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Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV TUTORIA Problema 03 – Módulo 2 Tema – Causas e consequências da queda na saúde da pessoa idosa PROBLEMA 4: CAIR DE MADURO É PARA FRUTA Analise o Caso Clínico abaixo: Uma mulher de 89 anos é levada ao Setor de Emergência após cair no banheiro. Ao sair desse cômodo da casa, ela escorregou, caiu, deslizou de costas no chão e, presumivelmente, bateu a cabeça, pois se queixa de uma leve cefaleia. A paciente nega perda de consciência antes ou depois da queda ou qualquer outra lesão. Além de não ter perdido o controle vésicointestinal, não foi observada crise convulsiva ou estado pós-ictal. Ela também nega tontura, palpitações e vertigem. Essa paciente tem uma história médica pregressa de quedas recorrentes, hematoma subdural relacionado com uma queda antiga, enxaqueca, osteoartrite e fibrilação atrial. Ela explica que tem medo de cair e, por isso diminui suas atividades na comunidade. Ao exame, a mulher parece atenta (acordada), alerta, orientada em relação ao dia, horário, lugar, pessoa e situação, apresentando frequência cardíaca de 98bpm, pressão arterial de 142/76mmHg, frequência respiratória de 18 incursões respiratórias/min e satO2 = 99% ao ar ambiente. O exame da cabeça revela a presença de hematoma com dimensões de 3 x 2cm na região occipital. A realização de tomografia computadorizada (TC) de crânio sem contraste não revelou qualquer alteração aguda. INSTRUÇÃO: O impacto da queda na saúde da pessoa idosa. OBJETIVO 1:Discutir o mecanismo de controle postural (reflexo) ➢ Controle Postural O corpo humano ereto pode ser entendido como um pêndulo invertido com elos múltiplos. Este modelo biomecânico situa a massa do corpo no limite superior de uma barra rígida (ou “elo”) que se equilibra sobre uma articulação na base (o tornozelo). Em um pêndulo invertido com elos múltiplos, os segmentos diferentes (p. ex., pés, coxas, tronco etc.) são representados por elos separados interconectados nas articulações (joelhos, tornozelos etc.). Quando o centro de massa (CdM) desses elos está posicionado sobre a base de suporte (BdS) obtém-se o equilíbrio postural; no entanto, os elos são inerentemente instáveis, devido à força da gravidade. Outras forças desestabilizadoras se fazem presentes devido ao movimento do corpo e sua interação com o ambiente. O CdM está localizado anteriormente à segunda vértebra sacral, sobre a BdS ou seu limite de estabilidade, que representa a área circunvizinha ou contida entre os pés na posição ereta, representando em torno de 5 a 10 cm. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV Embora a rigidez muscular passiva seja, em teoria, suficiente para manter uma postura ereta estável sob condições estáticas, torna- se necessária uma ativação muscular coordenada para manter o corpo ereto nas atividades de vida diária. Definição: O controle postural ou equilíbrio pode ser definido como o processo pelo qual o sistema nervoso central (SNC) provoca os padrões de atividade muscular necessários para coordenar a relação entre o CdM e a BdS. Essa atividade é um processo complexo que envolve os esforços conjugados de mecanismos aferentes ou sistemas sensoriais (p. ex., visual, vestibular e proprioceptivo) e mecanismos eferentes ou sistemas motores (p. ex., força muscular dos membros superiores e inferiores e flexibilidade articular). As respostas aferentes e eferentes são organizadas por uma variedade de mecanismos centrais ou funções do SNC que recebem e organizam as informações sensoriais e programam respostas motoras apropriadas. Quando o CdM do corpo se estende além de sua BdS, como quando uma pessoa tenta se manter de pé em um veículo em movimento, os limites de estabilidade são excedidos e cria-se uma situação de instabilidade ou perda de equilíbrio. Esse fato é detectado pelo sistema sensorial, que envia sinais para o sistema motor. Este, por sua vez, inicia uma série de respostas posturais coordenadas cujo intuito é restabelecer o alinhamento entre o CdM e a BdS. As respostas estabilizadoras envolvem dois componentes, que são: 1. O controle da movimentação do CdM por meio da geração de torques nas articulações da perna de apoio ou pernas e tronco e alterações na BdS pelo sobrepasso; 2. Movimentos de preensão dos membros. Tais respostas podem ser controladas, até certo limite, de maneira preditiva, desde que as características do evento desestabilizador sejam previamente conhecidas (como, por exemplo, os “ajustes posturais antecipatórios” que normalmente precedem um movimento volitivo programado). Entretanto, em geral, são também necessárias informações sensoriais sobre a orientação e mobilidade corporais, particularmente quando o equilíbrio é perturbado de maneira brusca. Essas informações sensoriais são utilizadas para detectar alguma instabilidade e provocar respostas estabilizadoras apropriadas, por meio de reações programadas de pro- alimentação ou por correções contínuas e atualizadas de retroalimentação. O controle por pro-alimentação é um modo de controle postural no qual um padrão previamente organizado de ativação muscular é enviado sem modificação posterior. Esse padrão pode ser lançado anteriormente ou simultaneamente a um movimento volitivo já conhecido. Para atualizar a ativação muscular contínua no controle por retroalimentação, são utilizadas informações sensoriais sobre a orientação de movimento do corpo. Para que uma queda ocorra, duas condições precisam estar presentes: deve haver uma perturbação do equilíbrio e também uma falência, por parte do sistema de controle postural, em compensar essa perturbação. No que parece ser uma proporção relativamente pequena de casos, uma queda ocorre quando uma perturbação interna fisiológica interrompe momentaneamente a operação do sistema de controle postural. Nestes casos ocorre uma interferência na perfusão dos centros posturais no cérebro ou tronco Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV cerebral (p. ex., ataques isquêmicos transitórios, hipotensão postural, arritmias cardíacas, oclusão das artérias vertebrais durante movimentação cervical) ou com os sistemas sensorimotores (p. ex., episódios de tonturas ou vertigens). Mais comumente, uma queda é consequente a inabilidades do sistema de controle postural em compensar uma perturbação externa. Há dois tipos de perturbação externa: mecânica e informacional. Na mecânica, as forças que interagem com o corpo humano deslocam o CdM para além da BdS (p. ex., um empurrão ou colisão), ou impedem