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Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA A insuficiência cardíaca descompensada (ICD) é definida como uma síndrome clínica na qual uma alteração estrutural ou funcional do coração leva à incapacidade de ejetar e/ou acomodar sangue dentro de valores pressóricos fisiológicos, causando limitação funcional e necessitando de intervenção terapêutica imediata. Além disso, é uma doença de rápida instalação dos sinais e sintomas associados à função cardíaca alterada, que pode estar relacionada a disfunções sistólica ou diastólica, anormalidades no ritmo cardíaco ou alterações nas pré e pós-cargas. Na maioria das vezes, é associada com risco de morte iminente e necessita do estabelecimento do tratamento urgente. Sendo assim, a insuficiência cardíaca (IC) descompensada é um conjunto de sinais ou sintomas de agravamento de uma IC antiga ou nova. A IC agudamente descompensada é uma condição ameaçadora à vida que, portanto, necessita de diagnóstico e tratamento imediatos e assertivos. EPIDEMIOLOGIA ▪ A IC apresenta incidência e prevalência elevadas em todo o mundo. Estima-se que 1 a 2% da população de países desenvolvidos apresente IC, havendo elevação dessa prevalência para 10% na população acima de 70 anos. ▪ Dados nacionais de 2012 demonstraram que de 1.137.572 internações por doenças do aparelho circulatório, 21,5% ocorreram por IC, com mortalidade de 9,5% na internação e 70% dos casos na faixa etária acima dos 60 anos. ▪ Cerca de 70% dos pacientes são internados por piora da IC crônica, 15% a 20% por um quadro inicial de IC, enquanto outros são admitidos por IC avançada ou em fase terminal refratária ao tratamento. ▪ Os custos com internação por descompensação chegam a aproximadamente 60% do custo total com o tratamento da IC. ▪ A miocardiopatia isquêmica é considerada a causa mais frequente de IC, entretanto, no Brasil, as miocardiopatias hipertensiva, chagásica e valvar apresentam papel importante, inclusive em relação às internações por descompensação. ETIOLOGIAS A insuficiência cardíaca descompensada pode ser resultado de diversos fatores relacionados não só ao funcionamento intrínseco do organismo do paciente, mas também aos ambiente em que ele está exposto e aos seus hábitos de vida: ▪ Fatores relacionados ao tratamento do paciente: Não aderência ou falta de acesso ao tratamento farmacológico, abuso de sal e água, consumo de drogas (lícitas ou ilícitas); ▪ Doença da artéria coronária: Síndrome Coronariana Aguda (SCA) incluindo infarto/isquemia do miocárdio, ruptura do septo ventricular. ▪ Miocardite; ▪ Síndromes valvares agudas: Regurgitação mitral/aórtica pós endocardite, ruptura de cordas de válvula mitral degenerativa, ruptura do musculo papilar isquêmico, dissecção da aorta, valva aórtica/mitral mecânica trombosada, ruptura ou perfuração de um folheto de prótese aórtica/mitral; ▪ Doença valvular progressiva: Estenose da valva aórtica/mitral e regurgitação aórtica/mitral graves; ▪ Estados cardiomiopáticos: Cardiomiopatia hipertrófica ou dilatada de início recente, mediada por taquicardia ou por estresse (Takotsubo); ▪ Hipertensão descompensada: estenose da artéria renal bilateral; ▪ Outros: anemia, descompensação de doença pulmonar obstrutiva crônica ou diabetes, cirurgia e complicações perioperatórias, disfunção tireoidiana, distúrbios hidroeletrolíticos, gravidez, lesão cerebrovascular, sepse. A principal causa da ICD é a diminuição da contratilidade miocárdica, geralmente ocasionada por cardiomiopatias isquêmicas, hipertensivas ou dilatadas. Sobrecargas hemodinâmicas de pressão ou volume, bem como distúrbios da frequência cardíaca (taquicardias ou bradicardias) e do enchimento ventricular, também são fatores habituais que levam a quadros de ICD. Frequentemente, a descompensação da IC crônica ocorre por conta de infecção, distúrbios de ritmo, hipertensão descompensada, não adesão medicamentosa e dieta. CONTROLE DOS FATORES DE DESCOMPENSAÇÃO ▪ Vacinação: Infecções nas vias aéreas são importantes fatores de descompensação no portador de IC e, por esse motivo, tais indivíduos devem receber vacina contra Influenza (anualmente) e pneumococo (dose única com reforço após 65 anos). ▪ Tabagismo: aumenta o risco de doença coronariana e infecções pulmonares, portanto, os pacientes com IC devem ser estimulados a abandonar o tabagismo (passivo e ativo). Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO ▪ AINEs: seletivos promovem retenção hidrossalina e aumentam da PA (os inibidores da COX-2 também possuem efeito pró-trombótico), devendo ser evitados nos pacientes com IC. ▪ Orientação para viagens: recomenda-se profilaxia para trombose venosa profunda em pacientes com IC independente da classe funcional, estando indicado o uso de meia elástica de média compressão para viagens prolongadas, devendo-se avaliar o uso de heparina profilática subcutânea quando a viagem durar >4h. FISIOPATOLOGIA O reconhecimento da fisiopatologia da IC e da ICD permite melhor compreensão na abordagem do paciente. Apesar da gravidade da doença, conhecendo-se princípios básicos de sua fisiopatologia é possível modificar sua evolução e seu prognóstico. A causa mais comum de ICD é a redução da contratilidade miocárdica, geralmente associada à cardiomiopatia isquêmica, dilatada idiopática, chagásica ou hipertensiva. Outras condições que levam à ICD são aquelas em que o coração é submetido a sobrecarga hemodinâmica (pressão ou volume), distúrbios de FC (bradi ou taquiarritmias) ou condições que interfiram no enchimento ventricular. A diminuição da função miocárdica, causada por uma disfunção cardíaca prévia, ativa mecanismos adaptativos compensatórios, sendo três os principais: o sistema renina- angiotensina-aldosterona, a hiperativação do sistema nervoso autônomo simpático e o aumento da secreção de ADH. Inicialmente, esses mecanismos adaptativos conseguem corrigir o baixo débito cardíaco. No entanto, sua manutenção contínua provoca o remodelamento ventricular, e, consequentemente, a descompensação do quadro. FASE INICIAL Na fase inicial da IC, antes mesmo do estabelecimento da ICD, há diminuição da função miocárdica e mecanismos adaptativos são estimulados para corrigir a disfunção ventricular. Após algum tempo transcorrido com o fator agressor, existe um limite a partir do qual esses mecanismos não são mais suficientes, ocorrendo a descompensação cardíaca. Essa adaptação continua causando dilatação cardíaca (remodelação ventricular) deletéria, sendo que, quanto maior a dilatação ventricular, pior o prognóstico do paciente. Simultaneamente a esse quadro, ocorre estimulação simpática e neuro-humoral, que podem ter aspecto adaptativo no início, mas sua perpetuação é deletéria ao longo do desenvolvimento da doença. Na fase inicial da doença, também são ativados os neuro- hormônios com efeito vasodilatador, como o fator atrial natriurético, que induz a vasodilatação arterial e consequente melhora da função cardíaca. Tal mecanismo é similar ao tratamento com vasodilatadores endovenosos (EV), instituídos para pacientes que apresentam ICD com alto débito. FASE AVANÇADA Em uma fase mais avançada, a maior estimulação neuro- humoral ocorre com predomínio dos neuro-hormônios com efeito vasoconstritor, que induzem o aumento da resistência periférica e a piora da função cardíaca, levando o coração a um círculo vicioso de agravamento progressivo. Nessa fase, drogas que modulem a estimulação neuro- humoral aumentada influenciam positivamente a evolução da doença. A ativação do sistema nervoso simpático provoca aumento da resistência vascular periférica (RVP) e do gasto energético das fibras miocárdicas (ao promover um aumento da força de contração do coração e da frequência cardíaca). Isso, juntamente às outras alterações sistêmicas neuro-hormonais (sistema renina-angiotensina- aldosterona e peptídeosvasomotores) e fatores inflamatórios, aumentam o estresse oxidativo e levam à perda progressiva da eficiência mecânica da bomba. Esse conjunto de fatores leva à exacerbação dos mecanismos de pré e/ou pós carga. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO Outro fator importante, presente em pacientes com ICD na fase avançada, é a elevação de citocinas, com o achado de maiores níveis do fator de necrose tumoral, de interleucina-6 e endotelinas. Essas alterações são responsáveis pela caquexia nos pacientes graves com ICD. A maior parte dos pacientes com ICD que chega à emergência se encontra no grupo por reagudização da IC crônica previamente diagnosticada, ou no dos com primeiro episódio de ICD ou no dos que possuem causa hipertensiva de ICD. Podem ser descritos, na maioria das vezes, dois perfis clínicos de pacientes com ICD, de fisiopatologia distinta da fase aguda: com presença ou ausência de hipertensão arterial. FUNÇÃO SISTÓLICA PRESERVADA A fisiopatologia dos pacientes com função sistólica preservada é diferente da de pacientes com baixa fração de ejeção. Os primeiros apresentam alteração da curva pressão-volume, de modo que aumentos semelhantes no volume ventricular se correlacionam a maior aumento da pressão ventricular. Isso significa que uma pequena sobrecarga de volume pode produzir edema pulmonar com maior facilidade. Outro importante parâmetro da fisiopatologia da ICD está relacionado à síndrome cardiorrenal. Os pacientes com função renal normal são mais jovens, geralmente mulheres e apresentam com menor frequência função sistólica preservada e hipertensão arterial. O desenvolvimento da insuficiência renal nesses pacientes se deve à combinação dos seguintes fatores: doença renal crônica prévia; disfunção sistólica e baixo volume-minuto; disfunção diastólica, diabetes, doença vascular ou hipertensão. Nos pacientes com ICD, a resposta renal à sobrecarga hídrica está diminuída e, após a internação, a função renal piora em grande parte destes. CLASSIFICAÇÃO A ICD pode se apresentar de forma aguda ou como exacerbação de quadros crônicos, podendo ser classificada em: ▪ IC aguda “nova” (sem diagnóstico prévio): Síndrome clínica de IC que ocorre em pacientes sem sinais e sintomas prévios dessa insuficiência, desencadeada por situações clínicas como infarto agudo do miocárdio, crise hipertensiva, rotura de cordoalha mitral. Nesse contexto, existe, habitualmente, congestão pulmonar, sem congestão sistêmica, e a volemia é geralmente normal, não sendo indicado o uso de altas doses de diuréticos, mas sim o tratamento da causa primária da descompensação (vasodilatador na crise hipertensiva, abertura da artéria na síndrome coronariana aguda (SCA) e correção da insuficiência mitral na rotura de cordoalha). ▪ IC crônica descompensada (exacerbação aguda de quadro crônico): Situação clínica em que ocorre exacerbação aguda ou gradual de sinais e sintomas de IC em repouso, em pacientes com diagnóstico prévio de IC, exigindo terapia adicional e imediata. É a apresentação clínica mais frequente de ICD e tem como causa mais comum a baixa aderência ao tratamento (restrição hidrossalina e uso inadequado das medicações). Entre outras causas, destacam-se: infecção, embolia pulmonar, uso de medicações como anti-inflamatórios, taqui ou bradiarritmias. Está habitualmente relacionada à congestão pulmonar e/ou sistêmica, com hipervolemia evidente. Além de se buscar a causa de descompensação, o manejo volêmico com diuréticos é fundamental. QUADRO CLÍNICO Na maioria dos pacientes com IC crônica, a sintomatologia piora de maneira gradual ao longo de dias ou semanas. Em se tratando de uma IC nova, na minoria dos casos, a descompensação é a primeira apresentação da IC. Cerca de 50% dos pacientes com IC no hospital tem fração de ejeção (FE) preservada (FE do ventrículo esquerdo > 50%), e o restante tem FE reduzida (≤40%) ou intermediária (41 a 50%). De modo geral, os pacientes costumam apresentar combinações de sintomas como: dispneia, fadiga, sobrecarga de volume, hipotensão, disfunção de órgãos- alvo, ortopneia e dispneia paroxística noturna; estes últimos sintomas costumam ser mais específicos de descompensação de IC. Em linhas gerais, existem seis perfis hemodinâmicos e clínicos de pacientes, estabelecidos pela Sociedade Europeia de Cardiologia, que podem coexistir num mesmo paciente: Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO LEVE A MODERADA DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Observada em pacientes com leves a moderados sinais de descompensação, não apresentando choque cardiogênico ou crise hipertensiva. Pode haver edema pulmonar. É mais comum ocorrer como descompensação da IC crônica. Os sintomas usuais são: dispneia progressiva, sintomas de congestão periférica/abdominal, noctúria e sintomas neurológicos. Além disso, os sinais físicos são, geralmente, variáveis de acordo com a gravidade, comumente, os pacientes apresentam sinais de congestão, como pressão venosa jugular alta, sinais de derrame pleural e edema de MMII. Ao exame cardíaco, pacientes com disfunção sistólica avançada exibem terceiro sinal cardíaco e batida apical lateralmente deslocada. Sopro de regurgitação mitral é audível quando há hipertrofia do ventrículo esquerdo e sopro de regurgitação tricúspide, se o ventrículo direito estiver sobrecarregado. A radiografia de tórax pode evidenciar cardiomegalia, além de derrame pleural e/ou edema intersticial pulmonar. SÍNDROME HIPERTENSIVA DE DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA IC Corresponde a 10% dos casos, é comum em pacientes com hipertensão descompensada. Caracterizada pelo aparecimento abrupto de sinais/sintomas de IC e por uma PA sistólica > 140 mmHg. Praticamente todos os pacientes tem fração de ejeção preservada. DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA IC COM EDEMA PULMONAR GRAVE Cerca de 15% dos pacientes apresentam edema pulmonar, porém, desse número, apenas cerca de 3% dos pacientes tem edema pulmonar grave, vale ressaltar que, o surgimento do edema geralmente está associado à PA elevada. Este quadro se caracteriza por uma sensação súbita e grave de sufocamento, taquidispneia, bem como o paciente não consegue falar frases completas. Há respiração ruidosa, sudorese profusa e a pele geralmente é fria, pálida e cianótica. Geralmente, a saturação de oxigênio é < 90% e a ausculta pulmonar evidencia roncos, sibilos e creptos nas bases que se estendem para os ápices a medida em que o edema pulmonar se agrava. À ausculta cardíaca, pode haver B3 e B4, além de sopros de regurgitação mitral/aórtica e de comunicação interventricular isquêmica. A radiografia de tórax pode mostrar