não havia lei nesse sentido - “Nullum crimen, nulla poena, sine praevia lege”. CF/88, art. 5º, XXXIX - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Como deve ser interpretado: Não há crime nem contravenção penal sem lei anterior que o defina, nem sanção penal sem prévia cominação legal. Pacto São José da Costa Rica, art. 9 - Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela se beneficiar. • O pacto trata a presente disposição como princípio da legalidade e da retroatividade; CP, art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. • A legalidade exige que a lei seja escrita (costume não pode definir conduta criminosa), estrita (permitir a analogia somente in bonam partem), certa (a lei deve ser taxativa) e anterior (a lei que define o fato como crime deve ser anterior à conduta); • A retroatividade para beneficiar (novatio legis in mellius ou lex mitior) é admitida, mas para prejudicar (novatio legis in pejus ou lex gravior) é vedada; • A analogia in malam partem e a criação de crimes e penas por costumes são vedações decorrentes desse princípio; • Quando uma nova lei deixa de considerar como crime uma conduta, ocorrerá a abolitio criminis e todos os efeitos penais serão cessados. Caso o fato passe a integrar outro tipo penal, não ocorrerá a abolitio criminis, mas a continuidade típico-normativa; Legalidade = Reserva Legal + Anterioridade 1.1. DESDOBRAMENTOS a) Princípio da Reserva Legal Somente lei federal em sentido formal poderá criar infração penal (crime e contravenção) e sua respectiva sanção (pena e medida de segurança). 3 CF, art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; • A lei incriminadora é necessariamente federal, de competência da União, produzida pelo Congresso Nacional (fonte material), por meio de Lei Ordinária/Complementar (fonte formal); • A doutrina minoritária entende que legalidade e reserva legal são sinônimos; CF, art. 22, Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. • Lei Complementar pode autorizar, de forma excepcional, que os Estados legislem sobre “temas específicos”; CF, art. 62, § 1º. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a: b) direito penal, processual penal e processual civil; • O legislador não poderá utilizar outros diplomas normativos para regulamentar o Direito Penal, como resoluções ou medidas provisórias; • A medida provisória não poderá tratar sobre Direito Penal incriminador, mas poderá tratar de matéria penal não incriminadora – STF; b) Princípio da Anterioridade CP, art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. • Uma pessoa só será punida se, à época do fato, já existia lei tipificando a conduta como delito, ou seja, não basta que a criminalização de uma conduta se dê por meio de lei em sentido estrito, mas que esta lei seja anterior à prática da conduta. c) Princípio da Taxatividade A lei incriminadora deverá definir a conduta criminosa com precisão, clareza e determinação, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade. Entretanto, existem as normais penais em branco, que são aquelas que dependem de outra norma para que sua aplicação seja possível, como ocorre no caso da Lei de Drogas, que depende de uma portaria da ANVISA para especificar quais substâncias são proibidas. 4 • O princípio da taxatividade acaba servindo de orientação para o princípio da reserva legal; NORMA PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA HETEROGÊNEA A complementação é realizada por outra Lei. A complementação é realizada por outra espécie normativa. 2. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE / INTRANSCENDÊNCIA CF, art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; • A sanção penal não é transmissível, mas a cível pode ser imposta aos sucessores; • Somente quem cometeu a conduta delituosa deverá ser penalizado; • Veda-se a responsabilidade coletiva, sendo obrigatório individualizar o acusado; • É proibida a denúncia genérica, vaga; 3. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA Garante aos indivíduos no momento de uma condenação em um processo penal que a sua pena seja individualizada, isto é, levando em conta as peculiaridades aplicadas para cada caso em concreto. CF, art. 5, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; 4. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE O Direito Penal não pode punir atitudes meramente internas do agente, bem como pensamentos moralmente censuráveis incapazes de invadir o patrimônio alheio. • Ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio; 5 5. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA A partir do momento em que as pessoas convivem em sociedade, são responsáveis por ter um comportamento adequado para que não venham a transgredir a norma. 6. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (BAGATELA) É um princípio limitador do Direito Penal, tendo em vista que um ato que não ofende de forma significativa um bem jurídico relevante não pode ser considerado como crime. • É uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material (torna o fato atípico); • A conduta está formalmente prevista em lei, mas materialmente não viola de forma considerável o bem jurídico; • Não haverá responsabilidade penal, mas, eventualmente, pode ocorrer responsabilidade civil, com o dever de indenizar; • Não é cabível em crimes que há emprego de violência ou grave ameaça; • Pode ser aplicado a coisas infungíveis, desde que o agente desconheça essa circunstância; REQUISITOS OBJETIVOS (STF/STJ) 1 M Mínima ofensividade da conduta 2 A Ausência de periculosidade social da ação 3 R Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento 4 I Inexpressividade da lesão jurídica provocada • Além de requisitos objetivos (ex.: até 10% do salário mínimo), observam-se requisitos subjetivos (ex.: capacidade econômica da vítima); APLICA-SE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 1 Crimes contra o patrimônio (sem violência ou grave ameaça) 2 Lesão Corporal Leve, salvo violência doméstica contra a mulher 3 Descaminho (até R$20 mil – STF/STJ) 4 Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) 5 Porte de munição, desde que não integre organização criminosa – STJ NÃO SE APLICA O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 1 Crimes contra a Administração Pública, em regra – STF 2 Crimes contra a Fé Pública – STF 3 Lei de Drogas, ainda que seja para consumo próprio – STF 4 Lei Maria da Penha – STJ 5 Crimes eleitorais – TSE 6 • A reincidência, por si só, não impede a aplicação do princípio, devendo ser analisado o caso concreto – STF; • No caso do crime de descaminho, quando for possível a aplicação do princípio, este servirá até mesmo para trancar a açãopenal; 7. PRINCÍPIO DA LESIVIDADE (OFENSIVIDADE) Para a caracterização do crime, é necessário a ocorrência de lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico. • Não se admite a criminalização da mera cogitação, da autolesão (exceto se para fins de fraude), dos estados existenciais e das condutas que não afetam bem jurídicos relevantes; 8. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA OU ULTIMA RATIO; O Direito Penal deve ser aplicado somente para proteção dos bens mais relevantes e imprescindíveis à vida social, ou seja, quando estritamente necessário. • São características a subsidiariedade (quando as demais esferas de controle não forem eficazes) e a fragmentariedade (o Direito Penal intervém apenas em casos de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado); 9. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA Qualquer restrição à liberdade do agente somente se admite após condenação definitiva, salvo em caso de restrições cautelares. • Cumpre à acusação o dever de demonstrar a responsabilidade do réu; • A condenação deve derivar da certeza do julgador, caso contrário, prevalece o princípio do in dubio pro reo; 10. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA As condutas punidas penalmente devem possuir, necessariamente, dolo ou culpa (elemento subjetivo). • A exceção é o crime de rixa qualificada pelo resultado morte ou lesão corporal grave, pois o resultado é imputado a todos os participantes: Art. 137, Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica- se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 meses a 2 anos. 7 11. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE Somente haverá crime se o agente agir com dolo ou culpa, inexistindo a responsabilidade penal objetiva (salvo em caso de embriaguez voluntária e rixa qualificada). 12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO “BIS IN IDEM” O sujeito não pode, em regra, ser responsabilizado duas vezes pela prática de um mesmo fato. Súmula 241/STJ - A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. • A exceção é a aplicação da extraterritorialidade incondicionada; 13. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL Não pode ser considerado criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento social da justiça, excluindo, em tese, a própria tipicidade do crime. • A contravenção penal do jogo do bicho não foi revogada, pois o costume não possui esse condão;
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