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CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 1 Prof.ª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos tratar dos seguintes temas sobre a Contabilidade e Gestão de Micro e Pequenas Empresas: • Conceitos e enquadramento de Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs); • Sobrevivência das Micro e Pequenas Empresas (MPEs); • Fatores essenciais para continuidade e crescimento das MPEs; • Estratégias empresariais e competitividade para micro e pequenas empresas (redes); • Startups. CONTEXTUALIZANDO Empreender nem sempre é uma tarefa fácil. O empreendedor deve ser capaz de identificar uma oportunidade no ambiente e transformar ideais em negócios. Então, para prosperar, ele precisa realizar um estudo prévio de tudo que será necessário para a efetiva criação do negócio. Esse estudo deve envolver a autoanálise do empreendedor, a definição dos objetivos que devem ser atingidos, as estratégias que devem ser adotadas para alcançar os objetivos, o montante de recursos que o negócio vai demandar e de que forma o empreendedor vai conseguir esses recursos. Assim, frustações podem ser evitadas, riscos podem ser previstos e providências podem ser tomadas. Diante disso, nesta etapa, vamos conhecer como as empresas são enquadradas em relação ao porte e número de empregados e entender os principais fatores de continuidade e descontinuidade dos negócios. Da mesma forma, trataremos algumas estratégias empresariais para a sobrevivência do negócio no mercado. Esta etapa é fundamental para compreendermos os próximos assuntos. Por isso, é imprescindível se atentar a todos os temas e detalhes descritos. Iniciaremos abordando o enquadramento das empresas. 3 TEMA 1 – CONCEITOS E ENQUADRAMENTO DE MICROEMPRESÁRIO INDIVIDUAL (MEI), MICROEMPRESA (ME) E PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PMES) A microempresa é uma pequena pessoa jurídica (ou seja, faz parte do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ). A terminologia de microempresa surgiu no final dos anos 1970 como resultado das políticas de desburocratização para estimular o desenvolvimento de pequenos negócios (Lemes; Pisa, 2019). A definição legal de microempresa foi criada pela Lei n. 7.256, em novembro de 1984, posteriormente revogada pela Lei n. 9.841, em outubro de 1999, e mais tarde alterada pela Lei Complementar n. 123, em dezembro de 2006, e pela Lei n. 155, em outubro de 2016. Os critérios adotados para classificar uma empresa como Microempresa (ME) ou Empresas de Pequeno Porte (EPP), podem variar bastante. Um dos enquadramentos mais utilizados é o estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, no art. 3º, que leva em consideração o faturamento bruto anual ou receita bruta anual. Este também é um dos critérios que as pessoas jurídicas consideram para uma potencial adesão ao Simples Nacional, que é um dos regimes tributários disponíveis para as empresas. Conforme estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, as MEs são aquelas que têm receita bruta anual de até R$ 360.000,00 ao final de cada ano-calendário, enquanto as EPPs são aquelas que têm receita bruta anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00. A receita bruta compreende a venda de bens e serviços nas operações por conta própria, o valor dos serviços prestados e o resultado nas operações por conta de terceiros, excluindo vendas canceladas, devoluções de vendas e descontos incondicionais concedidos, conforme estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, parágrafo 1º, e pela Superintendência Regional da Receita Federal, 10.ª Região Fiscal. As operações de conta própria se referem às operações com bens e serviços de propriedade da empresa. Em contrapartida, as operações em conta alheia são aquelas com bens e serviços de outras empresas, que permanecem à disposição da empresa contratante para venda, mediante acordo contratual, como é o caso da consignação mercantil e da representação comercial, conforme estabelecido na legislação. 4 A Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, parágrafo 2º, estabelece ainda que, caso a empresa tenha menos de um ano de funcionamento, o limite anual de receita bruta será proporcional ao número de meses em que a microempresa ou empresa de pequeno porte tenha exercido atividade, incluindo as frações de meses. Por exemplo, uma empresa constituída em julho de 2021 não poderá ter uma receita bruta superior a R$ 2.400.000,00 (R$ 4.800.000,00 / 12 meses x 6 meses) para ser considerada uma empresa de pequeno porte. Em 1º julho de 2009, entrou em vigor a Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008, que criou a figura do Microempreendedor Individual (MEI). Para ser enquadrado como MEI, o empreendedor pode ter obtido uma receita bruta anual de até R$ 81 mil no ano-calendário anterior, o que equivale a uma média de R$ 6.750,00 por mês. As empresas também podem ser enquadradas como Pequenas e Médias Empresas (PMEs). A legislação não estabelece de forma precisa a receita bruta anual de uma empresa de médio porte, mas é possível inferir com base na Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que define uma empresa de grande porte como aquela que, no exercício social anterior, tenha um ativo total superior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00. Portanto, a empresa de médio porte está situada entre a grande e a pequena empresa, ou seja, aquela que tem uma receita bruta anual maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também classifica as empresas em virtude da receita operacional bruta anual ou renda anual a fim de atuar prontamente na concessão de linhas de créditos, programas e condições específicas para cada porte de empresa. Segundo o BNDES, as microempresas têm uma renda anual igual ou inferior a R$ 360.000,00, as pequenas empresas têm uma renda anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00, as médias empresas têm uma renda anual superior a R$ 4.800.000,00 e igual ou inferior a R$ 300.000.000,00, e as grandes empresas têm uma renda anual superior a R$ 300.000.000,00. Dessa forma, podemos concluir que o enquadramento com base na receita bruta anual estabelecida pela legislação é a mesma dada pelo BNDES. No Quadro 1, a seguir, podemos verificar essa classificação. 5 Quadro 1 – Enquadramento por porte Enquadramento Receita bruta anual/Renda anual Microempreendedor (MEI) Menor ou igual a R$ 81.000,00 Microempresa (ME) Menor ou igual a R$ 360.000,00 Empresa de Pequeno Porte (EPP) Maior que R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00 Média empresa Maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00 Grande empresa Maior que R$ 300.000.000,00 Fonte: Lolatto, 2023. Ainda, as empresas podem ser enquadradas com base no número de empregados. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae (2017) classifica as empresas por número de empregados conforme disposto no Quadro 2 a seguir. Quadro 2 – Enquadramento por número de empregados Enquadramento Setores Indústria Comércio e Serviços Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até 9 pessoas ocupadas Pequena empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 49 pessoas ocupadas Média empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas Grande empresa 500 pessoas ocupadas ou mais 100 pessoas ocupadas ou mais Fonte: Sebrae, 2017. Sendo assim, uma empresa pode ser enquadrada como microempresa em função de sua receita bruta anual e pode ser enquadrada como uma pequena empresa em razão do número de empregados. A metodologia de enquadramento dependerá da finalidade de classificação. Cada situação, nesse caso, deverá ser analisada para posteriormente definir pelomelhor método de enquadramento. TEMA 2 – SOBREVIVÊNCIA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPES) De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Brasil, 2021), apenas 22,9% das unidades locais nascidas em 2009 conseguiram sobreviver após dez anos, e menos da metade (41,6%) conseguiu sobreviver após cinco anos de sua criação. O IBGE ainda destaca que, quanto maior o porte da empresa, maior é a taxa de sobrevivência. Empresas de maior porte tendem a ter uma estrutura organizacional mais robusta e maior capital disponível (Sebrae, 2016). 6 Segundo o Sebrae (2016), considerando as empresas brasileiras constituídas em 2012 e as informações disponíveis na Secretaria da Receita Federal (SRF) até 2014, a taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos no Brasil foi de 76,6%. Para as empresas de pequeno porte constituídas em 2012, a taxa de sobrevivência foi de 98%, igualando-se às médias empresas (98%) e sendo superior à das grandes empresas, que foi de 97%. Em contrapartida, a taxa de sobrevivência das microempresas constituídas em 2012 foi de apenas 55% para até dois anos. No caso dos Microempreendedores Individuais (MEI), a taxa de sobrevivência foi de 87%. Logo, as microempresas acabam contribuindo para a redução da taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos, demonstrando que enfrentam mais dificuldades para se manterem no mercado em comparação aos MEI. A formalização dos microempreendedores, com menos burocracia e custos mais baixos para registro, abertura e manutenção, apresenta uma significativa chance de sobrevivência, pelo menos nos primeiros dois anos de atividade (Sebrae, 2016). Mas o que leva essas empresas a encerrarem suas atividades? Os principais fatores que podem causar o fechamento prematuro das empresas estão relacionados à situação do empresário antes da abertura, ao planejamento do negócio, à gestão do negócio e à capacitação dos proprietários em gestão empresarial (Sebrae, 2016). No Quadro 3 a seguir, é possível verificar os fatores relevantes que influenciam a sobrevivência e a mortalidade das empresas. 