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Teoria 2 - O construtivismo nas Relações Internacionais

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22/05/2023, 12:41 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22/05/2023, 12:41 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17
Profª Natali Hoff
CONVERSA INICIAL
Nesta aula da disciplina, será abordada mais uma corrente teórica pertencente ao chamado
quarto debate das Relações Internacionais, situado ao final dos anos 1980 (Nogueira; Messari, 2005).
Trata-se do construtivismo, uma metateoria que lança questões em relação aos fundamentos
mesmos da disciplina: seus pressupostos epistemológicos, conceituais e metodológicos. Tal como
outras abordagens ligadas ao quarto debate, o construtivismo também se alimenta de contribuições
oriundas de outras áreas do conhecimento, nesse caso específico, da Teoria Social e da Filosofia da
Linguagem.        
A aula está organizada da seguinte forma: no Tema 1, serão apresentados os pressupostos mais
básicos do construtivismo, as suas fontes teóricas e, também, as críticas que endereçam as teorias até
hegemônicas nas Relações Internacionais – como o realismo, o liberalismo e as ramificações mais
recentes deles, caso do neorrealismo de Kenneth Waltz ou do neoliberalismo institucionalista de
Robert Keohane.
Os Temas 3, 4 e 5, por sua vez, tratarão, respectivamente, dos autores Nicholas Onuf, Friedrich
Kratochwill e Alexander Wendt, os três grandes nomes do construtivismo nas Relações Internacionais.
Ainda que compartilhem uma série de pressupostos, a começar pelo peso concedido ao aspecto
interpretativo e ideacional – e não apenas material ou bélico – das relações entre os atores
internacionais, os três autores possuem arcabouços conceituais próprios: Onuf e Kratochwill rompem
de maneira mais radical com os pressupostos das teorias tradicionais, calcando-se, sobretudo, em
discussões oriundas da Filosofia da Linguagem. Wendt, por outro lado, busca uma aproximação
maior entre as inovações construtivistas e as teorias neorrealistas, partindo inicialmente de um
debate crítico com a teoria de Waltz.
O Tema 5 fechará esta aula apresentando alguns exemplos de pesquisas empíricas inspiradas
pelos pressupostos construtivistas, como aquelas que se debruçam sobre tópicos como
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“comunidades epistêmicas” ou processos de “securitização”.   
TEMA 1 – O CONSTRUTIVISMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Tal como outras abordagens pertencentes ao “quarto debate” – tais como o pós-estruturalismo e
a teoria crítica – o construtivismo reavalia muitos dos pressupostos básicos das teorias até então
dominantes nas Relações Internacionais, como o realismo e o neorrealismo. Tal reavaliação é feita,
sobretudo, com base em contribuições oriundas de outras disciplinas, como a Teoria Social (em
especial, a teoria da estruturação, associada ao sociólogo Anthony Giddens) e a Filosofia da
Linguagem (responsável pela chamada virada linguística nas ciências humanas em geral).   
Saiba mais
A Teoria Social não está circunscrita a uma disciplina acadêmica específica, sendo um rótulo
generalista que designa os estudos acerca da vida social e dos produtos culturais da atividade
humana. Ela perpassa, portanto, as ciências sociais e as humanidades em geral, segundo Giddens
e Turner, 1999.
Já a chamada virada linguística refere-se a uma mudança de enfoque, por parte de um
conjunto de filósofos do século XX (sendo Ludwig Wittgenstein um dos mais notáveis), na
maneira como os problemas filosóficos são tratados: como problemas de linguagem. Com o
passar do tempo, a expressão passou a designar qualquer teoria que dê centralidade à relação
entre linguagem e realidade (Sampaio, 2017). No caso específico das Relações Internacionais, a
“virada linguística” ocorreu durante o já mencionado “quarto debate”, a partir das contribuições
de abordagens como a construtivista e a pós-estruturalista.
Resumidamente, os pontos de maior divergência entre os construtivistas e as teorias dominantes
– principalmente, os neorrealistas, representados por autores como Kenneth Waltz – residem: (I) na
maneira como os Estados são caracterizados pela visão tradicional, quer dizer, como atores cuja ação
tem como princípio fundamental a sobrevivência e o autointeresse, sendo a segurança e a defesa os
aspectos fundamentais de suas políticas; (II) na caracterização realista e neorrealista da realidade
internacional, que privilegia os aspectos materiais dela (o poder e os recursos bélicos dos atores); (III)
na naturalização da “anarquia” como princípio imutável dessa realidade internacional e, portanto,
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como principal variável explicativa do comportamento dos atores estatais – o que significa, na
prática, a negação de qualquer “agência” ou autonomia de ação aos Estados, reduzidos por essa via a
meros efeitos da estrutura (anárquica e desigual) do sistema internacional (Pereira; Blanco, 2021).
