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Geriatria M8 Ana Laura Coradi TXXII Instabilidade postural e Quedas Controle postural É importante para compreender as causas e fatores que predispõem às quedas. Alguns conceitos importantes são: O centro de massa (CdM): localiza-se na S2, anteriormente = centro de gravidade do equilíbrio. A base de suporte (BdS) é dada pelos MMII em contato com o chão, em especial os pés, sendo que os limites da BdS são em torno de 12 graus AP e 16 graus lateralmente e quando se ultrapassa os limites da base de suporte, ocorrerá a queda O controle postural é dado pelo SNC, que gera padrões de atividade muscular necessários para coordenar a relação entre o CdM e a BdS, garantindo o equilíbrio, e consequentemente evitando a queda. O processo de controle postural é complexo, e envolve conjuntamente mecanismos aferentes ou sistemas sensoriais e mecanismos eferentes ou sistemas motores. O SNC recebe e organiza as informações sensoriais aferentes (visão, sistema vestibular, propriocepção, tato - contato da pele nos pés) que consiste no contato e programam respostas motoras apropriadas (coordena força muscular de MMI e MMSS e flexibilidade articular), o que possibilita a movimentação, fazendo com que não haja queda. Qualquer alteração que o idoso tiver nos mecanismos sensoriais aferentes, ou mecanismos efetores eferentes (resposta motora), irá predispor a queda. Definição de quedas Evento descrito pelo paciente ou uma testemunha, em que o paciente vai ter ao solo inadvertidamente, ou outro local em nível mais baixo que o anterior, como usem perda da consciência ou lesão. É necessário a investigação da causa de queda é obrigatória quando ocorrer duas ou mais quedas em 1 ano. É muito importante descartar evento agudo em idosos que apresentaram queda, pois a queda pode ser um sintoma inespecífico de uma doença que ainda não foi diagnosticada. Epidemiologia das quedas Incidência de quedas -1/3 (28 a 35%) dos idosos com ou mais caem pelo menos 1 vez no ano. Aumentando para 50% naqueles com 80 anos ou mais. Ocorre em 50% dos idosos institucionalizados. Aqueles que já tiveram 1 queda têm 60 a 70% de chance de recorrência no ano subsequente. É a 1ª causa de morte por acidentes em > 65anos (morte externa). Cerca de 40 a 60% das quedas levam a algum tipo de lesão, destas: 30 a 50% - lesão de menor gravidade; 5 a 6% - injúrias mais graves –p.ex. TCE; 2 a 6% - fraturas – p.ex. Fratura de quadril. Sendo quedas responsáveis por > 80% das fraturas em idosos. Consequência das quedas Morte; lesões – fraturas, TCE e outros traumas; TVP; pneumonias; depressão (principalmente ao medo de cair); redução nas atividades de vida diária e na independência (principalmente pelo medo de cair novamente – fica mais imobilizado); risco de institucionalização. Medo de quedas ou Medo de cair: perda da confiança na capacidade de deambular com segurança resultando em piora do declínio funcional, depressão, sentimentos de inutilidade e isolamento social. O problema é que medo aumenta o risco de queda, inclusive dentro de casa – pois fica com medo de andar, sair de casa, ou seja, fica se imobilizando, e esse declínio funcional leva a fraqueza muscular, predispondo a queda. Portanto é extremamente importante identificar esse medo de quedas, a fim de evitar suas consequências, dentre elas a síndrome pósqueda; Decúbito de longa duração: Após a queda, até 50% dos idosos, mesmo sem lesões (sem fraturas), podem não conseguir levantar sem auxílio – se esse idoso mora sozinho, e/ou tem demora para alguém o ajudar a levantar após Geriatria M8 Ana Laura Coradi TXXII queda, ele ficará muito tempo sentado/imobilizado. As quedas nesses idosos fazem com cheguem no pronto atendimento com quadro de desidratação, pneumonia, úlceras de decúbito, TVP e rabdomiólise. Além disso, esse idosos correm maior risco de morte, perda da independência e institucionalização. Síndrome pós queda: resultante de um medo limitante de cair novamente, restrição de grande parte das atividades, mudanças no padrão de marcha e equilíbrio, uso adicional de recursos assistidos, queixas depressivas associadas, e risco de queda aumentado. Fatores de risco para complicações • História de fraturas e/ou osteoporose; • Anticoagulação (risco de sangramento); • Idosos que moram sozinhos (risco de decúbito de longa duração); • Histórico de quedas sem reflexo de proteção; • Não conseguir levantar ou solicitar auxílio após-queda; • Nesse grupo de idosos, é importante atuar de forma bem preventiva Fatores associado a quedas As causas das quedas são multifatoriais. A maioria das quedas irão ocorrer pela interação de 2 fatores: Intrínsecos (ligados aos indivíduos) e extrínsecos (ambientais). A prevenção das quedas envolve tanto fatores intrínsecos quanto extrínsecos. Nos fatores extrínsecos, outros profissionais podem atuar, como por exemplo, terapeutas ocupacionais. Fatores