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ANÁLISE DO CONTEXTO 
ECONÔMICO E SOCIAL 
BRASILEIRO 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Itamir Caciatori Junior 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa, vamos abordar aspectos multidisciplinares da economia, os 
quais dizem respeito à atuação dessa ciência com outras áreas do 
conhecimento, principalmente por meio da análise de indicadores. Para isso, 
vamos abordar os seguintes tópicos: 
a. Combinação de indicadores econômicos, sociais e ambientais; 
b. Potencialidades do uso de indicadores econômicos; 
c. Pressupostos e influências: PECs, PL e Leis; 
d. Análise do cenário macroeconômico e; 
e. Considerações e análise de riscos. 
CONTEXTUALIZANDO 
Você considera a economia uma ciência fechada? Quais são as principais 
relações dessa ciência com os demais campos do conhecimento? Qual é a 
influência das decisões políticas, tais como PECs, PLs e leis sobre a economia? 
Como estão se comportando os principais aspectos do cenário 
macroeconômico? O que são riscos e quais são suas subdivisões? Esses e 
outros assuntos que pretendemos trabalhar nesta etapa. 
TEMA 1 – COMBINAÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS, SOCIAIS E 
AMBIENTAIS 
 
Crédito: Dzhulbee/Shutterstock. 
 
 
3 
A análise de indicadores que envolvem diferentes fenômenos requer 
evidências de causalidade entre esses eventos. Ou seja, devem existir análises 
prévias que determinem que um dos fenômenos é responsável pelas variações 
no outro para que eles sejam considerados interligados. 
1.1 Inflação e desemprego 
Os impactos da inflação sobre a taxa de desemprego são tratados por A. 
W. Phillips em um estudo de 1958 que envolveu dados da economia britânica 
entre 1861 e 1957. O título do estudo era The Relation between Unemployment 
and the Rate of Change of Money Wage Rates in the United Kingdon – 1861-
1913. Posteriormente, os economistas Paul Samuelson e Robert Solow 
utilizaram dados da economia americana e confirmaram os estudos de Phillips, 
batizando a descoberta anterior como a Curva de Phillips. 
A Curva de Phillips representa que, caso o governo queira reduzir a taxa 
de desemprego, pode fazer uso de políticas fiscal e monetária expansionista, as 
quais geram aumento da inflação. O formato da Curva de Phillips está descrito 
na Figura 1. 
Figura 1 – Curva de Phillips 
 
Fonte: Carvalho et al., 2015. 
Para o caso brasileiro, Mendonça, Sachsida e Medrano (2012) realizaram 
estudo econométrico no ano de 2012 e verificaram que a Curva de Phillips tem 
dificuldades em representar a dinâmica inflacionária brasileira, ou seja, 
 
 
4 
apresenta uma relação negativa, mas com baixa sensibilidade. Como 
conclusões adicionais, os autores verificaram que a expectativa futura de 
inflação e a inflação passada têm relevância na dinâmica do processo 
inflacionário. 
1.2 Crescimento econômico e meio ambiente 
A análise entre crescimento econômico e os índices de degradação 
ambiental é exposta pela Curva de Kuznets Ambiental (CKA). A CKA representa 
que algumas medidas de degradação ambiental aumentariam nos momentos 
iniciais do crescimento econômico, porém eventualmente diminuiriam quando 
certo nível de renda fosse alcançado (Carvalho; Almeida, 2010). 
De forma ampliada, a CKA sugere que, quando um país pobre passa pela 
experiência de crescimento econômico, possui controle limitado da degradação 
ambiental em razão do seu nível de pobreza. Ou seja, quando está crescendo 
esse país não tem grandes preocupações com a degradação ambiental. À 
medida que experimenta o crescimento e, junto dele, a riqueza, esse país passa 
a se preocupar com a qualidade ambiental e passa a priorizar a redução da 
poluição. 
Dessa forma, o impacto ambiental é uma função de U invertido na renda 
per capita, conforme demonstrado na Figura 2. 
Figura 2 – Curva de Kuznets Ambiental 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Crédito: Carvalho; Almeida, 2010. 
Curva de Kuznets 
Renda per capita 
Pr
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5 
Após a análise entre a renda per capita e as emissões de CO2 por 187 
países para o ano de 2004, Carvalho e Almeida (2010) verificaram que a 
hipótese da CKA sugere inicialmente que a poluição segue uma trajetória na 
forma de U invertida. Isso demonstra que os indicadores de degradação 
ambiental aumentam com o crescimento da renda até atingir um nível no qual o 
crescimento desta passa a reduzir esses indicadores. 
TEMA 2 – POTENCIALIDADES DO USO DE INDICADORES 
SOCIOECONÔMICOS 
 
