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07- didatica superior

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24 Didática do ensino superior
suas potencialidades, seus conhecimentos prévios e, até mesmo, os
possíveis obstáculos que precisa enfrentar.
Essas barreiras, nesse caso, por vezes, passam justamente pelo fato
de o aluno ser uma pessoa já inserida nomercado de trabalho, que tem
compromissos, trabalho, família e diversas demandas que podem lhe
causar diculdades para organizar seu tempo e seus estudos, podendo
ter, ainda, alguma resistência em apresentar trabalhos e em se concen-
trar (NOGUEIRA, 2004), o que torna necessária a utilização de metodo-
logias inovadoras e atraentes especícas para esse público.
A formulação dessas metodologias encontra na andragogia o espaço
para caracterizar o aprender na vida adulta, com base nas especicida-
des de como o adulto aprende, undamentando as práticas pedagógicas
e estabelecendo possibilidades didáticas ao ensino e à aprendizagem, as
quais precisariam considerar a história de vida do educando e a sua tra-
jetória prossional, além de valorizar a sua bagagem cultural e vivências
sociais como aporte (BUENO, 2010).
Nessa direção, os estudos de Knowles, Holton III e Swanson (2009),
que se fundamentaram em Kapp, de modo a ampliar suas ideias, apon-
tam que a andragogia tem como objetivo promover o aprendizado
para o adulto, contudo, partindo da premissa de que esse adulto deve
querer aprender, o que requer, também, engajamento do aluno.
Para isso, é preciso que o aprendente se engaje e se comprome-
ta, compreendendo a importância do conhecimento para a sua vida.
Logo, é necessário que o aprender seja uma escolha, uma opção clara
e consciente do estudante, tendo a clareza do motivo pelo qual está
estudando determinado conteúdo e qual a função social deste em sua
vida, seja ela cultural, pessoal e/ou prossional.
Com isso, o aprendizado se torna um processo ativo, que busca
no professor a parceria para que se efetive. Assim, é preciso que o
docente compreenda o momento de vida do estudante, conheça os
princípios da andragogia e tenha, a partir dela, condições de pro-
mover um trabalho coerente com o perl do aluno e que coadune
com os princípios da andragogia (Figura 1), propostos por Knowles,
Holton III e Swanson (2009).
A proposta do documentá-
rio Paulo Freire Contempo-
râneo, publicado pelo canal
Davis Franco, é apresentar
a obra de Paulo Freire, des-
tacando as experiências de
alabetização realizadas a
partir da prática pedagó-
gica, a qual cou conhe-
cida como método Paulo
Freire de alfabetização. O
documentário traz, ainda,
algumas entrevistas com
pessoas que eram ligadas
ao educador.
Disponível em: https://www.you-
tube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8. 
Acesso em: 30 dez. 2019.
Vídeo
Andragogia: a contextualização do ensino e da aprendizagem 25
Figura 1
Princípios da andragogia
1º 4º
2º 5º
3º 6º
ANECESSIDADE DE SABER DO ESTUDANTE PRONTIDÃO PARA APRENDER
AUTOCONCEITO DO APRENDIZ ORIENTAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM
EXPERIÊNCIA ANTERIOR DO APRENDIZ MOTIVAÇÃO PARA APRENDER
O aluno precisa compreender qual é o
sentido, a lógica e o porquê de saber
determinados conteúdos.
A aprendizagem do adulto é estimulada
pela sua necessidade de conhecer o
mundo, de adaptar-se à sociedade em
que vive.
Necessidade de decidir e se autodirigir,
sendo autônomo e responsável por
suas decisões e escolhas.
É preciso que os conteúdos sejam
contextualizados; para isso, envolvem-se
elementos do cotidiano e resolução de
problemas, isto é, elementos que possam
ser aplicados na prática em situações do
dia a dia.
É preciso considerar as vivências e
experiências dos estudantes como
aporte para a construção de novos
conhecimentos.
Ultrapassa os atores externos, pois
incide sobre a satisação do conhecer na
autorrealização e no reconhecimento, ou
seja, os atores intrínsecos.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Knowles, Holton III e Swanson, 2009. 
Compreendendo as confuências desses princípios, é possível per-
ceber a teoria andragógica como uma possibilidade de que o ensino e o
aprendizado sejam contextualizados de modo a atender às necessida-
des do educando e suas perspectivas sociais, prossionais e pessoais,
que vão sendo formadas ao longo da vida.
É preciso ter emmente que a andragogia percebe o estudante como
um sujeito ativo e responsável pelo próprio processo de aprendizagem,
o que exige dele criticidade, autonomia, refexão e compreensão de
como se processam os fatores externos a esse processo.
Essa percepção crítica e refexiva da sociedade, do conhecimento e
das relações sociais serão mediadas pelo professor, que, conhecendo
a andragogia, irá se utilizar das vivências e percepções do aluno para
alavancar a construção de novos conhecimentos.
Atividade 1
Qual é a importância de trazer 
a experiência do aluno para o 
contexto educativo?
26 Didática do ensino superior
2.2 Ensino superior: particularidades 
pedagógicas Videoaula
Os processos formativos nos dias atuais, nos quais o aluno tem um
vasto arcabouço de pesquisa, podendo buscar informações em diver-
sas fontes, conferem ao professor uma função muito forte de media-
dor do conhecimento, pois, ao contrário do que pregava a pedagogia
tradicional, o docente não mais transmite conhecimento, mas, sim, au-
xilia o aluno a compreender e se apropriar desse conhecimento.
