Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (IC) Definição do ponto de vista hemodinâmico • IC é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma a atender às necessidades metabólicas tissulares, ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento. https://www.youtube.com/watch?v=rhz2lYE7JCc Definição universal de IC: • A IC é uma síndrome clínica com sinais e/ou sintomas causados por uma anormalidade estrutural e/ou funcional do coração, corroborada por níveis elevados de BNP e/ou evidência objetiva de congestão pulmonar ou sistêmica. • Tal síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam da redução no débito cardíaco e/ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço • Qualquer condição que afete a sístole e/ou diástole pode levar à IC. Com isso, o principal achado fisiopatológico da IC será a presença de débito cardíaco reduzido e/ou pressões de enchimento elevadas durante o repouso ou aos esforços. • A IC pode ser causada por anormalidade na função sistólica, produzindo redução do volume sistólico (IC sistólica) ou anormalidade na função diastólica, levando a defeito no enchimento ventricular (IC diastólica), que também determina sintomas típicos de IC. No entanto, em muitos pacientes, coexistem as disfunções sistólica e a diastólica. Assim, convencionou-se definir os pacientes com IC de acordo com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). A IC é, em geral, a via final de diferentes doenças que acometem o coração Redução de fração de ejeção de ventriculo esquerdo (FEVE) ou direito (FEVD): quando a fração da FEVE e/ou FEVD de ejeção de ventrículo esquerdo/direito é reduzida, é chamada sistólica ou mais comumente IC com fração de ejeção reduzida (IC FEVEr); inversamente, é chamada de IC com FEVE preservada (FEVEp) https://www.youtube.com/watch?v=rhz2lYE7JCc (diastólica), quando a FEVE não é comprometida. Na IC com FEVEp, há dificuldade de enchimento do coração ou enchimento com pressões elevadas, mas o volume sistólico em repouso é preservado CLASSIFICAÇÃO: • Fração de ejeção; • Gravidade dos sintomas; • Tempo e progressão da doença. Classificação de acordo com a fração de ejeção: A diferenciação dos pacientes de acordo com a FEVE tem importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta à terapêutica • Somente pacientes com ICFEr têm demonstrado de fato redução consistente da morbimortalidade com o tratamento farmacológico instituído • Mortalidade: ICFEr > ICFEp • Pacientes com ICFEi podem representar diferentes fenótipos, incluindo pacientes em transição da ICFEp para ICFEr, ou vice-versa, quando ocorre recuperação da fração de ejeção após tratamento adequado da ICFEr • Enquanto uma hipótese sugere que as duas sejam entidades diferentes, outra supõe que a IC com FEVEr seja evolução da IC com FEVEp • No que tange aos subtipos de IC, não parece haver grande diferença em relação à mortalidade global quando estratificados por fração de ejeção preservada, intermediária ou reduzida Classificação de acordo com a gravidade dos sintomas: Essa classificação se baseia no grau de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso • A gravidade dos sintomas se correlaciona mal com muitas medidas da função ventricular. Esta classificação permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo terapêutico e tem relação com o prognóstico • Pacientes em classe funcional III e IV da NYHA apresentam-se mais sintomáticos, com internações hospitalares mais frequentes, com maiores chances de descompensações clínicas e maior mortalidade. • Embora exista uma relação clara entre a gravidade dos sintomas e a sobrevida, os pacientes com sintomas leves ainda podem ter um risco aumentado de hospitalização e morte Classificação de acordo com a progressão da doença Esta classificação inclui desde o paciente com risco de desenvolver IC, cuja abordagem deve ser feita no sentido de prevenir seu desenvolvimento, quanto o paciente em estágio avançado da doença, que requer terapias específicas, como transplante cardíaco e/ou dispositivos de assistência ventricular. • Essa forma de estadiamento reflete o modelo fisiopatológico da IC, que considera essa síndrome como a via final comum a diferentes doenças cardíacas em indivíduos com fatores de risco Atualização dos estágios da IC: EM RISCO DE IC (ESTÁGIO A): • Pacientes em risco de IC, mas sem sintomas ou sinais atuais ou anteriores de IC e sem alterações cardíacas estruturais ou biomarcadores elevados de doença cardíaca. • Pacientes com hipertensão, doença cardiovascular aterosclerótica, diabetes, obesidade, exposição conhecida a cardiotoxinas, história familiar positiva de cardiomiopatia ou cardiomiopatia genética estariam nesta categoria. • Nem todos esses pacientes desenvolverão IC, mas a intervenção dos fatores de risco pode ser necessária. PRÉ-IC (ESTÁGIO B): Pacientes sem sintomas ou sinais atuais ou anteriores de IC com evidência de um dos seguintes: • Doença cardíaca estrutural: por exemplo, hipertrofia ventricular esquerda, aumento da câmara cardíaca, anormalidade do movimento da parede ventricular, anormalidade do tecido miocárdico (por exemplo, evidência de edema miocárdico, anormalidade de cicatriz/fibrose por ressonância magnética cardíaca ponderada em T2 ou imagem de realce tardio com gadolínio), Doença cardio vascular. • Função cardíaca anormal: por exemplo, função sistólica ventricular esquerda ou direita reduzida, evidência de aumento das pressões de enchimento (por medidas invasivas ou não invasivas), disfunção diastólica anormal. • Níveis elevados de peptídeo natriurético (para níveis, consulte a Tabela 8 ) ou níveis elevados de troponina cardíaca (> percentil 99 em uma população de referência normal), especialmente no contexto de exposição a cardiotoxinas. IC (ESTÁGIO C): • Pacientes com sintomas e/ou sinais atuais ou anteriores de IC causados por uma anormalidade cardíaca estrutural e/ou funcional . IC AVANÇADA (ESTÁGIO D): • Sintomas e/ou sinais graves de IC em repouso, hospitalizações recorrentes apesar do manejo e terapia orientados pelas diretrizes (GDMT), refratária ou intolerante à GDMT, exigindo terapias avançadas, como consideração de transplante, suporte circulatório mecânico ou cuidados paliativos. https://onlinejcf.com/article/S1071-9164(21)00050-6/fulltext#tbl0009 ETIOLOGIAS Qualquer condição que leve a alterações na estrutura ou função do VE pode predispor o paciente a desenvolver IC. • Principal: DAC • Existem condições tanto cardíacas (redução da capacidade cardíaca de perfundir os diferentes órgãos) como extracardíacas (modificação das necessidades metabólicas dos tecidos) capazes de causar IC. Qualquer condição que dificulte a ejeção ou o relaxamento pode causar IC • Em alguns casos, há um comprometimento inicial no relaxamento e, evolutivamente, surgirá o comprometimento na ejeção. Dessa forma, algumas condições comprometerão tanto a função sistólica quanto a diastólica • IC de causa sistólica: relacionada ao dano miocárdico (infarto, miocardite) e à sobrecarga ventricular (valvopatia, hipertensão) e resultará, invariavelmente, em dilatação da cavidade ventricular. • IC de causa diastólica: relacionada à restrição no enchimento ventricular (cardiopatias restritivas, hipertensão, cardiopatias de depósito) em que a hipertrofia e a disfunção diastólica com elevadas pressões de enchimento serão as principais características. IAM: infarto agudo do miocárdio; HAS: hipertensão arterial sistêmica; HVE: hipertrofia ventricular esquerda; TEP: tromboembolismo pulmonar; HAP: hipertensãoarterial pulmonar. FISIOPATOLOGIA Os mecanismos mais importantes de adaptação do coração são o mecanismo de Frank- ·Starling, a hipertrofia ventricular, o aumento da FC e ativação neuro-hormonal. No entanto, quando cronicamente ativados, podem contribuir para a progressão da IC. • A IC sistólica está associada a um remodelamento excêntrico das fibras cardíacas, com dilatação das cavidades e fração de ejeção reduzida. • A IC diastólica está associada ao remodelamento concêntrico das fibras cardíacas, com hipertrofia das cavidades e fração de ejeção preservada/normal. • A IC diastólica não tratada evoluirá para IC sistólica, devido à sobrecarga de cavidades. • A IC causada por disfunção sistólica geralmente se desenvolve porque o coração não consegue se contrair normalmente. Ele pode se encher de sangue, mas não consegue bombear todo o volume em seu interior porque o músculo está mais fraco ou devido a problemas no funcionamento da válvula cardíaca. Como resultado, a quantidade de sangue bombeada do coração para o corpo e os pulmões é reduzida, e o ventrículo geralmente se dilata. • A IC por disfunção diastólica se desenvolve porque o coração se enrijece (em particular o ventrículo esquerdo) e pode ficar espesso. Por essas razões, o coração não é preenchido por sangue normalmente. Consequentemente, o sangue retorna para o átrio esquerdo e vasos sanguíneos do pulmão (pulmonares), o que causa congestão. Mesmo assim, o coração pode conseguir bombear uma porcentagem normal do sangue que recebe (mas o volume total bombeado pode ser menor). As câmaras do coração sempre contêm um pouco de sangue, porém, quantidades diferentes podem entrar ou sair com cada batimento, como indicado pela espessura das setas. FISIOPATOLOGIA DA ICFER: A IC é um distúrbio progressivo iniciado quando um evento-índice lesa o músculo cardíaco, resultando em perda dos miócitos cardíacos funcionantes ou, alternativamente, em diminuição da capacidade do miocárdio de gerar