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ANÁLISE DO CONTEXTO ECONÔMICO E SOCIAL BRASILEIRO AULA 6 Prof. Itamir Caciatori Junior 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos abordar aspectos multidisciplinares da economia, os quais dizem respeito à atuação dessa ciência com outras áreas do conhecimento, principalmente por meio da análise de indicadores. Para isso, vamos abordar os seguintes tópicos: a. Combinação de indicadores econômicos, sociais e ambientais; b. Potencialidades do uso de indicadores econômicos; c. Pressupostos e influências: PECs, PL e Leis; d. Análise do cenário macroeconômico e; e. Considerações e análise de riscos. CONTEXTUALIZANDO Você considera a economia uma ciência fechada? Quais são as principais relações dessa ciência com os demais campos do conhecimento? Qual é a influência das decisões políticas, tais como PECs, PLs e leis sobre a economia? Como estão se comportando os principais aspectos do cenário macroeconômico? O que são riscos e quais são suas subdivisões? Esses e outros assuntos que pretendemos trabalhar nesta etapa. TEMA 1 – COMBINAÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS Crédito: Dzhulbee/Shutterstock. 3 A análise de indicadores que envolvem diferentes fenômenos requer evidências de causalidade entre esses eventos. Ou seja, devem existir análises prévias que determinem que um dos fenômenos é responsável pelas variações no outro para que eles sejam considerados interligados. 1.1 Inflação e desemprego Os impactos da inflação sobre a taxa de desemprego são tratados por A. W. Phillips em um estudo de 1958 que envolveu dados da economia britânica entre 1861 e 1957. O título do estudo era The Relation between Unemployment and the Rate of Change of Money Wage Rates in the United Kingdon – 1861- 1913. Posteriormente, os economistas Paul Samuelson e Robert Solow utilizaram dados da economia americana e confirmaram os estudos de Phillips, batizando a descoberta anterior como a Curva de Phillips. A Curva de Phillips representa que, caso o governo queira reduzir a taxa de desemprego, pode fazer uso de políticas fiscal e monetária expansionista, as quais geram aumento da inflação. O formato da Curva de Phillips está descrito na Figura 1. Figura 1 – Curva de Phillips Fonte: Carvalho et al., 2015. Para o caso brasileiro, Mendonça, Sachsida e Medrano (2012) realizaram estudo econométrico no ano de 2012 e verificaram que a Curva de Phillips tem dificuldades em representar a dinâmica inflacionária brasileira, ou seja, 4 apresenta uma relação negativa, mas com baixa sensibilidade. Como conclusões adicionais, os autores verificaram que a expectativa futura de inflação e a inflação passada têm relevância na dinâmica do processo inflacionário. 1.2 Crescimento econômico e meio ambiente A análise entre crescimento econômico e os índices de degradação ambiental é exposta pela Curva de Kuznets Ambiental (CKA). A CKA representa que algumas medidas de degradação ambiental aumentariam nos momentos iniciais do crescimento econômico, porém eventualmente diminuiriam quando certo nível de renda fosse alcançado (Carvalho; Almeida, 2010). De forma ampliada, a CKA sugere que, quando um país pobre passa pela experiência de crescimento econômico, possui controle limitado da degradação ambiental em razão do seu nível de pobreza. Ou seja, quando está crescendo esse país não tem grandes preocupações com a degradação ambiental. À medida que experimenta o crescimento e, junto dele, a riqueza, esse país passa a se preocupar com a qualidade ambiental e passa a priorizar a redução da poluição. Dessa forma, o impacto ambiental é uma função de U invertido na renda per capita, conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2 – Curva de Kuznets Ambiental Crédito: Carvalho; Almeida, 2010. Curva de Kuznets Renda per capita Pr es sã o am bi en ta l 5 Após a análise entre a renda per capita e as emissões de CO2 por 187 países para o ano de 2004, Carvalho e Almeida (2010) verificaram que a hipótese da CKA sugere inicialmente que a poluição segue uma trajetória na forma de U invertida. Isso demonstra que os indicadores de degradação ambiental aumentam com o crescimento da renda até atingir um nível no qual o crescimento desta passa a reduzir esses indicadores. TEMA 2 – POTENCIALIDADES DO USO DE INDICADORES SOCIOECONÔMICOS Crédito: Ruslan Sitarchuk/Shutterstock. Os indicadores socioeconômicos são utilizados na literatura em pesquisas sobre diferentes temas. Dessa forma, a presente seção pretende elucidar algumas dessas relações entre esses indicadores e temas relevantes do cotidiano. 