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Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Apg 7-Defeitos congênitos ósseos Objetivos: 1- Revisar a morfofisiologa do quadril; 2. Discutir os principais defeitos congênitos ósseos e as principais patologias osteomusculares da infância; (conceito + MC) 3. Descrever o diagnóstico e tratamento dos principais defeitos congênitos ósseos e das principais patologias osteomusculares da infância. Ossos e Articulações da Cintura Pélvica e Quadril A cintura pélvica é o ponto de ligação do membro inferior com o tronco e o esqueleto axial. A cintura escapular (peitoral) apresenta-se, em contrapartida, ligada ao membro superior. Os ligamentos sacroilíacos (posterior, anterior e interósseo) estão entre os ligamentos mais fortes do corpo humano e suportam o peso completo, fixando o sacro dentro da pelve. A pelve (osso sacro e ossos da coxa) na posição anatômica tem inclinação anterior, de modo que a sínfise púbica e a espinha ilíaca anterossuperior estão no mesmo plano vertical, colocando grande pressão sobre a articulação sacroilíaca e seus ligamentos. De fato, o centro de gravidade do corpo humano na posição bípede encontra-se na linha anterior à vértebra sacral S2. Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Os ossos da pelve incluem: • Ossos do quadril direito e esquerdo (ou pélvicos): a fusão dos três ossos separados denominados ílio, ísquio e púbis, que se juntam no acetábulo (característica em forma de taça da articulação da cabeça do fêmur). • Sacro: a fusão de cinco vértebras sacrais; os dois ossos da pelve articulam-se com a parte posterior do sacro. • Cóccix: a extremidade terminal da coluna vertebral; é um osso remanescente da cauda embrionária. Adicionalmente, a porção proximal do fêmur (osso da coxa) articula-se com a pelve no acetábulo. O quadril é uma articulação sinovial clássica do tipo esférica que fornece maior estabilidade, provida pela anatomia óssea e pelos fortes ligamentos articulares, mas também é uma articulação bastante móvel. Ele pode flexionar, estender, aduzir, abduzir, fazer rotação (medial e lateral) e circundução limitada, embora não tanto quanto a articulação do ombro. Assim como ocorre com as grandes articulações, existe rica vascularização ao redor da articulação do quadril, contribuindo para o suprimento sanguíneo não somente do quadril, mas também dos músculos associados. Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Displasia congênita do quadril “Displasia do desenvolvimento do quadril” (DDQ) é uma expressão genérica que descreve um espectro de anormalidades anatômicas do quadril, as quais podem ser congênitas ou de desenvolvimento após o nascimento. A DDQ manifesta-se de várias formas, dependendo do grau de deslocamento, da idade do paciente no diagnóstico e no tratamento ou, ainda, da condição do quadril, se é instável, displásico, subluxado ou luxado. A displasia implica progressiva deformidade do quadril, em que o fêmur proximal, o acetábulo e a cápsula são defeituosos. A luxação da cabeça do fêmur pode ocorrer no útero (fetal ou pré-natal), no nascimento (perinatal) ou depois dele (pós- natal). Os achados clínicos e radiográficos, assim como as modificações patológicas, dependem do tempo de deslocamento. A luxação do quadril é dividida em três grandes categorias: a teratológica, que ocorre antes do nascimento e envolve graves deformidades do acetábulo, da cápsula e do fêmur proximal, associada a outras malformações, como mielomeningocele, artrogripose múltipla congênita, agenesia lombossacral e anomalias cromossômicas; a neurológica, em decorrência dos desequilíbrios musculares pós-natais, como na paralisia cerebral; e a típica. ETIOLOGIA As causas da DDQ são multifatoriais, mas as mais importantes são hiperlassidão ligamentar, excessiva anteversão femoral, anteversão e/ou deficiência acetabular e má posição intrauterina. Em recém-nascidos, a suspeita de DDQ costuma ser alta nas seguintes situações: a) existir história familiar; b) ocorrer oligoidrâmnios; c) for o primeiro filho e do sexo feminino (meninas têm incidência maior do que meninos, em proporção de 8:1); d) apresentar