7 Quadro 3 – Perfil das empresas (exemplos de casos extremos) Fatores Empresas sobreviventes Empresas fechadas ANTES DA ABERTURA Era empregado no mesmo ramo Estava desempregado Abriu por oportunidade Abriu por necessidade Desejava ter o próprio negócio Abriu por exigência de cliente/fornecedor PLANEJAMENTO/ RECURSOS Planejou por mais tempo (11 meses) e com mais qualidade Planejamento deficiente (8 meses) Negociou prazos com fornecedores Não negociou prazos com fornecedores Obteve empréstimo em bancos Não obteve empréstimo em bancos GESTÃO DO NEGÓCIO Aperfeiçoava produtos com frequência Não aperfeiçoava produtos Investia na capacitação da mão de obra e dos sócios Não investia na capacitação da mão de obra e dos sócios Estava sempre atualizado com respeito às novas tecnologias do setor Não se atualizava Acompanhamento rigoroso receitas/despesas Não fazia acompanhamento rigoroso receitas/despesas Diferenciava produtos e serviços Produtos sem diferencial CAPACITAÇÃO Fez curso para melhorar o conhecimento sobre como administrar um negócio, enquanto tinha a empresa Não fez nenhum curso sobre gestão do negócio Fonte: Sebrae, 2016. Conforme apresentado no Quadro 3 anterior, o planejamento é um fator essencial na abertura de um negócio. As empresas que conseguem sobreviver são aquelas que são planejadas, em média, três meses a mais do que as que encerram suas atividades (Sebrae, 2016). Esse planejamento abrange todas as atividades relacionadas à constituição do negócio, desde a concepção do produto ou serviço até a definição do público-alvo, estratégias de marketing, localização da empresa, contato com fornecedores, distribuidores, financiadores e outros agentes relacionados ao negócio (Lemes; Pisa, 2019). De acordo com Lemes e Pisa (2019), as causas que podem levar à mortalidade de micro e pequenas empresas incluem falta de planejamento antes da abertura do negócio, falta de conhecimento de mercado, falta de identificação do público-alvo, falta de inovação, descuido com o cliente e suas necessidades, replicação de modelos da concorrência, elaboração inadequada do plano de negócio, falta de experiência do empreendedor, falta de qualificação dos funcionários, desconhecimento de práticas de gestão de pessoas, falta de 8 controles financeiros e de custos, falta de controle do fluxo de caixa, crescimento sem planejamento das despesas operacionais, erros no controle de qualidade, práticas de marketing equivocadas, falta de gerenciamento da marca, descontrole financeiro, falta de uso de tecnologia, falta de acompanhamento da legislação e dos tributos, e uso dos recursos da empresa para pagamento de despesas pessoais. Os empreendedores aprendem com seus próprios erros e com os erros dos outros, evitando assim a repetição das mesmas práticas. Nesse sentido, no Gráfico 3 a seguir, é possível observar os motivos alegados pelos empreendedores para o fechamento de suas empresas, de acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae (2016). Gráfico 3 – Motivos alegados pelos empreendedores para que a empresa deixasse de funcionar Fonte: Sebrae, 2016. Para aqueles que estão iniciando um novo negócio, é de extrema importância estar atento a tudo que acontece no mercado, identificando e avaliando as tendências e selecionando oportunidades de negócios com potencial de crescimento, evitando entrar em mercados saturados que possam estar em declínio (Lemes; Pisa, 2019). O fechamento de micro e pequenas empresas causa impactos significativos na economia local, regional e nacional, uma vez que deixam de gerar renda e aumentam o número de desempregados, contribuindo para o aumento da informalidade. Além disso, o fechamento dessas empresas impacta na arrecadação de tributos pelo governo, reduzindo os investimentos em 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% força maior / doença / aposentadoria falta de apoio localização / ponto outros motivos diversos tempo (carga horária / incomplatibilidade) problemas pessoais / família burocracia crise (econômica / do país / financeira) mão de obra / funcionários / preparo outra oportunidade / não precisou mais da empresa / fim da empresa, contrato problemas financeiros / inadimplência / falta de linhas de crédito / capital de giro gestão / problemas administrativos e contábeis / incapacidade / sociedade / logística vendas / pouca procura, demanda, clientes / forte concorrência impostos / custos / despesas / juros 9 benefício da sociedade e aumentando os déficits no sistema previdenciário (Morais; Carneiro, 2017). TEMA 3 – FATORES ESSENCIAIS PARA CONTINUIDADE E CRESCIMENTO DAS MPES As variáveis ambientais internas e externas e as características dos empreendedores são fatores essenciais a serem considerados ao abrir um novo negócio. Os empreendedores precisam avaliar, por exemplo, a resistência dos concorrentes aos novos entrantes no mercado e o nível de sazonalidade do segmento em que desejam atuar. Esses fatores podem impactar os resultados da empresa e comprometer sua continuidade no curto ou longo prazo (Lemes; Pisa, 2019). Vamos supor que um empreendedor esteja iniciando um pequeno negócio de sorvetes em um local que tem estações bem definidas, ou seja, no verão o clima é quente e seco e no inverno o clima é frio e chuvoso. Para ter sucesso em seu negócio, o empreendedor precisa considerar a sazonalidade do segmento, já que as vendas tendem a oscilar em razão do clima. Agora, vamos supor que existam mais dois concorrentes potenciais nas proximidades. Que estratégia o empreendedor deve adotar? Certamente, o produto deve ter um diferencial, seja em qualidade ou preço. Segundo Lemes e Pisa (2019), mesmo em ambientes com poucacompetitividade e baixa sazonalidade, fatores relacionados ao ambiente interno também podem levar ao fechamento do negócio. Em relação ao ambiente interno, Boog (1991) destaca que toda empresa tem três pilares principais e distintos de sustentação: financeiro, marketing e operações. O resultado financeiro envolve o lucro, o retorno e o acréscimo do patrimônio líquido da empresa. O resultado do marketing é mensurado pelo que o mercado estabelece, como volume de vendas, fidelização de clientes, imagem da empresa, dos produtos e serviços oferecidos, e assistência pós-vendas. O resultado das operações compreende os números relacionados à produção, métodos e processos, comercialização, produtividade, qualidade do produto e estoque de máquinas e instalações (Boog, 1991). Outro aspecto interno que interfere na sobrevivência e no crescimento da empresa está associado ao empreendedor, ao seu nível de experiência e aos 10 conhecimentos obtidos antes da abertura do negócio, como pode ser observado na Figura 1 a seguir. Figura 1 – Aspectos de sobrevivência e crescimento da empresa associados ao empreendedor Fonte: elaborada por Lolatto, 2023, com base em Sebrae, 2016. Assim como as variáveis ambientais internas, como gestão adequada, experiência e motivação do empreendedor, as variáveis ambientais externas também interferem na continuidade e no crescimento das micro e pequenas empresas. As variáveis externas estão relacionadas, especialmente, às ações governamentais e de instituições voltadas para o estímulo do empreendedorismo (Lemes; Pisa, 2019). Os incentivos fiscais oferecidos pelo governo, por exemplo, podem garantir a continuidade e o crescimento das micro e pequenas empresas, pois reduzem o custo operacional. O governo também pode contribuir com o fornecimento de financiamento público gerando fluxos de caixa e de investimentos para essas empresas. As demais instituições, como universidades, incubadoras, investidores anjos e grandes empresas, podem contribuir com recursos financeiros ou não financeiros, ou seja, podem injetar dinheiro nas micro e pequenas empresas ou dar suporte técnico, gerencial e de formação para o empreendedor. Situação do empreendedor antes da abertura • Ocupações exercidas • Experiência no ramo • Motivação pessoal para abertura do negócio Capacidade de planejamento do negócio • Tempo de planejamento do negócio • Negociação de prazos com fornecedores • Obtenção de empréstimos Capacidade de gestão do negócio • Aperfeiçoamento frequente dos produtos • Investimento em capacitação • Atualização constante de novas tecnologias • Acompanhamento das receitas e despesas • Diferenciação dos produtos e serviços Capacidade do empreendedor em gestão empresarial • Capacitação em administração de negócios 11 TEMA 4 – ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E COMPETITIVIDADE PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (REDES) A globalização dos mercados está cada vez mais intensa e empresas de todos os tamanhos e setores estão competindo em um mercado internacionalizado. Mesmo pequenas empresas que tenham um nicho de mercado local bem estabelecido estão enfrentando ameaças de empresas estrangeiras em seu mercado tradicional (Casarotto Filho; Pires, 2020). Vamos imaginar uma pequena empresa que comercializa cosméticos e tem uma loja física. Ela contém um número significativo de clientes, a maioria deles morando nas proximidades. A empresa acompanha as tendências de mercado e projeta resultados favoráveis para os próximos anos. No entanto, será que essa pequena empresa pode estar ameaçada pela globalização? E quais estratégias ela poderia adotar para se manter no mercado? Com a globalização da economia e o avanço tecnológico, especialmente nas comunicações, as mudanças nos conceitos de marketing e produção se tornaram mais rápidas. Como