cardiomegalia, redistribuição de sangue para zona superior, edema intersticial e alveolar. CHOQUE CARDIOGÊNICO A pressão arterial sistólica é geralmente < 90 mmHg e os sinais e sintomas característicos são: fadiga, alteração no estado mental, sinais de hipoperfusão (anormalidade de enzimas hepáticas ou azotemia pré-renal). O paciente pode ter taquipneia, taquicardia e extremidades frias/cianóticas com comprometimento da perfusão. Pode haver pressão de pulso diminuída e também pulsus alternans (pulso forte/normal alternando com pulso fraco durante ritmo sinusal normal), sinal raro e indicativo de disfunção grave do ventrículo esquerdo. Alguns pacientes podem apresentar choque oculto. Para identificá-lo, sugere-se a verificação do nível de lactato em pacientes com fraqueza acentuada e/ou perfusão incerta. Vale ressaltar, que o lactato no choque estará elevado, por isso a importância de investigar através do seu nível. Após excluir como causa do choque uma síndrome coronariana aguda, é importante fazer a ecocardiografia para excluir tamponamento cardíaco e caracterizar a função ventricular e integridade valvar. IC DE ALTO DÉBITO É incomum e geralmente se caracteriza por extremidades quentes, congestão pulmonar, taquicardia e pressão depulso ampla. Condições subjacentes a esse quadro são: anemia, tireotoxicose, insuficiência hepática avançada e condições esqueléticas. IC DIREITA Deve-se excluir embolia pulmonar como causa aguda nesses casos. A IC direita ocorre comumente em pacientes com disfunção ventricular direita e doença pulmonar crônica, insuficiência tricúspide isolada grave, doença pulmonar obstrutiva crônica ou outras doenças crônicas. DIAGNÓSTICO RECONHECIMENTO DO QUADRO A suspeita diagnóstica do paciente com insuficiência cardíaca descompensada (ICD) se faz através do reconhecimento da presença de sinais e sintomas de congestão pulmonar ou sistêmica, que estão presentes em Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO 90% dos pacientes. Associado à presença de congestão, cerca de 10% apresentam baixo débito cardíaco. A maioria dos pacientes com ICD apresenta história pregressa de insuficiência cardíaca (IC) ou de internação por IC, caracterizando IC crônica agudizada (pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada isquêmica, cardiomiopatia hipertensiva). Outro grupo se apresenta com quadro de ICD aguda “de novo”, sem história pregressa de IC, com instalação rápida e fator causal bem definido (infarto agudo do miocárdio, miocardite aguda, Takotsubo), caracterizando ICD nova descompensada. Cerca de 50-60% dos pacientes apresentam IC com fração de ejeção reduzida (ICFER), enquanto outros com fração de ejeção preservada (ICFEP), com prevalência possivelmente maior em pacientes mais idosos. EXAMES COMPLEMENTARES O diagnóstico de descompensação da IC deve ser feito a partir da anamnese e do exame físico juntamente com exames apropriados, como ECG, radiografia de tórax, biomarcadores como peptídeo natriurético cerebral (BNP) e N-terminal pro-BNP (NTpro-BNP) e ecocardiografia com Doppler. RADIOGRAFIA DE TÓRAX Na radiografia de tórax, os achados podem variar desde redistribuição da trama vascular pulmonar até cardiomegalia e extensas marcas intersticiais bilateralmente. A presença de derrame pleural é frequente em pacientes com descompensação da IC crônica. ELETROCARDIOGRAMA Fundamental no manejo das SCA. Alguns achados podem sugerir etiologias específicas: presença de ondas Q, ausência de progressão de R nas derivações precordiais e alterações de repolarização, especialmente do segmento ST, sugerem componente isquêmico; a associação de bloqueio de ramo direito e bloqueio divisional anterossuperior esquerdo sugere doença de Chagas; baixa voltagem no plano frontal sugere doença de depósito e derrame pericárdio. A presença de bloqueio de ramo esquerdo pode corresponder a infarto agudo do miocárdio ou remodelamento miocárdico pronunciado, conferindo mau prognóstico. As bradiarritmias e taquiarritmias podem ser causa da ICD e carregam implicações terapêuticas e prognósticas. EXAMES LABORATORIAIS Hemograma, ureia, creatinina, glicemia, eletrólitos e urina I são métodos simples e que auxiliam na definição de comorbidades, causa de descompensação, prognóstico e tratamento. Na suspeita de SCA, os marcadores de necrose miocárdica são importantes para o diagnós tico; além disso, elevação na ausência de coronariopatia obstrutiva apresenta valor prognóstico. Gasometria arterial, venosa central, lactato, integridade e função hepática devem ser colhidas em pacientes mais graves. Perfil tireoidiano e sorologia para Chagas podem ser considerados. BIOMARCADORES Auxiliam no diagnóstico e no prognóstico da ICD. Inúmeros biomarcadores têm sido pesquisados e os peptídeos natriuréticos, BNP e NT-ProBNP, são os mais extensamente utilizados e estabelecidos na prática clínica. São produzidos principalmente pelos ventrículos, mediante aumento de tensão das paredes ventriculares. São indicados para o diagnóstico diferencial de dispneia na sala de emergência(. Elevam-se na disfunção sistólica e também na ICFEP (mais intensamente na disfunção sistólica). Apresentam valor prognóstico e têm sido considerados marcadores de resposta ao tratamento da ICD, apesar de resultados controversos. Recentemente, estudo nacional demonstrou impacto diagnóstico e prognóstico da acetona exalada na ICD. ECOCARDIOGRAMA Principal método não invasivo para o diagnóstico de IC. Nos pacientes com ICD, é indicado para auxiliar na busca por etiologia e prognóstico, incluindo tipo de disfunção (sistólica e/ou diastólica), câmaras acometidas, lesões valvares, alterações de contratilidade segmentar e pericárdio. Na ICD, pode demonstrar progressão da disfunção e a causa de descompensação (derrame pericárdico, embolia de pulmão e isquemia aguda). Pode ser utilizado também para definição de perfil hemodinâmico e orientação terapêutica (eco- hemodinâmico). CATETER DE ARTÉRIA PULMONAR Permite a análise direta das pressões intracardíacas e intravasculares, além de parâmetros de micro- hemodinâmica. Está indicado para auxiliar na terapêutica de pacientes com ICD, principalmente na presença de Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO choque e avaliação da resistência vascular pulmonar, para indicação de transplante cardíaco. O estudo ESCAPE não demonstrou benefício do uso do cateter de artéria pulmonar no tratamento da ICD sem choque cardiogênico. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA A abordagem diagnóstica mais simples divide os pacientes com suspeita de descompensação da IC em três categorias: ▪ Alta probabilidade Pacientes com história prévia de IC: paciente com histórico prévio de IC e evidência de retenção de líquidos tem alta probabilidade diagnóstica; Pacientes sem história prévia de IC: paciente sem histórico prévio de IC com ortopneia de início recente, pressão jugular elevada e achados típicos de edema pulmonar, sem febre, tem alta probabilidade de diagnóstica de descompensação da IC. ▪ Probabilidade intermediária Pacientes com dispneia sem histórico de IC, com doença cardíaca conhecida, fatores de risco (doença coronariana, valvopatia, HAS ou DM) ou, ainda, aqueles que apresentam anormalidades ao ECG, sem evidências de edema pulmonar, são classificados como probabilidade intermediária. Nesses casos, pode ser útil solicitar biomarcadores e ecocardiografia. ▪ Baixa probabilidade Classifica-se como baixa probabilidade aqueles pacientes com dispneia sem evidências de doença cardíaca e apresentam outra explicação para sua sintomatologia, como doença pulmonar. Critérios de internação ▪ Imediata: EAP ou desconforto na posição sentada; Sat O2 < 90%; FC > 120 bpm (na ausência de FA); PAS < 75 mm de Hg; Alteração do NC devido a hipoperfusão; Presença de SCA associada. ▪ Urgência: Hepatomegalia grave, ascite e anasarca; Comorbidades descompensadas (DPOC/ Pneumonia, etc); - Sintomas de rápida progressão. ▪ Considerar: Queda rápida do Na+ < 130 mEq/l; Elevação rápida da CR; - Sintomas persistentes em repouso, apesar de tratamento oral otimizado. