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APG 04 – Ossos do ofício e uma luz no fim do túnel 1) REVISAR A ANATOMIA DA MÃO, PUNHO E ANTEBRAÇO. 3) COMPREENDER A ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO DA SÍNDROME DO TUNEL DO CARPO E SÍNDROME ASSOCIADAS DO PUNHO E DA MÃO. 4) CITAR TESTES CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO DA SINDROME DO TÚNEO DO CARPO. Anatomia do punho e mão A mão em si consiste de ossos específicos sobre os quais vários músculos se inserem, e uma coleção de estruturas neurovasculares responsáveis pela drenagem e inervação. Entretanto, os músculos intrínsecos da mão são responsáveis somente por parte de toda a sua amplitude de movimento. Os outros principais contribuintes são os músculos do antebraço, que projetam tendões em direção à mão através do punho. Ossos Carpo: escafoide, semilunar, piramidal, pisiforme, trapézio, trapezoide, capitato, hamato Metacarpo: base, diáfise, cabeça Falanges: falanges proximal, média, distal Músculos Grupo tenar: abdutor curto do polegar, adutor do polegar, flexor curto do polegar, opositor do polegar Grupo hipotenar: abdutor do dedo mínimo, flexor do dedo mínimo, opopsitor do dedo mínimo, palmar curto. Grupo metacarpal: lumbricais, interósseos palmar, interósseos dorsais. Nervos Nervo mediano e seus ramos (nervos digitais palmares comum e próprio) inervam predominantemente os músculos tenares. Nervo radial: fornece inervação cutânea ao longo da parte externa do polegar. Nervo ulnar e seus ramos (superficial, profundo e dorsal) inervam os grupos hipotenar e metacarpal Artérias Todos os ramos se originam das artérias radial e ulnar. Eles incluem: arcos palmares (superficial, profundo), artérias digitais palmares (comuns, próprias), arco dorsal do carpo, artérias metacárpicas dorsais, artérias digitais dorsais, artéria principal do polega Veias Arcos venosos palmares (superficial, profundo), rede venosa dorsal da mão e veias digitais metacárpicas palmares, todas drenando para as veias radial e ulnar • Ossos: • Músculos: • Nervos (pag 251) • Artérias: Punho: conecta toda a mão ao rádio e à ulna, facilita a passagem de tendões juntamente com as estruturas neurovasculares mencionadas acima desde o antebraço até a mão, e permite-nos explorar todos os seus movimentos. Estes são a flexão, extensão, abdução e adução da mão. Síndrome do túnel do carpo É a denominação dada à compressão do nervo mediano ao nível do punho, e é a neuropatia compressiva mais comum do membro superior. Ela é mais frequente em mulheres, tem acometimento bilateral em cerca de 50% dos casos e apresenta maior incidência entre os 40 e 60 anos. Uma provável explicação possível para a predominância feminina é a questão anatômica. A área transversal do túnel do carpo costuma ser menor em mulheres do que em homens. A STC tem acometimento da mão dominante em 51%, bilateral em 34% e na mão não dominante em 15%. O túnel do carpo é uma estrutura inelástica localizada no punho anterior, que contém os tendões flexores superficiais e profundos dos dedos longos, o flexor longo do polegar e o nervo mediano. Sua borda anterior é composta pelo ligamento carpal transverso, seu assoalho, pelos ossos do carpo, seu limite medial é determinado pelo trapézio, pelo escafoide e pelo flexor radial do carpo, enquanto sua borda lateral é composta pelo gancho do hamato, pelo piramidal e pelo pisiforme. Pode-se dividir as causas relacionadas ao aparecimento dessa condição fundamentalmente em três categorias: alterações anatômicas nas estruturas ou na configuração do canal carpal, condições locais (tenossinovites) ou sistêmicas (diabetes melito, hipotiroidismo, alcoolismo, artrite reumatoide, gravidez) que levem ao edema das estruturas que atravessam o túnel, e, por último, ainda que controversa, relacionadas ao esforço ou à ocupação profissional. Fisiopatologia: O túnel do carpo é uma estrutura inelástica localizada no punho. É formado superiormente pelo ligamento transverso do carpo (ou seja, o teto do túnel) e inferiormente pelos ossos do carpo (chão do túnel), na parede lateral é delimitado pelo osso escafoide e trapézio, e na parede ulnar é delimitado pelo pisiforme e hamato. O túnel do carpo