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Unidade II ESTUDOS DISCIPLINARES FORMAÇÃO ESPECÍFICA DE LETRAS Prof. Adilson Oliveira Esta aula destaca uma seleção de temas relacionados à língua portuguesa, que, por meio de questões, visam a estimular a capacidade do aluno de interpretar textos, desenvolver a prática reflexiva acerca de questões linguísticas, estabelecer relações e interligar conhecimentos. O material é organizado em assuntos, com delimitações de temas, questões e comentários que motivam a reflexão e permitem a ampliação de conhecimentos. Entre os assuntos abordados, temos relação texto-discurso, gêneros textuais, tipologias textuais, vícios de linguagem, formação das palavras e fonologia. Apresentação Considerando-se o fato de que toda comunicação humana ocorre a partir de relações mediadas pela linguagem e que ela se faz presente a partir de modos relativamente estáveis de organização, os chamados gêneros discursivos, e considerando-se também que tais relações tornam-se, a cada dia, mais complexas, é possível compreender como os gêneros discursivos têm se modificado intensamente, mesclando diferentes linguagens e códigos, caracterizando o que tem sido chamado, nos estudos linguísticos, de hibridização ou intergenericidade. Para estudar tal fenômeno, iniciemos com a discussão sobre gênero discursivo, na perspectiva bakhtiniana. Gêneros textuais Para Bakhtin (2003), os gêneros discursivos são estruturas sócio- historicamente construídas, elaboradas dentro de dada esfera de comunicação humana, disponíveis às comunidades discursivas. Tais gêneros são relativamente estáveis. Isso significa dizer que, ao longo da história e do desenvolvimento cultural, os gêneros sofrem modificações em função das necessidades que emergem nas comunidades de uso. Ainda para o teórico, três aspectos fundamentais caracterizam os gêneros: conteúdo temático, estilo e forma composicional, sempre entendidos em sua interdependência, pois não fazem sentido quando estudados separadamente. É, pois, estudando essas dimensões que se torna possível compreender como as regularidades vão se constituindo e tornando-se relativamente estáveis. Gêneros textuais A partir das necessidades socioculturais, novos gêneros podem surgir e, mais do que isso, podem passar a fazer parte de nossa cultura os gêneros que mesclam outros já existentes. A hibridização ou intertextualidade intergêneros é o fenômeno segundo o qual um gênero pode assumir a forma de outro gênero, tendo em vista o propósito de comunicação. Isso implica considerar textos que apresentam a forma de um dado gênero e a função de outro: um gênero traz, em sua forma composicional, as características de outro gênero, embora mantenha sua função comunicativa. Nessa perspectiva, podemos dizer que em determinado gênero reside uma intenção comunicativa distinta da prevista para ele. Gêneros textuais “A questão central não é o problema da nomeação dos gêneros, mas o de sua identificação, pois é comum burlarmos cânon de um gênero fazendo uma mescla de formas e funções. No geral, os gêneros estão bem fixados e não oferecem problemas para sua identificação. No caso de mistura de gêneros, adoto a sugestão da linguista alemã Ulla Fix (1997:97), que usa a expressão ‘intertextualidade tipológica’ para designar esse aspecto de hibridização ou mescla de gêneros, em que um gênero assume a função de outro.” MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. Com base na ideia de Marcuschi de intergenericidade, qual dos textos a seguir não justifica a definição apresentada pelo autor? Interatividade A. Viva saudável com os livros. Diogenes. Os livros Diogenes acham-se internacionalmente introduzidos na biblioterapia. Posologia. As áreas de aplicação são muitas. Principalmente resfriados, corizas, dores de garganta e rouquidão, mas também nervosismo, irritações em geral e dificuldade de concentração. Em geral, os livros