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Policy Brief 
Junho de 2022 
 
O Sistema Financeiro Internacional: principais características, 
transformações e desafios 
Arthur Bernardes de Oliveira 
 
Pontos-chaves 
• As transformações dos anos 70 e 80 evoluíram no sentido da consolidação de um novo regime financeiro internacional. As 
novidades deste novo regime ficam evidente como taxas de câmbio flexíveis em vez das taxas fixas e ajustáveis, liberdade sobre 
o movimento de capitais em vez de controle, predomínio do crédito direto securitizado no mercado internacional de capitais em 
vez do crédito intermediado pelo sistema bancário, predomínio dos capitais privados em substituição aos créditos oficiais, de 
governos e organismos internacionais e, por fim, ampla desregulamentação, liberalização e integração dos mercados financeiros, 
a nível nacional e internacional. 
• As crises dos últimos 30 anos foram marcadas principalmente pelo caráter altamente especulativo e contagioso, dado a maior 
integração dos mercados financeiros. A relação entre a desregulamentação dos mercados financeiros e as inovações financeiras, 
tais como securitizações e derivativos, a livre mobilidade de capitais e a volatilidade cambial e de juros foram em grande parte 
responsáveis pelas frequentes crises de balanço de pagamentos das economias emergentes e pelas crises de liquidez e solvência, 
como a crise financeira de 2008. 
• É necessário que o Brasil que o Brasil se atente aos movimentos dos últimos anos. As tendências de regionalização e nacionalismo, 
sobrecarregados pela grande competição de poder, combinados com a digitalização e novas tecnologias, sugerem que é 
improvável que o status quo persista. A incapacidade de mobilizar adequadamente uma resposta econômica coordenada e 
cooperativa pode deixar as principais economias, particularmente a China e a UE, sentindo a urgência de seguir caminhos 
separados. Tal desenvolvimento poderia catalisar esforços, por exemplo, para criar moedas de reserva rivais para desafiar o dólar 
americano e desencadear a fragmentação ou reordenação da hierarquia financeira global. 
 
Introdução
O Sistema Financeiro Internacional atualmente é 
caracterizado por uma elevada integração entre os 
mercados financeiros, englobando tanto países centrais 
quanto periféricos. Esse quadro resultou da passagem de 
uma ordem regulada pelas instituições de Bretton Woods, 
para uma ordem mais liberal consolidada na década de 1990 
e com as vitórias de Ronald Reagan nos Estados Unidos e 
Margaret Thatcher no Reino Unido. 
Esta nova arquitetura do SFI, se deu principalmente com 
a globalização financeira, que proporcionou a maior 
integração entre mercados financeiros e trouxe benefícios 
para a economia mundial, como maior produtividade. No 
entanto, para tal, foram promovidas uma sucessão de 
desregulamentações, na qual os países abandonaram cada 
vez mais as regulamentações sobre o comportamento das 
instituições financeiras. 
À medida que as economias se tornaram mais abertas, as 
nações ficaram mais expostas a choques externos, 
principalmente nações periféricas e emergentes como o 
Brasil, dado os fluxos voláteis de capital que aumentaram o 
potencial de turbulência. Também, dada uma maior 
integração entre as nações, uma crise sistêmica em uma 
passou a facilmente infectar as outras. 
As consequências da liberdade concedida ao setor 
financeiro e a proeminência de sua lógica especulativa são 
objeto de reflexão pela sociedade e alvos de fortes críticas. 
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é responder 
algumas questões importantes. O que é o Sistema Financeiro 
Internacional? Quais foram as principais transformações 
ocorridas nas últimas décadas? Por que elas contribuíram 
para a intensificação da ocorrência de crises financeiras? 
Qual a posição e a situação das economias emergentes, em 
especial a do Brasil? E por fim, o que pode ser concluído e 
feito pelas autoridades brasileiras? 
 