força, impedindo, assim, que o coração se contraia normalmente. • Esse evento-índice pode ter instalação súbita, como no caso de IAM; início gradual ou insidioso, como nos casos de sobrecarga hemodinâmica de pressão ou de volume; ou ser hereditário, como nos casos das diversas miocardiopatias genéticas. • Independentemente da natureza do evento desencadeante, o fator comum a todos esses episódios é a ocorrência, de algum modo, de declínio na capacidade de bombeamento do coração. • Na maioria dos casos, os pacientes mantêm-se assintomáticos (devido aos mecanismos compensatórios ativados na presença de lesão cardíaca e/ou de disfunção do VE) ou minimamente sintomáticos após o declínio inicial na sua capacidade de bombear ou desenvolvem sintomas apenas algum tempo após a instalação da disfunção A insuficiência cardíaca se inicia quando um evento-índice produz o declínio inicial na capacidade de bombear do coração. Após esse declínio inicial na capacidade de bombeamento, diversos mecanismos compensatórios são ativados, como o sistema nervoso adrenérgico, o SRAA e o sistema das citocinas. Em curto prazo, esses sistemas são capazes de restaurar a função cardiovascular para o limite da homeostase normal, fazendo o paciente se manter assintomático. Entretanto, com o passar do tempo, a ativação mantida de tais sistemas causa dano secundário no órgão-alvo dentro do ventrículo, com agravamento do remodelamento ventricular e subsequente descompensação cardíaca. Na IC aguda com FEVEr, há uma redução de volume sistólico aguda (volume ejetado) e o organismo se utiliza dos mecanismos de compensação para preservar o fluxo sanguíneo para os tecidos com prioridade para cérebro e coração, com sucesso dependendo do grau de comprometimento e da resposta aos mecanismos de adaptação. • Há aumento da FC, ativação neuro-hormonal, e utilização do mecanismo de Frank-Starling • O grau de perfusão tecidual poderá determinar lesões de múltiplos órgãos, com insuficiencia renal, lesão hepática, lesão miocárdica, isquemia intestinal com translocação de toxinas etc. Na ICFER, encontramos redução no volume sanguíneo ejetado por distúrbio primário na ejeção ventricular. O organismo responderá a essa redução do volume ejetado de três formas: 1-Mecanismo de Frank-Starling (quando mais sangue chega ao coração, ele se contrai com mais força e ejeta mais sangue. Ou seja, dentro de limites fisiológicos, o coração bombeia todo o sangue que a ele retorna pelas veias). • Existe um ponto máximo de distensão das paredes ventriculares. A partir desse ponto, as fibras musculares não conseguem responder com aumento da contratilidade, piorando o volume sistólico. Após atingir o limite, as fibras não respondem mais com aumento do débito cardíaco • Na ICFER, encontramos sobrecarga de volume na cavidade ventricular esquerda, que comprometerá o débito cardíaco. Por isso, utilizamos diuréticos para reduzir a sobrecarga de volume no coração 2- Sistemas neuro-hormonais • A redução do débito cardíaco ativa barorreceptores periféricos que promovem resposta compensatória por meio do aumento do tônus adrenérgico (eles acham que a pressão arterial está baixa e tentam compensar isso). Assim, ocorre aumento da FC e aumento da liberação renal de renina (que é mediada, principalmente, pela hipoperfusão renal). O uso de betabloqueadores visa interromper esse mecanismo • O baixo débito cardíaco também reduz a perfusão renal, que responde com intensa ativação do SRAA, promovendo a retenção de sódio e água (responsável pelo quadro congestivo da insuficiência cardíaca) e vasoconstrição periférica (aumento da pós-carga). Esses mecanismos justificam o uso de inibidores da ECA/BRA e antagonistas da aldosterona na IC. Em pacientes não tratados cronicamente, a elevação das catecolaminas, da angiotensina II (potente estimulador de hipertrofia ventricular) e aldosterona aumentam o gasto energético miocárdico, induzindo apoptose dos miócitos e deposição de colágeno, que geram fibrose miocárdica, responsável pela ocorrência de arritmias graves. • A hipervolemia e o aumento do estresse ventricular gerado pela sobrecarga estimulará o aumento sérico do BNP (peptídeo natriurético cerebral). Esse hormônio possui potente ação natriurética de vasodilatação e supressão do SRAA, isto é, ele é um mecanismo compensatório • Além do BNP, outras moléculas vasodilatadoras endógenas são ativadas, em menor escala, como bradicinina, prostaglandinas e óxido nítrico, na tentativa de compensar o quadro excessivo de vasoconstrição periférica. • Em contrapartida, a neprilisina, que possui atividade aumentada na IC, degrada essas moléculas vasodilatadoras (incluindo o BNP), promovendo efeito vasoconstritor e reduzindo o efeito dessas moléculas. • Por isso, justifica-se o uso de sacubitril-valsartana, em que o sacubitril é um inibidor da neprilisina e atua inibindo esse mecanismo. Essa droga aumentará o BNP. 3-Remodelamento cardíaco A fisiopatologia da IC crônica com FEVEr está relacionada ao progressivo remodelamento do VE com consequente dilatação, modificação de forma e redução progressiva da fração de ejeção consequente a uma "agressão" inicial regional ou global ao miocárdio, que pode ter reduzido a fração de ejeção inicialmente ou primariamente da sobrecarga sistólica ou diastólica (p. ex., hipertensão arterial, valvulopatia) ou doença de depósito, ou uma cardiomiopatia • Quando ocorre a falência dos mecanismos adaptativos, sobretudo do remodelamento ventricular, a ICFEr torna-se francamente sintomática A expressão remodelamento ventricular refere-se às alterações na massa, no volume, na forma do VE e na composição do coração que ocorrem após lesão cardíaca e/ou em condições com sobrecarga hemodinâmica: • Do ponto de vista macroscópico, o remodelamento significa a dilatação e a perda da conformação cardíaca. Oventrículo esquerdo perde a forma elíptica e adquire forma esferoide, dilata-se e tem suas paredes adelgaçadas. • Do ponto de vista microscópico, ocorre no miocárdio morte de cardiomiócitos por necrose e apoptose, com deposição de colágeno e fibroblastos; há hipertrofia dos cardiomiócitos remanescentes (a necrose ocorre por privação de oxigênio e energia, já a apoptose é um processo dependente de energia e está relacionada à ação de catecolaminas, angiotensina II, radicais livres, citocinas inflamatórias e sobrecarga memecânica) Os mecanismos que foram ativados na fase aguda para adaptar o organismo a redução de desempenho do coração, cronicamente passam a contribuir para a progressão da doença, destacando-se a ativação neuro-hormonal. • Cronicamente, as catecolaminas, assim como a angiotensina II e a aldosterona, promovem aumento do gasto energético miocárdico, aumento de pós-carga, aumento de apoptose de cardiomiócitos, aumento da deposição de colágeno no miocárdio e induzem arritmias • A vasopressina e a endotelina são potentes vasoconstritores associados à ativação do sistema adrenérgico e SRAA • O componente inflamatório da IC também tem importância na sua fisiopatologia pela produção de fator de necrose tumoral, interleucinas 1 e 6, gamainterferona promovendo catabolismo proteico, sendo relacionados ao surgimento de caquexia cardíaca. • Os peptídeos natriuréticos (tipo A e tipo B, secretados pelos átrios e ventrículos, respectivamente, mediante sobrecarga pressórica ou volumétrica), promovem vasodilatação periférica e natriurese buscando contrabalançar os efeitos do SRAA e adrenérgico, no entanto, são invariavelmente insuficientes. O aumento do estresse ventricular é que determina o aumento do BNP e pró-BNP O tratamento medicamentoso visa evitar a ocorrência desse remodelamento, já que a agressão miocárdica decorrente dos processos adaptativos (necrose e apoptose induzida pelas catecolaminas e sistema renina-angiotensina-aldosterona, além de hipertrofia dos miócitos remanescentes) pode ser irreversível. FISIOPATOLOGIA DA ICFEP/ICFEN A IC com FEVEN aguda geralmente está associada a aumento de carga ventricular quer seja pré- carga ou pós-carga, com ativação dos mecanismos de compensação como aumento da frequência cardíaca e ativação neuro-hormonal. Cronicamente, é caracterizada pelo remodelamento do ventrículo esquerdo em geral com hipertrofia e ou fibrose, em geral sem dilatação, exceto para os átrios que pode remodelar com dilatação. O mecanismo primário para o desenvolvimento da IC diastólica é a sobrecarga pressórica no ventrículo esquerdo (VE), que gera hipertrofia e aumento das pressões de enchimento. • A causa mais comum é a hipertensão arterial, mas pode acontecer em qualquer situação que gere sobrecarga ventricular esquerda (estenose aórtica, por exemplo). • No paciente hipertenso, a elevação da pressão na raiz da aorta dificulta o esvaziamento ventricular, levando à sobrecarga de pressão no VE (aumenta pressão diastólica final o que dificulta o esvaziamento atrial) e, consequentemente, hipertrofia ventricular esquerda (HVE). Fisiologicamente, o sangue flui de forma contínua, vindo das grandes veias para os átrios; cerca de 80% do sangue flui diretamente dos átrios para os ventrículos, mesmo antes da contração atrial. Então, essa contração representa os 20% adicionais para acabar de encher os ventrículos. • Assim, a contração atrial começa a ter um papel mais importante no esvaziamento atrial (assim surge B4). • Com a piora da hipertrofia e sobrecarga de pressão no VE, o átrio esquerdo (AE) fica, progressivamente, mais sobrecarregado levando à sua dilatação (por isso, pacientes com disfunção diastólica