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Imunologia Geral e Clínica Aplicada à Farmácia Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Ana Carolina Alves Rocha Revisão Textual: Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira Imunoensaios Imunoensaios • Conhecer os princípios e as metodologias em imunoensaios; • Compreender a importância da qualidade nos exames laboratoriais; • Reconhecer e identificar os diferentes métodos de imunoensaios. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Qualidade nos Imunoensaios; • Metodologias em Imunoensaios. UNIDADE Imunoensaios Introdução Os imunoensaios são conhecidos como os métodos laboratoriais utilizados para diagnosticar doenças, medir substâncias de interesse clínico e laboratorial. Os imuno- ensaios são muitos utilizados para analisar a concentração de anticorpos, proteínas, hormônios e até mesmo marcadores tumorais, ou seja, podem ser usados para pes- quisar antígenos ou anticorpos. Existem atualmente diversos métodos laboratoriais de imunodiagnóstico. Nesta unidade, conheceremos alguns deles. Para entender imunoensaios é necessário compreender que para a formação de imunocomplexos é necessária a ligação de antígenos com anticorpos. A região anti- gênica onde eles se ligam chama-se epítopo (Figura 1). Epítopo: é a área do antígeno que se liga ao anticorpo, ou local de reconhecimento de um receptor de linfócito. Anticorpo Anticorpo Antígeno Antígeno Epítopo Figura 1 – Ilustração do epítopo e a formação de complexos Antígeno É toda estrutura capaz de reagir com células do sistema imune ou de interagir com anticorpo sintetizado contra si próprio. O antígeno pode ser capaz de ativar o siste- ma imune e induzir a produção de anticorpo, ou seja, apresentar imunogenicidade. Para isso, as células imunológicas que reconhecem antígeno devem diferenciar o que é próprio, self, do que é estranho, nonself, para então iniciar uma resposta imune. Outra propriedade do antígeno é a de se ligar ao anticorpo ou a receptores presentes em linfócitos B (BCR, B cell receptor) ou linfócitos T (TCR, T cell receptor). Essa ca- racterística é chamada antigenicidade. Enquanto o linfócito B é capaz de interagir com qualquer antígeno livre na corrente sanguínea, uma substância interage com o TCR no linfócito T por apresentação de antígeno expressas com as moléculas de MHC na superfície celular de uma célula apresentadora de antígenos. 8 9 Em Síntese Os linfócitos B podem ser ativados apenas com os antígenos livres, circulantes, enquanto os linfócitos T só são ativados mediante reconhecimento pelo MHC das células apresen- tadoras de antígenos. Proteínas Recombinantes A tecnologia de proteínas recombinantes é utilizada para obter e combinar genes de diferentes espécies e expressá-los em vários tipos de hospedeiros. A bactéria Escherichia coli tem sido usada com sucesso para a produção de proteínas pequenas e menos complexas. Essa tecnologia produz proteínas recombinantes necessárias para fins diagnósticos, terapêuticos e de prevenção de doenças. Antígenos Recombinantes A produção de proteínas recombinantes é muito útil no desenvolvimento de imu- noensaios. As proteínas recombinantes são em geral empregadas como antígenos, em imunoensaio enzimático (ELISA, enzyme-linked immunoassay), Immunoblot, Western blot, imunocromatografia, imunoprecipitação e outros métodos. Também podem ser utilizadas para induzir a produção de anticorpos poli ou monoclonais a serem utilizados em diversos tipos de imunoensaios. Imunoglobulinas ou Anticorpos As imunoglobulinas (Ig) ou anticorpos (ac) são produzidos por linfócitos B ativados (plasmócitos). A diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos ocorre após ativação pelo contato do antígeno com receptor de célula B (BCR). Anticorpos Monoclonais A utilização de anticorpos como ferramentas de identificação de antígenos é frequente. Georges Köhler e César Milstein, em 1975, descreveram a primeira técnica para obtenção de anticorpos monoclonais de especificidade definida e receberam o Prêmio Nobel em 1984 por essa descoberta. Para essa técnica, cada linfócito B produz anticorpo de especificidade única, consistindo na fusão de células secretoras de anticorpos (plasmócitos), isoladas de um animal imunizado com o antígeno de interesse, com células de mieloma, um tipo de tumor de linfócito B, não secretor de anticorpo, imortal. As células híbridas, ou hibridomas, podem ser mantidas in vitro indefinidamente e continuarão a secretar anticorpo com especificidade definida. Os anticorpos produzidos pelos hibridomas (Figura 2), derivados de um único clone, são conhecidos como monoclonais (AcMo ou Mab). 