2.1 Indicadores socioeconômicos e governança mundial O trabalho de Marino et al. (2016) analisou a relação entre os indicadores de governança mundial do Banco Mundial e os índices de desenvolvimento socioeconômico dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os indicadores de desenvolvimento socioeconômico foram representados 6 pelo PIB e pelo IDH, enquanto a governança foi mensurada por seis dimensões estipuladas pelo Banco Mundial: voz e responsabilização; estabilidade política; eficácia do Governo; qualidade regulatória; Estado de Direito e; controle da corrupção. Os dados compreendem o período de 2005 a 2012. A governança foi definida pelos autores como as tradições e instituições pelas quais a autoridade de um país é exercida, incluindo o processo pelo qual os governos são selecionados, monitorados e substituídos, a capacidade do governo para formular e implementar políticas sólidas de forma eficaz e o respeito dos cidadãos e do Estado às instituições que governam suas interações econômicas e sociais (Marino et al., 2016, p. 726). Como resultado, os autores verificaram que: • O controle da corrupção impacta significativamente e de modo positivo a taxa de crescimento do PIB e o IDH, ou seja, o combate à corrupção nos países dos Brics melhora seus índices de desenvolvimento econômico; • A eficácia do Governo impacta significativamente o IDH; • As variáveis estabilidade política e voz e responsabilização também impactam a taxa de crescimento do PIB. 2.2 Indicadores socioeconômicos e mortalidade cardiovascular Na área da saúde, Soares et al. (2013) correlacionaram as taxas de mortalidade por doenças do aparelho circulatório nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, e em suas capitais com indicadores socioeconômicos. No estudo, os autores verificaram que, quando da redução da mortalidade nos três estados, essa ocorreu especialmente por queda de mortalidade por doenças cardiovasculares, em especial das doenças cerebrovasculares. A queda da mortalidade por doenças do aparelho circulatório foi precedida por redução da mortalidade infantil, elevação do produto interno bruto per capita e aumento na escolaridade, com forte correlação entre indicadores e taxas de mortalidade. Dessa forma, o estudo de Soares et al. (2013) verificou que a variação evolutiva dos indicadores demonstrou alta correlação com a redução na mortalidade por doenças cardiovasculares, o que representa a importância nas condições de vida da população para reduzir a mortalidade cardiovascular. 7 2.3 Abandono e atraso escolar e dados socioeconômicos No campo da educação, Pontili, Staduto e Henrique (2018) buscaram analisar se a proporção de adolescentes que optaram por não estudar tem relação com indicadores sociais e econômicos do município ou região em que esses adolescentes estão inseridos. Para isso, analisaram a média municipal de abandono e atraso escolar, relacionando-a com alguns indicadores socioeconômicos dos 1.188 municípios da região Sul do Brasil. A suposição dos autores era de que o adolescente em idade para cursar o Ensino Médio toma sua decisão de estudar (ou não), ou atrasa-senos estudos, influenciado pelas características tanto do mercado de trabalho, quanto da realidade social e econômica do ambiente em que está inserido. Dado que o município representa a realidade mais visível do adolescente, os autores acreditavam que, em municípios com possibilidades mais promissoras para o mundo do trabalho, o interesse em ingressar na escola e concluir o Ensino Médio fosse