tem como componentes o nervo mediano e 9 tendões, sendo 4 flexores profundos e 4 flexores superficiais do 2º, 3º, 4º e 5º dedos, além do flexor longo do polegar. A fisiopatologia da STC é multifatorial. O aumento da pressão no canal do carpo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da STC clínica. Em modelos experimentais, pressões a partir de 20 a 30 mmHg já causam prejuízo na microcirculação neural; e com 80 a 120 mmHg há sua interrupção. Os distúrbios na microcirculação causam um aumento na permeabilidade dos vasos epineurais e endoneurais, levando a edema, com aumento da pressão intrafascicular. Além disso, com pressões de 30 mmHg já passa a ocorrer desmielinização, decorrente de necrose e apoptose das células de Schwann. Embora a etiologia precisa do aumento da pressão do túnel do carpo na STC seja incerta, evidências experimentais sugerem que a compressão anatômica e/ou a inflamação são possíveis mecanismos. O aumento da pressão no túnel do carpo pode ferir o nervo diretamente, prejudicar o transporte axonal ou comprimir os vasos no perineuro e causar isquemia do nervo mediano. No túnel do carpo passam nove tendões flexores, qualquer um dos quais pode ficar inflamado ou espessado e acabar comprimindo o nervo mediano. Outras causas possíveis de compressão incluem espaço anatômico congenitamente pequeno, lesões em massa, como cisto, neoplasia ou artéria mediana persistente, e edema ou condições inflamatórias resultantes de doenças sistêmicas, como a artrite reumatoide. Etiologia: • Traumática: incluem fraturas e luxações que podem levar a formação de hematomas, deformidade angular imobilizações inadequadas, etc. Um exemplo é a fratura de colles que corresponde a uma fratura do rádio distal em que o fragmento fraturado do rádio se desvia para cima. A causa mais comum dessa fratura é a queda sobre o braço estendido. Ela é caracterizada por uma deformidade do antebraço denominada “dorso de garfo”. • Condições relacionada ao trabalho: posturais, esforços repetitivos, extensão e flexão prolongadas do punho, uso das mãos em baixas temperaturas...etc • Condições preexistentes: obesidade, diabetes, AR, hipotireoidismo, osteoartrite de mão, acromegalia. • Infecciosa: podem levar a STC pela formação de abcesso local com compressão do nervo mediano. • Idiopática: quando nenhuma causa aparente é encontrada. Manifestações clínicas: Os sintomas típicos dos pacientes são queixas de dor ou parestesia no território do nervo mediano. Esses sintomas normalmente se acentuam durante a noite. Queixas de fraqueza nas mãos, história de queda de objetos, alteração da sudorese e da temperatura da mão no território do mediano também podem ser encontradas. O acometimento motor, representado pela atrofia tênar, é, em geral, achado tardio na evolução e normalmente representa doença avançada. Os pacientes com suspeita de síndrome do túnel do carpo devem ser avaliados à procura de outras patologias do membro superior (tenossinovites, patologias do ombro) e cervicopatias que podem confundir o diagnóstico ou, como na maioria das vezes, coexistir com o quadro de compressão do nervo mediano, devendo, portanto, ser tratadas paralelamente. Diagnóstico: É principalmente clínico, e tem como sintomas principais a dor noturna ou parestesia na distribuição do nervo mediano. Exame físico: Realizar em um primeiro momentoa inspeção, avaliando se há edema, pode ser identificada a hipotrofia ou atrofia da eminência tenar que aparece em casos mais avançados. Nesse caso os pacientes podem relatar que perderam a “gordurinha” da mão. É importante informar aos pacientes que essa atrofia já estabelecida se mantêm mesmo que haja melhora da síndrome compressiva com o tratamento. Teste de sensibilidade e motricidade: Déficits sensoriais e motores podem estar presentes nas regiões da mão inervadas pelo nervo mediano, mas sua ausência não exclui o diagnóstico de STC. A sensibilidade deve ser testada em todas as regiões da os déficits sensoriais geralmente ocorrem tardiamente no curso da STC, e envolvem os dedos medianos inervados, mas poupam a eminência tenar. A fraqueza muscular pode ocorrer na STC avançada e é limitada aos músculos da eminência tenar. Isso se