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1 FFAACCUULLDDAADDEE AASSSSIISS GGUURRGGAACCZZ ENTEROBIOSE E OUTRAS ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS MATRICULADAS EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL - PR Cascavel 2012 2 MARCELI GONÇALVES BELETINI ENTEROBIOSE E OUTRAS ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS MATRICULADAS EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL – PR Trabalho de conclusão de curso apresentado a Faculdade Assis Gurgacz, FAG, Curso de Farmácia. Profª. Orientadora: Maria das Graças Marciano Hirata Takizawa. Cascavel 2012 3 MARCELI GONÇALVES BELETINI ENTEROBIOSE E OUTRAS ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS MATRICULADAS EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL - PR Trabalho apresentado no Curso de Farmácia da FAG, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia, sob a orientação da Professora Me. Maria das Graças Marciano Hirata Takizawa. BANCA EXAMINADORA _______________________________ Me. Maria das Graças Marciano Hirata Takizawa ___________________________ Me. Claudinei Mesquita _______________________________ Me. Patrícia Stadler Rosa Lucca Cascavel, 09 de Novembro de 2012. 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais pela educação que me deram, base perfeita para construir meu saber. 5 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, pela força espiritual para a realização desse trabalho. Agradeço aos meus pais Wilson e Sirlene, pelo eterno orgulho de nossa caminhada, pelo apoio, compreensão, ajuda, e, em especial, por todo carinho ao longo deste percurso, e também à Mileni, querida irmã, pelo carinho, compreensão e grande ajuda. Aos meus amigos e colegas de curso, pela cumplicidade, compreensão, ajuda e amizade durante os 4 anos de graduação. Agradeço imensamente à Profª Me. Maria das Graças Marciano Hirata Takizawa, pelo companheirismo, amizade e esforço para a realização de um excelente trabalho e pela valiosa orientação concedida. A todos os Professores do Curso de Farmácia da Faculdade Assis Gurgacz, pela incansável busca por uma formação integral de seus acadêmicos. A Secretaria de Educação do Município de Cascavel – PR, especialmente à Professora Erica da Silva. A coordenação do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Espaço e Vida, especialmente à Professora Ivete e à Greyce, pela contribuição ao projeto de pesquisa. Agradeço também à Mariangela e Diandra, colaboradoras do Laboratório de Parasitologia da FAG, pela contribuição e ajuda durante a realização das análises laboratoriais. E também aos sujeitos da pesquisa, pela participação e imensa colaboração para o desenvolvimento presente estudo. 6 Sumário 1. REVISÃO DA LITERATURA...............................................................................07 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................25 2. ARTIGO..............................................................................................................34 NORMAS DA REVISTA CIENTÍFICA.....................................................................51 7 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PARASITOLOGIA HUMANA A partir do momento em que existe interesse na história da evolução do homem e das enfermidades que o atinge, pode-se avaliar que não existe um simples processo onde a epidemiologia de determinadas doenças, caracterizadas como doenças da pobreza são substituídas por doenças modernas, sendo que o que realmente observa-se são adaptações e alterações do hospedeiro, vetores e agentes etiológicos, fazendo com que não exista uma expectativa de vida livre de infecções nos próximos anos (BARATA, 2000). A história dos seres humanos, bem como as infecções que afetam a saúde dos mesmos está intimamente relacionada à evolução cultural juntamente com as migrações, desde o início das atividades voltadas à agricultura e a domesticação de animais. Esses e outros fatores induziram mudanças relacionadas à dieta humana e, consequentemente, as vias de transmissão de patógenos, inclusive as parasitoses humanas (CHAME et al 2005). Os estudos acerca da parasitologia humana possui extrema importância, pois as infecções por parasitas, principalmente intestinais, são frequentes na população mundial. Determinados parasitas, particularmente, representam um agravante problema de saúde pública, caracterizando síndromes de má nutrição, deficiência de aprendizado e incapacidade funcional, principalmente em crianças (CIMERMAN, 2005). De acordo com Cimerman & Cimerman (1999), seguindo relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS), existe uma alta frequência de doenças parasitárias na população mundial, estimando que cerca de 980 milhões de pessoas estejam parasitadas por Ascaris lumbricoides, 200 milhões pelo Schistosoma mansoni e 16 milhões pelo Trypanosoma cruzi. Os parasitas humanos apresentam a necessidade de obtenção de nutrientes a partir de seu hospedeiro, sendo que o relacionamento comensal não deve lesar permanentemente o mesmo, onde as alterações e comprometimentos 8 do organismo poderia fazer com que perdesse o hospedeiro. De acordo com Mascarini (2005), a relação parasita-hospedeiro ideal é aquela que não resulta em danos e doença ao indivíduo, sendo que pode ser observada em alguns parasitas, os quais sofreram adaptações, dando origem a outro tipo de relação, denominada simbiose. Sabe-se que tanto a intensidade quanto a disseminação das doenças parasitárias estão extremamente relacionadas com as condições higiênico- sanitárias dos indivíduos, envolvendo principalmente as baixas condições de saneamento básico, nível socioeconômico e cultural inadequado, falta de orientação a respeito de transmissão e cuidados a serem tomados, higiene precária, entre outros (BIESI et al., 2010). ENTEROPARASITOSES Parasitoses intestinais são caracterizadas pela presença de microrganismos, sejam eles protozoários ou helmintos, que em pelo menos uma fase de seu ciclo evolutivo de vida, localizam-se no aparelho digestório de seu hospedeiro, o homem, resultando em diversas alterações patológicas, dependendo do estado imunológico do mesmo (BAPTISTA et al 2006 apud FERREIRA et al 2004). No Brasil e em outros países em desenvolvimento, as parasitoses intestinais encontram-se ainda disseminadas e com alta prevalência. Esse alto índice de infecção por enteroparasitas reflete o desenvolvimento socioeconômico do país ou região, evolvendo ações de saneamento básico e melhorias habitacionais, além do conhecimento limitado da população mais carente, sendo que as parasitoses são geralmente transmitidas por água, solo e alimentos, estando, portanto relacionadas a questões de higiene