torcicolo, plagiocefalia, pé metatarso varo ou calcâneo-valgo, contratura em extensão dos joelhos ou outras deformidades; e) tiver apresentação pélvica (aumenta a probabilidade de luxação em mais de 14 vezes no lactente a termo) A flexão do quadril, durante os últimos meses de gestação, nas posições pélvica ou cefálica, aliada à frouxidão ligamentar, pode evoluir para displasia residual ou subluxação, mostrando que essa posição é importante como causa de displasia do desenvolvimento do quadril. Na posição pélvica, o fêmur do feto em flexão e rotação externa pode ser forçado para fora do acetábulo, predispondo a criança a nascer com o quadril instável, subluxado ou luxado. O quadril do neonato é uma articulação relativamente instável porque a musculatura não está desenvolvida, as superfícies cartilaginosas são deformáveis com facilidade e os ligamentos são frouxos. É possível haver posicionamento exagerado em flexão aguda e adução do quadril na Bruna Melnik Bellandi – 5º Período vida intrauterina, sobretudo em fetos com apresentação de nádegas. Essa situação pode causar estiramento excessivo da cápsula posterior do quadril, o que deixa a articulação instável após o parto. A frouxidão pode refletir a história familiar ou a presença do hormônio materno relaxina na circulação fetal. Na instabilidade, o quadril está contido e reduzido, mas lasso, instável e, por conseguinte, passível de luxação, em decorrência da frouxidão capsuloligamentar. Pode haver displasia concomitante. Na displasia, ocorre desenvolvimento inadequado da articulação do quadril, incluindo o acetábulo, a cabeça femoral ou ambos. No recém-nascido, a displasia, sem instabilidade ou luxação, é assintomática, e o exame físico é normal. O diagnóstico é fortuito e possível apenas por ultrassonografia. Quando tal condição vem acompanhada de instabilidade ou luxação, as manobras de Barlow confirmam o diagnóstico na avaliação por imagem. Por essa razão, o diagnóstico isolado costuma ser estabelecido muito tarde, quando a evolução alcança subluxação e luxação, com sinais clínicos mais evidentes na criança maior, como a limitação da abdu-ção, o sinal de Galeazzi e o sinal de Trendelenburg na idade da marcha. Em certos casos, o diagnóstico pode ser ainda mais tardio, aparecendo na idade adulta sob a forma de dor em consequência de artrose precoce do quadril. Conforme Barlow, 60% dos casos de instabilidade isolada se estabilizam na primeira semana e 90% até o terceiro mês de vida. Os outros 10% tendem a evoluir para subluxação e luxação. Na experiência do autor, isso ocorre na instabilidade com displasia não diagnosticada e/ou não tratada de modo precoce. Na subluxação, existe perda parcial do contato articular. É o termo usado para descrever achados radiográficos que indicam hipoplasia do acetábulo e deslocamento parcial da cabeça do fêmur em relação ao seu encaixe no acetábulo. Na luxação, há perda total do contato articular entre a cabeça femoral e o acetábulo. Ambos os casos vêm acompanhados de maior ou menor displasia. Diagnóstico Exame físico Nos recém‐nascidos e lactentes, a atitude em flexão dos quadris é fisiológica. A flexão ao nascimento é de cerca de 28°, diminuindo progressivamente até os 6 meses. Quando o membro assume uma atitude em extensão, deve‐se suspeitar de uma luxação do quadril. A assimetria das pregas glúteas, denominada sinal de Peter Bade, é outro sinal indire‐ to da mesma afecção; entretanto, 30% das crianças normaispodem apresentar essa assimetria. Na palpação, observa‐se a altura do trocanter maior, que deve ter sua extremidade proximal na mesma linha do tubérculo púbico e estar orientado lateralmente. Quando ele se encontra ascendido, pode‐se suspeitar de DDQ ou coxa vara. Portanto, é muito importante que se realizem, ainda no berçário, as amplamente conhecidas manobras que testam a instabilidade, devendo ser rotineiramente pesquisadas em todos os recém‐nascidos. Na manobra de Ortolani, os membros inferiores são segurados com as palmas das mãos, posicionando‐se o polegar na face medial das coxas e o indicador e o dedo médio no trocanter maior. A coxa examinada é abduzida e sente‐se