E quais são as posições construtivistas em cada um desses pontos de contenda? Em relação ao
primeiro ponto, o da caracterização do Estado, é preciso fazer uma ressalva preliminar. Enquanto
Onuf e Kratochwill colocam em xeque a própria centralidade dos Estados como unidades de análise
básicas das relações internacionais, Wendt aceita essa premissa tradicional de centralidade, ainda que
discorde da caracterização dos atores estatais como entidades guiadas universalmente pela
sobrevivência e autointeresse e focadas nas questões de segurança e defesa, em detrimento da
cooperação. Para ele, o sistema internacional pode ser compreendido por analogia a uma espécie de
“sociedade”; e os Estados, como indivíduos que compõe esse sistema social (ibidem).
Assim como os indivíduos de uma sociedade, continua Wendt, os Estados possuem capacidade
reflexiva de aprendizado, alterando por essa via a maneira como as instituições funcionam e a
maneira como se relacionam uns com os outros, também os Estados seriam portadores de tal
capacidade reflexiva, revisando constantemente o que querem (seus “interesses”) e a maneira como
veem a si mesmos e aos demais (as “identidades”).
A capacidade que os Estados possuem em alterar sua própria natureza leva ao segundo ponto
de divergência acima levantado, o da caracterização da realidade internacional a partir de seu
aspecto material – quer dizer, relativo ao poder e aos recursos bélicos. Para Wendt, os “mundos
material, subjetivo e intersubjetivo interagem na construção social da realidade” (Adler, 1999, p. 216,
grifo do original). O que significa dizer que não é possível, como fazem os realistas, tratar a dimensão
material da realidade internacional, a do poder e das armas, como “um ponto de partida esvaziado
de ideias” (Wendt, 2014, p. 53), quer dizer, como uma realidade imune à necessidade de
interpretação típica das relações intersubjetivas. Assim como a relação entre duas subjetividades
individuais demanda um processo de mútua interpretação, de entendimento comum a respeito do
que está acontecendo (uma relação amistosa ou conflitiva, por exemplo), também a relação entre
atores estatais envolve a incidência de elementos ideacionais – crenças, conjecturas, conhecimentos
prévios etc.
Essa nova maneira de enxergar a realidade internacional, como sendo construída ou edificada
também “de baixo”, a partir de interações entre atores dotados de reflexividade (ou aprendizado,
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simplesmente) e, portanto, de agência (ou capacidade de ação inovadora), leva ao terceiro ponto de
discordância já mencionado. Enquanto realistas e neorrealistas naturalizam a “anarquia” como
princípio fixo e imutável do sistema internacional – dada a ausência de algum tipo de governo
mundial com capacidade de impor o cumprimento das regras e da ordem –, construtivistas a tratam
como um resultado específico (entre outrospossíveis) das interações e dos entendimentos comuns
construídos pelos agentes de tal sistema: “A autoajuda e a política de poder são instituições e não
características essenciais da anarquia. A anarquia é o que os estados fazem dela” (Wendt, 1992 p. 5,
grifo do original).
Esse debate a respeito da relação entre atores e o sistema do qual fazem parte tem sido um dos
tópicos centrais da Teoria Social (justamente uma das fontes teóricas dos construtivistas) até os dias
atuais, recebendo, nela, a designação de debate agência/estrutura. Em linhas gerais, debate-se quem
deve ter precedência explicativa nos modelos teóricos, se os agentes – os indivíduos ou as
coletividades tratadas como unidades individualizadas (empresa, Estado ou qualquer outro tipo de
organização) – ou a estrutura que esses agentes integram. Por “estrutura”, no contexto específico
desse debate, entendam-se as características mais abrangentes de uma sociedade (local, nacional ou
internacional), tais como as hierarquias de poder, as distribuições de recursos (econômicos, culturais,
bélicos etc.) ou a cultura hegemônica de uma época.
A chamada Teoria da Estruturação, do sociólogo britânico Anthony Giddens, é uma das várias
tentativas, presentes na Teoria Social, de resposta ao problema agência/estrutura. Segundo Giddens,
as estruturas designam os recursos e as regras envolvidos na produção e na reprodução de sistemas
sociais (Giddens, 2009). Esses recursos e regras, contudo, não são elementos externos aos indivíduos,
mas sim elementos internalizados pela via da socialização ou aprendizado social. Recursos e regras
tornam-se, assim, capacidades e inclinações, as quais se externalizam na forma de comportamentos
“estruturantes”, quer dizer, comportamentos que reforçam ou alteram as estruturas (recursos e
regras) iniciais. Trata-se, portanto, de um processo de coconstituição, em que nem indivíduos nem
estrutura possuem precedência ou preponderância explicativa (Pereira; Blanco, 2021).
