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EMPRESAS TRANSNACIONAIS AULA 3 Prof.ª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL As teorias sobre internacionalização de empresas podem ser distinguidas em duas correntes: a econômica e a organizacional ou comportamental (Helal; Hemais, 2004). As teorias da abordagem econômica analisam as tendências macroeconômicas dos países, adotando dados estatísticos relativos ao comércio, câmbio, balanço de pagamentos e questões microeconômicas, como a teoria de custos ou de produção. Já a linha comportamental enfatiza os comportamentos dos indivíduos e dos gestores das grandes corporações. Na presente aula analisaremos ambas as correntes, apresentando detalhadamente os pressupostos de cada abordagem, com o objetivo de oferecer aos pesquisadores ferramentas teóricas para a compreensão do processo de internacionalização de empresas. As teorias da corrente econômica são as do ciclo do produto, da internalização, do poder de mercado e do paradigma eclético de Dunning enquanto as teorias comportamentalistas são a Escola de Uppsala, o modelo de redes e a perspectiva da Empreendedora Internacional. TEMA 1: TEORIAS ECONÔMICAS DA INTERNACIONALIZAÇÃO As abordagens econômicas sobre a internacionalização são orientadas pelas decisões racionais com vistas a otimizar os interesses. Essas perspectivas são pertinentes para compreender o processo de inserção internacional de empresas de grande porte (Carneiro et al, 2005). As quatro teorias dentro dessa corrente são: a teoria do ciclo do produto, a teoria do poder de mercado, a teoria da internalização e o paradigma eclético de Dunning. O que aproxima essas teorias é a preocupação com os elementos econômicos do processo de inserção externa, ou seja, a questão do aumento do poder de mercado, a manutenção do tempo de vida do produto, a expansão da produção mediante internalização, o aumento dos lucros e a diminuição de custos. Essas teorias são limitadas pela ausência de uma investigação sobre os aspectos políticos, culturais e sociais inseridos no processo de tomada de decisão de internacionalização da empresa. 3 Dentro da abordagem econômica temos a teoria do ciclo do produto, que defende a internacionalização como uma maneira de expandir o tempo de vida dos bens no mercado, sendo que quando acontece uma expansão na concorrência ou uma queda de consumo no país de origem, a produção é transferida para outro país, em um mercado que oferece menor concorrência. A segunda teoria da corrente econômica é a teoria do poder de mercado, que determina o investimento externo direto como uma estratégia para que as firmas expandam seu poder de mercado, por meio da adoção de barreiras à entrada, devido, por exemplo, ao know how que essa empresa possui na produção de determinado bem ou a um acesso que essa empresa possui ao crédito facilitado, enquanto outras empresas não possuem. Outra teoria dentro do enfoque econômico é a teoria da internalização, que estabelece que as falhas de mercado, como o reduzido acesso à informação e oportunismo, seriam os elementos que motivariam as empresas a adotarem o investimento direto para ingressar no mercado externo. Desse modo, a firma internalizaria suas operações em outro país quando possuísse vantagens que a diferenciasse de outras empresas. TEMA 2: O PARADIGMA ECLÉTICO DE DUNNING O paradigma eclético de Dunning, que busca entender porque as empresas decidem se internacionalizar, é o modelo teórico mais reconhecido entre as teorias econômicas. Dunning define que a empresa quando ingressa no mercado externo deve possuir vantagens competitivas. Desse modo, se a empresa tem a patente de uma certa tecnologia por exemplo, ela pode analisar que se deslocar para outros mercados é a melhor estratégia. Assim, as três vantagens que podem estar vinculadas a esse paradigma são: vantagens de propriedade, vantagens de internalização e vantagens de localização. De acordo com Dunning (1998), as falhas de mercado, especialmente custos informação, especificidade de ativos (controle de patentes, etc.) e custos de transação, induzem as firmas a optarem por se inserir em outro em vez de se focar apenas em exportar ou licenciar. Quando determina os motivos que levam uma empresa a se internacionalizar, instalando unidades produtivas 4 em outro país através de investimento externo direto, Dunning (1991) apresenta os seguintes pontos: 1. Garantia de acesso a recursos ou outras vantagens baseadas na localização; 2. Busca de mercados para promover a comercialização; 3. Expansão das capacidades ou ativos estratégicos; 4. Obtenção de ganhos de eficiência ou economias de escala. Dunning defende que a forma como se configuram as vantagens competitivas das empresas passa por mudanças. Aponta que se podem verificar as condições que permitem essas transformações, o que caracteriza o CDI - Caminho de Desenvolvimento dos Investimentos. TEMA 3: TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS: ESCOLA DE UPPSALA As questões