uma pequena resistência do encontro da cabeça fe‐ moral contra o limbus; nesse momento, o terceiro dedo ou o indicador empurra o trocanter maior, reduzindo a cabeça femoral no acetábulo e Bruna Melnik Bellandi – 5º Período produzindo o sinal do “clique”. A coxa é, então, aduzida e uma força na direção lateral é realizada com o polegar; a cabeça é novamente luxada e percebe‐se o sinal do“clique”. A manobra de Barlow é classicamente descrita em dois tempos, no entanto, em geral utiliza‐se a segunda fase para perceber se a cabeça femoral é ou não luxável. Sendo assim, a criança é posicionada na mesa de exame em decúbito dorsal com os membros inferiores em direção ao examinador, os quadris curvados a 90° e os joelhos totalmente flexionados. Aplica‐se, então, uma força em direção posterior e lateral com o polegar, sendo possível, desse modo, deslocar ou não a cabeça do fêmur. Com o passar do tempo, a instabilidade não é mais observada ao exame e outros sinais estarão presentes: Sinal de Hart: o paciente é posicionado em decúbito dorsal horizontal (DDH), com os joelhos em flexão máxima e o quadril dobrado a 90°, e realiza‐se a sua adução, para que seja avaliada a contratura em adução dos quadris. Na presença de tensão dos adutores, haverá limitação da adução; Sinal de Nelaton‐Galeazzi: é um sinal indireto de discrepância de membros inferiores à custa do segmento entre o quadril e o joelho. Obtido com o paciente em DDH, com quadris curva‐ dos a 90°, joelhos totalmente flexionados e os calcanhares quase tocando as nádegas. Observa‐se o alinhamento e se há ou não equalização do ápice dos fêmures; se houver, descreve‐se Galeazzi positivo. A manobra de Trendelenburg, positiva quando presente, indica insuficiência do músculo glúteo médio. Pode ser causada por alteração neurológica ou mecânica do músculo e, no caso da luxação, por alteração do braço de alavanca. O paciente, em pé, apoiando‐se apenas no membro a ser examinado, não consegue manter a linha horizontal da pelve; verifica‐se, então, a “queda” da nádega contralateral (inclinação da pelve). Ao andar, o paciente desvia o tronco em direção ao músculo debilitado, em cada fase de apoio. Exames complementares A ultrassonografia é indicada para crianças com sinais clínicos de DDQ e também utilizada como triagem em crianças com fatores de risco para a doença, como apresentação pélvica, história familiar ou deformidades ortopédicas associadas. Após os 4 meses, com a ossificação do núcleo da cabeça femoral, a radiografia simples da bacia é mais facilmente interpretada, sendo possível avaliar a simetria dos núcleos de ossificação das cabeças femorais e sua localização com relação ao acetábulo. Tratamento O suspensório de Pavlik é utilizado em quadris instáveis ou displásicos, podendo ser usado em crianças até os 6 meses de idade. O ideal é que, nas crianças com quadris instáveis, ou seja, luxáveis, ele seja empregado logo nas primeiras semanas de vida, pois, nesses casos, a manutenção da redu‐ ção tende a promover uma rápida estabilização. O método consiste em manter a flexão do quadril em 90° com a ajuda das tiras anteriores e, por meio das tiras posteriores, evitar a adução. O ajuste deve ser periódico, acompanhando o crescimento da criança; posições errôneas podem provocar dano à articula‐ ção ou lesões cutâneas. O médico deve avaliar a melhora do desenvolvimento articular para liberação do aparelho. Em crianças com quadris luxados e irredutíveis e naquelas com mais de 6 meses de vida, o tratamento torna‐se mais complexo, e uma redução sob anestesia torna‐se necessária, podendo ser associada à cirurgia para liberar ou facilitar o pro‐ cedimento. Nesses casos, é necessária a imobilização com aparelho gessado que englobe abdome/pelve e os membros inferiores e que deve ser usado por vários meses. Quando o diagnóstico é tardio, após o início da marcha, geralmente é necessária uma cirurgia mais complexa para reposicionamento da cabeça femoral. Disturbios da coluna vertebral Escoliose A escoliose é definida como uma curvatura lateral maior que 10° da coluna vertebral no plano frontal, mas, na realidade, trata‐se de uma deformidade complexa e