a BdS de se alinhar abaixo do CdM (p. ex., um escorregão ou tropeço). Essas forças desestabilizadoras podem ser impostas pelo ambiente (estar de pé em um veículo em movimento); ou autoinduzidas, durante movimentos volitivos como caminhar, levantar-se de uma cadeira, inclinar-se, esticar-se ou empurrar uma porta. As perturbações informacionais modificam a natureza da informação de orientação do ambiente. Neste caso, podem-se criar conflitos transitórios entre as informações visuais, vestibulares ou proprioceptivas (p. ex., campos visuais que se movem criando ilusões de automovimento). Em outros casos, ocorre uma mudança transitória na qualidade da informação sensorial (p. ex., um ambiente pouco iluminado). Mesmo em indivíduos adultos jovens as perturbações intensas resultam em quedas. A habilidade de evitar quedas, em qualquer situação, depende inteiramente da extensão na qual a perturbação desafia a capacidade de estabilização do sistema de controle postural. O envelhecimento pode induzir distúrbios no controle motor e da marcha que aumentam o risco de perturbações autoinduzidas. De modo semelhante, distúrbios perceptivos ou cognitivos limitam a habilidade de identificar e evitar riscos ambientais. Existem, porém, evidências crescentes de que um risco aumentado de quedas pode resultar deuma habilidade reduzida do sistema de controle postural em se recuperar de perturbações, possivelmente mesmo em situações de desestabilização mínima que seriam facilmente compensadas por adultos jovens saudáveis. ➢ Mecanismos Aferentes Os sistemas visual, vestibular e proprioceptivo estão envolvidos no envio de informações para o sistema de controle postural ou de equilíbrio. Há evidências de que esses três “braços” aferentes enviem consideravelmente mais informações que as normalmente necessárias para a manutenção postural. Dessa maneira, é um mecanismo redundante, cuja consequência é a manutenção do equilíbrio mesmo na ausência de informação por um dos sistemas (p. ex., quando os olhos estão fechados), embora, em tais situações, o ajuste seja menos fino. A visão é o sistema mais importante de informações sensoriais e pode se compensar na ausência ou não confiabilidade dos outros estímulos. O sistema visual fornece informações sobre a localização e a distância de objetos no ambiente, o tipo de superfície em que se dará o movimento e a posição de uma parte corporal em relação à outra e ao ambiente. Os componentes do sistema visual que são considerados críticos para o equilíbrio incluem a acuidade estática e dinâmica, sensibilidade ao contraste, percepção de profundidade e visão periférica. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV As alterações visuais relacionadas com a idade incluem reduções na acuidade, sensibilidade ao contraste e percepção de profundidade e menor adaptação ao escuro. A perda de habilidade para discriminar baixas frequências é de importância específica para o controle postural. O sistema proprioceptivo, com origens nos receptores tendinosos e musculares, mecanorreceptores articulares e barorreceptores profundos das plantas dos pés, também fornece informações sensoriais importantes para o controle postural. Os proprioceptores suprem o corpo com informações sobre o ambiente imediato, tornando possível ao organismo se orientar à medida que ele se movimente ou se mantenha ereto em relação às próprias partes do corpo, seu apoio e superfície do solo. Há também evidências de alterações do sistema proprioceptivo relacionadas com o envelhecimento. Em relação à sensibilidade cutânea, há uma diminuição importante na sensibilidade ao toque, discriminação de dois pontos e sensibilidade vibratória de baixas e altas frequências, particularmente nos membros inferiores. Há alguma dúvida sobre se a menor sensibilidade vibratória reflete uma alteração na sensibilidade profunda, uma vez que a noção de posição segmentar está, em geral, preservada e, por conseguinte, pode não haver grandes repercussões clínicas desse sinal no tocante ao equilíbrio. A redução na densidade e sensibilidade dos mecanorreceptores da derme, a rigidez e inelasticidade do tecido circunvizinho e a degeneração dos nervos periféricos podem contribuir para a diminuição da sensibilidade cutânea. Em condições cujas informações proprioceptivas estão reduzidas ou ausentes, o sistema visual se torna mais relevante na manutenção do equilíbrio. Estudos com pacientes mais velhos em situações de ausência ou redução de informações proprioceptivas verificaram que esses pacientes passavam a depender essencialmente do sistema visual para manter seu equilíbrio. É comum que, nessas condições, os indivíduos olhem para baixo para se certificar da localização correta de seus pés, quando se movimentando em superfícies lisas ou ao utilizar degraus. O sistema vestibular funciona concomitantemente com os dois outros para a manutenção postural. Ele consiste em três partes: um componente sensorial, um processador central e um componente de controle motor. O sensorial, localizado na orelha interna, é composto dos canais semicirculares e dos órgãos otolíticos (utrículo e sáculo). O componente sensorial detecta os movimentos cefálicos (velocidade angular e aceleração linear) e a orientação no espaço. Liga-se esse componente ao processador central por meio do oitavo par craniano. O processador central localizado na ponte (núcleo vestibular) e no cerebelo recebe e integra esses sinais e, após combiná-los com as informações visuais e proprioceptivas, envia a informação ao componente motor (músculos oculares e medula espinal). Em resposta, iniciam-se dois importantes reflexos utilizados para regular o controle postural: o reflexo vestíbulo-ocular (RVO) e o vestíbulo- espinal (RVE). O RVO controla a estabilidade ocular (manutenção do olhar fixo no campo visual) e a orientação da cabeça à medida que ela se movimenta. Sem esse reflexo, as imagens visuais iriam mudar a cada movimento cefálico, mesmo que minimamente. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV O RVE influencia os músculos esqueléticos no pescoço, tronco e membros e provoca um movimento compensatório do corpo que mantém o controle cefálico e postural. Esse reflexo está presente quando, após uma perda da estabilidade, um indivíduo se levanta e estica os braços para longe do lado do corpo e em uma posição para frente e para fora, tentando reconquistar estabilidade, realinhando o CdM com a BdS. O sistema vestibular também presta auxílio na resolução de informações conflitantes, quando as informações visuais e proprioceptivas fornecem estímulos imprecisos, como no caso de um campo visual em movimento. Nessas situações, o sistema vestibular responde mais rapidamente, rejeitando a informação conflitante para manter o controle postural. O sistema vestibular apresenta, com o envelhecimento, uma perda rápida das células ciliares dos canais semicirculares (40% de perda após 70 anos de idade), bem como das células ganglionares vestibulares e fibras nervosas. Há também alterações no RVO coerentes com essas modificações anatômicas. Em geral, os estudos publicados indicam que medidas de sensibilidade cutânea e propriocepção dos membros inferiores tendem a apresentar maiores correlações com as medidas posturais. Outros estudos indicam que, quando há perda proprioceptiva, a acuidade visual se torna mais proeminente. Estudos de associações entre função sensorial e risco de quedas em mais velhos evidenciaram que indivíduos que caem são mais propensos a ter sensibilidade cutânea, propriocepção e acuidade visual para baixo contraste diminuídas, bem como menor sensibilidade para contraste. ➢ Mecanismos Centrais O SNC exerce um papel importante na manutenção do equilíbrio. Ele avalia e integra a informação sensorial indicando instabilidade proveniente dos estímulos visual, proprioceptivo e vestibular e, como resposta, seleciona a estratégia de correção postural mais apropriada para situações inesperadas ou antecipadas de perda de equilíbrio (controle de proalimentação ou retroalimentação). Modificações do SNC relacionadas com o envelhecimento podem aumentar o risco de perturbações do controle postural. Entre elas destacam-se perda neuronal, perda dendrítica, ramificações reduzidas, metabolismo e perfusão cerebrais diminuídos e metabolismo alterado de neurotransmissores. O envelhecimento do sistema motor inclui perda importante de células gigantes piramidais de Betz no córtex motor, perda progressiva de neurônios, depleção de neurotransmissores tais quais dopamina nos gânglios da base e involução na árvore dendrítica dos neurônios motores da medula espinal. Possivelmente tais mudanças provoquem distúrbios na mobilização de respostas posturais complexas e reduzam a habilidade de compensar alterações, também relacionadas com o envelhecimento dos estímulos sensoriais. Além disso, um alentecimento geral no processamento de informação, em sincronia com a diminuição na velocidade de condução nervosa, promoveria retardo e, por conseguinte, mais distúrbios na geração de respostas posturais. O significado funcional dessas alterações é indicado pelas associações observadasentre aumento no tempo de reação e risco de quedas. Há sugestões recentes de que o controle postural nos indivíduos mais velhos pode exigir um trabalho maior de recursos do SNC, como o Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV sistema atencional, em uma tentativa de compensação de distúrbios sensoriais relacionados com o envelhecimento. Isso traria problemas em situações em que a atenção é desviada de tarefas posturais como, por exemplo, quando se caminha e conversa concomitantemente. Também, parece que os indivíduos mais velhos adaptam-se com mais dificuldade a condições inesperadas. Há uma demanda maior da atenção ao se cruzarem obstáculos. Em resposta a apresentações repetidas de perturbações pequenas, os indivíduos mais velhos não demonstraram redução progressiva no balanço como se observa em adultos jovens. Aparentemente os mais velhos tendem a introduzir menos ajustes antecipatórios posturais para mudar o CdM sobre a perna de apoio antes de levantar o pé em situações em que utilizam o sobrepasso para recuperar o equilíbrio. ➢ Mecanismos Eferentes Quando ocorre uma alteração do equilíbrio, dependendo da magnitude, três estratégias de correção podem ser utilizadas para restabelecer a estabilidade. A primeira é a estratégia do calcanhar, utilizada como resposta a um distúrbio pequeno e lento da BdS e realizada mantendo-se os pés no local de origem. É caracterizada por um processo contínuo de movimentos ou balanços de baixa frequência (rodando o corpo por volta das articulações do tornozelo com atividade mínima da bacia e joelhos), anteroposteriores (calcanhar- dedos) e laterais (lado a lado). Esses movimentos procuram esticar ou ativar os músculos do tornozelo e realinhar o CdM e a BdS. A sequência de ativação muscular ocorre em ordem distal proximal, ou seja, das extremidades para o tronco. Essa ativação muscular ocorre com velocidade suficiente (100 milissegundos após o estímulo) para evitar a perda do equilíbrio. A segunda estratégia é chamada estratégia da bacia e reposiciona o CdM ao fletir ou estender as articulações coxofemorais. Essa técnica é utilizada para reagir a distúrbios mais importantes da BdS e quando a BdS é reduzida ou complacente, como quando alguém tenta se equilibrar em uma superfície de espuma ou caminhar com um pé atrás do outro em linha reta. Em tais situações, a primeira estratégia não pode ser utilizada por não se conseguir a rotação dos tornozelos, uma vez que a BdS está estreitada. O recrutamento muscular, nesse caso, se faz de maneira inversa, ou seja, proximal distal. O terceiro tipo de reação muscular é o sobrepasso, utilizado quando o CdM é deslocado além dos limites da BdS. O sobrepasso realinha o CdM à BdS quando as duas estratégias anteriores não funcionam, como quando se dá um escorregão ou tropeço. Vários estudos têm demonstrado uma redução da força muscular com o envelhecimento, associada a diminuições no tamanho e número das fibras musculares e quantidade de motoneurônios. A contração muscular se alentece, além de ocorrer maior rigidez em todo o sistema motor. A diminuição mais expressiva da força se dá nos músculos dos membros inferiores, principalmente de ação antigravitacional, como os quadríceps, extensores da bacia e dorsiflexores do tornozelo. Há vários estudos associando a fraqueza muscular das pernas a um aumento do risco de quedas. Entretanto, as modificações naturais do envelhecimento não afetam sobremaneira o controle postural normal, uma vez que as reações compensatórias posturais não requerem grande força muscular ou amplitude de movimentos. Quando a perturbação é maior, os mais velhos tendem a dar passos múltiplos, embora nas vítimas de Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV quedas frequentes o mecanismo de passos múltiplos pareça estar prejudicado. Em resumo, apesar de uma maior fragilidade postural com o envelhecimento, a redundância dos mecanismos posturais possibilita, a um indivíduo mais velho sem outras