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FICHAMENTO
	TEXTO: A diferenciação da língua portuguesa no Brasil e o contato entre línguas
AUTOR: Dante Lucchesi
	CITAÇÃO
	COMENTÁRIO
	A ampla e profunda implantação da língua portuguesa no Brasil deve-se a algumas das características essenciais de seu processo de colonização: extermínio da população autóctone e colonização massiva pelos portugueses desde o século XVI até o século XIX. Tiveram um papel igualmente determinante na difusão da língua portuguesa no Brasil os quatro milhões de africanos trazidos como escravos, no mesmo período, e que foram forçados a abandonar as suas línguas nativas e adotar o português como língua de comunicação. (p. 46)
	A presença dos africanos escravizados foi fundamental na difusão do português em território brasileiro. Durante o período colonial, milhões de africanos foram trazidos à força para o Brasil sob o jugo da escravidão, trazendo consigo suas línguas e culturas. Esses africanos trouxeram uma rica diversidade linguística, falando diversas línguas de origem bantu, entre outras. Assim, no contexto da escravidão, houve um intenso contato linguístico entre os africanos escravizados, os colonizadores portugueses e os povos indígenas brasileiros. Nesse processo de comunicação e convivência, os africanos foram forçados a aprender o português, língua dominante do colonizador, como uma forma de sobrevivência e comunicação com os demais.
	Qualquer hipótese que integre o contato entre línguas na formação histórica das variedades do português brasileiro tem de enfrentar uma forte resistência subjetiva que se desdobra, tanto no plano da ideologia, quanto no plano da própria teoria linguística. Até meados do século XX, grandes filólogos brasileiros que se debruçaram sobre o tema, imbuídos da visão conservadora e preconceituosa de superioridade cultural e linguística do colonizador europeu frente às populações indígenas e africanas, procuraram minimizar qualquer interferência desses povos na formação da realidade linguística brasileira. (p. 47)
	Alguns filólogos no passado minimizaram a importância do contato linguístico no Brasil, enfatizando a pureza e continuidade histórica da língua. Essa abordagem eurocêntrica desconsiderava as influências das línguas indígenas e africanas no desenvolvimento do português brasileiro. No entanto, estudos mais recentes reconhecem a relevância do contato linguístico e do multilinguismo, contribuindo para uma compreensão mais abrangente da formação do português brasileiro e valorizando todas as suas influências históricas e culturais.
	O português brasileiro é, talvez, a variedade linguística transplantada para o Novo Mundo que mais se diferencia de sua matriz europeia. Linguistas de orientação gerativistas chegam a falar que portugueses e brasileiros produzem os seus atos de fala a partir de gramáticas mentais distintas. De fato, no plano da organização estrutural das frases algumas diferenças são notáveis. (p. 48)
	O PB realiza o sujeito pronominal mais frequentemente que o PE. O PB exibe um largo emprego do objeto nulo para o clítico acusativo de 3ª pessoa. Além disso, no PB as orações relativas com antecedente são constituídas apenas com um pronome relativo neutro (“que”). Isso sugere que as estruturas e regras gramaticais utilizadas pelos brasileiros podem variar significativamente em relação às dos portugueses, refletindo uma variação independente da língua ao longo do tempo e sob influências culturais e sociais exclusivas diversas.
	Historicamente, essas características mais notáveis da fala popular resultam de processos de mudança induzidos pelo contato do português com as línguas indígenas e africanas, ocorridos nos primeiros séculos de formação da sociedade brasileira. Portanto, essas marcas nada mais são do que o reflexo linguístico do caráter pluriétnico do Brasil, de modo que o preconceito que sobre elas se manifesta pode ser visto como a expressão mais clara do racismo no plano da língua. (p. 50)
	Durante a colonização, a língua portuguesa foi imposta como a língua oficial e valorizada como símbolo de prestígio e poder. Isso levou a uma desvalorização das línguas indígenas e africanas, bem como das variantes populares e regionais do português falado no país, que são fruto do contato com essas línguas subjugadas. Essa discriminação linguística reflete a visão racista de que certos grupos étnicos e culturais são superiores e suas formas de falar são inferiores, perpetuando estereótipos negativos e marginalizando comunidades linguísticas. É uma forma de opressão que, até hoje, reforça desigualdades e contribui para a marginalização de grupos historicamente discriminados.
