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ASPECTOS-CLÍNICOS-DAS-PRINCIPAIS-PAT -NEUR -DO-ADUL -E-IDO E-INTERV -DA-TER -OCUP

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ASPECTOS CLÍNICOS DAS PRINCIPAIS PATOLOGIAS 
NEUROLÓGICAS DO ADULTO E IDOSO E INTERVENÇÕES 
DA TERAPIA OCUPACIONAL 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
ASPECTOS CLÍNICOS DAS PRINCIPAIS PATOLOGIAS 
NEUROLÓGICAS DO ADULTO E IDOSO E INTERVENÇÕES DA TERAPIA 
OCUPACIONAL ................................................................................................. 1 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 5 
EQUILIBRIO E CONTROLE POSTURAL ................................................ 7 
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NO CONTROLE 
POSTURAL .................................................................................................. 16 
BANDAGEM ELÁSTICA ................................................................. 18 
TERAPIA OCUPACIONAL, NEURO-OCUPAÇÃO E PSICOTERAPIA – 
ASPECTOS TEÓRICOS, PRÁTICA CLÍNICA E RELAÇÃO 
MULTIPROFISSIONAL. ................................................................................... 27 
LESÃO MEDULAR ................................................................................ 35 
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL ............................ 41 
ÓRTESES ...................................................................................... 42 
ADAPTAÇÕES ............................................................................... 43 
ORIENTAÇÕES ............................................................................. 46 
TCE – TRAUMATISMO CRANIO ENCEFALICO .................................. 50 
O CUIDADO E O PROCESSO DE REABILITAÇÃO ......................... 52 
O CUIDADO E O PROCESSO DE REABILITAÇÃO DA PESSOA COM 
TCE: ORIENTAÇÕES PRÁTICAS ................................................................ 58 
REABILITAÇÃO NEUROCOGNITIVA E COMPORTAMENTAL ........ 60 
TECNOLOGIA ASSISTIVA ............................................................ 67 
ESCLEROSE MÚLTIPLA ...................................................................... 69 
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NA ESCLEROSE 
MÚLTIPLA .................................................................................................... 71 
ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) .................................... 74 
INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ................................ 76 
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AVE - ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ...................................... 79 
TERAPIA OCUPACIONAL NO TRATAMENTO DO AVC ...................... 85 
MIASTENIA GRAVIS ............................................................................. 92 
TERAPÊUTICA .................................................................................. 98 
PARALISIA FACIAL............................................................................... 99 
DOENÇA DE PARKINSON ................................................................. 104 
TERAPIA OCUPACIONAL E DOENÇA DE PARKINSON ............... 106 
TERAPIA COM ANIMAIS ............................................................. 108 
A DOENÇA DE HUNTINGTON (DH) ................................................... 109 
INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL .............................. 113 
DISTONIA ............................................................................................ 115 
IMPLICAÇÕES DA ESPASTICIDADE PARA O TRATAMENTO DE TO
 .................................................................................................................... 118 
TRATAMENTO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL CONTROLE DA 
ESPASTICIDADE ....................................................................................... 119 
TRATAMENTO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL DA RIGIDEZ ..... 119 
TRATAMENTO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL ........................... 120 
TRATAMENTO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL FLACIDEZ ......... 120 
SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB) .......................................... 121 
RECURSOS TERAPÊUTICOS E INTERVENÇÕES DA TERAPIA 
OCUPACIONAL .......................................................................................... 130 
A TERAPIA OCUPACIONAL EM PACIENTES COM SÍNDROME DE 
GUILLAIN-BARRÉ ...................................................................................... 132 
DOENÇA DE ALZHEIMER .................................................................. 133 
O PAPEL DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DOENÇA DE ALZHEIMER 
OU OUTRA DEMÊNCIA ............................................................................. 136 
REFERÊNCIAS ................................................................................... 138 
 
 
 
 
5 
INTRODUÇÃO 
 
 
O sistema nervoso é o que sente, pensa, e controla nosso organismo, 
sendo formado pelo encéfalo, pela medula espinal e pelo sistema nervoso 
periférico. 
No encéfalo são armazenadas as memórias, são elaborados os 
pensamentos, e são geradas outras funções. 
A medula espinal conduz vias nervosas que vão para o cérebro, e integra 
coordenação de muitas atividades neurais. 
O sistema nervoso periférico é formado por rede ramificada de nervos em 
todo o corpo. A maior parte é constituída por nervos cranianos e demais nervos 
espinais. 
As doenças neurológicas acometem o sistema nervoso central e 
periférico, envolvem desordens a nível cerebral, medular e nervos periféricos. 
Estas doenças podem levar o portador a distúrbios mentais, e a perder as 
habilidades motoras, de aprendizagem e de fala. 
Estima-se que no Brasil, 14,5% da população é portadora de alguma 
doença neurológica. 
Para o tratamento, é necessária a atuação de equipes multidisciplinares, 
como: fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicólogo. 
Apresentamos nesta apostila alguns tipos de doenças, suas causas e 
seus respectivos diagnósticos, sintomase tratamentos, além de especificar a 
importância do acompanhamento psicológico aos pacientes portadores destas 
doenças. 
Apresentar as afecções neurológicas mais 
frequentes e o seu impacto na função motora, 
sensorial, percepto-cognitiva, emocional e social dos 
pacientes, para discutir as bases teóricas das 
abordagens e métodos de tratamento e aplicar os 
recursos e as técnicas de um plano de avaliação e 
tratamento terapêutico ocupacional. 
 
 
 
6 
 
O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é a parte do sistema nervoso que se 
encontra fora do sistema nervoso central (SNC), é constituído pelos gânglios 
nervosos (aglomerados de corpos celulares de neurônios localizados fora do 
sistema nervoso central) e pelos nervos (feixes de fibras nervosas envoltas por 
uma capa de tecido conjuntivo). 
 As fibras que constituem os nervos são em geral mielínicas com 
neurilema. 
 
