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VALORAÇÃO AMBIENTAL DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Relacionar economia com meio ambiente. > Descrever a economia ambiental neoclássica. > Definir economia ecológica e outros enfoques alternativos. Introdução O processo de evolução da sociedade mundial provoca uma série de mudanças na forma como as ciências analisam as variadas áreas. Nota-se que há mudanças ocorrendo em vários setores e que elas se dão de forma natural, sendo incorpora- das ao longo de vários anos, décadas e até séculos. Resta, então, aos profissionais da área de ciências sociais aplicadas, como é o caso das ciências econômicas, assimilarem essas mudanças, bem como passar a refletir sobre esses processos em seus estudos e nos resultados das pesquisas que são desenvolvidas. A questão do meio ambiente e, principalmente, da forma como indivíduos, organizações e governos lidam com ele mudou muito ao longo da história. Pode- -se afirmar que, até meados do século XX, eram poucos os motivos que faziam a sociedade se preocupar com a questão ambiental e da sustentabilidade. Também não parecia haver muita atenção à possibilidade de os recursos se esgotarem. Até parte do século XX, os recursos de origem animal, vegetal ou mineral eram tratados como inesgotáveis. Entretanto, essa realidade mudou à medida que a sociedade como um todo se deu conta de que eles eram finitos e que era necessária uma mudança na forma de pensar e consumir os recursos originados da natureza. Economia e meio ambiente Johny Henrique Magalhães Casado A economia, como principal ciência que estuda a escassez dos recursos, teve um papel fundamental em toda a sua história, para subsidiar o processo de mudança do padrão de pensamento da sociedade acerca do meio ambiente. Portanto, torna- -se cada vez mais importante refletir sobre como ela lida com essa questão sob diferentes aspectos e, principalmente, quando tratamos dos estudos relacionados à gestão ambiental. Neste capítulo, você vai conhecer um pouco mais sobre como a economia e o meio ambiente estão relacionados, descrever a economia ambiental neoclássica e, por fim, ser apresentado aos conceitos que estão relacionados à economia ecológica e aos demais enfoques alternativos. A relação da economia com o meio ambiente A economia pode ser compreendida como uma coleção de arranjos que, por sua vez, podem apresentar-se como tecnológicos, jurídicos ou sociais. Eles servem de base para que os indivíduos, as empresas, os governos e a sociedade aumentem seu bem-estar material. Em suma, a economia possui duas funções econômicas elementares, as quais fazem parte do seu campo de estudo e estão relacionadas com a forma como a sociedade produz e distribui os recursos que são gerados por ela. Em relação à produção, a economia estuda todas as atividades que estão relacionadas à maneira como a sociedade trata os agentes econômicos res- ponsáveis por produzir o conjunto de bens e serviços que são utilizados por indivíduos e organizações. Ressalta-se que a produção somente é possível graças a alguns agregados que atuam conjuntamente com ela. Eles podem ser compreendidos como os meios tecnológicos e administrativos que são utilizados pelos agentes produtivos. Em relação à distribuição, é importante conhecer como tudo que é produzido em termos de mercadorias e serviços é disponibilizado aos seus consumidores. Também é interessante refletir que nem sempre os recursos são entregues diretamente a quem, de fato, fará o seu consumo final. Portanto, todos os agentes que participam da distribuição devem tratar de compreender a sua função durante a distribuição, para que possam desempenhá-la com eficiência e eficácia. Quando tratamos dos estudos e da compreensão que a economia tem sobre a produção e a distribuição, torna-se necessário considerar a reflexão sobre o papel dos ativos naturais no desenvolvimento dessas duas funções. Esses ativos são fornecidos pela natureza e têm, então, como característica o fato de que são extraídos dela e apresentam a condição de ser um recurso natural Economia e meio ambiente2 de origem animal, vegetal ou mineral. Portanto, considerando a essência do ativo natural, ele tem uma grande dificuldade de ser substituído, reutilizado e restaurado na natureza, o que traz uma importante responsabilidade