sua avaliação deve ser Bruna Melnik Bellandi – 5º Período tridimensional. A escoliose pode ser causada por diversas alterações, porém, a que mais comumente é vista pelo ortopedista é a idiopática do adolescente. O diagnóstico da escoliose é fundamentalmente clínico, e as radiografias devem ser solicitadas para a complementação da avaliação inicial. Tratamento Hipercifose O aumento da cifose torácica pode estar presente nas alterações posturais ou na enfermidade de Schuermann, uma alteração mais complexa que afeta as vértebras de forma acentua‐ da, com um encunhamento anterior. Mais frequentemente, o aumento da cifose dorsal está associado a postura e encurtamento muscular. Assim, nos casos de hipercifose, a recomendação habitual são exercícios posturais de alongamento da musculatura pos‐ terior e fortalecimento abdominal, algo que ioga e Pilates pre‐ conizam e que podem ser bastante úteis para os adolescentes com essa alteração. Lordose Assim como a cifose, a lordose é uma curva normal da coluna vertebral, presente tanto na região cervical como na região lombar, embora esta última localização seja a que mais se rela‐ ciona ao nome. Apenas existe uma hiperlordose quando o ân‐ gulo lombar sacral está acima de 60°. Esse ângulo é medido apenas em uma radiografia na incidência de perfil da coluna, exame que raramente deve ser pedido. Em geral, nas meninas pré‐puberais, há um aumento da lordose associado a um au‐ mento da gordura abdominal. Essa lordose geralmente é retificada com a inclinação anterior do tronco. Caso não ocorra a retificação da lordose, há uma deformidade fixa e que deve ser bem avaliada. Muitas vezes, isso decorre de uma contratura em flexão dos quadris e a lordose aumentada é uma reação compensatória. Em alguns casos, o aumento da lordose está associado a um escorregamento vertebral, quadro chamado de espondilo‐ listese, que raramente pode cursar com dor, pode ser progres‐ sivo e exige um acompanhamento mais rigoroso, embora a criança e o adolescente possam ter uma vida praticamente normal, o que inclui até a prática de atividades esportivas. Infecções osteoarticulares Didaticamente, podem ser divididas em infecções ósseas, conhecidas como osteomielite, e infecções articulares, chamadas de artrite piogênica, artrite séptica ou simplesmente pioartrite. Osteomielite hematogênica aguda A infecção óssea mais comum na criança é a osteomielite hematogênica aguda. Esse tipo de infecção ocorre por via sanguínea e tem início na metáfise óssea. A partir dela, pode ha‐ ver uma disseminação para outros locais do osso ou mesmo para uma articulação adjacente. A infecção tambémpode ocorrer após uma fratura exposta ou após uma cirurgia óssea. Quadro clínico: Sintomas gerais como febre alta, falta de apetite, irritabilidade e queda do estado geral estão presentes. Entretanto, as crianças podem não apresentar febre. Em uma revisão, foi encon‐ trado que 40% dos casos estavam afebris no primeiro exame clínico.A OHA tem um quadro clínico característico de dor localizada na metáfise óssea comprometida. Em geral, a criança pode apontar com o dedo o local da dor. Nas crianças peque‐ nas, percebe‐se a reação de dor ao se palpar a metáfise acometida. Pode haver aumento de Bruna Melnik Bellandi – 5º Período temperatura, edema e eritema no local dependendo do tempo de evolução. Diagnóstico: Hemograma: é caracteristicamente infeccioso, em geral com mais de 12.000 leucócitos. Hemocultura: deve ser realizada, embora sua positividade seja pequena. Quando positiva, auxilia o diagnóstico, a identificação do agente etiológico e a escolha do antibiótico. Proteína C reativa (PCR): a PCR está com valores aumenta‐ dos, característica de um processo infeccioso. É mais sensível e específica que a velocidade de hemossedimentação (VHS) para acompanhar o processo de cura da OHA. Como os valo‐ res da PCR normalizam‐se mais rapidamente, ela é melhor parâmetro de cura da infecção do que a VHS Artrite séptica A artrite séptica ocorre geralmente por via hematogênica, com a infecção instalando‐se inicialmente na membrana sinovial, podendo também se iniciar como osteomielite e subse‐ quente disseminação para