Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Práticas em Cromatografia de íons Uma Introdução Monografia Metrohm Pensalab Instrumentação Analítica Ltda. Rua Minerva, 167 – Perdizes São Paulo – SP – Brasil CEP 05007-030 Fone +55 (11) 3868-6599 Fax +55 (11) 3868-6575 E-mail metrohm@metrohm.com.br www.metrohm.com.br Práticas em Cromatografia de Íons 1 Práticas em Cromatografia de íons Uma Introdução 2ª edição Eng. Claudia Eith Prof. Dr. Maximilian Kolb Químico Achim Rumi Prof. Dr. Andreas Seubert Dr. Kai Henning Viehweger (Editor) Monografia Metrohm Todos os direitos reservados a Metrohm, incluindo tradução. Impresso pela Metrohm Ltda., CH-9101 Herisau, Suíça. 8.792.5013PT – 2006-07 2 Monografia Metrohm Práticas em Cromatografia de Íons 3 Índice 1. Os autores ............................................................................................................................................5 2. Introdução.............................................................................................................................................6 3. Seção teórica........................................................................................................................................7 3.1. A história e a importância da cromatografia de íons ................................................................... 7 3.2. Teoria da Cromatografia .............................................................................................................. 9 3.2.1. Divisões da cromatografia e terminologia ............................................................................ 9 3.2.2. Conceitos teóricos para a descrição do processo cromatográfico..................................... 12 3.3. Princípios básicos da cromatografia de íons (CI) ...................................................................... 16 3.3.1. Terminologia e classificação em CL................................................................................... 16 3.3.2. Troca iônica ........................................................................................................................ 17 3.3.3. Formação de par iônico ...................................................................................................... 18 3.3.4. Exclusão de íons ................................................................................................................ 18 3.4. Modelos de retenção em cromatografia de íons ..................................................................... 19 3.4.1. Modelos de retenção em cromatografia de ânions ............................................................ 19 3.4.2. Modelos de retenção em cromatografia de cátions ........................................................... 24 3.5. Sistemas de detecção em cromatografia de íons.................................................................... 27 3.5.1. Métodos de detecção eletroquímica................................................................................... 27 3.5.2. Métodos espectroscópicos de detecção ............................................................................ 31 3.6. Fases estacionárias em cromatografia de íons ....................................................................... 32 3.6.1. Visão geral das fases estacionárias comuns ..................................................................... 32 3.6.2. Fases estacionárias para cromatografia de ânions............................................................ 34 3.6.3. Fases estacionárias em cromatografia de cátions ............................................................. 35 3.6.4. Trocadores de cátions baseados em sílica gel .................................................................. 35 3.6.5. Trocadores de cátions baseados em polímeros orgânicos................................................ 35 3.6.6. Trocadores de cátions peliculares...................................................................................... 35 3.6.7. Fases estacionárias em cromatografia de exclusão iônica................................................ 36 3.6.8. O significado da capacidade dos trocadores de íons......................................................... 36 3.7. Eluentes em cromatografia de íons ......................................................................................... 37 3.7.1. Cromatografia de ânions .................................................................................................... 37 3.7.2. Cromatografia de cátions.................................................................................................... 40 3.7.2.1. Cromatografia de cátions de íons alcalinos, alcalino-terrosos e amônia com detecção de condutividade .......................................................................................................................................... 40 3.7.2.2. Cromatografia de cátions de íons metal de transição e alcalino-terrosos com detecção pela derivatização pós-coluna e fotométrica ................................................................................................... 40 3.7.2.3. Cromatografia de exclusão de íons............................................................................................ 42 4 Monografia Metrohm 4. Seção prática......................................................................................................................................43 4.1. Informações sobre a parte prática ............................................................................................. 43 4.2. Experimentos abrangendo a teoria da cromatografia de íons................................................ 47 4.2.1. Experimento 1 – Cromatografia de íons com e sem supressão ........................................ 47 4.2.2. Experimento 2 – Capacidade das colunas de separação .................................................. 51 4.2.3. Experimento 3 – Seletividade das colunas de separação.................................................. 54 4.2.4. Experimento 4 – Limites de calibração, detecção e determinação na cromatografia de íons ...................................................................................................................................................... 60 Experimento 4a – Determinação de ânions com supressão química .......................................... 61 4.2.5. Experimento 5 – Alteração da seletividade com o auxílio de éteres coroa (18 Crown-6) . 64 4.2.6. Experimento 6 – Alteração da seletividade pela utilização de agentes complexantes...... 67 4.2.7. Experimento 7 – Técnica de pré-concentração.................................................................. 72 4.3. Experimentos para a determinação de ânions ....................................................................... 75 4.3.1. Experimento 8 – Ânions em água potável.......................................................................... 75 4.3.2. Experimento 9 – Ânions em etanol e destilados (licores) .................................................. 79 4.3.3. Experimento 10 – Ânions em alface................................................................................... 85 4.3.4. Experimento 11 – Ácido fosfórico em refrigerantes tipo “cola”........................................... 88 4.3.5. Experimento 12 – Ácidos orgânicos em vinho ................................................................. 93 4.3.6. Experimento 13 – Contaminantes em borato – determinação de cloretos e sulfatos em soluções de bórax......................................................................................................................... 98 4.3.7. Experimento 14 – Determinação de Ânions em água efluente ........................................ 104 4.3.8. Experimento 15 – Fluoreto em creme dental ................................................................... 108 4.3.9. Experimento 16 – Ânions em açúcar refinado branco e mascavo................................... 111 4.3.10. Experimento 17 – Contaminantesem peróxido de hidrogênio ...................................... 115 4.4. Experimentos para a determinação de cátions .................................................................... 121 4.4.1. Experimento 18 – Metais alcalinos e metais alcalino-terrosos em água potável............. 121 4.4.2. Experimento 19 – Determinação de metais de transição................................................. 125 Experimento 19a – Determinação de metais de transição com um eluente contendo ácido tartárico, ácido cítrico, etilenodiamina e acetona ....................................................................... 126 4.4.3. Experimento 20 – Contaminantes em sílica gel – determinação de íons cálcio e magnésio .................................................................................................................................................... 131 4.4.4. Experimento 21 – Cosméticos e proteção contra corrosão: determinação de etanolaminas e metais alcalinos ....................................................................................................................... 134 4.4.5. Experimento 22 – Metais alcalinos e metais alcalino-terrosos em vinho......................... 138 5. Literatura citada............................................................................................................................... 