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS É importante excluir outras doenças em casos de pacientes com súbita dispneia associada, ou não, a desconforto torácico ou histórico de cardiopatia. Nesse contexto, outros possíveis diagnósticos diferenciais são: embolia pulmonar, infecções pulmonares, exacerbação de asma/DPOC e edema pulmonar não cardiogênico. Além disso, a maioria dos diagnósticos diferenciais de IC descompensada também pode ser fator precipitante do próprio quadro clínico. TRATAMENTO O tratamento deve ser direcionado ao perfil hemodinâmico do paciente, buscando resolver, com urgência, os fatores precipitantes de descompensação, o equilíbrio hemodinâmico e, por fim, ajustar a terapia ambulatorial para barrar a progressão da doença e melhorar os sintomas apresentados. ABORDAGEM INICIAL Na abordagem inicial devem ser feitas a monitorização (pressórica, eletrocardiográfica e respiratória), oxigenoterapia suplementar (manter a saturação de O2 > 90%) e acesso venoso.7 Para sistematizar essa abordagemé recomendado a execução do mnemônico ABCDEFGH abaixo, proposto pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Obs.: Com a proteção e a avaliação clínica/hemodinâmica do paciente em ICD, inicia-se rapidamente seu tratamento, procurando avaliar os oito itens do Quadro, não obrigatoriamente na sequência das letras. A – AVALIAÇÃO CLÍNICA/HEMODINÂMICA Na primeira fase da abordagem, deve-se priorizar o diagnóstico classificatório, cabendo ao médico definir em qual perfil clínico/hemodinâmico se encontra o paciente. A correta avaliação clínica do grau de congestão e da perfusão do paciente definirá se o paciente encontra-se no perfil A, B, C ou L. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO ▪ Perfil B (quente e úmido) Em pacientes com ICD, o perfil clínico/hemodinâmico quente e úmido (B) é a mais comum das apresentações, ocorrendo entre 50 e 70% dos casos que chegam à sala de emergência. Na literatura, poucos protocolos discutem a sistematização de diagnóstico e conduta. Morbidade e mortalidade desses pacientes podem ser diminuídas com a implementação de protocolos com condutas objetivas, que permitam melhor otimização do diagnóstico e com o acompanhamento de pacientes com perfil clínico/hemodinâmico quente e úmido (B). Esse perfil se caracteriza pela presença de elevadas pressões de enchimento ventricular. Isso se manifesta clinicamente pela presença de estase jugular, ortopneia, dispneia de decúbito, hepatomegalia, edema de membros inferiores, entre outros sinais de congestão. Nesse grupo, a perfusão tecidual deve estar adequada; portanto, esses pacientes devem estar com nível de consciência adequado, pulsos cheios, extremidades quentes e ausência de sinais de baixo fluxo. ▪ Perfil C (frio e úmido) Os pacientes com ICD que apresentam o perfil clínico/hemodinâmico frio e úmido (C) representam cerca de 20% dos pacientes descompensados, apresentam tanto baixo débito cardíaco quanto sinais de hipervolemia e representam o grupo com maior mortalidade. Caracteriza-se tanto pela presença de elevadas pressões de enchimento ventricular quanto pelo baixo índice cardíaco. No quadro clínico, portanto, os sintomas são de um indivíduo congesto com dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, aumento do volume abdominal e inchaço em membros inferiores. O paciente apresenta também sinais também de congestão associados a sintomas e sinais de baixo débito, como descritos anteriormente (nível de consciência inadequado, pulso fino e alternante, temperatura fria de antebraço e pernas, relação entre a pressão de pulso [sistólica- -diastólica] e a pressão menor que 25%, sugerindo IC < 2,2 L/minuto/m2 , diminuição da diurese e PA diminuída). Embora a PA seja um dos mais importantes sinais de baixo débito, é um dos componentes da síndrome. Não é necessária PA sistólica menor que 90 mmHg para caracterizar baixo débito. Obs.: Há congestão evidente e, portanto, hipervolemia ▪ Perfil L (frio e seco) Entre os pacientes admitidos em serviços médicos por quadro de descompensação aguda da IC, o perfil frio e seco (L) está presente em torno de 5% das apresentações, contra cerca de 20% dos pacientes com perfil C e cerca de 70% com perfil B. Esse perfil é, muitas vezes, decorrente da própria terapia da ICD, como a hipovolemia causada por diuréticos. O “C” da circulação é o aspecto mais importante nesse perfil. Pode-se notar que os pacientes incluídos nesse perfil são aqueles com baixo débito cardíaco e sem evidências clínicas de pressão de enchimento elevada. Comumente, esse subgrupo é constituído por pacientes estáveis e pouco sintomáticos, com quadro de congestão desprezível. Nessa fase, um teste de volume controlado por meio de avaliações clínicas, a fim de melhorar a volemia, pode ser útil com 250 mL, ou mais, de soro fisiológico. Após o teste de volemia, é importante medir novamente a PA, para definir a melhor opção terapêutica. B – BOA VENTILAÇÃO E ADEQUADA OXIGENAÇÃO Dispositivos não invasivos devem ser utilizados para aumentar o aporte de oxigênio para os tecidos, que deve ser escolhido de acordo com a necessidade individual dentre os diversos dispositivos existentes. Inicialmente, dividem-se os dispositivos de baixo e alto fluxo. O cateter e a máscara sem reservatório são dispositivos de baixo fluxo. O primeiro consegue ofertar no máximo 44% de FiO2 com fluxo de 6 L/minuto e a máscara, até 60% de FiO2 com fluxo de 6 a 10 L/minuto. A máscara de Venturi e a máscara com reservatório de oxigênio fornecem até 50% e 100% de FiO2 , respectivamente. Quando a oferta de oxigênio, o aporte ventilatório ou a necessidade de proteção de vias aéreas não forem adequados usando os dispositivos apresentados, deve ser considerada a ventilação mecânica, opção que não deve ser postergada na vigência do quadro agudo. Podem ser consideradas, se possível, a ventilação mecânica não invasiva (VMNI) e, em outros casos, a ventilação mecânica invasiva (VMI). Períodos de VMNI intermitentes com pressão positiva devem ser considerados em pacientes com EAP de origem cardiogênica. Sua ação primordial deve-se principalmente à diminuição do retorno venoso e, com isso, redução da pré- carga. A VMNI na forma de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) demonstrou redução da necessidade de VMI e da mortalidade nesse grupo de pacientes. Quando se compara CPAP com dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas (BiPAP), as duas modalidades ventilatórias foram superiores