manifesta principalmente como fraqueza na abdução e na oposição do polegarmão, antebraço e parte superior do braço. Testes irritativos para o nervo mediano Teste de Phalen: Consiste em manter os punhos na flexão máxima durante 1 minuto. A posição fletida do punho comprime ainda mais o nervo mediano já comprimido na posição neutra, no caso de STC. É positivo quando a sensação de formigamento ou dormência é relatada no território do nervo mediano e com mais frequência no dedo médio. O teste de Phalen invertido tem o mesmo objetivo, porém com os punhos em extensão máxima, na “posição de oração”, com as palmas das mãos juntas na frente do corpo. • Teste ou sinal de Tinel: Consiste na percussão leve sobre o punho, na localização do nervo mediano. O resultado positivo é encontrado quando essa percussão transmite uma sensação de parestesia na região de distribuição do nervo mediano. A percussão de um nervo em local de compressão, onde há desmielinização ou axônios em regeneração, desencadeia a sensação desagradável de choque. • Teste de Durkan: o examinador pressiona com os 2 polegares a região do carpo por 30 segundos. É considerado positivo se os sintomas comuns da STC se apresentarem ao longo do trajeto no nervo mediano. Eletroneuromiografia (ENMG) Pode ser usada em casos duvidosos, nos quais a clínica e o exame físico não chegaram ao diagnóstico de STC, porém a suspeita se mantém. Se o diagnóstico está fortemente estabelecido, não é necessária a realização do exame. Porém este é um exame útil para avaliar a gravidade da compressão nervosa e auxiliar nas decisões relacionadas à intervenção cirúrgica. Além disso é um exame auxiliar na busca de diagnóstico diferencial. Radiografia na incidência tunell view: Pode ser usada na avaliação de partes ósseas para avaliar o formato, conformidade do túnel do carpo e presença de estenose óssea do carpo. Em alguns casos a ressonância magnética e o ultrassom também podem ser realizados. Exames laboratoriais devem ser solicitados sempre que a suspeita diagnóstica estiver relacionada com alterações metabólicas e/ ou hormonais. Então, por exemplo, se houver suspeita de tireoidopatias podem ser solicitados TSH e T4 livre. Outros exames que podem ser solicitados são: VHS (que pode estar aumentado em pacientes com artrite reumatoide), glicemia (para avaliar se o paciente é diabético), ácido úrico etc. O Tratamento conservador é reservado para os casos mais leves, sem atrofia tênar ou comprometimento importante de sensibilidade. Estão descritos o uso de órteses, anti-inflamatórios não hormonais, injeção de corticosteroides no canal carpal, uso oral de vitamina B6(administrada por 12 semanas melhora o edema e a mobilidade dos dedos) e alterações posturais e de hábitos. O uso de órteses, mantendo o punho imobilizado em posição neutra, é eficaz nos estágios iniciais, e muitos pacientes apresentam remissão dos sintomas após o tratamento, sem necessidade de intervenção cirúrgica. O tratamento cirúrgico está reservado para falhas do tratamento conservador e para os casos mais graves. Consiste na descompressão do canal carpal realizada por meio da secção do ligamento carpal transverso. A cirurgia pode ser aberta ou endoscópica. 1) REVISAR A ANATOMIA DO MANGUITO ROTADOR, OMBRO. 2) COMPREENDER A ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SMR (exames de imagem). 3) CITAR OS PRINCIPAIS TESTES DIAGNÓSTICOS PARA SMR. Anatomia O corpo humano possui dois cíngulos dos membros superiores que prendem os ossos dos membros superiores ao esqueleto axial. Cada um dos dois cíngulos dos membros superiores consiste em uma clavícula e uma escápula. A clavícula é o osso anterior e se articula com o manúbrio do esterno na articulação esternoclavicular. A escápula se articula com a clavícula na articulação acromioclavicular e com o úmero na articulação do ombro. Os cíngulos dos membros superiores não se articulam com a coluna vertebral e são mantidos em posição e estabilizados por um grupo de grandes músculos que se estendem da coluna vertebral e das costelas à escápula. A articulação glenoumeral é uma das articulações associadas com a cintura escapular. que permite uma ampla gama de movimentos do membro superior. Ela é a