a articulação. Isso acontece por‐ que, nas crianças, algumas metáfises são intra‐articulares, por exemplo, fêmur proximal, fíbula distal, rádio proximal e úmero proximal. O quadro clínico é semelhante ao da OHA. A dor na articula‐ ção acometida é importante e existe uma limitação da mobilidade articular. Essa limitação, em geral, é maior na artrite sép‐ tica do que na OHA. Ocorre também um aumento do volume articular, que é mais fácil de identificar nas articulações superficiais. No quadril, que é uma articulação profunda, esse aumento muitas vezes não é identificado. O mesmo ocorre com o aumento de temperatura local e o eritema, que geralmente são mais difíceis de identificar no quadril. A criança apresenta febre alta e queda do estado geral. Mudança de humor, irritabilidade e perda de apetite em geral estão presentes. Lembrar que, no recém‐nascido, esses sinto‐ mas são pouco evidentes. A criança adota uma posição antálgica e evita movimentar o membro acometido. Exames complementares Devem ser realizados os mesmos exames já citados na abordagem à OHA. O hemograma apresenta um aumento dos poli‐ morfonucleares com desvio à esquerda. A VHS e a PCR estão aumentadas. A hemocultura tem uma positividade ao redor de 30%. Tratamento Após o diagnóstico, a drenagem cirúrgica deve ser realizada com urgência para evitar ao máximo as potenciais complicações. Inicia‐se uma antibioticoterapia empírica sistêmica até a identificação correta do agente etiológico com cultura e anti‐ biograma e, a partir daí, com monoterapia específica para a bactéria encontrada. A imobilização com tração ou aparelho gessado no membro acometido ajuda a diminuir a dor no pós‐‐operatório. Fisioterapias passiva e ativa devem ser instituídas assim que possível. Joelho Desvios angulares No plano frontal, a angulação entre o fêmur e a tíbia pode ser considerada normal quando tem um valor entre 5 e 7° de val‐ gismo. Como se sabe, o valor normal não é absoluto, sendo correto afirmar que existe uma faixa normal de angulação nos joelhos. Existem variações individuais, raciais e de acordo com o sexo. Sabe‐se que os orientais têm, predominantemente, os joelhos com uma angulação em varo. O sexo feminino apresenta uma angulação em valgo, nos joelhos, maior que o masculino. Essa diferença anatômica se deve ao fato de que a bacia é mais larga nas mulheres. Definição de valgo e varo: Esses termos ortopédicos podem ser difíceis de memorizar e provocam algumas confusões. “Valgo” é quando o segmento dis‐ tal se afasta da linha média do corpo. “Varo” é quando o segmento distal se aproxima dessa linha média (Portanto, na posição de pé, quando se observa que os tor‐ nozelos ficam afastados ao se juntarem os joelhos, tem‐se uma angulação em valgo ou também chamada de valgismo dos joelhos. De acordo com a definição, o segmento distal, ou seja, a perna, está afastada da linha média do corpo. Um termo coloquial muito utilizado pelas Bruna Melnik Bellandi – 5º Período mães nessa situação de valgismo é o de “joelhos em X”. Quando o paciente, em pé, não consegue juntar os joelhos, pois os tornozelos se encostam antes, tem‐se uma angulação em varo ou um varismo dos joelhos. Desvios rotacionais Os desvios rotacionais dos membros inferiores representam queixa frequente em consultórios de pediatras e ortopedistas. A criança que tem os pés “virados para dentro” ao andar, alteração também chamada de “marcha de periquito”, pode apresentar um problema ortopédico grave ou apenas uma va‐ riação normal própria da idade. Os familiares ficam preocupados com esse tipo de andar e geralmente dizem que a criança cai muito porque, ao correr, os pés batem um contra o outro, desequilibrando‐a e provocando a queda. Pode ocorrer também uma marcha com os pés “virados para fora”. Esse tipo de andar, imortalizado por Chaplin no seu personagem “Carlitos”, é mais raro, porém associado com maior frequência a problemas ortopédicos mais graves, como será comentado a seguir. Representa, às vezes, uma alteração fisiológica própria daquele indivíduo. Tratamento e orientações nos desvios rotacionais Após a identificação do problema e de sua origem no quadril, na perna ou nos