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Formação filosófica do pensamento moderno A modernidade é um marco fundamental para o processo de desenvolvimento científico, filosófico e tecnológico, devido, especialmente, às consequências da Revolução Científica e da Revolução Industrial na modificação dos saberes e dos valores humanos. Nesta unidade, vamos destacar a relevância do conhecimento moderno e de sua influência na formulação das teorias pedagógicas. Objetivo Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: • Relacionar o progresso das ciências com o desenvolvimento das teorias educacionais. Conteúdo Programático Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: • Tema 1 - Filosofia e desenvolvimento científico • Tema 2 - A Pedagogia Realista • Tema 3 - Concepções cientificistas da Educação Qual a importância da tecnologia para a educação? Tema 1 Filosofia e desenvolvimento científico A filosofia grega sempre buscou um conhecimento abrangente; isso quer dizer que, para os filósofos clássicos, as diversas áreas do saber – matemática, astronomia, física, gramática, metafísica, lógica, política, biologia, jurisprudência, medicina – estavam vinculadas ao conhecimento filosófico, com base em investigações teóricas e qualitativas. Ou seja, todas as áreas do saber faziam parte de um todo e eram estudadas de forma ampla pela filosofia, em uma relação dialógica que considerava todos os aspectos do campo racional. Este modelo, inter e transdisciplinar, era designado como um saber contemplativo e desinteressado (ou ciência contemplativa), pois não visava, propriamente, à aplicação ou ao uso do conhecimento para a transformação da realidade. Galileu Galilei Tal situação permaneceu por séculos, atravessando inclusive a Idade Média até o início da Modernidade, época que revolucionou as condições dos saberes, em especial com a criação do método científico, por Galileu e, consequentemente, o intenso desenvolvimento das ciências. A partir de diversas modificações subsequentes, surgiram novas formas de investigação, com propostas e experiências, fazendo com que a estrutura do saber fosse observada sob outra ótica, baseada em métodos científicos. Desse modo, a estrutura dos saberes se transforma e adquire uma função mais quantitativa, de busca de comprobabilidade, vinculada à vida prática, o que possibilita o desenvolvimento técnico e a transformação da realidade, pois aquele saber puro, teórico e contemplativo da Antiguidade é substituído pela união entre ciência e técnica. Galileu Galilei (1564-1642), cientista italiano. Embora o mérito de Galileu pertença mais à história da física e da astronomia do que à filosofia, sua concepção tardia da filosofia e da metodologia da ciência tem sido muito debatida [...] Galileu sustenta, de forma incontestável, que a ciência baseada na observação, que se opõe à autoridade tradicional e à especulação filosófica, é a verdadeira fonte do conhecimento do mundo físico. Defende também uma modéstia cautelosa sobre o nosso conhecimento da natureza, em oposição às certezas dogmáticas de muito do pensamento medieval tardio. [...] A concepção de mundo associada à ciência moderna é frequentemente referida como a concepção galileana do mundo. (BLACKBURN, 1997, p. 165) Saiba Mais Na tradição grega aristotélica, para entender uma coisa, não era preciso estudá-la experimentalmente. Bastava esforçar-se por compreender como essa coisa existe e funciona e, depois, elaborar uma teoria sobre isso. Assim, para grande parte dos pensadores antigos e medievais, observar as coisas, agir sobre a natureza e pensar como matemático eram práticas incompatíveis. Já Galileu – professor de matemática da Universidade de Pisa – decidiu, de forma inovadora, aplicar a matemática ao estudo experimental da natureza (COTRIM, G.; FERNANDES, M, 2010, p. 226). A metodologia científica pode, então, organizar de modo sistemático o raciocínio, no sentido de descrever, prever, verificar e criar leis que justifiquem os fatos ou fenômenos. Com base nesses dados, a ciência comprova e constata matematicamente as relações necessárias das investigações. A modernidade marca, assim, o início de um estudo recortado da realidade, isto é, os objetos de investigação científica passam a ser pesquisados de modo isolado, setorial e autônomo, desprendendo-se de seu conjunto geral. Essa fragmentação das ciências pode ser vista sob duas formas: positiva, já que o objeto de estudo é delimitado e específico; mas também negativa, ao restringir a pesquisa e perder a visão do todo. De qualquer modo, a relação entre a teoria e a prática possibilita a instauração de uma ciência ativa, a qual – ao contrário da ciência contemplativa da Antiguidade – vai atuar sobre o mundo. Isso significa que, a partir de então, o conhecimento científico passa a se desenvolver isoladamente, elegendo um determinado objeto de pesquisa. Cada área do saber é estudada, de modo independente e circunscrita, para investigar um fenômeno específico, desvinculando-se da reflexão filosófica. “ Durante a Idade Moderna, [...] o vasto campo filosófico entrou num processo de redução. A realidade a ser conhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos especializados. Era a separação entre ciência e filosofia. Gradativamente, foram conquistando autonomia muitas ciências particulares, que se desprenderam do tronco comum da árvore abrangente do saber filosófico. Ao se constituírem por um processo de especialização, essas ciências passaram a