para todos os agentes que fazem a sua extração e que possuem atividades co- merciais ligadas a ele. A economia deve estar atenta a como a sociedade faz uso dos seus recursos naturais e de como esse uso pode ser mais bem elaborado para aproveitar o máximo possível. Ainda, se possível, ver como eles podem ser utilizados de maneira responsável e pensando na sua reposição na mesma qualidade e quantidade extraídas. Segundo Marques e Comune (2001, p. 23), “[…] um princípio básico a ser observado é que o ambiente e o sistema econômico interagem, quer através dos impactos que o sistema econômico provoca no ambiente, quer através do impacto que os recursos naturais causam na economia”. A economia como uma ciência tem a função de buscar formas de estudar o impacto no meio ambiente das atividades de produção e distribuição de- senvolvidas pela sociedade. Portanto, a economia, ao lado da sociedade, tem a função de buscar uma atuação equilibrada das pessoas e das organizações com o meio ambiente, conforme demonstrado na Figura 1, a seguir. Figura 1. Economia × meio ambiente × sociedade: equilíbrio e harmonia. Fonte: Adaptada de Mari C/Shutterstock.com. Economia e meio ambiente 3 A economia deve permitir a toda a sociedade conhecer quais são os im- pactos do consumo dos recursos de origem natural, ou seja, o consumo dos ativos naturais ao longo do tempo: […] um tipo de impacto que um sistema econômico possui sobre a natureza é o uso de matérias-primas para manter o sistema em funcionamento. As atividades de produção e consumo também geram sobras ou produtos residuais, chamados de “resíduos”, que mais cedo ou mais tarde tem que encontrar seu caminho de volta ao mundo natural. Dependendo de como são tratados, esses resíduos podem levar à poluição ou à degradação do ambiente natural (FIELD, FIELD, 2014, p. 36). A maior preocupação da economia com a questão ambiental mudou muito a partir da década de 1960. Isso se deveu a alguns fatores que impactaram muito a forma de as pessoas pensarem o meio ambiente, reconhecendo, cada vez mais, a sua importância para a própria continuidade da existência da humanidade. Nessa década, ocorreram alguns desastres naturais, em parte, pela ação do homem na natureza ou pela sua omissão. O maior foi a contaminação da Baia de Minamata, no Japão. Esse acidente acabou sendo o responsável pelo envenenamento de centenas de pessoas com mercúrio, por meio do consumo de peixe contaminado (SANTOS; SANTOS, 2018). Ainda nesses mesmos anos, a autora norte-americana, Rachel Carson, lançou um livro que fez um grande sucesso em vários campos da ciência. Por sua formação na área da biologia e pelo seu didatismo admirável, ela se tornou mundialmente conhecida pelo seu livro Silent Spring — em tradução livre, Primavera Silenciosa. Carson tratou de alertar sobre “[…] a crescente perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e fertilizantes e os efeitos dessa utilização sobre os recursos ambientais” (SANTOS; SANTOS, 2018, p. 19). Seu livro ficou conhe- cido por apresentar variados conceitos relacionados ao meio ambiente e à economia, o que gerou um fortalecimento dos movimentos preservacionista, ambientalista e ecologista, que estavam nascendo naqueles anos. Os acidentes ocorridos e a publicação de obras que se sucederam aos já relatados acabaram sendo reforçados pelo aumento, cada vez mais crescente, de uma parcela na sociedade que clamava por uma maior preocupação por parte dos agentes econômicos com os impactos das ações na natureza. Devido a isso, a Organização das Nações Unidas, mais conhecida pela sigla ONU, passou aintermediar várias discussões sobre a preservação do meio ambiente. A entidade começou, então, a sediar e dar voz a grupos que bus- cavam encontrar maneiras de produzir, mas garantindo, acima de tudo, a preservação da fauna e da flora. Economia e meio ambiente4 A preservação da biodiversidade foi o pano de fundo para que a ONU realizasse, em 1972, a Conferência de Estocolmo, na Suécia. Esse evento, que também ficou conhecido como Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, foi o primeiro grande acontecimento mundial realizado com a função de reunir todos os agentes econômicos para discutirem, sob intermediação da ONU, formas de buscar o equilíbrio entre o processo produtivo, o consumo de mercadorias e serviços