Crédito: Ruslan Sitarchuk/Shutterstock. 
Os indicadores socioeconômicos são utilizados na literatura em pesquisas 
sobre diferentes temas. Dessa forma, a presente seção pretende elucidar 
algumas dessas relações entre esses indicadores e temas relevantes do 
cotidiano. 
2.1 Indicadores socioeconômicos e governança mundial 
O trabalho de Marino et al. (2016) analisou a relação entre os indicadores 
de governança mundial do Banco Mundial e os índices de desenvolvimento 
socioeconômico dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do 
Sul). Os indicadores de desenvolvimento socioeconômico foram representados 
 
 
6 
pelo PIB e pelo IDH, enquanto a governança foi mensurada por seis dimensões 
estipuladas pelo Banco Mundial: voz e responsabilização; estabilidade política; 
eficácia do Governo; qualidade regulatória; Estado de Direito e; controle da 
corrupção. Os dados compreendem o período de 2005 a 2012. 
A governança foi definida pelos autores como 
as tradições e instituições pelas quais a autoridade de um país é 
exercida, incluindo o processo pelo qual os governos são selecionados, 
monitorados e substituídos, a capacidade do governo para formular e 
implementar políticas sólidas de forma eficaz e o respeito dos cidadãos 
e do Estado às instituições que governam suas interações econômicas 
e sociais (Marino et al., 2016, p. 726). 
Como resultado, os autores verificaram que: 
• O controle da corrupção impacta significativamente e de modo positivo a 
taxa de crescimento do PIB e o IDH, ou seja, o combate à corrupção nos 
países dos Brics melhora seus índices de desenvolvimento econômico; 
• A eficácia do Governo impacta significativamente o IDH; 
• As variáveis estabilidade política e voz e responsabilização também 
impactam a taxa de crescimento do PIB. 
2.2 Indicadores socioeconômicos e mortalidade cardiovascular 
Na área da saúde, Soares et al. (2013) correlacionaram as taxas de 
mortalidade por doenças do aparelho circulatório nos Estados do Rio de Janeiro, 
São Paulo, Rio Grande do Sul, e em suas capitais com indicadores 
socioeconômicos. 
No estudo, os autores verificaram que, quando da redução da mortalidade 
nos três estados, essa ocorreu especialmente por queda de mortalidade por 
doenças cardiovasculares, em especial das doenças cerebrovasculares. A 
queda da mortalidade por doenças do aparelho circulatório foi precedida por 
redução da mortalidade infantil, elevação do produto interno bruto per capita e 
aumento na escolaridade, com forte correlação entre indicadores e taxas de 
mortalidade. 
Dessa forma, o estudo de Soares et al. (2013) verificou que a variação 
evolutiva dos indicadores demonstrou alta correlação com a redução na 
mortalidade por doenças cardiovasculares, o que representa a importância nas 
condições de vida da população para reduzir a mortalidade cardiovascular. 
 