direcionar suas investigações a certos campos delimitados da realidade, e o fazem ainda hoje de forma cada vez mais ‘localizada’. Exemplos dessas ciências são a matemática, a física, a química, a biologia, a antropologia, a psicologia, a sociologia etc. Os dias atuais caracterizaram-se como a ‘era dos especialistas’. O problema da especialização do mundo científico é que ela conduz a uma pulverização do saber, à perda da visão mais ampla do conhecimento humano. (COTRIM, 1999, p. 51). ” Portanto, uma nova ordem foi instaurada, pois, em decorrência do desenvolvimento técnico e científico, retomou-se o conhecimento laico e modificaram-se as relações sociais. Não podemos nos esquecer também as inúmeras transformações ocorridas, como a recuperação das cidades, as novas terras encontradas, a ascensão da classe burguesa, as quais vão contribuir para a formação de uma nova mentalidade. René Descartes O avanço da ciência moderna com sua metodologia própria influencia, como já mencionamos, os mais variados campos do saber, atingindo também a reflexão filosófica e, consequentemente, a pedagogia, como veremos mais adiante. O filósofo francês René Descartes (1596-1650), considerado o “Pai da Filosofia Moderna”, não fica alheio a estas mudanças. Depois de terminar seus estudos no prestigioso colégio dos jesuítas de La Flèche, e, ainda insatisfeito com o ensino recebido, Descartes resolve, ele mesmo, criar um método seguro que o leve ao conhecimento verdadeiro. Saiba Mais Fui nutrido nas letras desde a infância, e por me haver persuadido de que, por meio delas, se podia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las. Mas logo que terminei todo esse curso de estudos, ao cabo do qual se costuma ser recebido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião. Pois me achava enleado em tantas dúvidas e erros, que me parecia não haver obtido outro proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância. (DESCARTES, 1983, p. 30). Método dos geômetras Cogito ergo sum Solipsista Influenciado pelo “método dos geômetras”, Descartes desenvolve seu pensamento na busca de um caminho que o leve a atingir a verdade plena e evidente. Para tanto, concebe a dúvida metódica, isto é, a negaçãoinicial de tudo aquilo que não possibilita a certeza clara e segura. E assim segue, duvidando de tudo até chegar ao grau máximo do processo da dúvida – a dúvida hiperbólica –, quando fatos e fenômenos se sobrepõem ao ato de duvidar e podem garantir a certeza e o conhecimento pleno que resistam à dúvida. Não podemos confirmar se Descartes interessou-se efetivamente pela atividade pedagógica – embora seu método delineie uma organização racional do pensamento – , mas a valorização que vai ser dada à capacidade individual e subjetiva apresenta um novo “modelo de homem”, autônomo e autossuficiente. “ O sujeito tem uma função pelo menos ordenadora do conhecimento. É ele a sede da certeza de todos os objetos. Subjetivismo não significa, obviamente, que a mente de cada um detenha os critérios que orientarão o conhecimento. Subjetivismo quer dizer apenas primado da subjetividade, precedência do sujeito no processo de conhecimento, e essa é, seguramente, a grande modificação introduzida por Descartes na filosofia. Significa ela que o pensamento, metodicamente conduzido, encontra primeiramente em si os critérios que permitirão estabelecer algo como verdadeiro. (SILVA, 1993, p.8). ” Como observamos, as mudanças ocorridas na Modernidade, tanto no campo científico quanto filosófico, trazem novas possibilidades para o conhecimento, marcado agora por uma nova visão de mundo, cada vez mais distante da escolástica, alterando inegavelmente as concepções educacionais. Vídeo Para saber mais sobre as influências políticas, assista agora ao vídeo: Filosofia, Ciência e Educação. Clique na imagem para visualizar o vídeo. https://player.vimeo.com/video/344184882?badge=0&autopause=0&player_id=0&app_id=58479 Tema 2 A Pedagogia Realista O que significa ‘o primado do sensível’, em Comênio? A pedagogia realista, já antecipada pelo “sujeito pensante” cartesiano, se desenvolve efetivamente a partir da rejeição à vertente escolástica, do século XVI. Nesse novo tempo, a preocupação fundamental é buscar condições de um ensino realista, isto é, pautado nos problemas da época, na realidade do mundo. Saiba Mais Para compreender o século e todas as suas potencialidades e contradições, é útil e oportuno partir de Comenius e do seu modelo de educação universal que veio mediar reciprocamente ciência, história e utopia sobre um pensamento fortemente original e, ao mesmo tempo, rico de passado e carregado de futuro. (CAMBI, 1999, p. 280). Procura-se, assim, adaptar os processos educativos a essa nova realidade, a fim de instaurar modelos pedagógicos capazes de permitir a compreensão real, baseada no contexto histórico desse tempo e voltada, principalmente, para o interesse do educando. João Amos Comênio João Amos Comênio, ou, simplesmente Comenius (1592-1670), destaca-se como o “Pai da Didática” e é considerado o primeiro pensador da pedagogia moderna. Sua famosa expressão “aprender fazendo” perpassa todo seu processo educativo, pois proporciona um método de aprendizagem mais concreto e dinâmico. João Comênio É importante destacar, ainda, e considerando a época, que o papel de Comênio permite a total reformulação dos procedimentos educacionais, pois ele desenvolve também uma mudança estrutural com relação ao modelo escolástico e enfatiza as mudanças e os