e a extração de recursos naturais. Também surgiram, nessa conferência, as primeiras discussões para responsabilizar as organiza- ções sobre a poluição gerada pelos seus processos produtivos — até então, eram raros os países e governos que impunham medidas condenatórias. A partir da conferência de Estocolmo, cada vez mais países passaram a adotar regras, normas e leis, responsabilizando as indústrias poluidoras. As ações em busca de uma maior preservação ambiental por parte da ONU intensificaram-se nos anos seguintes, sendo mais complexos e robustos a partir da década de setenta, segundo May (2018, p. 204): A ONU criou o UNEP (United Nations Environment Program, PNUMA na sigla em português) em 1972 e a World Commission on Environment and Development (Co- missão Brundtland) em 1987. Paralelamente foram criadas várias grandes ONGs internacionais. Presentes em muitos países, elas contribuíram para a difusão de uma visão ecológica global. Também na década de 1960, a contestação social as- sociada à contracultura contribuiu para desenvolver uma sensibilidade ecológica mais universal, saindo da esfera conservacionista. O movimento chamado Deep Ecology (Ecologia Profunda) desenvolveu uma filosofia ecológica não utilitarista, não antropocêntrica (i.e., eco ou biocêntrica), que reconhece o valor intrínseco da natureza e dos seres que a compõem. Os movimentos ocorridos ao longo dos anos 1960 e 1970 alçaram as dis- cussões ambientais a um novo patamar. Isso tudo foi reforçado ainda mais com a questão da globalização, com o desenvolvimento de novas tecnologias e com a realização de eventos internacionais cada vez mais frequentes e nos mesmos moldes da Conferência de Estocolmo. A ONU possui o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que é o responsável por organizar todos os esforços da entidade em relação às políticas de preservação do meio ambiente. Dentre as principais funções desenvolvidas pelo PNUMA, está a criação de uma agenda internacional sobre o meio ambiente e a promoção de políticas para proporcionar um desenvolvimento sustentável entre as nações. Acesse o site do PNUMA no Brasil e conheça um pouco mais das atividades que são desenvolvidas pelo órgão. Economia e meio ambiente 5 A economia passou a considerar o meio ambiente em todas as suas dis- cussões. Portanto, essa temática integra as discussões de indivíduos, orga- nizações, entidades, governos e de toda a sociedade de uma forma geral. As funções de produção e distribuição passaram a fazer parte desse assunto em todas as suas vertentes. A economia ambiental neoclássica Em economia, faz-se necessário analisar as diferentes contribuições que autores propiciaram para o desenvolvimento dessa ciência. Para que seja possível conceber uma teoria neoclássica da economia, deve-se entender o que a antecede. Portanto, é imperativo que se compreenda o que foi a teoria econômica clássica e como ela lidava com o meio ambiente. Ela está baseada nas contribuições de quatro autores: � Adam Smith (1723–1790) — autor de A Riqueza das Nações, um clássico da economia clássica, trouxe a primeira noção de consciência entre a relação econômica e o meio ambiente para o campo das ciências econômicas; � David Ricardo (1772–1823) — o autor foi o responsável por desenvolver toda uma “[…] análise a partir da preocupação com o fato de que terras férteis necessárias para a alimentação humana existem em quantidade limitada, podendo ser um obstáculo importante ao desenvolvimento” (SANTOS; SANTOS, 2018, p. 9); � Thomas Robert Malthus (1766–1834) — o autor que foi o responsável por apresentar a noção de que a população cresceria muito mais rá- pido do que a capacidade de se produzir alimentos, e que, portanto, haveria, invariavelmente, um futuro de fome e escassez dos alimentos em toda a sociedade; � Karl Marx (1818–1883) — o autor descreveu, em vários de seus escritos, sobre a importância do meio ambiente para a sobrevivência humana, tendo obtido prestígio por apontar os efeitos da devastação e conta- minação dos solos, ocasionados pela expansão do sistema capitalista. A economia evolui conjuntamente com a evolução da sociedade. À medida que as ideias dos autores mencionados foram incorporadas por outros, surgiu a teoria neoclássica, que também abordou a questão do meio ambiente. Um dos conceitos que surgiram na