Prévia do material em texto
AULA 2 JOGOS E COGNIÇÃO Profª Daniela Karine Ramos 2 CONVERSA INICIAL As funções executivas referem-se a um conjunto de habilidades integradas que são essenciais ao ser humano, e estão envolvidas em várias atividades que vão desde a capacidade de manter o foco em uma atividade até como lidar com objetivos de longo prazo, direcionando esforços para alcançá-los. O desenvolvimento dessas funções ocorre ao longo da infância e segue até a adolescência, e, mesmo na vida adulta, temos evidências de que é possível aprimorá-las. Assim, reconhecemos que as experiências e o meio podem influenciar o desempenho dessas funções, e que por isso intervenções podem oferecer contribuições. Diante disso, destacamos os jogos como alternativas ao aprimoramento das funções executivas. Para tanto, abordaremos o conceito e as dimensões dessas funções, reforçaremos sua importância para o desenvolvimento e a aprendizagem e, então, discutiremos o uso intencional dos jogos. TEMA 1 – DEFININDO AS FUNÇÕES EXECUTIVAS As funções executivas integram um conjunto de habilidades ou operações mentais que são essenciais para um amplo espectro de atividades humanas. Essas funções nos ajudam a manter o foco em determinado estímulo em detrimento de outros; tomar decisões; planejar e monitorar os resultados, verificando se os objetivos estão sendo atingidos; e controlar impulsos (National Scientific Council on the Developing Child, 2011; Oliveira-Souza et al., 2013). No cérebro, essas funções executivas envolvem o circuito neural do córtex pré-frontal e referem-se a funções cognitivas como flexibilidade cognitiva, inibição (autocontrole e autorregulação), memória de trabalho, resolução de problemas, raciocínio e planejamento (Diamond; Lee, 2011). 3 Figura 1 – Localização da região pré-frontal Ao longo do desenvolvimento dessas funções, temos o período entre os 4 e 8 anos como sendo o de maior ênfase, entretanto, a maturidade é alcançada apenas mais tarde, delongando-se pela adolescência e atingindo o início da vida adulta (National Scientific Council on the Developing Child, 2011). Devido à essa lenta maturação, as funções executivas podem ser estimuladas, bem como sofrer falhas em termos de desenvolvimento, o que pode resultar em prejuízos no desempenho de diversas habilidades (Carvalho, 2014). É como se o nosso aparato biológico, que inclui os genes, por exemplo, fornecesse o projeto, sendo que este só será executado nas interações com o ambiente em que vivemos, o que pode deixar marcas duradouras. De acordo com National Scientific Council on the Developing Child (2011), essas marcas influenciam o modo como “esse potencial genético será expresso nos circuitos cerebrais que sustentam as capacidades de funções executivas das quais as crianças dependerão durante toda a sua vida”. Essas habilidades são desenvolvidas por meio da prática e são reforçadas pelas experiências por meio das quais são aplicadas e lapidadas. Fornecer o apoio do qual as crianças precisam para construir essas habilidades em casa, em programas de creches e pré-escolas, e em outros ambientes que elas vivenciam regularmente, é uma das responsabilidades mais importantes da sociedade. (National Scientific Council on the Developing Child, 2011) Essas funções repercutem em vários espectros da vida humana, desde ações cotidianas, como fazer uma lista de compras – em que se avalia as necessidades, o que precisa ser consumido no futuro, quanto de recursos financeiros há disponível etc. – até o modo como se expressa algum descontentamento em relação à atitude de outra pessoa. Isso porque as funções executivas integram habilidades cognitivas que nos permitem manter o foco 4 apesar de distrações, seguir instruções, demonstrar autocontrole e gerenciar a execução de várias tarefas simultaneamente, o que, por sua vez, embasa os comportamentos deliberados, intencionais e direcionado à objetivos (National Scientific Council on the Developing Child, 2011). 