ao tratamento convencional em relação às taxas de intubação orotraqueal (IOT), mas não diferiram entre si. Outros autores também mostraram eficácia semelhante entre CPAP e BiPAP no tratamento do EAP, eventualmente com melhora mais rápida da hipercapnia, quando presente, com o BiPAP Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO C - CIRCULAÇÃO E REPOSIÇÃO VOLÊMICA Deve ser considerada a prova de volume de forma cuidadosa e monitorada nos casos em que não haja evidência de congestão pulmonar ou sistêmica. O volume aumenta a pré-carga e melhora a força contrátil e o volume sistólico. Os pacientes com perfil hemodinâmico C (frio e seco) ou A (quente e seco) têm maior benefício. Quando há dúvida em relação ao grau de perfusão do paciente, ou por real baixa perfusão, a infusão de 250 mL de soro fisiológico 0,9% se faz necessária, seguida de reavaliação imediata. Acesso venoso central com monitoração de pressão venosa central pode ser utilizado em casos específicos. D- DIURÉTICOS Todas as classes de diuréticos podem ser empregadas no manejo inicial da ICD. Os diuréticos de alça (furosemida) são os medicamentos de primeira escolha, em decorrência de seu efeito venodilatador, que já tem início nos primeiros minutos da administração endovenosa. Já têm uso consagrado, sem trabalhos que demonstrem redução na mortalidade, com grandes efeitos na hipervolemia e congestão. Em decorrência dessa ação inicial, diminuem a pré-carga; além disso, são drogas que promovem grande eliminação de água livre, efeito este mais tardio. É o diurético de escolha nas descompensações agudas de pacientes congestos. A dose recomendada é de 1 mg/kg como dose de ataque. Deve-se monitorar de forma cuidadosa os níveis de potássio e magnésio, por causa da espoliação que esses eletrólitos promovem. Os diuréticos tiazídicos (tiazida, hidroclorotiazida e indapamida) agem na bomba Na+/Cl– no túbulo contorcido distal, ganham espaço na ICD, principalmente no controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e como potencializadores dos diuréticos de alça. Os efeitos colaterais se traduzem em hiponatremia (principalmente em idosos), aumento da resistência à glicose e aumento nos níveis séricos de triglicérides e ácido úrico . A espironolactona, pertencente à classe dos diuréticos poupadores de potássio, antagoniza o efeito mineralocorticoide da aldosterona. Sua prescrição na fase crônica, quando usada em dose única diária, promoveredução de 30% das internações por causa cardíaca, além de redução de 30% no risco de morte. Por ser um diurético com mecanismo “hormonal”, seu início de ação pode levar de horas a dias e seu efeito natriurético pode persistir, mesmo após a suspensão, por longos períodos. O benefício do bloqueio da aldosterona nos quadros agudos foi documentado com a eplerenona, um análogo da espironolactona, que foi investigada em pacientes pós- infarto do miocárdio. Foi prescrita durante a fase hospitalar de pacientes com disfunção ventricular, reduzindo a mortalidade e as taxas de reinternação. Assim, os antagonistas da aldosterona tiveram a eficácia comprovada tanto na fase crônica quanto na aguda. Deve ser usada para amenizar o efeito caliurético dos outros diuréticos, tendo também um efeito diurético sinérgico, quando associada à furosemida e aos tiazídicos. E – ELETROCARDIOGRAMA Nesta fase, é necessário realizar de ECG de 12 derivações para diagnóstico de IAM ou quadro de isquemia aguda. O ECG é também de utilidade para o diagnóstico de arritmias e bloqueios avançados ainda não diagnosticados pela monitoração; deve ser realizado nos primeiros minutos da chegada do paciente à sala de emergência. F – FREQUÊNCIA CARDÍACA E CONTROLE DE ARRITMIAS Taquiarritmias ou bradiarritmias, que reduzem o débito cardíaco, devem ser corrigidas. O flutter e a fibrilação atrial (FA) aguda são importantes causas de descompensação em pacientes com IC, estes têm o risco dessas arritmias até 3,5 vezes maior que pacientes sem IC. A incidência de arritmias ventriculares na IC é alta e esses pacientes apresentam alto risco para morte súbita. Os distúrbios metabólicos devem ser investigados e corrigidos no paciente com arritmia. Drogas antiarrítmicas com propriedades inotrópicas negativas ou vasodilatadoras devem ser evitadas ou utilizadas com cautela. Apesar dos efeitos betabloqueadores, a amiodarona é o fármaco de escolha para pacientes com arritmia ventricular sustentada estável. Podem ser necessários cardioversão elétrica ou marca- passo nos pacientes instáveis. G – GARANTIA DE NÃO SUSPENSÃO DE DROGAS Aspecto importante a ser considerado é a não suspensão dos betabloqueadores nos pacientes que vêm fazendo uso desses medicamentos. A dose deve ser ajustada e a suspensão deve ser realizada somente em casos de instabilidade hemodinâmica grave, bloqueios atrioventriculares avançados ou efeito colateral comprovadamente relacionado ao medicamento. Várias evidências indicam que a suspensão dos betabloqueadores pode promover aumento da mortalidade. Quando houver suspeita de serem os responsáveis pela instabilidade Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO hemodinâmica dos pacientes, sua dose deve ser revista e podem ser suspensos, evitando, assim, a suspensão sistemática dessas substâncias. Os IECA, assim como os betabloqueadores, são as principais drogas para melhorar a sobrevida de pacientes com IC. Os IECA também devem ser mantidos na maior parte dos casos, sendo que as doses precisam ser ajustadas de acordo com o estado de perfusão do paciente e dos sinais de insuficiência renal, ou da presença de hiperpotassemia. Os vasodilatadores são indispensáveis no tratamento da ICD, portanto, sua suspensão sistemática somente prolongará o tempo de internação para que possam ser prescritos novamente. H – HEPARINA (PROFILAXIA DE TVP E TEP) Trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP) contribuem significativamente para aumentar a morbidade e a mortalidade de pacientes com ICD de qualquer perfil. A ICD, isoladamente, já é considerada um fator de alto risco para TVP e TEP, com risco de evento que pode chegar a 15% em pacientes internados. O quadro de ICD associado a outros fatores que podem existir nesses pacientes, como broncopneumonia, obesidade, uso de cateteres venosos centrais, idade avançada, necessidade de ventilação invasiva e imobilização, pode aumentar ainda mais o risco. A maioria dos estudos de profilaxia em pacientes clínicos utilizou as chamadas altas doses profiláticas de heparina, ou seja, heparina não fracionada (HNF) 5.000 UI, via subcutânea (SC), três vezes ao dia, ou heparina de baixo poder molecular (HBPM), SC, uma vez ao dia – enoxaparina 40 mg, dalteparina 5.000 UI e nadroparina 3.800 UI ou 5.700 UI, respectivamente, para peso menor ou maior do que 70 kg (Turpie, 2000). PADRÃO DE ABORDAGEM E DROGAS VASOATIVAS Uma vez avaliado o paciente e tomadas as medidas de suporte, é importante estar consciente da seleção clínica em que este se encaixe melhor para a classificação do perfil clínico hemodinâmico. Na sequência, é fundamental a abordagem específica de cada perfil clínico hemodinâmico, utilizando drogas vasoativas que muitas vezes são necessárias. VASODILATADORES Os nitratos constituem uma classe de medicamentos de grande utilidade na fase