ideais da nova educação. João Amos Comênio O religioso tcheco João Comênio (ou Jan Amos Komensky) esteve sempre ligado a lutas políticas e religiosas de seu tempo. Destacou-se por ser um incansável fundador de escolas, convocado pelos governos dos quatro cantos da Europa. Deixou uma obra pedagógica revolucionária. Em sua Didactica magna (1640), expõe suas ideias. Escreveu muitas obras concretas: gramáticas, guias, manuais etc. Redigiu um Guia da escola maternal e compôs o primeiro livro pedagógico ilustrado: Orbis pictus (1650). São três os seus princípios filosóficos fundamentais: 1. a igualdade dos seres humanos, de onde ele deduz a possibilidade de uma sociedade universal e o princípio da escola aberta a todos, sem distinção de sexo ou social; 2. o papel humanizante da educação: a educação da juventude é o único remédio para a corrupção da humanidade e suas dissensões; 3. o primado do sensível: tudo começa pelo sensível e tudo penetra pelos sentidos; portanto, a educação deve desenvolver-se pela intuição sensível. ‘A arte do ensino não exige outra coisa senão uma criteriosa disposição de tempo, das coisas e do método’. A educação forma os cidadãos do futuro: os homens só serão bons quando forem instruídos. (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1991, p. 52). Saiba Mais Esse novo ideal encontra seu primeiro teórico em João Comênio. Para ele, o processo educativo deve ter por base o livro novo da Natureza e não os livros mortos, pois deve levar o educando a fazer. Somente fazendo se aprende a fazer, contemplando a essência profunda das coisas e seu lugar no universo. Trata-se de um processo que deve levar em consideração o pensar, o falar e o atuar. Tal plano é perfeitamente realizável, pois todos os homens são chamados a um mesmo destino. A sabedoria, a moralidade e a religião devem explicitar-se numa ciência universal em sentido cristão, sem ser polêmica ou confessional. O conhecimento só será verdadeiro quando as coisas forem conhecidas tais como são, isto é, na sua conexão harmoniosa. Portanto, o novo método de ensino é realista e se pauta na Natureza como sobre uma rocha inabalável. (GILES, 1983, p. 73-74). É importante destacar, ainda, e considerando a época, que o papel de Comênio permite a total reformulação dos procedimentos educacionais, pois ele desenvolve também uma mudança estrutural com relação ao modelo escolástico e enfatiza as mudanças e os ideais da nova educação. Para aprofundar seu conhecimento, assista ao vídeo “História da didática” e conheça um pouco mais sobre a evolução da didática ao longo dos séculos e sua relação com a filosofia. Podemos, então, antever os fundamentos para uma nova fase da educação, quando o mundo real – da pedagogia realista – adquire especial importância, no sentido de priorizar a realidade contextual e a vida natural. Sob este prisma, é possível observar também uma nova vertente filosófica, o empirismo, o qual, mantendo a linha realista de valorização dos sentidos, se contrapõe, no entanto, ao racionalismo cartesiano. Saiba Mais A pedagogia realista insurgiu-se contra o formalismo humanista, pregando a superioridade do domínio do mundo exterior sobre o domínio do mundo interior, a supermacia das coisas sobre as palavras. Desenvolveu a paixão pela razão (Descartes) e o estudo da natureza (Bacon). De humanista, a educação torna-se científica. O conhecimento só possuía valor quando preparava para a vida e para a ação. (GADOTTI, 2001, p. 78). John Locke O filósofo empirista John Locke (1632- 1704), cujo pensamento reflete as mudanças de sua época, é também conhecido como pedagogo e um dos mais importantes teóricos do liberalismo político. Vinculado aos interesses burgueses, a teoria liberal defende o direito dos cidadãos e da iniciativa privada. John Locke Locke valorizou a cidadania plena dos componentes da sociedade (principalmente da burguesia). Além disso, para ele, o conhecimento empírico, das experiências sensíveis, deve constituir a base do saber humano. https://www.youtube.com/watch?v=UC7XZOSo5uo https://www.youtube.com/watch?v=UC7XZOSo5uo Locke Ao criticar o racionalismo de Descartes, Locke desenvolve uma concepção da mente infantil e da educação. Destaca o papel do mestre ao proporcionar experiências fecundas, que auxiliem a criança no uso correto da razão. Na linha dos principais críticos da velha tradição medieval, lamenta a ênfase no latim e o descaso com a língua vernácula e o cálculo. Sua pedagogia realista recusa a retórica e os excessos de lógica,ressaltando o estudo de história, geografia, geometria e ciências naturais. Locke valoriza a educação física e, sendo médico e de saúde frágil, dá inúmeros conselhos para o fortalecimento do corpo, o aumento da resistência e o autodomínio. [...] Ao contrário de Comênio, Locke não defende a universalização da educação. Para ele, a formação dos que irão governar e daqueles que serão governados deve ser diferente, configurando assim o aspecto elitista da sua pedagogia. (ARANHA, 2000, p. 108-109). Saiba Mais Um dos aspectos progressistas do pensamento liberal reside na origem democrática e parlamentar do poder político, determinado pelo voto e não mais pelas condições de nascimento, como na nobreza feudal. Embora a teoria liberal se apresente como democrática, é inevitável encontrar na sua raiz o elitismo que a distingue como expressão dos interesses da burguesia. Na vida em sociedade, somente aqueles que têm propriedades, no sentido restrito de fortuna, podem participar