Diogenes atuam no processo de cura de quase todas as doenças para as quais prescreve-se descanso. Sucessos especiais foram registrados em casos de convalescença. Interatividade Propriedades. O efeito se faz notar pouco tempo após iniciada a leitura e tem grande durabilidade. Livros Diogenes aliviam rapidamente a dor, estimulam a circulação sanguínea, e o estado geral melhora. Precauções/riscos. MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial. 2008, p. 165-6 Interatividade B. Um novo José Josias de Souza – São Paulo “Calma, José A festa não recomeçou, a luz não acendeu, a noite não esquentou, o Malan não amoleceu. Mas se voltar a pergunta: e agora, José? Diga: ora, Drummond, agora Camdessus. Interatividade Continua sem mulher, continua sem discurso, continua sem carinho, ainda não pode beber, ainda não pode fumar, cuspir ainda não pode, a noite ainda é fria, o dia ainda não veio, o riso ainda não veio, (...).” Folha de S. Paulo, Caderno 1, p. 2, 4/10/1999. Interatividade C. Interatividade Disponível em: <newserrado.com>. Acesso em 31 ago. 2011. D. Panquecas de banana Interatividade Modo de preparo 1. Coloque o leite no copo do liquidificador. Acrescente os ovos, a margarina, a farinha de trigo, a maisena e o sal. Bata até homogeneizar a mistura. 2. Desligue o liquidificador, raspe a farinha de trigo das paredes do copo com uma espátula e bata novamente durante alguns segundos. Coloque a mistura na geladeira e deixe repousar durante 30 minutos. 3. Esquente uma frigideira com um pouco de margarina. Despeje uma porção da mistura bem fria e cozinhe de ambos os lados até dourar. 4. Recheie com doce de leite e coloque a banana no meio. Enrole e retire os extremos que não têm recheio. Disponível em: <http://www.recepedia.com/profile/chef-recepedia_br/panquecas- debanana>. Acesso em 31 ago. 2011. Interatividade E. Interatividade “A Criação do Cebolinha”, 1994 – acrílica sobre tela, 109x209 cm. “A Criação de Adão”, 1510 – Michelangelo (1475-1564), afresco, 280x570 cm. Disponível em: <elsonador2.blogger.com.br>. Acesso em 31 ago. 2011. d) Alternativa correta. Justificativa. É possível que utilizemos uma mescla de gêneros nos diferentes contextos comunicacionais. Os textos obtidos da mescla de gêneros conservam características dos gêneros que os compõem, adequando-se às situações de comunicação. Como, na questão, estamos à procura do texto que não apresenta essa mescla de gêneros ou hibridização ou intergenericidade, destacamos a receita de panquecas como o único entre os textos explicitados que não mescla gêneros: apresenta uma lista de ingredientes de fato correspondentes àqueles utilizados para se fazer panquecas, ou seja, um texto instrucional indicando o modo de fazer panquecas. Resposta O vício de linguagem denominado gerundismo é muito frequente em nosso cotidiano. Convencionou-se popularmente de gerundismo o fenômeno linguístico denominado perífrase, quando formado pelo verbo ir (no presente) seguido do verbo estar (no infinitivo) e de outro verbo no gerúndio. Exemplificando: vou estar ligando, vou estar conseguindo, ele vai estar desenvolvendo. Vício de linguagem: gerundismo Tais construções linguísticas remetem ao tempo verbal futuro (ligarei, conseguirei, ele desenvolverá), mas outras construções menos frequentes também podem ser inseridas no grupo dos gerundismos, como é o caso de “não foi possível estar resolvendo seu problema”, que, embora caracterize uma ação no pretérito, sem o uso do verbo ir, também faz uso do verbo no gerúndio e poderia ser substituída por “não foi possível resolver seu problema”. Gerundismo É possível argumentar que na própria denominação gerundismo transparece uma atitude – negativa, dada a carga semântica do sufixo -ismo, que tem geralmente conotações de doençaou vício, como no caso de tabagismo. Essa discussão sobre o gerundismo já teve seu período de efervescência nos anos 2000, mas atualmente tem