economia é o de valor econômico do meio ambiente, a partir da vertente neoclássica da economia. Esse conceito visa Economia e meio ambiente6 a auxiliar profissionais da economia ou não a elaborarem regras para que o meio ambiente possa ser valorado e passe a ser considerado nas discussões econômicas entre organizações, governos e toda a sociedade (MOTTA, 1997). Sobre a teoria da economia ambiental neoclássica, Mueller (1996, p. 261) apresenta que: […] um dos objetivos centras dessa escola de pensamento é análise das condições para que, com funcionamento de um sistema de mercados livres, a economia atinja a eficiência na alocação de recursos escassos, bem como, dos impactos de imperfeições ou falhas que criem entraves ao correto funcionamento da eco- nomia. Desse tipo de análise emanam recomendações de políticas para remoção de imperfeiçoes, levando a economia a estado de eficiência (de ótimo de Pareto). Uma das dificuldades que a economia tem ao lidar com a questão do meio ambiente é a dificuldade em quantificar e valorar os benefícios que são extraídos dele. Segundo Santos e Santos (2018, p. 12), “[…] esses benefícios são calculados a partir dos preços que as pessoas estão dispostas a pagar pelos serviços ou produtos envolvidos, isso implica supor que os preços do peixe e da energia elétrica expressam exatamente os benefícios que os consumidores obtêm deles”. A teoria econômica ambiental neoclássica não reconhecia alguns pro- blemas ambientais que pudessem causar falhas substanciais e persistentes nos modelos econômicos até então desenvolvidos. Somente em 1932, o autor Arthur Pigou apresentou o conceito de externalidade, para que fosse possível a análise das falhas. Segundo ele, uma externalidade ocorre “[…] quando a ação de um agente econômico produz efeitos em termos de custos ou benefícios sobre outros agentes, sem que isso seja objeto de compensação monetária” (SANTOS; SANTOS, 2018, p. 12). Como exemplo do uso do conceito de externalidade no campo da economia ambiental neoclássica, temos o caso da construção de uma barragem visando a originar uma estrutura para o funcionamento de uma hidrelétrica. Para isso, faz-se necessário inundar uma região de matas, o que acaba causando o de- saparecimento de insetos que são importantes para polinização das culturas que estão ao redor dessa mata. Portanto, com a necessidade de se construir a barragem, há uma externalidade em que a barragem acabará gerando um custo pela perda da produção das culturas ao redor. Geralmente, esses custos não são cobrados dos construtores da barragem devido à impossibilidade de se calcular os valores das ações. As externalidades podem, por conseguinte, apresentar- -se como negativas ou positivas, conforme apresentado na Figura 2, a seguir. Economia e meio ambiente 7 Figura 2. Externalidade positiva versus externalidade negativa. Fonte:Adaptada de Santos e Santos (2018). Em resumo, a teoria econômica ambiental neoclássica acabou não aten- dendo às necessidades da sociedade a partir dos anos 1980. Em parte, porque ela não considerava todas as particularidades que a ação do homem ocasionava junto ao meio ambiente. Por isso, uma nova teoria econômica foi desenvolvida com o intuito de auxiliar no processo de ampliação das discussões acerca do impacto das ações dos agentes econômicos no meio ambiente. Trata-se da teoria da economia ecológica, que será tratada na próxima seção. A economia ecológica e sua aplicação A economia ecológica foi criada a partir dos estudos desenvolvidos pelo pes- quisador Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994). Segundo ele, a economia é um subsistema aberto, em que ocorre a troca de matéria, energia e rejeitos com o sistema ecológica e social. Um dos destaques em relação à economia ecoló- gica é que ela assume um caráter transdisciplinar, não tendo, portanto, uma abordagem exclusivamente econômica. Segundo Thomas e Callan (2017, p. 13): […] a economia do meio ambiente (embora também lance mão de conceitos e análises neoclássicas quando acredita ser conveniente), e se recusa a expressar todos os valores envolvidos com o ambiente em termos unicamente monetários, privilegiando uma avaliação multidimensional. Uma das principais contribuições da economia ecológica foi a incorpora- ção de novos conceitos, dentre eles, o principal é o de