resultado, os riscos dos negócios aumentaram. Isso significa que outra empresa em qualquer lugar do mundo pode começar a produzir um produto similar, com melhor qualidade e preço mais baixo, e ter acesso aos mesmos mercados (Casarotto Filho; Pires, 2020). Na perspectiva empresarial, os aspectos qualitativos na determinação das estratégias de negócios se tornaram mais relevantes do que as estratégias quantitativas de avaliação de projetos. E quando se trata de negócios, e não apenas de fábricas isoladas, uma forma de reduzir os riscos e ganhar cooperação é por meio da formação de alianças entre empresas, especialmente entre pequenas empresas (Casarotto Filho; Pires, 2020). Conforme descrito por Casarotto Filho e Pires (2020), a era do projeto de fábrica foi substituída pela era do projeto de negócio. Um projeto de negócio ou plano de negócio envolve estratégia competitiva, mercado, marca, parcerias com fornecedores, parcerias com clientes e parcerias com concorrentes, terceirizações, franquias, fabricação, logística, gestão e equacionamento econômico-financeiro. Em contrapartida, um projeto de fábrica ou plano de fábrica abrange apenas componentes de mercado, produção, localização, administração e equacionamento econômico-financeiro 12 (Casarotto Filho; Pires, 2020). Assim, podemos observar que o projeto de negócio é mais abrangente do que o projeto de fábrica. Vale destacar que a estratégia competitiva é fundamental para o sucesso do negócio. Segundo Casarotto Filho (2016), as pequenas empresas têm três possibilidades competitivas: diferenciação do produto, liderança de custo e participação em redes de empresas flexíveis. Nesse sentido, vamos entender como ocorre a formação de redes como orientação estratégica. 4.1 Formação de redes como orientação estratégica As pequenas empresas enfrentam dificuldades e limitações para competir de forma isolada, e a transição de pequeno para grande porte pode ser arriscada. Assim, a pequena empresa pode optar por se tornar fornecedora em uma rede top-down ou ser integrante de uma rede flexível de pequenas empresas (Casarotto Filho; Pires, 2020). Na rede top-down, a pequena empresa pode se tornar fornecedora ou subfornecedora de uma empresa-mãe. A empresa-mãe define as estratégias, e a pequena empresa fornecedora tem pouca ou nenhuma flexibilidade de negociação. Por exemplo, uma empresa-mãe de grande porte que produz e comercializa vestuário pode terceirizar parte de seus processos produtivos para empresas subcontratadas de pequeno porte. Dessa forma, a empresa-mãe e a empresa de pequeno porte podem competir por liderança de custos no mercado (Casarotto Filho; Pires, 2020). De acordo com Casarotto Filho e Pires (2020), a liderança em custos envolve a produção em grande escala, com padronização, visando à obtenção de preços finais baixos, com ênfase na utilização de tecnologia de processo. Na Figura 2 a seguir, é possível visualizar a formação de uma rede top-down. Figura 2 – Rede top-down Fonte: Casarotto Filho; Pires, 2020, p. 18. Empresa-mãe 1ª linha 2ª linha 13 A segunda forma de rede que pode ser estabelecida por pequenas empresas é a rede flexível, que ocorre por meio de um consórcio de empresas, no qual empresas com atividades diferentes ou com a mesma atividade se unem com um interesse comum para realizar um negócio por um período determinado. A formação de um consórcio é prevista na Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/1976), art. 278, que estabelece: “As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento.”. Por exemplo, em um consórcio de produção de calçados, várias empresas podem produzir diferentes partes de um calçado, que é comercializado, divulgado e acompanhado tecnicamente pelo consórcio. Isso significa que uma empresa pode produzir solados, outra palmilhas e outra cadarços, formando assim um consórcio. Esse consórcio simula a administração de uma grande empresa, mas apresenta mais flexibilidadepara atender a pedidos diferenciados, o que resulta em uma agregação de valor. Na Figura 3 a seguir, é possível visualizar a formação de uma rede flexível. Figura 3 – Rede flexível Fonte: Casarotto Filho; Pires. 2020, p. 18. Segundo Casarotto Filho e Pires (2020), a formação de consórcios é uma tendência mundial para a sobrevivência das pequenas empresas e o desenvolvimento equilibrado da sociedade. TEMA 5 – STARTUPS O termo startup teve origem há algumas décadas nos Estados Unidos, mas ficou conhecido durante os anos de 1990, época em que ocorreu um avanço 14 significativo da internet. Nesse período, diversas “empresas.com” foram constituídas, em sua maioria no Vale do Silício (Lemes; Pisa, 2019). No Brasil, as primeiras startups surgiram no início do século XXI, mas foi a partir do ano de 2010 que houve um crescimento notável, conforme dados da Associação Brasileira de Startups – ABStartups (Lemes; Pisa, 2019). Em 1.º de junho de 2021, foi instituído o marco legal das startups e do empreendedorismo inovador por meio da Lei Complementar n. 182. Mas, afinal, o que são startups? De acordo com Lemes e Pisa (2019), são empresas constituídas normalmente de uma base tecnológica, que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores e que passam por um período de experimentação, denominado “startup”. Os autores destacam que a inovação é uma característica fundamental para que as empresas sejam denominadas startups, mas também deve haver um cenário de alto risco e incerteza para que sejam diferenciadas das demais. Para Vilenky (2021), as características básicas desse formato de empresa consistem em ser inovadora, escalável, dinâmica e automatizada. A inovação deve existir desde a criação do bem ou serviço até a entrega final ao consumidor. Vamos tomar como exemplo o caso do Uber. O Uber é um modelo de negócio que transformou a maneira como as pessoas se locomovem. Escolhemos a forma de pagamento, sabemos previamente o valor da corrida, podemos compartilhar o carro para diminuir o custo, sabemos quando o carro vai chegar e quem vai ser o motorista, podemos avaliar o atendimento e ainda podemos trabalhar para a empresa para aumentar nossa renda. A escalabilidade das startups é maior do que a escalabilidade das empresas tradicionais, porque as startups conseguem aumentar sua receita sem aumentar seus custos na mesma proporção, elevando assim o seu resultado financeiro (Vilenky, 2021). O próprio Uber é um exemplo de escalabilidade, pois não demorou muito para a empresa ampliar seus serviços de mobilidade de pessoas para a mobilidade de objetos ou qualquer outro tipo de carga de um lado para o outro. A dinâmica das startups também é uma característica marcante segundo Vilenky (2021). Esse formato de empresa possibilita que as decisões sejam tomadas rapidamente, ou seja, há uma flexibilidade na forma de trabalhar. Além disso, gostam de assumir riscos e mudar o rumo dos negócios se adequando às necessidades do mercado quase que instantaneamente. Um exemplo disso é o 15 Airbnb, que não demorou para inovar durante a pandemia da Covid-19, quando verificou que a busca pela locação de hospedagens pela internet diminuiu. O Airbnb incluiu no rol de serviços o anúncio de carros, bicicletas ou qualquer outro item para locação. Para se tornar automatizada, uma empresa precisa ter a capacidade de entregar o mesmo produto ou serviço em larga escala, ou seja, em nível nacional e/ou internacional, de forma simultânea e com características e formato consistentes, em todos os locais (Vilenky, 2021). O Google é talvez um dos melhores exemplos de uma startup com essa característica, pois está presente em mais de 150 países, e demonstra que não existem mais barreiras de língua ou culturais para a comunicação entre as pessoas, possibilitando a busca de informações de qualquer tipo com base em sua tecnologia. Dessa forma, as startups podem ser descritas como empresas de alta tecnologia criadas para resolver problemas em áreas nas quais a solução não é evidente e o sucesso não é garantido nem contínuo (Lemes; Pisa, 2019). A definição formal de startup, segundo Lemes e Pisa (2019), compreende uma organização nova no mercado, em estágio inicial de implantação, mas com potencial de crescimento. Além disso, são capazes de inovar no curto prazo, mesmo com recursos limitados. No entanto, uma das definições mais conhecidas e aceitas entre os especialistas é a de Steve Blank, citado por Lemes e Pisa (2019), que define uma startup como um grupo de pessoas em busca de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. Assim, podemos concluir que esse formato de empresa é diferente das demais, pois trabalha em um ambiente de incertezas, resolvendo problemas inéditos. Futuramente, vamos estudar algumas formas de investimentos para startups. TROCANDO IDEIAS Vamos supor que um novo bairro esteja sendo construído distante da área central da cidade. Um empreendedor identifica uma excelente oportunidade para abrir um mercado que atenda aos moradores desse bairro, estuda o perfil dos moradores e define uma margem de lucro líquido de aproximadamente 2% sobre seus produtos. Assim, os preços são competitivos em relação aos praticados por outros estabelecimentos, embora não ofereça uma variedade de produtos. 16 Nesse contexto, quais estratégias o empreendedor poderia adotar para se manter no mercado? NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre as micro e pequenas empresas, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? • Questão 1: Sobre a definição de ME e EPP. A Lei Complementar n. 123/2006, em seu art. 3.