perdido espaço na academia, justamente pela falta de publicações sobre o tema. Gerundismo Destaca-se que sua estrutura linguística não se constitui em erro do ponto de vista da sintaxe da língua portuguesa. Há de se considerar um aspecto importante nas construções linguísticas com o gerúndio: semanticamente, há grande diferença entre: 1. “vou fazer” ou “farei” e 2. “vou estar fazendo”. Em (1), sem o gerúndio, o enunciado tem um caráter de instantaneidade. Já o enunciado (2), com o uso do gerúndio, tem o que se chama de “aspecto durativo”. Gerundismo Há formas de uso do gerúndio problemáticas, como as apresentadas. No entanto, há outras que não nos causariam espanto. Por exemplo: ele está trabalhando, continua espiando, diverte-se cantando, entre outras. Assim, mais adequado seria denominar o fenômeno do uso inadequado do gerúndio não de gerundismo, mas de estarismo – uso inadequado do verbo estar – pois, segundo o autor, é exatamente esse o verbo que causa estranhamento no discurso, quando associado ao gerúndio. Gerundismo O sujeito é pleonástico quando vem repetido. Veja os exemplos abaixo: O aprendiz desatento, esse jamais aprenderá. O demonstrativo “esse” reforça o sujeito “aprendiz”. Os diamantes... esses são eternos. Sujeito pleonástico No meio do meu descanso, toca o telefone: “Boa tarde, senhor. Aqui é da Mega Plus International, que, por sua boa relação como cliente, vai estar disponibilizando, totalmente grátis, sem nenhum custo adicional, o Ultra Mega Plus Card, com todas as vantagens do programa especial Mega Plus Services. Vai estar também oferecendo...” Pronto, já me perdi no gerúndio desnecessário dela. Respondo: “Obrigado pela oferta, mas não vou estar querendo, já tenho outro” “Mas, senhor...”, insiste a atendente, “que vantagens o seu cartão já oferece?” Respondo: “Não oferece vantagem nenhuma, mas o que rola entre a gente é uma relação sem interesse, é só amor mesmo...sabe aquele não querer mais que bem querer de Camões. A atendente de telemarketing se despede, mas não sem antes rir do outro lado da linha. Disponível em <www.sacodefilo.com>. Acesso em 03 ago. 2011 (com adaptações). Interatividade Em casos como o do texto anterior, o uso do gerúndio constitui mais o que a descrição tradicional chamaria de vício de linguagem do que propriamente uso incorreto do ponto de vista da norma padrão. Dessa forma, esse uso fere mais aspectos estilísticos que estruturais da norma. Nessa perspectiva, assinale a opção em que o enunciado apresenta o mesmo tipo de inadequação linguística. a) O Mário, ele vive dizendo que não gosta de ir ao cinema. b) Você sabe que tenho ainda todas as tuas anotações do caso. Interatividade c) Eu, naquele momento de susto, se senti confuso e atordoado. d) Pediu para que seje visto o caso com maior atenção possível. e) A vítima do estrupo deu queixas na delegacia de sua cidade. Interatividade a) Alternativa correta. Justificativa. Na oração “O Mário, ele vive dizendo que não gosta de ir ao cinema”, temos o chamado sujeito pleonástico. Por pleonasmo entende-se a repetição de um termo já expresso ou de uma ideia já sugerida, com a finalidade de enfatizar o que foi dito. O que se tem na oração apresentada é a repetição do sujeito Mário, cuja ênfase está no uso do pronome ele, funcionando também como sujeito. Esse tipo de pleonasmo é chamado de pleonasmo de função, uma vez que a repetição é de um elemento que retoma a função de outro. Resposta Grande parte das palavras da língua portuguesa tem origem na língua latina. Há palavras, no entanto, que têm origem em outras línguas ou até mesmo foram criadas a partir da composição de palavras já existentes em nossa língua. Esse processo de construção do idioma é histórico e ininterrupto. Basta observar que, ao longo dos tempos, criamos neologismos, que passam a fazer parte da língua portuguesa. Como principais processos de formação das palavras, temos a derivação e