ambiental e individual (COUTO et al., 2007; OLIVEIRA, 2004; ROCHA et al 2000). A transmissão das enteroparasitoses geralmente acontece pela via fecal-oral ou penetração pela pele, sendo que a prevalência dessas infecções é maior em 9 países ou regiões com condições socioeconômicas baixas e saneamento básico precário, incluindo-se o tratamento de água, esgoto, recolhimento de lixo, e também pela falta de controle de vetores (KUNZ et al., 2008). Por causarem vários efeitos deletérios à saúde dos indivíduos, programas de controle de parasitoses têm sido criados para serem colocados em prática em diversos países, porém o êxito não é alcançado na maioria dos países que apresentam uma economia mais pobre (LUDWIG et al 1999). As infecções que mais frequentemente acometem os seres humanos são as causadas pelos parasitas intestinais, sendo que os que se instalam com maior freqüência são Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, os ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostomaduodenale, e os protozoários Entamoeba histolytica/dispar e Giardia intestinalis (FERREIRA et al., 2000). Em geral, de acordo com Frei (2008), três fatores devem estar necessariamente presentes para que ocorra uma infecção parasitária, sendo os fatores relacionados ao hospedeiro: estado nutricional, fatores genéticos e idade, condições em relação ao parasito: mecanismos de defesa contra o sistema imunológico do hospedeiro, e em relação ao ambiente: saneamento básico e higiene. Para indivíduos que habitam áreas não endêmicas para parasitoses em geral, que não tiveram em nenhum momento contato com parasitas e mesmo com o sistema imunológico competente podem desenvolver ou apresentar sintomatologia relativa à parasitose logo após a infecção, porém, indivíduos com o sistema imunológico deficiente, ou imunocomprometidos frequentemente apresentam sintomas mais intensos (MOTTA & SILVA, 2002). Nos últimos anos, após o aparecimento da síndrome da imunodeficiência humana houve um grande aumento na prevalência e na gravidade de algumas doenças infecciosas, incluindo as parasitárias, bacterianas e virais (MARKELL et al 2003). 10 De acordo com Roque et al (2005), a sintomatologia relacionada às infecções por parasitas intestinais pode sofrer variações de leves a graves, visto que nas infecções mais leves as manifestações sintomáticas podem apresentar-se mais inespecíficas, sendo relatadas irritabilidade, anorexia, distúrbios do sono, vômitos e diarréia, porém, a sintomatologia mais grave está relacionada à pacientes que apresentam-se imunodeprimidos ou desnutridos. As parasitoses intestinais geralmente não expressam manifestações clínicas quando ocorrem, visto que o quadro clínico não é característico, podendo variar de manifestações discretas até casos excepcionalmente graves e até letais, além do mais, não existem quadros clínicos característicos de enteroparasitoses, porém, determinados sintomas específicos podem alertar o médico para o diagnóstico adequado. As inúmeras manifestações clínicas e lesões decorrentes de infecções por enteroparasitas estão relacionadas tanto com as características biológicas dos parasitas, tais como localização no hospedeiro, capacidade de invasão e carga parasitária, além dos fatores relacionados ao hospedeiro, como estado imunológico e estado nutricional (CHEHTER & CABEÇA, 1994). PARASITOSES INTESTINAIS EM CRIANÇAS Atualmente, em função da maior participação feminina no mercado de trabalho e à maior urbanização, uma grande proporção de crianças em idade pré- escolar começaram a frequentar creches, que por se tratar de um ambiente fechado, abrigando grande número de crianças durante a maior parte do dia, tornaram-se um potencial ambiente de contaminação pelo alto contato interpessoal de crianças em banheiros e dormitórios (GURGEL et al 2005; BARROS et al 1998; NASCIMENTO et al 2009), A maior prevalência de parasitoses intestinais é observada em crianças em idade escolar de regiões periféricas, devido a hábitos alimentares, cultura e higiene precárias, tornando-as mais suscetíveis às infecções parasitárias. A frequência do parasitismo intestinal em crianças pré-escolares sofre uma grande variação no 11 Brasil, podendo alcançar de acordo com a região estudada, índices de aproximadamente 80% (SANTOS et al 1999; BELOTTO et al., 2011). As crianças constituem o principal grupo de risco para a contaminação e aquisição de infecções intestinais que se não devidamente tratadas podem acarretar incapacidades físicas e mentais, resultando em baixo rendimento escolar, problemas físicos, com sintomas gastrintestinais, baixo desenvolvimento corporal, além de sintomas sociais (FERREIRA et al 1997; MORAES, 2008). Apesar de possuírem uma natural vulnerabilidade para adquirirem infecções, as crianças que frequentam creches possuem a maior probabilidade de adquirirem e desenvolver as infecções de repetição, ou seja, as respiratórias, gastrintestinais e cutâneas, sendo que diarreias e gastroenterites são indicadas como importante problema de saúde pública apresentado pelas crianças atendidas em creches municipais (MASCARINI & DONASÍLIO, 2009). A população pediátrica representa a classe com os mais elevados índices de enteroparasitoses, sendo que nesses indivíduos as infecções por parasitos podem acarretar diversos problemas, onde além de comprometer o desenvolvimento físico e mental pode resultar até mesmo em óbito, principalmente em crianças com faixa etária entre 0 e 5 anos que apresentam hábitos de higiene inadequados, sistema imunológico ainda em formação e ainda pelo fato de dependerem de cuidados alheios, nos casos que frequentam as creches (CARVALHO et al 2006; BARÇANTE et al 2008). A presença de enteroparasitas no organismo pode resultar em patogenias cujos sintomas clínicos podem ser semelhantes com os de outras patologias, e serem consequentemente confundidos, ou serem inespecíficos para o diagnóstico preciso de parasitose. A anemia ferropriva ou por deficiência de ferro é evidente na maioria dos escolares e adolescentes, e pode ser considerada como exemplo, uma vez que pode ser causada por parasitas intestinais espoliativos como Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancilostomídeos e Taenia sp., ou também pode ser causada pela simples deficiência na ingestão de ferro na alimentação, fato 12 clássico em crianças desnutridas (ARAÚJO e FERNÁNDEZ, 2005; GOMES et al 2006 apud TSUYUIKA et al 1999). A desnutrição pode acarretar ao indivíduo dificuldade na realização de atividades, tais como o trabalho, possibilita maior vulnerabilidade às infecções, menor capacidade cognitiva, bem como pode diminuir a absorção intestinal de nutrientes e biotransformação metabólica, no