O que é o Sistema Financeiro Internacional? 
Um sistema financeiro refere-se a um conjunto de 
componentes e mecanismos como políticas monetárias, 
seguros e bancos que permitem que as transações 
econômicas ocorram. Existem muitos tipos de sistemas 
financeiros, desde aqueles usados para operar transações 
dentro de uma empresa, até aqueles que facilitam 
transações financeiras internacionais. Sem esses sistemas 
muitas atividades econômicas seriam difíceis, como negociar 
e investir (MANKIW, 2011). 
Hoje, as transações financeiras ocorrem em nível 
internacional, dentro do Sistema Financeiro Internacional 
(SFI). O SFI permite que os mercados financeiros troquem 
informações e impactem uns aos outros 24 horas por dia. À 
medida que a globalização financeira evoluiu, o sistema se 
tornou mais influente nas economias de muitos países. 
A evolução do SFI é marcada pelo estabelecimento de 
bancos centrais, tratados multilaterais e organizações 
intergovernamentais destinadas a melhorar a transparência, 
regulação e eficácia dos mercados internacionais. Em suma, 
pode-se conceituar o SFI como fluxos econômicos de 
moedas, comércios, aplicações, pagamentos, empréstimos 
transfronteiriços, realizados por governos, bancos, 
empresas ou até mesmo pessoas, e cuja principal finalidade 
é facilitar e regulamentar essa cadeia de atividade de 
maneira a maximizar os ganhos. 
 
Quais as principais instituições do SFI? 
Podemos dividir as principais instituições do SFI em duas 
categorias amplas, mercados financeiros e intermediários 
financeiros (MANKIW, 2011): 
 
Mercados financeiros: são o mecanismo que impulsiona as 
transações de quem oferece dinheiro a quem o procura. 
Aqueles que fornecem fundos para empréstimos – 
poupadores – o fazem porque desejam converter parte de 
sua renda atual em poder de compra futuro. Aqueles que 
exigem fundos para empréstimos – tomadores – o fazem 
porque querem investir hoje para ter capital adicional no 
futuro para produzir bens e serviços. Os dois principais 
mercados financeiros são o mercado de títulos e o de ações. 
 
Intermediários financeiros: são os intermediários entre os 
credores e os mutuários de uso final. Cumprem a função de 
alocar os fundos disponíveis com eficiência. Os principais 
intermediários financeiros são os bancos e os fundos 
mútuos. 
 
 Outros atores importantes no SFI: 
1. Corporações, em especial as transnacionais: realizam 
operações para atrair fontes estrangeiras de capital para 
financiar seus investimentos como venda de ações, 
empréstimos e venda de títulos da dívida da empresa no 
mercado internacional. 
2. Bancos centrais, como o Banco Central Europeu e o 
Sistema de Reserva Federal dos EUA, que realizam 
operações de mercado aberto em seus esforços para 
atingir os objetivos da política monetária. Os bancos 
centrais são incluídos nos mercados financeiros globais 
indiretamente por meio de intervenções monetárias. 
3. Instituições financeiras internacionais: como as 
instituições de Bretton Woods, bancos multilaterais de 
desenvolvimento e outras instituições financeiras de 
desenvolvimento fornecem financiamento de 
emergência a países em crise, fornecem ferramentas de 
mitigação de risco para potenciais investidores 
estrangeiros e reúnem capital para financiamento do 
desenvolvimento e iniciativas de redução da pobreza. 
4. Organizações comerciais, como a Organização Mundial 
do Comércio, o Instituto de Finanças Internacionais e a 
Federação Mundial de Bolsas que tentam facilitar o 
comércio, promover padrões e patrocinar pesquisas e 
publicações estatísticas. 
5. Organizações financeiras não bancárias: como grandes 
investidores institucionais – fundos de pensão, fundos 
mútuos, fundos de hedge, etc. – que realizam 
transações com o objetivo de diversificar suas carteiras 
de ativos no exterior. 
Principais canais de movimentação dos fluxos financeiros 
• serviços monetários e de liquidação para negociação de bens e 
serviços; 
• investimento estrangeiro em capital fixo e circulante (IDE); 
• operações com títulos e instrumentos financeirosdiversos; 
• assistência a países em desenvolvimento e contribuições do 
Estado às organizações internacionais 
 
A Globalização Financeira 
A globalização pode ser definida como uma fase em que 
as atividades das empresas, os fluxos comerciais e o sistema 
financeiro adquiriram um caráter mundial. O capitalismo 
contemporâneo tem como característica a intensa 
circulação do capital no qual há uma livre movimentação de 
bens, serviços e, principalmente, capitais (GILPIN, 2001). 
 