a composição. Outros de menor frequência são a onomatopeia, a reduplicação, o hibridismo e as siglas. Formação das palavras Derivação: formação de um vocábulo a partir do acréscimo de afixos (prefixos e sufixos) a um só radical. Ex.: felizmente (feliz + mente). Composição: formação de um vocábulo a partir de dois ou mais radicais. Ex.: amor-perfeito. Vejamos como ocorrem a derivação prefixal e a derivação sufixal. A primeira ocorre pelo acréscimo de um prefixo a um radical; a segunda, pelo acréscimo de um sufixo. Há palavras que se formam pelo acréscimo de mais de um afixo, como desrespeitosamente: des (pref.) + respeit (rad.) + osa (suf.) + mente (suf.). Formação das palavras Há, ainda, a derivação denominada parassintética, que consiste na adjunção simultânea de um prefixo e de um sufixo a um radical, de forma que a exclusão de um ou de outro resulta em uma forma inaceitável na língua: esclarecer – não existe o adjetivo esclaro (ao eliminar-se o sufixo cer) nem o verbo clarecer (ao eliminar-se o prefixo es). A derivação regressiva consiste na eliminação de uma terminação do vocábulo derivante. Ex.: busca – derivado de buscar (eliminação do ‘r’ final). Observemos, agora, os seguintes casos: combater – combate / tocar – toque / plantar – planta. Nessas derivações, quem deriva de quem? O verbo deriva do substantivo? Ou o substantivo deriva do verbo? Formação das palavras Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o verbo palavra primitiva, mas se o nome denota algum objeto ou substância, se verificará o contrário. Assim, podemos concluir que, nos exemplos apresentados, o que segue. combater – combate => substantivo combate denota ação, portanto, ele é derivado do verbo combater; tocar – toque => substantivo toque denota ação, portanto, ele é derivado do verbo tocar; plantar – planta => substantivo planta denota um ente (coisa), portanto, o verbo plantar é a palavra derivada. Formação das palavras Derivação pelo processo de nominalização é o que ocorre quando o processo gramatical forma nomes a partir de outras partes do discurso, usualmente verbos e adjetivos. Sufixos nominalizadores são: -ança, -ção, -mente. Ex.: A lembrança de meu pai (em lugar de lembrei-me de meu pai); a nomeação do secretário (em lugar de o secretário foi nomeado). Já a abreviação é a utilização de uma parte da palavra, que dá o sentido do todo. Na abreviação, o novo vocábulo, embora reduzido, permanece na mesma classe gramatical. Ex.: cinema => cine / pneumático => pneu / Florianópolis => Floripa. Formação das palavras A derivação imprópria ocorre quando um vocábulo muda de classe gramatical, mas sua forma não se altera. Ex.: O dizer do réu foi considerado (de verbo para substantivo). / Realizaram um ataque relâmpago na cidade (de substantivo para adjetivo). Quanto à composição, podemos distinguir a justaposição e a aglutinação. Justaposição: ocorre quando os termos associados conservam a sua individualidade. Ex.: passatempo. Aglutinação: ocorre quando os vocábulos ligados se fundem num todo fonético, com um único acento, e o primeiro perde alguns elementos fonéticos (acento tônico, vogais ou consoantes). Ex.: pernalta. Formação das palavras Onomatopeia corresponde ao processo de formação de vocábulo que procura imitar o som de alguma coisa ou a voz de animais. Costuma ser monossílabo. Hibridismo corresponde à formação de vocábulos a partir de elementos originários de línguas diferentes. Ex.: hiperacidez => hiper (grego) + acidez (português) / burocracia => buro (francês) + cracia (grego). Formação das palavras Quero pedir permissão à língua portuguesa para usar duas palavras que, na verdade,são inexistentes oficialmente, quais sejam: crackudo e vacilão. Crackudo é originário do termo crack. A palavra foi recentemente criada para identificar o indivíduo que é usuário dessa droga, ou seja, crackudo nada mais é do que o consumidor do crack. Quanto a vacilão, tal