que são levantadas pela abordagem comportamental a respeito da internacionalização são cinco. O primeiro questionamento se refere a por que a firma busca a inserção no mercado externo, ou seja, quais são os motivos que essa empresa elencou para se internacionalizar. O segundo ponto é o que a firma irá adotar no mercado externo, em termos de ativos, isto é, quais produtos, serviços e tecnologia irá utilizar. A terceira questão é qual o momento correto para iniciar o processo de inserção externa e quais são os passos seguintes. A quarta questão é onde a firma deve atuar, em quais países e regiões. Por último, a corporação deve se questionar como o processo deve ser realizado, ou seja, quais serão os modos de entrada e de operação e o grau de controle do mercado. A Escola de Uppsala desenvolveu estudos na década de 1970 sobre o processo de internacionalização das empresas suecas. Essas pesquisas foram difundidas em outras áreas, pois caracterizavam o fenômeno da internacionalização das empresas a nível global. Um dos pressupostos centrais da Escola de Uppsala é que a internacionalização da firma é fruto de seu crescimento, que pode se dar por meio de exportações ou dos investimentos externos diretos. Assim, quando o mercado interno não oferece mais oportunidades de lucro, inviabilizando a expansão da empresa, deve-se partir para a expansão dos negócios via internacionalização. Em geral, a empresa 5 opta por locais com estruturas parecidas a do país de origem da empresa. A estratégia mais adotada é a expansão geográfica. Outro argumento fundamental da teoria é que o conhecimento do mercado é conquistado por meio da experiência no setor, o que diminui a incerteza das operações. Para essa escola, as atividades em outro país se relacionam a transcender novas fronteiras. Segundo os teóricos de Uppsala, a incerteza está associada à distância psíquica, isto é, quanto maior as diferenças entre o país da matriz e de destino do investimento em relação a nível educacional, idioma, cultura, desenvolvimento e regime político, maior o grau de incerteza experimentado. TEMA 4: ESCOLA NÓRDICA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS OU MODELO DE REDES A Escola Nórdica de negócios internacionais, mais conhecida como modelo de redes, foi posterior à Escola de Uppsala. A diferença deste modelo em relação ao da Escola de Uppsala é que ele não foca na empresa individual. Para Johanson e Vahlne (1990) as firmas estabelecem relações de longa duração com seus parceiros de negócios, que tem significado estratégico para a firma. Assim, a criação de uma rede é um instrumento central para o surgimento desses relacionamentos e afeta as decisões de inserção externa das companhias. Essa perspectiva tem pressupostos parecidos aos da teoria de Uppsala, todavia, indica que as decisõesde internacionalização são afetadas pelas relações entre os agentes da rede (mercado). Com base nesse paradigma, para que a empresa tenha êxito nas operações internacionais deve participar de uma rede eficaz. Johanson e Mattsson (1988) apresentam quatro situações de internacionalização baseadas no grau de envolvimento do mercado e da empresa com o setor externo. A primeira é a categoria de “iniciante precoce”, em que nenhuma das empresas da rede tem ação internacional ou comprometimento internacional. A segunda é a de “iniciantes tardios”, na qual o grau de internacionalização do mercado que ocupam é alto. A terceira é a “internacionalizada entre os outros”, na qual atuam internacionalmente e estão inseridas em um mercado internacionalizado. A última é “internacionalizado 6 solitário”, em que têm uma elevada atuação no mercado externo, mas fazem parte de um mercado com baixa internacionalização. TEMA 5: A ABORDAGEM DA EMPREENDEDORA INTERNACIONAL OU BORN GLOBALS Os estudos da abordagem da empreendedora internacional focam especialmente nas qualidades empreendedoras para compreender como as empresas competem no mercado externo. Alguns autores começaram a desenvolver teorias que buscavam entender o comportamento internacional das empresas, supondo que as firmas são inerentemente empreendedoras. McDougall e Oviatt (2000) salientaram a necessidade de posicionar internacionalmente empreendedoras como um campo distinto para a análise dos negócios internacionais. Essa escola foca nos fatores que permitem a internacionalização, ao contrário das demais, que focam nos aspectos que limitam a atuação internacional (Tolstoy, 2010). Os teóricos argumentam que as firmas empreendedoras internacionais possuem em sua natureza uma capacidade de desenvolver inovação e de ter uma atuação arrojada (Tolstoy, 2010). A distinção entre as firmas empreendedoras internacionais das demais firmas empreendedoras é que a procura por oportunidades além das fronteiras está associada aos desafios do ingresso em território estrangeiro. Essa visão pressupõe que essas corporações tem uma pré-disposição a assumir riscos. Desta forma, essas firmas possuem um perfil competitivo, bem como