Voltando às Relações Internacionais, a aplicação dessa noção de coconstituição resulta em uma
visão do Estado como agente dotado da capacidade de promover mudanças na estrutura do sistema
internacional. Sem essa capacidade, o Estado deixa de ser agente e se transforma em mero efeito da
estrutura (anárquica) desse sistema, respondendo de maneira mecânica a ele (o comportamento
autointeressado, centrado na segurança e na defesa, de acordo com realistas e neorrealistas)
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(ibidem). Na visão de Wendt, portanto, os Estados acumulam conhecimentos ao longo do tempo e
são capazes de alterar interesses e identidades, construindo ativamente, por meio da interação com
outros atores estatais, a estrutura característica da realidade internacional em dado momento.  
Em resumo, pode ser afirmado que, para os construtivistas, o comportamento dos Estados
depende de “conhecimento compartilhado, do significado coletivo que eles atribuem à situação, de
sua autoridade e legitimidade, das leis, instituições e recursos naturais que eles usam para achar seu
caminho, de suas práticas, ou mesmo, algumas vezes, de sua criatividade conjunta” (Adler, 1999, p.
203).
Até o momento, foram explorados os princípios básicos do construtivismo, nascidos da negação
ou da revisão das premissas das teorias hegemônicas. É preciso, contudo, atentar também para as
divergências internas a essa abordagem; sobretudo as diferenças entre Onuf e Kratochwill, de um
lado, e Wendt, de outro. Enquanto os primeiros enfatizam o papel do discurso e da linguagem nas
relações internacionais, rompendo mais radicalmente com as visões tradicionais da área, como a da
centralidade do Estado como ator, o último aposta na construção de pontes conceituais entre o
construtivismo e as demais abordagens. Os próximos temas explorarão justamente tais
particularidades.
TEMA 2 – FRIEDRICH KRATOCHWIL
Com formação em Filosofia, História e Ciência Política, o alemão Friedrich Kratochwill é, ao lado
de Onuf, responsável por introduzir, na disciplina de Relações Internacionais, a chamada virada
linguística – mudança de enfoque que coloca a linguagem no centro da análise da realidade. Sua
obra Rules, Norms, and Decisions (“Regras, Normas e Decisões”), publicada em 1989, é um dos
marcos do início do construtivismo na área, sendo antes um estudo de Teoria Social do que uma
análise especificamente sobre as relações internacionais (Pereira; Blanco, 2021).
O interesse do autor está em desvendar as funções da linguagem para a interação intersubjetiva
e para a construção da ordem social, estendendo, também, esse conhecimento para o estudo das
relações entre atores internacionais. O autor parte da premissa de que não há interação (entre
indivíduos ou entre Estados) que não seja moldada pelas normas implícitas à linguagem e à
produção de discursos efetivos e entendimentos compartilhados. A linguagem torna-se, assim, o
ponto de partida para a análise tanto dos cenários domésticos quanto internacionais.
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Contudo, o tipo de enfoque sobre a linguagem, aqui, não é o mesmo da linguística estrutural de
Ferdinand de Saussure (1857-1913) – inspiração de muitas das abordagens pós-estruturalistas, como
a de Jacques Derrida (1930-2004) –, que olha para as relações internas a uma língua: como sons,
letras e palavras se relacionam entre si, a fim de produzir significado. Kratochwill parte de uma
tradição filosófica que analisa a linguagem em seu uso social cotidiano, como instrumento que
permite “fazer coisas”: prometer, ameaçar, desculpar, demandar etc.
Trata-se de uma visão pragmática a respeito da linguagem, que deriva de autores da Filosofia da
Linguagem do século XX, como Ludwig Wittgenstein (1889-1951) e John L. Austin (1911-1960).
Wittgenstein, por exemplo, considerava que qualquer tentativa de analisar a linguagem fora de seu
contexto e uso rotineiros seria fútil e inadequada: “Para Wittgenstein, a significação [...] deve ser
buscada na mescla de língua e prática, dentro do complexo de jogos linguísticos vigentes nas formas
de vida” (Giddens, 1999, p, 295). Em sua visão, a linguagem não seria um sistema de signos dotado
de coerência interna completa, à maneira de um sistema matemático, mas antes uma série de “jogos
linguísticos” em que as palavras e as sentenças só adquiririam significado por meio do uso prático
contextual: em suma, a linguagem deveria ser compreendida, portanto, como um instrumento para
“fazer coisas”, quer dizer, realizar objetivos.