142 Práticas em Cromatografia de Íons 5 1. Os autores Claudia Eith Estudou Química na Fachhochschule em Aalen; realizou trabalhos práticos na área de análise de água potável e efluentes em Adelaide (Austrália). Desde 2000 desenvolve trabalhos na divisão de Pesquisa e Desenvolvimento da Metrohm Ltda. Maximilian Kolb Estudou Química na Technical University em Munique, com ênfase em pesquisas na área de catálise homogênea. Gerenciou o setor de qualidade da Divisão Pública de Águas em Traunstein por cinco anos. Desde 1982, é professor na Fachhochschule em Aalen; áreas de trabalho: tecnologia e controles ambientais e quimiometria. Achim Rumi Estudou Química no Swiss Federal Institute of Technology (ETH), Zurique, Suíça. Desde 2005 é Especialista de Produto IC na Metrohm Ltda. Andreas Seubert Estudou Química na Hannover University; promoção em 1990: “Análise de ultratraços em metais refratários altamente puros com separação de traços da matriz por Cromatografia de Íons”; habilitação em 1995: “Aplicações em linha da Cromatografia Líquida acoplada a Espectrometria Atômica em análise elementar”. De 1998 a 2000: Professor temporário em Química Analítica na Kassel University. Desde março de 2000 é Professor de Química Analítica na Philipps University em Marburg. Kai Henning Viehweger Estudou Química na Hamburg University; tese na área de análise inorgânica; promoção na área de pesquisa em sistemas ecológicos marinhos e em estuários. Desde 1996, no Setor de Marketing na Metrohm Ltda. – Gerência internacional do centro de competência em cromatografia de íons. 6 Monografia Metrohm 2. Introdução Examinar coisas que não se revelam por si mesmas é sempre um desafio. As razões para isto variam desde uma simples curiosidade até uma real necessidade de sobrevivência. Há várias formas de se “desvendar estes mistérios”. A forma mais simples é usando os sentidos humanos: audição, tato, olfato, paladar e visão. Nos primórdios, os alquimistas gostavam de usar estes cinco sentidos. É por isso que sentimos um sabor azedo quando provamos ácidos e, o bromo tem seu nome derivado de “bromos”, fétido em Grego. A olho nu, uma solução de cromo mostra-se colorida, sendo desta forma associada ao termo Grego “chroma”, ou seja, cor. Os alquimistas também expressavam seus sentimentos com insultos tais como “you kobold” para cobalto, cuja presença causou aos nossos ancestrais grande dificuldade na produção de ferro. Muitas vezes, componentes presentes em diversos tipos de materiais não podem ser vistos diretamente. Eles estão tão fortemente misturados que os sentidos humanos não são capazes de identificá-los. É neste momento que a análise é utilizada. É possível extrair informação precisa de uma mistura indefinida de componentes, a qual não pode ser obtida apenas pelos sentidos humanos. Embora o organismo seja repleto deles, os sentidos humanos não podem identificá-los diretamente. Estamos falando dos íons, aqueles átomos ou moléculas carregados eletricamente que são parte integral de praticamente toda matéria viva ou morta. Os íons são responsáveis pela transferência de informação através dos nervos, pela garantia de que a digestão ocorrerá, de que a pressão sanguínea está correta e de que há oxigênio suficiente no sangue. Os íons produzem sal no mar, controlam sua sede e os constituintes iônicos são usados como alimento por todos os seres vivos – desde as bactérias até os seres humanos. O conhecimento sobre os tipos e número de íons presentes no ambiente nos ajuda a entender as interações ecológicas e bioquímicas. Caso as concentrações iônicas em um determinado alimento sejam conhecidas, isto nos permitirá saber se o alimento é seguro para o consumo ou não. Há diferentes formas de se determinar os íons qualitativamente (pelo tipo) e quantitativamente (pela quantidade). Cada parte da informação é importante. Um método usado para a obtenção desta informação é a cromatografia de íons. Basicamente, cromatografia significa “escrever em cores”. Em análise química clássica isto significa a separação de substâncias, de acordo com suas cores, e sua determinação, pela observação visual. Apesar de nem todos os íons serem caracterizados por cores visíveis, o termo é mantido, mas outros métodos de detecção são usados hoje em dia. A cromatografia de íons é um membro da grande família de métodos cromatográficos. Basicamente, ela pode ser usada para determinar qualquer íon que carregue uma ou mais cargas. No passado, a cromatografia de íons ou “CI” era um método muito dispendioso, mas hoje em dia, tem um preço bem mais favorável. Por isso, ela se tornou uma ferramenta analítica poderosa e universal, sendo fácil de usar. Esta monografia “Práticas em Cromatografia de íons” demonstrará que a IC não é apenas um assunto abstrato ou somente teórico, mas que ela pode fornecer respostas rápidas para os problemas do dia-a-dia tais como: A água potável está adequada para os bebês consumirem? Qual é a quantidade de nitrato que há no espinafre? Um determinado efluente causa poluição ambiental? Visto que, um trabalho analítico prático exato é quase impossível sem uma base teórica, esta monografia também contém informações detalhadas em uma seção teórica. “Práticas em Cromatografia de íons” tem como objetivo, não apenas fornecer conhecimentos sobre os princípios básicos da CI, mas também uma visão geral dos princípios cromatográficos. Além disso, a cromatografia pode proporcnionar muitos feitos: satisfazer a curiosidade científica e assugurar uma sobrevivência saudável em um ambiente poluído. Práticas em Cromatografia de Íons 7 3. Seção teórica 3.1. A história e a importância da cromatografia de íons Os primórdios da Cromatografia de Íons (CI) ou, mais precisamente da cromatografia de troca iônica, remetem-se à metade do século passado. Entre 1935 e 1950, os conhecimentos sobre trocadores iônicos e suas aplicações foram consideravelmente expandidos pelo “Projeto Manhattan”. Nos anos 50 e 60, foram desenvolvidos modelos teóricos para a compreensão do fenômeno de troca iônica e da cromatografia de íons, nos quais esta monografia se baseia. Detectores para fluxos contínuos foram usados nos anos 70; isto permitiu um salto na mudança da cromatografia de baixa-pressão para a de alta-eficiência. Tabela 1. História dos trocadores de íons e da cromatografia de íons, a técnica analítica baseada na troca iônica O termo “cromatografia de íons” foi criado em 1975 por Small, Stevens e Baumann com a introdução da detecção por condutividade combinada com um método químico de redução da condutividade; subseqüentemente, foiusada por um longo tempo como um nome comercial patenteado para fins de marketing. Enquanto isso, o termo abreviado “Cromatografia de íons” se estabeleceu como o termo específico para os métodos de cromatografia de formação de pares iônicos, exclusão iônica e troca iônica, incluídos sob a cromatografia líquida de alta eficiência - CLAE (HPLC, do inglês: High Performance Liquid Chromatography) [1]. Hoje, a técnica CI é aplicada na determinação de ânions enquanto os métodos de espectrometria atômica, comumente usados para a determinação de cátions, são raramente úteis para a determinação dos ânions eletronegativos do quinto ao sétimo grupo do sistema periódico. A área de aplicação mais importante da cromatografia de ânions, hoje, é a investigação de rotina dos sistemas aquosos; isto é de vital importância na análise de água potável [2,3,4,]. A CI é também usada para a análise das espécies de elementos em complexos ou elementos aniônicos, isto é, principalmente para resolver problemas de relevância ambiental. O terceiro campo de aplicação da cromatografia de ânions é o controle de ultratraços em processamento de reagentes ultrapuros requeridos principalmente na indústria de semicondutores. Hoje, os trocadores de íons, normalmente usados na CLAE (HPLC), consistem de partículas esféricas de polímero com um diâmetro de aproximadamente 5 a 15 μm. Vários métodos são usados para anexar os chamados grupos âncoras na superfície deste polímero; estes são usados como espaçadores entre o polímero básico e os grupos funcionais efetivos. Estes grupos funcionais normalmente consistem de íons amônio quaternário, os quais são quimicamente anexados aos grupos âncoras. O número total de grupos funcionais é conhecido como a capacidade de troca; isto é uma característica básica dos trocadores de íons. Materiais de empacotamento, disponíveis comercialmente para cromatografia de ânions, apresentam natureza de baixa capacidade com capacidades de troca de 50 a 100 μmol por coluna de separação. CL CLAE 8 Monografia Metrohm Desta forma, as principais aplicações requerem o uso de detector de condutividade, o qual é usado universalmente devido sua sensibilidade, e de eluentes que tenham a mais baixa condutividade possível (background ou sinal de fundo). Trocadores aniônicos de baixa capacidade permitem o uso de soluções aquosas de NaOH ou de tampão carbonato muito diluídas, cuja condutividade pode ser reduzida até mesmo pelo recurso da supressão química [2,4]. Em cromatografia de ânions, são usados hoje em dia principalmente os grupos funcionais do Tipo I (trimetilamônio ou TMA) e do Tipo II (dimetiletanolamônio ou DMEA). Visto que a interação mais significativa entre a fase estacionária e os ânions do analito acontece no grupo funcional, isto significa que sua estrutura tem uma influência decisiva no comportamento seletivo dos materiais de empacotamento. De acordo com o conhecimento atual, a polaridade dos grupos funcionais, a qual pode ser controlada por um número de resíduos hidroxietila (-CH2CH2OH) no nitrogênio quaternário, é de particular importância [2,4]. O termo cromatografia de íons inclui todas as separações de espécies iônicas dentro da Cromatografia com detecção em fluxo contínuo e é independente de limitações em equipamentos [5]. A CI tem sido o método escolhido, dentre os disponíveis em análise aniônica, graças à grande variedade de colunas de separação, sistemas de eluição e detectores que hoje estão mais disponíveis. A razão para isto é que existem poucos processos de separação de ânions; estes são raramente disponibilizados para fins práticos, enquanto que os métodos gravimétricos e