de fato e apresentam condições reais de exercer a cidadania. Essa mesma perspectiva elitista define a reflexão sobre a educação. (ARANHA, 2000, p. 105). Processo Educativo Dualismo No que concerne ao processo educativo realista, a proposta pedagógica de John Locke assume características empíricas, quer dizer, privilegia as questões referentes à experiência sensível. Seu modelo pedagógico substitui o caráter abstrato da educação humanística pela preocupação com a vida prática do educando. Devemos destacar, no entanto, que Locke segue uma tendência dualista na educação: uma formação especial para os ricos; e outro tipo de educação para as camadas populares. Para aprofundar seu conhecimento, assista ao vídeo “John Locke - Principais Conceitos”. Século das luzes Se a passagem para a modernidade deu início à laicização do conhecimento, foi no século XVIII que este processo se completou efetivamente. A partir de então, pode-se falar, de modo mais específico, de uma pedagogia laica e liberal. Com o movimento do Iluminismo – também conhecido como Século das Luzes –, o homem consegue se libertar dos entraves do critério de autoridade, a fim de dar vazão à racionalidade plena, sem os resquícios de crenças e superstições. Nesse contexto e sob tais condições, o conhecimento assume toda a sua força e expressão de uma racionalidade revigorada que busca incansavelmente a realização do homem livre. A característica específica do Iluminismo expressa no processo educativo é a convicção de que a única norma para se julgar a realidade é a luz da razão. Aquilo que não se justifica à luz da razão não pode ser julgado real. A razão é o princípio supremo de juízo diante da realidade. O progresso no campo do conhecimento é ilimitado, sob condição de emancipar a razão de todos os entraves que a tradição lhe opõe. Ela deve assumir os destinos do homem, garantindo-lhe liberdade, dignidade e felicidade fundamentadas na irmandade de todos. (GILES, 1983, p. 76). Um dos principais aspectos do Século das Luzes é, portanto, a diversidade a ser observada nas propostas pedagógicas dos pensadores dessa época, bem como o relevante espaço consagrado à emancipação da racionalidade, livre e desimpedia de empecilho relativo às crenças. Jean-Jacques Rousseau Dentre os principais filósofos representantes da corrente iluminista, cabe destacar, de início, as ideias do pensador francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que se desenvolvem em diferentes áreas do conhecimento, tais como a política, a moral e a educação. Jean-Jacques Rousseau https://www.youtube.com/watch?v=T3UVGyCcRxw https://www.youtube.com/watch?v=T3UVGyCcRxw https://www.youtube.com/watch?v=UC7XZOSo5uo Jean-Jacques Rousseau Rousseau surge diante do Iluminismo, argumentando que a civilização e o progresso, bem como o domínio da razão, não conseguiram aumentar a moralização e a felicidade do homem. Pelo contrário, para Rousseau, o Iluminismo só serviu para tornar o homem mais infiel à sua verdadeira e mais profunda natureza. Nada mais foi que uma triste desavença que abafou os impulsos naturais do homem para torná-lo um egoísta desenfreado numa sociedade artificial. A propriedade privada, a divisão do trabalho e a separação de classes, as más paixões, são todos frutos do Iluminismo, situação antinatural. (GILES, 1983, p. 76). Priorizar a natureza e viver de acordo com os seus ditames consiste, para Rousseau, na valorização da própria vida humana. Nesse sentido, para a concepção rousseauniana, o privilégio dado ao desenvolvimento tecnológico artificial vai de encontro à harmonia que deve existir entre o homem e a natureza. Daí, a grande importância de uma reforma geral da sociedade e dos homens. Essa visão é ratificada na célebre frase de Rousseau: “ O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. ” Como podemos perceber, Rousseau assume diretamente uma posição contrária àqueles que se deslumbravam com o movimento de racionalização exacerbada de seu tempo, buscando resgatar o contato mais direto do homem com a natureza, especialmente no que diz respeito ao processo educativo dos jovens. Saiba Mais O educando-criança deve ser o ponto de convergência de todo processo educativo, deixando a criança amadurecer na criança. A educação deve ser progressiva, adaptativa, seguindo as diversas etapas do desenvolvimento, os interesses, as aptidões e o crescimento do educando. Para realizar essa tarefa, o educador deve saber esperar com confiança o desenvolvimento natural do educando, intervindo o menos possível, reconhecendo que, não sendo a natureza humana intrinsecamente má, a única coisa que se deve fazer é preservar o educando contra o erro e não ensinar-lhe os princípios da virtude e da verdade. O educador não deve deixar o educando obter nada porque ele, o educador, o quer, mas porque o próprio educando disso necessita. [...] Não é necessário encher sua mente de conhecimentos, mas sim levá-lo ao ponto de poder julgar e avaliar a realidade que se lhe apresenta. (GILES, 1983, p. 78). Uma das características fundamentais destacadas por Rousseau é sua concepção do “conceito de infância” – uma ideia revolucionária para a época – que inaugura um novo modelo para a pedagogia, pois passa a considerar o educando de forma mais apropriada e específica, promovendo o resgate dos sentimentos humanos e, principalmente, a compreensão efetiva da vida conforme a intuição natural, pois, para ele, é de grande importância o lema “Voltar à Natureza”. Saiba Mais O ideal do