Divisão Funcional do SNP 
 
O sistema nervoso periférico pode ser dividido funcionalmente em dois 
grupos de nervos: SNP Somático ou Voluntário e SNP Autônomo, Involuntário 
ou Visceral: 
 
SNP Somático ou Voluntário – possui ações voluntária ou dependente 
de nossa vontade, tem por função reagir a estímulos provenientes do ambiente 
externo. 
 Ele é constituído por fibras motoras que conduzem impulsos do sistema 
nervoso central aos músculos esqueléticos (porém ele também possui fibras que 
controlam os reflexos. 
 Exemplo, puxar o pé ao pisar em um prego é um reflexo controlado pelo 
SNS, mas que ocorre automaticamente antes que se tenha consciência do 
estimulo). 
 
 
 
7 
SNP Autônomo, Involuntário ou Visceral – comandam atividades 
involuntárias e tem por função regular o ambiente interno do corpo, controlando 
atividades do sistema digestivo, cardiovascular, excretor e endócrino. 
Ele contém fibras nervosas que conduzem impulsos do sistema nervoso 
central aos músculos lisos das vísceras e à musculatura do coração. 
 
 EQUILIBRIO E CONTROLE POSTURAL 
 
Dentre os componentes do comportamento motor que são mais 
estudados está o controle postural com pesquisas que abrangem desde a 
primeira infância até a velhice. O controle postural é parte integrante do sistema 
de controle motor humano, produzindo estabilidade e condições para o 
movimento, definido por Cupss (1997), como a habilidade de assumir e manter 
a posição corporal desejada durante uma atividade seja ela estática ou dinâmica. 
Bankoff (1996), observa que a postura corporal envolve equilíbrio, 
coordenação neuromuscular e adaptação que representa um determinado 
movimento corporal, e as respostas posturais automáticas são dependentes do 
contexto, ou seja, são ajustadas para ir ao encontro das necessidades de 
interação entre os sistemas de organização postural (equilíbrio, neuromuscular 
e adaptação) e o meio ambiente. Sobre o sistema de controle postural, Frank e 
Earl (1990), afirmam que os ajustes para manter a postura ereta dependem de 
feedback sensorial (vestibular, visual, proprioceptivo e cutâneo) e estratégias 
associadas com movimentos voluntários. Isso acontece porque as informações 
sensoriais serão a base para a produção das contrações musculares 
apropriadas e necessárias para garantir a posição corporal desejada. 
Duarte (2000), afirma que o sistema visual fornece informações ao 
cérebro quanto à posição e movimentação de um objeto no espaço, e a posição 
e movimentação dos membros ao ambiente e ao resto do corpo. Para o autor, 
dentre os sistemas envolvidos no controle postural, a visão é o sistema sensorial 
que o corpo mais confia nas tarefas de manutenção da postura e do movimento. 
Os sistemas proprioceptivos e cutâneos, denominados de sistema 
somatossensorial, são responsáveis por fornecer informações sobre a posição 
do corpo no espaço relativo à superfície de suporte, informações da posição e 
 
 
 
8 
velocidade relativa entre os segmentos do corpo e informações sobre as 
pressões agindo na interface segmento/base de suporte, sendo este o mais 
efetivo para perturbações rápidas. O sistema vestibular fornece informações 
sobre a posição e movimento da cabeça em relação à força da gravidade e 
forças de inércia. 
Barela et. al. (2002), comentam que embora estudos tenham investigado 
o controle postural, é necessário mais informações a respeito, pois pesquisas 
têm resultados contraditórios. Os autores examinam possíveis mudanças 
desenvolvimentais no controle postural em crianças com e sem o uso da visão, 
no qual concluiu que informação visual não pode ser considerada como fonte 
predominante de informação sensorial para o controle postural. Em recente 
estudo, Barela et. al. (2009), observaram que os participantes de ambos os 
grupos testados, foram influenciados pelo estímulo visual e que a solicitação 
para resistir às influências visuais diminuíram a oscilação corporal, concluindo 
que a intenção da pessoa pode ter um papel nos estímulos que influenciam a 
oscilação corporal, porém é um estimulo dependente. Para Teixeira et. al. 
(2007), mesmo com o sistema de controle postural já desenvolvido em adultos 
quando a informação visual é retirada tanto crianças quanto adultos apresentam 
aumentos na oscilação corporal, concluindo que a visão é uma informação 
importante mesmo para indivíduos jovens e normais praticantes de atividades 
físicas regulares. 
Considerando que o estudo do controle postural é importante não só para 
se saber como esse se desenvolve e é controlado, mas também para encontrar 
soluções e estratégias para a prevenção de quedas e outras enfermidades 
relacionadas aos idosos, (REBELATTO et al., 2008; RUWER et al., 2005), e para 
a melhora no desempenho físico (ALVES et al., 2008; BARCELLOS e IMBIRIBA, 
2002) esse estudo realizou uma revisão sobre o controle postural com o objetivo 
de verificar o direcionamento das atuais pesquisas. 
Para tanto o tema foi desenvolvido a partir dos seguintes tópicos: controle 
postural; orientação postural e equilíbrio (estático e dinâmico); avaliação e 
análise do equilíbrio e do controle postural. 
 
 
 
 
9 
CONTROLE POSTURAL 
 
O início do controle postural, visando a posição vertical, se dá por volta 
do primeiro ano de vida quando a criança descobre que pode ficar em pé 
independentemente de apoio. As primeiras tentativas são realizadas com 
movimentos simples e ainda desorganizados, mas que irão se aperfeiçoar no 
decorrer da vida (BARELA et al. 2000; FEITOSA et al. 2008). Calve e Castro 
(2005), acrescentam que em cada fase da vida, diferentes mecanismos são 
utilizados na obtenção das informações contidas no ambiente para auxiliar no 
controle postural e locomotor. 
YI et al. (2008), comentam que a partir do momento que a criança inicia a 
utilizar a posição bípede até aproximadamente o quinto e o sexto ano de vida, 
ocorrem adaptações posturais para a manutenção do equilíbrio frente à ação da 
gravidade, e essa manutenção leva as crianças adotarem preferências de 
recrutamento de um determinado sistema que dependerá da idade da criança e 
da natureza do desafio postural (HADDERS-ALGRA et al. 1996; VAN DER FITZ 
et al. 1999; HEDBERG et al. (2005). Um adequado controle postural é pré-
requisito para um apropriado desenvolvimento dos movimentos voluntários, 
comunicação e interação social. (VAN DER FITZ et al. 1999). 
Para Graaff-Peters et al. (2007), existe uma transição de três meses, após 
a idade de desenvolvimento neural principal, na capacidade para adaptar-se a 
atividade postural aos constrangimentos ambientais emergentes. Somente 
próximo à adolescência as adaptações semelhantes aos adultos irão ocorrer. 
Durante a infância o que ocorre é um aprimoramento dos padrões de controle 
postural, para a realização das atividades da vida diária. Nesse sentido, 
concordam Gallahue e Ozmun (2003), que indicam que a maturação dos 
sistemas controladores da postura atinge o estagio final por volta de oito a 12 
anos de idade. 
Gobbiet al. (2007), acrescentam que para a manutenção da posição em 
pé são necessários ajustes corporais constantes e coerentes com objetivo de 
manter os segmentos corporais alinhados e orientados apropriadamente. Sendo 
que os adultos mantêm a posição bípede com desenvoltura e naturalidade, as 
crianças realizam um esforço considerável para solucionar a complexa tarefa de 
manter o corpo na posição vertical. 
 