aguda da ICD, bem como na fase crônica, empregados em associação com vasodilatadores diretos, especialmente nos pacientes intolerantes aos IECA. ▪ Nitroglicerina Apresenta discreta potência de vasodilatação arterial. Contudo, seu grande benefício está na capacidade venodilatadora e coronário-dilatadora. Essa deve ser opção nos pacientes em que opta-se pelo uso endovenoso de vasodilatadores por motivos já explicados. Algumas de suas limitações é o desenvolvimento de taquifilaxia (doses maiores são necessárias para se obter o mesmo efeito) e cefaleia em um quinto dos pacientes. ▪ Nitroprussiato Possui efeito vasodilatador arterial e venoso. Pela possibilidade do fenômeno de roubo de fluxo coronariano (hoje questionado por muitos autores), tem o uso limitado em casos de síndromes coronarianas agudas levando à IC. Outro cuidado que se deve ter é com a possibilidade de intoxicação pelo cianeto (em geral, após quatro dias de uso contínuo). ▪ Morfina Diminui a pré-carga e a pós-carga, aliviando, de certa maneira, a pequena circulação. Também tem efeito cronotrópico negativo discreto. Tudo contribui para a diminuição do consumo de oxigênio, diminuição da pressão capilar pulmonar e melhora da sensação de dispneia. Alguns cuidados devem ser tomados com sua administração: se feita de maneira rápida e, sobretudo, em doses altas, poderá levar à depressão respiratória, bradicardia e hipotensão. INOTRÓPICOS Os inotrópicos não digitálicos são medicamentos que melhoram o desempenho ventricular, utilizados para estabilização de pacientes com ICD. Podem ser necessários na fase inicial da abordagem, dependendo do perfil clínico/hemodinâmico do paciente. Os inotrópicos podem ser classificados da seguinte forma, dependendo de seu mecanismo de ação: agonistas beta- adrenérgicos; inibidores da fosfodiesterase; sensibilizadores da troponina C aos íons Ca++ (respectivamente: dobutamina, milrinona e levosimendana). Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO ▪ Dobutamina É agonista beta-adrenérgico, aumentando cronotropismo e inotropismo cardíacos. Por ser a frequência cardíaca o principal determinante do consumo miocárdico de oxigênio, uma de suas consequências é o aumento do consumo de O2 (muitos estudos mostram aumento da mortalidade com o seu uso), podendo ainda ter sua ação reduzida caso o paciente esteja em uso prévio de betabloqueadores. A dose recomendada é de 5 a 20 μg/kg/min em BIC. O médico assistente deve ter em mente, ainda, outro fato importante: a dobutamina é considerada classe I no caso de choque cardiogênico (independente da etiologia). No entanto, essa droga apenas deve ser iniciada após PAM > 60 mmHg, pois seu início em pacientes hipotensos pode levar à piora (queda) dos níveis pressóricos, em decorrência da vasodilatação arterial periférica mediada pelos receptores alfa. Dessa maneira, aconselhamos estabelecer a chamada “cabeça de pressão”, ou seja, PAM > 60 mmHg, com o uso de vasocontritores, como a noradrenalina, evitando o fenômeno da piora inicial. Posteriormente,faz-se a retirada desta última. ▪ Levosimendana É uma droga sensibilizadora de cálcio que promove os efeitos ionotrópicos, sem aumentar o consumo miocárdico de O2 ou a concentração intracelular de cálcio, e efeitos vasodilatadores nas artérias sistêmicas. Sua administração precoce é indicada para aqueles pacientes que apresentem sintomas refratários à terapêutica inicial, apresentando bons resultados naqueles que já possuíam ICC ou faziam uso prolongado de beta bloqueadores (aumento do efeito hemodinâmico da levosimendana). Inicialmente, não deve ser usado em pacientes hipotensos ou com quadros isquêmicos ativos. ▪ Milrinona É um inibidor da fosfodiesterase III que promove os efeitos lusitrópico e ionotrópico positivos no miocárdio, causando aumento do débito cardíaco, porém, aumentando o gasto de O2 . Também possui efeito vasodilatador periférico, o que justifica sua indicação em casos de má perfusão periférica, podendo, no entanto, causar hipotensão. Obs.: No momento da escolha dos inotrópicos, deve-se considerar a PA do paciente e se este está em uso de betabloqueador ou não. Nos pacientes com PA abaixo de 85 mmHg, deve-se prescrever inotrópicos vasopressores, como dopamina, noradrenalina e dobutamina. Nos casos em que o paciente está em uso de um betabloqueador, deve-se preferir inotrópicos não betaestimulantes, como milrinona e levosimendana. RESUMO DO TRATAMENTO PROGNÓSTICO Uma estratégia para determinar o prognóstico desses pacientes é a creatinina > 1,5 mg/dL e PAS < 115 mmHg, de modo que, os pacientes com ambos os achados apresentam mortalidade > 60%. Fatores como perda de peso, sinais clínicos de melhora da congestão e aumento da albumina ou hemoglobina são provavelmente reflexo do grau de diurese do paciente. Este grau de diurese é o principal fator identificado como preditor de resultados positivos a curto prazo em pacientes com IC descompensada. ALTA HOSPITALAR Critérios para alta hospitalar incluem fatores desencadeantes da descompensação, obtenção de volume do paciente próximo ao ideal e terapia farmacológica, e transição para acompanhamento ambulatorial pós-alta. Assim, o planejamento da alta deve incluir detalhes de medicamentos (focando especialmente na adesão e ajuste de dose dos IECA/BRA e betabloqueador), restrição de sódio, acompanhamento precoce (dentro de uma semana após a alta), observação, monitorização do peso corporal, eletrólitos, ureia e creatinina séricas, além de encaminhamento para um acompanhamento formal da IC. Os diuréticos endovenosos usados no intra-hospitalar, visando melhorar o tratamento diurético ambulatorial, devem ser modificados para diuréticos orais dois ou mais dias antes da alta-hospitalar. Além disso, as vezes é Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO necessário o reajuste da posologia desses medicamentos a nível ambulatorial uma vez que no ambiente doméstico os pacientes têm uma ingesta de sal e líquidos menos regulada. EDEMA AGUDO DE PULMÃO O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica caracterizada pela transudação de líquido para o espaço alveolar, sendo o resultado de um desequilíbrio entre os fatores reguladores do transporte de líquido da microcirculação pulmonar para o espaço intersticial pulmonar, ou seja, desequilíbrio entre as pressões hidrostática e oncótica. FISIOPATOLOGIA Existem dois tipos diferentes de edema pulmonar em humanos: o edema pulmonar cardiogênico (também denominado hidrostático ou hemodinâmico) e o edema pulmonar não cardiogênico. Embora tenham causas distintas, o edema pulmonar cardiogênico e não cardiogênico podem ser de difícil distinção por conta de suas manifestações clínicas semelhantes. O diagnóstico preciso de edema agudo de pulmão requer uma compreensão das alterações microvasculares. No pulmão normal, o extravazamento de proteínas e de líquido ocorre principalmente através de pequenas lacunas entre os vasos capilares. Tais fluidos e solutos penetram o espaço intersticial alveolar normalmente, porém não penetram nos alvéolos pois o epitélio alveolar é composto por junções muito estreitas. Ainda sob condições normais, os capilares linfáticos removem a maior parte desse fluido filtrado do interstício e o transporta novamente à circulação sistêmica. Um rápido aumento da pressão hidrostática no capilares pulmonares, levando ao aumento das vias de filtragem de fluidos é a marca registrada do edema cardiogênico ou de sobrecarga de volume. A pressão hidrostática aumentada no capilares pulmonares geralmente se deve a elevação da pressão venosa pulmonar decorrente do aumento da pressão diastólica final do ventrículo direito e o aumento na pressão atrial esquerda. Suaves elevações da pressão atrial esquerda (18 a 25 mm Hg) podem causar edema. Com isso, ocorre rompimento do epitélio pulmonar, inundando o alvéolos com líquido pobre em proteínas. Por outro lado, o edema pulmonar não cardiogênico é causado por um aumento na permeabilidade vascular do pulmão, resultando em um aumento do fluxo de líquido e proteína no interstício pulmonar e espaços aéreos. No EAP não cardiogênico o edema possui um alto teor de proteínas, porque o sistema vascular membrana é mais permeável ao exterior e ao movimento de proteínas plasmáticas. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O quadro clínico do EAP cardiogênio e não cardiogênico é semelhante. O edema intersticial leva a dispneia, o preenchimento alveolar por líquido causa hipoxemia, podendo estar associado à tosse e à expectoração de líquido espumoso. HISTÓRIA CLÍNICA A história deve se concentrar na determinação do distúrbio clínico subjacente que levou ao edema pulmonar. As causas mais comuns do edema pulmonar cardiogênico incluem isquemia com ou sem infarto do miocárdio, descompensação da insuficiência cardíaca e disfunção da válvula mitral ou aórtica. A sobrecarga de volume também deve ser considerada. Uma típica história de dispneia noturna paroxística ou ortopneia sugere edema pulmonar cardiogênico. Em contraste, o edema pulmonar não cardiogênico está associado principalmente a outros distúrbios clínicos, incluindo pneumonia, sepse, aspiração de conteúdo gástrico e trauma associado à administração de múltiplas transfusões sanguíneas. A história deve se concentrar em sinais e sintomas de infecção, uma diminuição no nível de consciência associada a vômitos, trauma, e detalhes sobre o uso de medicamentos. Infelizmente, a história nem sempre é confiável para distinguir os dois tipos de edema. Por exemplo, um infarto agudo do miocárdio (sugerindo edema cardiogênico) pode ser complicado por síncope ou parada cardíaca com aspiração do conteúdo gástrico e EAP não cardiogênico. Por outro lado, em pacientes com trauma grave ou infecção (sugerindo edema não cardiogênico), a reposição volêmica pode levar à sobrecarga de volume e edema pulmonar por aumento na pressão hidrostática pulmonar. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO EXAME FÍSICO Pacientes com edema pulmonar cardiogênico muitas vezes têm um exame cardíaco anormal. Auscultação de B3 é relativamente específico para aumento na pressão diastólica final do ventrículo esquerdo, sugerindo disfunção ventricular esquerda. A especificidade deste achado é alta (90 a 97%), mas sua sensibilidade é baixa (9 a 51%). A ampla faixa de sensibilidade provavelmente reflete a dificuldade em identificar claramente B3 no exame físico. Um sopro consistente com estenose valvar ou regurgitação deve levantar suspeita para o diagnóstico de edema cardiogênico. Turgência de jugulares, hepatomegalia e edema periférico sugerem elevação da pressão venosa central. O edema periférico não é específico para insuficiência cardíaca esquerda e pode estar associado com insuficiência hepática ou renal, à insuficiência cardíaca direita ou infecção sistêmica. O exame pulmonar não é útil para a diferenciação, uma vez que a inundação alveolar de qualquercausa se manifestará como crepitações inspiratórias e frequentemente roncos. EXAMES COMPLEMENTARES LABORATORIAIS Um exame complementar que pode ser utilizado é a dosagem do peptídeo natriurético cerebral (BNP). O BNP é secretado predominantemente pelos ventrículos em resposta ao estiramento da parede e ao aumento da pressão intracardíaca. Em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, os níveis plasmáticos de BNP se correlacionam com a pressão diastólica final do ventrículo esquerdo e com a pressão da artéria pulmonar. Um nível de BNP abaixo 100 pg/mL indica que a insuficiência cardíaca é improvável (valor preditivo negativo,> 90%), considerando que um nível de BNP superior a 500 pg/mL indica que é provável a insuficiência cardíaca (valor preditivo positivo,> 90%). Os níveis de BNP entre 100 e 500 pg/mL não fornecem discriminação diagnóstica adequada. Achados eletrocardiográficos podem sugerir infarto agudo do miocárdio, assim como aumento na troponina também pode indicar dano aos cardiomiócitos. Contudo, a troponina também pode estar elevada em pacientes com sepse grave na ausência de evidência de síndrome coronariana aguda. Pacientes com rebaixamento do nível de consciência e com edema pulmonar de causa desconhecida, a investigação acerca do uso de medicações, dosagem de eletrólitos e o exame toxicológico pode legar ao diagnóstico. RADIOGRAFIA DE TÓRAX Os mecanismos cardiogênicos e não cardiogênicos de edema pulmonar resultam em algumas características distintas na radiografia de tórax. Radiografias de pacientes com EAP cardiogênico e não cardiogênico. A figura A mostra uma radiografia anteroposterior de um paciente de 51 anos com infarto agudo do miocárdio. Note o alargamento do espaço peribrônquico (cabeças de seta) e a proeminência das linhas septais (setas). A figura B mostra uma radiografia de um paciente de 22 anos cuja hemocultura era positiva para Streptococcus pneumoniae, causando pneumonia complicada por choque séptico e síndrome do desconforto respiratório agudo. Nota-se a presença de um infiltrado alveolar heterogêneo e presença de broncograma aéreo bilateral (setas), achados característicos, porém não específicos, de EAP não cardiogênico. Obs.: O ecocardiograma também é útil na investigação do mecanismo/etiologia do EAP, tais como alterações valvulares, avaliação da função ventricular, hipertrofia, dimensões das câmaras cardíacas etc (ECO-TE: apenas em casos selecionados). TRATAMENTO O tratamento instaurado para o EAP deve ser capaz de reduzir tanto a pré-carga quanto a pós-carga. Por isso, utiliza-se morfina, diuréticos de alça e vasodilatadores diretos, sendo iniciado o mais rápido possível. Além disso, o paciente deve ser bem monitorado, com: monitorização cardíaca, oxímetro de pulso, acesso venoso, máscara de oxigênio, decúbito elevado e, de preferência, manter as pernas pendentes para diminuir a pré-carga. MORFINA Isoladamente a morfina é a droga mais efetiva no tratamento da EAP. Trata-se de um antagonista do sistema nervoso simpático, logo, seus efeitos resultam em vasodilatação periférica, o que faz com que haja queda na pressão arterial e também na pressão venosa pulmonar, Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO promovendo assim, uma melhora sintomática. Além disso, a morfina age diminuído o trabalho respiratório e a demanda de oxigênio, pois ela é capaz de diminuir os reflexos ventilatórios. A dosagem é de 2 – 5 mg via endovenosa (EV) em bolus e em doses intermitentes a cada 5 – 30 minutos, podendo chegar até a dose máxima de 10 – 15mg, até o alívio da dispneia. O modo de diluição é – diluir uma ampola de morfina 10mg (1ml) em 9 ml