entanto, essas consequências são piores quando a desnutrição acontece em fazes precoces da vida, como é o caso das crianças (BISCEGLI et al., 2009). Esse tipo de infecção não apresenta um quadro de mortalidade significativo, no entanto, por se apresentarem na maioria das vezes de forma assintomática, as infecções parasitárias necessitam de atenção especial devido às alterações biológicas que podem acarretar, variando de acordo com a espécie parasitária, pode envolver casos de desnutrição tratando-se de Ascaris lumbricoides, anemia ferropriva envolvendo os ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostoma duodenale, síndrome da má absorção intestinal e diarreia causadas por protozoários, além de desenvolverem outras manifestações, dependendo da espécie do parasita e carga parasitária no indivíduo, tais como dores abdominais, constipação e irritabilidade (COSTA-MACEDO et al 1998; MARINHO et al 2002; YAMAMOTO et al., 2000). Dentre as infecções parasitárias, representadas pelos protozoários, destacam-se a Giardíase e a Amebíase apresentando-se bastante frequentes na população infantil e também nas populações com alto nível socioeconômico. Essas protozoonoses são transmitidas diretamente pelo contato interpessoal, sendo possível o contágio entre crianças que habitam o mesmo ambiente como creches e escolas, mesmo que possuam saneamento básico e tratamento de água (BECKER et al., 2002; ALVES et al., 2003). De acordo com Carneiro Filho et al (1994), tratando-se das infecções parasitárias causadas por helmintos, os parasitas que possuem maior prevalência de infecções em humanos, principalmente na população infantil, são a Ascaridíase, 13 Tricuríase, Enterobiose, Ancilostomose e Estrongiloidose, sendo que esses vermes possuem ampla distribuição geográfica no Brasil, onde são encontrados na zona rural e urbana, prevalecendo onde os níveis e as condições sanitárias são mais precárias na população. De acordo com Moura et al (1997), apesar de diversos estudos comprovarem os problemas de saúde provocados pelas parasitoses intestinais, não existem dados suficientes sobre a população infantilem idade pré-escolar, o que seria de extrema importância, pois esse grupo de indivíduos não utiliza com frequência os serviços básicos de atenção à saúde. A partir do momento que as enteroparasitoses recebem destaque especial, levando em consideração os dados epidemiológicos de prevalência das mesmas e os quadros de diarreia crônica e desnutrição, associados às crianças em idade pré-escolar, torna-se de suma importância a conscientização dos órgãos públicos para a adoção de medidas específicas de controle (MONTEIRO et al., 1988; ANDRADE et al 2008), porém o custo para o financiamento das medidas técnicas e a falta de projetos junto à comunidade dificultam a implementação (LUDWIG et al 1999). Em seus estudos, Carvalho et al (2006), pesquisaram a ocorrência de enteroparasitos em creches da cidade de Botucatu, São Paulo, utilizando-se do método de sedimentação espontânea para o processamento das 279 amostras de fezes, e também o método de Graham ou método da fita gomada para a pesquisa especifica de Enterobius vermicularis, obteve como resultados o coeficiente geral de prevalência de parasitoses intestinais equivalente a 53,40%, sendo as espécies G. duodenalis, Cryptosporidium sp., Blastocystis hominis e E. vermicularis as mais encontradas. Apesar da baixa prevalência de helmintos nas creches, a espécie E. vermicularis foi caracterizada como a mais frequente entre as crianças (10,04%), sendo o método de diagnóstico essencial para justificar essa prevalência. 14 Já Pereira-Cardoso et al (2010), em sua pesquisa sobre a prevalência de enteroparasitoses em escolares de 06 a 14 anos no município de Araguaína, Tocantins, obteviveram como resultado uma prevalência de parasitas intestinais equivalente a 55,3%, sendo que para as amostras positivas destacaram-se Entamoeba coli (28,9%), Endolimax nana (18,4%), Giardia duodenalis (11,8%) e Ascaris lumbricoides (9,2%) como as parasitoses mais frequentes. No entanto, a baixa prevalência do parasito da espécie Enterobius vermicularis (1,3%) pode estar relacionada a não utilização da técnica específica de diagnóstico, uma vez que a técnica ideal seria pelo método do Swab anal ou fita gomada. Castro et al., (2004), através de um levantamento de parasitoses intestinais em escolares da rede pública de Cachoeiro de Itapemirim – ES, ao analisar 421 amostras obteve como resultado um coeficiente geral de prevalência de parasitoses intestinais de 19,71%, as espécies mais frequentes foram: Giardia lamblia (34,9%), Entamoeba coli (22,9%), Ascaris lumbricoides (4,8%) e Enterobius vermicularis (4,8%). Buschini et al., (2007), através de uma pesquisa a respeito da distribuição espacial de enteroparasitas em escolares de Guarapuava – PR, obteve como resultado, a partir da realização de exames parasitológicos de fezes, a maior prevalência para o protozoário Giardia duodenalis (56,41%) e para o helminto Ascaris lumbricoides (18,85%). Quadros et al (2004), em uma pesquisa de parasitoses intestinais em centros municipais de educação infantil na cidade de Lages – SC, obteve como resultado uma prevalência de 70,5% de crianças infectadas por pelo menos um tipo de parasita intestinal, para helmintos, as taxas foram de 41,5% no gênero masculino e 55,3% no feminino. Os helmintos mais frequentes foram: Ascaris lumbricoides (35%), Trichuris trichiura (13%) e Hymenolepis nana (0,5%). Barreto (2006), ao avaliar a prevalência de enteroparasitoses em crianças e adolescentes carentes da cidade de Guaçuí - ES, os quais representam um importante grupo de risco para a aquisição dessa classe de infecções, pode 15 observar uma prevalência de 88,6% de casos positivos, ou seja, de 35 amostras 31 encontravam-se positivas para algum enteroparasito, seja ele um helminto ou protozoário. O exame parasitológico de fezes foi realizado pela técnica de sedimentação espontânea, e o parasito mais frequente foi o protozoário Entamoeba coli (25,7%), seguindo pela Entamoeba histolytica (17,1%) e Giardia lamblia (2,9%). Entre os helmintos o mais frequente foi Ascaris lumbricoides (62,9%), seguido por Trichuris trichiura (48,6%), Strongyloides stercoralis (8,6%) e Enterobius vermicularis (5,7%). Avaliando os resultados, pode-se observar uma alta prevalência de enteroparasitoses em crianças carentes, sendo um fator alarmante aos responsáveis pelo fornecimento de água não potável, destino inadequado do lixo, saneamento básico e fornecimento de orientações a respeito dos meios de prevenção dessas infecções. TRANSMISSÃO DE ENTEROPARASITOSES Geralmente as parasitoses intestinais são transmitidas pela via oral, ou