têm mais fibrilação atrial). • Nesse momento, há sobrecarga de cavidades esquerdas (AE e VE) que acarretará o aumento da pressão venocapilar pulmonar, que causará o edema intersticial pulmonar que provocará a dispneia. • Nessa fase adaptativa, qualquer situação súbita de descontrole de duplo produto (aumento da pressão arterial e/ou frequência cardíaca) pode provocar edema agudo de pulmão. • Com o tempo, a sobrecarga de cavidades direitas gerará repercussão no lado direito do coração, levando às manifestações sistêmicas da insuficiência cardíaca. No paciente com disfunção diastólica e sem tratamento adequado, a hipertrofia concêntrica evoluirá para hipertrofia excêntrica e dilatação da cavidade ventricular esquerda, evoluindo de maneira semelhante à fisiopatologia da IC sistólica. Na hipertrofia excêntrica, a espessura da parede ventricular pode ser normal, mas a massa do ventrículo esquerdo estará aumentada FISIOPATOLOGIA DA IC DIREITA O VD é uma cavidade que lida com baixas pressões e, por isso, tem musculatura menos desenvolvida. Por outro lado, como o retorno venoso é variável, o VD tem grande capacidade de adaptar-se à volemia. • O VD tolera muito bem volume, mas não tolera pressão! • Principal causa: insuficiência do VE. • A insuficiência cardíaca esquerda é a principal causa de hipertensão pulmonar secundária que causará, mais tardiamente, a disfunção de VD. O VD divide o septo interventricular com o VE. Com isso, parte da força contrátil do VD depende da contração septal. Dessa forma, a dinâmica de contração ventricular fica prejudicada nos pacientes com bloqueios de ramo (o VE e VD irão contrair em momentos diferentes) A maioria dos casos de IC direita está relacionada ao aumento da pós-carga direita (relacionada a doenças pulmonares ou sobrecarga de cavidades esquerdas), mas também pode ocorrer em casos de dano à musculatura ventricular direita (infarto de VD, por exemplo). • Quando a disfunção de VD ocorre por doença pulmonar, o quadro é chamado de cor pulmonale. • A IC direita pode ocorrer de maneira aguda (tromboembolismo pulmonar, por exemplo) ou crônica. • Na IC direita aguda, o VD não tem tempo para tentar adaptar-se à sobrecarga de pressão e dilata bastante. • Na IC direita crônica, o VD consegue adaptar-se à sobrecarga de pressão com hipertrofia ventricular direita. • Se a causa de base não for resolvida, essa sobrecarga de pressão comprometerá o funcionamento do VE, pois o VD sobrecarregado comprimirá o VE, dificultando seu enchimento • A disfunção do ventrículo esquerdo pode causar disfunção do ventrículo direito. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da insuficiência cardíaca é principalmente baseado em história cínica, exame físico e laboratoriais, auxiliados pelos exames imagem • Os sintomas e sinais carecem de precisão suficiente para serem usados isoladamente no diagnóstico de IC • A sensibilidade e a especificidade da avaliação clínica para diagnosticar IC é baixa, sendo necessária a utilização de exames complementares; Embora a maioria dos pacientes com suspeita de IC não necessite de testes invasivos para diagnóstico, o padrão-ouro clínico para o diagnóstico de IC é a identificação de pressão capilar pulmonar elevada em repouso ou exercício em um teste de esforço hemodinâmico invasivo em um paciente com sintomas de IC (pouco acessível) O diagnóstico clínico de IC é limitado a pacientes com sintomas atuais ou anteriores de IC (IC em estágios C e D) e exclui pacientes com IC em estágio A ou B. • Disfunção sistólica ou diastólica assintomática são formas de IC estágio B que não são abrangidas pelo diagnóstico clínico de IC, mas estão associadas ao risco de desenvolver IC. O diagnóstico de ICC requer a presença de sintomas e/ou sinais de IC e evidência objetiva de disfunção cardíaca • O diagnóstico de ICFEr requer a presença de sintomas e/ou sinais de IC e FE ≤40% • O diagnóstico de ICFEI requer a presença de sintomas e/ou sinais de IC e uma FE levemente reduzida (41–49%)*. *A presença de NPs elevados (BNP ≥35 pg/mL ou NT-proBNP ≥125 pg/mL) e outras evidências de doença cardíaca estrutural [p. Ex., aumento do tamanho do AE,HVE ou medidas ecocardiográficas de enchimento do VE] tornam o diagnóstico mais provável, mas não são obrigatórias para o diagnóstico se houver certeza quanto à medição da FEVE • Sinais e sintomas de retenção hidrossalina são os pilares do raciocínio diagnóstico, entretanto, o modo de apresentação varia a depender do predomínio da câmara acometida, a velocidade de instalação da doença e idade do paciente, entre outros. • Além disso, tais achados podem ser mascarados devido ao uso de medicações, notadamente diuréticos. Dessa forma, nem sempre o diagnóstico é óbvio. • Classicamente, o diagnóstico pode ser realizado pelos critérios de Framingham • No entanto, em pacientes em estágios mais crônicos, a detecção de sinais e sintomas congestivos pode não ser tão simples pela ação de processos adaptativos. Nesses casos exames complementares podem ser de grande auxílio no diagnóstico inicial ou na identificação de sintomas e sinais de descompensação clínica Para o diagnóstico de insuficiência cardíaca: 2 critérios maiores e 1 menor, ou 1 maior e 2 menores. Outras referências: dois critérios maiores ou um maior e dois menores. • Para a utilização dos critérios menores é necessária a ausência de qualquer condição que possa justificar a presença de um dos critérios Os principais sintomas associam-se à congestão pulmonar ou sistêmica, mas também podem se manifestar com sinais e sintomas de baixo débito cardíaco • sinais como B3 e sintoma como ortopneia como mais específicos para o diagnóstico de IC • A presença de ortopneia e dispneia paroxística noturna, apesar de não serem patognomônicas, são sintomas mais especfficos de IC • O perfil clínico da IC crônica envolve indivíduos idosos portadores de etiologias diversas, sendo a isquêmica a mais prevalente, com alta frequência de comorbidades associadas A sobrecarga de cavidades esquerdas (presente na IC sistólica e diastólica) promove aumento da pressão venocapilar pulmonar. Esse aumento de pressão ocasiona extravasamento de líquido vascular para o interstício pulmonar. O sistema linfático consegue absorver esse líquido extravasado até um limite, que quando superado a drenagem linfática é insuficiente, surgindo o edema pulmonar, responsável por toda sintomatologia respiratória na IC (cansaço, dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna) Quando há sobrecarga em cavidades direitas, observaremos a congestão sistêmica (turgência jugular patológica, edema de membros inferiores, ascite, refluxo hepatojugular). Se o problema é no VE, “engarrafa” primeiro o pulmão, depois o VD e depois, todo organismo. Se o problema é exclusivamente no VD, o “engarrafamento” será sistêmico, poupando o pulmão! • Ortopneia: dispneia ao deitar-se. Sintoma típico, porém, inespecífico. Uma forma de questionar esse sintoma é perguntando o número de travesseiros que o paciente utiliza para dormir. • Dispneia paroxística noturna: surge horas após deitar-se. É uma dispneia súbita que desperta o paciente. Esse sintoma é mais específico para o diagnóstico de IC • Tosse noturna: secundária à congestão da parede brônquica. Pode estar associada à dispneia paroxística noturna. Em quadros mais acentuados, pode gerar broncoespasmo (“asma cardíaca”). • Fadiga: Os mecanismos associados à fadiga na IC são desencadeados pela perfusão sanguínea inadequada, que afeta os músculos respiratórios e periféricos, levando à diminuição da capacidade oxidativa. • Distúrbios do sono: As formas mais comuns: apneia obstrutiva do sono e apneia central do sono com respiração de Cheyne-Stokes Em casos mais avançados de IC, podemos ter congestão sistêmica secundária à falência do VD. Nesses casos, a dispneia é menos frequente. São sintomas relacionados à disfunção de VD: • Edema de membros inferiores: bilateral e sem sinais de trombose venosa profunda. • Aumento do volume abdominal: ascite com padrão de transudato. • Derrame pleural: causa de dispneia em pacientes com disfunção de VD (transudato). • Hepatomegalia: dor abdominal em hipocôndrio direito. • Congestão da mucosa intestinal: saciedade precoce, caquexia, diarreia, náuseas. IC esquerda caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas de congestão pulmonar (dispneia aos esforços, tosse noturna, dispneia paroxistica noturna, ortopneia, crepitações pulmonares). A IC direita está relacionada aos sinais e sintomas de congestão sistêmica (estase jugular, edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, ascite), ambas podem ter baixo débito cardíaco. EXAME FÍSICO: Sinais mais específicos: presença de B3 e turgência jugular patológica. Turgência jugular patológica: • A turgência jugular é considerada patológica quando encontrada em angulação ≥ 45°. É um sinal de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. • Na sua ausência, podemos pesquisar o refluxo hepatojugular (o examinador exerce uma pressão em hipocôndrio direito e observa o aumento da altura do pulso jugular). Desvio do ictus cordis: • Na cardiopatia dilatada, teremos um ictus difuso e desviado para a esquerda. • Impulso de VD pode ser palpável em situações nas quais tal câmara cardíaca encontra-se aumentada. • Em caso de ICFEN, o ictus é propulsivo, sem desvio evidente. Localização normal: nos mediolíneos, situa--se no cruzamento da linha hemiclavicular esquerda com o 5 o espaço intercostal; nos brevilíneos, deslocase aproximadamente 2 cm para fora