º, estabelece as definições de microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) com base na receita bruta anual ou no faturamento bruto anual. Essa mesma lei também adota a receita bruta anual como um dos critérios para adesão ao Simples Nacional, que é um dos regimes tributários disponíveis para as empresas. Sendo assim, as microempresas são aquelas que auferem receita bruta anual: a) menor ou igual a R$ 81.000,00. b) menor ou igual a R$ 360.000,00. c) entre R$ 360.000,01 e R$ 4.800.000,00. d) entre R$ 4.800.000,01 e R$ 300.000.000,00. e) maior que R$ 300.000.000,00. • Questão 2: Sobre a definição de ME e EPP. De acordo com o Sebrae (2017), as empresas podem ser classificadas como microempresa, pequena empresa, média empresa e grande empresa com base tanto na receita bruta anual quanto no número de empregados. Dessa forma, uma empresa pode ser enquadrada como microempresa com base em sua receita bruta anual, e como pequena empresa levando em consideração o número de empregados. Sendo assim, as microempresas industriais são aquelas que apresentam: a) até 9 pessoas ocupadas. b) até 19 pessoas ocupadas. c) de 20 a 99 pessoas ocupadas. d) de 10 a 49 pessoas ocupadas. e) de 50 a 99 pessoas ocupadas. • Questão 3: Sobre as causas de mortalidade das micro e pequenas empresas. De acordo com dados do Sebrae (2016), a taxa de sobrevivência das empresas brasileiras constituídas em 2012 com até 17 dois anos é de 76,6%. Além disso, o IBGE aponta que a taxa de sobrevivência é geralmente maior em empresas de maior porte, uma vez que estas apresentam uma estrutura organizacional mais robusta e um maior volume de capital. Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir sobre as causas que levam à mortalidade das micro e pequenas empresas e assinale a alternativa correta. I. Falta de determinação do público-alvo. II. Falta de controles financeiros e de custos. III. Alto investimento em capacitação da mão de obra. IV. Ausência de planejamento antes da abertura do negócio. Assinale a alternativa correta: a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c) Apenasas afirmativas II e IV estão corretas. d) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. • Questão 4: Sobre a definição das startups. A expressão startup surgiu algumas décadas atrás nos Estados Unidos, porém se popularizou durante a década de 1990, período em que houve um grande avanço da internet. Essas empresas, na fase inicial, geralmente enfrentam despesas maiores do que suas receitas, o que demanda diversas fontes de financiamento para se sustentarem. Nesse sentido, assinale a alternativa que contempla a melhor definição de startups. a) Empresas que surgiram no início do século XXI, principalmente no Brasil, e têm como característica principal a inovação constante. b) Empresas com alto risco e incerteza que trabalham em um ambiente de escalabilidade e automatização. c) Empresas com recursos limitados que buscam um modelo de negócio repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. d) Empresas que atuam exclusivamente na área de tecnologia e são caracterizadas pela rápida tomada de decisões e capacidade de adaptação ao mercado. 18 e) Empresas constituídas com base tecnológica que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores, passando por um período de experimentação. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos o enquadramento das empresas por porte e por número de empregados, os motivos que levam as empresas a fecharem e a permanecerem em atividade e as estratégias empresariais a serem adotadas para sua continuidade no mercado. Estudamos também as principais características das startups. Futuramente, estudaremos as obrigatoriedades contábeis e tributárias para Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs). 19 REFERÊNCIAS BRASIL. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Porte de empresa. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/ home/financiamento/guia/porte-de-empresa>. Acesso em: 26 maio 2023. _____. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Demografia das empresas e estatísticas de empreendedorismo: estudos e pesquisas. Rio de Janeiro, 2021. (Informação Econômica, n. 35). Disponível em: <https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101863.pdf>. Acesso em: 24 abril 2023. BOOG, G. G. O desafio da competência. São Paulo: Best Seller, 1991. CASAROTTO FILHO, N. Elaboração de projetos empresariais: análise estratégica, estudo de viabilidade e plano de negócio. 2. ed. Paulo: Atlas, 2016. CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L. H. Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020. LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando Micro e Pequenas Empresas: Empreendedorismo e Gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MORAIS, L. C.; CARNEIRO, L. F. R. Mortalidade de micro e pequenas empresas na cidade de Naviraí-MS: estudo de caso. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE GESTÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO. Anais… 2017. SERVIÇO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE (Org.). Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios 2017. Brasília: Dieese, 2017. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/anuario/2017/anuarioPequeno Negocio2017.html>. Acesso em: 26 maio 2023. SERVIÇO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE. Sobrevivência das Empresas no Brasil. Disponível em: <https://www.sebrae. com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/sobrevivencia-das-empresas-no-brasil- relatorio-apresentacao-2016.pdf>. Acesso em: 26 maio 2023. VILENKY, R. Startup: transforme problemas em oportunidades de negócio. São Paulo: Saraiva, 2021. 20 GABARITO Gabarito da questão da seção “Trocando Ideias” Resposta: Para ter sucesso em seu negócio sem oferecer uma ampla variedade de produtos, o empreendedor precisa conhecer as marcas e mercadorias preferidas do seu público-alvo, buscando ser mais assertivo em suas vendas. Gabarito dos exercícios da seção “Na prática” • Questão 1: Correta: b) Menor ou igual a R$ 360.000,00. Quadro 1 – Enquadramento por porte Enquadramento Receita bruta anual/Renda anual Microempreendedor (MEI) Menor ou igual a R$ 81.000,00 Microempresa (ME) Menor ou igual a R$ 360.000,00 Empresa de Pequeno Porte (EPP) Maior que R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00 Média empresa Maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00 Grande empresa Maior que R$ 300.000.000,00 Fonte: a autora, 2023. • Questão 2: Correta: b) Até 19 pessoas ocupadas. Quadro 2 – Enquadramento por número de empregados Enquadramento Setores Indústria Comércio e Serviços Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até 9 pessoas ocupadas Pequena empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 49 pessoas ocupadas Média empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas Grande empresa 500 pessoas ocupadas ou mais 100 pessoas ocupadas ou mais Fonte: Sebrae, 2017. • Questão 3: Correta: d) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. Existem diversos motivos que causam o encerramento das atividades das micro e pequenas empresas. Lemes e Pisa (2019) descrevem as seguintes causas: 21 • ausência de planejamento antes da abertura do negócio; • falta de conhecimento do mercado; • falta de determinação do público-alvo; • falta de inovação; • descuido com o cliente e com o que ele deseja; • réplica de modelos da concorrência; • elaboração errada do plano de negócio; • falta de experiência do empreendedor; • falta de qualificação do pessoal; • falta de conhecimento de práticas de gestão de pessoas; • falta de controles financeiros e de custos; • ausência de controle do fluxo de caixa; • crescimento sem planejamento das despesas operacionais; • erros no controle de qualidade; • práticas de marketing erradas; • ausência do gerenciamento da marca; • descontrole financeiro; • falta do uso de tecnologia; • falta de acompanhamento da legislação e tributos; e, • pagamento das contas pessoais com recursos da empresa. • Questão 4: Correta: e) Empresas constituídas com base tecnológica que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores, passando por um período de experimentação. As startups são caracterizadas por serem empresas inovadoras que utilizam a tecnologia como base para a criação e difusão de produtos e modelos de negócios disruptivos. Elas passam por um período de experimentação, buscando encontrar um modelo de negócio escalável e sustentável. Além disso, as startups enfrentam incertezas e riscos inerentes ao ambiente de negócios, mas têm como propósito a inovação e a busca por soluções criativas para problemas existentes. CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 2 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos tratar sobre obrigatoriedades contábeis e tributárias para Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs), e para tanto, estudaremos os seguintes temas: • Obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMEs; • LC 123 – Regras societárias para ME; • LC 123 – Regras tributárias para EPP; • NBC TG 1002 – Regras contábeis para ME; • NBC TG 1001 – Regras contábeis para EPP. Aproveite a leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Lembre-se de que a melhor forma de aprender é exercitando. CONTEXTUALIZANDO O sistema tributário no Brasil é complexo e demanda muito estudo. Com o objetivo de facilitar o processo de abertura e tributação das micro e pequenas empresas, o Governo criou o regime tributário do Simples Nacional. Isso não impede as empresas de aderirem a outros regimes tributários, mas, como veremos nesta etapa, realmente há vantagensna escolha por esse regime. Em relação às normas contábeis, a partir do dia 1º de janeiro de 2023 