volumétricos são limitados pela sua sensibilidade e seletividade. Mesmo com o desenvolvimento espetacular da cromatografia gasosa desde 1965 ela não apresentou grandes vantagens para os ânions, visto que estes não são voláteis. Desta forma, precisavam ser primeiramente derivatizados, mas a sensibilidade deste método não foi suficiente para atender a demanda que existe hoje em análise de traços [6]. Para a análise de cátions, existem alternativas de espectrometria atômica que possuem alta eficiência (exemplo, ICP-AES/MS), portanto, o valor da cromatografia de cátions é consideravelmente menor quando comparado com o da cromatografia de ânions. No entanto, a cromatografia de cátions tem alcançado grande importância na análise de metais alcalinos e alcalino- terrosos, na determinação de nitrogênio amoniacal (análise em água potável) e na especiação de compostos iônicos, em combinação com detectores de elementos específicos. Os trabalhos de Haddad e Weiss [2,4] oferecem uma boa visão geral das aplicações de CI em vários setores. Práticas em Cromatografia de Íons 9 3.2. Teoria da Cromatografia 3.2.1. Divisões da cromatografia e terminologia Cromatografia é um método físico-químico para separar misturas de substâncias. O efeito de separação é baseado na distribuição entre duas fases: uma fase é estacionária e a segunda é uma fase móvel que flui em uma determinada direção [7,8]. As técnicas cromatográficas são divididas de acordo com os estados físicos das duas fases mencionadas: Figura 1 Divisão dos métodos cromatográficos de acordo com os estados físicos das fases estacionária e móvel. Uma adicional diferenciação dos métodos cromatográficos pode ser feita de acordo com os processos básicos que ocorrem durante a separação, tais como adsorção ou distribuição; ou de acordo com o tipo de procedimento utilizado (cromatografia planar ou por coluna) [9]. Parâmetros de retenção Se uma mistura de substâncias for submetida à separação cromatográfica, um equilíbrio de distribuição é formado entre as fases estacionária e móvel para cada componente individual. As substâncias só podem ser separadas com sucesso quando os coeficientes de distribuição D dos componentes diferirem suficientemente uns dos outros. D é definido como a relação entre as concentrações de uma substância A na fase estacionária (índice S) e na fase móvel (índice M): M S A [A] [A]D (1) As substâncias que possuem maiores coeficientes de distribuição D serão retidas mais fortemente do que aquelas com D menores. O procedimento de separação cromatográfica é mostrado na forma de um cromatograma, no qual um sinal de um detector é registrado em função do volume (ou do tempo) de eluição da fase móvel. Isto significa que ele corresponde ao perfil de massa ou concentração em função do tempo. O sinal detectado deve ser proporcional à concentração do analito no final do processo de migração [8]. Como demonstrado na Equação 2, o tempo de retenção ou tempo de retenção bruto tR de uma substância na fase estacionária é obtido pela adição do tempo de retenção líquido tS, o qual corresponde ao tempo de retenção real no processo de migração, e o tempo de corrida na fase móvel sem qualquer interação, o tempo morto tM. MSR ttt (2) Devido à formação de canais, processos de difusão ou irregularidades no equilíbrio adquirido entre as fases estacionária e móvel, algumas partículas podem passar através da fase estacionária mais lentamente ou mais rapidamente do que é esperado pelo tempo de retenção líquido tS. Isto significa que um cromatograma não consiste de um número infinito de sinais discretos, mas idealmente de picos Gaussianos (vide Figura 2). Líquido Fase Móvel Fa se E st ac io ná ria Líquido Líquido Gasoso Sólido CSL CLL CLG CSG 10 Monografia Metrohm Figura 2 Cromatograma de eluição de uma separação por cromatografia de íons com indicação dos parâmetros mais importantes. Figura 3 Distribuição Gaussiana com as quantidades mais importantes. Como resultado de processos de difusão, os quais aumentam em importância conforme aumento do tempo de residência na fase estacionária, a largura do pico de uma substância aumenta com o aumento do tempo de retenção. Este fenômeno é característico de todos os métodos cromatográficos. Conformefoi mencionado, sob circunstâncias ideais, um pico em um cromatograma mostra a distribuição Gaussiana. A Figura 3 mostra um exemplo da distribuição Gaussiana. A largura na metade da altura do pico é conhecida como largura-média b0,5 e corresponde a uma variância de 2,354-vezes a distribuição. A largura da base w é definida como a distância entre os pontos de intersecção das tangentes inclinadas com o eixo y, a qual é a mesma que a variância 4- vezes da função de Gauss. Ambas as quantidades são parâmetros de medida do desempenho de uma coluna de separação cromatográfica e, com uma forma de pico ideal, podem ser usadas para calcular o número de pratos teóricos. Analito 1 Analito 2 Sinal área A ltura Reso lução Form ação de Caud a Tem po m orto Tem po d e retenção, analito n Tem po d e retenção líquido Fator d e retenção Fator d e ass imetria Resolução Coefici ente de sel etivi dade Temp o o u vo lum e Sinal Tempo ou volume Práticas em Cromatografia de Íons 11 Variações da forma ideal de pico podem ser descritas pelo chamado fator de assimetria T. Isto é definido pela relação entre as distâncias A e B medidas entre a linha vertical central e as inclinações da distribuição a 10% de sua altura (vide Figuras 2 e 3) e pode ser calculado por: A BT (3) Para picos perfeitamente Gaussianos, T = 1. Para valores de T maior que 1, o pico apresentará “cauda”, enquanto que para valores menores, uma deformação frontal. Na prática, a intenção é adquirir um fator de assimetria de T = 0,9 a 1,1. Fator de retenção, seletividade e resolução Como o tempo de retenção bruto tR depende muito das condições cromatográficas, somente sob condições definidas que ele é característico para uma substância em particular e, portanto, pode ser usado para identificação qualitativa. Se introduzirmos uma constante adimensional, o fator de retenção k’; conseguiremos comparar diferentes sistemas cromatográficos. Esta constante fornece informação mais precisa sobre quanto tempo a mais uma substância permanece na fase estacionária do que na fase móvel [8]. O fator de retenção é matematicamente definido como o produto do coeficiente de distribuição D pela proporção entre os volumes das fases estacionária e móvel ou como a proporção entre o tempo de retenção líquido e o tempo morto. Com um cálculo envolvendo o comprimento L do caminho de migração e a velocidade linear u da fase móvel também é possível definir o fator de retenção (Equação 4). 1- L tu t t= V VD=k' R M S M S (4) Para valores pequenos de k’, uma substância elui próximo ao tempo (ou volume) morto do sistema cromatográfico; isto significa que a separação é pobre. Se o k’ for muito grande significa que, embora a separação seja boa, a um longo tempo de residência no caminho de migração e o pico torna-se mais largo. Idealmente, o fator de retenção deve estar entre 2 e 5. Duas substâncias serão adequadamente separadas apenas se seus fatores de retenção diferirem um do outro significativamente. O coeficiente de seletividade , também conhecido como o fator de separação relativa, é uma medida da capacidade de separação de duas substâncias e é definido como segue: (5) Se duas substâncias não podem ser separadas, então = 1 e a coeluição ocorre. Quanto maior o valor de , melhor a separação. Entretanto, se aumenta, o tempo requerido para a separação também aumenta, sendo que na prática, os coeficientes de seletividade são ideais quando são próximos de 1.5 [10]. O coeficiente de seletividade não descreve a qualidade do processo de separação. A resolução R, entretanto, considera tanto as posições relativas dos picos, bem como suas larguras-médias b0.5 ou larguras da base w, como pode ser visto na Equação 6. (6) Se a diferença entre os tempos de retenção de dois picos for grande em relação à das larguras da base ou larguras-médias, então a resolução é boa. No caso de uma simetria de pico ideal, duas substâncias podem ainda ser identificadas com R = 0,5. Para separação qualitativa, R deve ser de, pelo menos, 1 (separação com 4 ); para quantificação, uma resolução de R = 1,2 a 1,5 é requerida [25]. Resoluções de R 2 (separação com 8 ) são evitadas devido ao longo tempo de análise envolvido. 