Austin desenvolveu e sistematizou a visão wittgesteiniana sobre a linguagem, elaborando a
partir dela a “teoria dos atos de fala”, utilizada por Katrochwill em sua análise da realidade
internacional. De acordo com essa teoria, as palavras e sentenças não apenas descrevem aspectos da
realidade, em um sentido informativo, mas são elas mesmas uma forma de agir sobre a realidade, em
um sentido performativo (Pereira, Blanco, 2021). Assim, toda língua possui um conjunto de “palavras-
ação”, quer dizer, palavras (e sentenças) que geram efeitos normativos sobre os receptores delas: a
declaração “eu aceito”, por exemplo, gera uma vinculação a um “contrato de casamento” (ibidem).
A teoria dos atos de fala, de Austin, estabelece ainda a distinção entre três dimensões dessas
palavras e sentenças que funcionam como “ações”: (I) a dimensão locucionaria de uma declaração (o
conteúdo informativo dela ou o que ela diz); (II) a dimensão ilocucionária dessa declaração (a ação
que ela produz, como quando se faz uma promessa ou ameaça); e (III) a dimensão ou efeitos
perlocucionários da declaração (o impacto dela sobre os receptores ou ouvintes: a raiva causada por
um xingamento, por exemplo) (ibidem).
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Kratochwill aplica essas ideias em sua teoria acerca da realidade internacional, enfatizando o
peso que as declaraçõese discursos trocados entre os atores possuem na construção dessa
realidade: acordos, ameaças, promessas etc. são palavras-ação que moldam efetivamente a maneira
como esses atores decidem e se comportam. Se elas são capazes de gerar tais efeitos, é porque o
histórico de interação entre os atores já foi capaz de criar “entendimentos normativos comuns” que
tornam a comunicação entre eles possível. Embora uma “ameaça” possa violar as regras do Direito
Internacional, ela ainda assim é regida por normas implícitas, nascidas da “socialização” dos atores no
sistema internacional (Kratochwill, 1989).
Analisar o comportamento dos atores no sistema internacional pressupõe, segundo o autor,
desvendar a “estrutura normativa subjacente à ação”, quer dizer, as regras, implícitas ou explícitas,
que não apenas orientam as ações dos atores, mas são os próprios meios utilizados para realizar
objetivos, compartilhar significados, estabelecer comunicação, criticar ou justificar ações (ibidem, p.
11). A teoria realista, segundo Kratochwill, por não atentar para esses efeitos performativos dos
discursos e normas, encontra-se incapaz de explicar de maneira satisfatória como uma ordem
normativa internacional pode surgir em um ambiente internacional supostamente dominado pela
política de poder e autointeresse dos Estados (ibidem, Capítulo 2). O neoliberalismo institucional, por
sua vez, também seria incapaz de explicar como os regimes internacionais se alteram, por não
reconhecer o poder performativo dos Estados em estabelecer entendimentos normativos comuns na
arena internacional (ibidem, p. 61).
Em resumo, a abordagem construtivista de Kratochwill advoga por uma análise que dê ênfase às
“regras do jogo”, tanto implícitas (entendimentos comuns) quanto explícitas (normas jurídicas), que
caracterizam o sistema internacional e que são construídas pela interação entre os atores ao longo
do tempo. Tais regras não apenas diminuem a incerteza com que os atores se movem nesse “jogo”,
mas também servem como forças de socialização que disseminam valores comuns.
TEMA 3 – NICHOLAS ONUF 
Nicholas Onuf possui formação em Ciência Política e Relações Internacionais e é, junto a
Kratochwill, um dos responsáveis por introduzir a teoria dos atos de fala – e, por essa via, a
centralidade da linguagem e do discurso para a construção da realidade – na disciplina de Relações
Internacionais. Apoia-se também na teoria da estruturação, do sociólogo Anthony Giddens, a fim de
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destacar a agência – a capacidade ativa de escolha e ação inovadora – que os atores domésticos ou
internacionais possuem em suas interações com os demais.
Em obras como World of Our Making (“Mundo feito por nós”, em tradução livre), Onuf critica a
ênfase dos realistas nos aspectos materiais das relações entre os atores internacionais, sobretudo a
centralidade dada aos poderes bélicos como estruturadores dessas relações. Ainda que não negue a
importância desses aspectos para a análise, Onuf sustenta que a dimensão material das relações
internacionais não pode ser separada da dimensão social, quer dizer, das relações sobretudo
linguísticas e discursivas que os atores estabelecem uns com os outros: Em suas palavras, ambas
“contaminam-se mutuamente” (Onuf, 1989, p. 40).