1.1 Dimensões das funções executivas As funções executivas são fundamentais nas mais variadas tarefas rotineiras, e influenciam nas interações sociais. Dentre essas funções, destacam- se três dimensões, de acordo com o National Scientific Council on the Developing Child (2011). A memória de trabalho refere-se à capacidade de manter informações na mente, por um curto período, e de manipulá-las (Diamond, 2012). Por isso também é conhecida como memória operacional. Essa habilidade é importante para conectar dois assuntos, realizar contas de cabeça e até mesmo para interações sociais. A memória de trabalho é utilizada para se guardar um conjunto de números (telefone ou documento), até se conseguir fazer seu registro, ou para quando estamos lendo um parágrafo de um texto, pois, enquanto avançamos na leitura, mantemos as informações na mente para que, ao final, possamos atribuir sentido. O controle inibitório é uma capacidade que nos impede de ceder totalmente a impulsos, nos auxilia na priorização de atividades e a manter atenção e concentração (Barros; Hazin, 2013). Desse modo, o controle inibitório exerce influência sobre o modo como controlamos nosso comportamento, pois nos ajuda a não responder instintivamente e a resistir a tentações, no exercício da disciplina para finalizar atividades, e no controle da atenção e das emoções (Diamond, 2012). Esse controle nos possibilita agir de maneira mais adequada e coerente com os contextos em que estamos. Muitas situações do cotidiano envolvem o controle inibitório, como quando sentimos fome, mas, mesmo assim, conseguimos escolher um alimento mais saudável, controlando nosso desejo por algum alimento frito, por exemplo. A inibição está envolvida em várias tarefas e atividades do cotidiano, pois está diretamente relacionada ao controle dos “processos cognitivos, emocionais e comportamentais, suplantando o controle por eventos externos, reações emocionais automáticas, tendências prévias ou habituais” (Dias; Seabra, 2013, p. 207). 5 Por fim, a flexibilidade cognitiva refere-se à capacidade de alterar as perspectivas e mudar a maneira de pensar sobre um problema (Diamond, 2012), o que envolvendo a capacidade de adaptação conforme a situação, além do uso do pensamento criativo para pensar diferentes estratégias. Essa capacidade é utilizada quando tentamos compreender um ponto de vista diferente do nosso ou quando tentamos resolver um problema usando diferentes estratégias. Figura 2 – Esquema das dimensões das funções executivas As integrações das diversas habilidades envolvidas nas três dimensões das funções executivas desdobram-se em outras funções mais complexas, como planejamento, tomada de decisão, resolução de problemas e raciocínio (Diamond, 2013). TEMA 2 – IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO As funções executivas estão vinculadas ao desenvolvimento humano e envolvem um processo de maturação na interação com o meio que se estende até o início da vida adulta. Nesse sentido, cabe reforçar que as habilidades relacionadas às funções executivas são adquiridas gradualmente ao longo do tempo (Knapp; Morton, 2013) e necessitam de auxílio do meio para mobilizar a capacidade de aprendizagem a fim de desenvolvê-las. 6 Crédito: Marlon Lopez MMG1 Design/Shutterstock. É muito mais difícil para uma criança de 3 ou 4 anos resistir à tentação de comer um doce, ou de deixar brinquedos espalhados pela casa, do que para um adulto controlar-se para evitar doces e manter seu espaço mais organizado. Muitas habilidades são aprendidas em processos educativos, formais e informais. As regras, a rotina e as interações sociais estimulam e exercitam as habilidades e melhoram o modo como as utilizamos no cotidiano. A influência do desenvolvimento das funçõesexecutivas na vida adulta ficou muito evidente em um famoso experimento, relatado por Aamodt e Wang (2013). Esse experimento foi realizado com crianças da pré-escola, que eram orientadas a não pegar um marshmallow disposto em cima de uma mesa por alguns minutos, pois depois da espera receberiam dois marshmallows. Durante a espera, elas podiam apertar uma campainha para que o pesquisador entrasse na sala e lhes desse apenas um marshmallow. O tempo médio de espera foi de mais ou menos seis minutos, e foi possível estabelecer uma relação entre o tempo de espera e as pontuações em testes de QI, ou seja, quanto maior o tempo de espera, melhor o desempenho, o que permite associar a capacidade de autocontrole a um melhor desempenho cognitivo. A pesquisa, anos mais tarde, também encontrou evidências de que as crianças que conseguiram esperar por mais tempo tornaram-se mais bem-sucedidas em seus