 
7 
2.3 Abandono e atraso escolar e dados socioeconômicos 
No campo da educação, Pontili, Staduto e Henrique (2018) buscaram 
analisar se a proporção de adolescentes que optaram por não estudar tem 
relação com indicadores sociais e econômicos do município ou região em que 
esses adolescentes estão inseridos. Para isso, analisaram a média municipal de 
abandono e atraso escolar, relacionando-a com alguns indicadores 
socioeconômicos dos 1.188 municípios da região Sul do Brasil. 
A suposição dos autores era de que o adolescente em idade para cursar 
o Ensino Médio toma sua decisão de estudar (ou não), ou atrasa-senos estudos, 
influenciado pelas características tanto do mercado de trabalho, quanto da 
realidade social e econômica do ambiente em que está inserido. Dado que o 
município representa a realidade mais visível do adolescente, os autores 
acreditavam que, em municípios com possibilidades mais promissoras para o 
mundo do trabalho, o interesse em ingressar na escola e concluir o Ensino Médio 
fosse maior. 
Os resultados do estudo indicaram a existência autocorrelação espacial 
positiva do abandono e atraso escolar de agrupamentos significativos em que 
municípios com um alto valor para o indicador analisados estão rodeados por 
municípios em igual situação e vice-versa. Ou seja, o trabalho identificou que os 
municípios se agrupam conforme as taxas de abandono e atraso escolar, o que 
é definido de forma estatística como autocorrelação espacial. Assim, localizaram 
agrupamentos de municípios com altos índices de evasão e atraso escolar e, por 
outro lado, agrupamentos de unidades espaciais com reduzidos índices para 
esses dois indicadores educacionais. 
Outra descoberta foi que a instabilidade no mercado de trabalho, 
representada pela taxa de rotatividade e pela taxa de desemprego, afeta 
positivamente a taxa de abandono e atraso escolar em municípios vizinhos. Além 
disso, os autores verificaram que, quanto maior o crescimento econômico e a 
melhoria do desenvolvimento humano, em determinados municípios, menor a 
taxa de abandono e atraso escolar em municípios vizinhos. 
 
 
 
 
 
 
8 
TEMA 3 – PRESSUPOSTOS E INFLUÊNCIAS: PECs, PLs e LEIS 
 
Crédito: Alexandre Siqueira/Shutterstock. 
Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e Projetos de Lei (PLs) são 
mecanismos capazes de alterar dispositivos constitucionais, porém sem 
modificar estruturalmente cláusulas importantes da Carta Magna. Neste tema, 
estudaremos esses conceitos e as principais PECs e PLs recentes no Brasil. 
3.1 Proposta de Emenda à Constituição – PEC 
A PEC é um instrumento capaz de alterar aspectos pontuais da 
Constituição Federal, ou seja, uma emenda. A aprovação de uma PEC requer 
um processo legislativo trabalhoso e rigoroso. As cláusulas pétreas da 
Constituição (forma federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e 
periódico; separação dos poderes e direitos e garantias individuais) não podem 
ser objetos de PEC. 
Uma PEC pode ser apresentada pelo presidente da República ou por um 
terço dos deputados federais ou dos senadores, ou ainda por mais da metade 
das assembleias legislativas. A aprovação de uma PEC depende de uma 
votação em dois turnos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, por 
três quintos dos votos dos deputados e dos senadores. 
 
 
9 
3.1.1 PEC N. 95/2016 – Teto de Gastos 
Essa Emenda Constitucional estabeleceu um limite para os gastos 
federais, equivalente à despesa de 2016, corrigida, em cada ano, pela inflação. 
Esse limite se aplicaria por dez anos, quando o objetivo é que o ajuste estivesse 
completo, com um corte da despesa primária de 4 a 5 pontos do PIB em uma 
década. A partir de 2027, o Poder Executivo poderá reavaliar a metodologia de 
correção do teto de gastos a cada quatro anos, sempre no primeiro ano de 
mandato do Presidente da República. O regime se encerra ao final do exercício 
de 2036. Essa duração estendida permite que o mecanismo funcione de forma 
independente dos mandatos do Poder Executivo. 
A origem do teto de gastos foi o desequilíbrio fiscal crônico das finanças 
brasileiras, decorrente do crescimento acelerado da despesa pública desde os 
anos 1990, o que levou a um aumento do déficit, da dívida pública e à expansão 
da carga tributária. Em 2016, a situação era um déficit nominal do setor público 
consolidado de 9% do PIB, déficit primário de 2,5% do PIB e dívida bruta do 
governo geral de 70% do PIB, em franco crescimento. Na ocasião, os 
especialistas acreditavam que, se o Brasil não executasse uma política de ajuste 
fiscal, chegaria em uma situação de insustentabilidade da dívida ao ponto do 
risco de não pagamento (Ministério da Fazenda, 2018). 
Porém, o mecanismo do teto de gastos não foi respeitado pelo Governo 
posterior, principalmente após o estabelecimento da PEC n. 1/2022, assunto do 
próximo tópico. 
3.1.2 PEC N. 1/2022 – PEC das Bondades 
Aprovada em 13 de julho de 2022, amplia o Auxílio Brasil de R$ 400,00 
para R$ 600,00, dobra o valor do vale gás (de R$ 66,00 para R$ 112,00) e institui 
uma ajuda mensal para taxistas e caminhoneiros autônomos de julho a 
dezembro de 2022 no valor de R$ 1 mil. A PEC visa abranger cerca de 21 
milhões de famílias e o custo será de R$ 41,2 bilhões em 2022. 
Junto com a PEC das bondades foi aprovado o Estado de Emergência. 
Esse dispositivo blinda o governo de eventuais acusações sobre a violação da 
legislação que proíbe a criação de novos benefícios à população em um ano 
eleitoral e permite a ampliação dos auxílios prestados à população sem que a lei 
de responsabilidade financeira seja desrespeitada. Essa regra está disposta na 
 