seja, pelo contato direto fecal-oral, ou também por outras vias, como pela contaminação de alimentos e água por material fecal contaminado em ambientes onde as condições sanitárias são impróprias. Sendo assim, a população mais pobre, ou de baixa renda, que em geral habita locais com aglomeração de pessoas, sem possuir acesso à coleta de lixo e ao saneamento básico possuem, risco mais elevado de se contaminarem por enteroparasitas (MOTTA & SILVA, 2002). Vários são os meios de transmissão dos parasitas intestinais, tanto helmintoses quanto protozoonoses, porém os que se destacam são através do solo, relacionado ao destino adequado dos dejetos humanos e também dos animais, e consequentemente a falta de saneamento básico; pelo ar; água contaminada, a ingestão oral das formas infectantes ou penetração pela pele; por vetores mecânicos, como moscas; pelas mãos, através da via fecal-oral envolvendo os hábitos de higiene; e, finalmente pelos alimentos, incluindo verduras consumidas sem cozimento prévio (SOARES & CANTOS, 2005; ORLANDINI & MATSUMOTO, 2010). 16 O conhecimento sobre a transmissão de parasitas intestinais através de água considerada imprópria para consumo humano por se apresentar contaminada é antigo, uma vez que o homem parasitado contamina o ambiente pelas formas infectantes de enteroparasitas, sejam elas cistos ou ovos, a água pode preservá- las por extensos períodos de tempo além de transportá-las para outros locais, podendo contaminar também os vegetais consumidos frequentemente crus, e voltar ao hospedeiro suscetível para infecção ou reinfecção (BEVILACQUA et al., 2002; MARZOCHI & CARVALHEIRO, 1978). Segundo Uchoa et al (2004), não se pode descartar ainda a transmissão das enteroparasitoses através dos manipuladores de alimentos. As creches podem ser incluídas nesse meio de contaminação, pois falhas na higiene desses indivíduos podem contaminar os alimentos que posteriormente serão distribuídos às crianças, viabilizando consequentemente a transmissão dos parasitas e de outros agentes infecciosos. ENTEROBIOSE Agente etiológico A enterobiose ou oxiurose é uma verminose intestinal causada pelo agente etiológico Enterobius vermicularis, um nematódeo popularmente conhecido como oxiúro, por ser um parasito exclusivamente humano, competindo com o Ascaris lumbricoides pelo primeiro lugar entre as endemias parasitárias com ampla distribuição geográfica e alta frequência (REY, 2001). O E. vermicularis é um helminto pequeno, e apresenta características bastante particulares, o verme adulto possui coloração branco-leitosa e brilhante, possui forma cilíndrica e é recoberto finamente por uma cutícula estriada transversalmente. Em sua extremidade anterior, lateralmente à boca, possui duas expansões vesiculosas características, também chamadas de “asas cefálicas”. Seu aparelho digestório é pouco complexo, com três pequenos lábios retráteis, seguindo pelo esôfago, bulbo esofagiano, e no caso dos machos termina com a 17 cloaca. O aparelho digestório das fêmeas termina com o reto e orifício anal, situado na porção posterior do corpo. O parasito não apresenta particularidades em relação ao aparelho reprodutivo, porém apresenta nítido dimorfismo sexual, sendo a fêmea caracterizadapor uma cauda pontiaguda e longa, medindo cerca de 1,0 cm de comprimento e 0,4 cm de diâmetro, já o macho apresenta uma cauda fortemente recurvada no sentido ventral, apresentando um espículo, órgão acessório da cópula, mede cerca de 5 cm de comprimento por 0,2 mm de diâmetro. O ovo mede cerca de 50 micrômetros de comprimento por 20 micrômetros de largura, possui morfologia bastante característica por apresentar-se com aspecto de um D, apresenta membrana dupla, lisa e transparente, e no momento em que sai da fêmea já apresenta uma larva em seu interior (REY, 2008; NEVES, 2009; NEVES, 2003). Habitat Os vermes adultos habitam o intestino grosso dos humanos, mais precisamente no ceco, podendo ocorrer na última parte do intestino delgado e também no apêndice cecal. Erraticamente o E. vermicularis pode invadir os órgãos genitais femininos, bexiga, vagina e útero, provocando alterações mais ou menos graves de acordo com o estado imunológico em que a mesma se apresenta. Os machos possuem um tempo de vida muito curto, de aproximadamente 15 dias, pois assim que fecundam as fêmeas são eliminados nas fezes, já as fêmeas vivem 40 a 60 dias, tempo suficiente para a maturação dos ovos e dirigem-se para o ânus, preferencialmente à noite e na região perianal liberam seus ovos (MORAES, 2008; NEVES, 2009). 18 Ciclo Biológico O E. vermicularis é um nematódeo monoxênico, ou seja, os humanos são os únicos hospedeiros definitivos e a maturação dos ovos acontece no meio exterior poucas horas após a eliminação. Assim que os ovos são ingeridos, atravessam o estômago sem sofrer danos e chegam ao intestino delgado, local onde as larvas irão eclodir e dirigir-se para o ceco, tornando-se adultos machos e fêmeas, fixam- se na região cecal, e como descrito anteriormente, após a fecundação, o macho é eliminado nas fezes, e as fêmeas dirigem-se para a região perianal (NEVES, 2009; MORAES, 2008). Transmissão Essa helmintíase possui distribuição mundial, tendo maior prevalência em crianças em idade escolar. A transmissão ocorre inevitavelmente em ambiente doméstico ou em ambientes coletivos como creches, asilos e enfermarias infantis, onde os fatores responsáveis pela alta taxa de transmissão são: a espécie Enterobius vermicularis especifica da espécie humana, as fêmeas realizam oviposição de grande número de ovos na região perianal, tornando-se infectantes em curto período de tempo e resistem até três semanas contaminando roupas de cama, roupas íntimas, alimentos e poeira (BONEBERGER, 2007 apud GARCIA, 2001). Neves (2003, 2009) e Rey (2001) relatam como principais meios de transmissão da Enterobiose: Heteroinfecção ou também chamada primoinfecção, caracterizada pela ingestão de ovos presentes na poeira, alimentos ou mão sujas atingindo novo hospedeiro; Autoinfecção externa, quando os ovos presentes na região perianal são levados através das mãos até a boca. 19 Autoinfecção interna, mecanismo de transmissão mais raro, porém relatado por vários autores, no qual as larvas infectantes eclodem ainda no reto e depois migram até o ceco transformando-se em vermes adultos; Retroinfecção, onde as larvas eclodem na região perianal, penetram pelo ânus e migram pelo reto até a região cecal, onde se transformam em vermes adultos. Sintomatologia A maioria dos indivíduos parasitados por E. vermicularis são assintomáticos, não sendo relatadas alterações na região cecal e anal (NEVES, 2009). De acordo com Moraes (2008) e Neves (2003), a sintomatologia