9 UNIDADE Imunoensaios Figura 2 Fonte: Adaptado de ABBAS, 2016 Produção de anticorpos monoclonais. Essa figura ilustra um camundongo sendo imunizado com um antígeno (antígeno X) no qual existe o interesse na produção do anticorpo específico para ele (anti-X). A partir da sensibiliza- ção, os linfócitos B são ativados, transformando-se em plasmócitos capazes de produzir o anti-X. Esses plasmócitos são fundidos com células HeLa, (cancerígenas), e passarão a serem chamados de hibridoma. Esses hibridomas se multiplicam e são produtores dos anticorpos anti-X. O mate- rial é purificado permitindo o uso dos anticorpos produzidos para os imunodiagnós- ticos e até mesmo tratamento de doenças. Hibridomas: é o resultado da fusão (união de duas células em uma só) de uma célula de mioloma (câncer) com um linfócito B normal, ativado com antígeno conhecido. Essa fusão de células (hibridoma) passa a secretar os anticorpos de interesse (que foram usados na imunização de um camundongo, por exemplo.) 10 11 Nesse vídeo você verá como ocorre a produção de monoclonais a partir de uma célula ativada: https://youtu.be/S_VZOV9E6zk Interações Antígenos-Anticorpos (Imunocomplexos) As interações multivalentes entre Ag-Ac são biologicamente significativas, e suas características também podem ser estudadas em sistemas de ensaios in vitro, pois imunocomplexos podem ser formados ao misturar o antígeno multivalente com anticorpo específico. Entender a importância da formação de imunocomplexos, bem como suas equi- valências, é entender a essência dos métodos analíticos por imunoensaios. Veja no link a seguir a ilustração da formação de imunocomplexos. Formação de imunocomplexos e a equivalência entre antígeno (azul) e anticorpos (preto), disponível em: https://bit.ly/33UySJM Qualidade nos Imunoensaios As análises laboratoriais em imunodiagnóstico devem seguir rigoroso controle na qualidade dos resultados. Isso é possível minimizando as probabilidades de erros e aumentando a probabilidade de definir um diagnóstico. Garantir a qualidade no preparo do paciente, na coleta do material, no transporte, nos métodos analíticos e na liberação dos laudos, minimiza a probabilidade de erros de resultados. Além disso, existem diversas formas de mensurar essa probabilidade por meio da análise de desempenho do ensaio, nas quais são analisados vários parâmetros, o que será explicado a seguir. Precisão e Exatidão A precisão é definida como a reprodutibilidade do resultado, ou seja, um teste é repetido várias vezes, na mesma amostra, no mesmo momento e no mesmo método analítico. Isso porque é necessário saber o quanto de variação existe naquele imu- noensaio. O objetivo aqui é obter a menor variação possível de resultados. O cálculo usado para essa análise é o coeficiente de variação (CV%). É importante saber que nem sempre um teste preciso é exato. A exatidão é definida como os resultados corretos, nela identifica-se, se de fato, o paciente está doente ou saudável, ou seja, é o resultado real. Nem sempre um resul- tado preciso (reproduz) é exato (resultado real), veja a Figura 3. 11 UNIDADE Imunoensaios A B C Figura 3 – Precisão e exatidão de testes diagnósticos Fonte: Adaptado de NICOLL et al., 2019 (A) Teste com precisão e sem exatidão, ou seja, reproduz o mesmo resul- tado, porém errado, por não ter acertado o alvo; (B) Testesem precisão e sem exatidão, os pontos referem-se aos resultados, mas estão espalhados, dispersos, longe do alvo; (C) Teste com precisão e exatidão, os pontos acer- tam o resultado real (alvo) e se reproduzem. Sensibilidade e Especificidade Sensibilidade de um ensaio (sensibilidade analítica) é definida como os resultados de pacientes doentes que dão positivos verdadeiros. Ela pode ser calculada com o número de resultados verdadeiros positivos (VP) e dividido pelo número de pacientes com a doença, independentemente se os resultados deram positivos (VP) ou falsos negativos (FN). O índice de sensibilidade pode ser expresso em porcentagem (%), bastando mul- tiplicar o valor obtido por 100. Sensibilidade