patologias correlatas, manter reserva de função sensorial suficiente para manter o controle postural. A privação de um sistema (p. ex., proprioceptivo) é compensada pelos outros. Entretanto, se mais de um sistema é afetado, é provável que o limiar de quedas diminua. De maneira semelhante, quando o equilíbrio é mais exigido, como ao se manter em um só pé, ou se subir ou descer escadas, a manutenção da estabilidade se torna mais difícil, especialmente se houver um atraso significativo na sequência motora de ativação muscular dos membros inferiores. OBJETIVO 2: Descrever as causas (incluindo a epidemiologia) de queda em idosos, bem como como deve ser a avaliação do idoso que cai (testes, anamnese) ➢ Introdução A queda pode ser definida como um evento descrito pela vítima ou uma testemunha, em que a pessoa inadvertidamente vai ter ao solo ou outro local em nível mais baixo que o anteriormente ocupado, com ou sem perda de consciência ou lesão. Tipos diferentes de quedas têm fatores de risco específicos, tornando necessária uma determinação cuidadosa de suas circunstâncias, tanto para a avaliação clínica quanto para a pesquisa epidemiológica. Nos estudos de incidência são consideradas quedas quando estas são não intencionais e resultam em contato com o solo, e não somente cair de costas em um assento, por exemplo. Os fatores de risco e medidas preventivas associados a quedas em pessoas mais velhas, porém ativas e saudáveis, que caem porque participam de atividades vigorosas e arriscadas diferem dos indivíduos mais frágeis que caem por instabilidade. Os diferentes tipos de quedas podem ser distinguidos pelos seguintes métodos: o Determinação da contribuição externa à queda, avaliando-se se a contribuição teria sido suficiente para derrubar alguém saudável e mais jovem; o Investigação somente daqueles indivíduos que sofreram duas ou mais quedas; o Classificação da intensidade de movimento no momento da queda. Causas de Quedas ➢ Fatores Relacionados ao Envelhecimento Um dos fatores associados ao envelhecimento que pode predispor o indivíduo a quedas é a tendência à lentidão dos mecanismos de integração central, importantes para os reflexos posturais. O envelhecimento parece reduzir a capacidade de processamento e a habilidade de dividir a atenção. Se a concentração for distraída por outra tarefa cognitiva, há recuperação mais lenta de uma perturbação postural. ➢ Doenças Específicas a) Epilepsia: a epilepsia aumenta sua prevalência com a idade e se associa, muitas vezes, à perda de consciência. O diagnóstico pode ser difícil sem a presença de uma testemunha; b) Doença de Parkinson: a doença de Parkinson, por seus distúrbios de marcha, postura e equilíbrio, é reconhecidamente uma causa potencial de quedas; c) Miopatias e neuropatias periféricas: os distúrbios motores dessa ordem que afetam principalmente os membros inferiores têm sido demonstrados como fatores de risco para quedas. As neuropatias sensoriais podem contribuir Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV para quedas por distúrbios na informação sensorial postural; d) Síncope cardiogênica: as arritmias cardíacas mostraram, em alguns estudos, estar associadas a aumento de risco de quedas, lesões e fraturas. Entretanto, há evidências importantes em contrário e, pela alta prevalência de arritmias em pacientes mais velhos, torna-se muitas vezes difícil e, por vezes, pouco eficiente estabelecer essa correlação. Muitas pessoas mais velhas apresentam alguma arritmia, e seu simples diagnóstico não estabelece obrigatoriamente uma relação causa/efeito. Trabalhos recentes sugerem que um número significativo de pacientes que sofre quedas pode ter arritmias precipitadas por hipersensibilidade do seio carotídeo; e) Espondilose cervical: há duas maneiras pelas quais essa patologia pode precipitar quedas. Emprimeiro lugar, uma diminuição do estímulo proprioceptivo dos mecanorreceptores da medula espinal pode provocar sensações de tonturas leves e desequilíbrio em pacientes mais velhos. Também, a mielopatia cervical que pode decorrer da espondilose está associada à espasticidade dos membros inferiores; f) Hidrocefalia de pressão normal ou normobárica: essa patologia se caracteriza por distúrbio da marcha com BdS larga e pequenos passos, incontinência urinária e demência. Todos esses fatores podem precipitar quedas; g) Demências: os pacientes demenciados apresentam vários fatores de risco para quedas, como distúrbios cognitivos que impedem o reconhecimento do ambiente e distúrbios da marcha que são prevalentes nessa população. É possível que haja defeitos no controle postural como parte da disfunção neurológica. Vários estudos indicam risco aumentado de quedas e fraturas nessa população; h) Disfunção autonômica e hipotensão postural: a disfunção autonômica não é uma patologia frequente em pacientes mais velhos saudáveis, mas a hipotensão postural relacionada pode ser uma causa potencial de quedas. A hipotensão postural sem disfunção autonômica parece ser mais prevalente entre mais velhos, podendo ser causada por medicamentos, desidratação ou imobilização; i) Disfunção renal: provoca deficiência na conversão de calcidiol em calcitriol (vitamina D3), por sua vez, é importante para evitar quedas. Estudo recente indicou aumento do risco de quedas em mais velhos com clearance de creatinina menor que 65 ml/min. Síndromes de Quedas a) Défices sensoriais múltiplos: é provável que alguns sintomas de tonturas, instabilidade e quedas em pacientes mais velhos estejam relacionados com múltiplos distúrbios em vários sistemas sensoriais. Muitas vezes, tais perturbações podem ser discretas, porém, em conjunto, suficientes para aumentar o risco; b) Doença cerebrovascular: há vários indícios de que esse grupo de doenças pode afetar o risco de quedas de várias maneiras (comprometimento cognitivo, distúrbios posturais e da marcha e outras lesões); c) Ataques de quedas (drop attacks): essa é uma entidade de etiologia pouco conhecida, caracterizada por um ataque súbito de queda sem perda de consciência, que não pode ser explicado por fraqueza muscular, distúrbios neurológicos focais ou arritmias e não é induzida por movimentos rotatórios da cabeça ou vertigens ou outra sensação cefálica. As teorias fisiopatológicas mais aceitas associam esse fenômeno a anormalidades na função postural ou a Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV uma disfunção transitória na formação reticular que controla a musculatura antigravitacional. Normalmente apresenta bom prognóstico. ➢ Medicamentos É difícil separar