processo educativo [em Rousseau] consiste em desenvolver o educando de acordo com a Natureza, na evolução harmoniosa do amor- próprio e do amor ao próximo; levá-lo a desenvolver-se na liberdade iluminada pela razão. Assim, desenvolver-se-á nele a verdadeira felicidade, e o educando se elevará ao verdadeiro ideal de homem. [...] Para que o processo educativo não degenere num exercício estéril e até nocivo, é indispensável partir da estrutura específica do educando. Não se deve ver na criança um adulto em miniatura, como era costume na época, uma etapa passageira, provisória, da existência humana, pois a criança tem uma existência própria e acarreta direitos específicos. É preciso reconhecer e respeitar o que a criança é antes de chegar a ser adulto e não preocupar-se tanto com aquilo que o homem adulto deve saber, pois a própria Natureza quer que a criança seja criança antes de ser adulto. A infância é um modo peculiar e específico de ser, de perceber e de pensar. É preciso começar por estudar melhor a criança para conhecê- la. (GILES, 1983, p. 77-78). A educação idealizada por Rousseau possibilita, assim, um novo olhar para a criança, que passa a ser considerada como ser em processo de desenvolvimento e de busca de liberdade. Sua pedagogia inaugura uma nova época com relação ao conceito de infância e,por isso mesmo, um novo modo de ação a ser desenvolvido pelo educador. Em sua obra, Emílio, Rousseau apresenta as linhas básicas que tornam possível uma educação ideal. Sugerimos a leitura do artigo “A formação do homem no Emílio de Rousseau” para aprofundar seu conhecimento. Immanuel Kant Mantendo, ainda, o mesmo caminho proposto pelos novos tempos, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) se destaca como pensador que volta seu interesse também para a educação. Suas reflexões críticas se apoiam, especialmente, nas condições de conhecimento da razão humana. Immanuel Kant Em Reflexões sobre a Educação, Kant sustenta que o processo educativo deve ser aperfeiçoado progressivamente, na busca da realização universal do homem. Essa realização é alcançada a partir da própria racionalidade. Ou seja: “O que enfatiza o projeto de Kant é que não se trata de determinar a condição de uma simples instrução, mas de uma verdadeira formação do homem. A educação é substituída ou associada à própria realização da essência humana.” (MORANDI, 2002, p. 90). http://www.scielo.br/pdf/ep/v33n2/a10v33n2.pdf http://www.scielo.br/pdf/ep/v33n2/a10v33n2.pdf Saiba Mais Razão humana Essa atividade racional será o fio condutor de toda educação e sua conduta. A ideia educativa, em Kant, é a de ‘orientação do pensamento’, de definição das condições do progresso humano. [...] Orientar-se, como se é orientado com os quatro pontos cardeais, é o exercício da faculdade de diferenciação do espírito humano. Esse poder de julgar é marcado ao mesmo tempo por uma ‘necessidade’ e pela ignorância devido ao limite de nosso saber. Kant situa essa obra da razão: ‘Pensar por si mesmo significa: procurar a pedra de toque da verdade em si – ou seja, de sua própria razão.’ (MORANDI, 2002, p. 88-89). Veja a seguir outros pontos importantes a serem destacados sobre as concepções de Kant. Instrução Normas morais Segundo Kant, não podemos deixar de considerar que a instrução faz com que o indivíduo amplie a sua visão de mundo, pois, nesse sentido, o homem resulta da educação recebida. Daí, a sua máxima: a educação é a saída do homem de sua menoridade. O que significa que o homem só se torna autônomo e capaz por intermédio da razão e da educação. Outro ponto a ser destacado no pensamento kantiano é a relação das condições de conhecimento com as normas morais. Isso porque há um vínculo indissolúvel entre a conduta ética e o aprimoramento humano. Tais normas estão, praticamente, reunidas em seu imperativo categórico , que estimula a ação válida: age de tal forma que tua ação possa servir de exemplo para toda a humanidade. Kant O que a moderna ciência da educação, na definição de seus conceitos básicos, chama ‘aculturação’, ‘socialização’ e ‘personalização’, representa algumas das descobertas de Kant. Para ele, o educando necessita realiza esses atos: é o sujeito que tem de cultivar-se, civilizar-se, para assim corresponder à natureza. Assim, o verdadeiro objetivo do homem é que ‘desenvolva inteiramente, por si mesmo, tudo o que está acima da ordem mecânica de sua existência animal e não participe de nenhuma outra felicidade ou perfeição que não tenha sido criada por ele mesmo, livre do instinto, por meio de sua própria razão”. (GADOTTI, 2001, p. 91) . Saiba Mais Pensamento kantiano De fato, Kant foi inflexível em sua insistência em que a moralidade deve fornecer sua própria justificação, sem depender de fontes e sanções religiosas. Assim, embora ele próprio fosse realmente religioso, a teoria moral de Kant era compatível com uma perspectiva secular ou ateia. Ele quis abrir espaço para a fé ao lado da liberdade. Sustentou que a fé é básica para nossa motivação racional [...]