maior. Os resultados do estudo indicaram a existência autocorrelação espacial positiva do abandono e atraso escolar de agrupamentos significativos em que municípios com um alto valor para o indicador analisados estão rodeados por municípios em igual situação e vice-versa. Ou seja, o trabalho identificou que os municípios se agrupam conforme as taxas de abandono e atraso escolar, o que é definido de forma estatística como autocorrelação espacial. Assim, localizaram agrupamentos de municípios com altos índices de evasão e atraso escolar e, por outro lado, agrupamentos de unidades espaciais com reduzidos índices para esses dois indicadores educacionais. Outra descoberta foi que a instabilidade no mercado de trabalho, representada pela taxa de rotatividade e pela taxa de desemprego, afeta positivamente a taxa de abandono e atraso escolar em municípios vizinhos. Além disso, os autores verificaram que, quanto maior o crescimento econômico e a melhoria do desenvolvimento humano, em determinados municípios, menor a taxa de abandono e atraso escolar em municípios vizinhos. 8 TEMA 3 – PRESSUPOSTOS E INFLUÊNCIAS: PECs, PLs e LEIS Crédito: Alexandre Siqueira/Shutterstock. Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e Projetos de Lei (PLs) são mecanismos capazes de alterar dispositivos constitucionais, porém sem modificar estruturalmente cláusulas importantes da Carta Magna. Neste tema, estudaremos esses conceitos e as principais PECs e PLs recentes no Brasil. 3.1 Proposta de Emenda à Constituição – PEC A PEC é um instrumento capaz de alterar aspectos pontuais da Constituição Federal, ou seja, uma emenda. A aprovação de uma PEC requer um processo legislativo trabalhoso e rigoroso. As cláusulas pétreas da Constituição (forma federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos poderes e direitos e garantias individuais) não podem ser objetos de PEC. Uma PEC pode ser apresentada pelo presidente da República ou por um terço dos deputados federais ou dos senadores, ou ainda por mais da metade das assembleias legislativas. A aprovação de uma PEC depende de uma votação em dois turnos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, por três quintos dos votos dos deputados e dos senadores. 9 3.1.1 PEC N. 95/2016 – Teto de Gastos Essa Emenda Constitucional estabeleceu um limite para os gastos federais, equivalente à despesa de 2016, corrigida, em cada ano, pela inflação. Esse limite se aplicaria por dez anos, quando o objetivo é que o ajuste estivesse completo, com um corte da despesa primária de 4 a 5 pontos do PIB em uma década. A partir de 2027, o Poder Executivo poderá reavaliar a metodologia de correção do teto de gastos a cada quatro anos, sempre no primeiro ano de mandato do Presidente da República. O regime se encerra ao final do exercício de 2036. Essa duração estendida permite que o mecanismo funcione de forma independente dos mandatos do Poder Executivo. A origem do teto de gastos foi o desequilíbrio fiscal crônico das finanças brasileiras, decorrente do crescimento acelerado da despesa pública desde os anos 1990, o que levou a um aumento do déficit, da dívida pública e à expansão da carga tributária. Em 2016, a situação era um déficit nominal do setor público consolidado de 9% do PIB, déficit primário de 2,5% do PIB e dívida bruta do governo geral de 70% do PIB, em franco crescimento. Na ocasião, os especialistas acreditavam que, se o Brasil não executasse uma política de ajuste fiscal, chegaria em uma situação de insustentabilidade da dívida ao ponto do risco de não pagamento (Ministério da Fazenda, 2018). Porém, o mecanismo do teto de gastos não foi respeitado pelo Governo posterior, principalmente após o estabelecimento da PEC n. 1/2022, assunto do próximo tópico. 