sustentabilidade, que está relacionado à capacidade de atender às necessidades do presente, sem Economia e meio ambiente8 comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras. Sendo assim, o conceito de sustentabilidade visa a estabelecer um princípio de equidade entre as gerações, garantindo estoque de recursos naturais para que elas possam utilizar e ter atendidas as suas demandas (RICKLEFS, 2003). A sustentabilidade ainda pode desdobrar-se em dois outros conceitos: susten- tabilidade forte e sustentabilidade fraca. Segundo Santos e Santos (2018, p. 16), “[…] sustentabilidade fraca é quando é possível substituir recursos naturais não renováveis por capital fabricado. Sustentabilidade forte é quando recursos natu- rais não renováveis e capital fabricado são complementares e não substitutos”. Um ponto importante acerca da economia ecológica é o seu ceticismo sobre o crescimento global permanente. Conforme May (2018, p. 46): A economia ecológica leva em conta todos os custos (não apenas os monetários) do crescimento da produção material. É inteiramente cética sobre a possibilidade de crescimento da economia global por tempo indeterminado, e mais ainda quanto à ilusão de que o crescimento, por si só, possa ser a solução para os problemas ecológicos ou mesmo sociais. A economia ecológica impõe uma discussão a toda a sociedade, que está baseada na escassez dos recursos naturais, em especial dos combustíveis fósseis. Sendo assim, está amparada na impossibilidade de a economia crescer — dada a falta desse recurso, seria necessário pensar em uma polí- tica de decrescimento. Portanto, a sociedade deveria estar preparada para coordenar esses esforços no sentido de haver uma desaceleração econômica mundial em todas as vertentes da sociedade (RICKLEFS, 2003). Todavia, gover- nos, organizações e instituições deveriam garantir que essa desaceleração não provocasse nenhum tipo de catástrofe social, ocasionando a fome e o desemprego das camadas mais vulneráveis da população. A busca por atender aos novos anseios da sociedade em relação ao meio ambiente fez com que as empresas criassem formas de tornar público o seu posicionamento sobre esse tema. Logo, ostentar uma certificação que trate da questão do meio ambiente e que permita a sociedade reconhecer o posicionamento da empresa torna-se importante. O ISO 14.000 é a principal certificação que uma empresa pode apresentar e torna clara a sua preocupação com o meio ambiente. Em “Normas ISO 14000: sistema de gestão ambiental”, Alexandre Rodrigues da Silva, Luis Fernando Ohara e Maria Luiza Pedroso Ghizzi explicam em mais detalhes essa certificação e como ela pode contribuir para a melhora da imagem da empresa. Economia e meio ambiente 9 Uma das possibilidades apresentadas pela economia ecológica é a elabo- ração de políticas que “[…] pudessem fazer do decrescimento um processo estável, reduzindo a dependência entre bem-estar social e crescimento econômico, ou seja, todo o esforço se traduziria em como gerir uma economia sem crescimento” (MAY, 2018, p. 47). Dentre as possíveis, que são apontadas pelos estudiosos da economia ecológica para coordenar um processo seguro de decrescimento da economia mundial, estão as seguintes: � criar maneiras de incentivar um maior compartilhamento do trabalho nas mais diferentes funções; � estabelecer impostos mais elevados sobre a extração e o uso de re- cursos naturais; � criar políticas de substituição energética por fontes que possam ser renováveis; � estabelecer uma política de renda mínima e máxima para a população, em busca da queda dos índices de desigualdade de renda no mundo; � atuar, via instituições internacionais, com a criação de condições para que países menos desenvolvidos possam ter suas necessidades mí- nimas atendidas, sem a necessidade de degradar o meio ambiente. A economia ecológica possibilitou algumas reflexões que fazem com que a sociedade passe a considerar que nem sempre o crescimento é algo somente positivo. Deve-se, também, considerar que o simples crescimento da produção poderá acarretar características antieconômicas. A sociedade deve considerar que existe limites biofísicos em relação ao consumo dos recursos naturais. Portanto, eles são finitos, não sendo possível a sua fabricação ou produção. A extração de recursos naturais deve considerar a sua