Gráfico 1. Fluxos financeiros internacionais (1989-2010) 
 
Fonte: Bank of International Settlements 
 
Como é possível perceber no Gráfico 1, os fluxos 
financeiros internacionais aumentaram significativamente 
nas últimas décadas. Os fluxos financeiros são enormes, 
segundo algumas estimativas as transações diárias dos 
mercados financeiros são 50 vezes maiores do que as 
transações do comércio mundial, isso ocorre graças à 
característica volátil dos capitais financeiros. 
Um dos componentes mais importantes da globalização 
financeira são as inovações financeiras e tecnológicas, com a 
criação de novos instrumentos financeiros como certificados 
de depósito, swaps cambiais, etc. As inovações tecnológicas 
aumentaram a velocidade das transações e seus volumes. 
Inovações no setor de telecomunicações, por exemplo, 
ajudam os bancos a atrair poupanças de todo o mundo e a 
enviar fundos nas condições de maiores lucros e menores 
custos. O uso do SWIFT permite que os bancos de 
investimento concluam transações tanto em títulos quanto 
em moeda estrangeira. 
 
O processo de desregulamentação e de liberalização 
financeira 
A década de 1970 representou a passagem da ordem 
regulada de Bretton Woods para uma ordem mais liberal 
baseada no sistema dólar-flexível com mobilidade de capital. 
A desregulamentação e a liberalização financeira foram 
incitadas principalmente pela estratégia dos Estados Unidos 
de reforçar sua hegemonia mundial. Nesse sentido, uma 
ordem financeira livre se estruturou com o desmonte de 
Bretton Woods (1966-71), ganhando força na década de 
1980 e se consolidando nos anos 1990 (PILHON, 1999). 
As transformações dos anos 70 e 80 evoluíram no sentido 
da consolidação de um novo regime financeiro internacional. 
As novidades deste novo regime ficam evidente: 
 taxas de câmbio flexíveis em vez das taxas fixas e 
ajustáveis, 
 liberdade sobre o movimento de capitais em vez de 
controle, 
 predomínio do crédito direto securitizado no mercado 
internacional de capitais em vez do crédito 
intermediado pelo sistema bancário, 
 predomínio dos capitais privados em substituição aos 
créditos oficiais, de governos e organismos 
internacionais e, por fim, 
 ampla desregulamentação, liberalização e integração 
dos mercados financeiros, a nível nacional e 
internacional. 
O SFI passou a ser regido e pautado pela autorregulação 
dos mercados financeiros. Esta nova arquitetura do SFI foi 
capitaneada por um conjunto de instituições e práticas de 
regulação debilitadas que não exercem controle efetivo 
sobre os fluxos de capitais internacionais. A crescente 
mobilidade internacional do capital acentuou-se e os 
Estados recorreram, cada vez mais, a taxas de câmbio mais 
flexíveis e moedas flutuantes. 
A instabilidade inspirou o surgimento de inovações 
financeiras, como a securitização e os derivativos. Os dois 
passaram a dominar as transações financeiras, fazendo 
emergir novos atores nos mercados financeiros, cujos 
comportamentos comandam os rumos do capitalismo no 
século XXI. As instituições financeiras não bancárias, em 
especial, grandes investidores institucionais – fundos de 
pensão, fundos mútuos, fundos de hedge, etc. – se tornaram 
protagonistas no mundo das finanças. Essas instituições, 
além concorrerem com os bancos como intermediários 
financeiros pelas atividades de securitização, passaram a 
assumir o controle acionário de grandes empresas pela 
intervenção nos mercados de capitais. Operando em várias 
praças financeiras, os fundos mútuos passaram a usar e 
abusar da técnica de alavancagem, tornando o SFI ainda 
mais instável (PLIHON, 1995). 
 
