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Cesariana em bovinos A cesariana em bovinos é um procedimento cirúrgico, realizado quando os animais apresentam complicações ou dificuldades, impossibilitando o parto em condições naturais. INDICAÇÕES Este procedimento é indicado nos casos de estática fetal não passível de correção e tração manual, pelve juvenil, na inércia uterina primária ou secundária, nos fetos demasiadamente grandes ou monstros fetais, na histerocele gravídica, nas lacerações uterinas com hemorragias por assistência indevida, nas obstruções do canal do parto, no parto prolongado, nas torções uterinas irreversíveis, em casos de toxemia gravídica e de prolapso vaginal/cérvico-vaginal/uterino. CONTRA-INDICAÇÕES A cesariana está contraindicada quando há estática fetal passível de correção com posterior tração fetal e nos casos de feto enfisematoso. Também é contraindicada em fêmeas que apresentem distúrbios gerais graves com sepse, afecções sistêmicas irreversíveis e principalmente quando o Veterinário não puder responder pelo êxito do procedimento, seja por falta de material adequado, por falta de conhecimento técnico, ou pelas más condições clínicas da paciente. CONTENÇÃO E POSICIONAMENTO Para a realização do procedimento, o animal deve estar devidamente posicionado e contido. Em vacas, a cesariana pode ser realizada com o animal em posição quadrupedal (estação), em decúbito esternal, ou em decúbito lateral esquerdo ou direito. Com a vaca posicionada em decúbito lateral, esquerdo ou direito, tem-se a possibilidade de acesso cirúrgico via flanco, via paramamária ou ainda via oblíqua pelo flanco. => Normalmente a cicatrização é mais rápida na região do flanco do que na região paramamária, onde há maior ocorrência de edemas e deiscência de sutura. ANESTESIA Em vacas, a anestesia pode ser realizada por meio de bloqueio regional ou local. Os bloqueios locais podem ser feitos na linha de incisão ou cranialmente a ela, em “L” invertido ou em “T”. Nos bloqueios locais utiliza-se de 60 a 80 mL de lidocaína a 2% sem vasoconstritor, e excepcionalmente até 100 mL. O anestésico deve ser infiltrado preferencialmente com agulha longa, e deve atingir todas as camadas musculares. Caso haja necessidade, novos bloqueios são realizados durante o transcorrer da cesariana. A anestesia epidural em vacas pode ser feita com 10 a 15 mL de lidocaína a 2%, sem vasoconstritor, associado a 2 mL de Cesariana em bovinos cloridrato de xilazina, no espaço sacrococcígeo, utilizando-se uma agulha hipodérmica 40x12 mm. CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS Após a contenção e anestesia, deve-se realizar antissepsia do campo operatório, previamente tricotomizado. Deve-se também administrar antibióticos parenterais antes do início da cirurgia, sempre tendo o cuidado de obedecer ao espectro do fármaco e seu tempo de ação. Deve-se manter um acesso venoso com infusão contínua de solução de cloreto de sódio a 0,9% durante toda a cirurgia. A fluidoterapia deve estabilizar a paciente fisiologicamente antes da indução anestésica. Importante! Quando a cesariana é realizada até 18 horas após o início do trabalho de expulsão, e o feto ainda está vivo, ou morreu há pouco tempo, a ocorrência de óbitos é menor. ETAPAS Há duas formas de cesariana: via flanco e via paramediana. Via flanco A incisão é iniciada na porção ventro-lateral caudal esquerda do abdômen e prolongada até no máximo a 4,5 centímetros da veia epigástrica superficial. Com a pele incisada deve-se divulcionar o subcutâneo, visualizando claramente a fáscia abdominal, amarelo-escura. A fáscia deve então ser incisada em um dos vértices com o bisturi e continuar com a tesoura de Lister. Com a tesoura deve-se iniciar a abertura sobre o músculo reto-abdominal, no centro da ferida e por divulsão digital separar as fibras musculares. O plano seguinte, constituído