relacionamentos, estudos e profissionalmente. https://www.shutterstock.com/pt/g/marlonlopez 7 Crédito: Katya Bonart/Shutterstock. Esses resultados evidenciam que o bom desenvolvimento das funções executivas na infância gera repercussões em diferentes contextos da vida, o que reforça a importância de se criar situações que contribuam para o seu desenvolvimento. No estudo descrito fica evidente que a capacidade de autocontrole pode ser associada ao desempenho cognitivo, e ao sucesso interpessoal e profissional. Além disso, observou-se que as crianças hábeis na capacidade de regular seu próprio comportamento demonstram menos raiva, medo e constrangimento, ao mesmo tempo em que revelam maior empatia (Aamodt; Wang, 2013). Dentro das dimensões das funções executivas há evidências de que a inibição é a primeira habilidade a emergir (Dias; Seabra, 2013). O desenvolvimento do autocontrole requer maturação cerebral e uma capacidade mais complexa, relacionada a inibição de comportamentos voluntários, controle de impulsos e planejamento de ações, definida como esforço de controle, o que começa a surgir na criança já entre o 27º e o 30º mês de vida (Aamodt & Wang, 2013). A memória de trabalho começa a emergir após os 12 meses, porém, é entre os 3 e 5 anos de idade que as crianças precisam cada vez menos da presença e da manipulação de algum objeto físico para pensar sobre ele, passando a criar imagens mentais para operar (Dias; Seabra, 2013). As autoras exemplificam isso https://www.shutterstock.com/pt/g/katyabonart 8 com a montagem de um quebra-cabeça, pois, até os 3 anos de idade as crianças experimentam peça por peça até encontrar o encaixe, e, em torno dos 5 anos, a criança já é capaz de manipular as peças mentalmente e testar apenas aquelas que tem mais possibilidade de encaixar. Já a flexibilidade cognitiva se desenvolve mais tardiamente, pois envolve a integração de outras habilidades (Diamond, 2013). Dias e Seabra (2013) descrevem que há evidências de que a flexibilidade tem desenvolvimento significativo entre os 5 e 7 anos de idade, e se prolonga da infância até a adolescência. TEMA 3 – O APRIMORAMENTO E O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS Ambientes ricos, estimulantes e reforçadores contribuem para um bom desenvolvimento das funções executivas. Além disso, também é possível ajudar as crianças pré-escolares, a partir de 4 e 5 anos de idade, nesse processo de desenvolvimento (Knapp; Morton, 2013). Esses aspectos reforçam que intervenções, como o uso de brincadeiras e jogos que proponham desafios para a autorregulação, podem auxiliar no estímulo e no aprimoramento de funções executivas como memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Crédito: Standret/Shutterstock. 9 Destacamos que as funções executivas “geralmente se manifestam em ambientes que demandam criatividade, respostas rápidas a problemas novos, planejamento e flexibilidade cognitiva” (Oliveira-Souza et al., 2013, p. 291). De maneira complementar, Diamond e Lee (2011), com base na revisão de vários estudos, reforçam que algumas atividades podem contribuir mais efetivamente para o aprimoramento das funções executivas. A partir daí, sugerem a inserção de atividades para o treinamento dessas funções de maneira integrada ao currículo escolar. Segundo as autoras, há um espectro amplo de atividades que podem melhorar as funções executivas, desde que as crianças dediquem tempo a elas, praticando-as repetidamente; os melhores resultados são produzidos quando as crianças sentem-se motivadas, quando as atividades envolvem alegria e diversão, requerem exercício vigoroso, favorecem sentimentos de pertença e aceitação social, e propõem níveis progressivos. Os programas promissores envolvem os desenvolvimentos cognitivo, emocional e social da criança. Os resultados descritos pelos estudos em relação às contribuições do uso dos jogos para o aprimoramento das funções executivas incentivam o desenvolvimento de sistemas e aplicativos voltados para diferentes públicos para essa finalidade. Destacam-se os aplicativos voltados para o público adulto, como CogMed e Brain HQ. Há também algumas iniciativas de programas voltados para crianças, como o Tools of the Mind (Diamond et al., 2007), o Fast For Word (Doidge, 2011) e a Escola do Cérebro (Ramos, 2013). Esses aplicativo pautam- se