12 Monografia Metrohm 3.2.2. Conceitos teóricos para a descrição do processo cromatográfico O modelo dos estágios teóricos de separação O modelo dos estágios teóricos de separação é derivado do processo de destilação e é usado para descrever separações cromatográficas [11]. Ele divide a fase estacionária em seções discretas, estágios ou pratos teóricos de separação, nos quais, a princípio, um equilíbrio infinitamente rápido e completamente reversível entre as fases estacionária e móvel é alcançado. A performance (eficiência) de um sistema cromatográfico é, portanto, caracterizada por um número maior possível de estágios teóricos de separação. O número de pratos teóricos N pode ser determinado diretamente do cromatograma pela utilização da variância , a largura da base w ou a largura-média b0.5, e é calculado como se segue [12]: 2 R 2 0,5 R 2 R t= b t (2)ln8= w t 16=N (7) Ao invés do número de pratos teóricos, a Altura Equivalente ao Prato Teórico (HETP) pode também ser usada para descrever a eficiência da separação. (8) Das Equações 5 a 8, pode ser visto que uma fase estacionária com um grande número de pratos teóricos pode ainda separar duas substâncias, mesmo que seus fatores de retenção não sejam tão diferentes. As equações também permitem o cálculo do número de pratos teóricos, os quais são necessários para resolver um problema de separação. O modelo de estágios teóricos de separação pode ser usado para explicar a ocorrência de sinais Gaussianos na cromatografia se for assumido que, devido aos processos de fluxo e difusão, apenas um equilíbrio incompleto e finitamente rápido é alcançado entre as fases estacionária e móvel. Isto resulta em um processo de alargamento do pico, visto que uma zona estreita contendo a substância, no início do caminho de migração, torna-se, claramente, mais larga com o aumento do tempo de residência na fase estacionária. O cálculo do número dos pratos teóricos, de acordo com a Equação 7, assume que a forma do pico é ideal; entretanto, isto raramente ocorre na realidade. Com picos de formas assimétricas, o cálculo deve ser realizado de acordo com o método momentâneo [13]. A Equação 9 inclui o fator de assimetria T e produz valores aproximados. (9) Um número de pratos efetivos n, que representa a real eficácia de separação mais precisamente do que o número de pratos teóricos N é corrigido pelo fator de retenção k’ e é obtido de: (10) A teoria dinâmica (teoria de Van Deemter) A decisiva fragilidade do modelo de estágios teóricos de separação é que a destilação e a cromatografia são baseadas em dois processos físico-químicos fundamentalmente diferentes. Além disso, nenhuma hipótese foi feita sobre a influência de parâmetros importantes, que sejam experimentalmente acessíveis e que não afetam o tipo ou qualidade da fase estacionária em si [14,15]. Estes poderiam ser: Vazão da fase móvel Diâmetro das partículas da fase estacionária Espessura dos filmes superficiais no material de empacotamento. 1,25+T b t 41,7=N 2 0,5 R 2 k'+1 k'N=n Práticas em Cromatografia de Íons 13 Além disso, quantidades tais como os coeficientes de difusão nas fases estacionária e móvel, a temperatura ou o volume do detector na cromatografia líquida são muito importantes para a eficiência da separação. A teoria dinâmica desenvolvida por van Deemter é, em princípio, uma extensão do modelo de estágios teóricos de separação, a qual não leva em consideração as condições limitantes não-ideais [16]. As seguintes suposições são feitas: não há alcance espontâneo ou desimpedido de equilíbrio há transporte de massa atrasadonas fases estacionária e móvel não há vazão homogênea da fase móvel sobre a completa seção cruzada da coluna há ocorrência de difusão de espalhamento e formação de canais na fase estacionária há difusão longitudinal independente da velocidade da fase móvel e diretamente proporcional ao tempo de retenção no caminho A relação entre os efeitos dinâmicos mencionados acima e a altura equivalente a um prato teórico é dada pela equação de van Deemter. (11) Os três termos A, B e C dependem, de diferentes maneiras, da vazão u da fase móvel. Os termos A e B descrevem o completo transporte de massa através da fase estacionária; o termo C é determinado pela interferência no alcance do equilíbrio entre as fases estacionária e móvel. O Termo A descreve a difusão circular em contra-fluxo, a qual pode ser considerada como sendo uma causa do alargamento do pico devido a um efeito multi-vias. Este termo é também conhecido como o fator de empacotamento e, é independente da vazão linear u da fase móvel, pelo menos em uma primeira aproximação. A seguinte relação se aplica ao termo A: pd2A (12) Na Equação (12), dP é o diâmetro médio de partículas na fase estacionária, descreve a irregularidade estatística do empacotamento; este deveria ser o mais homogêneo possível e consistir de partículas uniformes. uC u B A HETP 14 Monografia Metrohm O Termo B descreve a difusão longitudinal a favor ou contra a direção do fluxo da fase móvel. É de particular interesse quando colunas capilares são usadas em cromatografia gasosa (CG), uma vez que os coeficientes de difusão em gases são maiores em 4 a 5 potências de dez do que em líquidos. B é calculado como sendo o produto do coeficiente de difusão na fase móvel DM e o fator labirinto , o qual descreve a porosidade da fase estacionária. MD2B (13) Como a importância da difusão diminui com o aumento da vazão da fase móvel, isto significa que B é inversamente proporcional a u. O Termo C é conhecido como o termo de transferência de massa. O atraso na transferência de massa entre as fases estacionária e móvel, geralmente, tem a maior influência sobre o alargamento do pico. A interferência no alcance do equilíbrio entre as fases estacionária e móvel aumenta com o aumento de u, e é por isso que há uma proporcionalidade direta para com a vazão linear. Atrasos na transferência de massa resultam de um coeficiente de difusão DS muito pequeno na fase estacionária em comparação com a fase móvel. O termo C pode ser consideravelmente reduzido por caminhos de difusão curtos e processos de transferência rápidos. Isto pode, principalmente, ser alcançado pela localização dos poros na superfície, para que apenas um pouco se estenda para o interior da fase estacionária. O termo C de transferência de massa é calculado como segue: S 2 D dp k'+1 k'16=C (14) A representação gráfica da equação de van Deemter mostra uma curva hiperbólica, da qual o valor mínimo de vazão u para a mínima altura de prato (número máximo de pratos) pode ser determinada (Figura 4). Termo B Termo A Termo C Vazão u Figura 4 Representação dos termos individuais da teoria de van Deemter com a curva mostrando o valor ótimo de vazão. Mesmo a teoria dinâmica é baseada em aspectos ideais. Na realidade, os três termos A, B e C só são independentes um do outro em uma primeira aproximação, havendo uma influência adicional da vazão u na difusão circular em contra-fluxo (Termo A). O termo C pode ser diferenciado pela utilização dos termos CM e CS, os quais descrevem a transferência de massa na fase móvel (CM) e da fase estacionária (CS). É por isso que a equação original de van Deemter tem sido modificada por numerosas aplicações em CLAE, CG e camada delgada [17,18]. Cromatografia líquida moderna A cromatografia líquida (CL) deve ser considerada como o termo genérico para muitos métodos modernos de separação usando componentes no estado líquido. Ela pode ser usada para uma grande variedade de substâncias diferentes e é caracterizada por sua excelente performance analítica. A CL também inclui a cromatografia de íons (CI), que é provavelmente o mais importante método de separação usado em química analítica moderna [3]. A CLAE é um desenvolvimento subseqüentemente lógico da cromatografia líquida clássica (CL). Na CL clássica, introduzida por Tswett em 1906, colunas de vidro com diâmetro de 1 a 5 cm e Práticas em Cromatografia de Íons 15 comprimento de até 500 cm foram usadas; estas eram preenchidas com fases de separação contendo partículas medindo de 150 a 200 μm. Mesmo as separações de substâncias em misturas simples freqüentemente duravam horas com uma eficácia média de separação. Como resultado da compreensão do processo cromatográfico, o qual foi posteriormente desenvolvido (vide Equação 11), tornou-se claro que o aumento na eficácia só poderia ser alcançado pela redução do diâmetro das partículas da fase estacionária; entretanto, isto implicou em exigências completamente novas para os equipamentos usados em cromatografia. Desde aproximadamente 1970, uma tecnologia especial e poderosa de instrumentos tornou-se disponível, a qual é capaz de ultrapassar uma alta contra-pressão de 10 a 50 MPa que ocorre quando materiais de empacotamento com partículas de diâmetro de 3 a 10 μm e colunas de separação de 125 a 250 mm de comprimento por 4 mm de diâmetro interno são usadas. Como resultado da miniaturização, a CLAE desenvolveu-se como um método de separação puramente analítico; em contraste, a CL clássica atualmente é utilizada praticamente apenas para fins preparativos. As vantagens da CLAE em comparação à CL clássica são principalmente: excelente eficiência cromatográfica processo de trabalho contínuo detecção “on-line” das substâncias separadas alta sensibilidade e reprodutibilidade utilização do tempo de retenção para identificação qualitativa das substâncias menor tempo de análise Independente de sua área de aplicação, um sistema CLAE consiste principalmente dos componentes mostrados na Figura 5: a bomba de alta eficiência com estoque da fase móvel (eluente), injetor (para introdução da amostra), coluna de separação e sistema de detecção (incluindo derivatização, aquisição e tratamento dos dados): Eluente Válvula de injeção Coluna de Separação “Loop” de Amostra Condutividade UV – VIS Amperometria Espectrometria atômica Reator pós- coluna/ derivatização Amostra Detector Bomba CLAE Figura 5 Unidade de CLAE ou CI montada com os componentes mais importantes. Com exceção da coluna de separação, a bomba é o coração de qualquer sistema CLAE. Ela deve transferir (bombear) o eluente tão uniformemente e livre de pulsação quanto possível, mesmo em presença de alta contra-pressão. Isto significa que é também necessário usar um injetor com “loop” especial para a introdução da amostra. Uma válvula de seis vias é normalmente usada; ela é capaz de receber um volume definido da amostra na alça “loop” em pressão padrão e transferir para o sistema CLAE operando em alta pressão. A composição da fase móvel e o tipo de coluna de separação devem ser adaptados ao problema analítico a ser resolvido. Isto também se aplica à seleção do sistema de detecção. Hoje, a aquisição e o tratamento de todos os dados são realizados por computador. Esta montagem básica de um sistema CLAE pode ser estendida conforme necessário para resolver um problema analítico particular. Princípios de separação em CL A CLAE pode ser diferenciada de acordo com diferentes interações físico-químicas entre as substâncias da amostra e da fase estacionária. Embora, na realidade existam vários mecanismos diferentes responsáveis pela separação eficiente [9], uma