 
 
10 
Estudo realizado por Figura et al. (1991), analisou o equilíbrio postural em 
crianças, de ambos os gêneros, de 6 a 10 anos e adultos, também de ambos os 
gêneros de 22 a 28 anos, através dos testes de Romberg, Tandem e monopodal 
e verificaram que houve diferença significativa entre as idades (não entre os 
sexos), ao realizar equilíbrio postural. Os autores sugerem que há um 
relacionamento não linear entre a idade e a capacidade de equilíbrio. O 
desempenho postural durante os testes melhorou significativamente das 
crianças de 6 anos para as de 8 anos, diminuindo entre crianças de 8 anos para 
as de 10 anos. Esta diminuição pode ser explicada pelo fato de que por volta dos 
8 anos de idade a capacidade de equilíbrio já tenha sido adquirida, e que aos 6 
anos esta capacidade ainda esteja em desenvolvimento. Consideram que os 
parâmetros posturais em cada nível etário dependem de vários fatores, e que a 
idade e o gênero podem não ser os mais importantes. 
Investigação sobre o efeito da visão no equilíbrio corporal em crianças, 
também entre 6 e 10 anos de idade, foi realizada por Zernicke et al. (1992), em 
cinco condições experimentais diferentes: posição normal em pé; posição com 
os pés juntos e com olhar fixo em um alvo estático; posição com os pés juntos 
sem alvo; posição monopodal com olhar fixo em um alvo estático; posição 
monopodal sem alvo. Os autores encontraram diferenças entre as idades com 
relação ao movimento anteroposterior quando a criança se mantém na posição 
em pé estática e com os olhos fixos num ponto específico, sendo que as 
crianças, tanto as de 6 anos de idade como as de 10 anos não utilizaram 
efetivamente um alvo estático para melhorar a oscilação corporal na direção 
anteroposterior, tanto na posição bipodal como monopodal. 
Figueiredo e Iwabe (2007) consideram a visão como fator importante no 
controle de equilíbrio de crianças pequenas, entretanto, na ausência de 
referência visual, os demais sistemas responsáveis pelo equilíbrio 
(somatossensorial e vestibular) irão melhorar sua capacidade de respostas de 
modo a auxiliar no controle do equilíbrio. Lee & Lishman (1975), citam que os 
adultos são capazes de reduzir a oscilação anteroposterior do tronco, mantendo 
os olhos fixos em um objeto estático. 
Aproximadamente por volta dos 7 anos ocorre um período de transição, 
onde, de acordo com Shumway-Cook & Woollacott, Debú & Mowatt (1987), o 
sistema de controle postural deixa de ser estritamente dependente da visão e 
 
 
 
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passa a integrar as informações provenientes dos demais sistemas sensoriais 
para o controle da postura, assumindo, então, uma estratégia semelhante à 
verificada no funcionamento do sistema de controle postural em adultos. Riach 
& Starkes (1993), verificaram que os principais fatores determinantes para o 
controle postural em crianças são os fatores físicos como o peso corporal e o 
tamanho dos pés e não a presença ou não da visão. Assim, os pés menores da 
criança dão uma base menor de suporte e ainda uma oscilação postural muito 
maior do que os adultos, resultando numa estabilidade postural menos eficiente. 
Verificaram, ainda, que adultos e crianças usam apenas uma porção da 
superfície dos pés para se manterem em pé. As crianças com menos de 7 anos 
utilizam 44 a 53% da base de suporte, já as crianças acima de 7 anos utilizam 
70%, porcentagem semelhante a dos adultos. 
Figura er al. (1991); Cama et al. (1991); Riach & Starkes (1993), 
verificaram que com o aumento da idade a variabilidade da oscilação do centro 
de pressão ou do centro de massa diminui, indicando correspondente diminuição 
da oscilação do centro de pressão. Isto se revela um indicador de 
desenvolvimento do controle postural, refletindo numa melhora na manutenção 
da posição ereta. Soames & Atha (1982), verificaram que a oscilação corporal 
em adultos varia numa frequência entre 0,25 e 0,45 Hz, para ambas as direções, 
anteroposterior e médiolateral, e Riach e Hayes (1987), observaram que as 
crianças mais jovens oscilavam numa frequência entre 0,8 e 1,0 Hz e crianças 
mais velhas com frequências entre 01, e 0,8 Hz. Indicando que tanto a frequência 
de oscilação quanto a variabilidade muda desenvolvimentalmente e os adultos 
oscilam com frequências mais baixas que as crianças. 
Barela (1997), discorre que mudanças desenvolvimentais no controle 
postural estariam diretamente relacionadas ao uso da informação sensorial para 
a produção de atividade motora suficiente para manter uma determinada posição 
corporal. Ou seja, mudanças desenvolvimentais no controle postural seriam 
decorrentes da aquisição de uma coordenação coerente e estável entre 
informação sensorial e ação motora. 
Décadas de estudo, revelaram e concluíram principalmente que a postura 
ereta estática, não é tão estática como se acreditava e que apesar de 
permanecer “imóvel o corpo continua oscilando. As oscilações corporais sofrem 
influência de vários fatores entre os quais os mais importantes estão a visão, 
 