. Para persistir em nosso compromisso com a moralidade, precisamos acreditar que, finalmente, o comportamento moral e a felicidade convergem. E não basta que isso seja um mero desejo. Como a própria moralidade, deve ser uma crença racional. (SOLOMON; HIGGINS, 2003, p, 146). Para aprofundar seu conhecimento, assista ao vídeo “Immanuel Kant- resumo”. Filósofos e teóricos da educação – especialmente, de Lutero aos iluministas – como vimos, começam a elaborar metodologias de ensino que incentivam a investigação rigorosa dos procedimentos pedagógicos. Estes pensadores, cada qual à sua maneira, estão também preocupados com os contextos em que se desenvolvem as atividades educativas, acompanhando as transformações sociais, políticas e científicas que dão novo rumo às teorias educacionais. No contexto pedagógico da modernidade, a educação deixa de ser centrada nos valores religiosos e adquire contornos laicos e científicos. Desse modo, começa, também, a assimilar as mudanças na concepção moderna de ciência, valorizando a apreensão do conhecimento pelo nexo entre a teoria e a prática, a fim de possibilitar o real entendimento dos fatos, dados ou fenômenos. Na verdade, o nexo entre os componentes teóricos e práticos constituem a efetivação de uma ação completa: trata- se da práxis educativa. https://www.youtube.com/watch?v=55agIQFlxmQ https://www.youtube.com/watch?v=55agIQFlxmQ Tema 3 Concepções cientificistas da Educação Por que a tendência pedagógica tradicional é magistrocêntrica? A época moderna, com já observamos, possibilita uma nova fase para o conhecimento, baseada em metodologias científicas adequadas para o desenvolvimento dos saberes. Desde o século XVI, por exemplo, surgem modelos mais específicos para a aprendizagem. Isso coincide com a institucionalização da atividade educativa, quando o ensino é organizado e planejado de forma a atender, principalmente, aos anseios da classe burguesa em ascensão. A criação de colégios obedece a uma lógica determinada pela idade dos educandos, o que não acontecia anteriormente (na Idade Média), quando em um mesmo espaço de aprendizagem reuniam-se crianças e adultos. Saiba Mais A escola institucionalizada, semelhante àquela que hoje conhecemos, é uma criação burguesa do século XVI, época em que surge o “sentimento de infância e de família”. Um lento processo separou a criança do adulto, criando um ambiente segregado e “protegido das más influências do mundo”: caberá então, à escola não só instruir, como também educar. (ARANHA, 1998, p. 73). Desse modo, o modelo instaurado procura resguardar as crianças, situando-as em um determinado espaço físico distante da “promiscuidade” dos adultos. Note-se que, a partir de então, haverá um cuidado especial em preservar o educando dos “males do mundo”, separando-os por idade, como já mencionado. Tais procedimentos marcam o esforço de instaurar uma nova mentalidade para a atividade educativa pautada por uma visão mais elaborada dos processos educacionais. Conforme sejam os contextos históricos e sociais, bem como os interesses oficiais, surgem novas concepções de ensino e aprendizagem ligadas à influência dos governos nos planejamentos pedagógicos que moldam os processos educativos. Não existe, portanto, um único modelo de educação, que atenda a todos nem que prevaleça para todo o sempre. As próprias teorias pedagógicas refletem uma determinada concepção de mundo, adotando, em seus fundamentos, as transformações por que passam cada sociedade. Dentre a profusão de tendências educacionais que chegaram até nossos dias, costuma-se agrupá-las em duas grandes vertentes: a educação tradicional (também conhecida como educação diretiva, autoritária, heterônoma) – comumente associada à pedagogia essencialista ou metafísica – e a educação progressista (educação ativa, nova, da ação, do trabalho), que tende a estimular a criatividade e a consciência crítica do educando, propondo-se a formar um cidadão livre e espontâneo. Educação Tradicional A Educação Tradicional tem suas raízes na modernidade, assimilandoalgumas tendências educacionais que adquiriram feições diversas de acordo com mudanças sociopolíticas de cada época. Muito se tem falado, em tons de crítica radical, do modelo tradicional do ensino. De fato, um dos aspectos mais relevantes desta tendência é o privilégio dado à formação teórica em detrimento de uma visão mais reflexiva sobre a realidade contextual. Saiba Mais A pedagogia tradicional pode ser considerada como um sistema de processamento de informação, de transmissão e de comunicação escolares. Segundo a lógica deste modelo, a ação pedagógica se estabelece ou, mais exatamente, é identificada principalmente em torno da atividade do único ator reconhecido, que é o professor. Considera-se o ensino como o principal elemento realizador. O tradicional, como transmissão, descreve igualmente a suposta transitividade dos saberes e dos valores, reprodução de uma ordem estabelecida, conformidade a um modelo de conformidade, mesmo que esta última seja supostamente libertadora. (MORANDI, 2002, p. 27). A tendência tradicional é, portanto, magistrocêntrica, pois do professor decorre a responsabilidade de todo processo educativo. É ele quem determina e estabelece a transmissão dos conteúdos a serem seguidos e é dele que emana toda autoridade no controle da disciplina. Considerando, assim, esse tipo de aprendizagem, podemos perceber que tal tendência decorre do controle e da rigidez do modelo educacional, que privilegia, essencialmente, a disciplina rigorosa e a obediência passiva do educando. Outras características da escola tradicional se vinculam, em especial, aos seus aspectos conteudísticos, metodológicos e avaliativos, elaborados de modo a ressaltar os modelos culturais já sedimentados, distanciando-se, então, da realidade cotidiana do aluno. Saiba Mais Tendência tradicional O modelo tradicional vai sofrer várias críticas pelas novas teorias do início do século XX, pois tende ser