Quadro 1. O processo de liberalização financeira na 
América Latina 
Na América Latina, a cooptação ao movimento de liberalização e 
desregulamentação econômico-financeira se deu via organizações 
internacionais, que atuaram como mecanismos de exercício da 
hegemonia norte-americana. As economias da América Latina, que 
enfrentavam uma severa restrição de crédito externo por causa da 
crise da dívida externa nos anos 1980, foram socorridas nos anos 
1990 pelo Banco Mundial e o FMI, que condicionaram seus créditos 
à adoção de políticas de liberalização e desregulamentação. O 
Consenso de Washington também preconizou que o mercado seria 
o melhor mecanismo para expandir a riqueza, cabendo assim ao 
FMI e ao Banco mundial recomendar disciplina fiscal dos governos; 
privatização; desregulamentar a economia e a legislação 
trabalhista; liberalizar o comércio externo; e eliminar restrições ao 
investimento direto estrangeiro. (COX, 1993). 
 
As Crises Financeiras dos últimos 30 anos 
Uma crise financeira resulta da inabilidade de os 
mercados financeiros funcionarem eficientemente, levando 
a uma acentuada contração na atividade econômica 
(MISHKIN, 1998). Com a desregulamentação dos mercados 
dos países centrais e a incorporação das praças financeiras 
dos países emergentes ao processo de globalização, 
ocorreram uma sucessão de crises financeiras, começando 
pelo crash das bolsas de 1987 e pela eclosão de uma bolha 
especulativa nos mercados imobiliários e de securities em 
1989. Além das crises da década de 1980, várias outras 
ocorreram na década de 1990, como a crise mexicana em 
1994, a crise asiática em 1997, as crises cambiais na Rússia, 
no Brasil e na Argentina em 1998, e a bolha Dotcom, em 
2001. 
As crises dos últimos 30 anos foram marcadas 
principalmente pelo caráter altamente especulativo e 
contagioso, dado a maior integração dos mercados 
financeiros. A relação entre a desregulamentação dos 
mercados financeiros e as inovações financeiras, tais como 
securitizações e derivativos, a livre mobilidade de capitais e 
a volatilidade cambial e de juros foram em grande parte 
responsáveis pelas frequentes crises de balanço de 
pagamentos das economias emergentes e pelas crises de 
liquidez e solvência, como a crise financeira de 2008 (PLIHON, 
1995). 
É fato que os fluxos financeiros internacionais são 
direcionados para as áreas e regiões onde há demanda por 
eles e oportunidades de obter maiores retornos. Nesse 
sentido, fluxos de capital para os mercados emergentes na 
Europa Oriental, Ásia e América Latina são geralmente vistos 
como atraentes em tempos de estabilidade macrofinanceira 
global, como durante parte da década de 1990. No entanto, 
na periferia, as variações dos fluxos de capitais de curto 
prazo se mostraram intensas e suscetíveis a “manias e 
pânicos”, resultando em várias crises financeiras. 
Neste sentido, muitos economistas acreditam que as 
crises são inerentes ao sistema capitalista, que além de 
afetar a confiança dos agentes econômicos sobre a eficiência 
do SFI, trazem grandes prejuízos para as economias 
nacionais e para toda a população. Dessa forma, é 
interessante observar duas das principais crises financeiras 
com suas respectivas particularidades como a crise asiática 
de 1997-98 e a crise financeira de 2007-08. 
 