 
 
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sistema vestibular e propriocepção, sendo que aproximadamente aos 7 anos de 
idade a criança já possui um padrão de controle semelhante ao de um adulto. 
Essas conclusões permitiram formar a base do conhecimento sobre o controle 
postural e permitiram a continuidade dos estudos explorando outras variáveis 
associadas e situações mais próximas da realidade e das condições cotidianas. 
Ao revisar o que a literatura apresenta sobre o controle postural e as 
pesquisas relacionadas em verificar como esse se da na criança, no jovem e no 
adulto, através dos textos estudados onde os autores citam referencias de vinte, 
trinta anos ou mais no passado, verifica-se que o interesse inicial era de entender 
quando o controle postural se inicia e quando determinado comportamento se 
manifesta e se desenvolve ao longo da vida. Interessante observar, o que Duarte 
(2000), também fez, que apesar de passados mais de um século dos estudos de 
Romberg e a criação de seu teste para avaliar a habilidade de que ainda irão ser 
tema de muitos estudos futuros. 
Os estudos apresentaram a importância do controle postural não só para 
a manutenção da postura ereta como sua associação com as demais habilidades 
motoras necessárias para atender as demandas da vida cotidiana. 
Um aspecto, que pode ser visto tanto como positivo como negativo, é o 
grande número de pesquisas. Positivo porque explora ao máximo o assunto e 
dá uma base ampla e sustentável para várias hipóteses e teorias. 
Por outro lado ao que se observa, como no caso da análise da base de 
apoio em situação bipodal com os pés juntos e afastados e unipodal 
relacionando-as com a situação olhos abertos e olhos fechados, são 
diversamente diferentes na metodologia empregada ora apresentando 
resultados semelhantes ora diferentes o que pode dificultar o processo de se 
determinar a metodologia de pesquisa a ser adotada, para um estudo, e se os 
resultados que serão encontrados terão validade e aceitação pela comunidade 
cientifica. 
Apesar dessa consideração acredito que esse processo foi necessário 
principalmente para formação da vasta base teórica destacada anteriormente 
como aspecto positivo nos anos de estudo relacionados á investigação do 
desenvolvimento do controle postural. 
 
 
 
 
 
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ORIENTAÇÃO POSTURAL E EQUILÍBRIO 
 
Carvalho e Almeida (2008); citam dois componentes comportamentais do 
sistema de controle postural; orientação e equilíbrio postural. A orientação 
postural é o posicionamentorelativo do corpo aos demais segmentos e o meio 
ambiente. Para os humanos, durante a manutenção da postura ereta, isso 
significa: orientar o corpo para a manutenção vertical (perpendicular a terra) e 
alinhar os segmentos em relação aos demais segmentos para manutenção da 
posição ereta. 
Já o equilíbrio postural é referente à habilidade de manter a posição do 
corpo (do centro de massa) dentro dos limites de estabilidade através da inter-
relação das várias forças que atuam sobre o corpo, incluindo a força da 
gravidade, dos músculos e inércia. Em resumo pode-se considerar como tarefa 
básica do equilíbrio a manutenção da estabilidade corporal tanto em condição 
estática quanto dinâmica. Gallahue e Ozmun (2003), conceituam equilíbrio 
estático como a capacidade de manter o próprio equilíbrio enquanto o centro de 
gravidade permanece estacionário, e, definem equilíbrio dinâmico como a 
capacidade de manter o próprio equilíbrio conforme o centro da gravidade se 
desloca. 
Manter o equilíbrio postural é uma habilidade que esta relacionada tanto 
ao desenvolvimento das habilidades motoras como ao controle motor voluntario. 
O desenvolvimento da capacidade de manter o equilíbrio corporal é fundamental 
para o ser humano, pois sem seria impossível realizar tarefas cotidianas como 
correr, chutar, saltar, arremessar, etc., e, ajustamentos posturais adequados são 
mecanismos necessários para a realização destas atividades. Ervilha et al. 
(1997), comenta que o corpo humano é fisicamente um complexo sistema de 
segmentos articulados em equilíbrio estático e dinâmico. Movimentos do corpo 
são causados por forças internas atuando fora do eixo articular, provocando 
deslocamentos angulares dos segmentos, e por forças externas ao corpo. Para 
tanto, o sistema de controle postural precisa atuar para manter ou alcançar uma 
posição corporal desejada. 
A postura bípede humana é relativamente instável, porque a estabilidade 
na postura é uma função que envolve vários fatores devido a sua base de 
suporte ser pequena e o centro de massa ser alto (no nível do quadril). A postura 
 
 
 
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quadrúpede possui a base de suporte maior e o centro de massa mais próximo 
da superfície de apoio. Quanto maior for a base de suporte, maior será a área 
que o centro de massa poderá se movimentar sem perda do equilíbrio, 
(ALMEIDA, 2007). 
As informações sobre a posição relativa dos segmentos corporais e sobre 
as forças internas e externas, que estão atuando nestes segmentos são 
fornecidas pelos sistemas sensoriais, oriundos de quadros de referencias, 
dependendo da tarefa e do ambiente. O quadro de referencia pode ser visual, 
baseado nas dicas externas do ambiente ao redor; somatossensorial, baseado 
na informação do contato com objetos externos e segmentos corporais; ou 
vestibular, baseado nas forças gravitacionais, (FREITAS e BARELA, 2006). 
Ajustamentos nos sistemas sensoriais são necessários para manter o centro de 
gravidade do corpo de acordo com as mudanças na base de sustentação. 
Portanto, a função do sistema nervoso é emitir impulsos nervosos para as fibras 
musculares, estimulando contrações que complementam e coordenam todas as 
outras forças que atuam sobre o corpo fazendo que aposição do centro de massa 
seja controlada eficientemente mantendo o equilíbrio (WOOLLACOTT et al, 
1998). 
Uma das variáveis mais importantes é a orientação do tronco, uma vez 
que irá determinar o posicionamento dos membros com relação aos objetos com 
os quais podemos interagir. Os ajustes posturais que contribuem para um 
eficiente desempenho nas tarefas motoras ocorrem primeiramente nos músculos 
da cabeça, tronco e dos membros envolvendo complexas excitações e inibições 
musculares. (VAN DER FITZ et al. 1999). A posição combinada do pescoço e do 
tronco determina a posição da cabeça no espaço, que é importante para a 
interpretação da informação sensorial a partir dos sensores baseados na 
cabeça. O controle da posição e da velocidade do tronco no espaço, como na 
orientação postural pode ser a meta principal do sistema de equilíbrio postural, 
uma vez que a maior parte da massa corporal esta localizada no tronco 
(HORLINGS et al. 2009; VAN DER FITZ et al. 1999). Portanto, as informações 
sensoriais e a atividade motora trabalham de forma coordenada com o objetivo 
de atingir ou manter o equilíbrio e a orientação postural. 
 