Outro ponto de crítica aos realistas reside na falta de atenção destes à importância dos fatores
econômicos e do acesso desigual aos recursos no estabelecimento de relações assimétricas entre
indivíduos e entre Estados. Além disso, Onuf rompe também com a separação estanque entre a
política mundial e as políticas domésticas dos países, tal como apresentada pela teoria neorrealista
de Kenneth Waltz, para quem a primeira seria caracterizada pela anarquia, e a segunda, pela
hierarquia (Pereira; Blanco, 2021).
No que diz respeito à dimensão linguística e discursiva das relações entre os atores
internacionais, Onuf parte, assim como Kratochwill, da “teoria dos atos de fala”, sistematizada por
filósofos como John Austin. Como frisado anteriormente, essa teoria considera a linguagem como um
conjunto de palavras e sentenças que não apenas descrevem a realidade (função descritiva), mas
podem também produzir realidade, sendo consideradas “ações” ou “performances” (função
performativa). Essa força ilocucionária de algumas palavras e sentenças pode ser notada, por
exemplo, sempre que se demanda ou se promete algo a alguém: a pergunta “há mais café?” significa,
dentro do devido contexto (uma refeição), a ação de demandar mais café (força ilocucionária da
sentença).
Essa dependência contextual inerente aos atos de fala é o que permite que a linguagem seja
descrita como um jogo (como faz Wittgenstein), em que os falantes “aprendem a jogar” (se
comunicar) por meio da inserção continuada nessas interações discursivas contextuais (refeição,
reunião de trabalho, ato solene etc.). Tal inserção continuada permite, aos atores, o aprendizado das
regras implícitas que comandam os usos da linguagem em cada situação social, e que não podem ser
deduzidas do conteúdo literal do que se fala.
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O que Onuf sustenta, portanto, é que as comunicações entre atores (domésticos ou
internacionais) implica a formação de um entendimento comum a respeito das regras implícitas a
essas comunicações: atos de fala que transmitam uma promessa ou demanda, por exemplo, quando
ouvidos e aceitos pelos ouvintes/receptores, produzem “vínculos normativos fracos” entre eles e
geram um conjunto de expectativas mútuas sobre como cada ator deve se comportar. Essa
normatividade emergente pode então ser reforçada ou transformada pelas interações subsequentes,
ou ainda ampliada quando mais falantes e ouvintes são inseridos nas interações (Onuf, 1989).
Onuf procura, assim, mostrar como entendimentos comuns, significados compartilhados,
acordos, convenções e regras emergem a partir da interação discursiva continuada entre diferentes
atores, que constroem a realidade internacional ao produzir as normatividades que lhes dão
configuração. Tais regras ou normatividades emergentes são classificadas em três tipos pelo autor: (I)
as de instrução; (II) as diretivas; e (III) as de compromisso.
As regras de instrução baseiam-se em atos de fala assertivos, em que se utilizam verbos como:
declarar, afirmar, relatar, atribuir, caracterizar. As regras diretivas, por sua vez, utilizam verbos
associados à ordem e ao comando, como comandar, exigir, permitir (atos de fala diretivos). Por
último, as regras de compromisso envolvem a atribuição de direitos a outros atores e o consequente
dever de cumpri-los por parte do ator emissor, utilizando os correspondentes atos de fala de
compromisso; aqui, os verbos utilizados denotam a noção de promessa ou comprometimento com
certo curso futuro de ação: prometer, oferecer, destinar etc. (Pereira; Blanco, 2021).
Ao aplicar tais regras ou normatividades à análise da política internacional, Onuf percebe uma
associação de cada uma delas a tipos distintos de assimetria ou domínio nas relações internacionais.
O quadro a seguir resume tais associações:
Quadro 1 – Relação entre tipos de assimetria, tipos de regras e tipos de atos de fala
assimetria regra ato de fala
Hegemonia Regras de instrução Assertivo (declarar, afirmar, relatar)
Hierarquia Regras diretivas Diretivo (comandar, exigir, ordenar)
Heteronomia Regras de compromisso Compromisso (prometer, oferecer, destinar)
Fonte: Adaptado de Onuf, 1989, e Pereira e Blanco, 2021.
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Hegemonia refere-se a um tipo de relação assimétrica em que um ator (ou conjunto de atores)
monopoliza a produção dos significados a respeito da realidade, transferindo uma ideologia ou visão
de mundo aos atores subordinados, que se mostram então incapazes de estabelecer programas de
ação alternativos àqueles oriundosde tal ideologia ou visão de mundo (Onuf, 1989, p. 209-210).