passamos a aplicar a NBC TG 1000 (R1), NBC TG 1001 e NBC TG 1002. A NBC TG 1001 estabelece as regras contábeis para as pequenas empresas e a NBC TG 1002 estabelece as regras contábeis para as microentidades. Vamos ver que as microempresas e empresas de pequeno porte recebem classificações contábeis e tributárias diferentes. Diante disso, nesta etapa, vamos conhecer as leis que regem o Microempresário Individual (MEI), a Microempresa (ME) e as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Da mesma forma, trataremos algumas particularidades contábeis, societárias e tributárias relacionadas a elas. Esta etapa é fundamental para compreendermos o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível atentar para todos os temas e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre as obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMEs. 3 TEMA 1 – OBRIGATORIEDADES CONTÁBEIS E TRIBUTÁRIAS (OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS) PARA MEI, ME E PMES O Microempresário Individual (MEI), a Microempresa (ME) e as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) possuem regras contábeis e tributárias específicas. A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, principal lei das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), facilitou a abertura dessas empresas, aumentando a formalidade e sua chance de sobrevivência no mercado (Lemes Jr.; Pisa, 2019, p. 244). Com a alteração dessa lei em 2008, foi criada a figura do MEI, facilitando ainda mais o processo de abertura de negócios e reduzindo o ônus tributário sobre os empresários individuais. A empresa de médio porte não é abrangida pela Lei Complementar n. 123/2006, pois seu faturamento bruto anual supera R$ 4.800.000,00 e é menor ou igual a R$ 300.000.000,00. Segundo Lemes e Pisa (2019, p. 244), o Brasil possui uma legislação rica e avançada no âmbito de organizações societárias e tem sido inovador na desburocratização dos processos de abertura de empresas, na simplificação da apuração e recolhimento de tributos e na redução da carga tributária das MPEs. No entanto, mesmo com as facilidades de abertura de empresas disposta na Lei Complementar n. 123/2006, o empreendedor brasileiro ainda persiste na informalidade. Em um primeiro momento, a informalidade pode ser atrativa, mas conforme a empresa cresce, passa a ser conhecida e ganha mercado, isso será mais uma dificuldade do que uma comodidade. Uma empresa informal não possui CNPJ, nota fiscal, qualquer documentação, que lhe permita negociar com médias e grandes empresas ou participar de licitações públicas, dentre outras situações (Lemes Jr.; Pisa, 2019, p. 244). Agora vamos conhecer as obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMES. 1.1 Obrigações contábeis e tributárias para MEI De acordo com a Lei Complementar n. 123/2006, especificamente nos arts. 18-A a 18-C, para um empreendedor se enquadrar como Microempreendedor Individual (MEI), ele deve ter uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 81.000,00, no máximo um empregado que receba exclusivamente um salário-mínimo ou o piso salarial da categoria profissional, não ter participação como sócio ou titular em outra empresa, e exercer uma 4 atividade permitida pela legislação (Brasil, 2006). Se o empreendedor não iniciar suas atividades em janeiro, o limite da receita bruta anual será proporcional aos meses restantes do ano. O empreendedor que atender a essas condições pode se formalizar gratuitamente no Portal do Empreendedor. Nesse processo, ele obtém o CNPJ, número de inscrição na Junta Comercial, número de inscrição no INSS e o documento de alvará que equivale ao alvará de funcionamento, tudo de forma instantânea, gerando um documento único chamado Certificado da Condição de Microempreendedor Individual – CCMEI. O processo de formalização não tem nenhum custo associado. No entanto, após a formalização, o MEI passa a recolher mensalmente os seguintes valores a partir de maio de 2023: R$ 66,00 para a Previdência Social (correspondente a 5% do salário-mínimo reajustado anualmente); R$ 1,00 fixo por mês para o Estado (ICMS) se a atividade for comércio ou indústria; e R$ 5,00 fixos por mês para o Município (ISS) se a atividade for de prestação de serviços. Esses valores são pagos por meio de um único documento chamado DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional), conforme estabelecido na Lei Complementar n. 123/2006. No Quadro 1, é possível observar os valores a serem recolhidos para cada atividade no ano de 2023. Quadro 1 – DAS MEI 2023 Atividade INSS ISS e ICMS TOTAL Comércio e indústria R$ 66,00 R$ 1,00 R$ 67,00 Serviços R$ 66,00 R$ 5,00 R$ 71,00 Comércio/indústria e serviços R$ 66,00 R$ 6,00 R$ 72,00 Fonte: Lolatto, 2023. Assim, mesmo que o MEI não tenha faturamento mensal, ele deve recolher os valores fixos mensais informados no Quadro 1 aos cofres públicos. O DAS é emitido pelo Portal do Empreendedor ou pelo aplicativo do MEI. Em relação aos aspectos fiscais, o MEI está dispensado de emitir nota fiscal para consumidores pessoa física (CPF), mas é obrigado a emitir nota fiscal quando vender para destinatários pessoa jurídica (CNPJ). Saiba mais Outra obrigação fiscal do MEI é a declaração anual, que pode ser entregue pelo próprio MEI no Portal do Empreendedor: 5 DECLARAÇÃO Anual de Faturamento – DASN. Portal do Empreendedor, S.d. Disponível em: <https://www.gov.br/empresas-e- negocios/pt-br/empreendedor/servicos-para-mei/declaracao-anual-de- faturamento>. Acesso em: 29 jun. 2023. É importante destacar que o MEI (pessoa jurídica) e o empreendedor (pessoa física) são pessoas distintas e devem enviar a declaração nos prazos estabelecidos. A distribuição de lucros da pessoa jurídica para a pessoa física segue a mesma regra aplicada às empresas optantes pelo lucro presumido, conforme disposto na Lei n. 9.249/1995 (art. 15) e Lei n. 9.430/1996 (art. 1º e 25, Inciso I). Vamos considerar a seguinte situação: um MEI obteve uma receita de R$ 80.000,00 em suas atividades comerciais, e suas despesas operacionais totalizaram R$ 20.000,00, resultando em um lucro de R$ 60.000,00. Como o MEI não realiza escrituração contábil, é necessário calcular o lucro que pode ser distribuído de forma isenta do imposto sobre a renda. Para isso, devemos multiplicar a receita bruta anual da atividade pelo percentual de presunção do lucro presumido, que é de 8% para a atividade comercial. Assim, temos R$ 80.000,00 x 8% = R$ 6.400,00. Caso o MEI opte por apresentar a Declaração de Ajuste Anual (embora não seja obrigatório apenas com esses rendimentos), ele deverá informar o valor de R$ 6.400,00 como rendimentos isentos e não tributáveis. Em relação às obrigações contábeis, o MEI não é obrigado a realizar a contabilidade formal, como o livro diário, o livro razão e o livro caixa, conforme determina o Código Civil, art. 1.179, parágrafo 2º (regulação contábil e tributária) (Brasil, 2002). No entanto, o empreendedor tem a obrigação tributária de registrar mensalmente o total de suas receitas em um formulário simplificado, de acordo com o Anexo XII da Resolução CGSN 140/2018 (Brasil, 2018). Saiba mais O formulário está disponível no Portal do Empreendedor: RELATÓRIO Mensal de Receitas Brutas. Portal do Empreendedor, S.d. Disponível em: <https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt- br/empreendedor/servicos-para-mei/relatorio-mensal>. Acesso em: 29 jun. 2023. Caso o empreendedor (pessoa física) opte por contratar um profissional contábil para manter a contabilidade do MEI (pessoa jurídica) em ordem, 6 gerando os livros comerciais devidamente registrados no órgão competente, assim como ocorre com as demais empresas optantes por outros regimes tributários (RIR/2018, art. 35 inciso IV), a distribuição de lucros para oempreendedor será realizada de forma isenta e sem qualquer imposto adicional, conforme previsto na Lei Complementar n. 123/2006, art. 14 (Brasil, 2006), e na Resolução CGSN n. 140/2018, art. 145, parágrafo 3º (Brasil, 2018). Além disso, uma contabilidade adequada proporciona uma gestão financeira de qualidade, ou seja, o MEI pode acompanhar de perto seus resultados, identificar oportunidades de melhorias e otimizar o desempenho financeiro da organização. Dentre as vantagens do MEI, destacam-se a facilidade no processo de abertura da empresa, com menos burocracia e custos reduzidos; o custo mensal fixo e simplificado da tributação; a declaração anual simplificada, o que diminui a carga de trabalho contábil; a cobertura previdenciária do INSS, que oferece benefícios como aposentadoria, auxílio doença, auxílio maternidade, auxílio reclusão para o empreendedor (pessoa física) e pensão por morte para a família; a possibilidade de contratar um empregado para auxiliar no crescimento do negócio; o acesso facilitado a crédito e linhas de financiamento; além da dispensa da obrigatoriedade de contabilidade para o MEI (pessoa jurídica) e emissão de nota fiscal em algumas situações. No entanto, apesar das diversas vantagens, o MEI também apresenta algumas desvantagens. O faturamento é limitado a R$ 81.000,00 por ano, o que pode restringir o crescimento do negócio. Caso o valor do faturamento anual ultrapasse o limite em até 20%, atingindo R$ 97.200,00 de faturamento no ano, o MEI deverá fazer a transição de sua condição de MEI para uma Microempresa (ME), cujo limite de faturamento anual é de até R$ 360.000,00. Além da mudança de categoria, será necessário efetuar o recolhimento do valor excedente por meio de um DAS complementar, emitido na Declaração Anual do Simples Nacional do MEI (DASN-SIMEI). Se o MEI ultrapassar o limite em mais de 20%, alcançando um valor superior a R$ 97.200,00, ocorrerá automaticamente a exclusão da categoria, e será realizada a cobrança retroativa de impostos sobre o valor total faturado durante o ano, com a aplicação das alíquotas de uma microempresa, acrescido de juros e multa (Lei Complementar n. 123/2006, art. 18-A, parágrafo 7º, inciso III). Outra desvantagem em ser um MEI envolve o limite de contratação de funcionários, sendo permitido apenas um empregado. Ainda, a linha de crédito 7 disponível para o MEI também pode ser reduzida em comparação a outras categorias de empresa, o que pode dificultar o acesso a financiamentos. Outro ponto a ser considerado é que, se a pessoa física (CPF) que tiver MEI também estiver atuando profissionalmente em regime CLT for dispensado, ele não terá direito ao seguro-desemprego, uma vez que o governo considera que o MEI possui outra fonte de renda. Com suas vantagens e desvantagens, o MEI é uma oportunidade para que os empreendedores tenham um respaldo social. Na sequência, vamos conhecer as obrigações contábeis e tributárias para as microempresas, outro enquadramento de empresa. 