 
 
15 
As forças que atuam no corpo, durante a posição ereta incluem forças 
resultantes da gravidade, da fricção e forças externas relacionadas à superfície 
de apoio. 
O ponto no qual toda a massa corporal é equilibrada é conhecido como 
centro de gravidade corporal, e também o ponto resultante das forças externas 
agindo sobre o corpo, (VUILERM et al. 2007). Uma segunda força atuando no 
centro de gravidade que é igual ou oposta à força de gravidade fazendo com que 
o corpo encontre seu equilíbrio na posição ereta é representada pela força de 
reação do solo com os pés. Quando o corpo é segmentado, a posição do centro 
de massa pode mudar bruscamente, devido à mudança de configuração corporal 
(a posição relativa dos segmentos) então, o centro de massa pode ser localizado 
fora do corpo, dependendo da orientação postural (GALLAHUE e OZMUN, 2003; 
BRENIERE e BRILL, 1998). 
Barela (2000), descreve situações em que ocorre uma dependência 
mutua entre a percepção e a ação de modo continuo, denominada pelo autor 
como ciclo percepção-ação. Esse evento ocorre na manutenção da posição 
ereta, durante um período de tempo, onde o relacionamento entre informação 
sensorial e atividade motora ocorre de forma continua, ou seja, a informação 
sensorial estimula a realização das ações motoras relacionadas ao controle 
postural e, simultaneamente, a realização destas ações motoras estimula a 
obtenção de informação sensorial. Como por exemplo, durante a manutenção 
da posição ereta, uma oscilação para frente é detectada pelos sistemas 
sensoriais resultando numa contração dos músculos posteriores afim de que 
esta oscilação seja corrigida. Porém, assim que a oscilação é corrigida, agora 
para trás, uma nova informação faz-se disponível, indicando a nova direção da 
oscilação, resultando numa nova contração, agora dos músculos anteriores e 
assim sucessivamente (LIPSHITS e KAZENNIKOV, 2008). 
As conclusões apresentadas acima são encontradas principalmente em 
estudos posteriores aos que investigavam o “quando” surgiam os 
comportamentos de controle postural, e iniciaram estudos em “como” se dava o 
processo de controle. As metodologias empregadas utilizaram principalmente a 
eletromiografia para verificar quais músculos eram solicitados a contraírem-se e 
principalmente a dinâmica da relação inter muscular nos membros inferiores e 
desses com o tronco. Verificou-se que o equilíbrio é conseguido por múltiplas 
 
 
 
16 
contrações musculares, desses segmentos estimulados por solicitações dos 
sistemas sensoriais (visuais, vestibulares e proprioceptivos).(TEIXEIRA, 2010) 
 
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NO 
CONTROLE POSTURAL 
 
Segundo a teoria do Criacionismo, somos a mais perfeita criatura, mas 
mesmo assim somos sujeitos a qualquer momento caímos em decorrência de 
alguma enfermidade ou acidentes que nos pode ser fatal ou apenas causar 
danos leves ou graves. 
Os mecanismos sensoriais de manutenção e controle postural, assim 
como qualquer outro órgão ou tecido do corpo humano, podem sofrer algum tipo 
de alteração que impeça a locomoção ou a execução de movimentos mais 
precisos. 
As dificuldades ou impedimentos de se manter em estado ereto são 
decorrentes de neuropatias que prejudicam a integração dos mecanismos 
sensoriais situados em diversas partes do corpo ou a comunicação deste com o 
SNC, “a manutenção de uma determinada orientação postural é obtida a partir 
do complexo relacionamento entre informações sensoriais e ação motor-
muscular” (Kleiner, 2009). 
A TerapiaOcupacional trabalha com a recuperação da coordenação 
motora, fina e grossa a força, amplitude de movimentos, o tônus, a sensibilidade, 
as atividades de vida diária e o treinamento voltado para a recuperação dos 
padrões normais de movimento.(PESSÔA, [s.d.]) 
Para uma recuperação mais rápida do membro invalido, as sequências 
de exercícios são escolhidas durante a terapia devem ser similares aos 
movimentos utilizados nas atividades de vida diária, pois dessa maneira, pode 
ser construída uma ponte entre o tratamento e o uso funcional. 
Existem dois métodos amplamente usados por fisioterapeutas para o 
tratamento de membros: compensação e facilitação. De maneira simples a 
compensação refere-se ao treinamento do membro não afetado, de modo a 
compensar as funções do membro comprometido. 
 
 
 