articulação entre a fossa glenoidal ou cavidade glenoide da escapula, uma depressão que se projeta lateralmente, e a cabeça do úmero. Ossos: O ombro é a região onde o membro superior se prende ao tronco. Os ossos desta região são: Clavícula: e um osso curvo que conecta o tórax ao membro superior. Ela dá forma à parte superior do ombro, acima da região peitoral, e é facilmente visível. A clavícula não tem cobertura muscular e é palpável logo abaixo da pele. Escápula: A escápula é um osso plano e triangular que se encontra entre a segunda e a sétima costelas. Possui duas superfícies (ventral e dorsal), três bordas (superior, lateral e medial) e três ângulos superomedial, interomedial e lateral) Úmero: é um osso longo e o maior do membro superior que conecta o cotovelo ao ombro. Articula-se com a escapula, o rádio e com a ulna através das articulações do ombro e do cotovelo. Músculos: Os dois músculos mais superticiais do ombro são os músculos deltóide e trapezio. Que tornam o contorno característico ao ombro. Outro grupo de músculos que é muito importante para esta região é o grupo muscular do manguito rotador. Este grupo consiste em 4 músculos: o supraespinhal, o infraespinhal, o redondo menor e o subescapular. Seus tendões tornam-se confluentes entre si e a cápsula articular quando se aproximam de suas inserções. O MR trabalha como unidade combinada para estabilizar a cabeça do úmero na cavidade glenóide; o adjetivo rotador poderia perfeitamente ser substituído por compressor, provavelmente o componente mais importante entre as suas múltiplas funções. Ele comprime a cabeça umeral contra a glenóide, aumentando a estabilidade, resistindo ao deslizamento e à translação da mesma (nos sentidos ântero-posterior e ínfero-superior), permitindo ainda alguma rotação em torno dos seus três maiores eixos (ântero-posterior, médio-lateral e diáfiso- umeral), isoladamente ou em conjunto. Nas amplitudes médias de movimento, todos os estabilizadores estáticos da articulação glenoumeral estão relaxados e, nesta situ- ação, a estabilidade articular é quase que exclusivamente garantida pelo MR. As suas principais funções são • Centralizar e baixar a cabeça umeral; • Potencializar as rotações da articulação glenoumeral; • Estabilizar a articulação glenoumeral; •Proporcionar um compartimento fechado importante para a nutrição articular. Os nervos nesta área se originam do plexo braquial. O plexo consiste em fusões dos ramos anteriores do quinto ao oitavo nervos cervicais (C5-C8), com participação do ramo anteriordo primeiro nervo espinhal torácico (T1). No ombro e no braço o plexo braquial da origem a dois nervos: Nervo supraescapular Nervo axilar Quando o plexo braquial é lesionado estes nervos são afetados e algumas síndromes clinicas podem ser observadas. Síndrome do manguito rotador O desenvolvimento de lesões aos tendões que circundam o MR se dá principalmente após os 30 anos, em decorrência de causas intrínsecas (processos degenerativos, alterações metabólicas e vasculares) ou extrínsecas (traumas agudos ou de repetição). Desse modo, destacam-se como fatores de risco a idade > 50 anos e a prática de esportes com rotação contínua do ombro, como vôlei e natação, e atividades repetitivas, a exemplo de pintar e limpar janelas. Com a instalação da lesão do MR, esta se estratifica em três etapas distintas, a saber: Fase 1: presente em indivíduos com menos de 25 anos, cursa com edema, hemorragia e inflamação; Fase 2: se estendendo entre os 25 e 40 anos, tem como característica a presença de fibrose e tendinite/bursite, podendo ou não haver lesões parciais; Fase 3: representa a ruptura do tendão (parcial ou completa), associada à artrose acrômio-clavicular, sendo observada em > 40 anos. Classificação: • Em relação à espessura (parciais ou não transfixantes e completas ou transfixantes): • Tamanho da lesão quando completa (pequena, < 1cm; média, de 1 a 3cm; grande, de 3 a 5cm; e maciça, de mais de 5cm) • Ao grau de retração do coto tendinoso em relação à cabeça umeral (distais ou periinsercionais, intermediárias e proximais) • A cronologia (agudas, crônicas e crônicas agudiza- das); • À etiologia (traumáticas, microtraumáticas, degenerativas, associadas