depende da localização e da extensão das lesões causadas pela presença do parasita no hospedeiro, além da carga parasitária, e eficiência do sistema imunológico. Podendo assim ser relatadas em pacientes sintomáticos, diarréia mucopurulenta e sanguinolenta, apresentando-se fétidas, tenesmo, dores abdominais, apendicite, enterite catarral, anemia e prurido nasal. Além desses sintomas, a alteração mais frequente da enterobiose é o prurido anal, provocado pela presença das fêmeas grávidas na região perianal e eclosão dos ovos, sendo que as alterações mais relatadas decorrentes do prurido anal são irritabilidade, nervosismo, insônia, e raramente convulsões. Patogenia As alterações patológicas observadas no hospedeiro ocasionadas pelo E. vermicularis são decorrentes das características relacionadas ao parasito e ao organismo parasitado, ou seja, na patogenia da enterobiose deve-se considerar a ação do parasito sobre a mucosa intestinal, na região perianal, em outras localizações do trato gastrintestinal e ainda a ação do parasito nos órgãos genitais, principalmente em pacientes do gênero feminino (MORAES, 2008). 20 Diagnóstico Sabe-se que os vermes adultos, responsáveis por toda a patogenia relacionada à parasitose vivem no ceco, cólon, apêndice e na região anal. Após a fecundação os ovos são liberados na região perianal pela ação mecânica sobre o parasita ou pela dessecação dos mesmos. Assim, como os ovos são liberados fora do corpo, os exames parasitológicos de fezes mesmo com enriquecimento só revelam cerca de 5 a 10% dos casos positivos (REY, 2001), logo, o diagnóstico mais preciso para a enterobiose é realizado através dos swabs anais, também denominado método de Graham, um método de isolamento de ovos da região perianal (DE CARLI, 1994). Tratamento Vários fármacos podem ser eficazes para a eliminação dos vermes, pois os mesmos são bastante sensíveis às drogas usuais, e outros métodos mais simples como enemas de água morna também são eficazes (MARKELL, 2003; NEVES, 2009). Os fármacos mais recomendados são Albendazol 400mg em dose única para adultos, e divididas em duas tomadas para crianças, Mebendazol 100mg duas vezes ao dia, tanto para adultos quanto para crianças, Invermectina 200 microgramas para crianças com até 15 kg ou 12 gramas para adultos, e Pamoato de pirivínio na dose de 10 mg/kg/dia em dose única (NEVES, 2009). MÉTODO DE GRAHAM Geralmente a baixa frequência do parasita E. vermicularis em estudos tanto em crianças como em adultos está relacionado à baixa especificidade das técnicas utilizadas para o seu diagnóstico em laboratório, sendo que basicamente são utilizados métodos de sedimentação espontânea ou técnicas de concentração, as quais são inespecíficas para sua identificação (FIRMO et al 2010). 21 De acordo com Moraes (2008), deve-se coletar o material algum tempo depois do paciente ter se deitado, ou pela manhã antes de qualquer higiene íntima. Várias adaptações foram feitas no método descrito por Graham (1941), consistindo em um pedaço de fita tipo durex adaptada a uma lâmina de vidro. Com o objetivo de facilitar a coleta do material perianal e aumentar o conforto do paciente no momento da coleta, Von Hofe (1944) adaptou um tubo de ensaio onde a fita seria colocada sobre o fundo do tubo com a parte adesiva para cima. Jacobs (1942), de acordo com Costa (1955), empregou um abaixador de língua, para facilitar a adesão da fita adesiva sobre a região perianal. Descrição da preparação e do método de acordo com Neves (2009) e De Carli (2007): Devem-se utilizar luvas em todas as etapas do procedimento. Cortar um pedaço de fita adesiva transparente, em um comprimento aproximado de 8 a 10 cm de comprimento e 20 mm de largura. Colocar etiquetas nas extremidades da fita que excedam o tamanho da lâmina. Posicionar fita com a parte adesiva para fora sobre um tubo de ensaio, ou utilizando o dedo indicador. Pode-se utilizar também um abaixador de língua. Aplicar a fita na região perianal, pressionando repetidas vezes (2 a 3 vezes), tanto nas pregas direita como esquerda com o objetivo de analisar toda a extensão dessa região. Posteriormente, aderir a fita em uma lâmina de vidro comprimindo-a bem, a fim de eliminar as bolhas de ar, o que dificulta a visualização dos ovos, e identificar a lâminacom o nome do paciente e data de realização. E finalmente, levar a lâmina ao microscópio observando no aumento de 10X e 40X, procurando os ovos característicos de E. vermicularis, e às vezes fêmeas desse verme. De Carli (2007) ainda relata a utilização de tolueno, xileno ou iodo-xilol, o que deixara a preparação mais clara, facilitando a visualização, tonando os ovos bem visíveis. 22 EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Os parasitos intestinais geralmente são diagnosticados pelo exame parasitológico de fezes, sendo que os estágios frequentemente visualizados são cistos, trofozoítos, oocistos e esporos de protozoários, além de ovos e larvas de helmintos. Uma identificação segura e posteriormente o diagnóstico verdadeiro de enteroparasitos depende dos critérios morfológicos de cada parasito, estão intimamente relacionados a uma coleta bem feita, bem como a utilização de conservantes. Os materiais fecais colhidos de forma inadequada, mal conservados ou velhos não terão valor de diagnóstico (DE CARLI, 2007). As características físicas da amostra, como consistência possui grande significado, pois pode indicar que tipo de estágios dos parasitos pode conter. Markell (2003) relata que os trofozoítos de protozoários intestinais frequentemente são encontrados em fezes pastosas ou líquidas, e nunca em fezes totalmente formadas, pois como o trânsito intestinal está acelerado, não há tempo suficiente para o encistamento do mesmo. Já os cistos dos protozoários somente são encontrados em fezes formadas, e os ovos de helmintos podem ser visualizados em fezes líquidas ou formadas. Com relação aos métodos de análises coproparasitológicas, as técnicas mais utilizadas rotineiramente são os métodos de concentração, como o de Sedimentação Espontânea, Ritchie e Coprotest, os quais possibilitam a identificação de diferentes parasitos nas diferentes formas evolutivas. No entanto, os métodos de Baermann-Moraes, Faust, Graham e Kato-Katz, são mais utilizados na pesquisa e levantamentos epidemiológicos (MARIANO et al 2005 apud GRAEFF et al 1997). Segundo Mendes et al (2005), rotineiramente em laboratórios de análises clínicas, tratando-se de exames parasitológicos de fezes, é de relevante importância a realização de mais de um método de concentração, uma vez que aumenta o índice de detecção de protozoários e helmintos, principalmente quando a carga parasitária é baixa, no entanto, dependendo da