17 
Desenvolvido pelo médico Herbert Kabat e a terapeuta ocupacional 
Dorothy Rosemberg em 1950, o método Kabat ou Facilitação Proprioceptiva 
Neuromuscular, procura o uso repetitivo do membro afetado, com o objetivo de 
fornecer aprendizagem motora através de técnicas de reforço. 
Outro método que mostrou resultados bastante satisfatórios foi o método 
de Estimulação sensorial, que por meio de ativação ou inibição dos mecanismos 
sensoriais incentiva o musculo paralisado a aprender os movimentos na 
sequencia correta. 
Estudos recentes sugerem que a organização funcional dos córtices 
sensorial e motor não são estáticos, ou seja, pode mudar dinamicamente à 
medida que haja uma intervenção ou demandas de tarefa. Corrêa (2008) 
aproveita os avanços da Terapeuta ocupacional para dizer que “a rede de 
neurônios somatossensorial altamente interconectados permite o aprendizado 
de tarefas sensório-motoras e o reaprendizado da função após o dano”, 
permitindo o membro afetado recuperar sua funcionalidade. 
A Terapia Ocupacional tem como objetivos diferenciados dirigir a 
participação do ser humano, promovendo sua adaptação, restaurando, 
reforçando e facilitando a aprendizagem de habilidades essenciais para a vida 
diária. 
Quando um terapeuta ocupacional sabe que um paciente quer reaprender 
a dirigir, vestir-se de maneira independente, comer em restaurante ou continuar 
a trabalhar como um mecânico de automóveis deve ser capaz de organizar as 
tarefas terapêuticas que auxiliam o paciente na realização destas atividades. 
A motivação é ferramenta básica em qualquer processo terapêutico e, na 
integração sensorial é primordial para que ocorram processos e vivências 
relevantes. 
Na intervenção da terapêutica ocupacional, o papel do profissional que se 
utiliza dos procedimentos de integração sensorial não é o daquele que vem com 
uma lista de atividades e que convida o paciente a executá-la. “As atividades são 
escolhidas de acordo com as necessidades específicas do paciente” 
(CARVALHO, 2001, p. 26). 
Watanabe (2002) se vale das indicações de CARVALHO (2001) para 
indicar como o terapeuta deve prosseguir em tratamentos de reabilitação com 
crianças. Segundo o autor, terapia geralmente é muito divertida para a criança, 
 
 
 
18 
pois o ambiente clínico inclui diversos brinquedos e equipamentos que atraem a 
atenção da criança. Nesse ambiente de brincadeira, o terapeuta ocupacional 
ajuda a criança a alcançar sucesso em atividades que provavelmente não 
ocorreriam no brincar não orientado. Segundo Ayres apud (MAGALHÃES, 2001, 
p. 84), o terapeuta assiste o comportamento da criança, interpreta a 
adaptabilidade de suas ações, e antecipa o evento seguinte, ajudando a criança 
sempre que necessário. 
Em suma, a intervenção terapêutica favorece o processamento adequado 
das informações sensoriais, adotando a premissa de que estes são 
componentes essenciais para a formação de uma base sólida, sob a qual se 
estruturam habilidades como potência postural, integração bilateral, 
sequenciamento e práxis, ou seja, através da Terapia de Integração sensorial e 
dos estímulos proporcionados, visa-se que os déficits da integração sensorial já 
descritos e discutidos no decorrer do trabalho, sejam minimizados. 
 
BANDAGEM ELÁSTICA 
 
História da bandagem elástica 
 
Segundo Morini (2014), não é de hoje que 
as bandagens são empregadas para tratamento. 
Em 460 a 377 a.C, Hipócrates empregava bandagem para manter o 
posicionamento após manipulação para corrigir pé torto congênito. No ano de 
1575, Ambroise Paré também realizava seus tratamentos de correção articulares 
com bandagem após manipulação e, em 1743, Nicolas Andry se aproveitava de 
bandagens umedecidas para tratar ligamentos articulares. 
Para Morini (2014), no Egito antigo utilizavam-se as bandagens de outra 
maneira, a conservação de corpos após a morte, nos processos de mumificação. 
 
Pode-se considerar bandagem todo material flexível utilizado como auxílio 
externo ao corpo humano. As bandagens podem ser classificadas como 
rígidas ou inelásticas (deformam plasticamente) e elásticas. São exemplos 
de bandagem rígida: esparadrapo, micropore, faixa crepe de gesso. Já as 
bandagens elásticas são as que possuem a capacidade de se esticar e 
voltar ao seu estado de repouso (deformação elástica) (MORINI, 2014, p.2). 
 
 
 
19 
De acordo com Morini (2014), muitas pessoas desconhecem que, para 
fazer o uso da aplicação da bandagem (rígida ou elástica), necessita-se ter 
conhecimento aprofundado de anatomia e biomecânica. 
Nas aplicações para tratamentos ortopédicos ou neurológicos, a técnica 
não deve ser realizada por pessoas que não sejam profissionais da área da 
saúde, e mesmo estes devem possuir qualificação adequada e o entendimento 
das propriedades físicas da bandagem, e também noções dos critérios de 
utilização. 
Para Morini (2014), uma grande maioria dos terapeutas faz o uso da 
bandagem elástica visando tratar condições ortopédicas, como traumas, lesões 
e principalmente algias. E a utilização em pacientes com comprometimento 
neurológico tem aumentado de forma considerável. 
Segundo Kase, Lemos e Dias (2013), em 1973 Dr. Kenzo Kase 
desenvolveu uma técnica de bandagem elástica com o intuito de propor ao 
paciente um recurso terapêutico onde auxiliasse o corpo a busca da homeostase 
entre as sessões de quiropraxia. Dr. Kenzo entendeu que os tecidos contráteis 
e outros tecidos moles, como fáscias, ligamentos e tendões, quando submetidos 
a estímulos gerados por um suporte externo, consequentemente buscavam suas 
funções de normalidade. 
A partir deste fato, Dr. Kenzo desenvolveu mais de vinte tipos de 
bandagens, chegando à bandagem atual, a qual apresenta elasticidade 
semelhante à pele (KASE, LEMOS e DIAS 2013). 
De acordo com Kase, Lemos e Dias (2013), a utilização da bandagem 
elástica cresceu rapidamente devido a sua grande aceitação entre os 
profissionais da saúde, além de evidenciar, após a sua aplicação, vantagens que 
a fez tornar o padrão ouro das bandagens para as intervenções em paciente 
atualmente. 
São empregados nos diversos níveis de assistência, seja primário 
(prevenção de lesões), secundário (tratamento agudos e subagudos) ou terciário 
(situações crônicas de incapacidades funcionais), com resultados resguardados 
e com mínimos de efeitos colaterais. 
 