classificação geral de acordo com os seguintes mecanismos de separação é possível: 16 Monografia Metrohm adsorção distribuição exclusão por tamanho afinidade troca iônica formação de par iônico exclusão iônica Cromatografia deadsorção é definida por reações interfaciais, nas quais substâncias líquidas ou gasosas são enriquecidas em uma fase sólida. Vários modelos estão disponíveis fornecendo uma descrição qualitativa e quantitativa dos processos de adsorção; aqui, nós apenas nos referimos à relevante literatura físico-química [19]. Duas técnicas diferentes são usadas. Em cromatografia de fase normal, a fase estacionária é geralmente a sílica gel e, portanto, consideravelmente mais polar do que a fase móvel (hidrocarbonetos). Em cromatografia de fase reversa CFR (ou RPC, em Inglês), as condições são exatamente opostas. Por razões práticas, principalmente quando se refere ao manuseio do eluente, a CFR é mais utilizada atualmente [3,9]. Na cromatografia de distribuição, a fase estacionária é um líquido, o qual é imiscível com a fase móvel. A separação é baseada nas diferentes solubilidades dos analitos nas duas fases. Em um caso ideal, é aplicada a lei de distribuição de Nernst. Este mecanismo de separação tem um importante papel, particularmente em cromatografia gasosa quando capilares recobertos com líquidos de separação são usados como fase estacionária. A cromatografia de distribuição também pode ocorrer em CLAE se a sílica gel modificada com hidrocarbonetos não-polares, ou seja, as chamadas fases com grupo octadecil (ou octil) forem usadas como material de separação. Cromatografia por exclusão de tamanho (SEC, em Inglês) permite a separação de acordo com o tamanho molecular como resultado de efeitos de seleção de partículas. Sílica gel ou resinas de polímero orgânico, com uma estrutura de poro definida, são usadas como fase estacionária. Analitos menores podem se difundir nos poros e são retardados. Com o aumento do tamanho da molécula, torna-se menor qualquer interação com os poros, até que com um certo tamanho, as moléculas são completamente excluídas e praticamente eluem no volume morto. Este tipo de cromatografia é muito utilizado na análise de polímeros e bioanálise. Cromatografia de afinidade permite a separação de misturas de substâncias pela seletividade ou por forças de interação específicas. Interações altamente específicas podem ser observadas entre antígenos e anticorpos (princípio chave-fechadura), bem como entre enzimas e seus substratos particulares. Na prática, enzimas ou anticorpos são quimicamente imobilizados na fase estacionária. Se houver um substrato ou antígeno correspondente na amostra, então ocorre seu retardo com extrema seletividade. É por isso que a cromatografia de bioafinidade é indispensável para o setor de análise de princípios ativos (farmacologia). Cromatografia de troca iônica (CI) juntamente com as cromatografias por exclusão iônica e de par iônico estão descritas em detalhes na seção seguinte. 3.3. Princípios básicos da cromatografia de íons (CI) 3.3.1. Terminologia e classificação em CL Cromatografia de troca iônica ou cromatografia de íons (CI) é uma subdivisão da CLAE. De acordo com a IUPAC, a cromatografia de troca iônica é definida como segue [7,8]: “Na cromatografia de troca iônica, a separação é baseada nas diferenças das afinidades de troca iônica dos analitos individuais. Se íons inorgânicos são separados e podem ser detectados por detectores de condutividade ou por detecção por ultravioleta (UV) indireta, então, esta também é chamada de cromatografia de íons”. Por várias razões, esta definição é uma escolha infeliz. A técnica de detecção deveria ser considerada separadamente do mecanismo de separação existente. Além disso, uma limitação do termo “cromatografia de íons” para íons inorgânicos é difícil de ser entendida, visto que na prática, tanto os íons orgânicos como os inorgânicos podem ser separados e identificados simultaneamente em qualquer sistema. Uma definição antiga e mais geral é mais adequada para definir a cromatografia de íons [20]: Práticas em Cromatografia de Íons 17 «Cromatografia de íons inclui qualquer separação cromatográfica líquida rápida de íons em colunas acopladas “on-line” com detecção e quantificação em um detector em fluxo.» Esta definição caracteriza a cromatografia de íons independente do mecanismo de separação e do método de detecção, ao mesmo tempo em que a distingue da troca iônica clássica. Os seguintes princípios de separação aplicam-se na cromatografia de íons: troca iônica formação de par iônico exclusão iônica Os métodos cromatográficos são definidos pelo principal mecanismo de separação utilizado. Hoje, a cromatografia de troca iônica é simplesmente conhecida como cromatografia de íons (CI), enquanto a cromatografia de par iônico e a cromatografia por exclusão iônica são consideradas como sendo aplicações mais específicas. 3.3.2. Troca iônica A cromatografia de troca iônica (CI) é baseada em uma reação química estequiométrica entre os íons de uma solução e uma substância sólida contendo os grupos funcionais, que podem fixar íons como resultado de forças eletrostáticas. No caso mais simples em cromatografia de cátions, são grupos de ácido sulfônico; em cromatografia de ânions, são grupos de amônio quaternário. Teoricamente, íons com mesma carga podem ser completa e reversivelmente trocados entre as duas fases. O processo de troca iônica leva a uma condição de equilíbrio. O lado em que ocorre o equilíbrio depende da afinidade dos íons participantes em relação aos grupos funcionais da fase estacionária. A Figura 6 é um diagrama esquemático mostrando os processos de troca para cátions e ânions. Os íons do analito são chamados A, os íons do eluente competindo com eles para a troca são marcados com E. Fase Móvel Fase Estacionária Troca Aniônica A: íons do analito E: íons do eluente Troca Catiônica Vazão Figura 6 Diagrama esquemático mostrando o processo de troca iônica em cromatografia de íons. Esquerda: troca catiônica. Direita: troca aniônica. Aspectos termodinâmicos do processo de troca iônica Trocadores de íons normalmente consistem de fases sólidas em cuja superfície são fixados os grupos iônicos. Por causa da condição de eletroneutralidade, há sempre um contra-íon de carga oposta nas proximidades do grupo funcional. O contra-íon geralmente se origina da fase móvel e é, portanto, também conhecido como íon do eluente. Se uma amostra for adicionada contendo dois íons A- e B-, então estes brevemente substituem os íons do eluente E- e são retidos na carga fixa antes que sejam de volta trocados pelo íon do eluente. Para a cromatografia de ânions isto resulta nos seguintes equilíbrios reversíveis: resina - N+R3 E– + A– resina - N+R3 A– + E– (15) resina - N+R3 E– + B– resina - N+R3 B– + E– (16) As diferentes afinidades de A- e B- para com os grupos funcionais significam que a separação é possível. A constante de equilíbrio K é também conhecida como o coeficiente de seletividade e é calculada, como se segue, para o ânion A-: (17) 18 Monografia Metrohm Pode-se assumir que a concentração dos íons do eluente é normalmente maior do que a dos íons do analito por várias potências de dez, então [E-] pode ser considerada como sendo uma constante nas fases estacionária e móvel. Isto significa que o coeficiente de distribuição DA (Equação 1) e o fator de retenção K’A (Equação 4) podem ser calculados. Estritamente falando, tais cálculos apenas são permissíveis se as concentrações na Equação 17 corresponderem às atividades; entretanto, este só é o caso para uma diluição infinita [19]. A princípio, as atividades dos íons na fase estacionária são inacessíveis [4]. Para os trocadores de íons de baixa capacidade mais freqüentemente usados, os quais só podem ser usados como fase móvel com eletrólitos bastante diluídos, as atividades são simplesmente desconsideradas. Tais estimativas tão grosseiras não são mais válidas para materiais de empacotamento de alta capacidade (>200 mmol/g) e eluentes concentrados; isto mostra variações claras do comportamento ideal. 3.3.3. Formação de par iônicoCom o auxílio da cromatografia de par iônico é possível separar os mesmos analitos da mesma forma que na cromatografia por exclusão iônica, mas o mecanismo de separação é completamente diferente. As fases estacionárias usadas são materiais de fase reversa como as que são usadas na cromatografia de distribuição. O chamado reagente de par iônico é adicionado aos eluentes e este consiste de surfactantes catiônicos ou aniônicos, tais como sais de tetraalquilamônio ou ácidos n- alquilsulfônicos. Juntamente com os íons do analito de carga oposta, os reagentes do par iônico formam um par de íons não carregado, o qual pode ser retardado na fase estacionária por interações hidrofóbicas. A separação é possível devido às constantes de formação dos pares iônicos e seus diferentes graus de adsorção. A Figura 7 mostra um modelo simplificado de troca iônica estática, no qual é assumido que interações com os analitos só ocorrem após a adsorção do reagente do par iônico na fase estacionária. Figura 7 Diagrama esquemático mostrando o modelo de troca iônica estática em cromatografia de par iônico. O princípio de separação aplica-se tanto para ânions como para cátions. 