suspeita clínica é necessária a utilização de métodos específicos, como o método de Rugai para 23 detecção de estrongiloidíase, Graham para enterobiose e o de Willis para ancilostomíase. Método de Sedimentação Espontânea (Lutz/Hoffmann, Pons & Janer) Esse método é bastante empregado na Saúde Pública por sua eficiência e também pelo baixo custo, pois requer a utilização mínima de vidrarias e é dispensado o uso de reagentes e da centrifugação. É baseada em um procedimento simples no qual consiste na combinação da gravidade e da sedimentação, indicada para a pesquisa de ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários. Ao contrário de outras técnicas de concentração, a técnica de sedimentação espontânea requer grande quantidade de material fecal, garantindo assim maior segurança e eficácia do diagnóstico, porém existe a desvantagem relacionada à grande quantidade de detritos fecais presentes no sedimento, o que dificulta a preparação do esfregaço e a visualização da lâmina (DE CARLI, 1994; MORAES, 2008). CONSERVANTES A utilização de conservantes para a conservação de amostras fecais, segundo De Carli (1994) é de grande importância, pois permitem a preservação das estruturas parasitárias e prevenir o desenvolvimento de alguns ovos e larvas de helmintos. A preservação temporária das amostras pode ser feita através da refrigeração (3-5ºC) em um recipiente hermeticamente fechado, tornando cistos de protozoários e ovos de helmintos viáveis durante alguns dias. Porém é frequente o uso de substâncias conservantes para a preservação permanente da morfologia de ovos, cistos, larvas e trofozoítos, através de fixadores como solução de formaldeído, mertiolato-iodo-formaldeído (MIF), acetato de sódio- ácido acético-formaldeído (SAF), álcool polivinílico (fixador APV) e o de Schaudinn (DE CARLI, 1994; MORAES, 2008; MARKELL, 2003). 24 Formalina De acordo com De Carli (2007), a solução de formaldeído ou também denominada formalina, é utilizada para a preservação da morfologia dos estágios de diagnóstico de protozoários e helmintos. As concentrações recomendadas são diferentes para cistos de protozoários e oocistos de cocídios, esporos de microsporídios, ovos e larvas de helmintos, sendo 5% e 10%, respectivamente. Rotineiramente a solução de 5% é a de preferência, pois os ovos de A. lumbriocoides e de T. trichiura continuam seu desenvolvimento, não interferindo consequentemente a identificação das espécies. Esse conservante não é recomendado para a preservação de trofozoítos, sendo que a formalina neutra é mais eficiente para a manutenção das características morfológicas, no entanto a solução de formaldeído tamponado com fosfato de sódio é o mais indicado para a conservação de amostras fecais (DE CARLI, 1994). Segundo Neves (2009), deve-se colocar um pouco da solução conservante dentro do recipiente de plástico que será utilizado para a coleta da amostra e em seguida adicionar as fezes, posteriormente realizar a homogeneização e cobrir com mais conservante. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALVES, J.R; MACEDO, H.W; RAMOS, J.A.N; FERREIRA, L.F; GONÇALVES, M.L.C; ARAÚJO, A. Parasitoses intestinais em região semi-árida do Nordeste do Brasil: resultados preliminares distintos das prevalências esperadas. Cad Saúde Pública. 2003;19(2): 667-70. 2. ANDRADE, F; RODE, G; FILHO, H.H.S; GOULART, J.A.G. 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Foi utilizado o método de Graham para o diagnóstico específico de Enterobius vermicularis e a técnica de Lutz/HPJ para a análise das amostras de fezes. Os resultados revelaram 26% de positividade, onde Giardia lamblia (61,5%) foi a espécie predominante, seguida por Endolimax nana (42,3%) e Enterobius vermicularis (26,9%). Foi observada relação entre a idade e a positividade, onde a idade mais parasitada foi entre 2-3 anos, no entanto não houve relação entre o gênero e o parasitismo. A frequência de protozoários foi maior na faixa etária entre 2-3 anos, porém a frequência do helminto é maior na faixa etária entre 4-5 anos. O método de Graham mostrou-se específico para a detecção de E.vermicularis, revelando, exclusivamente, 26,9% de positividade para o helminto. Observou-se uma elevada prevalência de enteroparasitoses, justificando-se pelo alto contato entre as crianças no ambiente coletivo, sendo necessário melhorar a qualidade de vida com a adoção de programas de educação sanitária nas creches. Palavras-chave: Enteroparasitoses,Crianças, Centro de Educação. ABSTRACT This paper shows enteroparasitosis among one hundred one-to-five-year-old children with are students at na Educational Center in Cascavel – PR carried out from April to September in 2012. It was employed the Graham Test and Lutz/HPJ technic to the faeces analysis to diagnose Enterobius vermicularis infection. The result shows 26% positive cases, where Giardia lamblia (61,5%) was the predominant species, followed by Endolimax nana (42,3%) and Enterobius vermicularis (26,9%). It was observed relations between the age and positivity. It was conclued that 2 and 3 year-old-children were the more parazited. However, the study didn’t show any influence between genre and parasitism. The major protozoa infection incidence was found among 2 and 3 years old children, however greater helminth frequency was found in children between 4 and 5 years old. Graham method proved specifc to find E.vermicularis, revealing exclusively 26,9% of 35 positivity to helminth. It hás been observed that there was a higher prevalence of enteroparasitosis and the happens because of the personal contact between children in a public environment, so it is necessary to improve life quality by adopting programs of sanitary education at this Educational Center. Key-words: Enteroparasitosis, children and Educational Center. ¹ Discente do Curso de Farmácia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG. E-mail: marceli_gb@hotmail.com ² Docente do Curso de Farmácia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG. Laboratório de Parasitologia da Faculdade Assis Gurgacz-FAG, Avenida das Torres, 500, Cascavel, Paraná, Brasil. INTRODUÇÃO Apesar de serem amplamente discutidas e conhecidas, poucos passos têm sido dados com relação ao controle das parasitoses intestinais, cuja prevalência permanece ainda tão elevada nos países em desenvolvimento, sendo considerada um problema de saúde pública (COSTA-MACEDO et al 17) sofrendo variações de acordo com as condições de saneamento básico, nível socioeconômico, grau de escolaridade, idade e hábitos de higiene, entre outras variáveis (BASSO et al 6). Dentre as infecções mais frequentemente encontradas em seres humanos, estão as ocasionadas por parasitos