 
 
 
 
 
20 
Características da bandagem elástica 
 
 
Para Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem elástica apesar de ser um 
adesivo hipoalergênico, é a prova d'água, não possui qualquer substância 
medicamentosa aderida e é composta de 100% algodão com adesivo 100% 
acrílico termoativo. 
Ela foi desenvolvida para permitir uma elasticidade longitudinal com cerca de 
40% a 60% de alongamento do seu comprimento em repouso, tendo 
espessura e textura similares às da pele. Não apresenta elasticidade no 
sentido transversal. Contêm linhas que representam a distribuição da cola 
adesiva à imagem de impressões digitais, a fim de similar os diversos sentidos 
da elasticidade da pele humana. (KASE, LEMOS e DIAS, 2013, p.15).Princípios básicos da bandagem elástica 
 
Segundo Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem elástica pode agir na 
musculatura, nas articulações, na circulação linfática, nas fáscias, na derme, em 
tendões e ligamentos. Deste modo, é primordial o diagnóstico do componente 
específico envolvido na causa da disfunção, que pode ser de origem neurológica, 
muscular, articular, fascial ou aponeurótica, dérmica, circulatória e linfática. O 
sucesso da aplicação está diretamente relacionado com esses conhecimentos 
semiológicos e da aplicação correta da bandagem. 
 
 
 
21 
De acordo com Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem é constituída por 
âncoras ou pontos fixos, nos quais devem ser aplicadas a zero% de tensão, que, 
em geral, estão localizadas nas extremidades da bandagem. Entre elas, localiza-
se a zona terapêutica, local que recebe a tensão de tratamento para o tecido 
alvo. 
Recomenda-se não ser econômico nas ancoragens, pois âncoras pequenas 
tracionam as extremidades da bandagem sobre a pele, podendo causar 
irritações, microlesões, aumento do edema e até mesmo de hemorragias. 
Geralmente, indicam-se âncoras de 2,5 a 5 cm nas aplicações abaixo de 
40% de tensão. Acima de 50% de tensão, são necessárias âncoras maiores. 
Além da tensão empregada, outro fator que determina ou o tamanho da 
âncora é o comprimento da zona terapêutica. Portanto quanto maior a zona 
terapêutica, maior a ancoragem. Toda ancoragem, inicial ou distal sempre 
deve possuir 0% de tensão (KASE, LEMOS e DIAS, 2013, p.18). 
 
Funções da bandagem elástica 
Segundo Morini (2014), o objetivo na utilização da bandagem elástica, 
será proporcionar um desenvolvimento neuropsicomotor e buscar a integração 
sensorial corporal para melhor adaptação dos pacientes ao ambiente. 
 
 Função dérmica 
Para Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem elástica, possui uma 
função dérmica de analgesia do resultado da ação sensorial da bandagem sobre 
mecanoreceptores através das pressões, tensões, elevações, descompressões 
e trações da pele. 
 
 Função muscular 
De acordo com Kase, Lemos e Dias (2013), a função muscular 
desencadeia efeitos diretamente sobre a musculatura, estimulando e ativando o 
músculo durante o movimento, onde será possível melhorar a contração 
sinérgica de um músculo enfraquecido, inibido, hipotônico e desequilibrado, 
diminuindo episódios de fadiga, contraturas, espasmos e lesões musculares. Por 
outro lado, também podem ser observados em condições em que os músculos 
se encontram hiperativos, hipertônicos e excessivamente fortes. A bandagem 
agirá de forma inibitória, diminuindo as atividades musculares que estão em 
excesso. 
 
 
 
22 
 Função linfática 
Segundo Kase, Lemos e Dias (2013), a propriedade elástica da 
bandagem proporciona a elevação da pele por meio das circunvoluções e 
beneficia a massagem suave da região por meio das trações e tensões 
superficiais, gerando uma drenagem dos fluidos corporais, assim com os 
movimentos corporais promove trocas de pressão entre a primeira camada 
superficial da epiderme e derme, a hipoderme e a fáscia superficial. Levando à 
abertura e ao fechamento dos vasos linfáticos e sanguíneos devido aos seus 
diversos filamentos aderidos às suas camadas superficiais da pele. 
 
 Função articular 
Para Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem age na função articular 
melhorando o desalinhamento biomecânico e instabilidade das estruturas 
osteomusculares, desenvolvidos frequentemente por disfunções de 
movimentos, em que, estão envolvidas a uma atividade constante e repetitiva, a 
manutenção elástica e a desequilíbrios musculares como: encurtamento, 
fraqueza, tensão, perda da rigidez, distonias, entre outras condições. A 
bandagem atua diretamente sobre o alinhamento articular, promovendo o 
equilíbrio entre os músculos agonistas, antagonista e sinergistas, permitindo o 
controle dos movimentos patológicos e a reeducação motora. 
 
 Efeitos fisiológicos da bandagem elástica 
 
Para Kase, Lemos e Dias (2013), a bandagem elástica proporciona efeitos 
relacionados de acordo com as suas funções e os objetivos com a aplicação da 
mesma seriam: 
a) Aliviar a dor e as sensações anormais da pele e músculos; 
b) Harmonizar o equilíbrio e suporte aos músculos durante os 
movimentos; 
c) Deslocar edemas linfáticos e sanguíneos; 
d) Corrigir os desalinhamentos articulares e biomecânicos; 
e) Criar mais espaços nos níveis epidérmicos, dérmicos e hipodérmicos. 
 
 
 
 
 
23 
 Contraindicações e precauções da bandagem elástica 
De acordo com Kase, Lemos e Dias (2013), é contraindicado realizar a 
aplicação da bandagem elástica em regiões com atividade malignas ativas, 
trombose venosa profunda ativa, sobre celulites, feridas abertas, infecções 
ativas de pele e em pacientes que possuam alergias à bandagem. 
As precauções ou as situações que necessitam de um cuidado maior são: 
diabetes, doenças renais, sensibilidade apresentada por outras 
bandagens, insuficiência cardíaca congestiva, pele frágil ou em processo 
de cicatrização, e condições em que não foi detectada uma causa clara da 
disfunção em questão (KASE, LEMOS E DIAS, 2013, p. 28). 
 
 
APLICAÇÃO DA BANDAGEM ELÁSTICA 
 
Antes da aplicação da bandagem elástica é realizada a assepsia da 
região com álcool 70% e aplicação do spray de cabelos para aumentar a adesão 
à pele. Posicionar o paciente sentado com a cervical em flexão-lateral. Durante 
o procedimento é importante que a área estiver desnuda, devendo avaliar a 
integridade da pele antes da aplicação da bandagem elástica e aplicada o spray 
de cabelo sobre a pele para aumentar adesão da bandagem. 
 