 A Crise Asiática de 1997-98 
 
“A desordem financeira global do fim dos anos 90 foi o mais recente 
episódio numa série de “manias, pânicos e colisões” financeiras 
que abalaram o capitalismo internacional nos últimos trezentos 
anos.” (GILPIN, 2001) 
A crise asiática foi desencadeada por uma mudança no 
sentimento do mercado que levou a grandes reversões dos 
fluxos de capital. Essa mudança no sentimento do mercado 
se espalhou rapidamente por toda a região e depois para 
outras regiões, tornando o contágio um fator importante no 
desenvolvimento da crise.A crise financeira asiática começou na Tailândia em 1997 
e logo se espalhou pela maior parte do Sudeste Asiático. Os 
efeitos da crise foram sentidos em todo o mundo. Durante o 
boom econômico ocidental do final da década de 1990, os 
investidores começaram a investir pesadamente nas 
economias dos países em desenvolvimento, especialmente 
da Ásia. As economias asiáticas estavam crescendo e 
pareciam o local perfeito para a expansão. 
Muitos desses países, incluindo a Tailândia, atrelaram o 
valor de sua moeda ao valor do dólar americano. Isso tornou 
a taxa de câmbio simples, mas também facilitou bastante 
para esses países tomar dinheiro emprestado do exterior 
porque os credores haviam descontado o risco da taxa de 
câmbio. Durante esse período, o valor do dólar americano 
estava aumentando, o que significava que o valor dessas 
moedas atreladas também estava aumentando. 
Tudo parecia estar indo bem até que os investidores 
começaram a perder a confiança nas economias em que 
haviam investido. A inadimplência na América Latina e o 
surgimento de mão de obra barata e produtos acessíveis da 
China estimularam essa queda na confiança. Uma vez que os 
primeiros investidores começaram a sacar seu dinheiro 
depois que a dívida do governo começou a ser rebaixada, o 
resto dos investidores seguiu o exemplo e exigiram seus 
investimentos de volta. De repente, as empresas e os 
governos perderam seus financiamentos e não conseguiram 
mais cumprir suas obrigações financeiras. 
 
Gráfico 2. Taxa de câmbio das principais moedas 
asiáticas em relação ao dólar 
 
Fonte: Bloomberg, FMI 
 
Como pode ser observado no Gráfico 2, os especuladores 
atingiram a taxa de câmbio entre o dólar americano e as 
moedas asiáticas, conseguindo quebrar a paridade. O baht 
tailandês, bem como as outras moedas asiáticas, 
rapidamente perderam valor, e os governos e empresas se 
viram nadando em dívidas que não podiam pagar. O 
diagnóstico posterior das origens da crise expôs 
consideráveis lacunas de informação entre as autoridades, 
os participantes do mercado financeiro e a comunidade 
internacional, atingidos pelo “pânico financeiro”. 
 
Quadro 2. O Brasil nos anos 90 
Nos anos de 1990, os efeitos negativos que as relações financeiras 
internacionais acarretaram para o desenvolvimento da economia 
brasileira decorreram da má articulação entre fatores negativos 
internos e externos, tais como o regime de finanças especulativas, 
privadas, securitizadas, de curto prazo e concentradas no mercado 
internacional de capitais, a inexistência de um projeto de 
desenvolvimento nacional ou mesmo de qualquer estratégia de 
crescimento. Na ideologia do Plano Real, o desenvolvimento 
nacional deveria ficar a cargo do funcionamento das leis do 
mercado e, para que o mercado possa desempenhar esse papel, o 
governo deveria restringir-se a garantir a estabilidade dos preços, 
privatizar os setores estratégicos e abrir a economia ao comércio e 
às finanças internacionais. Nesse sentido, o que se viu foi o 
aumento da vulnerabilidade da economia brasileira. 
 A crise financeira de 2008-2009 
Na esteira da bolha Dotcom de 2001, o Federal Reserve 
(FED) empurrou as taxas de juros para os níveis mais baixos 
vistos até então na era pós-Bretton Woods em tentativa de 
manter a estabilidade econômica. Combinadas com a 
política federal de incentivo à aquisição de imóveis, essas 
baixas taxas de juros ajudaram a desencadear um forte 
boom nos mercados imobiliário e financeiro. Inovações 
financeiras, como novos tipos de hipotecas subprime, 
permitiram aos mutuários obter empréstimos imobiliários 
generosos com base na expectativa de que as taxas de juros 
permaneceriam baixas e os preços das casas continuariam a 
subir. 
No entanto, de 2004 a 2006, o FED aumentou as taxas de 
juros na tentativa de manter as taxas de inflação estáveis na 
economia. À medida que as taxas de juros aumentavam, o 
fluxo de novos créditos para o setor imobiliário se moderou. 
As taxas de hipotecas ajustáveis existentes e empréstimos 
ainda mais exóticos começaram a ser redefinidas a taxas 
muito mais altas do que muitos esperavam. O resultado foi 
o estouro do que mais tarde foi amplamente reconhecido 
como uma bolha imobiliária. 
Durante o boom imobiliário americano, as instituições 
financeiras começaram a comercializar títulos lastreados em 
hipotecas e produtos derivativos em níveis sem precedentes. 
Quando o mercado imobiliário entrou em colapso em 2007, 
esses títulos caíram vertiginosamente. Os mercados de 
crédito que financiaram a bolha imobiliária rapidamente 
seguiram os preços da habitação em queda quando uma 
crise de crédito começou a se desenrolar em 2007. As coisas 
vieram à tona no ano seguinte com a falência do Lehman 
Brothers, o quarto maior banco de investimento do país, em 
setembro de 2008. O contágio rapidamente se espalhou 
para outras economias ao redor do mundo, principalmente 
na Europa. 
 