palavra é originada do verbo vacilar, que significa não estar firme, cambalear, enfraquecer, oscilar. Vacilão, na linguagem popular, nada mais é do que o indivíduo que não mede as consequências dos seus atos e sempre ingressa em algo que não é bom para si e que só lhe traz malefícios ou aborrecimentos. E, em assim sendo, o crackudo é um vacilão! Disponível em <www2.forumseguranca.org.br/node/22783>. Acesso em 12 ago. 2015 (com adaptações). Interatividade O sufixo [-ão] opera como uma desinência formadora de aumentativos, superlativos e agentivos em português, como indicado no exemplo apresentado no texto acima. Tem-se, também, o sufixo [-udo], que indica grande quantidade de X; em seu uso mais típico, X é igual à parte aumentada (orelhudo, narigudo, beiçudo, barrigudo etc.). Considerando essas informações e o texto acima, conclui-se que o vocábulo “vacilão” possui um sufixo: a) agentivo, como o que se observa em “caminhão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, ocorre a mesma motivação semântica existente em “beiçudo”. Interatividade b) agentivo, como o que se observa em “mijão”, e que o sufixo [-udo] em “crackudo” apresenta a mesma motivação semântica existente em “orelhudo” e “narigudo”. c) agentivo, assim como o vocábulo “resmungão”, e que o uso do sufixo [-udo] em “crackudo” resulta em uma formação vocabular incomum na língua portuguesa. d) aumentativo, como o que se observa em “macarrão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, se observa a mesma motivação semântica existente nos vocábulos “orelhudo” e “sisudo”. e) aumentativo, como o observado em “panelão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, se observa uma construção incomum na língua portuguesa, dada a produtividade baixa do referido sufixo. Interatividade c) Alternativa correta. Justificativa. Em “vacilão”, [-ão] é agentivo, assim como em “resmungão”. A palavra é formada pelo acréscimo do sufixo [-ão] a vacilo, transformando-a em uma palavra que indica um ser em ação (homem em ação de vacilar). Quanto ao sufixo [-udo], em “crackudo”, de acordo com o texto, a palavra formada não tem função semântica de indicar grande quantidade de crack, portanto, a formação do vocábulo não é comum na língua portuguesa. Resposta Inúmeras variações linguísticas estão presentes no português brasileiro e têm sido descritas por estudiosos que buscam compreender como ocorrem as modificações no uso da língua. Dentre as de maior ocorrência, estão as variações que apresentam semelhanças com outra língua, muitas vezes, a indígena, ou com línguas faladas por imigrantes nas diferentes regiões do país. Essas modificações sofridas pela língua, até que tenha se tornado um sistema linguístico autônomo, são chamadas de metaplasmos. O fenômeno linguístico da assimilação Já estudamos as diferentes ocorrências de metaplasmos e abordaremos, agora, os que ocorrem por assimilação, fenômeno linguístico que consiste em transformar um determinado fonema em outro que seja igual ou semelhante a um que lhe é contíguo dentro da mesma palavra. Ou seja: um fonema influencia outro fonema, tornando-o semelhante a ele próprio. Exemplificando: vostra passa a ser vossa – o fonema /t/ é influenciado pelo fonema /s/ e passa a ser /s/. O fenômeno linguístico da assimilação A assimilação pode ocorrer de maneira total ou parcial. A total pode ser progressiva ou regressiva. a) Assimilação total ou completa: ocorre quando o fonema assimilado é igual ao fonema assimilador. Ex.: persona > pessoa (/r/ assimila o som de /s/); O fenômeno linguístico da assimilação a1) Assimilação progressiva: ocorre de trás para frente; o fonema da esquerda influencia o fonema da direita. Ex.: nostro > nosso (/t/ assimila o som de /s/, ou /s/ influencia /t/); a2) Assimilação regressiva: ocorre da frente para trás; o fonema da direita influencia o da esquerda. Ex.: cama [kãma] (/a/ assimila o som de /m/, ou /m/ influencia /a/); O fenômeno linguístico da assimilação b) Assimilação parcial ou incompleta: ocorre quando o fonema assimilado é semelhante ao fonema assimilador. Ex.: auru > ouro (/a/ assimila o som de /o/ no início da palavra; /u/ assimila o som de /o/ no final da palavra). O fenômeno linguístico da assimilação Muitas variações linguísticas são estigmatizadas e avaliadas negativamente na sociedade, desencadeando o que chamamos preconceito linguístico. A esse respeito, vale ressaltar que, do ponto de vista social, há que se considerar o estigma associado a traços da linguagem popular que funcionam em detrimento da ascensão social do indivíduo. O fenômeno linguístico da assimilação “Roráima” ou “Rorâima”, como você preferir. É que, segundo os linguistas, as regras fônicas de uma palavra são regidas pela língua falada. Portanto, não há certo ou errado. Há apenas a maneira como as pessoas falam. O que se observa na língua portuguesa falada no Brasil é que sílabas tônicas que vêm antes de consoantes nasalizadas (como “m” ou “n”) também se nasalizam (aperte o seu nariz e repita a palavra cama. Sentiu os ossinhos vibrarem? É a tal nasalização). Por isso, a gente diz “cãma” –– o “ca” é a sílaba tônica e o “m” é nasalizado. Se a sílaba que vier antes dessa mesma consoante não for uma sílaba tônica, a pronúncia passa a ser opcional: você escolhe –– “bánana” ou “bãnana”. No caso de Roraima, a sílaba problemática (“ra”) é tônica e vem antes do “m”. Interatividade Mas aí entra em cena o “i”, que acaba com qualquer regra. A mesma coisa acontece com o nome próprio Jaime: tem gente que nasaliza, tem gente que não. Então, fique tranquilo: se você sempre falou “Rorâima”, siga em frente –– ninguém pode corrigi-lo por isso. No máximo, você vai pagar de turista se resolver dar umas voltas por lá –– os moradores do estado, não adianta, são unânimes em falar “Roráima”. Disponível em: <http://super.abril.com.br/revista/255/materia_revista_293629.shtml?pagina=1>. Acesso em 12 ago. 2015 (com adaptações). Interatividade A leitura do texto nos remete à discussão sobre a pronúncia em português de palavras externas à nossa língua (Roraima tem origem indígena). Para Mattoso Câmara Jr, a nasalização da pronúncia é um processo previsível na língua e definido como assimilação, ou seja, a extensão de um ou vários movimentos articulatórios além de seus domínios originários. É o caso de uma sílaba oral que se determina pela assimilação da sílaba nasal seguinte. A partir das informações apresentadas, avalie as afirmações que se seguem: I. A palavra Roraima manteve-se inalterada na pronúncia ao ser usada no português e apresenta a sua forma original (indígena) ao ser falada em nossa língua. Interatividade II. A palavra Roraima sofre alteração da pronúncia em razão de um processo de assimilação regressiva em que a sílaba posterior contamina de nasalidade a anterior, como em cama, lama, banana no português. III. A palavra Roraima, em decorrência da etimologia, assume dupla possibilidade de pronúncia por motivos parecidos com o de outras palavras estrangeiras que ingressam no português. IV. A palavra Roraima é um substantivo próprio e, de acordo com a gramática, deve ser pronunciada exatamente igual à sua pronúncia na língua de origem. Interatividade a) I. b) II. c) IV. d) I e III. e) II e III. Interatividade e) II e III. II. Afirmativa correta. Justificativa. Roraima passa por processo de assimilação regressiva: um som (râ) é modificado por influência do som seguinte /m/, ou seja, /m/ contamina de nasalidade a sílaba (râ). Isso ocorre também com as palavrascama, lama e banana, como indicado na questão. III. Afirmativa correta. Justificativa. Como etimologicamente Roraima vem da língua indígena, de acordo com o texto, ela pode ser pronunciada de duas maneiras na língua portuguesa. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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