VP FN VP � � Especificidade é a proporção de todos os indivíduos sem a doença que possuem resultados negativos. A especificidade é calculada como o número de verdadeiros resultados negativos dividido pelo número de todos os indivíduos sem a doença. Especificidade VN FP VN � � Metodologias em Imunoensaios Imunoprecipitação As técnicas de imunoprecipitação permitem identificar e até quantificar precipitados resultantes da interação de imunocomplexos. Dentre os vários fatores físico- químicos e imunológicos que interferem na quantidade de imunoprecipitado formado, os princi- pais são as concentrações relativas de antígeno e anticorpo (equivalência). O máximo de precipitação é observado quando as quantidades de antígeno e de anticorpo são equivalentes, diminuindo na presença de excesso de um ou outro componente. 12 13 Imunodifusão Baseia-se na difusão de antígenos ou anticorpos no ágar ou gel de agarose. No momento em que ocorre a interação entre as moléculas, são formados imuno- complexos de elevado peso molecular que, devido ao tamanho, ficam imobilizados no gel, o que permite visualizar o imunocomplexo em decorrência da formação de turvação nítida visível a olho nu, o imunoprecipitado (Figura 4). Figura 4 – Imunodifusão radial dupla Fonte: Adaptado de PROFBIO Imunoeletroforese Técnica que combina eletroforese e difusão dupla em meio gelificado, em tempos distintos por diferenças de carga elétrica. É uma migração de moléculas carregadas em um solvente condutor sob a influência de um campo elétrico. Como várias moléculas podem apresentar cargas elétricas próximas, a técnica as distribui em pontos próximos na migração eletroforética (Figuras 5 e 6). Figura 5 – Cuba eletroforética Fonte: Getty Images Figura 6 – Gel de agarose sendo revelado Fonte: Getty Images Nefelometria e turbidimetria A nefelometria e a turbidimetria são métodos utilizados para mensurar a formação de imunocomplexos em meio solúvel. Ambas as técnicas utilizam um feixe de luz para essa análise. Na nefelometria, a luz pode ser observada em todos os ângulos relacionados à direção do seu feixe, ou seja, é possível analisar a dispersão da luz. 13 UNIDADE Imunoensaios A turbidimetria possui condições semelhantes dos sistemas nefelométricos. A diferença é que o sinal de detecção é medido pela diminuição da luz incidente ao passar pelo tubo ou cubeta, ou seja, a absorbância, e não a intensidade de luz dispersa (Figura 7). Figura 7 – Diferenças nos métodos de turbidimetria e nefelometria Fonte: Adaptado de MCPHERSON; PINUS, 2012 Técnicas de Aglutinação A reação de aglutinação caracteriza-se pela formação de imunocomplexos que podem ser vistos a olho nu. As técnicas de aglutinação podem ser diretas ou indi- retas, isso significa que podemos pesquisar a presença de antígeno (proteínas do agente infeccioso) na amostra, ou pesquisar a presença de anticorpos (resposta imu- nológica na presença de um microrganismo). Para que a aglutinação aconteça e para que seja possível a formação de imu- nocomplexos, é necessário que se utilize partículas antigênicas naturais (hemácias, protozoários, bactérias) ou inertes (látex, poliestireno), nas quais os anticorpos ou antígenos se adsorvem na superfície, provocando a aglutinação. As reações de aglutinação são muito usadas no diagnóstico de doenças autoimu- nes, viroses, infecções bacterianas, infecções provocadas por protozoários, fungos e até tipagem sanguínea. Esses testes podem ser realizados em placas ou em tubos. Testes de Aglutinação Direta A aglutinação direta ocorre quando pesquisamos, na amostra do paciente, o agente causador da doença, ou seja, pesquisamos antígenos. Testes de Aglutinação Indireta A aglutinação indireta ocorre quando pesquisamos, na amostra do paciente, a resposta imune contra o patógeno, ou seja, pesquisamos anticorpos. 