1.2 Obrigações contábeis e tributárias para ME Assim como o MEI, a ME também segue as regras da Lei Complementar n. 123/2006 em virtude do enquadramento por porte, porém possui obrigações contábeis e tributárias diferentes. Mas qual é a principal diferença entre o MEI e a ME? O MEI é aquele que tem uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 81.000,00, enquanto a ME é aquela com uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360.000,00. Enquanto o MEI recolhe um valor fixo mensal, a ME pode optar por diferentes regimes tributários, como o Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real, dependendo do resultado do planejamento tributário. As obrigações tributárias estão diretamente relacionadas ao regime de tributação. Vamos analisar, inicialmente, as obrigações tributárias principais (arrecadação) das microempresas optantes pelo Simples Nacional. No Simples Nacional, o contribuinte (ME) deve recolher mensalmente, em um único Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), os seguintes tributos: Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep), Contribuição Previdenciária Patronal (CPP), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS). O valor arrecadado mensalmente pelo Simples Nacional será determinado mediante aplicação das alíquotas efetivas, calculadas com base 8 nas alíquotas nominais constantes das tabelas dos Anexos I a V desta Lei Complementar n. 123/2006. Vamos supor que uma empresa comercial obtenha mensalmente receita bruta igual a R$ 130.000,00. Você pode visualizar a apuração da alíquota efetiva e do DAS no Quadro 2. Quadro 2 – Exemplo de apuração do Simples Nacional – Comércio Faturamento mensal R$ 130.000,00 Receita bruta acumulada 12 meses R$ 1.560.000,00 Anexo I – alíquota nominal 10,7% Valor a deduzir R$ 22.500,00 Alíquota efetiva (1.560.000,00 𝑥 10,7%) − 22.500,00 1.560.000,00 = 166.920 1.560.000.00 = 0,0926 𝑥 100 = 9,26% Valor a pagar no DAS (R$ 130.000,00 x 9,26%) R$ 12.035,00 Fonte: Lolatto, 2023. Vamos considerar o caso em que a mesma empresa optou pelo regime tributário do Lucro Presumido. De acordo com a Lei n. 12.814, de 16 de maio de 2013, ela pode escolher esse regime, uma vez que o limite de receita bruta total anual é de R$ 78.000.000,00 ou R$ 6.500.000,00 multiplicado pelo número de meses de atividade do ano-calendário anterior (Brasil, 2013). Uma característica principal desse regime é a presunção da base de cálculo do IRPJ e CSLL, que leva em consideração a atividade exercida pela empresa, conforme previsto no art. 592 do Regulamento do Imposto de Renda de 2018 (RIR/2018) e no art. 22 da Lei n. 10.684, de 30 de maio de 2003. O recolhimento é feito trimestralmente e o pagamento da primeira parcela dos tributos é considerado pelo Fisco como a escolha pelo Lucro Presumido. A apuração do ICMS ocorre mensalmente pelo regime não cumulativo, de acordo com a legislação de cada Estado. A apuração do PIS/Pasep e da Cofins é feita pelo regime cumulativo, aplicando-se as alíquotas de 0,65% e 3%, respectivamente, sobre a receita bruta mensal. No regime tributário do Lucro Real, a base de cálculo para apuração do IRPJ e da CSLL é o lucro real, ou seja, o lucro contábil ajustado pelas adições e exclusões definidas no RIR/2018. Também é possível realizar a compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores, limitado a 30% do lucro real antes da compensação. A legislação permite apurar o lucro real 9 trimestralmente ou anualmente. O ICMS, PIS/Pasep e Cofins devem ser apurados mensalmente pelo regime não cumulativo. As empresas que faturarem mais que R$ 78.000.000,00 estão automaticamente obrigadas a apuração pelo Lucro Real, conforme disposto no art. 257 do RIR/2018, sendo facultativo para as demais empresas. Assim, observa-se que o MEI realmente possui um ônus tributário menor em relação às empresas que optam pelo regime tributário do Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Os únicos tipos de empresas que podem aderir ao Simples Nacional são as MEs e EPPs, porém ME e EPP podem optar pelo Lucro Presumido ou pelo Lucro Real. As obrigações tributárias acessórias variam em função do regime tributário e da atividade desenvolvida pela empresa. Assim, o profissional contábil deve analisar a legislação vigente para cumprir com essas obrigações. De acordo com a Lei das Sociedades por Ações (Lei das S.A.), Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e suas alterações posteriores, no art. 176, é estabelecido que as empresas, com exceção do MEI, são obrigadas a apresentar as seguintesdemonstrações contábeis ao fim de cada exercício social: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA); c. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Se companhia aberta, Demonstração do Valor Adicionado (DVA); f. Notas Explicativas (NE) (Brasil, 1976). A Lei das S.A., art. 176, parágrafo 6o, ainda determina que a empresa de capital fechado, cujo patrimônio líquido na data do balanço seja inferior a R$ 2.000.000,00, não terá a obrigação de elaborar e publicar a demonstração dos fluxos de caixa (Brasil, 1976). Cada demonstração possui normas específicas para sua elaboração. Agora vamos estudar as obrigações contábeis e tributárias para as PMEs. 1.3 Obrigações contábeis e tributárias para PMES As Empresas de Pequeno Porte (EPP) são aquelas que auferem receita bruta anual maior a R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00. Considerando essa faixa de faturamento anual (receita bruta anual), elas se 10 enquadram nas regras dispostas na Lei Complementar n. 123/2006 e podem optar pelo regime tributário do Simples Nacional ou optar pelos regimes tributários do Lucro Presumido (Lei n. 12.814/2013) e Lucro Real (RIR/2018). Em contrapartida, as médias empresas não se enquadram nas regras estabelecidas pela Lei Complementar n. 123/2006, pois o faturamento bruto anual dessas empresas é maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00. Desta forma, elas só podem escolher entre o Lucro Presumido e o Lucro Real. A lógica de tributação (obrigações principais) das PMEs em relação ao regime tributário é a mesma lógica das microempresas. No regime tributário do Simples Nacional, o valor arrecadado mensalmente será determinado em função da aplicação das alíquotas efetivas, calculadas com base nas alíquotas nominais constantes das tabelas dos Anexos I a V desta Lei Complementar 123/2006. No Lucro Presumido, a base de cálculo do IRPJ e CSLL é presumida de acordo com a atividade exercida pela empresa. A apuração do ICMS ocorre mensalmente pelo regime não cumulativo e em conformidade com a legislação de cada Estado. A apuração do PIS/Pasep e da Cofins se dá pelo regime cumulativo, aplicando-se as alíquotas de 0,65% e 3%, respectivamente, sobre a receita bruta mensal. No regime tributário do Lucro Real, a base de cálculo para apuração do IRPJ e da CSLL é o lucro real, ou seja, o lucro contábil ajustado pelas adições e exclusões definidas no RIR/2018, sendo possível realizar a compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores, limitado a 30% do lucro real antes da compensação. A legislação permite apurar o lucro real trimestralmente ou anualmente. O ICMS, PIS/PASEP e Cofins devem ser apurados mensalmente pelo regime não cumulativo. As obrigações acessórias (declarações) das empresas podem variar de acordo com o regime tributário e a atividade desenvolvida pela empresa. Assim, as empresas devem cumprir as legislações vigentes. As demonstrações contábeis obrigatórias para as PMEs, assim como para as ME, estão relacionadas na Lei n. 6.404/76, art. 176 (Brasil, 1976). As regras para elaboração das demonstrações contábeis podem ser encontradas no CPC PME aderida pelo Conselho Federal de Contabilidade mediante divulgação da NBC TG 1000 (R1) (Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral 1000 (Revisão 1)). Enquanto a NBC TG 1000 (R1) equivale ao CPC PME, que é o 11 conjunto de normas contábeis aplicadas as médias empresas, a NBC TG 1001 é destinada para as pequenas empresas e a NBC TG 1002 é destinada para as microentidades. Agora vamos estudar com mais detalhes a Lei Complementar n. 123/2006, que trata das questões tributárias e societárias das MPEs, e as normas técnicas de contabilidade NBCs 1001 e 1002 que estabelecem os critérios e procedimentos contábeis para essas empresas. TEMA 2 – LC 123 – REGRAS SOCIETÁRIAS PARA ME A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, também conhecida como Estatuto Nacional das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, foi estabelecida