 
10 
Lei n. 9.504 (1997). Essa lei diz que, no ano em que se realizar eleição, fica 
proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da 
Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de 
emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução 
orçamentária no exercício anterior (Julião, 2022). Na prática, o estado de 
emergência ocorre na iminência de danos à saúde e aos serviços públicos, 
requerendo recursos públicos emergenciais. 
Na ocasião da aprovação, as despesas primárias fora do teto de gastos 
alcançavam 1,5% do PIB no acumulado de 12 meses, conforme números 
apurados pela Instituição Fiscal Independente (IFI). Segundo o IFI, o efeito 
colateral da PEC é fragilizar a principal âncora fiscal do país, com consequentes 
efeitos sobre a sustentabilidade das contas públicas. Além disso, a aprovação 
da PEC aumenta o risco para as contas públicas no médio prazo e sinaliza falta 
de compromisso com a disciplina fiscal (Taiar, 2022). 
3.2 Projeto de Lei 
Um projeto de lei pode ser apresentado por qualquer deputado ou 
senador, comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso, pelo presidente da 
República, pelo procurador-geral da República, pelo Supremo Tribunal Federal, 
por tribunais superiores e cidadãos. Os projetos começam a tramitar na Câmara, 
à exceção dos apresentados por senadores, que começam no Senado. O 
Senado funciona como Casa revisora para os projetos iniciados na Câmara e 
vice-versa. 
Os projetos são distribuídos às comissões conforme os assuntos de que 
tratam. Além das comissões de mérito, existem duas que podem analisar mérito 
e/ou admissibilidade, que são as comissões de finanças e tributação (análise de 
adequação financeira e orçamentária) e de Constituição e Justiça (análise de 
constitucionalidade). Um projeto de lei pode passar a tramitar em regime de 
urgência se o Plenário aprovar requerimento com esse fim. Geralmente, a 
aprovação de urgência depende de acordo de líderes. O projeto em regime de 
urgência pode ser votado rapidamente no Plenário, sem necessidade de passar 
pelas comissões. Os relatores da proposta nas comissões dão parecer oral 
durante a sessão, permitindo a votação imediata. 
Os projetos de lei ordinária são aprovados com maioria de votos (maioria 
simples), desde que esteja presente no Plenário a maioria absoluta dos 
 
 
11 
deputados (257). Os projetos de lei aprovados nas duas Casas são enviados ao 
presidente da República para sanção. O presidente tem 15 dias úteis para 
sancionar ou vetar. O veto pode ser total ou parcial. Todos os vetos têm de ser 
votados pelo Congresso. Para rejeitar um veto, é preciso o voto da maioria 
absoluta de deputados (257) e senadores (41) (Saiba..., 2019). 
Dentre os principais projetos de lei em tramitação nos últimos tempos (já 
foi aprovado no Senado) de relevância econômica, está o que tratada regulação 
dos Criptoativos, denominado Projeto de Lei n. 4.401. 
Esse projeto de lei atende à principal demanda por regulação das 
criptomoedas, que é a estruturação do mercado dessas moedas, que devem ser 
consideradas como ativos. Além disso, foram excluídos do projeto outros tipos 
de ativos e a utilização de criptoativos como valores mobiliários, uma vez que 
estes estão sujeitos à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários 
(CVM). Dessa forma, o projeto de lei contempla as funções de criptoativos como 
a realização de pagamentos ou com o propósito de investimentos. 
Os agentes negociadores desses ativos também são alvo do projeto de 
lei, o qual disciplina a sua atuação. Esses agentes efetuam a troca entre ativos 
virtuais e moeda nacional ou moeda estrangeira e outras negociações com esses 
tipos de ativos. Outro ponto de atenção é a proteção à negociação com moedas 
digitais, em razão do histórico observado de prejuízos ao público causados por 
esse tipo de transação no passado (Fernandes, 2022). 
TEMA 4 – ANÁLISE DO CENÁRIO MACROECONÔMICO 
 