o efeito das medicações daquele das patologias para as quais elas são prescritas, mas é possível que o consumo de qualquer medicamento esteja associado a um maior risco de quedas. Algumas alterações decorrentes do envelhecimento normal modificam as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos medicamentos. Dessas, a alteração da gordura corporal, com um aumento proporcional de mais de 35% entre as idades de 20 e 70 anos; alterações no metabolismo renal e discreta diminuição na fase I do metabolismo hepático; e alterações na composição de proteínas plasmáticas de transporte são importantes fatores no aumento do risco das medicações em pacientes mais velhos. As patologias múltiplas a que os pacientes mais velhos estão sujeitos são fatores importantes que compõem o quadro geral da maior sensibilidade desse grupo a efeitos colaterais de medicamentos e, particularmente, ao maior risco de quedas. Vários estudos indicam associação entre o uso de medicações e quedas. Classes específicas associadas a esse aumento incluem substâncias psicotrópicas, cardiovasculares, corticosteroides e anti- inflamatórios não hormonais (AINH). Residentes de casas de repouso em uso de mais de quatro medicações prescritas apresentam um risco até três vezes maior de quedas. As substâncias psicotrópicas, particularmente os benzodiazepínicos (meia-vida curta ou longa) e neurolépticos (típicos e atípicos), têm sido mais constantemente implicadas nos riscos de quedas. O uso dessas medicações contribuem para as quedas e fraturas por mecanismos presumivelmente relacionados com distúrbios do equilíbrio, respostas corretoras posturais alentecidas e hipotensão postural. O uso de álcool e o risco de quedas têm relação mais conflituosa. Não se encontrou associação importante entre álcool e lesões decorrentes de quedas. Causas comuns de queda: • Relacionadas ao ambiente • Fraqueza/distúrbios de equilíbrio e marcha • Tontura/vertigem • Alteração postural/hipotensão ortostática • Lesão do SNC • Síncope • Redução da visão Algumas doenças específicas: • Doença aguda - precipitante • Doença crônica - predisponente • Epilepsia • Doença de Parkinson • Miopatias e neuropatias periféricas • Síncope cardiogênica • Espondilose Cervical • Hidrocefalia de pressão normal ou normobárica → demência potencialmente reversível • Demência • Diabetes • Histórico de AVE • Osteoartrite • Depressão • Hipotensão postural • Disfunção autonômica • Incontinência urinária ➢ Fatores extrínsecos: • Riscos ambientais • Riscos nas atividades diárias • Movimentos como se virar, inclinar-se ou se esticar Exemplos: baixa iluminação ou iluminação excessiva, tapetes, fios, piso encerado, chinelos. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV ➢ Fatores intrínsecos: decorrente das alterações fisiológicas relacionadas a ao avançar da idade, da presença de doenças, fatores psicológicos e reações adversas de medicações em uso: o Idosos com mais de 80 anos o Sexo feminino o Imobilidade o Quedas precedentes o Equilíbrio diminuído o Marcha lenta e com passos curtos o Baixa aptidão física o Alterações cognitivas o Fraqueza muscular de membros inferiores e superiores o Doença de Parkinson o Polifarmácia (causa a modificação fisiológica) Avaliação e Conduta do Paciente Idoso que cai Circunstâncias A investigação das circunstâncias relacionadas com a queda pode trazer informações sobre suas causas e pistas para fatores de risco importantes. É necessário estabelecer se a queda foi devida a um evento neurológico ou cardiovascular específico. O indivíduo que caiu deve ser questionado sobre perda de consciência, que sugere síncope. Respostas positivas a indagações sobre tonturas, palpitações ou sensação de desmaio no momento da queda sugerem hipotensão postural ou arritmia. Quedas ocorridas após as refeições são sugestivas de hipotensão pós-prandial. Fraqueza súbita sugere um AVC. Doenças agudas, como pneumonia ou recrudescência de uma doença crônica como ICC ou artrites, podem contribuir para quedas. Prescrições de novos medicamentos ou mudança recente de doses podem aumentar os riscos. Pessoas mais velhas que estiveram recentemente acamadas por vários dias ou hospitalizadas são mais propensas. Deve-se indagar ao paciente seu estado geral antes da queda. A localização espacial da queda pode fornecer pistas sobre a reserva funcional do paciente. Constituem informações importantes a localização da queda em referência ao domicílio ou fora dele, a presença de algum fator ambiental claro; uma força de deslocamento grande, como um escorregão ou empurrão, ou apenas um giro de cabeça ou virada no corpo ao dobrar uma esquina. A avaliação das consequências de quedas inclui o questionamento sobre o medo de novas quedas e restrições decorrentes, bem como sobre a presença de lesões e se o paciente já se encontra plenamente recuperado. Quedas com causas definidas como as relacionadas com a síncope e risco ambiental importante não necessitam de uma avaliação completa. Deve-se atentar que em torno de 30% a 50% dos casos de síncope não háetiologia definida após investigação clinicolaboratorial (King, 1997). Em outros episódios de síncope, a etiologia pode ser hipotensão ortostática ou pós-prandial, efeito de medicações, fatores situacionais como micção ou resposta vasovagal. Convulsões e acidentes isquêmicos transitórios são causas incomuns de síncope. Quedas sem causa definida são, em geral, de origem multifatorial, necessitando de avaliação sistemática. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV Os testes para avaliar o equilíbrio, a força e a marcha são importantes, pois requerem pouco tempo e treinamento para sua execução, e uma perda funcional que poderia passar despercebida pode ser diretamente observada. ➢ Teste de Equilíbrio e Marcha de Tinetti o Avalia especificamente o risco de quedas em idosos, avaliando equilíbrio e marcha; o Suas duas partes incluem um escore total de equilíbrio máximo de 16 pontos e um escore total máximo para marcha de 12, acumulando um escore total máximo de 28; o Escores de 25 a 28 indicam baixo risco, 19 a 24 risco médio e menor que 19, alto risco de quedas; ➢ Teste de alcance funcional o Avalia o controle postural dinâmico em que o paciente é solicitado a ficar ereto, parado, e esticar o braço para frente o mais distante possível, ao longo de uma régua fixa; o Um alcance de 15 cm ou mais é considerado normal e se correlaciona com outras medidas de mobilidade e equilíbrio e com o risco de quedas; o Os indivíduos com um alto grau de funcionalidade podem ser orientados a