normalmente em mecânicas de jogos como alternativa para mobilizar os participantes e criar experiências mais efetivas para o treinamento das funções executivas. TEMA 4 – CONTRIBUIÇÕES DO USO DOS JOGOS PARA AS FUNÇÕES EXECUTIVAS Os jogos estão presentes no meio que circunda os sujeitos e revelam-se experiências que podem influenciar no desenvolvimento e no exercício das funções executivas, por envolverem a prática repetida e o aumento progressivo dos desafios (Diamond; Lee, 2011). Rivero, Querino e Starling-Alves (2012) reforçam o potencial dos jogos justificando que eles apresentam uma rápida sucessão de estímulos, sejam visuais, sejam auditivos, em razão dos quais os jogadores necessitam focalizar sua atenção, gerenciar diversas tarefas e manter a meta central do jogo para poder ter sucesso nos jogos. 10 De maneira bem ampla, Rogers (2013) sintetiza a definição de jogo como uma atividade que requer pelo menos um jogador, regras e uma condição de vitória. Todas essas características, em um ambiente altamente veloz e pouco previsível, tornam os jogos ferramentas poderosas no treino da atenção e de outras habilidades cognitivas (Rivero; Querino; Starling-Alves, 2012). Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock. Em relação à infância, Aamodt e Wang (2013) defendem que o jogo teria como uma de suas funções contribuir com o desenvolvimento da função cerebral básica de autocontrole, ou seja, a capacidade que os sujeitos têm de controlar seus próprios comportamentos para alcançar um objetivo. Alguns estudos destacam a influência dos jogos de ação sobre o desempenho das habilidades cognitivas. Esse tipo de jogo envolve sucessão rápida de estímulos e necessidade de manter o controle de variáveis simultaneamente, e a visão periférica pode contribuir com o exercício de habilidades cognitivas (Eichenbaum; Bavelier; Green, 2014). Ao considerar as dimensões das funções executivas e as características dos jogos, podemos identificar algumas contribuições que os jogos oferecem ao aprimoramento das habilidades cognitivas. Dentre as características dos jogos, destacamos as regras, a narrativa, os desafios, as metas e os objetivos (Prensky, 2012). As regras definem o que pode ou não ser feito no contexto do jogo, orientando e norteando o comportamento do jogador. Segundo Aamodt e Wang 11 (2013), as regras dos jogos organizam o comportamento do jogador e envolvem o exercício de resistir à tentação de executar ações não permitidas. O jogador, ao controlar os impulsos e não agir apenas de acordo com seus desejos, tendo em vista as regras do jogo, exercitao controle inibitório. No jogo podem ainda existir reforços para ações que respeitam as regras, como bônus e destaque, ao mesmo tempo em que pode haver algum tipo de penalidade em decorrência do descumprimento das regras. Esse controle externo feito dinamicamente pelo jogo pode auxiliar na compreensão das relações de causa e consequência em um contexto virtual, sem gerar prejuízos à vida cotidiana, ou seja, oferecer a oportunidade de um exercício em um contexto em que não há consequências materiais, por exemplo. Outro aspecto que reforça, de algum modo, a ideia do jogo como um exercício para a vida cotidiana é o fato de ele se desenvolver em um ambiente interativo e contextualizado por cenários, imagens e personagens, em que as ações se desenrolam. Mesmo jogos casuais como Tetris ou Pac-man, que não têm histórias, geram uma narrativa, pois apresentam uma ordem de eventos (Rogers, 2013). Essa contextualização favorece novas aprendizagens, pois temos estímulos mais diversificados que contextualizam as ações e suas consequências de modo a potencializar a criação de novas conexões (sinapses), estabelecendo ligações com nossas experiências e conhecimentos prévios. 