Hierarquia, por sua vez, descreve uma relação assimétrica entre atores situados em níveis
diferentes de uma dada instituição ou organização. As regras diretivas são então transmitidas dos
níveis superiores aos inferiores, tal qual nas modernas burocracias dos Estados ou dos Organismos
Internacionais.
Por último, a heteronomia (o oposto da “autonomia”) envolve relações assimétricas entre atores
formalmente de mesmo status (como os Estados nacionais ou os cidadãos de um país), cuja
interdependência por meio de trocas gera ganhos maiores a um dos lados da relação. Aqui,
predominam as regras de compromisso entre os atores envolvidos e, de acordo com Onuf, tais
relações heterônomas são especialmente importantes para explicar as relações internacionais. A
sociedade internacional, nos termos de Onuf, em vez de anárquica, seria, portanto, heterônoma
(Nogueira; Messari, 2005, p. 172): foram as regras de compromisso que produziram e regularam as
esferas de influência durante a Guerra Fria, por exemplo (Onuf, 1989, p. 225).
Essa noção de heteronomia está também presente em outras teorias, como a “interdependência
complexa e assimétrica”, associada a Robert Keohane e Joseph Nye, e a teoria da dependência, de
autores como Ruy Mauro Marini, Theotônio dos Santos, entre outros.  
TEMA 4 – ALEXANDER WENDT
Alexander Wendt é um dos principais teóricos estadunidenses das Relações Internacionais, tendo
contribuído para o avanço da teoria construtivista principalmente por meio do artigo Anarchy is what
States Make of it: The Social Construction of Power Politics (“Anarquia é o que os Estados fazem dela: A
construção social do poder político”), publicado originalmente me 1992, e do livro Social Theory of
International Politics (“Teoria Social da Política Internacional”), de 1999.
A obra de Wendt tem como ponto de partida o diálogo crítico com as teorias dominantes da
área, em especial o neorrealismo estruturalista de Waltz, tal como apresentado na obra seminal de
1979, Theory of International Politics (“Teoria da Política Internacional”). Diferentemente de Kratochwill
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e de Onuf, Wendt não incorpora a “teoria dos atos de fala” à sua abordagem, apoiando-se, contudo,
como os demais, nas teses de Giddens a respeito da “coconstituição” entre estruturas e agentes
(Pereira; Blanco, 2021).
Wendt também se diferencia das demais abordagens construtivistas por aceitar algumas das
premissas tradicionais da área, como a de considerar o Estado como unidade principal de análise. A
crítica de Wendt a perspectivas como a de Waltz está na incapacidade destas em explicar
satisfatoriamente os processos de mudança no sistema internacional (ibidem). Isso ocorre por conta
da maneira como as teorias realistas compreendem a relação entre a estrutura (anárquica) do sistema
internacional e os Estados nele inseridos: como uma relação causal entre entes independentes,
cabendo a preponderância explicativa às estruturas, que estimulariam certos comportamentos (o
autointeresse e o foco na segurança) dos agentes, ao mesmo tempo que desestimulariam outros (a
cooperação, por exemplo).  
Apoiando-se em Giddens, Wendt defende que se foque a capacidade dos Estados em produzir
alterações nas estruturas do sistema internacional, ao mesmo tempo que são afetados por elas: os
efeitos da estrutura não seriam apenas constrangimentos ou estímulos à ação, portanto, mas a
própria constituição ou gênese da identidade e dos interesses dos atores estatais – como eles
enxergam a si próprios e aos demais atores (identidades) e quais preferências políticas possuem
(interesses) (Wendt, 2014, p. 104).
Nesse sentido, as estruturas não podem ser pensadas apenas como distribuições desiguais de
recursos materiais e bélicos, gerando efeitos causais sobre os atores, mas como “cultura”, ou seja,
como um complexo de ideias ou representações coletivas (conceito emprestado da sociologia de
Durkheim): normas, regras, instituições, ideologias e sistemas de ameaças, que funcionam como
forças de socialização e aprendizado para os Estados, gerando padrões de comportamento ao longo
do tempo, assim como constituindo suas identidades e interesses (ibidem, p. 205-206).
O objetivo central do construtivismo de Wendt, portanto, é o de historicizar as identidades,
interesses e comportamentos dos Estados, mostrando como eles são criados pela cultura e pelas
interações intersubjetivas de um dado momento do sistema internacional. A “anarquia” do sistema,
dada a ausência de um governo mundial com monopólio de coerção, não é um dado natural, como
para os realistas, mas uma condição que pode adquirir diferentes formas, a depender das identidades
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e interesses dos atores que a constroem: a anarquia é o que os Estados fazem dela, portanto (Wendt,
1992).