caminhar com um pé atrás do outro, em uma linha reta, ou a ficar apoiados em um pé com o outro fletido por 30s; o Pacientes com funcionalidade moderadamente afetada podem ser solicitados a subir uma pequena escada, pular um pequeno objeto no Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV chão ou levantar-se de uma cadeira com os braços cruzados no tórax; ➢ Teste Get up and go test o Teste para membros inferiores; o Pede-se que o paciente se levante de uma cadeira com braços, caminhe por 3 metros, dê meia volta, caminhe e se sente na cadeira; o O teste pode ser cronometrado, verificando se o paciente, de acordo com o tempo gasto na realização da tarefa, é independente em atividades básicas de vida diária ou apresenta risco aumentado de quedas e dependência funcional; ➢ Teste de levantar e andar cronometrado: É uma variante do teste andar sem ser cronometrado que além de avaliar os itens relacionados, mede o tempo de realização da tarefa. Interpretação: Menor ou igual a 10 segundos - Independente, sem alterações; Entre 11 e 20 segundos - Baixo risco de quedas; Maior ou igual a 20 segundos - Dependente em várias atividades e na mobilidade, alto risco de queda. OBJETIVO 3: Entender quais são as consequências e as medidas de prevenção para queda de idosos. Consequências de quedas em idosos o Consequências Físicas • Fraturas • Imobilização • Lesões de Tecidos Moles • Lesões musculares e neurológicas • Dor • Declínio funcional e da atividade física • Hospitalização por quedas o Consequências Financeiras o Consequências Psicossociais • Medo de cair e Abandono de Atividades Os dados comprovam como a queda na terceira idade é algo grave. As quedas de própria altura são a principal causa de morte acidental em pessoas com idade acima de 65 anos. Além de fatais, esses acidentes podem também gerar outras consequências, como: ➢ Escoriações e lesões; ➢ Fraturas no fêmur proximal (região do quadril); ➢ Fraturas nos membros superiores (ombro e punho). Outros reflexos podem ser sentidos muito além das lesões geradas sobre o acidente em si. Isso porque a falta de mobilidade e a dependência, características de um período pós-queda, podem acarretar em acúmulo de secreções nos pulmões, pneumonia, distúrbios gastrointestinais, infecção do trato urinário, diminuição do fluxo sanguíneo, osteoporose, AVC e até demência. Os reflexos psicológicos também se encontram ligados a esse tipo de acidente – doméstico ou não. A Síndrome Pós Queda e a Ptofobia (medo de assumir postura de pé ou de andar) podem surgir em conjunto em idosos acidentados. A Síndrome do Pós Queda é caracterizada por um pavor descontrolado de andar novamente. Quem vivencia uma queda acaba prejudicando a autoconfiança. Sendo assim, desenvolve um sentimento de culpa que gera o medo de andar e cair novamente. E caso outra queda realmente acontecer, a Síndrome tende a se agravar severamente. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV Nestes casos, é comum que o idoso possua mudanças no caminhar, no equilíbrio e reduza suas atividades do cotidiano, acarretando na falta de condicionamento físico. Consequentemente, na maior propensão à queda; assim se inicia um ciclo vicioso. Além disso, o medo de caminhar faz com que quem sofre da Síndrome Pós Queda. O idoso acaba se isolando, o que pode desenvolver a depressão. Como evitar quedas em idosos e agir caso elas ocorram Embora as quedas apresentam grande perigo para quem está na terceira idade, alguns hábitos simples e pequenas dicas podem evitar acidentes e garantir a segurança do idoso. Veja alguns exemplos: • Praticar atividades físicas que fortaleçam a musculatura e aumentem a flexibilidade; • Se manter hidratado e ter uma alimentação balanceada; • Realizar consultas médicas e exames de rotina periodicamente; • Deixar os cômodos do lar com menos móveis e objetos que possam se tornar obstáculos; • Manter os cômodos bem iluminados; • Garantir que o piso esteja sempre seco e sem tapetes (ou com antiderrapantes); • Ajustar a altura da cama e do vaso sanitário; • Instalar barras de apoio em locais estratégicos (paredes, no banheiro, perto da cama do idoso, entre outros). No entanto, se mesmo com todos esses cuidados o idoso ainda assim sofrer uma queda, é fundamental saber como agir em tal situação. Nesse caso, é essencial realizar o socorro de forma ágil – já que, quando o acidentado é atendido dentro de até uma hora, as chances de ele ter sequelas é muito menor. Durante o período de recuperação do acidente, a família deve ficar atenta para não reforçar o medo da queda. É comum que os familiares, na tentativa de proteger o idoso, acabem contribuindo para a fobia. Restringindo o idoso de atividades que ele costumava praticar, o lembrando sempre da possibilidade de novas quedas e interferindo na sua autonomia. É preciso que os riscos sejam diminuídos para que novos acidentes sejam evitados. Mas, deve se ter cuidado, também, em não restringir a pessoa de sua vida social, impactando na qualidade de vida. ➢ Prevenção de Quedas A prevenção de quedas é um assunto de importância na saúde pública pelos prejuízos e morbidade relacionados. A prevenção primária é possível: a) Resultados recentes indicam que o uso de vitamina D em altas doses (700 a 100 UI por dia) diminui em 19% o risco de quedas e, se forem utilizadas formas ativas (vitamina D3) o risco diminui em 22%. b) A prática de exercícios físicos regulares e de exercícios de equilíbrio também parece ser efetiva. A prevenção secundária pode ser uma estratégia mais eficiente. Lembrando que a pessoa que sofreu uma primeira queda tem mais risco de recorrência, geralmente é possível, no consultório do médico generalista bem como em ambientes de emergência identificar um ou mais fatores que aumentam esse risco. Há dados suficientes sobre condutas que de fato previnem quedas na população idosa. Algumas características dos pacientes devem estimular uma avaliação completa de quedas e de quedas com lesões, quais sejam, Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV mulheres mais velhas, história de fratura osteoporótica, mobilidade prejudicada evidenciada pelo uso de andador ou bengala, incapacidade de se levantar da cadeira sem o auxílio dos braços,marcha instável e distúrbios cognitivos. O acompanhamento de um paciente com risco ou história de quedas geralmente exige uma conduta multidisciplinar envolvendo enfermagem, terapia física ou ocupacional, serviço social e especialidades médicas. A redução do risco de quedas e lesões deve ser ponderada levando-se em conta também o risco de