Crédito: Brenda Rocha – Blossom/Shutterstock. 
 
 
12 
Dada a importância recente do assunto, o presente tema irá abordar a 
política monetária como ponto focal de análise macroeconômica, principalmente 
a recente escalada da inflação e seus componentes. 
O cenário macroeconômico durante a crise da Covid-19 forçou os bancos 
centrais a tomarem medidas para reestabelecerem o pleno funcionamento das 
economias. Assim, a Taxa Selic foi reduzida até o patamar de 2% na reunião de 
agosto de 2020 do Comitê de Política Monetária do Bacen (Copom), 
permanecendo nesse patamar até a reunião de março de 2021. 
Com o risco de inflação, o Copom iniciou um movimento de alta nos juros, 
culminando com uma taxa de 13,75% na reunião de agosto de 2022. De janeiro 
a setembro de 2022 o Índice de Preços ao Consumidor Amplo registrou alta de 
4,09%, dividido entre as categorias demonstradas na Figura 3. 
Figura 3 – Divisão do IPCA de janeiro a setembro de 2022 por categorias 
 
Fonte: IBGE, 2022. 
Verifica-se uma concentração em dois indicadores, alimentação/bebidas 
e transportes. O item de alimentação é sazonal e a categoria de transportes vem 
sendo fortemente afetada pelos preços dos combustíveis, os quais são 
reajustados frequentemente pela Petrobrás para acompanhar os valores do 
Petróleo no mercado internacional. Essas duas categorias também são 
influenciadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que causaram problemas nas 
22%
15%
4%
4%21%
13%
10%
6%
5%
Alimentação e bebidas Habitação Artigos de residência
Vestuário Transportes Saúde e cuidados pessoais
Despesas pessoais Educação Comunicação
 
 
13 
cadeias de fornecimento global de alimentos e petróleo. Ressalte-se que os dois 
países representam aproximadamente 15% da oferta global de milho e 25% de 
trigo. 
Dessa forma, isso faz com que o fenômeno da inflação não seja apenas 
restrito ao Brasil, mas aos demais países do globo. Os Estados Unidos, por 
exemplo, encerraram o ano de 2021 com uma inflação de 7% (índice CPI), índice 
5,5% superior ao registrado no ano de 2020. No mesmo período, o IPCA 
brasileiro saiu de 4,52% para 10,06%. Além disso, para os países da OCDE, 
essa variação percentual ficou na casa dos 4 pontos percentuais (Monteiro, 
2022). 
A queda no preço dos commodities esperada até o ano de 2023 alimenta 
a esperança dos analistas de que a meta de inflação do Brasil (3,25%) será 
atingida no próximo ano. Isso decorre do fato de que, atualmente o cenário atual 
está com um grau de incerteza acima do comum, principalmente relacionado aos 
preços internacionais do petróleo. O câmbio é outro componente que pode 
influenciar nesse cenário. Segundo Monteiro (2022), o Bacen estima que uma 
combinação do câmbio a R$ 5,00 e o barril do petróleo se mantendo estável na 
casa dos US$ 100 garantiriam a inflação de 2023 abaixo da meta. 
Além das commodities e do câmbio, a redução no nível da atividade 
econômica é outro fator apontado pela autora como um possível influenciador na 
redução da inflação. A expectativa para o aumento do PIB para 2023, que já foi 
de 2,5%, está em 1%, o que colabora para o cenário de baixa inflação porque 
distancia o Brasil de uma situação de pleno emprego. 
Porém, fatores que fogem ao controle do mercado e que estão na mão do 
governo também vêm afetando a taxa de inflação brasileira. Recentemente, a 
Petrobrás tem segurado o repasse das altas dos preços internacionais dos 
combustíveis para os preços domésticos. Dessa forma, a mediana das 
expectativas do boletim Focus para o IPCA encontra-se em 5,7%, com a 
previsão mínima em 5% e em trajetória decrescente. Isso possibilita uma 
esperança de que a meta de inflação para 2022, que é de 3,5%, com tolerância 
de 1,5% para mais ou para menos, seja cumprida. 
Outros itens que têm demonstrado deflação são os preços das matérias 
primas, o que se reflete nos Índices Gerais de Preços (IGPs), os quais estão 
desacelerando. Além disso, os núcleos da inflação – as medidas que tentam 
 