pela Lei Complementar n. 123/2006, ou LC 123/2006. Essa legislação definiu normas gerais, tanto societárias quanto tributárias, que visam proporcionar tratamento diferenciado e favorecido às Microempresas (ME) e às Empresas de Pequeno Porte (EPP) em âmbito federal, estadual, distrital e municipal, em conformidade com os arts. 146, 170 e 179 da Constituição Federal (Lemes Jr.; Pisa, 2019). De acordo com Lemes Jr. e Pisa (2019), a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas trouxe diversos benefícios, como a unificação do regime de tributação e simplificação das obrigações fiscais acessórias, redução do ônus tributário em receitas de exportação e substituição tributária, desobrigação de certas obrigações trabalhistas e previdenciárias, facilidade no processo de abertura, alteração e encerramento de MPEs, simplificação do acesso ao crédito e mercado, prioridade nas compras públicas, incentivo à inovação tecnológica, estímulo ao associativismo e consórcios, regulamentação do pequeno empresário, parcelamento de dívidas tributárias para enquadramento no Simples Nacional, entre outros benefícios. Dessa forma, a Lei Geral das MPEs passou a contribuir efetivamente com a construção de um ambiente sustentável para o desenvolvimento e crescimento dos pequenos negócios. A categoria de Microempresário Individual (MEI), que não se enquadra como ME ou EPP, foi criada com base na alteração da LC 123/2006 realizada por meio da Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008. O MEI possui benefícios mais amplos que as MPEs, entre os quais a garantia de que todos os custos relacionados à abertura, alvará, funcionamento, alterações, entre outros, estão reduzidos a zero. 12 Mas quais são as regras societárias relativas às microempresas dispostas na LC n. 123/2006? A Lei Complementar n. 123/2006, em seu art. 3º, parágrafo 4º, estabelece algumas regras e limites no âmbito societário para as microempresas e empresas de pequeno porte do Simples Nacional, como descrito a seguir: 1. Não pode ter participação de outras empresas em seu capital; 2. Não pode ter sede no exterior ou filial, sucursal, agência ou representação no país; 3. Sócio (pessoa física) pode participar do capital de outras empresas do Simples Nacional desde que o faturamento bruto anual não ultrapasse R$ 4.800.000,00; 4. Sócio (pessoa física) com até 10% de participação em empresa fora do Simples Nacional não tem o faturamento somado como critério de impedimento, mas acima de 10% é somado e não pode ultrapassar R$ 4.800.000,00; 5. Sócio ou titular (pessoa física) que atuar como administrador em outra empresa terá a receita bruta global somada, não podendo ultrapassar R$ 4.800.000,00; 6. Empresa constituída como cooperativa, exceto cooperativas de consumo, não pode aderir ao Simples Nacional; 7. A empresa do Simples Nacional não pode ser sócia do capital de outra pessoa jurídica; 8. Empresas que desenvolvam atividades específicas, como instituições financeiras, não podem fazer parte do Simples Nacional; 9. Empresas que tenham realizado cisão, fusão ou incorporação nos últimos cinco anos não podem fazer parte do Simples Nacional; 10. Sociedades por ações não podem aderir ao Simples Nacional; 11. Sócio ou titular não pode ter relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade com o contratante do serviço, como no caso de pejotização (Brasil, 2006). Considerando os benefícios de ser enquadrado no Simples Nacional, é fundamental compreender as regras societárias. A seguir, conheceremos as regras tributárias aplicáveis às empresas de pequeno porte que possuem um tratamento jurídico diferenciado previsto na LC n. 123/2006. 13 TEMA 3 – LC 123 - REGRAS TRIBUTÁRIAS PARA EPP A principal diferença entre as ME e EPP compreendeo limite máximo que cada uma delas pode faturar anualmente. Segundo a LC n. 123/2006, uma ME pode faturar até R$ 360.000,00 por ano, enquanto uma EPP deve ter um faturamento anual entre R$ 360.000,00 e R$ 4.800.000,00. O faturamento bruto ou receita bruta corresponde ao valor total obtido pela empresa com a venda de bens e serviços, antes dos descontos referentes a despesas e tributos. As MEs e as EPPs que se enquadram nesses limites podem aderir a um a um regime tributário simplificado, denominado de Simples Nacional, que é um regime exclusivo para MEs e EPPs. O cálculo do tributo a pagar mensalmente é realizado com base no faturamento bruto da empresa por meio do DAS, conforme estudado anteriormente. A adesão ao Simples Nacional é facultativa, visto que as MEs e EPPs também podem optar pelo Lucro Presumido ou Lucro Real. No Lucro Presumido, o cálculo do IRPJ e da CSLL é feito com base no lucro presumido, ou seja, aplica- se percentuais de presunção sobre a receita bruta trimestral. No Lucro Real, o lucro líquido contábil é ajustado a fim de aplicar as alíquotas do IRPJ e da CSLL. A natureza jurídica das MEs e EPPs também é um dos critérios para aderir ao regime tributário do Simples Nacional. Enquanto o porte está associado ao faturamento da empresa, a natureza jurídica define as regras de abertura e direitos dos sócios. A LC n. 123/2006, art. 3º, determina que, para se enquadrar no Simples Nacional, as MEs e as EPPs devem ter natureza jurídica de Sociedade Limitada, Empresário Individual ou Sociedade Simples (Brasil, 2006). Mas o que quer dizer cada uma dessas naturezas jurídicas? A Sociedade Limitada é uma forma de sociedade contratual que pode ser de pessoas ou de capital, conforme definido no contrato social. O contrato social de uma Sociedade Limitada de pessoas inclui cláusulas de controle para a entrada de terceiros estranhos à sociedade, por exemplo, condicionar a cessão de cotas sociais à aprovação dos demais cotistas ou proibir a sucessão dos herdeiros por morte de um sócio. Se o contrato social não estabelecer restrições à entrada de terceiros, seja por sucessão ou cessão de cotas, então a Sociedade Limitada será considerada de capital (Vido, 2022, p. 85). 14 O Empresário Individual é uma pessoa física que exerce uma atividade empresarial sem ter sócios. Nesse caso, o empresário assume o risco total pela atividade exercida, ou seja, não há separação entre o patrimônio empresarial e pessoal. Portanto, em caso de dívidas empresariais ou pessoais, o patrimônio único do empresário pode ser utilizado para responder por tais obrigações (Vido, 2022). A Sociedade Simples é uma forma de sociedade utilizada para atividades que não são consideradas empresariais, como é o caso de sociedades formadas por profissionais intelectuais. Por exemplo, consultórios médicos, escritórios de advocacia e atividades similares podem optar pela constituição de uma Sociedade Simples (Vido, 2022). Diante disso, ao aderir ao Simples Nacional, a empresa deve identificar as tabelas de apuração dos tributos. O Simples Nacional dispõe de cinco anexos diferentes e cada anexo possui tabelas especificas para apuração do DAS. O Anexo I é aplicado na atividade comercial, o Anexo II é utilizado na atividade industrial, o Anexo III é empregado nas receitas de locação de bens móveis e de prestação de serviços não relacionados no parágrafo 5º-C do art. 18 da LC 123/2006, o Anexo IV é aplicado nas receitas decorrentes da prestação de serviços relacionados no parágrafo 5º-C do art. 18 da LC 123/2006 e o Anexo V é empregado nas receitas decorrentes da prestação de serviços relacionados no parágrafo 5º-I do art. 18 da LC 123/2006 (Brasil, 2006). Agora que compreendemos o aspecto tributário das micro e pequenas empresas com mais profundidade, vamos conhecer os aspectos contábeis. As NBCs TG 1001 e 1002 são as normas destinadas para as microentidades e pequenas empresas. TEMA 4 – NBC TG 1002 – REGRAS CONTÁBEIS PARA ME A NBC TG 1002 entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2023, revogando a ITG 1000. Essa norma contábil é aplicada às microentidades. De acordo com a norma, as microentidades são aquelas empresas com finalidade de lucros, que possuem receita bruta anual de até R$ 4.800.000,00. Para o Conselho Federal de Contabilidade, as microentidades compreendem as microempresas e empresas de pequeno porte descritas na legislação fiscal. As microentidades que ultrapassarem o limite de receita bruta anual de R$ 15 4.800.000,00 por dois anos seguidos passarão, obrigatoriamente, a seguir a NBC TG 1001. De acordo com a NBC TG 1002, as demonstrações contábeis têm o objetivo de apresentar informações sobre a posição financeira (balanço patrimonial) e o desempenho (resultado) da empresa. Para isso, as informações devem atender unicamente às características qualitativas (princípios gerais) da compreensibilidade, relevância (materialidade), confiabilidade, prudência e comparabilidade. As demonstrações contábeis obrigatórias para as microentidades são o Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) e devem ser apresentadas de forma comparativa às demonstrações do ano anterior (NBC TG 1002). É importante observar que as contas são denominadas de forma diferente nas microentidades quando comparadas às pequenas e médias empresas. Por exemplo, nas microentidades temos no BP as contas caixa e bancos e nas pequenas empresas temos disponibilidades. A NBC TG 1002 também trata de mudanças de políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros, tratamento contábil de instrumentos financeiros, estoques, investimentos, imobilizado, intangível, arrendamentos e aluguéis, passivos e provisões, patrimônio líquido, receitas, despesas financeiras, benefícios a empregados e administradores, tributos sobre o lucro e transações em moeda estrangeira. Na sequência, vamos ver algumas particularidades para esse tipo de empresa. Os