e para cima, situando-se no 4 o espaço intercostal; nos longilíneos, costuma estar no 6 o espaço, 1 ou 2 cm para dentro da linha hemiclavicular. • O deslocamento do ictus cordis indica dilatação e/ou hipertrofia do ventrículo esquerdo fala--se em ictus cordis difuso quando sua área corresponde > 2 a 3 cm; e ictus cordis propulsivo, quando a mão que o palpa é levantada a cada contração, a primeira indicando dilatação e a segunda, hipertrofia. • Aumentos na extensão do ictus são indicativos de dilatação do VE. • No aumento do VE (volumétrico) o ictus é desviado lateralmente e para baixo. Nos de VD, o desvio é principalmente lateral. Hipertrofia do VE não causa desvio importante. • Chama-se de ictus propulsivo aquele que é capaz de exercer solavanco sob os dedos do examinador, a ponto de levantá-los. Esse dado no exame reforça a hipótese de HVE B3 e B4 e sopro mitral: • B3: originada das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento ventricular rápido. Está presente na ICFER e representa sobrecarga de volume no VE. • B4: originada pela brusca desaceleração do fluxo sanguíneo mobilizado pela contração atrial de encontro à massa sanguínea existente no interior do ventrículo, no final da diástole. Está presente na ICFEN e representa sobrecarga pressórica do VE. • O sopro mitral pode estar presente na ICFER por dilatação de anel mitral e insuficiência mitral funcional. A presença de sopro deve levantar a hipótese de IC de origem valvar. Estertores pulmonares / Derrame pleural • Os estertores surgem como resposta ao aumento da pressão venocapilar pulmonar que gera edema pulmonar. • O derrame pleural também pode estar associado, pois a drenagem pleural fica comprometida. • O derrame pleural cardiogênico é maior à direita! Pulso alternante: • Se percebe de modo sucessivo uma onda ampla seguida de outra mais fraca. • A compressão de artéria deve ser calculada para a percepção da onda mais débil. • O pulso alternante constitui sinal de insuficiência ventricular esquerda Edema de membros inferiores: • Edema bilateral, frio, mole, sem sinais flogísticos e que piora no decorrer do dia. • Sinal de congestão sistêmica secundária à sobrecarga ventricular direita. • Cronicamente, pode levar a alterações de pele e fâneros. Ascite: • Surge em fases mais avançadas da doença, quando há refratariedade à terapiadiurética. • Ocorre devido ao aumento da pressão nas veias hepáticas e nas veias que drenam o peritônio. • A hipoalbuminemia também contribui para a formação da ascite. Hepatomegalia: • Ocorre secundária à congestão hepática e está relacionada à insuficiência ventricular direita. • Geralmente, é dolorosa, pois há distensão da cápsula hepática. Ganho de peso: • Uma das formas de acompanhar o quadro congestivo é por meio do peso evolutivo do paciente. • Redução do peso após introdução de diuréticos sugere o diagnóstico de insuficiência cardíaca. Taquicardia: • Sinal inespecífico, mas reflete um mecanismo compensatório de baixo débito. • Acontece pelo aumento do tônus simpático da insuficiência cardíaca Respiração de Cheyne-Stokes Algorítmo diagnóstico na suspeita clínica de insuficiência cardíaca DIAGNÓSTICO DA ICFEP É um diagnóstico desafiador • A estratégia inicial para o diagnóstico de ICFEp é a determinação da probabilidade pré-teste para IC, através do uso de achados clínicos associados a exames complementares (ECG, Rx tórax, ECO e peptídeos natriuréticos): • No paciente com dispneia ou fadiga inexplicada, a avaliação da probabilidade pré-teste para IC deve ser efetuada com dados clínicos, eletrocardiográficos, ecocardiográfico e laboratorial. • Os pacientes considerados de alta e baixa probabilidade são considerados como tendo ou não ICFEp, respectivamente. • Nos pacientes com probabilidade intermediária, a avaliação da função diastólica durante estresse, que pode ser realizado por meio de teste hemodinâmico invasivo ou ecocardiografia de estresse diastólico, é capaz de auxiliar no diagnóstico de ICFEp. • Nos pacientes com baixa probabilidade para a ICFEp, recomenda-se a investigação de outras causas de dispneia e fadiga Alterações estruturais e funcionais do coração como causa básica do quadro clínico apoiam o diagnóstico de ICFEi e ICFEp. • Os critérios para diagnóstico de ICFEI e ICFEP exigem evidência de aumento das pressões de enchimento do VE em repouso, exercício ou outras provocações • Os critérios podem ser preenchidos com achados de níveis elevados de peptídeos natriuréticos, parâmetros diastólicos ecocardiográficos, como E/e′ ≥15 ou outras evidências de pressões de enchimento elevadas, ou medição hemodinâmica invasiva em repouso ou exercício. • Evidências de doença cardíaca estrutural (por exemplo, alterações estruturais ou funcionais do VE) podem ser usadas para apoiar ainda mais o diagnóstico de ICFEP • As principais alterações estruturais são um aumento no tamanho e volume do átrio esquerdo (índice de volume do átrio esquerdo) e/ou um aumento na massa do VE (índice de massa do VE). ESC 2023 Tipo de IC ICFEr ICFEi ICFEp Critério 1 Sintomas ± sinais * Sintomas ± sinais * Sintomas ± sinais * 2 FEVE ≤40% FEVE 41–49% ** FEVE ≥50% 3 – – Evidência objetiva de anormalidades estruturais e/ou funcionais cardíacas consistentes com a presença de disfunção diastólica do VE/aumento das pressões de enchimento do VE, incluindo aumento dos peptídeos natriuréticos *** * Os sinais podem não estar presentes nos estágios iniciais da IC (especialmente na ICFEP) e em pacientes tratados de maneira ideal. ** Para o diagnóstico de ICFEi, a presença de outras evidências de doença cardíaca estrutural (por exemplo, aumento do tamanho do átrio esquerdo, hipertrofia do VE ou medidas ecocardiográficas de comprometimento do enchimento do VE) torna o diagnóstico mais provável. *** Para o diagnóstico de ICFEp, quanto maior o número de anormalidades presentes, maior a probabilidade de ICFEP. Exames complementares Avaliar a presença e a gravidade de lesão de outros órgãos-alvo, detectar comorbidades, fatores agravantes do quadro clínico, confirmação das alterações estruturais e funcionais cardíacas, definir etiologia da IC e estratificar o prognóstico: • Realização de hemograma, eletrólitos séricos, função renal, glicemia de jejum, hemoglobina glicosilada, perfil lipídico, função tireoidiana, função hepática, uroanálise, troponina, CPK, sorologias e ácido úrico. • Monitoração laboratorial seriada de função renal e eletrólitos ao longo do tratamento da IC • ECG de 12 derivações em repouso • Radiografia simples do tórax • Avaliação da cinética de ferro (ferritina, ferro sérico e saturação da transferrina) ECG Um ECG normal detém elevado valor preditivo negativo (> 90%) a fim de excluir disfunção ventricular sistólica • Alterações como zona inativa, presença de onda Q e aumento atrial podem ser importantes para o diagnóstico etiológico da IC. Indicação • Recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural (como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias que podem demandar cuidados e tratamentos específicos) Achados: • Bloqueios de ramo: QRS largo + V1 se estiver para cima é BRD, para baixo é BRE! • Hemibloqueio anterior esquerdo (ocorre desvio de eixo para esquerda) + bloqueio de ramo direito: doença de Chagas! Radiografia do tórax Recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC, para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar. Além de ajudar no diagnóstico diferencial entre causas torácicas e pulmonares da dispneia. • A sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que a disfunção sistólica cardíaca significativa pode ocorrer sem cardiomegalia na radiografia de tórax • O método tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas. • Diagnóstico diferencial: capaz de identificar causas pulmonares de dispneia, como doença pulmonar intersticial, DPOC, neoplasia pulmonar e pneumonia índice cardiotorácico (ICT): medida do maior diâmetro transverso do coração comparado com o maior diâmetro interno da caixa torácica (da face interna de uma costela à face interna da outra ao nível do diafragma). • O maior diâmetro transverso do coração (dupla seta superior) é comparado com o maior diâmetro interno da caixa torácica, de uma costela direita a uma costela esquerda (dupla seta inferior). O maior diâmetro interno do tórax está usualmente no nível do diafragma. • ICT > 0,5: cardiomegalia. No radiografia, há três grandes fases evolutivas das repercussões da IC esquerda nos pulmões: (1) fase vascular; (2) padrão intersticial; (3) padrão alveolar e derrame pleural. • Inicialmente, os vasos ficam com mais líquido do que o normal, depois o interstício começa a ficar "cheio" de líquido e com o tempo, ele fica tão cheio, que uma hora os linfáticos não conseguem mais drenar esse líquido extra, que, por fim, passa a extravasar para os alvéolos e para o espaço pleural. ➤ FASE VASCULAR Inversão da trama vascular: • Os vasos ficam mais calibrosos nos lobos superiores. ➤ PADRÃO INTERSTICIAL Borramento ou espessamento do interstício peribroncovascular: • Margens dos vasos indistintas; • Paredes brônquicas externas com perda da definição. Espessamento dos septos interlobulares: • Linhas B de Kerley. ➤ PADRÃO ALVEOLAR Opacidades bilaterais peri-hilares com distribuição em "asa de borboleta" ou "asa de morcego". ➤ DERRAME PLEURAL Achados no Edema pulmonar: • inversão do padrão vascular: o edema intersticial, mais proeminente nos lobos inferiores, tornam as veias presentes no ápice pulmonar mais proeminentes; • infiltrado