 
14 
suavizar o efeito dos itens mais voláteis – estão desacelerando (Rezende; 
Fernandes, 2022). 
Esses eventos demonstram como o cenário macroeconômico, 
principalmente o conflito entre Rússia e Ucrânia, afetaram o preço dos 
commodities e, com isso, a inflação pelo mundo. Porém, a desaceleração nesses 
preços e alguns fatores internos, como a retenção dos reajustes nos preços 
internacionais dos combustíveis pela Petrobrás, podem fazer com que a inflação 
se mantenha dentro da meta para o ano de 2022. 
TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES E ANÁLISE DE RISCOS 
 
Crédito: Modvector/Shutterstock. 
Neste tema demonstraremos o conceito e quais são os principais riscos, 
além de realizar o fechamento de nosso estudo. 
5.1 Conceito e elementos de riscos 
O risco é algo que deve ser calculado e administrado para se ter maior 
confiabilidade nas decisões cotidianas. O conceito de risco está relacionado com 
a variabilidade de um evento, com a possibilidade de algo ocorrer de forma 
diferente do esperado. Porém, de onde ele vem? 
O risco pode vir da possibilidade de desastres naturais, de crises nos 
mercados financeiros, da inflação, da probabilidade de sermos enganados em 
transações de negócios ou mesmo por meio de decisões financeiras. Ele existe 
 
 
15 
porque o ser humano não tem como prever todas as variáveis de um evento, ou 
seja, em razão do princípio da racionalidade limitada. Dessa forma, quando 
tomamos decisões não temos todos os meios de nos assegurarmos que estamos 
completamente seguros dessas decisões porque também não conseguimos 
mapear todas as possibilidades de ocorrências futuras. 
Os riscos podem ser classificados como sistemáticos ou não sistemáticos. 
Os riscos sistemáticos são aqueles que afetam todas as pessoas de forma geral, 
como uma crise econômica. Dessa forma, mesmo que você não tenha tomado 
decisões para participar desse risco, você está correndo o risco sistemático. O 
risco não sistemático é um risco específico. Um exemplo é quando uma pessoa 
vai fazer uma viagem de motocicleta. O risco de essa pessoa se acidentar é um 
risco não sistemático que ela corre. 
A análise de riscos é a forma como as exposições ao risco são 
diagnosticadas, calculadas e analisadas, gerando controles para decisões 
financeiras nas condições de riscos expostas (Lima, 2018). 
Os riscos podem ser classificados em três grandes categorias: riscos 
estratégicos, riscos não estratégicos e riscos financeiros. A partir disso, os riscos 
se dividem a partir do tipo de risco associado. A Figura 4 demonstra os principais 
tipos de riscos e suas divisões. 
Figura 4 – Taxonomia do risco 
 
Fonte: Lima, 2018. 
Análise de riscos
Riscos estratégicos
-Risco do setor econômico
-Risco de inovações tecnológicas
-Risco de produtos e preços
-Risco de marketing
Riscos não estratégicos
-Risco do cenário econômico
-Riscopolítico
Riscos financeiros
Risco de mercado
-Risco de taxas de juros
-Risco de commodities
Risco de ações
Risco de crédito
-Risco de inadimplência
-Risco de degradação de crédito
-Risco soberano
Risco de liquidez
-Risco de liquidez de ativos
-Risco de fluxo de caixa
Risco operacional
-Risco de fraude
-Risco de imagem
-Risco de catástrofes
Risco legal
-Risco de legislação
-Risco tributário
-Risco de contrato
 