potencial para crescimento, sendo diferentes das voltadas apenas ao mercado doméstico. NA PRÁTICA A partir do estudo de Marinho (2013) das 20 empresas brasileiras mais internacionalizadas dentre as causas apontadas pelo paradigma de Dunning para a internacionalização, a mais importante foi a busca por novos mercados, sendo que todas foram motivadas por esse aspecto. Em segundo lugar foi a busca por ativos estratégicos, especialmente via aquisições, e o terceiro aspecto foi a procura por eficiência. O fator menos central foi a busca por recursos, com apenas 10 firmas observadas. Adotando o modelo de Uppsala, 14 empresas se inseriram externamente de modo gradual e 10 delas levaram 7 em conta a distância psíquica. Assim, somente quatro empresas não levaram em conta nenhum desses elementos, tendo a Escola de Uppsala forte poder explicativo. A abordagem da “nascida global” indica que 14 empresas entraram no mercado externo depois de dez anos de sua criação. Portanto, somente duas empresas podem ser categorizadas como Born Globals. SÍNTESE Nesta aula analisamos as diferentes correntes que explicam a internacionalização das empresas. O objetivo desta rota foi oferecer ferramentas teóricas para o entendimento do fenômeno da internacionalização e aplicação a casos reais de atuação das empresas transnacionais. As teorias da internacionalização são divididas em dois grupos: a abordagem econômica e a perspectiva comportamental. A corrente econômica engloba as teorias do poder de mercado, da internalização, do ciclo do produto e a mais conhecida, o paradigma eclético de Dunning. Resguardadas as diferenças, todas as teorias apontam centralidade das variáveis econômicas para explicar como se dá a internacionalização das firmas. Por sua vez, as teorias comportamentais seriam: a Escola de Uppsala, o modelo de redes e a abordagem “empresarial internacional” ou Born Globals, que identificam comportamentos que explicam as razões que afetam as decisões de internacionalização. REFERÊNCIAS CARNEIRO, J. M. et al. Five main issues on the internationalization of firms: a comparative review of the literature: In: Workshop em Internacionalização de empresas. Rio de Janeiro, 2005. DUNNING, J. The ecletic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, v. 19, n. 1, 1998. HELAL, A.; HEMAIS, C. O processo de internacionalização na ótica da Escola Nórdica: evidências empíricas em empresas brasileiras. RAC, v. 7, n. 1, 8 p. 109-124, jan./mar. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n1/v7n1a06.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2016. JOHANSON, J; VAHLNE, J. The mechanism of internationalization. International Marcketing Review, v. 7, n. 4, p. 11-24, 1990. TOLSTOY, D. International entrepreneurship in networks: the impact of network knowledge combination on SMEs’ business creation in foreign markets. Stockholm: Stockholm School of Economics, 2010. CONTEÚDO COMPLEMENTAR TEMA 1 Leitura complementar: Para entender melhor o processo de internacionalização pelo aspecto econômico, assista a entrevista sobre internacionalização de empresas brasileiras. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=wbtDqCuUcL8>. TEMA 2 Leitura complementar: Para entender mais a fundo o paradigma eclético de Dunning e sua aplicação ao caso da internacionalização de empresas em países emergentes leia o texto de Stal e Campanário, Inovação em subsidiárias de empresas multinacionais: a aplicação do paradigma eclético de Dunning em países emergentes. Acesse em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/read/article/view/38538/24758>. TEMA 3 Leitura complementar: Para compreender melhor as teorias comportamentalistas da internacionalização (Escola de Uppsala e Escola Nórdica de Redes) leia o texto de Helal e Hemais, O processo de internacionalização na ótica da Escola Nórdica: evidências empíricas em empresas brasileiras. Acesse em: <http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n1/v7n1a06.pdf>. http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n1/v7n1a06.pdf https://www.youtube.com/watch?v=wbtDqCuUcL8 http://seer.ufrgs.br/index.php/read/article/view/38538/24758 http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n1/v7n1a06.pdf 9 TEMA 4 Leitura complementar: Para entender o modelo de redes da Escola Nórdica, leia o texto Modelo para internacionalização de empresas baseada em redes, de Boehe e Tono. Acesse em: <http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/Simp%C3%B3sio/simposio_2006/ RED/2006_RED79.pdf>. TEMA 5 Saiba mais: Assista ao vídeo da entrevista com a professora Fernanda Ribeiro sobre as Born Globals brasileiras. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=UdjHLvAfrBY>. http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/Simp%C3%B3sio/simposio_2006/RED/2006_RED79.pdf http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/Simp%C3%B3sio/simposio_2006/RED/2006_RED79.pdf https://www.youtube.com/watch?v=UdjHLvAfrBY
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