vinculado, como vimos, à concepção essencialista ou metafísica da pedagogia, devido, especialmente à sua tendência de separar o ensino dos problemas concretos da sociedade. Isto é: o privilégio dado à essência abstrata do ser humano passa ao largo das especificidades de cada indivíduo no caso, do educando. Entretanto, a preocupação com os conteúdos constitui um dos positivos que não deve ser desconsiderado. Para aprofundar seu conhecimento, assista ao vídeo “Educação no século 21 pede que o ensino vá além do conteúdo tradicional” e perceba que, ainda nos dias atuais, a concepção da educação tradicional ainda persiste. Escola Nova A Escola Nova surge no final do século XIX, tendo como proposta substituir e renovar o processo educativo, em um mundo em transformações constantes e aceleradas. Uma das principais características desse modelo é o seu antagonismo com a tendência tradicional: ou seja, em lugar da pedagogia da essência, instaura-se a pedagogia da existência – do sujeito concreto diante do mundo real. O movimento escolanovista incentiva a autonomia e a criatividade do educando. Saiba Mais Escola Nova A Escola Nova representa o mais vigoroso movimento de renovação da educação depois da criação da escola pública burguesa. [...] A teoria e a prática escolanovistas se disseminaram em muitas partes do mundo, fruto certamente de uma renovação geral que valorizava a autoformação e a atividade espontânea da criança. A teoria da Escola Nova propunha que a educação fosse instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se transformasse porque a sociedade estava em mudança. (GADOTTI, 2001, p. 142) Na concepção escolanovista, o aluno ocupa o lugar central e é a partir de seus interesses que a educação se desenvolve, pautando-se, então, pelo pedocentrismo ou puericentrismo. Desse modo, as características gerais da instrução – conteúdos, método de ensino, avaliação, normas disciplinares – vão girar em torno do educando, que é, afinal, o centro do processo de aprendizagem. Para aprofundar seu conhecimento sobre o movimento escolanovista, assista ao vídeo “Aprender a aprender”. https://www.youtube.com/watch?v=L7m90TkDW9Q https://www.youtube.com/watch?v=L7m90TkDW9Q https://www.youtube.com/watch?v=eQ48lhWADLs Movimento Tecnicista A tendência Tecnicista, do século XX, decorre do intenso desenvolvimento tecnológico e da solidificação do modelo capitalista, especialmente, nas sociedades ocidentais. A proliferação das indústrias, das fábricas, das empresas vai influenciar decisivamente a realidade social e profissional do ser humano, modificando sua vida e seus valores. A tendência tecnicista da educação surgiu nos Estados Unidos, sendo disseminada por vários países, especialmente, aqueles em que vigoravam ditaduras. A base em que se estrutura a tendência tecnicista vem da prioridade cientificista herdada do positivismo de Augusto Comte no século XIX, cujo objetivo seria galgar as diversas etapas do conhecimento para chegar à cientificidade plena, ao conhecimento positivo. Por isso, a importância de métodos técnicos e treinamento adequado, os quais são repassados sem que seja possível uma reflexão a respeito. Saiba Mais Tendência Tecnicista Em um primeiro momento, o tecnicismo estava atrelado ao modelo de racionalização do trabalho, conhecido como taylorismo ou fordismo, cuja função se voltava para o aumento da produção industrial, em larga escala, para atender e ampliar o consumo. O impacto desse modelo empresarial foi tão eficaz que atingiu vários setores da vida humana e, em especial, a escola. Sob essa perspectiva, o professor é um técnico que, assessorado por outros técnicos e intermediado por recursos técnicos, transmite um conhecimento técnico e objetivo. Como é de se esperar, a relação entre professor e aluno exige distanciamento afetivo e não está voltada para a abertura de discussões e debates. (ARANHA, 1998, p. 176). Construtivismo A teoria Construtivista se vincula à psicologia e busca desenvolver um processo de aprendizagem a partir de pesquisas sobre a dinamicidade da inteligência infantil, bem como da interação social das crianças na compreensão do mundo. Um dos pensadores mais importantes desta corrente é Jean Piaget (1896-1980), ligado à psicologia, à biologia e à filosofia. Para o construtivismo, portanto, o conhecimento será construído e conquistado graças ao processo da descoberta, que promove a interação do indivíduo com o seu meio, desligando-se, assim, da pura transmissão de verdades prontas e acabadas. Saiba Mais Piaget notabilizou-se sobretudo por seus estudos de psicologia cognitiva e por sua teoria sobre o processo de construção do conhecimento do indivíduo desde a infância, baseada em meticulosas pesquisas empíricas. Essa teoria teve grande influência nos métodos educacionais empregados pela pedagogia contemporaneamente. Examinou detidamente o desenvolvimento da inteligência na criança, em relação ao mundo que a cerca, distinguindo suas várias etapas desde o que chamou de fase sensoriomotriz, inicial, até a fase lógica e discursiva, já no começo da adolescência. (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1991, p. 193). Para aprofundar seu conhecimento, assista ao vídeo “Teórico construtivistas”. Crítico-Reprodutivistas As teorias crítico-reprodutivistas fazem parte das discussões acaloradas sobre o processo educacional das décadas de 60 e 70 (século XX). Uma das características mais marcantes dessa teoria é a crítica exacerbada aos aspectos ideológicos dos