3.1.2 PEC N. 1/2022 – PEC das Bondades Aprovada em 13 de julho de 2022, amplia o Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, dobra o valor do vale gás (de R$ 66,00 para R$ 112,00) e institui uma ajuda mensal para taxistas e caminhoneiros autônomos de julho a dezembro de 2022 no valor de R$ 1 mil. A PEC visa abranger cerca de 21 milhões de famílias e o custo será de R$ 41,2 bilhões em 2022. Junto com a PEC das bondades foi aprovado o Estado de Emergência. Esse dispositivo blinda o governo de eventuais acusações sobre a violação da legislação que proíbe a criação de novos benefícios à população em um ano eleitoral e permite a ampliação dos auxílios prestados à população sem que a lei de responsabilidade financeira seja desrespeitada. Essa regra está disposta na 10 Lei n. 9.504 (1997). Essa lei diz que, no ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior (Julião, 2022). Na prática, o estado de emergência ocorre na iminência de danos à saúde e aos serviços públicos, requerendo recursos públicos emergenciais. Na ocasião da aprovação, as despesas primárias fora do teto de gastos alcançavam 1,5% do PIB no acumulado de 12 meses, conforme números apurados pela Instituição Fiscal Independente (IFI). Segundo o IFI, o efeito colateral da PEC é fragilizar a principal âncora fiscal do país, com consequentes efeitos sobre a sustentabilidade das contas públicas. Além disso, a aprovação da PEC aumenta o risco para as contas públicas no médio prazo e sinaliza falta de compromisso com a disciplina fiscal (Taiar, 2022). 3.2 Projeto de Lei Um projeto de lei pode ser apresentado por qualquer deputado ou senador, comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso, pelo presidente da República, pelo procurador-geral da República, pelo Supremo Tribunal Federal, por tribunais superiores e cidadãos. Os projetos começam a tramitar na Câmara, à exceção dos apresentados por senadores, que começam no Senado. O Senado funciona como Casa revisora para os projetos iniciados na Câmara e vice-versa. Os projetos são distribuídos às comissões conforme os assuntos de que tratam. Além das comissões de mérito, existem duas que podem analisar mérito e/ou admissibilidade, que são as comissões de finanças e tributação (análise de adequação financeira e orçamentária) e de Constituição e Justiça (análise de constitucionalidade). Um projeto de lei pode passar a tramitar em regime de urgência se o Plenário aprovar requerimento com esse fim. Geralmente, a aprovação de urgência depende de acordo de líderes. O projeto em regime de urgência pode ser votado rapidamente no Plenário, sem necessidade de passar pelas comissões. Os relatores da proposta nas comissões dão parecer oral durante a sessão, permitindo a votação imediata. Os projetos de lei ordinária são aprovados com maioria de votos (maioria simples), desde que esteja presente no Plenário a maioria absoluta dos 11 deputados (257). Os projetos de lei aprovados nas duas Casas são enviados ao presidente da República para sanção. O presidente tem 15 dias úteis para sancionar ou vetar. O veto pode ser total ou parcial. Todos os vetos têm de ser votados pelo Congresso. Para rejeitar um veto, é preciso o voto da maioria absoluta de deputados (257) e senadores (41) (Saiba..., 2019). Dentre os principais projetos de lei em tramitação nos últimos tempos (já foi aprovado no Senado) de relevância econômica, está o que tratada regulação dos Criptoativos, denominado Projeto de Lei n. 4.401. Esse projeto de lei atende à principal demanda por regulação das criptomoedas, que é a estruturação do mercado dessas moedas, que devem ser consideradas como ativos. Além disso, foram excluídos do projeto outros tipos de ativos e a utilização de criptoativos como valores mobiliários, uma vez que estes estão sujeitos à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Dessa forma, o projeto de lei contempla as funções de criptoativos como a realização de pagamentos ou com o propósito de investimentos. Os agentes negociadores desses ativos também são alvo do projeto de lei, o qual disciplina a sua atuação. Esses agentes efetuam a troca entre ativos virtuais e moeda nacional ou moeda estrangeira e outras negociações com esses tipos de ativos. Outro ponto de atenção é a proteção à negociação com moedas digitais, em razão do histórico observado de prejuízos ao público causados por esse tipo de transação no passado (Fernandes, 2022). TEMA 4 – ANÁLISE DO CENÁRIO MACROECONÔMICO Crédito: Brenda Rocha – Blossom/Shutterstock. 