intestinais, visto que afetam as crianças em idade escolar principalmente dos bairros pobres dos centros urbanos, acarretando importantes transtornos (PRADO et al 33). Os parasitos que vivem no trato gastrintestinal do homem geralmente pertencem aos filos Protozoa, Platyhelminthes, Nematoda e Acantocephala, sendo que condições de moradia e saneamento básico são determinantes para a transmissão dos mesmos. Alguns como Ascaris lumbricoides, Entamoeba histolytica, Enterobius vermicularis, Giardia intestinalis, Hymenolepis nana, Taenia soluim e Trichuris trichiura são transmitidos pela água ou alimentos contaminados, outros como Ancylostoma duodenale, Necator americanus e Strongyloides stercoralis são transmitidos por larvas presentes no solo (NEVES 29). A transmissão das enteroparasitoses, na maioria das vezes, ocorre pela via oral passiva, relacionada a áreas onde as condições higiênicas e sanitárias são precárias, e cujo sistema de saneamento básico, incluindo o tratamento de água e esgoto facilita a disseminação de cistos e ovos de parasitas (UCHÔA et al 44). Silva et al 40) relata ainda como meios de transmissão a geofagia e a coprofagia. Enterobius vermicularis é um nematelminto de importância para a saúde pública causador do prurido anal com frequência (CASTRO & BEYRODT13). De acordo com Rey36, as crianças que frequentam escolas e creches são os hospedeiros mais parasitados por este, visto que a disseminação das formas 36 infectantes, representadas pelos ovos, ocorre de forma intensa nos orfanatos, colégios e outras instituições em que ocorre a reunião de um elevado número de crianças. Segundo Cimerman14, a especificidade da técnica utilizada para o diagnóstico é de extrema relevância, uma vez que as técnicas habituais de exames coprológicos não apresentam alta positividade para esta espécie, pois as fêmeas de E. vermicularis não realizam oviposição no intestino. Rey36 relata como a melhor técnica para o encontro dos ovos de E. vermicularis, o método da fita gomada ou método de Graham, o qual consiste em aplicar sobre a pele da região perianal uma fita adesiva transparente adaptada a uma lâmina de vidro. Costa16 descreve que várias modificações foram avaliadas e introduzidas, com o objetivo de melhorar a eficiência da técnica, empregando tubos de ensaio ou abaixador de língua, a fim de pressionar a fita contra a região perianal. De acordo com Cardoso et al11, constrangimento para o indivíduo e dificuldades operacionais são realidades tratando-se da técnica de swab anal ou método de Graham, em estudos de Uchôa et al e Santos-Júnior et al.,44,40, a baixa prevalência encontrada de E. vermicularis se deve ao fato da utilização de técnicas menos sensíveis à detecção do mesmo. Diante do exposto e tratando-se do alto índice de pacientes pediátricos em idade pré-escolar que apresentam risco de infecções parasitárias, tanto de enterobiose, quanto para as demais enteroparasitoses, por frequentarem diariamente locais com aglomeração de pessoas, utilizando dormitórios e banheiros coletivos, fator essencial na transmissão de formas infectantes de parasitas, é relevante a realização de um estudo, utilizando-se técnicas sensíveis para a detecção de enterobiose e outras enteroparasitoses nos Centros Municipais de Educação Infantil em Cascavel-Paraná, visto que de acordo com Gurgel et al 23, as creches representam locais com maior prevalência de parasitoses, apresentando risco de infestação 1,5 vezes maior que outros centros coletivos. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal de caráter qualitativo realizado em crianças com idade pré-escolar entre 0 a 5 anos, matriculadas em um Centro de Educação da cidade de Cascavel – Paraná durante o período de abril a setembro de 2012, onde foi realizado o Método de Graham além do exame parasitológico de fezes. Participaram da pesquisa todas as crianças que tiveram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) assinado pelos pais ou responsáveis. Os kits de coleta foram entregues durante uma reunião marcada com os responsáveis pelas crianças. Para a coleta do swab anal, o kit continha uma lâmina com a fita adesiva “durex” já grudada e um folheto contendo orientações de coleta, identificada com nome, idade e data da coleta, e um outro kit para a coleta do 37 material fecal, composto por um frasco coletor contendo Formalina 10%, uma pazinha e um folheto com orientações de coleta, devidamente identificado com nome, idade e data da coleta. As amostras foram analisadas no Laboratório de Parasitologia da Faculdade Assis Gurgacz, sendo transportadas utilizando caixa de isopor, e conservadas no laboratório sob-refrigeração. O método utilizado para a análise do material fecal foi o de Sedimentação Espontânea – Lutz/HPJ (Hoffmann, Pons & Janer), onde foram analisadas três lâminas de cada sedimento utilizando microscópio óptico. Já para a análise das lâminas do Método de Graham foi utilizado microscópio óptico nas objetivas de 10X e 40X. Após a realização dos exames e conclusão dos resultados, os mesmos foram impressos, assinados pela pesquisadora orientadora responsável pela pesquisa e entregues a coordenadora do CMEI, que entregou o laudo individualmente aos responsáveis, levando em consideração o sigilo total das informações obtidas. Os resultados foram analisados estatisticamente através do teste qui- quadrado a 0,05% de significância. RESULTADOS Foram analisadas 100 amostras de fezes, com respectivas lâminas coletadas pelo método de Graham, no período de abril a setembro de 2012. A proposta deste trabalho consistiu no atendimento de 210 crianças matriculadas em um centro de educação localizado na cidade de Cascavel – PR, no entanto,apenas 100 crianças participaram, com o consentimento dos responsáveis, onde a taxa de aceitação do projeto foi de 47,62%, um valor considerado abaixo do esperado, considerando a gratuidade dos exames. Os dados referentes às análises demonstram na Fig.1, que 26% dos pacientes estavam infectados por pelo menos uma espécie de enteroparasita enquanto 74% dos indivíduos não estavam parasitados, sendo considerado um resultado significativo (p<0,05). Figura 1: Relação de positividade para 100 amostras obtidas de crianças de um Centro de Educação de Cascavel, abril a setembro de 212. Fonte: Análises realizadas. (p<0,05) . 26% 74% Positivo Negativo 38 A ocorrência de enteroparasitos, por espécie, é demonstrada na Tabela 1, sendo que Giardia lamblia foi a espécie predominante entre os protozoários, seguido por Endolimax nana, e entre os helmintos, a única espécie observada foi Enterobius vermicularis. Tabela 1: Ocorrência de enteroparasitoses em crianças de um Centro de Educação de Cascavel, Paraná, abril a setembro de 2012. Enteroparasitas n % ________________________________________________________________________________ Endolimax nana 11 42,3 Giardia lamblia 16 61,5 Enterobius vermicularis 7* 26,9 _______________________________________________________________________________ Fonte: Análises realizadas.