intrínsecos • Diminuição dos sinais sensoriais: visão, propriocepção ou sistema vestibular (tontura); • Diminuição do processamento do SNC: demência, apatia, depressão • Diminuição da resposta motora: osteoartrite, miastenia; Com aumento da Idade ocorre: lentificação dos movimentos, diminuição da passada e do balanço dos braços, flexão anterior da cabeça e do tronco que traz o CdM mais anteriorizado, ou seja, há uma mudança no CdM, o que dificulta o SNC realizar o controle da postura; aumento da flexão de cotovelos e joelhos; aumento do balanço lateral. • Hipotensão ortostática; • Doenças agudas: AVC, ICC, IAM, Doenças pulmonares, Infecções. • Queda como um dos “gigantes da geriatria”– uma das formas pelas quais as doenças agudas se manifestam de maneira não específica em idosos. • Doenças específicas: Epilepsia, Doença de Parkinson, Miopatias e neuropatias periféricas, Síncope cardiogênica, Hidrocefalia de pressão normal, Demências, Disfunção autonômica e hipotensão postural. Deformidade nos pés: Como se sabe, os pés têm importante papel para a BdS. Então qualquer deformidade nos pés, oferece risco de queda. Fatores extrínsecos • Ambientes de baixa iluminação ou brilho excessivo; • Pisos escorregadios (chão encerado); • Tapete solto; • Órteses mal adaptadas (ex.: não utilizar adequadamente a bengala), por isso a importância do paciente treinar o uso desses dispositivos por meio da orientação de fisioterapeuta. • Uso de 4 ou mais medicamentos - polifarmácia (benzodiazepínicos, antidepressivos, antipsicóticos, antiarrítmicos) Classes específicas de medicamentos associados ao maior risco de quedas: Diuréticos de alça (OR = 1,36), Digoxina (OR= 2,06), Antipsicóticos (OR = 1,54), Tricíclicos (OR = 1,41), Inibidores da recaptação de serotonina (OR= 2,02), Benzodiazepínicos de meia vida longa (OR= 1,81), Benzodiazepínicos de meia vida curta (OR= 1,27, Opioides (OR= 1,60), Anticonvulsivantes (OR = 1,55), Polifarmácia (OR= 1,75) • Uso inadequado de calçados, órteses;. • É muito importante obter na anamnese os fatores precipitantes da queda • No pronto atendimento, num quadro agudo de queda, o objetivo é avaliar o fator precipitante e descartar urgências. Geriatria M8 Ana Laura Coradi TXXII Investigação das quedas História e exame clínico; exames laboratoriais (dependerá da história clínica e hipóteses diagnósticas); testes (realizados em regime ambulatorial, e não em pronto atendimento). História clínica: História de quedas anteriores (considerado dor crônico aquele que tem 2 ou mais quedas em 12 meses, mesmo que tenha sido por tropeço); Circunstâncias da queda: importantíssimo está na HPMA, elucidando as condições do ambiente, a atividade no momento da queda, onde e quandocaiu; Prodrômios: vertigem, pré-síncope, desequilíbrio; Perda de consciência; Avaliar lesões e habilidade de levantar-se; Questionar sobre a seu nível de independência nas atividades de vida diária e avançadas (andar por mais de 1Km, participar de atividade sociais) => isso possibilitará identificar se o idoso era dependente ou independente quanto suas atividades; Doenças agudas: pneumonia, ITU, descompensação cardíaca => questionado no ISDA; Doenças específicas associadas ao risco de quedas: Parkinson, AVC prévios, demência, diabetes, osteoartrite, depressão => questionado nos antecedentes pessoais; Alteração na marcha; Uso de auxiliadores de marcha (andadores, bengalas), e se bem adaptados. Exame físico: Sinais vitais com medida de PA deitado e em pé: Primeiramente afere PA deitado, e logo que levantar, afere novamente a pressão, a fim de identificar hipotensão postural. Além da PA, é preciso avaliar o pulso. Se na hora que o paciente ficar em pé, ele sentir tontura, nesse momento deve-se aferir a PA com o paciente sentado, POR OUTRO LADO, se quando levantar ele não sentir tontura, deve-se aguardar de 2 a 3 minutos com o paciente ainda em pé. Se durante a espera ele sentir tontura, a pressão deve ser medida nesse momento, porém, se durante a espera ele não sentir tontura, após esses 2-3 minutos em pé sem apoio, deve-se medir a PA. Vale ressaltar, que durante o período que o paciente ficar em pé, ele não pode apoiar em nada. Os valores que definem a hipotensão postural é uma queda de 20mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou 10mmHg ou mais na diastólica. A importância de avaliar a pulsação, é pelo motivo do paciente poder ter taquicardia reflexa. Estado de hidratação e nutrição => principalmente aqueles com decúbito de longa duração, uma vez que podem desenvolver rabdomiólise; Aparelho cardiovascular => avaliar presença de arritmia, baixo fluxo sanguíneo; Alterações neurológicas: atenção na coordenação, no tônus muscular, propriocepção, equilíbrio e marcha; Função musculoesquelética: atenção nos pés (calos, deformidades, sensibilidade, tipo de calçados); Acuidade visual e auditiva; Função cognitiva Testes de desempenho físico (testes que avaliam