12 Dada a importância recente do assunto, o presente tema irá abordar a política monetária como ponto focal de análise macroeconômica, principalmente a recente escalada da inflação e seus componentes. O cenário macroeconômico durante a crise da Covid-19 forçou os bancos centrais a tomarem medidas para reestabelecerem o pleno funcionamento das economias. Assim, a Taxa Selic foi reduzida até o patamar de 2% na reunião de agosto de 2020 do Comitê de Política Monetária do Bacen (Copom), permanecendo nesse patamar até a reunião de março de 2021. Com o risco de inflação, o Copom iniciou um movimento de alta nos juros, culminando com uma taxa de 13,75% na reunião de agosto de 2022. De janeiro a setembro de 2022 o Índice de Preços ao Consumidor Amplo registrou alta de 4,09%, dividido entre as categorias demonstradas na Figura 3. Figura 3 – Divisão do IPCA de janeiro a setembro de 2022 por categorias Fonte: IBGE, 2022. Verifica-se uma concentração em dois indicadores, alimentação/bebidas e transportes. O item de alimentação é sazonal e a categoria de transportes vem sendo fortemente afetada pelos preços dos combustíveis, os quais são reajustados frequentemente pela Petrobrás para acompanhar os valores do Petróleo no mercado internacional. Essas duas categorias também são influenciadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que causaram problemas nas 22% 15% 4% 4%21% 13% 10% 6% 5% Alimentação e bebidas Habitação Artigos de residência Vestuário Transportes Saúde e cuidados pessoais Despesas pessoais Educação Comunicação 13 cadeias de fornecimento global de alimentos e petróleo. Ressalte-se que os dois países representam aproximadamente 15% da oferta global de milho e 25% de trigo. Dessa forma, isso faz com que o fenômeno da inflação não seja apenas restrito ao Brasil, mas aos demais países do globo. Os Estados Unidos, por exemplo, encerraram o ano de 2021 com uma inflação de 7% (índice CPI), índice 5,5% superior ao registrado no ano de 2020. No mesmo período, o IPCA brasileiro saiu de 4,52% para 10,06%. Além disso, para os países da OCDE, essa variação percentual ficou na casa dos 4 pontos percentuais (Monteiro, 2022). A queda no preço dos commodities esperada até o ano de 2023 alimenta a esperança dos analistas de que a meta de inflação do Brasil (3,25%) será atingida no próximo ano. Isso decorre do fato de que, atualmente o cenário atual está com um grau de incerteza acima do comum, principalmente relacionado aos preços internacionais do petróleo. O câmbio é outro componente que pode influenciar nesse cenário. Segundo Monteiro (2022), o Bacen estima que uma combinação do câmbio a R$ 5,00 e o barril do petróleo se mantendo estável na casa dos US$ 100 garantiriam a inflação de 2023 abaixo da meta. Além das commodities e do câmbio, a redução no nível da atividade econômica é outro fator apontado pela autora como um possível influenciador na redução da inflação. A expectativa para o aumento do PIB para 2023, que já foi de 2,5%, está em 1%, o que colabora para o cenário de baixa inflação porque distancia o Brasil de uma situação de pleno emprego. Porém, fatores que fogem ao controle do mercado e que estão na mão do governo também vêm afetando a taxa de inflação brasileira. Recentemente, a Petrobrás tem segurado o repasse das altas dos preços internacionais dos combustíveis para os preços domésticos. Dessa forma, a mediana das expectativas do boletim Focus para o IPCA encontra-se em 5,7%, com a previsão mínima em 5% e em trajetória decrescente. Isso possibilita uma esperança de que a meta de inflação para 2022, que é de 3,5%, com tolerância de 1,5% para mais ou para menos, seja cumprida. Outros itens que têm demonstrado deflação são os preços das matérias primas, o que se reflete nos Índices Gerais de Preços (IGPs), os quais estão desacelerando. Além disso, os núcleos da inflação – as medidas que tentam 14 suavizar o efeito dos itens mais voláteis – estão desacelerando (Rezende; Fernandes, 2022). Esses eventos demonstram como o cenário macroeconômico, principalmente o conflito entre Rússia e Ucrânia, afetaram o preço dos commodities e, com isso, a inflação pelo mundo. Porém, a desaceleração nesses preços e alguns fatores internos, como a retenção dos reajustes nos preços internacionais dos combustíveis pela Petrobrás, podem fazer com que a inflação se mantenha dentro da meta para o ano de 2022. TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES E ANÁLISE DE RISCOS Crédito: Modvector/Shutterstock. Neste tema demonstraremos o conceito e quais são os principais riscos, além de realizar o fechamento de nosso estudo. 5.1 Conceito e elementos de riscos O risco é algo que deve ser calculado e administrado para se ter maior confiabilidade nas decisões cotidianas. O conceito de risco está relacionado com a variabilidade de um evento, com a possibilidade de algo ocorrer de forma diferente do esperado. Porém, de onde ele vem? O risco pode vir da possibilidade de desastres naturais, de crises nos mercados financeiros, da inflação, da probabilidade de sermos enganados em transações de negócios ou mesmo por meio de decisões financeiras. Ele existe 15 porque o ser humano não tem como prever todas as variáveis de um evento, ou seja, em razão do princípio da racionalidade limitada. Dessa forma, quando tomamos decisões não temos todos os meios de nos assegurarmos que estamos completamente seguros dessas decisões porque também não conseguimos mapear todas as possibilidades de ocorrências futuras. Os riscos podem ser classificados como sistemáticos ou não sistemáticos. Os riscos sistemáticos são aqueles que afetam todas as pessoas de forma geral, como uma crise econômica. Dessa forma, mesmo que você não tenha tomado decisões para participar desse risco, você está correndo o risco sistemático. O risco não sistemático é um risco específico. Um exemplo é quando uma pessoa vai fazer uma viagem de motocicleta. O risco de essa pessoa se acidentar é um risco não sistemático que ela corre. A análise de riscos é a forma como as exposições ao risco são diagnosticadas, calculadas e analisadas, gerando controles para decisões financeiras nas condições de riscos expostas (Lima, 2018). Os riscos podem ser classificados em três grandes categorias: riscos estratégicos, riscos não estratégicos e riscos financeiros. A partir disso, os riscos se dividem a partir do tipo de risco associado. A Figura 4 demonstra os principais tipos de riscos e suas divisões. Figura 4 – Taxonomia do risco Fonte: Lima, 2018. Análise de riscos Riscos estratégicos -Risco do setor econômico -Risco de inovações tecnológicas -Risco de produtos e preços -Risco de marketing Riscos não estratégicos -Risco do cenário econômico -Riscopolítico Riscos financeiros Risco de mercado -Risco de taxas de juros -Risco de commodities Risco de ações Risco de crédito -Risco de inadimplência -Risco de degradação de crédito -Risco soberano Risco de liquidez -Risco de liquidez de ativos -Risco de fluxo de caixa Risco operacional -Risco de fraude -Risco de imagem -Risco de catástrofes Risco legal -Risco de legislação -Risco tributário -Risco de contrato 16 Dos riscos demonstrados na Figura 4, os riscos estratégicos são aqueles assumidos por vontade própria para promover ganhos no mercado e criar valor aos acionistas. Esse risco está relacionado às decisões do setor econômico de atuação de uma empresa sendo, dessa forma, assumidos pelo posicionamento de mercado. Exemplos desse tipo de risco são os riscos relativos a preços praticados, promoções de venda, campanhas de marketing e inovações tecnológicas. Os riscos não estratégicos são aqueles sob os quais a empresa não tem controle, pois envolvem a conjuntura econômica, social e política do ambiente em que a organização está inserida. Por isso, esses riscos são os mais difíceis de serem mitigados. Os riscos financeiros estão associados a possíveis perdas nos mercados financeiros e decorrem de flutuações nas variáveis desses mercados. Apresentam como subclassificação risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez, risco operacional e risco legal (Lima, 2018). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos tópicos que estudamos até aqui tivemos como objetivo demonstrar a vocês as principais variáveis e a sua forma de funcionamento em relação à economia brasileira. Essas variáveis não se restringiram ao campo econômico porque essa área depende e impacta outros segmentos da sociedade devendo, dessa forma, ser analisada em conjunto. Esperamos que as bases de dados e as formas de análise descritas no decorrer das etapas seja utilizada por vocês como forma de analisar outras variáveis econômicas, sociais, ambientais, demográficas etc., o que será essencial em sua posição de economista. TROCANDO IDEIAS A inflação é um mal que sempre ronda a economia brasileira em razão dos prejuízos que ela causou ao nosso país no passado. Os índices de inflação medem o aumento de preços de forma generalizada, ou seja, via cestas de consumo. Assim, pode ser que nem todos os aumentos sejam captados da mesma forma. 17 Dessa forma, propomos uma discussão: quais os principais preços que você sentiu maior alta nos últimos tempos? Esses produtos são nacionais ou importados? A qual das famílias descritas na Figura 3 esse produto pertence? NA PRÁTICA Saiba mais Você gostaria de saber, em uma economia transparente, como pensa um Banco Central a respeito da Política Monetária? Pois isso é possível. Nesta seção, incluímos uma entrevista coletiva do Bacen sobre a condução da Política Monetária com as principais análises e ações que essa instituição vem adotando sobre o assunto. Acesse o link a seguir: ENTREVISTA coletiva à imprensa sobre a condução da política monetária. Banco Central do Brasil, 23 jun. 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nnt_q_XQ2vg>. Acesso em: 31 out. 2022. FINALIZANDO Nesta etapa demonstramos como a economia se relaciona com outras áreas do conhecimento utilizando indicadores e outras ferramentas. Além disso, apresentamos a influência das decisões políticas e realizamos uma análise da conjuntura econômica brasileira, com foco na política monetária. Uma demonstração dos tipos de riscos também foi apresentada. Esperamos que você possa aproveitar essa etapa e ampliar seus conhecimentos sobre o assunto. 18 REFERÊNCIAS CARVALHO, F. et al. Economia monetária e financeira – Teoria e política. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. CARVALHO, T. S.; ALMEIDA, E. A hipótese da Curva de Kuznets Ambiental Global: uma perspectiva econométrico-espacial. Estudos Econômicos, v. 40, n. 3, p. 587-615, 2010. FERNANDES, E. O que está sendo regulado sobre criptomoedas. Valor, 29. abr. 2022. Disponível em: <https://valor.globo.com/legislacao/fio-da- meada/post/2022/04/o-que-esta-sendo-regulado-sobre-criptomoedas.ghtml>. Acesso em: 31 out. 2022. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. IBGE, 2022. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice- nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?=&t=destaques>. Acesso em: 31 out. 2022. JULIÃO, F. Entenda o que um decreto de estado de emergência muda na PEC dos Benefícios. CNN Brasil, 5. jul. 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/entenda-o-que-um-decreto-de-estado- de-emergencia-muda-na-pec-dos-beneficios/>. Acesso em: 31 out. 2022. LIMA, F. G. Análise de riscos. 2. ed. São Paulo: Grupo Gen, 2018. MARINO, P. DE B. L. P. et al. Indicadores de governança mundial: relação com os indicadores socioeconômicos dos países do Brics. Revista de Administração Pública, v. 50, n. 5, p. 721-743, 2016. MENDONÇA, M. J. C. DE; SACHSIDA, A.; MEDRANO, L. A. T. Inflação versus desemprego: novas evidências para o Brasil. Economia Aplicada, v. 16, n. 3, p. 475–500, 2012. MINISTÉRIO DA FAZENDA. Teto de gastos: o gradual ajuste para o crescimento do país. Brasília: Ministério da Fazenda, 2018. MONTEIRO, S. Horizonte incerto. Conjuntura Econômica, v. 76, n. 4, p. 22– 34, abr. 2022. 19 PONTILI, R. M.; STADUTO, J. A. R.; HENRIQUE, J. DA S. 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