intersticial: pode surgir como borramento perivascular, borramento peribrônquico e infiltrado peri-hilar (em asa de borboleta); • linhas B de Kerley: sugestivo de edema intersticial. São linhas paralelas ao diafragma, visualizadas na região inferior e lateral de ambos os hemitóraces. • derrame pleural: geralmente é bilateral, mas predomina à direita.Ecocardiograma Exame de imagem de escolha para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com suspeita de IC • Exame de imagem preferencial para avaliação inicial dos pacientes com suspeita de IC • Permite a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio. Recomendações: A. Ecocardiografia na avaliação inicial de todos os pacientes com suspeita de IC (para avaliar estrutura e função cardíaca, para planejar tratamento e para estratificação prognóstica) B. Repetição de ecocardiograma nos pacientes exibindo mudança significativa de seu estado clínico Não se recomenda a realização de ecocardiograma de forma rotineira nos pacientes com IC, mas sugere-se sua repetição naqueles pacientes que exibem mudança significativa de seu estado clínico, com descompensação da IC ou perante progressão de sintomas. C. Ecocardiograma após otimização do tratamento, para avaliar remodelamento reverso e reestratificação do prognóstico Considere a realização de novo ECO 3 a 6 meses após o tratamento com medicações que modificam o prognóstico, para avaliação do remodelamento reverso e estratificação do prognóstico Cineangiocoronariografia (cateterismo cardíaco): Pode ser necessária nos pacientes com fatores de risco para doença coronariana ou nos pacientes sem diagnóstico etiológico. • Como a principal causa de IC é a doença arterial coronariana, ela deve ser buscada na maioria dos casos. Indicações: • dor torácica anginosa; • história de arritmia ventricular sintomática; • sobrevivente de parada cardíaca; • alta probabilidade pré-teste (presença de fatores de risco para DAC); • presença de isquemia em exame não invasivo Ressonância magnética cardíaca (RMC) • RMC como método alternativo para avaliação estrutural e funcional cardíaca, quando o ecocardiograma se mostra inadequado Angiotomografia coronariana • Angiotomografia de coronárias para avaliação etiológica em pacientes com probabilidade baixa à intermediária de DAC, ou que apresentem resultados inconclusivos em outros testes de imagem para avaliação de isquemia Peptídeos natriuréticos BNP e NT-proBNP • BNP: peptídeo natriurético do tipo B (peptídeo natriurético cerebral); NT-proBNP: fração N-terminal do peptídeo natriurético do tipo B; Eles aumentam conforme há distensão da parede dos ventrículos e estão relacionados com a fração de ejeção e nos casos de hipervolemia • O peptídeo natriurético cerebral é um marcador de sobrecarga cardíaca (de qualquer câmara, porém há maior liberação nos ventrículos) • O NT-proBNP é uma molécula mais estável, possui maior meia-vida e é considerado melhor marcador de insuficiência cardíaca e sobrecarga volumétrica. Indicações: • Dosagem do BNP ou NT-proBNP quando há dúvida no diagnóstico da IC e como exame de triagem diagnóstica na atenção primária; e • Dosagem de BNP ou NT-proBNP para estratificação prognóstica em pacientes com IC. A dosagem de peptídeos natriuréticos BNP ou NT-proBNP pode ser útil em casos de dúvidas diagnósticas em pacientes com queixa de dispneia, podendo servir como exame de triagem na atenção primária • Valores de BNP < 35 pg/mL ou NT-proBNP < 125 pg/mL praticamente excluem o diagnóstico de IC. • Valores acima destes cortes necessitam de avaliação clínica e complementar com ecocardiografia para confirmar o diagnóstico, caso haja dúvidas pela avaliação clínica isolada Peptídeos natriuréticos auxiliam de forma considerável na definição do diagnóstico de IC, contribuindo principalmente para excluir o diagnóstico quando este é incerto (alto valor preditivo negativo (95%) para exclusão do diagnóstico de IC) • Níveis normais de BNP possuem valor preditivo negativo de 95% para excluir IC descompensada. * Estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC) e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade Após o ajuste medicamentoso, espera-se redução dos valores dos peptídeos natriuréticos em resposta ao tratamento. • A ausência desta redução ou o aumento dos valores indicam mau prognóstico • Em pacientes em uso de sacubitril/valsartana, a monitoração deve ser feita por meio do NT- proBNP, uma vez que o sacubitril inibe a degradação do BNP, aumentando seus valores Hemograma: • anemia (fator de descompensação e prognóstico na IC) • leucocitose (pode indicar um processo infeccioso como causador da descompensação) Gasometria arterial: • recomendada em pacientes com baixo débito ou desconforto respiratório. • Além de avaliar o equilíbrio acidobásico e a oxigenação, fornece informações quanto à perfusão tecidual. • Acidose e hiperlactatemia são fatores de mau prognóstico Eletrólitos e função renal: • A hiponatremia é comum em pacientes com IC e confere pior prognóstico. • Piora da função renal está relacionada à perfusão renal prejudicada pelo baixo débito cardíaco ou à congestão renal. Deve ser monitorada durante todo curso da internação pela possibilidade de evoluir com síndrome cardiorrenal. Troponina: • Tem valor prognóstico na IC. • Valores persistentemente elevados, na ausência de IAM, estão associados à maior mortalidade. • Deve ser solicitada em toda admissão por IC aguda, para exclusão ou confirmação de síndrome coronariana aguda (SCA) Hepatograma: A hepatomegalia secundária à insuficiência cardíaca pode alterar o hepatograma: • A alteração bioquímica mais comum: elevação discreta da bilirrubina. Na maioria dos casos, o nível sérico será menor que 3mg/dL, às custas de bilirrubina indireta. Nesses doentes, o nível sérico de bilirrubina tem valor prognóstico. • As transaminases estão discretamente elevadas em 1/3 dos pacientes (até 3 vezes o valor de referência). • Em casos de descompensação da IC no contexto de hipotensão secundária à disfunção ventricular, pode ocorrer elevação expressiva das transaminases, com quadro semelhante ao de uma hepatite viral. Cinética do ferro: Metade dos pacientes com IC possuem deficiência de ferro, mesmo sem anemia presente, conferindo-lhes pior prognóstico. • Devemos dosar ferritina sérica e saturação de transferrina em todos pacientes com IC. • Em caso de deficiência, está recomendada a reposição por via INTRAVENOSA (via oral a absorção é ineficaz), visando melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida e reduzir hospitalizações, independentemente da fração de ejeção. PREVENÇÃO DA IC Prevenção no estágio A • Tratamento da hipertensão (maior evidência) • interrupção do tabagismo • Redução da ingesta excessiva de álcool • Uso de estatinas para pacientes com DAC ou elevado risco cardiovascular • Estabelecimento de meta pressórica de PAS < 120 mmHg para hipertensos com elevado risco cardiovascular • Uso de empagliflozina em diabéticos Prevenção no estágio B • IECA na disfunção do VE assintomática de etiologia isquêmica • IECA na disfunção do VE assintomática de etiologia não isquêmica IECA em pacientes assintomáticos com fração de ejeção reduzida, de etiologia isquêmica ou não, reduz a chance de progressão para IC sintomática. • Betabloqueador em adição ao IECA na disfunção do VE assintomática de etiologia isquêmica • Betabloqueador em adição ao IECA na disfunção do VE assintomática de etiologia não isquêmica • Antagonista mineralocorticoide em pacientes pós-infarto com disfunção do VE (FEVE < 40%) e diabetes TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O tratamento não-farmacológico está indicado em todos os pacientes com IC, independente da FEVE, pois está associado a um melhor controle dos sintomas e redução na necessidade de internação hospitalar em todos os subgrupos de pacientes com IC • Programas multidisciplinaresde cuidados • Restrição de sódio (A ingestão excessiva de sódio (> 7 g/dia) provoca hipervolemia em pacientes com ICC, mas a restrição excessiva (< 5 g/dia) associa-se a maior número de hospitalização e mortalidade por ICFER) • Ácidos graxos poli-insaturados n-3 • Evitar tabagismo • Evitar álcool • Vacina para influenza (anual) e pneumococo (a cada 5 anos e a cada 3 anos em pacientes com IC avançada). Recomendações: • Programas de manejo de IC, para melhorar adesão, autocuidado e qualidade de vida, e reduzir hospitalizações, mortalidade e custos hospitalares (maior evidência) • Reabilitação cardiovascular (exercício aeróbico regular), para ICFEr em classes funcionais II a III (NYHA), para melhorar qualidade de vida e capacidade funcional (maior evidência) • Vacina contra influenza, para prevenção de fatores agravantes na IC e para redução de mortalidade na IC. • Vacina contra pneumococos. Para prevenção de fatores agravantes na IC • Reabilitação cardiovascular (exercício aeróbico regular) para ICFEp em classes funcionais II a III (NYHA), para melhorar capacidade funcional e função diastólica • Suplemento alimentar com ácidos graxos poli-insaturados n-3, para redução de mortalidade e internações cardiovascular • Evitar a ingesta excessiva de sal (> 7 g por dia) Restrição hídrica: não é possível estabelecermos recomendações específicas e detalhadas sobre o emprego de restrição hídrica em pacientes com IC crônica. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA ICFER O tripé clássico da terapia que modifica mortalidade na ICFER: IECA/BRA, BB e espironolactona • Novas drogas: sacubitril-valsartana e gliflozinas (dapagliflozina ou empagliflozina) • As cinco primeiras opções de drogas que devem ser usadas: IECA/BRA, BB, espironolactona, sacubitril-valsartana e gliflozinas. IECA ou BRA O mecanismo de ação dos IECA é através de vasodilatação e bloqueio do SRAA, cuja atividade se encontra exacerbada nos pacientes portadores de IC. • A ativação do SRAA tem como consequências a ocorrência de retenção hídrica e fibrose miocárdica, a qual está associada ao remodelamento e disfunção ventricular esquerda. • Ao bloquearem o SRAA, os IECA são capazes de diminuir a hipervolemia e promover o remodelamento reverso do VE, o que se associa a uma melhora da função ventricular. • Benefícios: redução de morbidade, mortalidade e melhora na qualidade de vida • Estão indicados para todos os pacientes (inclusive com FEVE entre 40 e 50%) com disfunção ventricular, sintomáticos ou assintomáticos. • BRAs são alternativa com eficácia comparável aos IECA, e estão indicados em pacientes intolerantes ou com alergia aos IECA. Intolerância aos IECAs é definida como a presença de tosse persistente e debilitante (10 a 20%) ou a ocorrência de angioedema (< 1%) • A taxa de outros efeitos adversos, como hipotensão, hipercalemia ou disfunção renal, é semelhante entre IECAs e BRAs. • Devido ao risco de piora da função renal, hipercalemia e hipotensão arterial, os IECAs/BRAs devem ser introduzidos em doses baixas (especialmente nos pacientes com pressão arterial limítrofe) e titulação progressiva, até atingir as doses-alvo • Os benefícios do tratamento medicamentoso da ICFER é dose-dependente, ou seja, quanto maior a dose utilizada das medicações, maior será o impacto na redução dos desfechos cardiovasculares adversos. • Nos pacientes que obtiveram melhora na FEVE em torno de 10 pontos, atingindo valores acima de 40%, deve-se manter os IECA ou BRA, pois a evolução clínica é pior se essas drogas forem retiradas do tratamento É relativamente comum haver uma piora da função renal no início do tratamento com IECA ou BRA, sendo que, geralmente, essa elevação da ureia e creatinina é transitória, com posterior estabilização das escórias nitrogenadas. Isso NÃO indica a necessidade de suspensão das drogas. Essa piora da função renal é justificada, uma vez que essas drogas diminuem a pressão intraglomerular. Inicialmente, isso diminui a filtração renal, porém a longo prazo protege esse importante órgão. • Aceita-se aumento de até 50% da creatinina basal, ou valor absoluto de até 3 mg/dL, ou clearance da creatinina estimado > 25 mL/min/m2, sem necessitar reduzir a dose dos fármacos (IECA ou BRA). • Se o potássio > 5,5 mEq/L, ou a creatinina > 3,5 mg/dL, ou clearance < 20 mL/mim/m2 deve ser considerada a suspensão do IECA ou do BRA. • Assim, nesses casos de hipercalemia persistente e recorrente e/ou perda de função renal com IECAs/BRAs, a terapia vasodilatadora alternativa deve ser a associação de nitrato e hidralazina A conduta na piora da função renal é dependente dos níveis de creatinina: ➢ Elevações de creatinina < 50%: manter a mesma dose de IECA; ➢ Elevação entre 50 e 100%: reduzir a dose pela metade; e ➢ Elevações > 100%: suspender IECA e substituir pela associação hidralazina e nitrato K > 5,5 mEq/L e de creatinina > 3 mg/dL são contraindicação para o início da terapêutica com IECA. Entre as contraindicações absolutas estão: estenose artéria renal bilateral e gravidez • A insuficiência renal crônica (IRC) não representa contraindicação para o emprego dos IECA/BRA (esses pacientes necessitam de monitoração de potássio e função renal do tratamento) • Não se deve administrar a combinação IECA e BRA em pacientes em uso de antagonistas de aldosterona, pelo risco de efeitos colaterais, em especial de hipercalemia. Recomendações: A. IECA para disfunção de VE sintomática para reduzir morbidade e mortalidade B. BRA para disfunção de VE sintomática (nos intolerantes a IECA por tosse/angioedema) para reduzir morbidade e mortalidade C. BRA associado à IECA para disfunção de VE sintomática para reduzir hospitalização por IC (em pacientes que não usam antagonistas mineralocorticoides) (pouca evidência) BB Mecanismo: agem através do bloqueio de dois possíveis receptores: beta-1, que é responsável por fazer taquicardia e aumento de contratilidade cardíaca, e beta-2, que faz, principalmente, vasodilatação e broncodilatação • benefícios clínicos: mortalidade global, na morte por IC e por morte súbita, além de melhorarem sintomas e reduzirem taxas de re-hospitalizações por IC DICA: não há diferença entre iniciar a terapêutica com IECA ou BB, hoje preconiza-se a introdução destes dois fármacos precocemente com otimização simultânea; a prioridade na otimização é dependente do perfil de cada paciente. Quanto à morte súbita, os betabloqueadores são as drogas mais efetivas em sua prevenção • carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol. • O nebivolol, um BB com propriedades vasodilatadoras, foi testado em pacientes com IC, acima de 70 anos e com ICFEp, ICFEi e ICFEr • Os benefícios esperados com o uso de BB podem se tornar aparentes apenas após vários meses de uso e, em alguns pacientes, ocorrer tardiamente (após 12 meses). Os BB são benéficos ao promoverem antagonismo da hiperatividade simpática, que causa efeitos deletérios no miocárdio, provocando fibrose, remodelamento e disfunção ventricular. Dessa forma, os BB revertem os efeitos tóxicos do hiperadrenergismo no coração, promovendo remodelamento reverso. • O remodelamento reverso e aumento da FEVE, e a consequente melhora dos sintomas de IC ocorrem apenas algumas semanas ou meses após a introdução do BB Os BB devem ser iniciados com o paciente estável sem sinais clínicos de descompensação (congestão e/ou baixo débito cardíaco) com doses baixas, seguida de titulação lenta e progressiva, de acordo com a tolerância individual, até atingir doses-alvo uma vez que no início do tratamento pode ocorrer piora da função cardíaca • Assim, deve-se iniciar o tratamento com doses baixas, com aumento progressivo a cada 2 semanas, mediante monitoração de bradicardia ou piora dos sintomas de IC. • Caso haja acentuação dos sintomas, ajuste de diuréticos e vasodilatadoresdeve ser tentada antes de se considerar a redução da dose ou suspensão do BB • Devem ser mantidos nas doses-alvo nos pacientes em que a FEVE aumenta 10 pontos percentuais ou mesmo se torna-se normal Os BB, por ter efeito inotrópico e cronotrópico negativos, seu início pode descompensar a doença. Posto isso, não devemos iniciar a terapia com betabloqueadores durante descompensações da doença. Caso o paciente apresente queixa de dispneia, deve-se associar diureticoterapia com o intuito de não suspender o BB. • Os BB são recomendados para todos os pacientes com ICFER, inclusive na classe funcional IV após estabilização clínica hospitalar por 3 dias • No início do tratamento com BB, alguns pacientes podem referir piora funcional discreta, mas devem ser encorajados a manter o uso da medicação. • Pacientes com pneumopatia − e mesmo os asmáticos − podem ser tratados com BB, dando-se preferência para aqueles com maior seletividade β1 (como bisoprolol e nebivolol). • De forma semelhante à asma, a doença arterial periférica não é contraindicação absoluta ao uso dos BB. Nessa situação, deve-se dar preferência ao carvedilol, que é uma droga com efeito alfa-1 (vasodilatação). • Na presença de bloqueios atrioventriculares, deve-se, primeiramente, reduzir ou suspender outros fármacos que atuem no nodo atrioventricular, como digoxina e amiodarona Recomendações: • Bisoprolol, carvedilol e succinato de metoprolol para disfunção de VE sintomática para reduzir morbidade e mortalidade • Nebivolol para disfunção de VE sintomática em pacientes > 70 anos (pouca evidência). Contraindicações: bloqueios atrioventriculares avançados, doença arterial periférica grave, asma brônquica e doença pulmonar obstrutiva grave. Antagonistas da aldosterona A terapia otimizada com BB e IECA/BRA não diminui totalmente os níveis de aldosterona circulante, o que acontece com a associação de um antagonista da aldosterona. • O objetivo é atuar de forma complementar aos IECA/BRA no bloqueio do SRAA, através do bloqueio direto dos receptores da aldosterona no coração, auxiliando, dessa forma, no remodelamento reverso do miocárdio; já que a aldosterona é responsável pelo depósito de fibras de colágeno no miocárdio os antagonistas da aldosterona devem ser utilizados em associação com IECA e BB em todos os pacientes com ICFER, inclusive naqueles com IC com FEVE melhorada. • Indicados em pacientes sintomáticos com disfunção sistólica do VE, em classes funcionais II a IV da NYHA, associados ao tratamento padrão, apresentando efeitos contundentes sobre mortalidade e taxas de re-hospitalização • A dose inicial recomendada de esprinololactona é de 25 mg ao dia, podendo ser aumentada para 50 mg ao dia, caso os níveis séricos de potássio estejam adequados, ou reduzida para 12,5 mg ao dia ou em dias alternados, na eventualidade de níveis elevados de potássio • Não se deve administrar a combinação de antagonista da aldosterona, IECA e BRA, pelo risco de efeitos colaterais, como a piora da função renal e em especial de hipercalemia. • O uso de espironolactona em pacientes com insuficiência renal e níveis séricos limítrofes de potássio deve ser feito com cautela, necessitando-se de monitorização frequente e periódica da função renal e de eletrólitos. • Deve-se evitar o uso de espironolactona em pacientes com insuficiência renal