14 15 Floculação Esse método é o fundamento do Veneral Disease Research Laboratories (VDRL), teste realizado para diagnóstico de sífilis. A floculação é realizada a partir de uma suspensão antigênica que contém cardiolipina, colesterol e lecitina. Essas substâncias juntas formam estruturas micelares (Figura 8). Figura 8 – Ilustração do antígeno dos testes de fl oculação em forma de micelas Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010 O teste de VDRL é conhecido como teste não treponêmico, pois os anticorpos anti-treponema ligam-se às cardiolipinas das micelas. Se fosse um teste treponêmico, o “alvo” para ligação do anticorpo deveriam ser proteínas do microrganismo (antígenos). A ligação dos anticorpos presentes na amostra do paciente doente resulta na flocu- lação observada no microscópio (Figura 9 e 10). Figura 9 – Representação da formação da fl oculação na presença de anticorpos Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010 15 UNIDADE Imunoensaios No microscópio é possível visualizar a formação de flocos em casos de amos- tras positivas. Figura 10 – Fotografia em microscopia óptica com aumento de 100x na presença de floculação e na ausência de floculação Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010 Testes não treponêmicos: https://youtu.be/nAWWmxLM9vg Imunoensaios que Utilizam Conjugado Já compreendemos que para a realização de um imunoensaio é necessário a for- mação de imunocomplexos (antígeno-anticorpo). No entanto, nem sempre é possível visualizar a presença desses imunocomplexos. Para que possamos identificar, anali- sar, quantificar essa presença, muitas vezes se faz necessária a utilização de técnicas que utilizem conjugados. Os conjugados são duas moléculas ligadas covalentemente e que mantêm as suas propriedades sem prejuízo uma a outra. Em Síntese Vamos lá! Relembrando.... Para sabermos se existe uma determinada doença, preci- samos saber identificar a presença do microrganismo, ou se o corpo ativou a resposta imunológica. Se usarmos testes que identifiquem a presença do microrganismo, isso significa que queremos formar imunocomplexos e fazer as análises pesquisando a pre- sença de antígenos (pesquisa direta). Se usarmos testes que identifiquem se o corpo do doente teve o sistema imune ativado por um microrganismo, isso significa que quere- mos formar imunocomplexos e fazer as análises pesquisando os anticorpos na amostra do paciente (pesquisa indireta). Outra coisa que devemos lembrar é que um antígeno e um anticorpo são específicos entre si como chave e fechadura, e à região em que os dois combinam, chamamos de epítopo. 16 17 Figura 11 – Conjugado formado por anticorpo e marcador Fonte: Adaptado de Getty Images Um exemplo de conjugado (Figura 11) é o constituído por anticorpo marcado com uma enzima chamada peroxidase. Enquanto a função do anticorpo é formar o imunocomplexo com o antígeno da amostra do paciente, a peroxidase irá reagir com o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e oxigênio, presente na reação de ELISA (Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay). O conjugado tem essa como prin- cipal característica, marcar a formação dos imunocomplexos e, a partir daí, pode-se utilizar um método para quantificar a reação do marcador presente no conjugado. As diferentes técnicas e métodos existentes na atualidade diferem basicamente em relação ao marcador do conjugado, o sistema de revelação desse marcador, molécula conjugada ao marcador (antígeno ou anticorpo), origem dessamolécula e meio onde o ensaio imunológico ocorre. Dependendo do tipo de marcador do conjugado e o seu tipo revelador é possível classificar os diferentes tipos de métodos utilizados nos imunoensaios (Quadro 1). Quadro 1 – Tipos de conjugado e métodos. MÉTODO TIPO DE MARCADOR REAÇÃO DO MARCADOR Radioimunoensaio Radioisótopos Radiação Imunofluorescência Fluorocromos Fluorescência Quimioluminescêscia Substratos luminescentes Quimioluminescência ELISA Substratos cromogênicos Imunoenzimática Fluorimetria Substratos fluorigênicos Fluorimetria Imunocromatografia Ouro coloidal Cromogenia A molécula conjugada pode ser uma proteína, antígenos, imunoglobulinas ou hap- tenos. Os antígenos podem ser representados por moléculas derivadas de patógenos, hormônios, marcadores celulares, marcadores tumorais, entre outros. Os anticorpos podem ser de origem policlonal ou monoclonal. Como haptenos, tem-se uma vasta categoria de moléculas orgânicas. 