12 Crédito: MicroOne/Shutterstock. Diante de um desafio, somos convidados a utilizar o que sabemos para tentar superar e responder o mais adequadamente possível. Esse aspecto resgata a proposição de desafios como mais uma característica importante dos jogos. Ao ser desafiados, somos convidados a exercitar nossa flexibilidade cognitiva e utilizar nossa capacidade de solucionar problemas. Sem esgotar as contribuições dos jogos relacionadas às suas características, temos ainda os objetivos e as metas dos jogos, que nos estimulam a realizar planejamentos, definir estratégias e ações e ainda avaliar, ao longo da interação do jogo, se estamos avançando para alcançar o objetivo. Nessa perspectiva, Prensky (2012) comenta que os objetivos e as metas de um jogo têm, sobretudo, a função de motivar o jogador e pautar a mensuração de seu desempenho, quão perto ou longe está de atingir o objetivo ou a meta (Prensky, 2012). Diante disso, executamos habilidades fortemente relacionadas às funções executivas, que incluem lidar com planejamentos e monitoramento de comportamentos, ações e consequências para avaliar se estamos nos aproximando de atingir objetivos. Ao mesmo tempo, na interação com um jogo, precisamos estar muito atentos aos eventos que acontecem, aos comandos que 13 precisamos executar e às consequências de nossas ações. Então, temos nos jogos um ambiente contextualizado e interativo que nos permite exercitar de maneira mais lúdica e divertida muitas habilidades cognitivas fundamentais à aprendizagem e à vida cotidiana. TEMA 5 – EVIDÊNCIAS E PESQUISAS SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS Há uma vasta quantidade de pesquisas feitas em todo o mundo cujos resultados mostram que o uso dos jogos pode contribuir com a melhora do desempenho em várias habilidades que integram as funções executivas. A seguir, descrevemos três pesquisas diferentes que ilustram tanto o modo como as intervenções com os jogos são realizadas quanto os resultados obtidos. Um dos estudos que destacamos foi realizado por Homer (2018). Ele utilizou o jogo Alien Game, desenvolvido para treinar funções executivas. Para tanto, desenvolveu a pesquisa com 82 jovens com idades entre 14 e 18 anos, que jogaram o Alien Game por 20 minutos por semana durante seis semanas consecutivas. Para avaliar os efeitos do uso dos jogos, aplicou um teste psicológico e propôs uma tarefa envolvendo o uso das funções executivas antes e depois das intervenções propostas. Os resultados obtidos por Homer (2018) revelaram que os participantes tiveram desempenhos superiores e significativos na avaliação realizada ao final. Assim, concluiu que o uso dos jogos pode melhorar as funções executivas e reforçou que esses recursos podem ser ferramentas eficazes para treinar habilidades cognitivas quando são explicitamente projetados para essa finalidade. Van De Sande, Segers e Verhoeven (2015) avaliaram o uso de um jogo sério com 106 crianças pequenas, em que ele favoreceu a mudança nos níveis de controle conforme era repetida a experiência de interação com o jogo. Eles observaram os comportamentos dessas crianças com idades aproximadas de 6 anos durante duas sessões de interação com o jogo. Durante a observação, registraram comportamentos relacionados ao tempo para terminar o jogo, à necessidade de auxílio, aos erros, às expressões verbais e ao comportamento fora do contexto do jogo. As crianças também foram avaliadas em relação ao controle atencional e ao controle de ação. Dentre os resultados obtidos, observaram que o controle da atenção pode ser associado ao tempo, às expressões e à necessidade de auxílio. Assim, concluíram que, em novos jogos, o controle atencional das crianças contribui para 14 a formulação de estratégias e para a resolução de problemas, enquanto seu controle de ação sustenta a aprendizagem e se relaciona como os objetivos ao longo do tempo (Van De Sande; Segers; Verhoeven, 2015). Outro estudo foi desenvolvido por Nouchi et al. (2013), e contou com 32 voluntários distribuídos em dois grupos, em que um grupo jogou um jogo comercial para treinamento cerebral e o outro, o jogo de quebra-cabeça Tetris. Os participantes jogaram cerca de 15 minutos por dia, por pelo menos 5 dias por semana, durante 4 semanas, e foram avaliados antes e depois do treinamento com relação a várias funções cognitivas, como a função executiva, a memória de trabalho, a atenção e a velocidade de processamento. Os resultados obtidos revelaram melhoras com relação às funções executivas, à memória e à velocidade de processamento em adultos jovens no grupo do jogo comercial de treinamento do cérebro. No grupo que jogou Tetris, os efeitos benéficos encontrados referiram- se às funções executivas, à memória de trabalho e à velocidade de processamento. 