	Uma sociedade não passa impunemente por mais de trezentos anos de regime escravista. Os efeitos sociais da escravidão ainda estão presentes no Brasil de hoje. A maioria da população das favelas e das periferias das grandes cidades é composta por negros e pardos, bem como são esses que predominam na população carcerária e são as maiores vítimas da violência urbana e policial. Mas os efeitos mais profundos e sutis situam-se no plano da cultura e das mentalidades. (p. 51)
	O reflexo linguístico mais nítido dessa afirmação está no fato de que nenhuma língua africana conseguiu subsistir no Brasil, haja vista os mais diversos tipos de violência perpetrados no processo de escravidão. O legado dessa violência permeia as estruturas sociais, os preconceitos, os estereótipos e as desigualdades presentes na sociedade brasileira, afetando o acesso a oportunidades, a autoimagem e a construção de identidades, inclusive no âmbito da linguagem.
	É preciso compreender como os processos de mudança que atuam na pidginização/crioulização podem atuar também em situações de contato cujo resultado não é necessariamente a formação de uma língua pidgin ou crioula. (p. 53)
	Com essa afirmação, o autor aborda o conceito de transmissão linguística irregular, que considera o contato massivo entre línguas, além de situações extremas que resultam em uma nova língua com estrutura gramatical distinta. 
	O processo de formação de uma variedade linguística em situação de contato é visto como gradual, em função da gradação nos valores de certas variáveis sociais que o estruturam, de modo que o seu resultado pode não ser um pidgin ou crioulo, mas uma variedade da língua que prevalece na situação de contato, com alterações em sua estrutura que podem inclusive resultar da transferência de estruturas gramaticais de outras línguas envolvidas na situação de contato. (p. 53)
	Esse processo é gradual, influenciado por variáveis sociais, podendo resultar em uma variedade linguística modificada da língua dominante no contato, incluindo a transferência de estruturas gramaticais de outras línguas envolvidas. Ao contrário das situações extremas em que surge um pidgin ou crioulo com uma estrutura gramatical distinta, a transmissão linguística irregular envolve a transferência de elementos gramaticais e estruturais de diferentes línguas em contato.
	O grau de reestruturação gramatical ocorrido nos processos de transmissão linguística irregular é proporcional aos valores de certas variáveis sócio-demográficas que determinam, em cada caso histórico específico, o grau de acesso dos falantes do grupo dominado e seus descendentes aos modelos gramaticais da língua do grupo dominante. (p. 56)
	Nesse processo, certas variáveis sociais desempenham um papel importante na estruturação da nova variedade linguística, e o resultado pode ser uma modificação da língua predominante na situação de contato. Toda situação de contato é única, e seus resultados podem variar dependendo dos condicionamentos sociais permeadores.
	Deve-se destacar os seguintes fatores que inibiram a pidginização/crioulização do português no Brasil: 1. A proporção média de falantes do grupo dominante de 30% da população do Brasil
entre os séculos XVI e XIX, bem superior à das situações típicas de crioulização com no máximo 10% de falantes do grupo dominante; 2. A utilização de línguas francas africanas, em alguns ambientes, como as senzalase nas sociedades de mineração; 3. O elevado grau de mestiçagem. (p. 57)
	A pidginização/crioulização do português no Brasil não avançou por diversos fatores, como a alta quantidade de falantes do grupo dominante (portugueses) no Brasil durante o período de colonização, situação contrária às situações comuns de crioulização, ainda que houvesse uma grande população do campo e sem escolarização no país. 
	As variedades que hoje exibem um grau maior de variação são aquelas que historicamente foram afetadas mais diretamente pelo contato entre línguas. (p. 58)
	No caso das variedades da língua portuguesa, regiões que tiveram um histórico de maior contato linguístico, como locais com forte presença de populações indígenas ou africanas, foram mais suscetíveis à influência causada pelo contato e, consequentemente, apresentam uma maior variação linguística, incorporando e desenvolvendo características distintas, refletindo a influência das outras línguas com as quais tiveram contato.
	No Brasil, os falantes da norma culta e os falantes da norma popular exibem diferentes sistemas de avaliação subjetiva das formas variantes em uso na língua. Na norma culta, a não aplicação da regra de concordância verbal constitui um verdadeiro estereótipo, pois recebe uma avaliação explicitamente negativa. [...] Já na fala popular das grandes cidades, a aplicação da regra de concordância pode assumir o estatuto de um marcador, ocorrendo a variação estilística estruturada, na medida em que os falantes vão tomando consciência do prestígio social da regra. (p. 59)
	Além das diferenças nas frequências de uso das variantes linguísticas, a polarização sociolinguística do Brasil caracteriza-se pelas diferenças na avaliação social da variação linguística e nas tendências de mudança em curso. Essa variação reflete a percepção de valor social associada ao uso de diversas estruturas gramaticais.
	As tendências de mudança em curso que se observam hoje nas variedades populares do português brasileiro refletem um processo de nivelamento linguístico que se dá a partir da influência das grandes cidades sobre todas as regiões do país. (p. 60)
	Isso ocorre devido à concentração de recursos educacionais, culturais, econômicos e midiáticos nas áreas urbanas, o que leva a uma maior disseminação e adoção das formas linguísticas predominantes nessas regiões. Como resultado, as pessoas que vivem em áreas rurais ou em pequenas regiões tendem a ser expostas a essas variedades linguísticas mais padronizadas e, consequentemente, podem adotar essas formas em suas próprias falas.