Principais elementos da crise de 2007-08 (MANKIW, 2011) 
Grande declínio nos preços de alguns ativos: em 2008 e 2009, esse 
ativo era imobiliário. 
Insolvências generalizadas das instituições financeiras: quando os 
preços das casas caíram, um grande número de proprietários parou 
de pagar seus empréstimos. Essas inadimplências levaram várias 
instituições financeiras à falência. 
Declínio na confiança nas instituições financeiras: à medida que as 
insolvências aumentavam, todas as instituições financeiras se 
tornavam possíveis candidatas à próxima falência. Indivíduos e 
empresas com depósitos não segurados nessas instituições 
sacaram seu dinheiro. 
Crise de crédito: enfrentando uma onda de saques, os bancos 
começaram a vender ativos e cortar novos empréstimos. O sistema 
financeiro tinha dificuldade em desempenhar sua função de 
direcionar os recursos dos poupadores para as mãos dos 
tomadores de empréstimos. 
Desaceleração econômica: com as pessoas incapazes de obter 
financiamento para novos projetos de investimento, a demanda 
geral por bens e serviços diminuiu. Como resultado, a renda 
nacional caiu e o desemprego aumentou. 
Círculo vicioso: a crise econômica reduziu a lucratividade de muitas 
empresas e o valor de muitos ativos. Assim, começamos de novo 
no primeiro passo, e os problemas no sistema financeiro e a crise 
econômica se reforçaram. 
 
Gráfico 3. Queda da média Dow Jones de 
produção industrial em 2008
 
Fonte: Bloomberg 
 
Como pode ser observado no Gráfico 3, a crise 
representou uma queda expressiva na produção econômica, 
levando à falência muitas instituições financeiras nos EUA e 
na Europa. É estimado que as famílias americanas perderam 
cerca de US$ 19 trilhões em patrimônio líquido como 
resultado da queda do mercado de ações, de acordo com o 
Departamento do Tesouro dos EUA. 
Em abril de 2009, o G-20 se reuniu em Londres para 
discutirem ações conjuntas que pudessem combater a crise 
internacional. Além disso, um dos pontos de discussão na 
reunião do G-20 em Londres foi o aumento da representação 
dos países em desenvolvimento no FMI. Nessa reunião todos 
os países emergentes, inclusive Brasil e China, tentaram 
ampliar sua participação na instituição e cobraram do Fundo 
uma maior representatividade (CARDIM CARVALHO, 2012). 
 