Como os Estados são pensados, pelo autor, como atores dotados de agência – quer dizer, de
capacidade reflexiva de aprendizado e inovação – o cenário de anarquia descrito pelo realismo pode
ser modificado pela prática desses próprios atores estatais. Assim, Wendt apresenta uma tipologia de
ao menos três culturas distintas de “anarquia”, cada uma delas dependente das decisões e ações
tomadas pelos Estados: (I) a hobbesiana, que descreve um ambiente de inimizade e desconfiança
perenes; (II) a lockeana, em que os Estados são rivais, mas respeitam a soberania uns dos outros; e,
por último, (III) a kantiana, que corresponde a um ambiente em que os atores resolvem suas disputas
sem emprego da força, estabelecendo alianças e cooperação (Pereira; Blanco, 2021).
Vê-se, dessa forma, que o construtivismo de Wendt aproxima-se muito mais de algumas das
premissas das teorias dominantes da área – como a centralidade dos Estados como unidade de
análise e a noção de “anarquia” para a compreensão do sistema internacional – do que o tipo de
construtivismo proposto por Onuf e Kratochwill. Mais do que uma ruptura, Wendt pretende revisar o
neorrealismo “de dentro”, quer dizer, ainda utilizando parte de suas premissas fundamentais, mas
atualizando-as por meio das inovações teóricas trazidas pelo quarto debate das Relações
Internacionais, em que conceitos e teorias oriundos de outras áreas, como a Sociologia e a Filosofia,
passaram a ser introduzidos na análise da política internacional.
TEMA 5 – ESTUDOS EMPÍRICOS DE ORIENTAÇÃO CONSTRUTIVISTA
O construtivismo tem, desde o seu aparecimento na área, contribuído para uma série de
inovações em matéria de argumentos metateóricos, conceitos, modelos analíticos, hipóteses de
trabalho e métodos (Adler, 1999). Várias agendas de pesquisa foram criadas por essa abordagem ou
fortemente transformadas por ela. De maneira geral, o construtivismo tem se mostrado
extremamente útil para a análise de processos de mudança nas relações internacionais. Adler (1999,
p. 231) chama a atenção para pesquisas que procuram explicar transformações como o fim da Guerra
Fria, as mudanças na economia política global ou ainda a evolução das políticas ambientais no
mundo como efeitos de mudanças nos entendimentos intersubjetivos de agentes-chave e no
surgimento de novas normatividades coletivas.
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Agendas de pesquisa inteiras, como a das “comunidades epistêmicas” – redes de especialistas
dotados de autoridade sobre um domínio particular de políticas (energéticas, ambientais etc.) e
imbuídos de crenças normativas comuns – dificilmente poderiam ser executadas fora das
perspectivas construtivistas (ibidem, p. 232). Tais pesquisas têm colaborado no entendimento de
como os conhecimentos produzidos por comunidades de especialistas afetam processos de
construção política de leis e instituições.
Os estudos estratégicos e sobre guerras e conflitos também têm se beneficiado das inovações
construtivistas,ao focarem a construção social dos aspectos culturais envolvidos nas decisões
militares, na doutrina militar e mesmo na estratégia: sendo uma situação de “jogo”, envolvendo
expectativas recíprocas a respeito do comportamento do adversário, a estratégia militar depende de
entendimentos intersubjetivos baseados na experiência pregressa dos envolvidos (ibidem, p. 236).    
A “teoria da securitização”, desenvolvida pela chamada Escola de Copenhague, é mais um
exemplo de aplicação da abordagem construtivista, dessa vez à área de segurança internacional. A
Escola, em particular por meio de autores como Barry Buzan e Ole Waever, foi responsável por
redefinir o conceito de “segurança”, passando a incorporar ameaças de cunho social, econômico e
ambiental aos Estados (Pereira; Blanco, 2021). Essa redefinição ocorreu com base nos autores
construtivistas ligados à “virada linguística”, Kratochwill e Onuf, mostrando como a noção de
“ameaça” (à segurança dos atores) é socialmente construída.