 
16 
Dos riscos demonstrados na Figura 4, os riscos estratégicos são aqueles 
assumidos por vontade própria para promover ganhos no mercado e criar valor 
aos acionistas. Esse risco está relacionado às decisões do setor econômico de 
atuação de uma empresa sendo, dessa forma, assumidos pelo posicionamento 
de mercado. Exemplos desse tipo de risco são os riscos relativos a preços 
praticados, promoções de venda, campanhas de marketing e inovações 
tecnológicas. 
Os riscos não estratégicos são aqueles sob os quais a empresa não tem 
controle, pois envolvem a conjuntura econômica, social e política do ambiente 
em que a organização está inserida. Por isso, esses riscos são os mais difíceis 
de serem mitigados. 
Os riscos financeiros estão associados a possíveis perdas nos mercados 
financeiros e decorrem de flutuações nas variáveis desses mercados. 
Apresentam como subclassificação risco de mercado, risco de crédito, risco de 
liquidez, risco operacional e risco legal (Lima, 2018). 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nos tópicos que estudamos até aqui tivemos como objetivo demonstrar a 
vocês as principais variáveis e a sua forma de funcionamento em relação à 
economia brasileira. Essas variáveis não se restringiram ao campo econômico 
porque essa área depende e impacta outros segmentos da sociedade devendo, 
dessa forma, ser analisada em conjunto. 
Esperamos que as bases de dados e as formas de análise descritas no 
decorrer das etapas seja utilizada por vocês como forma de analisar outras 
variáveis econômicas, sociais, ambientais, demográficas etc., o que será 
essencial em sua posição de economista. 
TROCANDO IDEIAS 
A inflação é um mal que sempre ronda a economia brasileira em razão 
dos prejuízos que ela causou ao nosso país no passado. Os índices de inflação 
medem o aumento de preços de forma generalizada, ou seja, via cestas de 
consumo. Assim, pode ser que nem todos os aumentos sejam captados da 
mesma forma. 
 
 
17 
Dessa forma, propomos uma discussão: quais os principais preços que 
você sentiu maior alta nos últimos tempos? Esses produtos são nacionais ou 
importados? A qual das famílias descritas na Figura 3 esse produto pertence? 
NA PRÁTICA 
Saiba mais 
Você gostaria de saber, em uma economia transparente, como pensa um 
Banco Central a respeito da Política Monetária? Pois isso é possível. Nesta 
seção, incluímos uma entrevista coletiva do Bacen sobre a condução da Política 
Monetária com as principais análises e ações que essa instituição vem adotando 
sobre o assunto. Acesse o link a seguir: 
ENTREVISTA coletiva à imprensa sobre a condução da política 
monetária. Banco Central do Brasil, 23 jun. 2022. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=nnt_q_XQ2vg>. Acesso em: 31 out. 2022. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa demonstramos como a economia se relaciona com outras 
áreas do conhecimento utilizando indicadores e outras ferramentas. Além disso, 
apresentamos a influência das decisões políticas e realizamos uma análise da 
conjuntura econômica brasileira, com foco na política monetária. Uma 
demonstração dos tipos de riscos também foi apresentada. Esperamos que você 
possa aproveitar essa etapa e ampliar seus conhecimentos sobre o assunto. 
 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
CARVALHO, F. et al. Economia monetária e financeira – Teoria e política. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 
CARVALHO, T. S.; ALMEIDA, E. A hipótese da Curva de Kuznets Ambiental 
Global: uma perspectiva econométrico-espacial. Estudos Econômicos, v. 40, 
n. 3, p. 587-615, 2010. 
FERNANDES, E. O que está sendo regulado sobre criptomoedas. Valor, 29. abr. 
2022. Disponível em: <https://valor.globo.com/legislacao/fio-da-
meada/post/2022/04/o-que-esta-sendo-regulado-sobre-criptomoedas.ghtml>. 
Acesso em: 31 out. 2022. 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCA – Índice Nacional de 
Preços ao Consumidor Amplo. IBGE, 2022. Disponível em: 
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-
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	Conversa inicial
	Contextualizando
	3.1.1 PEC n. 95/2016 – Teto de Gastos
	3.1.2 PEC n. 1/2022 – PEC das Bondades
	Trocando ideias
	Na prática
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

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