avançada (creatinina > 2,5 mg/dL) e em pacientes com hipercalemia persistente (em geral potássio > 5,9 mmol/L • Efeitos adversos são ginecomastia e hipercalemia, frequente devido à associação com IECA ou BRA no tratamento da IC Recomendações: • Antagonista dos receptores mineralocorticoides para disfunção de VE sintomática, associada ao tratamento padrão com iECA/BRA/INRA e BB, para reduzir morbidade e mortalidade. Inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (sacubitril/valsartana) • Trata-se da associação de um BRA (valsartana) com o sacubitril, um inibidor da neprilisina, uma enzima que participa da degradação da bradicinina e dos peptídeos natriuréticos. Ao inibir essa enzima, ocorre um aumento no nível sérico dos peptídeos natriuréticos e da bradicinina, o que tem efeito benéfico na IC devido à vasodilatação e a um possível efeito anti-remodelamento. Uma vez que o INRA aumenta os níveis séricos de BNP, deve-se utilizar os níveis séricos de NT-pró-BNP na avaliação do prognóstico e na monitorização da resposta ao tratamento da ICFER, já que são menos afetados pelo uso da medicação • Atua simultaneamente no SRAA e na neprilisina (inibidor da neprilisina e do receptor da angiotensina − INRA). • Recomenda-se a troca de IECA/BRA para o sacubitril/valsartana nos pacientes com ICFEr que persistem sintomáticos, mesmo após o emprego de doses otimizadas dos bloqueadores neuro-hormonais. • É muito importante respeitar um período de 36 horas livres de tomada de IECA antes de se iniciar o sacubitril/valsartana (não precisa fazer isso com o BRA). Isso é feito para minimizar o risco de angioedema, um dos efeitos colaterais mais sérios do sacubitril- valsartan e cujo risco é aumentado pela sobreposição do efeito do IECA com a inibição da neprilisina. • O tratamento combinado com um IECA (ou BRA) e sacubitril/ valsartana está contraindicado. • A dose inicial recomendada de sacubitril/valsartana é de 49/51 mg, respectivamente, a cada 12 horas, para pacientes em uso de doses altas de IECA/BRA, com pressão arterial preservada (acima de 100 mmHg). • Naqueles pacientes com pressão arterial reduzida, idosos, ou que toleram apenas doses baixas de IECA/BRA, a dose inicial deve ser 24/26 mg a cada 12 horas, com aumento progressivo até a dose máxima tolerada • As doses devem ser aumentadas progressivamente a cada 2 a 4 semanas, mediante monitoração da função renal e eletrólitos, e sintomas hipotensivos, até a dose alvo de 97/103 mg a cada 12 horas. • O uso de INRA é seguro em pacientes hospitalizados com IC descompensada ou mesmo IC nova. Assim, o uso de INRA pode ser iniciado ainda durante a internação hospitalar, mesmo em pacientes com ICFER virgem de tratamento • Efeitos colaterais: piora significativa da função renal e hipercalemia. Além desses efeitos adversos, pelo aumento da bradicinina, essa droga também pode causar tosse e angioedema. Recomendações: • Sacubitril/valsartana, em substituição do IECA (ou BRA), para disfunção de VE sintomática, já em uso de terapêutica otimizada com terapia tripla para reduzir morbidade e mortalidade. • Sacubitril-valsartana, como início de tratamento na IC crônica sintomática, pode ser considerado no lugar de iECA ou BRA. (menos evidência) • Sacubitril-valsartana, em lugar de iECA/ BRA, pode ser considerado em pacientes hospitalizados com IC descompensada. (menos evidência) Inibidores de SGLT2 Mecanismo: Inibe a absorção de glicose e sódio no túbulo proximal por meio da inibição do receptor SGLT2, levando à glicosúria e natriurese. • Inibidores de SGLT2 (dapagliflozina ou empagliflozina) em pacientes com ICFEr sintomáticos diabéticos ou não já com dose máxima otimizada tolerada de BB, espirolactona, iECA/BRA ou INRA para reduzir desfechos cardiovasculares e progressão da disfunção renal. • Benefícios: redução de morte cardiovascular e hospitalização por IC • Principal efeito colateral: ITU Recomendações para o uso de inibidores de SGLT2 na prevenção de hospitalização por insuficiência cardíaca em pacientes DM 2: • Inibidores de SGLT2 (canagliflozina, dapagliflozina ou empagliflozina) para prevenção de hospitalização por IC em pacientes com diabetes tipo 2 e que apresentam fatores de risco cardiovasculares para aterosclerose ou doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida. • Inibidores de SGLT2 (dapagliflozina ou empagliflozina) como medicação antidiabética inicial associada ou não a metformina em pacientes com ICFEr Recomendações parao uso de inibidores de SGLT2 na prevenção de piora da função renal em pacientes com insuficiência cardíaca com ICFEr: • Inibidores de SGLT2 (dapagliflozin ou empagliflozin) em pacientes com ICFEr para a prevenção da redução da função renal em pacientes com e sem diabetes, com TGF > 20 mL/min/1,73 m2 Ivabradina Inibidor específico e seletivo da corrente If do nó sinoatrial, que modula o influxo das correntes iônicas, gerando redução da FC no repouso e no esforço • A FC elevada é um marcador de eventos em IC, podendo ser considerada um alvo terapêutico. • A ivabradina inibe seletivamente a corrente If no tecido do nó sinoatrial, reduzindo a FC, o que tem efeito benéfico na ICFER devido à modulação do tônus adrenérgico • Não deve ser usada durante gravidez. Recomendação: Para disfunção de VE sintomática, em paciente com terapêutica otimizada, em ritmo sinusal e com FC ≥ 70 bpm, para redução de hospitalização, morte cardiovascular e morte por IC • * Uso é estrito aos pacientes que estejam em ritmo sinusal, não havendo indicação em pacientes com FA ou outras taquiarritmias não sinusais. Digitálicos Mecanismo: aumentam a força de contração e diminuem a frequência cardíaca. • Os digitálicos não reduzem a mortalidade na IC. • Cuidado com a intoxicação digitálica • Em pacientes ambulatoriais, o digital é efetivo em reduzir a necessidade de internação hospitalar e redução de sintomas. Recomendações: • Digoxina para disfunção de VE sintomática, apesar de terapêutica otimizada com terapia tripla, para reduzir sintomas e hospitalizações (fraca evidência) • Digoxina para disfunção de VE, em pacientes com FA sintomáticos, apesar de terapêutica otimizada (incluindo BB), para controle de frequência ventricular (fraca evidência) Diuréticos de alça e tiazídicos • Objetivo: alívio de congestão ao provocar diurese, natriurese e alívio da sobrecarga volêmica. • Não reduz mortalidade! • Recomenda-se sempre o uso da menor dose terapêutica necessária com o uso continuado de diuréticos • A dosagem varia de 40 a 360 mg/dia de furosemida, dependendo da gravidade dos sintomas congestivos • Se um doente não responder à dose inicial, a dose deve ser aumentada em vez de administrar a mesma dose 2 X/dia • Se houver uma resposta boa, mas curta, pode ser necessária uma dosagem mais frequente. • As doses orais únicas máximas de furosemida são de 40 a 80 mg para pacientes com taxa de filtração glomerular (TFG) normal. • Em pacientes com insuficiência renal, pode ser administrada uma dose máxima mais elevada de 160 a 200 mg de furosemida (dose diária máxima de 600 mg). • Associam-se tiazídicos, na dose de 12,5 a 50 mg/dia, quando a dose de furosemida necessária para a compensação clínica se torna alta, geralmente > 160 mg/dia. Recomendações: • Diuréticos de alça (furosemida) para controle de congestão • Diurético tiazídico (hidroclorotiazida ou a clortalidona) associado ao diurético de alça para controle de congestão persistente, apesar de terapêutica otimizada e incrementos na dose de diurético de alça Efeitos dos DIU tiazídicos: • Os principais efeitos colaterais são eletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia, hipercalcemia) e metabólicos (hiperuricemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia e hipercolesterolemia). Nitrato e hidralazina A associação de nitrato com hidralazina tem como princípio terapêutico combinar os efeitos de venodilatação dos nitratos (em doses mais baixas, promovem apenas venodilatação, porém em doses mais altas são capazes de gerar dilatação arterial) com a vasodilatação arterial proporcionada pela hidralazina. https://www.uptodate.com/contents/furosemide-drug-information?search=DIURETICOS%20NA%20INSUFICIENCIA%20CARDIACA&topicRef=3512&source=see_link • Isso provoca redução da pré e da pós-carga do VE, o que diminui o trabalho cardíaco e, consequentemente, facilita o esvaziamento ventricular, melhorando a performance miocárdica. • O nitrato utilizado nos ensaios clínicos foi o dinitrato de isossorbida em doses elevadas. Recomendações: • Associação de hidralazina e nitrato para disfunção sistólica sintomática em classe funcional II-IV (NYHA) com contraindicação à IECA ou a BRA (insuficiência renal e/ou hipercalemia), independente de raça • Associação de hidralazina e nitrato para negros autodeclarados com disfunção sistólica sintomática em classe funcional III-IV (NYHA), apesar de terapêutica otimizada • Associação de hidralazina e nitrato para disfunção sistólica assintomática com contraindicação à IECA ou a BRA (IR e/ou hipercalemia), independente de raça BRA: bloqueadores dos receptores da angiotensina II; BRE: bloqueio de ramo esquerdo; CDI: cardiodesfibrilador implantável; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; H-N: combinação de hidralazina e nitrato; IC: insuficiência cardíaca; iECA: inibidores da enzima conversora da angiotensina; INRA: inibidor da neprilisina e do receptor de angiotensina; iSGLT2: inibidores do cotransportador de sódio e glicose 2; NYHA: New York Heart Association; TRC: terapia de ressincronização