3.3.4. Exclusão de íons A cromatografia por exclusão de íons é principalmente usada para a separação de ácidos ou bases fracas [2,4]. Sua maior importância é a determinação de ácidos fracos, tais como ácidos carboxílicos, carboidratos, fenóis ou aminoácidos. A Figura 8 mostra o princípio de separação, usando um ácido carboxílico R–COOH como exemplo. Figura 8 Exclusão de Donnan como o princípio de separação em cromatografia por exclusão de íons. Reagente do par iônico Íon do Eluente Fase Móvel Íon do Analito Fase Estacionária Vazão Membrana de Donnan Fase Móvel R – COOH (Analito) H+ Cl- (Eluente) Fluxo Fase Estacionária Práticas em Cromatografia de Íons 19 Na cromatografia por exclusão iônica, um trocador de cátions completamente sulfonado, cujos grupos de ácidos sulfônicos são eletricamente neutralizados com prótons como contra-íons, é freqüentemente usado como material de empacotamento. Em eluentes aquosos, os grupos funcionais são hidratados. A camada de hidrato é limitada por uma membrana (imaginária) carregada negativamente (membrana de Donnan). Ela só é atravessada por moléculas não-dissociadas e não carregadas como a água. Ácidos carboxílicos orgânicos podem ser separados se ácidos minerais fortes, por exemplo, o ácido sulfúrico, forem usados como fase móvel. Devido às constantes baixas de ácido (valores pKA) dos ácidos carboxílicos, eles estão presentes em forma completamente não- dissociada em eluentes fortemente ácidos. Eles podem passar através da membrana de Donnan e serem adsorvidos na fase estacionária, enquanto os íons sulfato do ácido sulfúrico completamente dissociado são excluídos. A Figura 9 mostra a dependência típica do volume de eluição de um ácido em seu valor pKA para separação por exclusão de íons. Adsorção sobreposta (ácidos carboxílicos de cadeia longa, H2S) e os limites da faixa de trabalho prático podem ser claramente reconhecidos. Em última instância, ácidos carboxílicos são separados por causa de seus diferentes valores de pKA. Volume de Eluição Fo rç a do Á ci do / pK A Figura 9 Dependência do volume de eluição sobre o valor pKA particular de ácidos em cromatografia por exclusão de íons. 3.4. Modelos de retenção em cromatografia de íons Em uma situação ideal, a retenção de um analito em cromatografia de íons só poderia ser determinada por sua afinidade aos grupos funcionais do trocador de íons. Esta afinidade pode ser descrita pela formulação de uma reação química, a reação de troca iônica, e pode ser explicada pelo uso da lei da ação das massas. Os modelos de retenção descritos abaixo tentam predizer sobre o comportamento de retenção dos analitos participantes sob condições cromatográficas particulares, baseadas na lei da ação das massas. Se os modelos resultantes são aptos a explicar observações macroscópicas, então, com sua ajuda é possível, por exemplo, otimizar um sistema de eluição para um problema de separação particular. 3.4.1. Modelos de retenção em cromatografia de ânions As seguintes observações envolvem, inicialmente, apenas a eluição por deslocamento isotônico como o mais simples mecanismo de eluição em cromatografia de íons. O exemplo real refere-se à cromatografia de ânions, mas as mesmas considerações aplicam-se similarmente à cromatografia de cátions. Só quando agentes complexantes são adicionados aos eluentes, é necessário estender o modelo de retenção; isto é descrito na seção «Modelo de retenção para eluição em presença de agentes complexantes» (capítulo 3.4.2.). Modelo de retenção para eluentes com um ânion Se a eletroneutralidade for assumida, então o mais simples enfoque para um modelo de retenção para deslocamento isotônico é aquele em que um único íon eluente Ey– compete com um ânion de 20 Monografia Metrohm analito Ax– em relação aos grupos funcionais da fase estacionária [4]. A concentração dos ânions do eluente Ey– permanece constante com o tempo (eluição isocrática). Os sítios de troca em uma coluna de separação com uma capacidade Q são ocupados por ânions do eluente Ey– no início do processo cromatográfico. Se uma amostra contendo o íon do analito Ax– for adicionada, então o seguinte equilíbrio se estabelece entre a fase estacionária (índice S) e a fase móvel (índice M): y · AMx– + x · ESy– y · ASx– + x · EMy– (18) De acordo com a lei da ação das massas, este equilíbrio pode ser descrito por uma constante de equilíbrio termodinâmico. Se as atividades dos íons participantes foram consideradas, então a seguinte constante de equilíbrio termodinâmico é obtida: x E y A x E y A xy S yx M xy M yx S EA, y S x M y M x S ][E][A ][E][A K (19) Visto que as atividades dos íons participantes não podem ser determinadas nas fases estacionária e móvel, a atividade na fase estacionária é ignorada e assumida como 1. Se para o ânion do analito Ax– duas quantidades, o coeficiente de distribuição DA e o fator de retenção K’A, são agora introduzidas (capítulo 3.2.1.), M S A [A] [A] D com M S AA V V Dk' (20) então, incluindo estas quantidades e desprezando as atividades, a Equação 19 pode ser convertida para: x y S y M y S M AEA, ][E ][E V Vk'K (21) Como a concentração dos íons do eluente E é normalmente maior do que a dos ânions do analito Ax– por várias potências de dez, uma boa estimativa pode ser obtida assumindo-se que todos os grupos funcionais são ocupados por Ey–. Sob esta hipótese, a concentração não-determinável de Ey– na fase estacionária pode ser substituída pelos parâmetros mais facilmente acessíveis de capacidade de troca Q e carga do ânion do eluente y: y Q][EyS (22) Isto significa que a Equação 21 pode ser convertida para: xy M xy S M' AEA, ][Ey Q V VkK (23) O fator de retenção K’A do ânion do analito Ax– pode facilmente ser obtido de um cromatograma. A Equação 23 é, portanto, resolvida para esta quantidade. y x y M y x y 1 EA, M S' A ][Ey Q)(K V V k (24) Esta equação é de suma importância para cromatografia de ânions, uma vez que ela fornece uma relação quantitativa entre o fator de retenção K’A e vários parâmetros, experimentalmente acessíveis tais como a concentração do eluente e a capacidade de troca. Na prática, uma versão logarítmica da Equação 24 é usada por razões de clareza. ][Elog y xlog y Qlog y xKlog y 1k'log yMEA,A para M S V V (25) Da Equação 25 pode ser visto que: Aumentando a concentração do eluente [Ey–], a eluição se acelera, o maiores fatores de retenção resultam de maiores constantes de equilíbrio KA,E, maior capacidade de troca Q e maior proporção fase-volume . Analitos multivalentes Anx– são retardados mais fortemente do que monovalentes Ax–, Práticas em Cromatografia de Íons 21 o pelomenos enquanto a concentração do eluente [Ey–] for relativamente baixa. Isto é também conhecido como eletro-seletividade. Eluentes multivalentes Eny– têm uma capacidade de eluição maior do que monovalentes Ey–, o a eluição de analitos multivalentes Anx– é mais fortemente influenciada por concentrações elevadas de íons eluentes monovalentes Ey– do que daquela de analitos monovalentes Ax–. Como uma primeira aproximação, pode-se assumir que coeficientes de seletividade são independentes de Q quando é constante; isto resulta na seguinte proporcionalidade: (26) Da Equação 26 pode ser visto que se a capacidade de troca Q for aumentada, então a concentração do eluente [Ey–] deve ser aumentada proporcionalmente a fim de se obter fatores de retenção constantes. É por isso que fases de separação de baixa capacidade são, normalmente, usadas em cromatografia de íons, uma vez que altas concentrações de eletrólitos tornariam o uso do mais importante método de detecção em cromatografia de íons, detecção por condutividade, praticamente impossível. A fim de otimizar os problemas de separação, a concentração do eluente [Ey–] é freqüentemente variada. Se todos os outros parâmetros presentes na Equação 25 permanecerem constantes, então isto pode ser simplificado para: ][Elog y xCk'log yM1A (27) Uma apresentação gráfica da Equação 27 origina uma linha reta com uma inclinação m = –x/y e uma interseção no eixo C1, que contém as quantidades Q, e KA,E. Se um eluente aniônico monovalente for usado, então m é também conhecido como a carga efetiva. A Figura 10 mostra o resultado da Equação 27 para várias combinações de ânions do analito e de eluente diferentemente carregados. Figura 10 Apresentação gráfica da Equação 27 para várias combinações de ânions do analito e de eluentes diferentemente carregados [4]. A Equação 27 tem sido confirmada por numerosas publicações; entretanto, sob a hipótese de que materiais de separação de baixa capacidade e eluentes diluídos têm sido usados. Se a capacidade de troca Q variar enquanto os outros parâmetros permanecerem constantes, então a Equação 25 pode ser simplificada para: y Qlog y xCk'log A (28) A representação gráfica desta equação é similar à Figura 10, mas com uma inclinação positiva. Investigações cromatográficas sobre a variação de Q foram realizadas em apenas uma ocasião, até hoje, para a separação de cátions bivalentes. Isto tem mostrado que, em contraste às hipóteses prévias, o fator de retenção e os coeficientes de seletividade não podem ser considerados como sendo independentes da capacidade de troca. Para a otimização dos problemas de separação, está claro que além da concentração do eluente [Ey–], a capacidade de troca Q é também uma quantidade importante. 