diminuição da independência do indivíduo. Ademais, o sucesso de um plano terapêutico muitas vezes depende do envolvimento dos familiares ou cuidadores, bem como do próprio paciente. Em indivíduos da comunidade, intervenções em múltiplos fatores de risco, como, por exemplo, o ajuste de medicações, exercícios de equilíbrio, instruções comportamentais, correções de deficiências sensoriais, com a intenção de reduzir qualquer fator identificado, mostraram ser efetivas na redução do risco de quedas. • Exercícios em geral e exercícios específicos de equilíbrio diminuem o risco e as consequências das quedas, como medo de cair. • O Uso de protetores de quadris (instrumentos parecidos com esponjas colocados nas regiões trocanterianas e desenhados anatomicamente para diminuir o impacto da queda), exercício físico regular ou ambos, por um período de, pelo menos, 4 meses, parece diminuir o medo de quedas. • O uso de protetores de quadris parece diminuir o risco de fraturas de colo femoral em casas de repouso. Prevenção de Quedas em casa Para evitar quedas em casa, a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa lista 11 medidas de prevenção de quedas: 1. Evitar tapetes soltos 2. Escadas e corredores devem ter corrimão nos dois lados 3. Usar sapatos fechados com solado de borracha 4. Colocar tapete antiderrapante no banheiro 5. Evitar andar em áreas com piso úmido 6. 6. Evitar encerar a casa 7. Evitar móveis e objetos espalhados pela casa 8. Deixar uma luz acesa à noite, para o caso de precisar se levantar 9. Esperar que o ônibus pare completamente para você subir ou descer 10. Utilizar sempre a faixa de pedestre 11. Se necessário, usar bengalas, muletas ou outros instrumentos de apoio. OBJETIVO 4: Estudar a sarcopenia ➢ Introdução O processo de envelhecimento é acompanhado por várias modificações na composição corporal do indivíduo. Entre essas alterações, a diminuição da massa muscular é a de maior importância clínica e funcional. O termo “sarcopenia” foi proposto pela primeira vez em 1989 por Irwin Rosenberg para descrever a perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento (Rosenberg, 1989; 1997). A palavra provém do grego sarx (carne) + penia (perda). Desde então, o conceito de sarcopenia tem sido modificado à medida que novos conhecimentos sobre o tema são publicados. O conceito atual define sarcopenia como não apenas o processo de perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento, Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV mas também inclui a perda da força e da função muscular (CruzJentoft, et al., 2010). DADOS: Dependendo da definição utilizada, a prevalência em indivíduos entre 60 e 70 anos de idade varia de 5 a 13% (Morley et al., 2014). Já entre os idosos com idade superior a 80 anos, a prevalência pode variar de 11 a 50% (Morley et al., 2014). Mesmo utilizando uma estimativa conservadora de prevalência da sarcopenia, essa condição acomete atualmente cerca de 50 milhões de pessoas no mundo e afetará mais de 200 milhões nos próximos 40 anos. ➢ Envelhecimento e massa muscular A perda de massa muscular que ocorre durante o processo de envelhecimento não deve ser encarada como um problema que se inicia somente quando o indivíduo alcança a faixa etária avançada. A sarcopenia deve ser considerada sob a perspectiva de um modelo contínuo de vida, ou seja, deve ser observada desde o nascimento do indivíduo. Diversos estudos epidemiológicos têm mostrado associação entre baixo peso ao nascer e menor força de preensão palmar ao envelhecer (Sayer et al., 2008). Além disso, indivíduos com picos de massa muscular mais baixos na fase jovem têm maior probabilidade de apresentar sarcopenia, fragilidade e incapacidade à medida que a idade avança (Figura 91.1). O pico de massa muscular em indivíduo saudável ocorre por volta dos 25 anos de idade. Assim como a força, a massa muscular é praticamente mantida entre os 25 e 50 anos, com redução de apenas 5% no número de fibras musculares e cerca de 10% no tamanho das fibras. Contudo, é entre os 50 e os 80 anos de idade que ocorre a maior perda da massa muscular (Deschenes, 2004). O número de fibras sofre redução de 35%, enquanto o tamanho das fibras é reduzido em cerca de 30%. É interessante notar que, ao contrário da redução do número de fibras que ocorre na mesma proporção entre as fibras de contração lenta (tipo I) e as fibras de contração rápida (tipo II), a diminuição do tamanho das fibras ocorre predominantemente entre as do tipo II. Diversos estudos têm demonstrado ainda que entre as de contração rápida, a do tipo IIB, é a que apresenta maior porcentagem de redução, tanto no número quanto no tamanho das fibras quando comparado à fibra tipo IIA (Deschenes, 2004); Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV Tipos de Fibras Musculares e alterações causadas pelo envelhecimento ➢ Nova Síndrome Geriátrica As síndromes geriátricas são o resultado de interações não completamente compreendidas entre doenças e envelhecimento dos múltiplos sistemas, o que produz uma gama de sinais e sintomas com consequências desastrosas para o idoso (Inouye et al., 2007). Incapacidade, dependência, institucionalização e morte são desfechos comuns das síndromes geriátricas – delirium, incontinência, queda e imobilidade são exemplos. Diversos autores têm proposto a inclusão da sarcopenia como uma síndrome geriátrica, pois isso facilitaria a abordagem clínica e terapêutica dessa condição (CruzJentoft e Landi, 2014). Elevada prevalência na população idosa, múltiplos fatores etiológicos (diminuição da ingesta alimentar, estilo de vida sedentário, alterações hormonais e doenças crônicas) e consequências ruins para a saúde do idoso (prejuízo nas atividades instrumentais de vida diária, aumento do risco de quedas e fraturas, perda da independência e aumento do risco de morte) são fatores que justificam a inclusão da sarcopenia como uma síndrome geriátrica. ➢ Etiologia e Patogênese Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia. Entre os principais fatores de risco estão a falta de atividade física, a baixa ingesta calórica e proteica, assim como modificações hormonais e alterações nos níveis de citocinas que ocorrem a partir do envelhecimento. Alterações no remodelamento do tecido muscular, perda de neurônios motores-alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. Fatores genéticos podem ter papel importante na explicação das diferenças entre força e desempenho muscular de cada indivíduo. Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV A perda da força muscular resulta em uma dificuldade da manutenção da estabilidade (equilíbrio) estático e/ou dinâmico, o que vai atrapalhar a marcha do paciente, o que pode resultar em quedas em geral. Quando em combinação com a osteoporose, a sarcopenia resulta em significativa fragilidade frequentemente encontrada na população idosa tornando-os muito vulneráveis a traumas físicos. A sarcopenia pode ser evitada e até mesmo revertida com a prática de exercícios físicos. Tais métodos estimulam o ganho de massa muscular, além de influir no equilíbrio, controle motor e, em última instância, na prevenção de quedas. É de suma importância que o idoso seja orientado por um profissional de educação física, responsável pela prescrição dos exercícios,pois o idoso possui restrições quanto a algumas variáveis durante a prática. Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e função muscular com risco de eventos adversos como incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. ➢ A recomendação do EWGSOP (European Working Group on Sarcopenia in Older People) é que se utilizem a diminuição da massa muscular e a diminuição da função muscular (força ou desempenho) como critérios para o diagnóstico da sarcopenia; Critérios para o diagnóstico da sarcopenia segundo a EWGSOP: • Critério 1: Diminuição da massa muscular (métodos de imagem corporal e bioimpedância); Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV • Critério 2: Diminuição da força muscular (Força de preesão palmar, flexão e extensão do joelho, pico de fluxo expiratório); • Critério 3: Diminuição do desempenho físico (Short Physical Performance Battery (SPPB), Velocidade da marcha, Timed Up and Go Test (TUGT), Stair Climb Power Test (SCPT)) • Diagnóstico: Critério 1 + Critério 2 ou Critério 3 ➢ IMPACTOS NA SAÚDE DO IDOSO - Prejuízo nas atividades instrumentais de vida diária, - Aumento do risco de quedas e fraturas, - Desenvolvimento da síndrome do medo de cair, - Perda da independência - Perda de massa óssea, - Menor sensibilidade à insulina, - Diminuição do retorno venoso (sarcopenia no tríceps sural), - Diminuição da força muscular respiratória, - Aumento do risco de morte ➢ CONDUÇÃO PACIENTE COM SARCOPENIA A abordagem terapêutica atual da sarcopenia baseia-se em intervenções não farmacológicas e farmacológicas. Estudos sugerem que a sarcopenia seja uma causa potencialmente reversível de incapacidade e que pode haver benefícios caso as intervenções sejam realizadas, especialmente nos estágios mais precoces. → Intervenções não farmacológicas o Exercício físico o Nutrição (aumentar ingesta de proteínas) → Intervenções farmacológicas o Testosterona o Deidroepiandrosterona o Nandrolona o Estrógeno e tibolona o Hormônio do crescimento o Vitamina D o Creatina o Inibidores da enzima conversora de angiotensina → Perspectivas futuras o Moduladores androgênicos o Estimuladores do eixo GH/IGF-1 o Antagonistas da miostatina INTERESSANTE Sarcopenia e outras Condições: A sarcopenia é encontrada em outras síndromes que cursam com grande perda de massa muscular. A diferenciação entre essas síndromes é importante para que se identifique a abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada para cada condição. CAQUEXIA: Termo proveniente do grego cac (ruim) + hexis (condição), a caquexia é uma condição clínica em que o idoso com doenças sistêmicas graves, como câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva e doença renal em estágio terminal, apresenta intensa perda de peso. Tem sido definida como uma síndrome metabólica complexa associada a uma doença subjacente e caracterizada por perda muscular, com ou sem perda de gordura. A caquexia é frequentemente associada a inflamação, resistência à insulina, anorexia e quebra das proteínas musculares. Portanto, muitos indivíduos caquéticos são também sarcopênicos. Todavia, muitos indivíduos sarcopênicos não são considerados caquéticos. Dessa maneira, a sarcopenia é um dos elementos da definição proposta para a caquexia (Muscaritoli et al., 2010). Sara Luiza Costa Silva – P3 – M2 – MEDICINA - UniRV FRAGILIDADE Fragilidade é uma síndrome biológica de diminuição da capacidade de reserva homeostática do organismo e de resistência aos estressores, que resulta em declínios cumulativos em múltiplos sistemas fisiológicos, causando aumento da vulnerabilidade e de eventos adversos como quedas, hospitalização, institucionalização e morte. Fried et al., em 2001, desenvolveram uma definição fenotípica de fragilidade baseada em cinco aspectos físicos (Quadro 91.10). A presença de três ou mais características é necessária para o diagnóstico de fragilidade. A fragilidade e a sarcopenia se sobrepõem. Muitos idosos frágeis mostram-se sarcopênicos e alguns idosos com sarcopenia são também considerados frágeis. O conceito geral de fragilidade, contudo, deve considerar não somente o aspecto físico, mas também aspectos psicológicos, como a função cognitiva, e aspectos sociais e ambientais. OBESIDADE SARCOPÊNICA A obesidade sarcopênica é uma condição clínica caracterizada por sarcopenia e obesidade. Em condições como câncer, artrite reumatoide e o próprio envelhecimento, a massa magra é perdida, e a massa gorda pode estar preservada ou aumentada. A fraqueza muscular no idoso sempre foi uma condição atribuída somente à perda de massa muscular ocorrida durante o processo de envelhecimento. Contudo, pesquisas recentes mostram que mudanças na composição da musculatura também são importantes e infiltração de gordura dentro do músculo (mioesteatose) diminui a qualidade muscular e o desempenho físico (Stenholm et al., 2008). É interessante registrar que a gordura intramiocelular e a gordura visceral aumentam com o avançar da idade, enquanto a gordura subcutânea diminui. OSTEOPOROSE A prevalência de sarcopenia, osteopenia e osteoporose sabidamente aumenta com a idade. Estudo britânico utilizando medidas densitométricas evidenciou que uma a cada três mulheres com idade superior a 70 anos apresentava sarcopenia, uma a cada duas tinha osteopenia e uma a cada dez tinha osteoporose. Estudos anteriores mostraram associação entre força muscular do quadríceps e densidade mineral óssea do quadril. Além disso, o estudo Health ABC demonstrou que massa muscular diminuída e massa gordurosa aumentada contribuíram de maneira independente para reduzir os níveis de densidade mineral óssea em alguns sítios (Taaffe et al., 2001). Portanto, manter ou aumentar a massa magra pode auxiliar a preservar a densidade mineral óssea dos idosos.
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