15 REFERÊNCIAS AAMODT, S.; WANG, S. Bem-vindo ao cérebro do seu filho: como a mente se desenvolve desde a concepção até a faculdade. São Paulo: Cultrix, 2013. BARROS, P. M.; HAZIN, I. Avaliação das funções executivas na infância: revisão dos conceitos e instrumentos. Revista Psicologia em Pesquisa, Juiz de Fora, v. 7, n. 1, p. 13-22, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://periodicos.ufjf.br/index.php/psicologiaempesquisa/article/view/23517>. Acesso em: 26 jun. 2019. CARVALHO, V. M. From micro to macro via production networks. Journal of Economic Perspectives, v. 28, n 4, p. 23-48, 2014. Disponível em: <https://www.aeaweb.org/articles?id=10.1257/jep.28.4.23>. Acesso em: 26 abr. 2023. DIAMOND, A. Activities and programs that improve children’s executive functions. Current Directions in Psychological Science, v. 21, n. 5, p. 335-341, out. 2012. _____. Executive functions. Annual Review of Psychology, v. 64, p.135-168, jan. 2013. DIAMOND, A. et al. Preschool program improves cognitive control. Science, v. 318, n. 5855, p. 1387-1388, 2007. DIAMOND, A.; LEE, K. Interventions shown to aid executive function development in children 4 to 12 years old. Science, v. 333, n. 6045, p. 959-964, 2011. DIAS, N. M.; SEABRA, A. G. Funções executivas: desenvolvimento e intervenção. Temas Sobre Desenvolvimento, v. 19, n. 107, p. 206-212, 2013. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/281177320_funcoes_executivas_dese nvolvimento_e_intervencao/download>. Acesso em: 26 jun. 2019. DOIDGE, N. O cérebro que se transforma: como a neurociência pode curar as pessoas. São Paulo: Record, 2011. EICHENBAUM, A.; BAVELIER, D.; GREEN, C. S. Video games: Play that can do serious good. American Journal of Play, v. 7, n. 1, p. 50-72, 2014. Disponível em: <https://www.journalofplay.org/sites/www.journalofplay.org/files/pdf-articles/7-1- article-video-games.pdf>.Acesso em: 2 jul. 2019. 16 HOMER, B. D. et al. Improving high school students' executive functions through digital game play. Computers & Education, v. 117, p. 50-58, 2018. KNAPP, K.; MORTON, J. B. Desenvolvimento do cérebro e funcionamento executivo. In: WESTERN UNIVERSITY. Enciclopédia sobre o desenvolvimento na primeira infância. London, Ontario, 2013. Disponível em: <http://www.enciclopedia-crianca.com/funcoes-executivas/segundo- especialistas/desenvolvimento-do-cerebro-e-funcionamento-executivo>. Acesso em: 26 jun. 2019. NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL ON THE DEVELOPING CHILD. National Forum on Early Childhood Program Evaluation. Construindo o sistema de “Controle de Tráfego Aéreo” do cérebro: como as primeiras experiências moldam o desenvolvimento das funções executivas. Estudo 11. Tradução de Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Cambridge, MA: Harvard University, Center on the Developing Child, fev. 2011. Disponível em: <http://www.aionpsicologia.com/artigos/estudo_funcoes_executivas_habilidades _para_a_vida_e_aprendizagem_harvard.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2019. NOUCHI, R. et al. Brain training game boosts executive functions, working memory and processing speed in the young adults: a randomized controlled trial. PloS one, v. 8, n. 2, p. e55518, 2013. OLIVEIRA-SOUZA, R. et al. Cognição e funções executivas. IN: LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 287-302. PRENSKY, M. Aprendizagem baseada em jogos digitais. São Paulo: SENAC, 2012. RAMOS, D. K. Cognoteca: uma alternativa para o exercício de habilidades cognitivas, emocionais e sociais no contexto escolar. Revista FAEEBA, Salvador, v. 23, n. 41, p. 63-75, jan./jun. 2014. Disponível em: <https://www.revistas.uneb.br/index.php/faeeba/article/view/824>. Acesso em: 28 jun. 2019. RIVERO, T. S.; QUERINO, E. H. G.; STARLING-ALVES, I. Videogame: seu impacto na atenção, percepção e funções executivas. Neuropsicologia Latinoamericana, v. 4, n. 3, p. 38-52, 2012. http://www.aionpsicologia.com/artigos/estudo_funcoes_executivas_habilidades_para_a_vida_e_aprendizagem_harvard.pdf http://www.aionpsicologia.com/artigos/estudo_funcoes_executivas_habilidades_para_a_vida_e_aprendizagem_harvard.pdf 17 ROGERS, S. Level UP: um guia para o design de grandes jogos. São Paulo: Blucher, 2013. VAN DE SANDE, E.; SEGERS, E.; VERHOEVEN, L. The role of executive control in young children's serious gaming behavior. Computers & Education, v. 82, p. 432-441, 2015. Conversa inicial