cardíaca *Se o paciente continuar sintomático após a terapia tripla otimizada, a quarta droga a ser utilizada deve ser ou o sacubitril-valsartana ou um inibidor da SGLT2 Ferro endovenoso A reposição de ferro deve ser feita em todos os pacientes com ICFER que apresentam ferropenia, ainda que não exista anemia evidente, pela piora associada ao prognóstico. • A reposição de ferro melhora a qualidade de vida, a capacidade funcional e reduz o número de hospitalizações em pacientes com ICFER, mas não tem impacto na sobrevida. • A reposição de ferro durante a internação por IC leva a menor número de hospitalizações subsequentes. O diagnóstico de ferropenia é feito na presença de níveis séricos de ferritina < 100 mg/L, ou quando os níveis séricos de ferritina estão entre 100 e 300 mg/L e a saturação de transferrina é < 20% • Procure as causas da ferropenia (principalmente perdas gastrointestinais). Como repor? • Droga de escolha: carboximaltose férrica • Dose de ataque (500 a 1.000 mg de ferro EV, em bolo ou diluída em soro fisiológico, semanalmente, até atingir a dose total de 2.000 mg em 6 semanas); • Seguida pela administração de 500 mg de ferro EV 6, 12 e 24 semanas após a correção se os níveis ainda forem anormalmente baixos Tratamento farmacológico da ICFEP Na ICFEP a maioria dos ensaios falhou em mostrar benefício de qualquer droga em redução de mortalidade, mostrando, no máximo, benefício na melhora dos sintomas e redução das taxas de hospitalização • Nenhuma droga demonstrou efeito de melhora da função diastólica nesses pacientes. • O tratamento é sintomático, com medidas não farmacológicas e diuréticos, e as demais drogas podem ser usadas para controle da doença de base. • Um dos pilares do controle de sintomas na ICFEP baseia-se no controle da congestão. Recomendações: • Diuréticos de alça (furosemida) ou tiazídicos (clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida) para diminuir sintomas congestivos • Tratamento de comorbidades como isquemia miocárdica, FA e hipertensão, conforme diretrizes vigentes, para diminuir sintomas ou progressão da doença • Espironolactona para redução de hospitalizações • BRAs para para redução de hospitalizações Tratamento da IC com Fração de Ejeção Levemente Reduzida (ICFElr) ICFEI pode não ser necessariamente uma entidade independente de IC, mas sim um estado de transição entre a ICFEP e a ICFER. Parece ser mais comum a ICFEI evoluir para ICFEP ao longo do tempo. • Apesar disso, a apresentação clínica dos pacientes com ICFEI aproxima-se mais àquela da ICFER. • Principal etiologia: a doença coronariana isquêmica • O tratamento da ICFEI deve ser focado no controle adequado das comorbidades associadas e no tratamento específicoda etiologia, sendo fundamental a pesquisa de doença coronariana devido à alta prevalência dessa condição. A resposta de pacientes com ICFElr ao tratamento da IC é semelhante à de pacientes com ICFEr. Recomendações: • Bisoprolol, carvedilol ou succinato de metoprolol para pacientes com ICFElr em ritmo sinusal para reduzir morbidade e mortalidade • iECA ou BRA para reduzir morbidade e mortalidade. • Espironolactona para reduzir morbidade e mortalidade • Sacubitril-valsartana em substituição ao iECA (ou BRA), para pacientes sintomáticos já em uso de terapêutica otimizada com terapia tripla para reduzir hospitalização. Tratamento da IC com fração de Ejeção Melhorada (ICFEm) • Manutenção da terapêutica modificadora de prognóstico utilizada no tratamento da ICFEr /---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------/ FIBRILAÇÃO ATRIAL Tratar sempre, ou pelo controle da FC, que deve ser mantida entre 60 e 70 bpm, em pacientes com FEVEr. • O controle da FC pode ser obtido pela administração de dose plenas de BB e nos casos resistentes se associa à digoxina. • Nos pacientes selecionados e destinados ao controle do ritmo, recomenda-se tentar a cardioversão elétrica eletiva, após a otimização do tratamento medicamentoso e na ausência de sintomas congestivos. • A amiodarona deve ser empregada antes e após cardioversão elétrica. • A ablação por cateter da FA em pacientes muito bem selecionados e em centros especializados com ICFER é superior ao controle do ritmo ou da FC, diminuindo a mortalidade geral ou a internação hospitalar, induzindo remodelamento reverso e melhora na classe funcional. • A ablação por cateter da FA é indicada em pacientes selecionados, como os mais jovens, com tempo mais curto de FA e com átrios não muito dilatados e intolerantes ou refratários ao tratamento do ritmo ou da FC. • A anticoagulação oral está recomendada para todos os pacientes com FA e ICFEr e deve ser mantida após a cardioversão elétrica ou a ablação Terapia de ressincronização cardíaca (TRC) A IC está associada à ocorrência de remodelamento miocárdico, o que pode desencadear distúrbios da condução intraventricular, conhecidos como bloqueios de ramo. • Sabe-se que os bloqueios de ramo, principalmente o bloqueio de ramo esquerdo (BRE), promovem contração assincrônica entre os ventrículos esquerdo e direito (fenômeno conhecido como dissincronismo interventricular). Isso leva a uma deterioração adicional da função ventricular, com agravamento do quadro de IC e piora dos sintomas • A TRC é uma técnica capaz de recuperar o sincronismo ventricular, baseada na estimulação artificial de ambos os ventrículos de forma programada. Isso se dá através da colocação de um marcapasso com eletrodos de estimulação nos ventrículos direito e esquerdo (esse último geralmente posicionado no seio coronariano). • Com a recuperação da contração ventricular sincrônica, espera-se uma melhora da função ventricular e consequentemente dos sintomas de IC Pacientes respondedores a TRC: etiologia não isquêmica, sexo feminino, duração do complexo QRS > 150 ms, padrão típico de BRE, átrios esquerdos de menor volume e IMC < 30 kg/m² Principais indicações: • TRC para IC sintomática, com FEVE ≤ 35%, em ritmo sinusal, com morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo e duração de QRS ≥ 150 ms, apesar de terapêutica otimizada, para reduzir morbidade e mortalidade (indicação com maior evidência) • TRC para IC sintomática, com FEVE ≤ 35%, em ritmo sinusal, com morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo e duração de QRS entre 130-150 ms, apesar de terapêutica otimizada, para reduzir morbidade e mortalidade E se o paciente com IC precisar de um marcapasso comum? Nesses pacientes, a estimulação do VD por um marcapasso simples pode ocasionar dissincronismo interventricular, piorando a FEVE e agravando os sintomas de IC (síndrome do marcapasso). Sendo assim, esses pacientes devem receber o marcapasso biventricular (TRC). Cardiversor desfibrilador implantável (CDI) A morte súbita é responsável por 30 a 50% dos óbitos dos portadores de IC, e cerca de 80% delas são decorrentes de arritmias ventriculares como taquicardia ventricular ou FV • Morte súbita cardíaca: morte inesperada de causa cardíaca que ocorre em aproximadamente 1 hora após o início dos sintomas • O CDI é um tipo de marcapasso com capacidade de reconhecer e, prontamente, tratar, através de um choque elétrico (desfibrilação ou cardioversão), arritmias ventriculares potencialmente graves, que poderiam causar morte súbita nos pacientes com ICFER Os maiores preditores de risco para morte súbita são: 1. Morte súbita recuperada; 2. Documentação de um episódio de taquicardia ventricular sustentada (TVS); e 3. Presença de disfunção ventricular com fração de ejeção ≤ 35% Principais indicações: • A indicação do CDI pode ocorrer em dois contextos clínicos distintos: na prevenção secundária (quando já houve algum evento de morte súbita ou arritmia ventricular grave instável documentado) e na prevenção primária de morte súbita (quando nunca houve evento arrítmico prévio documentado). Prevenção secundária: • CDI para sobreviventes de parada cardíaca devido à fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular (TV) sustentada (definida como aquela com duração maior que 30 segundos) com instabilidade hemodinâmica grave, excluindo-se causa totalmente reversível de arritmia, tais como isquemia miocárdica aguda ou distúrbios eletrolíticos; (forte evidência) • CDI na presença de doença cardíaca estrutural e documentação de TVS espontânea estável ou instável • CDI na presença de síncope recorrente, clinicamente relevante com indução de taquicardia ventricular instável ou FV no estudo eletrofisiológico invasivo Prevenção primária: • CDI na disfunção sistólica (FEVE ≤ 35%) sintomática em classe funcional II-III (NYHA), de etiologia isquêmica, pelo menos 40 dias após infarto e 90 dias após cirurgia de revascularização miocárdica, com terapêutica otimizada e com boa expectativa de vida em 1 ano (forte evidência) • CDI na disfunção sistólica (FEVE ≤ 35%) sintomática em classe funcional II-III (NYHA), de etiologia não isquêmica, com terapêutica otimizada e com mais de 6 meses de evolução DROGAS CONTRAINDICADAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Em quadros de IC, três tipos principais tipos de drogas são contraindicados: • As que causam retenção hidrossalina (AINES, corticoides e pioglitazona); • As cardiodepressoras (BCC não di-hidropiridínicos (verapamil e diltiazem), a propafenona, antidepressivos tricíclicos e quimioterápicos cardiotóxicos); e • As que aumentam a incidência de taquiarritmias malignas (sotalol, a propafenona e a quinidina) RESUMO GERAL TRC: terapia de ressincronização cardíaca; TCE: tronco de coronária esquerda;
Compartilhar