22 Monografia Metrohm As considerações acima só se aplicam para um ânion analito. Se dois ânions diferentes Ax– e Bz– estão competindo por grupos funcionais, então o seguinte se aplica para os coeficientes de seletividade KA,B: xz S zx M xz M zx S BA, ][A][A ][B][A K (29) Considerando-se a Equação 20, a seletividade é primeiramente obtida ][B][A ][B][A k' k' z S x M z M x S B A BA, (30) e depois, converte-se nas Equações 31 a e b, S MB BA,A.B V Vk'log z zxKlog z 1log (31a) S MA BA,A.B V Vk' log z zxKlog x 1log (31b) as quais podem ser simplificadas para analitos com mesma carga (x = z): BA,BA, Klogz 1log (32) ou A,BA,B Klogx 1log (33) Para a seletividade entre dois ânions analitos similarmente carregados, isto significa que: é apenas uma função dos coeficientes de seletividade KA,B e das cargas z e x, com KA,B constante, a seletividade não depende da concentração [Ey–] nem da constituição química do ânion eluente Se A e B têm cargas diferentes, então: A,B depende do fator de retenção de um dos dois analitos, os dois fatores de retenção K’A e K’B não são independentes um do outro Nas Equações 31 a 33, é particularmente interessante que as seletividades de dois ânions, inicialmente, não dependem da constituição química nem da carga do ânion eluente, fazendo com que a proporção fase-volume e o coeficiente de seletividade sejam constantes. Entretanto, na prática, uma alteração em A,B pode ser alcançada pela variação de [Ey–], uma vez que dois analitos com a mesma carga podem ter, todavia, propriedades químicas diferentes, por exemplo, polarizabilidade e hidratação; isto pode resultar em diferentes afinidades para com a fase estacionária. Entretanto, estas interações não são consideradas na derivatização clássica. Modelos de retenção para eluentes com vários ânions As observações prévias referem-se aos sistemas de eluição com apenas um ânion eluente. Na prática, geralmente estão presentes várias espécies eluentes, por exemplo, em tampões carbonato/hidrogenocarbonato ou em ácidos polipróticos tais como ácido fosfórico, cuja dissociação e, conseqüentemente a distribuição de espécies, dependem fortemente do pH. Mesmo em casos simples, nos quais nenhum dos ânions eluentes participantes está envolvido no equilíbrio ácido-base, a relação entre o fator de retenção K’ e a concentração do eluente [E–] não pode ser representada na forma de uma simples relação log-log, de acordo com a Equação 28. Isto só seria possível se a concentração ou o poder de eluição dos outros ânions eluentes fossem ignorados; isto então corresponderia ao modelo de retenção para eluentes monovalentes. Na literatura, vários modelos sobre eluentes polivalentes são descritos; estes estão brevemente discutidos abaixo: modelo do equilíbrio dominante [21] modelo da carga efetiva [22-24] modelo do eluente de múltiplas espécies [25, 26] Práticas em Cromatografia de Íons 23 Se um eluente baseado em fosfato com H2PO4–, HPO42– e PO43–, (ou H2P–, HP2– e P3–) e o íon analisado monovalente A– forem considerados, então os seguintes equilíbrios são formados: S2M PHA M2S PHA ; x1 (34) 2 S2 1 M HPA 2 M2 1 S HPA ; x2 (35) 3 S3 1 M PA 3M31S PA ; x3 (36) Aqui, as quantidades x1….3 correspondem às contribuições de uma dada reação na retenção, é por isso que: x1 + x2 + x3 = 1 (37) Ambos os modelos, do equilíbrio dominante e da carga efetiva, postulam uma carga particular para o ânion eluente, mesmo que várias espécies estejam presentes; isto significa que o modelo de retenção para eluentes aniônicos monovalentes (vide acima) pode ser usado. O modelo do equilíbrio dominante assume que o equilíbrio na Equação 36 está completamente do lado direito, uma vez que P3– está ligado muito mais fortemente à fase estacionária do que H2P– e HP2–, como um resultado de sua maior carga. Isto significa que P3– sozinho é decisivo para a eluição sendo que a carga do ânion eluente é –3. Entretanto, na prática este modelo só alcança uma boa concordância com analitos multivalentes [4]. No modelo da carga efetiva, uma carga efetiva é calculada, levando-se em consideração o valor do pH, a partir das frações molares das espécies possíveis H2P–, HP2– e P3– [22]. Utilizando-se estes juntamente com as concentrações das espécies eluentes, uma relação análoga à Equação 27 pode ser obtida. Entretanto, um pré-requisito para este tipo de cálculo é que as seletividades das espécies eluentes não sejam muito diferentes em relação às dos íons analitos A–. O modelo de carga efetiva é principalmente adequado para uso com analitos monovalentes [4]. Na realidade, o modelo do eluente de múltiplas espécies é o mais adequado para a descrição de eluentes cujos componentes são quimicamente derivados uns dos outros. As observações seguintes são baseadas no modelo de Mongay [27], que é um desenvolvimento posterior do trabalho de Jenke e Pagenkopf [25]. As Equações 34 a 36 podem ser usadas para expressar o equilíbrio global na coluna de separação (Equação 38). Considerando-se a Equação 37, as constantes de equilíbrio KA,P podem ser definidaspara o processo de troca se as atividades forem ignoradas (Equação 39). (38) ][HP][HP]P[H][A ][HP][HP]P[H][AK /3X3 S /2X2 S /1X S2M /3X3 M /2X2 M /1X M2S PA, 321 321 (39) O posterior tratamento matemático é realizado voltado para a derivação do modelo de retenção para eluentes aniônicos monovalentes. O que se segue deve ser considerado: a (possível) dissociação do ânion analito A– a concentração total das espécies eluentes: CP= [H3P] + [H2P–] + [HP2–] + [P3–] a extensão das interações entre as espécies do eluente e os grupos funcionais A introdução dos fatores de retenção k’A (Equação 20) e a capacidade Q (Equação 22) supre, após posterior conversão matemática, uma expressão complicada para k’A [28]; a qual é dada aqui apenas em sua forma logarítmica e, posteriormente, simplificada: P 321 3A clog3 x 2 x 1 x Ck'log (40) C3 é uma constante que, similarmente à Equação 27, contém quantidades tais como a proporção fase-volume, a capacidade e a constante de equilíbrio; CP é a soma das concentrações das espécies do eluente. Da Equação 40, pode-se deduzir que inclinações das linhas retas em um gráfico bilogarítmico devem ser sempre menores do que aquelas obtidas com o modelo de retenção simples para eluentes aniônicos monovalentes (Equação 27), uma vez que o total entre parênteses é sempre 24 Monografia Metrohm menor que um. Está claro também que o valor do pH tem uma influência decisiva na extensão para a qual a relação log-log é influenciada. Para as espécies do eluente que não são quimicamente derivadas umas das outras, Janoš (et al.) desenvolvou um modelo para descrever eluentes contendo tampão fosfato e perclorato adicionalmente [29]. Este modelo foi derivado de acordo com considerações similares às descritas acima, porém, um equilíbrio de troca deve ser considerado para um posterior íon eluente monovalente. Os cálculos fornecem expressões muito complicadas para o fator de retenção; eles podem ser dramaticamente simplificados para eluentes ácidos ou neutros. Se, apenas uma adicional espécie monovalente do eluente estiver presente, além do perclorato, então a Equação 41 é obtida onde x e y representam as contribuições das reações de equilíbrio correspondentes (x: tampão fosfato, y: perclorato) à retenção. Assim como em outros modelos, C é uma constante, enquanto o fator a, tão precisamente definido, deve mostrar o quanto mais fortemente o íon perclorato está ligado à fase estacionária do que as espécies de fosfato envolvidas. (41) Como na Equação 41, os termos entre parênteses são sempre menores que um, a inclinação da plotagem log-log é sempre menor do que seria esperado do modelo de retenção simples. Em aplicações reais, o modelo fornece boa concordância com os dados experimentais. Entretanto, a forma descrita acima não pode ser usada para sistemas alcalinos de eluição. 3.4.2. Modelos de retenção em cromatografia de cátions A cromatografia de cátions deve ser dividida em dois grupos de modelos de retenção. Um grupo está relacionado com cátions metais alcalinos e alcalino-terrosos como analitos e só requerem um sistema de eluição baseado em deslocamento isotônico. Neste caso, a fase estacionária tem grupos ácido- carboxílicos como grupos funcionais. Na separação de íons metálicos com duas ou mais cargas, o uso de um agente complexante é essencial; sua influência na retenção é descrita abaixo. Modelo de retenção para eluentes com um cátion As explicações dadas na seção «Modelo de retenção para eluentes com um ânion» aplicam-se de forma análoga para cromatografia de cátions com eluição por deslocamento isotônico. Na prática, isto é relevante para a determinação de metais alcalinos e alcalino-terrosos, amônio e aminas de cadeia curta. Além de H+, cátions orgânicos tais como o ácido 2,3-diaminopropiônico (DAP), são usados como cátions eluentes em combinação com ácido clorídrico diluído. Dependendo do pH do eluente, DAP está presente nas formas iônicas (1) e (2) (Figura 11). Após supressão, a forma zwitteriônica (3) é obtida, a qual não tem condutividade própria. Figura 11 Espécies iônicas do ácido diaminopropiônico. Modelo de retenção para eluição na presença de agentes complexantes Em cromatografia de cátions, eluentes contendo um agente complexante além do cátion eluente En+ são usados para separação de íons de metais pesados, alcalino-terrosos e de transição. Os agentes complexantes usados são principalmente os ácidos dicarboxílicos H2L tais como os ácidos tartárico, oxálico, cítrico e também o piridinodicarboxílico. Os analitos formam complexos de diferentes estabilidades com os ânions dos agentes complexantes HL– e L2–; suas estequiometrias também podem diferir. Como resultado do processo de complexação, a carga efetiva, ou seja, a carga do analito presente sob um período de tempo médio é reduzida. Isto ocorre de acordo com a cinética da formação do complexo e as constantes de estabilidade dos complexos, as diferenças na seletividade aumentam e a separação torna-se possível, mesmo sendo de analitos similares. Além da troca iônica, a formação de complexo é decisiva para a separação de íons metálicos com altas cargas. Práticas em Cromatografia de Íons 25 (42) (43) (44) Levando-se em consideração a influência do agente complexante na separação por cromatografia de íons, o modelo de retenção para deslocamento isotônico (vide seção «Modelo de retenção para eluentes com um ânion», capítulo 3.4.1.) é ampliado. O valor M é introduzido como quantidade influente que descreve o grau de formação de complexo do analito. A fração M dos íons analitos livres na fase móvel é dada como: Me' Me MeLMeLMeHLMe Me x 4x 2 2x1xx x M (45) sendo [Me’] a concentração total dos íons metálicos. O valor M pode ser calculado a partir das constantes de formação de complexos, da