O processo de construção social das “ameaças” pressupõe a participação de agentes
securitizadores, responsáveis por ações discursivas produtoras de novas normatividades e
entendimentos coletivos, fazendo com que determinado tema seja elevado a um status prioritário
por parte do Estado e de suas políticas públicas. Esse processo só é possível graças à aceitação
desses discursos por parte de uma audiência, em geral os quadros parlamentares e as burocracias
ligadas diretamente ao tema em vias de ser “securitizado”. Na linguagem de Onuf e Kratochwill, esses
discursos podem ser analisados como atos de fala dotados de força perlocucionária, já que
produzem comportamentos específicos nos receptores desse discurso – nesse caso, a securitização
de um determinado tema (ibidem).
NA PRÁTICA
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Uma das agendas de pesquisa mais marcadamente influenciadas pela abordagem construtivista
é aquela que se dedica ao estudo de “comunidades epistêmicas”, grupos de indivíduos dotados de
um saber socialmente legitimado em relação a um determinado tema (meio ambiente,
desenvolvimento, defesa etc.) e capazes de influir nas políticas domésticas e na regulamentação
internacional ligada a ele. As comunidades epistêmicas mostram o peso das ideias e das práticas
discursivas na estruturação da política doméstica e internacional, tal como conceitualizado pelos
autores construtivistas.
A partir da leitura do artigo Comunidades epistêmicas e de prática em defesa na Argentina e no
Brasil: entre a organicidade e a plasticidade (disponível em: <https://www.cartainternacional.abri.org.b
r/Carta/article/view/510/330>), compare os efeitos da atuação das comunidades epistêmicas de cada
um dos dois países para a evolução diferencial das concepções de defesa de Brasil e Argentina.  
FINALIZANDO
Nesta aula, foram abordadas as perspectivas construtivistas dos três autores mais
representativos dessa linhagem teórica: Friedrich Kratochwill, Nicholas Onuf e Alexander Wendt.
Como visto, os dois primeiros são ligados à chamada virada linguística nas Relações Internacionais,
dialogando intensamente com teorias como a dos “atos de fala” e rompendo de maneira mais radical
com os pressupostos das teorias dominantes – como a caracterização do Estado como unidade de
análise central da disciplina e da anarquia como conceito definidor da configuração do sistema
internacional. Os dois autores defendem que se analise o papel do discurso como “ação” construtora
de normatividades e entendimentos compartilhados: a ordem internacional é, assim, um fenômeno
que emerge dos vários vínculos normativos estabelecidos discursivamente entre os diferentes atores
em interação.
Wendt, por outro lado, procura estabelecer um diálogo crítico com as teorias tradicionais, em
especial com o neorrealismo estruturalista de Kenneth Waltz, incluindo, nesse quadro teórico, uma
atenção maior ao processo de coconstituição entre agentes (os Estados) e estruturas (o sistema de
relações em que estão envolvidos). O autor insiste no fato de que as estruturas do sistema
internacional sejam compreendidas não apenas em seus aspectos materiais (a distribuição do poder
bélico, por exemplo), mas também ideacionais, ou seja, como representações coletivas que compõem
uma “cultura”. Da inserção nela, os agentes adquirem identidades e interesses específicos, que serão
https://www.cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/510/330
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continuamente revisados ou reforçados pelas interações com os demais agentes: a configuração do
sistema internacional, portanto, longe de ser um dado objetivo ou natural, é aqui vista como o
produto de entendimentos subjetivos compartilhados.
REFERÊNCIAS
Adler, E. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Lua Nova, n. 47, p. 201-246,
1999.
GIDDENS, A.; TURNER, J. Introdução. In: GIDDENS, A.; TURNER, J. (Org.). Teoria social hoje. São
Paulo: Unesp, 1999.
Giddens, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Kratochwil, F. V. Rules, Norms, and Decisions: On the Conditions of Practical and Legal
Reasoning in International Relations and Domestic Affairs. Cambridge: Cambridge University Press,
1989.
Lapid, Y. The Third Debate: On the Prospects of International Theory in a Post-Positivist Era.
International Studies Quarterly, v. 33, n. 3, p. 235-254, 1989.
Nogueira, J. P.; Messari, N. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.
Onuf, N. G. World of Our Making: Rules and Rule in Social Theory and International Relations.
Columbia: University of South Carolina Press, 1989.
PEREIRA, A.; BLANCO, R. Teorias contemporâneas das Relações Internacionais. Curitiba:
Intersaberes, 2021.
Sampaio, E. A virada linguística e os dados imediatos da consciência. Trans/Form/Ação, v. 40, n.
2, p. 47-70, 2017.
Wendt, A. Anarchy is what States Make of it: The Social Construction of Power Politics.
International Organization, v. 46, n. 2, p. 391-425, 1992.
_____. Teoria Social da política internacional. Rio de Janeiro: PUC-RJ; Apicuri, 2014.
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