pela fáscia interna do músculo retoabdominal e o peritônio, é incisado com o bisturi e deve-se continuar com a tesoura de Lister na mesma direção. Ao acessar a cavidade abdominal será encontrado o omento que deve ser rebatido para frente, aprisionado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda. Após a apresentação do útero sobre o campo cirúrgico, a incisão deve ser feita pela curvatura maior e continuar com a tesoura de Lister até o comprimento necessário para remoção do feto. Nesse Cesariana em bovinos momento é importante evitar a entrada de líquidos fetais na cavidade abdominal. A sutura no útero é realizada com padrão simples contínuo e depois Cushing com fios categute 3 ou 4 e agulha atraumática Higieniza-se a serosa do útero como dito na técnica anterior e instilar antibiótico de base oleosa na ferida, evitando futuras aderências, pode ser opcional. A síntese da parede abdominal começa no vértice caudal, sendo realizada com o padrão de sutura simples interrompida ou em “X”, com categute n° 3 ou nylon 0,60, que inclui a fáscia e o peritônio de ambas as bordas. Também é aconselhável realizar sutura contínua do tecido subcutâneo, com pontos distanciados, aproximando as bordas da pele. A síntese da pele é idêntica à da mesma técnica citada anteriormente. Esses procedimentos são importantes para que corra bem tanto no processo quanto na recuperação do animal após a cesariana. Via paramediana A incisão paramediana ventral para a cesariana é situada na metade do caminho entre a linha mediana e a veia subcutânea abdominal estendendo-se na direção caudal do umbigo até a glândula mamária. Após a pele, secciona-se a fáscia do músculo oblíquo abdominal externo com o bisturi, com posterior divulsão com os dedos dos músculos oblíquo abdominal externo, oblíquo interno do abdome e transverso abdominal, seguindo-se então a secção do peritônio. Na cavidade peritoneal, o cirurgião manipula a porção do corno uterino que contém o feto e tenta exteriorizar uma região para a histerotomia. A incisão uterina é normalmente feita no corno uterino próximo ao local onde é identificado um dos membros do feto. Sendo que esta incisão deve ser longa o bastante para permitir a remoção do feto sem que se dilacere ou se amplie à incisão uterina. Deve-se incidir 20 a 25 cm no corno gravídico longitudinalmente em sua face convexa, sendo a incisão extra-abdominal para evitar a contaminação da cavidade com membranas e líquidos fetais. Garantindo que a incisão uterina seja corretamente fechada com suturas invertidas (Shimieden e Cushing, por exemplo) e é essencial que não haja pedaços de placenta deixadas nas suturas. A reposição do útero na sua posição normal no abdômen antes de fechar a incisão abdominal é realizada sem grandes técnicas. Os nós e a sutura quando expostos tendem a desenvolver aderências entre o útero e os órgãos viscerais, sendo assim, deve-se observar para que ocorra a mínima exposição possível do fio, evitando maiores danos à vida reprodutiva do animal, após a cesariana e consequentemente evitando o descarte desnecessário de animais. Cesariana em bovinos PÓS-OPERATÓRIO 30% dos animais apresentam redução do apetite, febre, metrite ou diarréia após a cesariana. As principais complicações pós-operatórias observadas foram metrite (48%), retenção placentária (44%), associação de metrite e retenção (26%) e peritonite (6%). No pós-operatório, o uso de glicocorticóide deve ser feito buscando um efeito antiinflamatório e prevenindo um possível choque séptico. É indicado o uso de penicilina, um antibiótico beta-lactâmico, para o tratamento de infecções causadas principalmente por bactérias gram positivas, porém com uma pequena atuação sobre gram negativas, que atua impedindo a síntese da parede bacteriana, estrutura responsável pelas funções de proteção, sustentação e manutenção da forma da bactéria.