finitude, bem como apoiar-se em políticas que garantam a sustentabilidade do consumo desses itens pelas gerações futuras. O crescimento somente poderá ser considerado positivo se ele não causar nenhum tipo de malefício à população, bem como se ele proporcionar condi- ções para que as gerações futuras possam ter a oportunidade de usufruir dos recursos naturais disponíveis para o seu consumo. Sobre a principal diferença existente entre o pensamento da economia ecológica e das demais teorias econômicas, é fundamental compreender que: Economia e meio ambiente10 […] o fundamento central da economia ecológica não se refere, portanto, à “alocação de recursos”, ou à “repartição da renda”, as duas grandes problemáticas que pratica- mente absorveram todo o pensamento econômico ao longo de seus parcos séculos de existência. Esse fundamento se refere à terceira problemática, que, ao contrário, foi inteiramente desprezada por todas as abordagens que hoje fazem parte da economia convencional: a questão da escala, isto é, do tamanho físico da economia em relação ao ecossistema em que está inserida. Para a Economia Ecológica existe uma escala ótima além da qual o aumento físico do subsistema econômico passa a custar mais do que o benefício que pode trazer ao bem-estar da humanidade (MAY, 2018, p. 51). Uma das grandes contribuições que a economia ecológica proporciona ao campo da economia responsável por analisar a relação da economia com o meio ambiente é que existem limites biofísicos à expansão da economia. Logo, governos e sociedade em geral não podem ancorar as suas políticas apenas focando em um crescimento em ritmo acelerado. O comportamento comum de se analisar uma economia apenas pelos índices de crescimento apresentados não deve ser utilizado como única métrica. É necessário com- preender como esse crescimento vem prejudicando a questão ambiental e, principalmente, as chances reais de que taxas de crescimento efetivas continuem a ser apresentadas no futuro. Reforça-se, ainda, a necessidade de considerar o surgimento de outras vertentes que possam ser originadas com o intuito de reforçar o pensamento da sociedadeacerca do meio ambiente, apesar de a grande maioria dos pesqui- sadores afirmar que a interdisciplinaridade da economia ecológica é suficiente para ajudar na construção de soluções. Há de se pensar que, com o avanço tecnológico e a mudança na consciência das pessoas, pode ser que surjam novas contribuições por parte das ciências econômicas. O que se tem até o momento é que, conjuntamente à economia ecológica, outras ciências também têm buscado contribuir para que se tenha uma mudança no pensamento da sociedade. Sendo assim, a economia passa a atuar em conjunto com outras áreas na busca pela criação de uma consciência coletiva em toda a sociedade que tenha como foco a preservação ambiental e a sustentabilidade. Referências FIELD, B. C.; FIELD, M. K. Introdução à economia do meio ambiente. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (E-book). MARQUES, J. F.; COMUNE, A. E. A teoria neoclássica e a valoração ambiental. In: ROMEIRO, A. R.; REYDON, B. P.; LEONARDI, M. L. A. (org.). Economia do meio ambiente: teoria, políticas e a gestão de espaços regionais. 3. ed. Campinas: Instituto de Economia Unicamp, 2001. MAY, P. H. Economia do meio ambiente: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Economia e meio ambiente 11 MOTTA, R. S. da. Manual para valoração econômica de recursos ambientais. Rio de Janeiro: IPEA/MMA/PNUD/CNPq, 1997. RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. SANTOS, T.; SANTOS, L. Economia e meio ambiente e da energia: fundamentos teóricos e aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 2018. THOMAS, J. M.; CALLAN, S. J. Economia Ambiental: aplicações, políticas e teoria. 2. ed. São Paulo: Cengage, 2017. Leituras recomendadas ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; MOSCHINI-CARLOS, V. (org.). Meio ambiente e sustentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. SILVA, A. R. da; OHARA, L. F.; GHIZZI, M. L. P. Normas ISO 14000: sistema de gestão ambiental. c2020. Disponível em: http://www.qualidade.esalq.usp.br/fase2/iso14000. htm#top. Acesso em: 20 dez. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Economia e meio ambiente12
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