às instabilidades, etc). As lesões parciais podem ser classificadas de acordo: • Localização (bursal, articular e intratendinosa) • Espessura e o seu tamanho (grau l = 25% ou até 3mm; grau II = 50% ou de 3 a 6mm; e grau III = 50% ou > 6mm). Fisiopatologia: Na patogênese das lesões do MR a literatura define duas diferentes causas: • Intrínseca: Envelhecimento biológico: O envelhecimento dos tendões é outro aspecto importante quando se estudam as roturas do MR. O envelhecimento provoca alterações morfológicas e bioquímicas nos tendões caracterizadas pela diminuição dos tenoblastos, adelgaçamento dos tenócitos e diminuição das organelas citoplasmáticas, além de alteração da matriz colágena. considera que a causa primária seria um processo degenerativo relacionado ao envelhecimento natural dos tendões (entesopatia) Vascularização do MR: Rathbun e Macnab demonstraram que, quando o braço está em abdução, os vasos do tendão do SE, da parte superior do tendão do IE e da CLB estão livres e cheios de sangue, enquanto, com o braço ao lado do corpo, quando os referidos tendões, além de traciona-dos, ficam comprimidos contra a cabeça do úmero, há neles uma área de constante hipovascularidade. Essa área, centrada no SE e junto ao tubérculo maior – área crítica – mede cerca de 1 cm de largura e é justamente o local vulnerável onde acontece a degeneração tendínea, enquanto a área hipovascular do tendão da CLB abrange o seu segmento que cursa sobre a cabeça do úmero. • Extrínseca ou traumática A literatura atual vem mostrando que os fatores extrínsecos, como o esporão acromial, têm papel secundário na lesão do manguito rotador e que sua etiologia, na verdade, é multifatorial. Recentemente, descreveram-se lesões intraarticulares secundárias ao impacto interno principalmente em jovens atletas arremessadores. A interação repetitiva entre a superfície interna do manguito e a glenóide póstero-superior seria o fator responsável por tal lesão. O uso forçado das articulações e dos músculos costuma provocar alterações fisiológicas e estruturais que o próprio organismo tem condições de corrigir, se houver tempo e repouso suficientes. Várias causas são invocadas para explicar os distúrbios musculares decorrentes da sobrecarga funcional. Sejam elas lesões inflamatórias por perturbação do metabolismo do cálcio muscular, alterações por hipóxia e acúmulo de ácido lático, sobrecarga das fibras musculares do tipo I ou alteração do padrão de estimulação gama do músculo, o resultado final será perturbação da força e do sincronismo musculares e, consequentemente, falência dos mecanismos motores e estabilizadores dinâmicos do ombro. Outro fator importante é o estiramento excessivo do MR, dos ligamentos e da cápsula articular aos esforços exagerados e prolongados, que provoca deformações plásticas irreversíveis e lesões estruturais microtraumáticas (microrroturas). É o que pode ocorrer nos ombros de esportistas de alto nível (nadadores, ginastas, tenistas e atletas arremessadores em geral) e principalmente de esportistas amadores, quase sempre menos preparados fisicamente e que costumam não respeitar suas limitações. Manifestações clínicas: A dor é o principal sintoma, normalmente se localiza na região anterolateral do ombro e face lateral do braço, tendo intensidade variável. A maioria dos pacientes relata que a dor piora a noite e que há dificuldade ou incapacidade deitar-se sobre o local afetado. Na anamnese é importante avaliar o tempo de evolução dos sintomas e suas características, o tipo de ocupação profissional ou de prática esportiva, a história de um ou mais eventos traumáticos e tratamentos prévios (fisioterapia, infiltrações, etc.), a dominância, a idade e o sexo. Exame físico: Iniciar pela inspeção, avaliando assimetrias das cinturas escapulares, atrofias das fossas supra e infraespinhais, cicatrizes e deformidades da coluna cervicotorácica. Na inspeção dinâmica, é importante observar tanto a amplitude de movimento como o movimento escapulotorácico. Na palpação é importante avaliar se há presença de dor, sinais flogísticos, edema, etc. Também é possível verificar se há a presença de crepitações quando é realizada a movimentação ativa e passiva