* Resultado encontrado exclusivamente pelo Método de Graham. (p<0,05). Já com relação à positividade dos exames, pode-se observar na Fig. 2, que a maioria dos casos positivos foi representada pelo monoparasitismo, no entanto, também foram encontrados casos de biparasitismo e poliparasitismo. 73% 23% 4% Monoparasitismo (n=19) Biparasitismo (n=6) Poliparasitismo (n=1) Figura 2: Grau de parasitismo em crianças de um Centro de Educação de Cascavel, Paraná, abril a setembro de 2012. Fonte: Análises realizadas. (p<0,05). A taxa de infecção por protozoários foi significativamente mais elevada do que a taxa de helmintos, onde a ocorrência de espécies patogênicas foi mais elevada do que as espécies não patogênicas. Observando-se a Tabela 2, com relação à incidência de enteroparasitoses por gênero, não há relação significativa (p<0,05) entre o gênero e a infecção por enteroparasitas. 39 Tabela 2: Ocorrência de enteroparasitoses por gênero e faixa etária em crianças de um Centro de Educação de Cascavel, Paraná, abril a setembro de 2012. Variável Classe Número e percentual de indivíduos parasitados Total ___________________ n % Gênero Masculino 14 25,4 55 Feminino 12 26,7 45 Faixa Etária* 0 – 1 2 18,2 11 2 – 3 18 26,5 68 4 – 5 5 20,8 24 Fonte: Análises realizadas. (*p<0,05) Observa-se, de acordo com a Fig.3, que a frequência de protozoários é maior na faixa etária entre 2 – 3 anos, sendo a espécie predominante Giardia lamblia, porém a frequência do helminto E. vermicularis é maior na faixa etária entre 4 – 5 anos. 0 2 4 6 8 10 12 Endolimax nana Giardia lamblia Enterobius vermicularis 0 - 1 ano 2 - 3 anos 4 - 5 anos Figura 3: Distribuição de enteroparasitos por faixa etária em crianças de um Centro de Educação de Cascavel, Paraná, abril a setembro de 2012. Fonte: Análises realizadas. Visualizando os dados descritos na Tabela 3, pode-se observar que a taxa de positividade para o helminto Enterobius vermicularis foi predominante nos exames realizados pelo método de Graham, método específico para o diagnóstico 40 do mesmo, onde se pode observar maior prevalência desse parasito em indivíduos do gênero masculino. Já pelo método de sedimentação espontânea (Lutz – HPJ) pode-se diagnosticar em apenas uma amostra do gênero feminino a presença desse helminto, no entanto a amostra apresentou-se positiva também para a lâmina de Graham. Tabela 3: Positividade por método para detecção de Enterobius vermicularis em crianças de um Centro de Educação do gênero feminino e masculino, abril a setembro de 2012. Técnica Lutz/HPJ Método de Graham* n % n % ________________________________________________________________________________ Gênero Feminino 1 14,3 3 42,8 Masculino 0 0 4 57,1 Fonte: Análises realizadas. *p<0,05. DISCUSSÃO Atualmente sabe-se que tanto no Brasil quanto em outros países em desenvolvimento, as parasitoses intestinais apresentam alta prevalência e fácil disseminação, sendo reflexo das condições de saneamento básico, desenvolvimento socioeconômico e conhecimento limitado da população, principalmente crianças com idade até 10 anos, as quais não apresentam hábitos de higiene e saúde totalmente formados (COUTO et al.,; COELHO et alOLIVEIRA; ROCHA et al.18,15,31,37 ). As crianças que frequentam creches constituem o principal grupo de risco para a contaminação e aquisição de infecções intestinais, pois se trata de um ambiente fechado, abrigando grande número de crianças durante a maior parte do dia, tornando-se um potencial ambiente de contaminação pelo alto contato interpessoal de crianças em banheiros e dormitórios (BARROS et al; GURGEL et al; NASCIMENTO et al5,23,28 ). Observou-se uma prevalência de 26% (26/100) de indivíduos parasitados com pelo menos uma espécie de enteroparasita na população estudada, um índice próximo ao encontrado por outros pesquisadores em estudos com crianças com idade entre 0 – 5 anos como Barreto, Biscegli et al e Ferreira & Júnior4,9,20. A presença de monoparasitismo foi mais frequente, como relatado previamente em outras pesquisas de Ferreira & Andrade, Pereira-Cardoso et al., Santos et al e Silva et al21,32,39,42. No entanto, o biparasitismo também foi 41 encontrado, onde a associação verificada foi entre os protozoários Giardia lamblia e Endolimax nana, sendo uma associação bastante comum, pois as condições exigidas para o seu desenvolvimento e transmissão são semelhantes. Já para o poliparasitismo um único caso foi encontrado, assim como no estudo de Biolchini e Ferreira & Júnior8,20, sendo que a associação encontrada foi entre E. nana, G. lamblia e E. vermicularis. De acordo com Biolchini8, a associação entre dois ou mais parasitas favorece ainda mais a espoliação do indivíduo, onde além de consumirem nutrientes das crianças infectadas, retardando o seu desenvolvimento físico, destroem tecidos e órgãos, causando dor abdominal, diarréia, obstrução intestinal, anemia, úlceras e outros problemas de saúde, levando a um desenvolvimento cognitivo mais lento, prejudicando consequentemente o crescimento intelectual e social da população infantil. Diversos estudos realizados no Brasil, avaliando a prevalência de enteroparasitoses em crianças com idade pré-escolar entre 0 – 5 anos comprovam a alta disseminação dessas infecções na população pediátrica, principalmente as causadas por protozoários, sendo que Basso et al6, em sua pesquisa acerca de parasitoses intestinais em escolares do Rio Grande do Sul observou uma prevalência de 24% para o protozoário Giardia lamblia, além de 20% para Endolimax nana, Cardoso et al11, em seus estudos em creches de Aracajú (SE) encontraram 63,3% para Giardia lamblia. Já Baptista et al², encontraram 22 casos positivos para Giardia lamblia em indivíduos com idade entre 0 – 10 anos no Rio de Janeiro. Barçante et al3 avaliaram a prevalência de enteroparasitoses em crianças de uma creche do município de Minas Gerais, sendo que destacou-se a prevalência de Entamoeba coli (57,5 %), Giardia duodenalis (40%). Na presente pesquisa a prevalência observada para o protozoário Giardia lamblia foi de 61,5% (16/26), sendo o parasita mais prevalente, estando de acordo com os resultados supracitados, indicando que a giardíase é classificada como uma das principais enteroparasitoses que acometem crianças em idade pré-escolar. Neves29 relata que a giardíase está presente no mundo todo, sendo que a incidência
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