sistemas políticos da época, que simplesmente reproduziam os interesses da política e da economia de cada país. https://www.youtube.com/watch?v=jV0Fo7bJaAI https://www.youtube.com/watch?v=jV0Fo7bJaAI Saiba Mais A partir da segunda metade do século XX, a crítica à educação e à escola se acentuou. O otimismo foi substituído por uma crítica radical. Entre os maiores críticos, encontramos ofilósofo francês Louis Althusser [1918- 1990] e os sociólogos, também franceses, Pierre Bourdieu [1930-2002] e Jean-Claude Passeron [1930-], Claude Baudelot [1938-] e Roger Establet [1938-]. As obras desses autores tiveram grande influência no pensamento pedagógico brasileiro na década de 70. Elas demonstraram, sobretudo, o quanto a educação reproduz a sociedade, daí serem frequentemente chamados críticos-reprodutivistas. (GADOTTI, 2001, p. 187). Bourdieu e Passeron Althusser Os sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron denunciaram o papel das escolas em impingir os modelos oficiais das sociedades, sem que fosse possível a apreensão crítica da verdadeira função dos processos pedagógicos. Trata-se, assim, da perpetuação dos aspectos ideológicos que a todo instante perpassa a sociedade. Segundo esses pensadores, a pretensa neutralidade da escola é uma grande ilusão, pois o que existe verdadeiramente é um mascaramento de uma violência simbólica, a qual, diferente da violência física e explícita, envolve o indivíduo de modo sutil, impedindo que este perceba sua condição de vítima do sistema capitalista. Seguindo a mesma linha crítica, o filósofo Louis Althusser ressalta a influência da ideologia na reprodução desse modelo, confirmando que a escola faz parte do Aparelho Ideológico de Estado, denominado AIE escolar, que abarca o sistema das diferentes escolas, públicas e particulares. A discussão sobre a reprodução ideológica nos processos educativos é denunciada também pelos franceses Roger Establet e Christian Baudelot, que destacam a função dualista e segregacionista da escola.. Teorias Progressistas As teorias Progressistas têm por base as severas críticas às tendências pedagógicas existentes, as quais, segundo os progressistas, estão distanciadas do mundo real, das vivências cotidianas e do trabalho. De acordo com esta visão, não é possível pensar em termos de educação sem situá-la no contexto histórico e social. Paulo Freire Foto: Wikipedia Evidentemente a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser ela um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais. A pedagogia progressista tem se manifestado em três tendências: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. (LUCKESI, 1994, p. 63-64). Assim, para os progressistas, a atividade educativa não pode se abster de considerar o caráter político da formação educacional, e, por isso mesmo, a escola deve estimular a consciência crítica do ser humano, a fim de que ele possa se emancipar das tutelas ideológicas que o aprisionam. De modo geral, as teorias educacionais se fundamentam em investigações metodológicas e científicas que permitem identificar as bases da atividade educativa, e, para isso, elaboram reflexões que não podem prescindir da ótica filosófica. Daí, a relevância da Filosofia da Educação para estimular o questionamento e levar o aluno a perceber criticamente a realidade que o cerca. http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire Saiba Mais A Filosofia da Educação procura aprofundar e compreender o processo educativo tal como ele é vivido, para poder enfrentar as questões fundamentais desse mesmo processo. Mas, ela pretende sobretudo levar aqueles que são responsáveis pela orientação do processo educativo a descobrir o sentido radical desse processo, mediante a compreensão radical daquilo que é, pois essa compreensão abre o caminho para aquilo que pode vir a ser. A Filosofia da Educação almeja levar à compreensão do processo educativo como tal, para que a escolha de objetivos e meios seja mais coerente com as necessidades fundamentais do homem. Ela não preconiza a aceitação automática de nenhuma imagem-ideal do homem, pois ela as interpreta e critica a todas, mostrando os pressupostos e as consequências de sua aceitação. (GILES, 1983, p. 29). Encerramento Como era a relação entre ciência e filosofia na Antiguidade? Na Antiguidade, a ciência fazia parte do saber filosófico e, por isso, vinculava-se aos procedimentos teóricos, abstratos e qualitativos, distantes da vida prática. O que significa ‘o primado do sensível’, em Comênio? Para Comênio, o primado do sensível corresponde à importância dada às atividades empíricas e sensoriais, e deveria ser o fundamento de toda educação. Por que a tendência pedagógica tradicional é magistrocêntrica? A tendência tradicional é magistrocêntrica, porque o processo educativo é centrado na figura do professor; é ele quem determina como deve ser conduzida a atividade educativa. Resumo da Unidade Na busca do conhecimento, o ser humano aperfeiçoou cada vez mais seu modo de perceber a realidade, criando técnicas que, posteriormente, iriam possibilitar o desenvolvimento das ciências. Nesta unidade, procuramos ressaltar as relações entre filosofia e ciência que influenciaram a pedagogia, bem como elaborar uma síntese das diversas teorias educacionais que moldaram o ensino no decorrer de cada época, enfatizando também a interação das tendências pedagógicas com a transformação do conhecimento científico e filosófico.
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