constante de dissociação dos ácidos carboxílicos e do pH do eluente. Considerando-se a formação de complexos, a seguinte equação é obtida para o coeficiente de distribuição DMe: x x M x Me Me MeR Me' MeRD (46) Assumindo-se que apenas os íons analitos livres Mex+ interagem com o ácido carboxílico ou com os grupos de ácido sulfônico e que c(Ez+) >> c(H+), então, obtém-se o seguinte para a Equação 23: x x y y M Me EMe, Ey Qk'K (47) De maneira similar à Equação 25, a forma logarítmica da Equação 47 é obtida como: ][Elog y xlog y Qlog y xKlog y 1logk'log yMEMe,MMe (48) Se várias espécies metálicas catiônicas estiverem juntas, isto é, Mex+ e MeHL(x–1)+ , então normalmente um único pico é obtido no cromatograma para os analitos envolvidos. O número de picos obtidos depende da cinética dos equilíbrios de complexação e de descomplexação na fase móvel. Apenas um pico é obtido se os equilíbrios dos complexos são alcançados mais rapidamente na fase móvel em comparação ao tempo de residência do complexo na fase estacionária. Por outro lado, se o processo de complexação ocorre lentamente, então, picos assimétricos ou múltiplos podem surgir. Assumindo-se que todas as espécies metálicas presentes na fase móvel podem interagir com a fase estacionária, então, obtém-se o seguinte para o fator de capacidade k’exp do analito, experimentalmente determinado: (49) Consideração da dependência do fator de capacidade sobre as quantidades influentes Q, [Ey+], bem como M requer que a relação apresentada na Equação 48 seja usada como base, uma vez que analitos bivalentes formam, principalmente, complexos aniônicos ou neutros com fortes agentes complexantes. Cálculos dos valores M De acordo com a Equação 45, o valor M é definido como a razão entre a concentração dos íons metálicos livres e a concentração total dos íons metálicos. As concentrações das espécies metálicas presentes na fase móvel podem ser calculadas a partir das constantes de formação de complexos e constantes de dissociação dos ácidos carboxílicos usados. Se for usado ácido tartárico como agente complexanteem eluentes, então, complexos MeL 1:1 neutros serão, principalmente, formados com metais pesados, alcalino-terrosos e de transição 26 Monografia Metrohm juntamente com uma quantidade menor do complexo hidrogenotartarato MeHL+. Para eluentes contendo ácido tartárico, o seguinte é obtido para o cálculo do valor M: LHLMeHLLLMeL 2 2 M cKcK1 1 MeHLMeLMe Me (50) onde cL é a concentração total de ácido tartárico e HL e L são as frações molares dos ânions ácidos HL– e L2–. Além dos complexos 1:1, alguns íons metálicos também formam complexos estáveis MeL22– com ácido oxálico e/ou ácido piridinodicarboxílico, sendo que M pode ser calculado como segue: 2 L 2 LMeLMeLLLMeL 2 2 2 2 M cKKcK1 1 MeLMeLMe Me 2 (51) Cálculo da dissociação de ácidos O pH e a concentração do agente complexante na fase móvel determina a concentração de ligante e, portanto, o quanto do analito está complexado. Um ácido com dois prótons se dissocia em dois estágios: (52) (53) com as constantes de ácidos KS1 e KS2. As frações molares H2L, HL e L, usadas para calcular o valor M, são obtidas das leis da ação das massas dos estágios individuais de desprotonação: 211 2 SSS 2 2 2 2 2 LH KKHKH H LHLLH LH (54) 211 1 SSS 2 S 2 2 HL KKHKH HK LHLLH HL (55) 211 21 SSS 2 SS 2 2 2 L KKHKH KK LHLLH L (56) Práticas em Cromatografia de Íons 27 3.5. Sistemas de detecção em cromatografia de íons Diferentes métodos são usados para a detecção de substâncias em CLAE. A seleção do detector adequado deve sempre estar em concordância com os problemas analíticos a serem resolvidos. Os requisitos de um detector podem ser sumarizados como se segue: alta sensibilidade de medição e curto tempo de resposta; sinal de medição proporcional à concentração do analito (faixa linear larga); pequenas mudanças na linha de base; baixo ruído de fundo (background); o menor volume possível para reduzir o alargamento do pico. Uma diferenciação geral é feita entre detectores seletivos e não-seletivos. Enquanto um detector seletivo responde diretamente a uma propriedade do analito, detectores não-seletivos reagem a uma alteração de uma das propriedades físicas do completo sistema de eluição causada pelo analito. Como os detectores usados em cromatografia de íons não diferem, a princípio, daqueles usados em CLAE “convencional”, os sistemas de detecção mais importantes serão, pelo menos, mencionados nesta seção. O detector universal e mais freqüentemente usado em CI é o detector de condutividade. 3.5.1. Métodos de detecção eletroquímica Detecção de condutividade Detecção de condutividade, também conhecida como detecção condutométrica, tem uma participação de mercado de aproximadamente 55% no setor de cromatografia de íons [4]. Se for considerado o número de cromatógrafos de íons vendidos, então, esta participação é provavelmente muito maior hoje em dia. Detecção de condutividade é um princípio de detecção não-seletiva; assim, ambas as determinações com detecção direta e indireta são possíveis. Uma vez que eletrólitos aquosos são freqüentemente usados como fase móvel em cromatografia de íons, o detector deve ser capaz de responder às mudanças relativamente pequenas na condutividade total do eluente causada pelos íons analisados. Pelo uso das chamadas técnicas de supressão, a condutividade de fundo de alguns eluentes pode ser drasticamente reduzida; no caso de ânions de ácido forte, é possível melhorar consideravelmente a sensibilidade. A condutividade é determinada como a recíproca da resistência R que um líquido produz entre dois eletrodos com uma área A em uma distância L. = L / (A*R) (57) A condutividade equivalente de uma solução pode ser determinada como: = / c (58) A condutividade limite e a variação da condutividade com a concentração pode ser determinada pela Equação 59. As constantes A e B são constantes empíricas das substâncias. = – (A + B ) c (59) A condutividade de um eletrólito é obtida pela adição das condutividades iônicas -– Ânion e + Cation = c ( -– Ânion + + Cation) (60) 28 Monografia Metrohm Distância L Área A Figura 12 Construção de uma célula de condutividade. De acordo com a lei de Kohlrausch, a condutividade de uma solução diluída é proporcional à soma das condutividades de todos os íons multiplicada por suas concentrações, 1000 ici (61) onde é a condutividade em S cm–1, é a condutividade limitante em S cm2 (z mol)–1 e c é a concentração em z mol L–1 (z corresponde à carga no íon). O fator 1000 surge do fato de que 1 litro é igual a 1000 cm3. A mudança na condutividade causada pelo analito é proporcional à sua concentração no eluato, 1000 cSES (62) onde S e E correspondem ao íon analisado e íon eluente, respectivamente. Sabemos que na detecção de condutividade a alteração (variação) desta é medida, assim, na cromatografia de ânions, eluentes com altas condutividades de fundo ocasionam pequenas alterações na condutividade devido à passagem do analito. Isto significa que é vantajoso manter a condutividade de fundo o mais baixo possível, conforme o exemplo abaixo: Figura 13 Mudanças na condutividade do eluato durante a separação de uma mistura de múltiplas substâncias por cromatografia de íons. Os cromatogramas mostram o desempenho de um eluente com condutividade alta (vermelho) e baixa (azul). Em cromatografia de íons, a condutividade de um eluato pode ser determinada diretamente ou após a passagem por um supressor. Estas versões são conhecidas como técnicas de coluna simples e supressora. A melhor versão a ser adotada pode ser determinada realizando-se um cálculo simples. Se a detecção por condutividade direta for usada em cromatografia de ânions, então, a sensibilidade Pico da medida depende da diferença das condutividades equivalentes entre os ânions analisados e Kanalito 1 Keluente 1 (baixo) Keluente 2 (alto) C on du tiv id ad e Práticas em Cromatografia de Íons 29 eluentes; tendo o cloreto como analito e o carbonato como ânion eluente, as seguintes equações são obtidas: Pico cAnalito ( -– Cl– – -– CO32–) Pico cAnalito (76 – 72) Pico cAnalito • 4 Se o eluente estiver adaptado aos requisitos da detecção de condutividade direta, então, a seguinte sensibilidade é obtida pela substituição do eluente carbonato pelo eluente ftalato: Pico cAnalito ( -– Cl– – -– Ftalato) Pico cAnalito (76 – 38) Pico cAnalito • 38 Se, por outro lado, a condutividade do eluente for quimicamente suprimida (troca dos cátions eluentes por H+), a sensibilidade dependerá da soma das condutividades equivalentes do ânion analisado e do íon H+; o seguinte então se aplica para Cl– como ânion analisado: Pico cAnalito( -– Cl– + + H+) Pico cAnalito (76 + 350) Pico cAnalito • 426 A partir deste cálculo estimado pode ser observado que, para ânions, a detecção por condutividade direta é menos sensível por um fator de 10 em relação à detecção por condutividade após supressão química. Similarmente, o seguinte cálculo simples pode ser feito para cromatografia de cátions, com Na+ como o cátion analisado e H+ como o cátion eluente. No caso de detecção de condutividade direta (NaCl/HCl) as seguintes equações são obtidas para a sensibilidade Pico da medida: Pico cAnalito ( + Na+ – + H+) Pico cAnalito (50 – 350) Pico cAnalito • (–300) Se, por outro lado, a condutividade do eluente for suprimida quimicamente (troca dos ânions eluentes Cl– por OH–), o seguinte se aplica: Pico cAnalito ( + Na+ + -– OH–) Pico cAnalito (50 + 198) Pico cAnalito • 248 Isto significa que a sensibilidade é melhor para a detecção por condutividade direta do que para detecção por condutividade após supressão química. 30 Monografia Metrohm Tabela 2 Condutividade equivalente de vários íons Cátions (S cm2 eq–1) Ânions (S cm2 eq–1) H+ 350 OH– 198 Li+ 39 F– 54 Na+ 50 Cl– 76 K+ 74 Br– 78
Compartilhar