Desafios contemporâneos 
De acordo com o Consenso de Washington, o mercado 
seria o melhor mecanismo para expandir a riqueza. 
Entretanto, é fato que tais medidas impuseram aos países da 
América Latina, um maior grau de vulnerabilidade devido a 
maior exposição desses países aos riscos decorrentes da 
liberalização financeira e abertura comercial. 
Com a crise financeira recente, a arquitetura do SFI tem 
sido questionada. O desenho do SFI proporciona uma 
enorme autonomia aos norte-americanos desde Bretton 
Woods até a emergência do novo regime do SFI e os dias 
atuais. O estabelecimento da nova ordem econômico-
financeira possibilitou a reprodução acelerada do capital, no 
entanto, a crise de 2007-8 marca uma perturbação nesta 
dinâmica. As consequênciasda liberdade concedida ao setor 
financeiro e sua lógica especulativa passaram a ser objeto de 
reflexão pela sociedade e alvos fortes de críticas. 
As tendências de regionalização e nacionalismo, 
sobrecarregados pela competição de poder, combinados 
com a digitalização e novas tecnologias, sugerem que é 
improvável que o status quo persista. A incapacidade de 
mobilizar adequadamente uma resposta econômica 
coordenada e cooperativa pode deixar as principais 
economias, particularmente a China e a UE, sentindo a 
urgência de seguir caminhos separados. Tal 
desenvolvimento poderia catalisar esforços para criar 
moedas de reserva rivais para desafiar o dólar americano e 
desencadear a fragmentação ou reordenação da hierarquia 
financeira global. 
Se no passado o FMI e o Banco Mundial contribuíram 
para financiar economias subdesenvolvidas, constata-se que 
hoje o Fundo não tem recursos suficientes para atender às 
necessidades de financiamentos de grandes emergentes, 
tendo os BRICs juntos hoje um peso maior na economia 
mundial do que a comunidade europeia. Por fim, vale 
destacar que os formuladores de políticas de mercados 
emergentes, como o Brasil, enfrentam um desafio de 
precisão, pois devem instituir cuidadosamente políticas 
macroeconômicas sustentáveis durante a sensibilidade do 
mercado, sem provocar os investidores a retirar seu capital 
para mercados mais fortes. 
 
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 
O SFI é um sistema complexo que funciona e muda com 
o clima econômico e político. Apesar da experiência vivida 
na década de 1990 ter feito com que muitos países da 
periferia, inclusive o Brasil, passassem a ser mais cautelosos 
com a liberalização e desregulamentação financeira, ainda é 
preciso ter cautela. Verifica-se que a capacidade de alguns 
Estados de se blindarem a ataques especulativos, depende 
da capacidade destes de elevarem suas autonomias no 
Sistema Internacional, sendo a China um exemplo no início 
da década de 2010 até os dias atuais. 
Nesse sentido, o que os formuladores de políticas 
econômicas do Brasil podem fazer? 
 Participar ativamente dos debates promovidos pelas 
instituições financeiras internacionais e organizações 
comerciais, com o objetivo de defender os interesses 
nacionais e seu projeto de desenvolvimento; 
 Manter um posicionamento estratégico frente ao jogo 
de poder global que tem se verificado nos últimos anos, 
não se esquivando de se posicionar nos debates globais, 
mas também não se comprometendo de forma que 
importantes fontes de investimento não migrem para 
outros mercados; 
 Continuar adotando medidas financeiras disciplinares 
como fiscalização das empresas financeiras, medidas 
em defesa do consumidor, combate a fraudes e controle 
da especulação, a fim de se obter maior prudência nas 
práticas de intermediários financeiros. 
 Manter e promover o acúmulo de reservas 
internacionais, bem como avaliar a diversificação de 
moedas de reserva, com o objetivo de preparar a 
economia para possíveis choques externos inesperados; 
 Regulamentar, principalmente, inovações financeiras 
do campo digital, que têm ganhado força e são possíveis 
fontes de instabilidade, como as criptomoedas, bancos 
digitais, etc.; 
 No campo doméstico, é necessário que o Estado 
garanta crédito à própria produção nacional, o que 
implica não ser refém de investimentos externos 
voláteis, como também garantir que as empresas 
nacionais possam honrar os compromissos com os 
fornecedores; 
 Promover maior coesão interna, a fim de não ceder a 
possíveis pressões por maior desregulamentação por 
parte dos mercados, independente da corrente de 
pensamento do governo, e se posicionar de forma mais 
autônoma no Sistema Internacional quando for preciso. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dow_Jones_Industrial_Average
https://pt.wikipedia.org/wiki/EUA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa
 
REFERÊNCIAS 
 
CARDIM CARVALHO, F. O G-20 e a Reforma do Sistema 
Financeiro Internacional: possibilidades e limitações (Cap. 
1). In: CINTRA, M. A. M.; GOMES, K. R. (Orgs.). As 
Transformações no Sistema Financeiro internacional (Vol. 
1), Brasília: IPEA, 2012. 
 
COX, Robert W. Gramsci, Hegemony and International 
Relations: an essay in method. In: GILL, S. Gramsci, 
Historical Materialism and International Relations. 
Cambridge University Press, Cambridge Studies in 
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EVANS, T. Cinco explicações para a crise financeira 
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