	Mantidas em relativo isolamento até bem pouco tempo, essas comunidades rurais afro-brasileiras isoladas constituem verdadeiros sítios arqueológicos da história sociolinguística do Brasil. A fala dessas comunidades é particularmente importante para uma perspectiva que busca integrar o contato entre línguas na formação histórica das variedades populares do português brasileiro, pois a fala dessas comunidades seria exatamente aquela que teria sido mais afetada pelo processo de transmissão linguística irregular. (p. 61)
	Essas comunidades rurais afro-brasileiras se tornaram espaços onde a língua portuguesa que esteve em contato as línguas africanas é mais preservada, revelando camadas históricas desse contato, bem como características típicas de situações de contato massivo que não se encontram em outras variedades populares do Brasil.
	No passado, na formação dessas comunidades, com africanos que falavam precariamente o português como segunda língua e seus descendentes já nascidos no Brasil, a fala dessas comunidades deve ter-se caracterizado por um profundo grau de variação no qual o emprego de mecanismos morfossintáticos sem valor informacional, como as regras de concordância, estaria praticamente ausente. Desde então, com a progressiva inserção dessas comunidades no sistema econômico da sociedade brasileira, o uso de tais mecanismos gramaticais foi sendo estimulado pelo contato dialetal e a influência externa. (p. 63)
	As comunidades rurais afro-brasileiras formaram-se com africanos que tinham uma compreensão limitada da língua portuguesa, o que deve ter causado um grande nível de variação. Entretanto, com a crescente integração dessas comunidades no macrossistema da sociedade brasileira, a utilização de algumas estruturas gramaticais que ora foram preteridas foi sendo incentivada por fatores externos à língua.
	TEXTO: Por que a crioulização aconteceu no Caribe e não no Brasil? Condicionamentos sócio-históricos
AUTOR: Dante Lucchesi
	CITAÇÃO
	COMENTÁRIO
	Há uma razoável concordância intersubjetiva no sentido de que o fenômeno da crioulização está estreitamente ligado à expansão do colonialismo europeu, entre os séculos XVI e XIX, pela América, África, Ásia e Oceania. No interior desse grande universo, destaca-se o universo das sociedades de plantação instaladas no Caribe, com base no largo emprego da mão de obra escrava proveniente da África. (p. 228)
	Durante a era da escravidão, ocorreu a chegada massiva de africanos trazidos como escravos para as plantações caribenhas, onde entraram em contato com europeus colonizadores e povos locais. Esse intenso contato linguístico levou ao desenvolvimento de línguas crioulas, que surgiram como formas simplificadas e híbridas de comunicação entre esses grupos multilíngues. Há uma razoável discussão acerca do processo histórico de formação dos crioulos do Caribe.
	Para que a crioulização aconteça, é preciso que haja uma ruptura radical na transmissão da língua do grupo dominante para o grupo dominado, dentro da estrutura da sociedade colonial. Essa ruptura decorre do fato da grande massa de escravos ter um acesso muito restrito à língua do grupo dominante que eles são obrigados a adquirir e a usar. (p. 229)
	Essa restrição à língua lexicalizadora na sociedade colonial favorece o surgimento de crioulos, pois impulsiona a busca por formas de comunicação alternativas e simplificadas, levando à criação de uma nova língua que se adapta às necessidades dos falantes em contextos de contato linguístico e restrições linguísticas.
	A nativização do português entre os crioulos era, em maior ou menor grau, afetada, na medida em que se tomasse como modelo variedades defectivas de segunda língua faladas pelos adultos africanos. (p. 232)
	O autor considera a imposição do português aos africanos e a sua assimilação como língua materna aos nascidos no Brasil, os chamados crioulos. Essa nativização era afetada pelos africanos adultos que apresentavam diversos tipos de proficiência em língua portuguesa, inclusive defectivas.
	Ao longo de toda a história do Brasil, a sociedade de plantação do Nordeste do século XVII seria o cenário sócio-histórico mais favorável à crioulização do português, havendo paralelos significativos com as sociedades de plantação do Caribe. Dessa forma, a questão que se impõe é: por que o português não se crioulizou, de forma consistente, no Nordeste do Brasil colonial? (p. 233)
	O português não se crioulizou de forma consistente no Nordeste do Brasil colonial devido a uma série de fatores históricos, sociais e linguísticos. Primeiramente, o contato linguístico no Nordeste do Brasil colonial não foi caracterizado por uma situação de dominação linguística similar ao do Caribe, uma vez que no Brasil os falantes da língua de superestrato constituíam uma parcela mais alta, percentualmente falando, que nas situações típicas de crioulização. Além disso, a estrutura da sociedade na época favorecia uma aproximação maior entre os africanos e os falantes do português, o que inibiu o surgimento de um processo de P/C. No mais, o sistema colonial no Nordeste do Brasil estava baseado principalmente na plantação de cana-de-açúcar, que exigia mão de obra escrava africana. No entanto, diferentemente do Caribe, os africanos eram concentrados em menores quantidades, o que também desfavoreceu um processo de P/C.