o risco de queda) - Pode-se escolher um dos testes abaixo: Performance; Oriented Mobility Assessment – Tinetti; Escala de Equilíbrio–Berg; Caminhar com um pé atrás do outro; Subir escada; Pular objetos no chão; Teste senta-levanta cinco vezes da cadeira: É bastante utilizado. Nesse teste, o idoso senta- se numa cadeira que não tem braço (a cadeira não tem apoio para levantar), deve cruzar os seus braços e levantar com os braços cruzados, sem apoio, repetindo isso por 5 vezes, o mais rápido que ele conseguir. Primeiramente, deve-se avaliar se o idoso consegue levantar-se sem apoio, se ele conseguir levantar, o teste pode ser realizado, entretanto, se ele não consegue levantar nem da primeira vez, o teste não deve ser realizado. O teste será cronometrado, e por meio de uma tabela, é estabelecido determinado tempo de realização para determinada idade. Observação: embora o paciente tenha que levantar com os braços cruzados, caso ele levante, e precisa descruzar os braços, mas não encostou em nada (ele descruzou o braço só para manter o equilíbrio), o teste ainda assim poderá ser realizado. Ademais, esse teste é muito importante para avaliar a força do quadríceps, pois para levantar sem apoio, é preciso da força do quadríceps. Se o paciente não conseguir levantar, ele tem fraqueza nesse músculo, então tem risco de queda, o que necessita de intervenção para evitar. É importante o examinador sempre estar do lado do idoso, pois se houver algum desequilíbrio, o examinador conseguirá impedir a queda. Geriatria M8 Ana Laura Coradi TXXII Esse teste é fácil, e também entra na performance de sarcopenia e síndrome de fragilidade, uma vez que está ligado à força muscular. Ele é o teste utilizado no nosso ambulatório de geriatria. Teste Time Up & Go (TUG) - É o mais utilizado. Também é fácil e rápido como o senta-levanta. É utilizado nos pacientes, que, por exemplo, não conseguiram fazer o teste senta-levanta, pois precisa de apoio para levantar. Nesse teste, o paciente senta-se na cadeira com braço/apoio, e se ele tiver uma bengala ou andador, ele pode utilizá- los para levantar da cadeira. Ao levantar da cadeira, o paciente irá andar por 3 metros, dar a volta, e sentar-se novamente na cadeira. O tempo do percurso será cronometrado. O tempo considerado normal é o paciente demorar menos de 10 segundos, porém, num tempo menor que 20 segundos, o paciente é considerado com boa mobilidade. Acima de 30 segundos, há alto risco de queda. Tratamento das quedas • Tratamento das doenças específicas relacionadas ao evento (doença aguda foi um fator precipitante) – ademais deve-se investigar os fatores intrínsecos e extrínsecos. Rever necessidade de mudança de medicações; • Reabilitação cinesioterápica (Fisioterapia): força muscular, treino de equilíbrio e marcha – é preciso o fortalecimento muscular, reeducação postural, treinamento de propriocepção, equilíbrio e reabilitação vestibular, alongamento; • Avaliação oftalmológica anual; • Avaliação otorrinolaringológica; • Suplementação com vitamina D (estudos revelam que poderia aumentar a força muscular); • Evitar o temor de quedas; • Orientação de mudanças do ambiente – terapia ocupacional; • Sistema de alarmes conectados a centrais de emergência. Prevenção de quedas Num quadro agudo envolve atuação nos fatores intrínsecos, extrínsecos e identificar e tratar o fator precipitante (o evento precipitante, não é bem uma prevenção. Já não atendimento ambulatorial, no qual o paciente relata que já teve história de queda, a prevenção de quedas envolve atuação nos fatores intrínsecos e extrínsecos. Em casa: 1. Cuidado com objetos no chão e animais domésticos soltos 2. Cuidado com tapetes soltos 3. Mantenha os locais bem iluminados 4. Evite o acúmulo de móveis 5. Use antiderrapante nos degraus de escadas 6. Use móveis com bordas arredondadas Na vida diária: 1. Objetos e utensílios em locais de fácil acesso 2. Para alcançar o alto prefira as escadas com borrachas 3. Deixe uma luz acesa à noite no caminho do quarto para o banheiro 4. Andar seguro, use sapatos com solado de borracha e sandálias com proteção traseira; uso de apoio (bengala, muleta ou andador) 5. Para vestir-se, fique sentado ou apoiado em algum móvel seguro 6. Ao acordar, levante-se vagarosamente 7. Evite tomar remédios sem orientação médica. 8. Evite ceras e similares nos pisos Na rua: 1. Só suba no ônibus após certificar-se de que ele está parado 2. Atravesse somente na faixa de pedestres, após os carros estarem parados 3. Ao atravessar, cuidado com veículos de pequeno porte (bicicleta, moto, triciclo e outros). Olhe sempre nas duas direções 4. Evite andar nos locais próximos a obras No banheiro: 1. Cuidado com os pisos molhados 2. Tome banho de preferência sentado 3. Coloque tapete de borracha ou antiderrapante 4. Coloque barra de apoio próximo ao vaso sanitário e no local de banho
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