de água bidestilada (ABD) e infundir de 2 – 5 ml (1mg/ml). DIURÉTICOS DE ALÇA Os diuréticos são drogas muito importantes no manejo do EAP. Eles conseguem produzir efeitos clínicos mesmo antes da diurese efetiva, devido aos efeitos dilatadores em artérias e veias periféricas, que é potencializado quando em associação com a morfina. A droga mais utilizada é a furosemida, na dose de 40 – 80 mg (0,5 a 1mg/kg) endovenosa (EV). No entanto, para os pacientes que já fazem uso crônico de furosemida, a dose pode chegar a 120 – 200 mg, sendo a dose máxima permitida 600 mg/dia. VASODILATADORES DIRETOS (NITROPRUSSIATO DE SÓDIO E NITROGLICERINA) Essas duas drogas são vasodilatadoras, logo atuam na resistência arterial e capacitância venosa, agem diminuindo tanto a pressão venosa pulmonar quanto o fluxo sanguíneo pulmonar. No que diz respeito à resistência arterial, o nitroprussiato é o que tem maior efeito, e possui uma maior probabilidade de hipotensão, enquanto que a nitroglicerina tem perda dos efeitos hemodinâmicos, devido à chamada tolerância farmacológica, após o uso prolongado, porém, seu efeito colateral mais comum também é a hipotensão. A dosagem de nitroglicerina é de 5mcg/min inicialmente com repetição a cada 3 – 5 minutos, e a dose máxima é variável, mas, de maneira geral, não deve ultrapassar 100 – 200 mcg. Quanto ao nitroprussiato de sódio, a dose é de 0,3 – 0,5 mcg/kg/min com um aumento de 0,5 mcg/kg/min a cada 3 – 5 minutos, até que se atinja os efeitos hemodinâmicos desejados, a dose máxima é 10 mcg/kg/min. Obs.: pacientes com hipertensão grave devem receber o nitroprussiato de sódio, já aqueles com cardiopatias isquêmicas subjacente, tem como droga de escolha a nitroglicerina. VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA E VENTILAÇÃO MECÂNICA A ventilação não invasiva (CPAP e BIPAP) é essencial para pacientes com EAP, visto que sua instalação reduz mortalidade, necessidade de intubação orotraqueal (IOT) e custos. A intubação orotraqueal (IOT) seguida de ventilação mecânica pode ser necessária nos casos de contraindicação para ventilação não invasiva, dispneia, diaforese e vasoconstrição persistentes e, ainda, se há risco imediato de morte ou quando a ventilação não invasiva falha. Obs.: O uso de hidralazina e betabloqueadores deve ser evitado, mas nos pacientes que mesmo com EAP necessitem de redução da FC, como no caso de EAP associado com isquemia miocárdica aguda, pode ser considerado o uso de metropolol. CHOQUE CARDIOGÊNICO DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA Choque cardiogênico define-se como uma síndrome clínica determinada por uma perfusão tecidual deficiente devido a um mau funcionamento cardíaco grave. Ocorre uma diminuição do débito cardíaco, o que leva a hipotensão e a hipóxia tanto da própria musculatura cardíaca, quanto da musculatura sistêmica. Essa síndrome, embora seja mais comumente decorrida de infarto agudo do miocárdio (exceto associado ao trauma, em que acaba sendo mais raro) e, inclusive, a mais grave complicação deste (6 a 8% dos casos, com mortalidade em torno de 50% em 30 dias), pode ser resultado de qualquer síndrome coronária aguda. Entre os pacientes acometidos por infarto agudo do miocárdio, os idosos e diabéticos são os mais propensos a evoluírem para choque. FISIOPATOLOGIA No choque cardiogênico, o mau funcionamento do miocárdio reduz o débito cardíaco, ocasionando hipotensão e diminuição da perfusão das coronárias, o que resulta em maior prejuízo da função do miocárdio e aumento da pressão diastólica final do ventrículo esquerdo, culminando em congestão pulmonar e hipóxia tecidual. Em geral, a causa desse mal funcionamento da bomba cardíaca pode estar relacionado ao tamponamento cardíaco, embolia gasosa, traumatismo fechado do coração. Importante ressaltar que a desregulação da bomba cardíaca leva a um ciclo de ventos, como mostrados na figura abaixo. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE DO ADULTO Dessa forma, ocorre uma progressiva danificação da funcionalidade do coração, conjuntamente à má perfusão do sistema e disfuncionalidade de órgãos. Além disso, com a finalidade de manter a perfusão tecidual de órgãos vitais, há maior atuação do sistema nervoso simpático e do mecanismo renina-angiotensina-aldosterona, resultandoem constrição dos vasos da circulação periférica, retenção de água e sal e aumento de pós carga, com consequente aumento da volemia e pré-carga. Conforme a síndrome evolui, esses mecanismos se mostram inadequados e pioram a função ventricular. QUADRO CLÍNICO No exame clínico, pacientes em estado de choque cardiogênico apresentam cianose de extremidades, turgência jugular, sudorese, pele fria e pegajosa, pulso fino e taquicardia. Além disso, paciente pode apresentar comprometimento mental em diferentes níveis, oligúria decorrente da diminuição de fluxo nas células renais, arritmias cardíacas, sinais de congestão pulmonar e sistêmica, como também sinais de doença crônica (como sopro secundários e lesões de valvas-B3). Importante enfatizar que alguns sinais e sintomas variam conforma a etiologia e gravidade do caso. DIAGNÓSTICO O diagnóstico dessa síndrome é principalmente clínico, sendo confirmado pela monitorização hemodinâmica, seguindo os critérios: Pressão arterial sistólica inferior a 90 mmHg por, no mínimo, 30 minutos, não respondendo à administração de fluidos; Aumento da pressão de oclusão da artéria pulmonar, com valor maior que 18 mmHg; Índice cardíaco menor que 2,2 L/min/m2; Diferença arteriovenosa de oxigênio maior que 5,5 mL/dL; Além disso, é importante a realização de exames complementares como eletrocardiograma, radiografia do tórax, dosagem de enzimas cardíacas, medida de saturação venosa central, entre outros, para descoberta da etiologia do choque, prognóstico, gravidade do caso e conduta terapêutica. TRATAMENTO O choque cardiogênico, como se trata de uma emergência, assim que diagnosticado deve ser tratado. No entanto, as condutas podem divergir no ambiente pré-hospitalar e no ambiente hospitalar. Dessa forma, as seguintes medidas devem ser imediatamente tomadas: Acesso central (no ambiente intra-hospitalar ou se não houver contraindicação); Correção da hipotensão, com drogas vasoativas (Noradrenalina ou Dobutamina – esta última é indicada para pacientes que mantem marcadores de lactato elevado) e monitorização da pressão, gasometria e lactato (uso de cateter arterial periférico é indicado); Sonda vesical para monitorização do debito urinário; Suplementação de oxigênio e garantia de ventilação adequada para melhorar perfusão tecidual; – Reestabelecimento da volemia, com diuréticos ou expansão volêmica, a depender do caso (a oferta de pequenos volumes seriados em choques cardiogênicos podem ser feitas, exceto em caso de grande edema pulmonar); Tratamento de arritmias, com marca-passos, cardioversão elétrica ou medicamentos antiarrítmicos, de acordo com o tipo de arritmia e sua repercussão; Correção de distúrbios acidobásicos e eletrolíticos e anemia; Tratamento da dor. FONTES Insuficiência cardíaca descompensada – Treinamento de emergências cardiovasculares avançado Tratado de Cardiologia – SOCESP, 3ª edição. Emergências Clínicas: Abordagem Prática – 13ª Ed. USP, 2019
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