do ombro. Nas lesões do MR, os testes de impacto de Neer, Hawkins-Kennedy e Yocum apresentam positividade variável, em decorrência da presença ou não do fator extrínseco que pode estar presente na patogenia da doença. Os testes de função muscular são específicos e, em sua positividade e intensidade, dependem do tendão lesado e da extensão da rotura. Para avaliação do SE, utilizam- se o teste de Jobe e o teste do supraespinal. Para o IE, os testes de Patte, do infraespinal e o da cancela. O terapeuta instrui o paciente para realizar uma flexão e abdução de 30º de membros superiores e uma rotação interna, apontando os polegares para o chão (lata vazia). O terapeuta impõe uma resistência com ambas às mãos na altura do cotovelo do paciente e pede que o mesmo realize uma flexão contra a resistência. Avalia o tendão do músculo supraespinhoso. O terapeuta, em frente ao paciente, instrui para que o mesmo realize uma flexão do braço até o cotovelo tocar a testa. O terapeuta poderá auxiliar o paciente a elevar ainda mais o cotovelo, isso irá exacerbar os sintomas de uma tendinite do supra-espinhoso ou alguma lesão na articulação acromioclavicular. Teste de patte: a abdução de braço a 90º, flexão do cotovelo à 90º e, rotação externa do braço contra a resistência do terapeuta imposta na altura do punho do paciente. Esse teste será mais direcionado para o tendão do músculo infra-espinhoso. Gerber: O terapeuta instrui ao paciente que realize uma adução e rotação interna do membro superior a ser avaliado e pede ao paciente que coloque o dorso da mão na altura da região lombar. Após o terapeuta pede para que o paciente afaste o dorso da mão da lombar. Caso o paciente não consiga levar o braço até a posição ou não consiga afastá-lo da região lombar indica inflamaçãoou até mesmo ruptura do tendão do músculo subescapular. Exame de imagem Exame radiográfico: Tem como objetivo avaliar sinais sugestivos de impacto e rotura do MR (esclerose, cistos e irregularidades no tubérculo maior; esclerose e presença de osteófito no acrômio). O formato e a espessura do acrômio, a presença de os acromiale e de artrose acromioclavicular também podem ser avaliados. As incidências utilizadas são: anteroposterior verdadeira, em rotação medial e lateral, anteroposterior com 30° de inclinação caudal, túnel do su-praespinal (ou outlet view, um perfil escapular com 10° de inclinação caudal) e perfil axilar. Exame de ressonância magnética: Tem altos índices de especificidade e sensibilidade. A ressonância magnética (RM) é o exame de escolha para avaliação de possível rotura do MR. Com sua análise, é possível mensurar a lesão (espessura, retração, número de tendões acometidos) e obter informações sobre a qualidade dos ventres musculares do MR (presença de infiltração gordurosa). Tem como vantagem adicional avaliar possíveis lesões associadas intraarticulares. Tratamento: Conservador: O tratamento conservador é indicado nas roturas parciais e nas roturas completas em pacientes com baixa demanda funcional ou sem condições clínicas para realização da cirurgia. a) Retirada dos fatores de risco causadores da rotura. b) Analgesia e medidas anti-inflamatórias: uso de analgésicos simples ou opioides; utilização de anti- inflamatórios não hormonais orais e hormonais por via sistêmica (intramuscular). c) Restabelecimento da amplitude de movimentos articulares (exercícios passivos e ativos) d) Fortalecimento do MR para restaurar o mecanismo depressor da cabeça do úmero (exercícios isométricos, isotônicos e de coordenação motora) Tratamento deve ser mantido por, no mínimo, 3 meses, podendo se prolongar de acordo com a reposta do paciente. Cirúrgico: O tratamento cirúrgico é indicado para pacientes nos quais o tratamento conservador não foi efetivo, nas roturas completas do manguito em indivíduos com alta demanda funcional e naquelas de origem aguda/traumática. Pode ser realizado por via aberta ou artroscópica e consiste basicamente nos seguintes procedimentos: 1) Desbridamento intra-articular e subacromial. 2) Descompressão subacromial (DSA) – seção do ligamento coracoacromial, acromioplastia anteroinferior, exérese de osteófitos acromioclaviculares. 3) Reparação dos tendões rotos.