pés, é preciso saber orientar os familiares nos casos em que uma correção espontânea é esperada, e solicitar exames complementares ou avaliação do ortopedista pediátri‐ co quando necessário um tratamento especializado. As crianças que têm anteversão de colo femoral, com res‐ pectivo aumento da rotação medial do quadril, requerem orientações no sentido de corrigir a postura de sentar e deitar. A utilização de órteses pode ou não ser necessária para pro‐ porcionar uma correção funcional desse tipo de problema. A recomendação de atividades físicas adequadas também é útil. Os exercícios de postura e a própria conscientização da criança auxiliam a correção. Há tendência à correção espontâ‐ nea desse tipo de marcha ao redor dos 5 ou 6 anos de idade, quando o único problema é a anteversão do colo femoral. Deformidades congênitas dos pés Pé torto congênito (equinocavovaro) A etiologia do PTC é desconhecida e a sua incidência é muito variável. Em São Paulo, foi observada uma incidência de 2,17/1.000 nascidos. Há acometimento bilateral em torno de 50% dos casos. O sexo masculino é mais acometido, em uma proporção aproximada de 2:1. A deformidade é bastante característica e envolve a perna, que apresenta atrofia da panturrilha, e o pé, que está em equino cavo‐varo. O principal componente da deformidade no PTC é a luxação medial do complexo formado pelo navicular, calcâneo e cuboide em relação ao talo. Diagnóstico É possível ter o diagnóstico pré‐natal por meio da ultrassonografia. Contudo, apenas ao nascimento pode‐se fazer efetivamente o diagnóstico pelo exame físico. Não há necessidade de radiografias ou qualquer outro exame complementar. Tratamento Atualmente, tem‐se observado uma mudança importante no modo de tratamento do PTC em virtudeda imensa repercus‐ são mundial obtida pelo método conservador de Ponseti, que tem representado uma revolução no manejo do PTC. É ex‐ tremamente simples, indolor e, quando aplicado corretamente, com o auxílio da amamentação materna, muitas vezes a criança até dorme durante a confecção do gesso corretivo. Esse tratamento permite a correção de 90% dos casos de pé torto idiopático, independentemente de sua gravidade. Tratamento cirúrgico Com o emprego adequado da técnica de Ponseti, Bruna Melnik Bellandi – 5º Período as indicações de cirurgias extensas diminuíram. Mesmo pacientes com pés inveterados têm benefício de manipulação gessada antes de se fazer qualquer procedimento cirúrgico e, algumas vezes, po‐ dem ser totalmente corrigidos. Assim, provavelmente no fu‐ turo serão cada vez mais raras as indicações de liberações ci‐ rúrgicas mais amplas. Dores nos membros inferiores Sinovite transitória do quadril A sinovite transitória do quadril é uma condição inflamatória autolimitada e não específica. É a causa mais frequente de dor no quadril nas crianças com menos de 10 anos, acometendo mais os meninos que as meninas (3:1) e afetando mais o lado direito. É frequentemente precedida por infecção das vias aé‐ reas superiores nos últimos 30 dias, mas não há comprovação de infecção nos dados laboratoriais ou mesmo no líquido sino‐ vial eventualmente aspirado. A dor costuma aparecer subitamente, após atividade física mais intensa. O aumento do volume articular e a distensão capsular desencadeiam a dor, que pode irradiar‐se para a face medial da coxa e do joelho, fazendo a criança claudicar. Pode haver um quadro pré‐febril, mas a criança não fica prostrada e apenas a dor limita a sua atividade. A rotação interna do qua‐ dril e a adução causam aumento súbito da dor e, portanto, es‐ ses movimentos ficam limitados. A atitude antálgica mantém o quadril em um grau variável de flexão. Na investigação complementar, o hemograma e a velocidade de hemossedimentação (VHS) são normais ou discreta‐ mente alterados. A radiografia pode exibir distensão da cápsu‐ la articular, mas o exame mais apropriado é a ultrassonografia, não havendo necessidade de exames mais sofisticados e onerosos. O tratamento consiste de medidas gerais analgésicas e repouso. Doença de LeggCalvéPerthes A doença de Legg‐Calvé‐Perthes é definida como uma necrose avascular do núcleo secundário de