17 UNIDADE Imunoensaios Fluorescência Nos testes de imunofluorescência são empregados conjugados constituídos de anticorpos ou antígenos ligados covalentemente a moléculas reveladoras denomina- das fluorocromos, que absorvem luz em comprimento de onda baixo com elevada energia, e a emitem em comprimento de onda maior com menor energia, fenômeno conhecido como fluorescência. Imunofluorescência direta É caracterizada pela detecção do antígeno diretamente em células ou tecidos, intracelular ou de membrana, utilizando um anticorpo específico marcado com fluo- rocromos (Figura 12). F F F F + Método direto Antígeno Anticorpo marcado Lavagem Fluorescência Figura 12 – Método de imunofluorescência direta Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017 Imunofluorescência indireta Utiliza um anticorpo anti-Ig marcado com fluorocromo para detectar anticorpos que se fixaram em antígenos celulares ou particulados. A especificidade do conjugado permite identificar diferentes classes de anticorpos nas amostras, como anti-IgG ou anti-IgA (Figura 13). Figura 13 – Método de imunofluorescência indireta Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017 Radioimunoensaio O radioimunoensaio (RIE) foi a primeira técnica imunológica padronizada capaz de detectar e quantificar substâncias presentes em amostras com limite de detecção 18 19 da ordem de picogramas, portanto, capaz de determinar a presença de hormônios. O RIE emprega moléculas de antígeno ou anticorpo marcadas com radioisótipos (I125) (Figura 14). Figura 14 – Esquema do método Radioimunoensaio Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017 ELISA O imunoensaio enzimático (ELISA, enzyme-linked immunosorbent assay) é um ensaio muito empregado nos laboratórios e baseia-se na análise de antígeno ou anticorpo, em placas plásticas (Figura 15) utilizando um conjugado, que também pode ser antígeno ou anticorpo, ligado a uma enzima (peroxidase). O substrato, ao entrar em contato com a enzima, forma um produto colorido e quantificado por meio de espectrofotômetro, que determina a relação entre a intensidade da cor e a quantidade do que está sendo analisado na amostra por meio de uma curva de calibração. Figura 15 – Placa de ELISA Fonte: Getty Images O ELISA pode ser utilizado para pesquisa de antígenos: competitivo com antígeno marcado; competitivo com anticorpo marcado; e captura de antígeno ou sanduíche, além de também poder ser empregado para pesquisa de anticorpos indireto e cap- tura de anticorpos classe-específica. 19 UNIDADE Imunoensaios Figura 16 Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017 • Método indireto: Pesquisa de anticorpos na amostra. Na fase sólida (placa) estão impregnados antígenos, assim, pesquisamos a presença de anticorpos na amostra. • Método direto: Pesquisa de antígenos na amostra. Na fase sólida (placa) estão impregnados anticorpos, assim, pesquisamos a presença de antígenos na amostra. Western blotting O Western-blot é o método utilizado para identificar proteínas e glicoproteínas específicas, ao contrário do Nortern blotting, que é utilizado para identificar ácidos nucléicos. Esse método separa as proteínas de acordo com o tamanho por eletro- forese em gel de poliacrilamida. Após separação, são transferidas do gel para uma membrana de nitrocelulose com o padrão de bandas imobilizado. A partir do blo- queio dessas proteínas, a membrana de nitrocelulose é submergida em uma solução contento conjugado (anticorpos marcados com enzima) e em seguida é adicionada uma solução cromogênica que irá agir com a enzima do conjugado, podendo assim, visualizar as bandas formadas (Figura 17). 20 21 Figura 17 – Técnica de Western blotting Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017 A. Separação das proteínas por tamanho em eletroforese. B. Transferência das proteínas do gel para a membrana de nitrocelulose. C. Imunocomplexos por ligação do conjugado e revelação por ação do substrato cromogênico. Quimiluminescência É um método que utiliza a emissão de luz (luminescência) a partir de uma reação química quando moléculas passam do estado de excitação para o basal eletrônico. Essa luz é medida por um luminômetro. O princípio desse método é detectar a for- mação de imunocomplexos a partir da reação química do conjugado que contém a enzima capaz de emitir luz ao contato com o substrato. Esses ensaios podem ser homogêneos ou heterogêneos, e os reagentes emprega- dos como luminescentes são, por exemplo, éster de acridina, diretamente conjugado ao antígeno ou anticorpo e que na presença de agentes oxidantes emite luminescên- cia, ou adamantil 1,2-dioxietano aril-fosfato, que na presença de fosfafase alcalina do conjugado gera o ânion adamantildioxietano instável e luz. Outros dioxetanos podem ser usados como substrato para galactosidase. 