	Esse processo de homogeneização linguística do Brasil só se completará no fim da chamada República Velha, em 1930, quando o portuguêsse torna a língua materna da grande maioria da população brasileira, convivendo apenas com línguas indígenas minoritárias, faladas nas regiões mais recônditas do país (sobretudo na Amazônia), e com alguns pequenos bolsões de línguas de imigração (principalmente na região sul). (p. 238)
	A homogeneização linguística do Brasil foi um processo gradual que se completou no fim da República Velha, em 1930, com o português se tornando a língua materna da maioria da população, mas ainda coexistindo com línguas indígenas minoritárias e línguas de imigração em algumas áreas específicas do país. Esse processo de homogeneização foi impulsionado pela disseminação da língua portuguesa como língua oficial do país e pela educação formal, que priorizava o ensino do português nas escolas.
	A dinâmica do trabalho escravo na mineração era bastante distinta da escravidão na lavoura, de modo que a situação do escravo na sociedade mineira se distancia da massa amorfa da escravaria das plantations e se assemelha mais à condição do escravo doméstico e urbano, possibilitando-lhe um maior acesso aos modelos da língua dominante inibindo, por conseguinte, a P/C. (p. 239)
	Embora a sociedade mineira tenha concentrado uma grande população de escravos africanos, o autor indica que as sociedades mineiras não são um ambiente propício à crioulização, ainda que falassem quimbundo nelas. Em países que importaram muitos escravos africanos para trabalhar nas minas, como o Peru e a Bolívia, não se tem notícia processos de crioulização, corroborando com a tese do autor.
	O cotejo das condições que inibiram a crioulização do português no Brasil (mesmo no auge da sociedade de plantação açucareira do Nordeste, no século XVII) vis-à-vis as condições que possibilitaram a emergência das línguas crioulas no Caribe revelam que o primeiro fator que diferencia os dois universos é a estrutura socioeconômica. (p. 241)
	Enquanto no Brasil a pequena propriedade teve uma participação significativa no sistema mercantilista mais amplo, as informações disponíveis sobre o Caribe apontam para uma predominância das grandes propriedades, que foram estabelecidas de forma rápida na região, o que ocasionou um distanciamento dos africanos com a língua europeia do grupo dominante.
	Outro aspecto a ser considerado é a ascendência cultural e simbólica do grupo dominante sobre a massa de escravos. (p. 243)
	Uma vez que, quanto maior for a proporção de escravos nascido no local, mais próximo da língua lexificadora será o crioulo, o Brasil inibiu própria crioulização a partir da assimilação/nativização, dando ensejo não a uma língua crioula, mas a uma variedade da língua portuguesa. 
	No Brasil, embora os africanos e seus descendentes tenham composto até mais de dois terços da população colonial, o grande número de pequenas propriedades com poucos escravos reduziu bastante o isolamento desse segmento, facilitando-lhe o acesso aos modelos da língua dominante, o português. Já na maioria das sociedades de plantação do Caribe, onde ocorreu a crioulização, além do percentual do segmento do substrato ser maior, o seu grau de isolamento seria mais elevado, em função da concentração da produção em grandes propriedades. (p. 245)
	O princípio geral que se postula é o de que a segregação/isolamento da população dominada é crucial para a crioulização, pois implica uma severa restrição do acesso dos falantes do substrato à língua dominante, determinando uma ruptura na transmissão linguística. Uma transmissão linguística irregular (TLI) mais leve gera apenas uma variedade da língua dominante, enquanto uma TLI radical gera uma nova língua, qualitativamente distinta da língua lexificadora.
	As línguas crioulas são, assim, uma expressiva evidência do fantástico poder adaptativo e criativo da faculdade da linguagem humana, embora o preconceito e a arrogância tenham visto essas línguas como uma prova da inferioridade mental dos povos que as falavam, por sua incapacidade de falar “corretamente” a língua europeia, considerada mais elevada e perfeita. (p. 250)
	Essas línguas demonstram a capacidade intrínseca dos seres humanos de se adaptarem e encontrarem soluções linguísticas criativas para superar barreiras comunicativas, refletindo assim o poder adaptativo da faculdade da linguagem humana.
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