ossificação da epífise proximal do fêmur durante o desenvolvimento da criança. Pode ocorrer dos 2 aos 16 anos, mas é mais comum entre 4 e 9 anos. Trata‐se de uma doença autolimitada de causa desconheci‐ da, na qual automaticamente se instala o processo de repara‐ ção, com vasos e tecidos neoformados, que gradativamente substituem o osso morto por osso imaturo e não mineralizado. Durante esse processo, o que se observa na evolução radiográ‐ fica é a substituição gradativa da massa óssea densa (fase de necrose), que vai sendo interpenetrada por um tecido de ra‐ diotransparência aumentada, acinzentada e mais escura, como que tornando a cabeça femoral “pulverizada”, “floculada” e, muitas vezes, com aparência de haver espaços “vazios e sem osso”, que caracterizam o tecido cartilaginoso na fase de reossificação. O quadro clínico inicial pode ser de dor e claudicação relacionadas com atividade física, às vezes confundidas com alguma espécie de trauma. São localizadas na região inguinal ou irradiadas no território sensitivo do nervo obturatório para a face medial da coxa e do joelho. Ao exame clínico articular, há maior ou menor restrição dos movimentos de rotação interna, abdução e flexão. A contratura intensa dos adutores ao movimento de abdução do quadril indica pior prognóstico, assim como a restrição global da mobilidade articular. Também influem no prognóstico da doença a idade de início – quanto menor a idade, maior a possibilida‐ de de remodelação e adaptação –, o sexo e a obesidade. O objetivo principal do tratamento na doença de Legg‐Calvé‐Perthes é obter e manter a centralização do quadril durante o período ativo da doença, por meio de procedimentos cirúrgi‐ cos ou conservadores, estes representados por todo o apare‐ lho que “deixe a criança andar” (aparelhos de descarga), imobilização em aparelhos gessados ou plásticos, ou ainda repouso no leito, com deslocamento em cadeiras de rodas ou com o uso de muletas. Epifisiólise A partir do período pré‐púbere, a queixa de dor na região inguinal ou na face medial da coxa e do joelho, acompanhada de claudicação mal Bruna Melnik Bellandi – 5º Período relacionada com trauma, indica o risco de es‐ corregamento epifisário proximal do fêmur, também conhecido por epifisiólise ou epifisiolistese, caracterizado pelo deslocamento posterior da epífise em relação ao colo do fêmur. A doença incide entre 10 e 16 anos nos meninos e entre 8 e 15 anos nas meninas, em uma proporção de 2 meni‐ nos para cada menina, sendo que o dobro de casos acomete o lado esquerdo, em comparação com o direito. O início da dor pode ser agudo ou insidioso, e ela pode ser localizada no quadril, na região inguinal ou irradiar‐se para a face interna da coxa e do joelho. O paciente pode deambular claudicando com ou sem dor ou estar incapacitado para o apoio e a marcha. Pode haver ainda atitude em flexão e rota‐ ção externa do quadril e diminuição da rotação interna. No exame radiográfico, pode‐se constatar a presença e/ou a gravidade da doença de acordo com o grau de escorregamen‐ to da epífise. Na incidência radiográfica de frente da bacia, no pré‐ deslizamento, observa‐se um alargamento da altura da fise e porose, com o borramento da metáfise do colo; no desli‐ zamento leve, nota‐se uma diminuição da altura no dômus central da fise, quando comparada com a altura do lado nor‐ mal. Na incidência de perfil do quadril, observa‐se o escorregamento posterior da cabeça femoral que, no desliza‐ mento leve, é menor que 1/3 do diâmetro do colo; no desliza‐ mento moderado, é menor que a metade do colo; e no desliza‐ mento grave, ultrapassa a metade da largura do colo. O tratamento da epifisiólise caracteriza uma emergência ortopédica, em razão do risco de progressão da doença, sendo ne‐ cessária a intervenção precoce. O tratamento de eleição é cirúrgico e varia conforme o grau do deslizamento. Referências: Ortopedia e Traumatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Grupo A, 2017. Pediatria, Sociedade Brasileira D. Tratado de Pediatria, Volume 2. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Editora Manole, 2017.
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