21 UNIDADE Imunoensaios Os ensaios quimiluminescentes são muito mais sensíveis, rápidos, precisos e reprodutíveis que os enzimaimunoensaios coloridos (ELISA). Imunocromatografia ou Testes Rápidos Mais recentemente, tem-se aumentado o interesse por testes rápidos que possam ser realizados à beira do leito. Usualmente denominados testes rápidos ou testes remotos, eles dispensam reagentes adicionais ou equipamentos. São testes de tria- gem, portanto, de elevada sensibilidade. O teste usado na determinação da glicemia (glicosímetros), que utiliza método enzimático químico e o teste de gravidez, que uti- liza o método imunológicos, são exemplos comuns desse tipo de teste. Ambos estão disponíveis comercialmente em farmácias e drogarias e são de uso fácil. Além desses testes, existem vários outros em uso por médicos e profissionais da enfermagem, como o para pesquisa de anticorpos anti-HIV. Esse método emprega corante insolúvel, por exemplo, ouro coloidal (róseo), ou prata coloidal (azul-marinho) como revelador da formação de imunocomplexo. O corante pode ser usado ligado a antígeno ou imunoglobulinas. Pesquisa de antígenos: utiliza-se anticorpos fixados na linha de captura e, como conjugado, um segundo anticorpo marcado com corante. A amostra aplicada liga-se ao conjugado colorido, e, após a migração por cromatografia, a formação do imuno- complexo é revelada pelo depósito do corante coloidal na linha de captura (Figura 18). 22 23 Figura 18 Fonte: FERREIRA, 2017 Componentes e mecanismos de pesquisa de antígeno (pesquisa direta). A. O anticorpo marcado (Ac marcado), especí fico para o antí geno-alvo, está na parte inferior da fita de nitrocelulose ou em uma cavidade do sis- tema. O anticorpo de captura, especí fico para o antí geno-alvo, está ligado à membrana na linha “teste”. O anticorpo (especí fico para o Ac marca- do), ou antí geno, está ligado à membrana na linha “controle”. Antes da reaç ã o, essas linhas nã o aparecem. B. Amostra (sangue, soro, saliva, urina) e tampã o sã o colocados no local indicado. Pela adiç ã o da amostra e do tampã o, o Ac marcado é solubilizado e migra no fluxo da amostra. Se o antí geno-alvo estiver presente na amostra, vai se ligar ao Ac marcado, for- mando um complexo antí geno-Ac marcado. C. Aopassar pela regiã o da membrana em que o anticorpo de captura está imobilizado, o complexo antí geno-Ac marcado será retido na linha “teste” e haverá desenvolvimento de cor proporcionalmente à quantidade de antí geno presente na amostra. O anticorpo marcado livre será retido na linha “controle”, havendo desen- volvimento de cor. Adaptado de WHO, 2011b. Pesquisa de anticorpos: podem-se utilizar excesso de amostra e quantidade limi- tada de antígeno marcado com corante para migrar com o anticorpo da amostra. O sanduíche é formado na linha de captura contendo também o antígeno específico. Também pode ser utilizada anti-Ig marcada, que irá se ligar às imunoglobulinas da amostra. Os imunocomplexos serão formados na linha de captura contendo o antí- geno específico. Teste rápido para HIV: https://youtu.be/QCmEV68ubIQ 23 UNIDADE Imunoensaios Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Teste Rápido para diagnóstico de HIV (ABON) https://youtu.be/QCmEV68ubIQ Sífilis - Testes não treponêmicos https://youtu.be/nAWWmxLM9vg IST - Cuidados na execução dos testes rápidos - Módulo 1 https://youtu.be/dw7Kd7mvGZo Leitura Sífilis – Estratégias para Diagnóstico no Brasil https://bit.ly/3mZvMgk Manual Técnico para Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças https://bit.ly/3kRkgBK 24 25 Referências BRASIL. Sífilis. Estratégias para Diagnóstico no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, Coordenação de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids. 2010. 100 p. (Série TELELAB) FERREIRA, A. W. Diagnó stico laboratorial das principais doenç as infecciosas e autoimunes: correlaç õ es clí nico-laboratoriais. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2017. KINDT, T. J.; GOLDSBY, R. A.; OSBORNE, B. A. Imunologia de Kuby. 6 ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2008. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais de Henry. 21. ed. São Paulo: Manole, 2013. (e-book) VAZ, A. Imunoensaios: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. 25
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