estoques podem ser avaliados pelo método do Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS), ou pelo método do custo médio ponderado, de forma consistente ao longo do tempo e aplicado da mesma forma para estoques de natureza e uso parecido (NBC TG 1002). O método Último a Entrar, Primeiro a Sair (UEPS) não pode ser utilizado para fins contábeis por essas entidades, diferentemente do que ocorre nas grandes empresas. Para fins tributários, o método UEPS não pode ser aplicado. Os investimentos societários realizados por microentidades devem ser avaliados exclusivamente pelo método de custo, não sendo aplicável o método de equivalência patrimonial. Desta forma, os lucros distribuídos por essas entidades investidas serão reconhecidos como receitas de dividendos ou de lucros recebidos. Se houver uma clara desvalorização do investimento, essa 16 perda deve ser registrada como um débito no resultado (NBC TG 1002). A restrição do uso da equivalência patrimonial é aplicada apenas para as microentidades. O imobilizado nas microentidades inclui propriedade para investimento. A propriedade para investimento consiste na propriedade física, como um terreno que o proprietário mantém para ter rendas e/ou valorizar o capital (NBC TG 1002). Vamos observar que o registro da propriedade para investimento ocorre da mesma forma nas pequenas empresas e difere das médias empresas. Os bens do ativo imobilizado devem ser reconhecidos pelo custo de aquisição e devem ser depreciados pelo método da linha reta, considerando o prazo de vida útil definido pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil. Caso uma alternativa diferente proporcione uma apresentação do balanço e um desempenho substancialmente melhores, ela poderá ser adotada. As partes e peças de substituição nas microentidades devem ser contabilizadascomo despesa do período em que ocorrer a substituição (NBC TG 1002). Vamos ver que o reconhecimento das partes e peças de substituição nas médias empresas recebe um tratamento diferenciado. O ativo intangível deve ser contabilizado pelo custo de aquisição, o qual compreende o preço de compra à vista, os tributos não recuperáveis e demais custos diretamente associados à compra. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento devem ser reconhecidos como despesa. A amortização do ativo intangível deve ocorrer no prazo máximo de 5 anos, sendo iniciada quando o ativo estiver disponível para uso ou quando o projeto estiver concluído (NBC TG 1002). Vamos observar que o prazo limite de amortização nas pequenas empresas difere das microentidades. De acordo com a NBC TG 1002, as contraprestações dos arrendamentos em microentidades são contabilizadas como despesa pelo arrendatário e como receita pelo arrendador, sem distinção entre arrendamento operacional e arrendamento financeiro. O mesmo tratamento é dado às pequenas empresas. As microentidades devem reconhecer as receitas quando transferirem para o comprador os riscos e benefícios do ativo, puderem mensurar a receita com confiabilidade e for provável seu recebimento. No entanto, elas podem, por expediente prático, reconhecer as receitas no momento da emissão da nota fiscal, desde que representem adequadamente a posição patrimonial e o 17 desempenho da empresa (NBC TG 1002). O expediente prático se aplica apenas às microentidades. De acordo com a NBC TG 1002, as microentidades devem apresentar a despesa com tributos sobre o lucro (IRPJ e CSLL) na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) antes do resultado líquido do exercício, caso sejam optantes pelo Lucro Real e Lucro Presumido (CFC, 2021b). Porém, se forem optantes pelo Simples Nacional, os tributos podem ser evidenciados como dedução da receita bruta. Essa opção de reconhecimento dos tributos sobre o lucro pelo Simples Nacional é tratada como expediente prático para as pequenas empresas. As normas de contabilidade aplicadas às microentidades são mais simples do que as normas aplicadas às demais entidades. Em seguida, analisaremos as normas aplicadas às pequenas empresas. TEMA 5 – NBC TG 1001 – REGRAS CONTÁBEIS PARA EPP A NBC TG 1001 entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2023. Essa norma contábil é aplicada às pequenas empresas que antes eram objeto de estudo da NBC TG 1000. De acordo com a norma, as pequenas empresas são aquelas empresas com finalidade de lucros, com receita bruta anual acima de R$ 4.800.000,00 até R$ 78.000.000,00. Na legislação fiscal, as empresas que se encontram dentro dessa faixa de faturamento são classificadas como empresas de médio porte. As empresas de pequeno porte que ultrapassarem o limite da receita bruta anual de R$ 78.000.000,00 por dois anos seguidos passarão, obrigatoriamente, a seguir a NBC TG 1000 (R1). De acordo com a NBC TG 1001 (CFC, 2021a), o limite de R$ 4.800.000,00 está vinculado ao inciso II do art. 3º da Lei Complementar n 123/2006 (Simples Nacional) e o limite de R$ 78.000.000,00 está associado ao art. 13 da Lei n. 9.718/1998 (Lucro Presumido). Se o limite das referidas Leis for alterado, considera-se também alterado o limite da Norma. A NBC TG 1001 não pode ser aplicada de forma parcial, exceto quando não houver tratamento contábil específico para determinada situação. Então, se a NBC TG 1001 não especificar como contabilizar um evento, o profissional contábil deve recorrer à NBC TG 1000 (R1) e se a NBC TG 1000 (R1) não descrever como contabilizar, o profissional contábil deve adotar os CPCs de maneira geral. 18 A NBC TG 1001 não se aplica às entidades que possuem responsabilidade pública de prestação de contas, como é o caso das companhias abertas e das instituições financeiras que precisam prestar contas à Comissão de Valores Mobiliários. O objetivo das demonstrações contábeis, segundo a NBC TG 1001, é apresentar informações sobre a situação patrimonial e financeira (BP), o desempenho (DRE) e os fluxos de caixa da entidade, assim como informações qualitativas em notas explicativas e relatórios adicionais que contribuem para a tomada de decisões dos usuários. Dessa forma, as demonstrações contábeis obrigatórias para as empresas de pequeno porte são as seguintes: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); c. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Notas Explicativas (NE), contendo o resumo das políticas contábeis mais relevantes e outras informações explanatórias. As informações das demonstrações contábeis devem conter as características qualitativas (princípios gerais) da compreensibilidade, relevância (materialidade), confiabilidade, primazia da essência sobre a forma, prudência e comparabilidade. A NBC TG 1001, em relação à NBC TG 1002, introduziu o princípio da primazia da essência sobre a forma, registrando os eventos com base na essência, e não apenas na sua forma legal, por exemplo, na depreciação mensal com base na vida útil real do bem. Agora vamos entender mais algumas particularidades para esse tipo de empresa. A entidade deve apresentar no BP os grupos do ativo circulante e não circulante, passivo circulante e não circulante e patrimônio líquido de forma separada, assim como ocorre com os demais tipos de empresa. No entanto, as contas que compõem o balanço recebem denominações diferentes das microentidades e que devem ser observadas nas normas. Por exemplo, as microentidades devem registrar a conta caixa e bancos no ativo circulante, enquanto as pequenas empresas devem registrar a conta Disponibilidades. Em contrapartida, para as médias empresas, é adotada a denominação Caixa e Equivalentes de Caixa. Na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), as despesas são agrupadas por função e não por natureza, o que significa que a empresa não 19 precisa especificar na demonstração quais são as despesas administrativas (como pessoal, materiais, depreciações, entre outros). A entidade tem a opção de fornecer informações adicionais por meio de notas explicativas (NBC TG 1001). Ainda, nas pequenas empresas, a DRE deve iniciar com a receita líquida, e as informações anteriores (receita bruta e deduções e abatimentos) podem ser explicadas nas notas explicativas, pois essas entidades são obrigadas a elaborar essas notas. Em contrapartida, as microentidades devem começar a DRE com a informação da receita bruta, e a demonstração é apresentada de forma mais detalhada, uma vez que não é obrigatória a elaboração das notas explicativas. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) pode ser substituída pela Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). Isso ocorre quando há apenas movimentação das contas de lucros e prejuízos acumulados, ou seja, quando não há integralização de capital ou movimentação de contas entre reservas (NBC TG 1001). A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) deve ser apresentada pelo método indireto, baseando-se no resultado líquido do período e analisando a movimentação das contas patrimoniais e de resultado. A DFC deve detalhar os fluxos de atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. A NBC TG 1001 especifica, por exemplo, que os juros e dividendos recebidos devem ser lançados nas atividades de investimentos e os juros e dividendos pagos devem ser registros nas atividades de financiamos (CFC, 2021a). Essa é uma diferença importante da NBC TG 1000 (R1), pois as médias empresas devem analisar a característica da operação para realizar o registro. As Notas Explicativas (NEs) devem conter apenas informações relevantes aos usuários e podem ser apresentadas em ordem de maior relevância, maior risco ou agrupadas por função na estrutura patrimonial,
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