Quando se fala em andragogia, isso se torna ainda mais verdadeiro,
visto que, nesse contexto, o aluno não se trata de uma criança despro-
vida de vivências, experiências e conhecimentos prossionais. Nessa
perspectiva, o estudante é um ser social, que trabalha, tem relações
sociais diversas e inúmeras vivências que devem ser consideradas em
seu processo educativo.
Além disso, nesse processo, os objetivos irão delinear a abordagem
pedagógica para que se eetivem o ensino e a aprendizagem, buscando
também os elementos didáticos que irão alimentá-lo. Por isso, a impor-
tância de se conhecer o aluno, o contexto e os seus objetivos.
Na educação superior, os objetivos do estudante são bem denidos,
pois trata-se da ormação para o exercício de uma prossão, do prepa-
ro para atuar na área escolhida. Assim, o processo de ensino e aprendi-
zagem, na graduação, deve resultar dos elementos fundamentais para
uma formação que atenda às necessidades do aluno e às expectativas
da sociedade para a qual ele se prepara prossionalmente.
É preciso considerar, ainda, que o aluno fez a escolha por uma
área especíca, contudo, muitas vezes, já atua prossionalmente,
estando inserido no mercado de trabalho (FERREIRA; STEINER, 2017).
Esse é um aluno que, provavelmente, trabalha e estuda; alguns têm
família sob sua responsabilidade, e os problemas e o cansaço do dia
a dia podem ser obstáculos para o aprendizado.
Por outro lado, como já vimos, esse aluno tem um objetivo bem
denido: o de tornar-se um prossional graduado. É esse objetivo
que irá mobilizar seus esforços e que irá direcionar o seu interes-
se em aprender e saber o porquê de estar estudando os conteúdos
selecionados.
Andragogia: a contextualização do ensino e da aprendizagem 27
Logo, a aprendizagem no nível superior perpassa os princípios da
andragogia. Esses princípios, portanto, devem ser considerados quan-
to à formação didática do curso, na elaboração curricular e, principal-
mente, na escolha das metodologias pelo corpo docente.
Outro cenário a ser considerado na questão didática, para esse
nível de ensino, é o número cada vez maior de estudantes adultos
em busca de uma segunda graduação (MENDES et al., 2012); nova-
mente se tem um público especializado, com conhecimentos,
vivências e, também, experiência profissional.
Nesse caso, também não deve ser descon-
siderada pelas universidades a capacitação de
seu corpo docente, pois é comum que os profes-
sores, alguns bacharéis e não licenciados, tenham
ainda como modelo de docência os seus próprios
professores do passado, os quais exerciam uma práti-
ca condizente com um contexto e com um público que já
não existem mais (CUNHA, 2010).
O professor de algumas décadas atrás era visto como o
detentordo conhecimento, transmissor de conteúdos aos alunos,
com pouca preocupação em relação ao aprendizado real desse
conteúdo. Sua postura era reflexo de sua prática: fechada, com
pouco espaço para diálogo ou questionamentos.
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Como o professor era
visto antigamente.
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Como o professor é
visto hoje em dia.
28 Didática do ensino superior
No entanto, os contextos atuais trazem um aluno mais questio-
nador, crítico, que busca informação em diferentes fontes, procu-
rando no professor uma possibilidade de diálogo para compreender
os conceitos e ormular ele próprio os seus conhecimentos. O do-
cente, nesse momento, é mais mediador e menos transmissor,
uma vez que ele propicia os caminhos para a aprendizagem.
Portanto, torna-se importante buscar na andragogia e nos seus
princípios elementos que possam corroborar com o trabalho do
docente universitário, em direção a uma aprendizagem significa-
tiva que fomente no aluno o desejo de aprender, implicando, por
fim, na formação de um profissional competente e bem preparado,
não apenas no aspecto técnico, mas, também, do ponto de vista da
cidadania e da participação social.
Os contextos atuais exigem profissionais mais competentes,
capazes de se adaptar a diferentes situações, humanos e éticos.
Logo, somente a formação técnica, embora ainda importante, não
é suficiente. É nessa perspectiva formativa que as instituições de
nível superior devem atuar, refletindo sobre sua prática docente
e reformulando-a quando necessário, para que dela se resulte um
novo processo formativo.
Nessa perspectiva, a andragogia é um alicerce para a efetivação
de aprendizados significativos que se traduzam em formação efi-
caz e competente, rutos de uma prática pedagógica voltada para
as expectativas, necessidades e contextos dos alunos, pois, con-
forme anunciam Knowles, Holton III e Swanson (2009, p. 2), “nossa
posição é de que a andragogia apresenta princípios fundamentais
para a aprendizagem de adultos, que permitem àqueles que de-
sempenham e conduzem esse tipo de aprendizagem construir pro-
cessos mais eficazes”.
Esses processos mais eficazes, contudo, precisam de uma prá-
tica pedagógica dierenciada, que remeta a um novo olhar do pro-
essor, compreendendo o discente como parte ativa da própria
formação e, ainda, entendendo que essa aprendizagem do aluno
adulto perpassa os conteúdos curriculares, sendo parte, também,
de uma formação integral que o prepara para a atuação profissio-
nal e para o exercício da cidadania.

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