 
 
 
 
24 
 
Técnica da bandagem elástica 
 
A técnica para aplicação da bandagem nas fotos anteriores foi de acordo 
com a facilidade do movimento da fáscia cervical. A aplicação consiste em um 
corte de 25 cm de bandagem em forma de I, aplicada durante três semanas 
consecutivas, sendo que a cada aplicação a permanência da bandagem sobre a 
pele foi de 5 dias e depois um intervalo de descanso de 2 dias entre cada 
aplicação. Após a última aplicação foi realizado o teste com o flexímetro 07 dias 
após a retirada da bandagem. 
Neste trabalho foi utilizado o Flexímetro, que é um equipamento simples 
que dispensa calibrações, apresenta baixo custo operacional e facilidade no seu 
manuseio, informando uma medida direta em graus de amplitude de movimento 
(ADM) na flexão-lateral da cervical. 
 
 
 
25 
De acordo com as pesquisas de Florêncio et al. (2010), que compararam 
o Flexímetro com o Cervical Range of Motion (CROM), para analisar ADM 
cervical, chegaram aos mesmos valores obtidos na avaliação e concluíram que 
ambas as ferramentas apresentam confiabilidades aceitáveis para a prática 
clínica. 
Baseando-se nos princípios de que o movimento e a atividade muscular 
são indispensáveis para a manutenção de um estado saudável, a utilização da 
bandagem elástica segue esse princípio não restringindo ou limitando seus 
movimentos (VIEGAS apud VILLAR et al., 2011). 
Na área desportiva, a sua utilização é muito bem vista pelos atletas pelo 
fato de não restringir o movimento e pela sua aderência à pele. Apesar da 
popularidade e da crescente utilização na prática clínica, principalmente na área 
do desporto, a evidência que tem por base a sua utilização é escassa e de 
qualidade metodológica questionável (VIEGAS apud NAKAJIMA e BALDRIDGE, 
2013). 
De acordo com Lemos et al. (2014), no caso de retração fascial, tensões 
fasciais ocorrem juntamente com variações anormais de mobilidade do tecido e 
flexibilidade, o que consequentemente leva à degradação do movimento. Sendo 
que a terapia feita com Kinesio Taping, utilizando a correção fascial descrita por 
Kenzo Kase visa criar e direcionar o movimento fascial, a fim de conduzi-lo a 
uma direção desejada ou em um alinhamento, com isso libertar a fáscia de 
quaisquerlimitações de movimento através do movimento da pele em relação 
ao músculo alvo por meio de uma tensão mecânica gerada pela bandagem 
elástica. 
Em uma pesquisa de Iglesias et al. (2009), para verificar efeitos a curto 
prazo de Kinesio taping na dor e na melhora da ADM de movimento cervical, em 
pacientes com lesões cervicais aguda, em um ensaio clínico randomizado, 
observou-se logo após as primeiras vinte e quatro horas da aplicação que o uso 
da bandagem diminuiu o quadro álgico e aumentou a ADM. O teste foi realizado 
em 41 pessoas (sendo 21 mulheres), foram divididos aleatoriamente em 02 
grupos, sendo que o grupo experimental recebeu aplicação de Kinesio taping na 
coluna cervical, aplicado com tensão e o do grupo placebo recebeu a aplicação 
sem tensão. O resultado foi estatisticamente significativo para a dor e aumento 
de ADM, para todas as direções da amplitude de movimento cervical. 
 
 
 
26 
Karatas et al. (2011), estudou 32 cirurgiões (entre 27 a 44 anos) que 
trabalham no Hospital Universitário, com queixas de dor cervical e lombar e após 
o quarto dia de permanência com a bandagem observou-se que os indivíduos 
tiveram melhoras no quadro álgico, da performance funcional e tiveram aumento 
da ADM. 
Artioli e Bertolini (2014), pesquisaram a sua aplicação e os resultados 
sobre a dor em 10 ensaios clínicos referentes à dor com Kinesio taping, avaliados 
por meio da escala PEDro. Sendo que seus resultados foram semelhantes ou 
inferiores a outros grupos e que esse não seria o principal tratamento de escolha, 
sendo ela considerada técnica adjunta ou complementar. O que justificaria o 
efeito hipoalgésico seria a teoria das comportas. 
Lemos et al. (2014). pesquisaram o efeito da bandagem elástica sobre as 
fáscias da região da coluna vertebral lombar para o aumento da flexibilidade. 
Participaram 39 indivíduos do gênero feminino com idade entre 18 a 27 anos, 
foram divididos em três grupos (controle, tratados sem tensão e tratados com 
tensão). Nos dois grupos tratados observaram mudanças na mobilidade da 
fáscia lombar. No entanto, estes dois grupos não apresentaram diferenças 
significativas entre eles. Já no presente estudo, os dois grupos que receberam 
aplicação de bandagem obtiveram diferenças significativas quando comparados 
com o grupo controle, e diferenças significativas também quando comparados 
entre os grupos que receberam a aplicação da bandagem. Sendo o grupo tratado 
com tensão com maior ganho de flexibilidade. 
Luz Junior et al. (2015), relata em seu estudo que o Kinesio Taping não é 
melhor que o Micropore, mas que ambos os grupos apresentaram diferenças 
significantes quando comparadas ao grupo controle (não houve aplicação de 
nenhuma bandagem). 
Tanto os resultados do estudo de Lemos et al. (2014) como os resultados 
de Luz Junior et al (2015) demonstram resultados que a aplicação de uma 
bandagem é eficaz para o aumento de flexibilidade. No entanto, a presença de 
tensão na bandagem não interfere neste ganho de flexibilidade. 
Por isso, estamos de acordo com Yazici et al. (2015), sobre o efeito de 
melhora sensorial local que a presença da bandagem provoca. A melhora da 
informação sensorial pode ser suficiente para aumentar a flexibilidade do 
segmento estimulado. 
 
 
 
27 
TERAPIA OCUPACIONAL, NEURO-OCUPAÇÃO E 
PSICOTERAPIA – ASPECTOS TEÓRICOS, PRÁTICA 
CLÍNICA E RELAÇÃO MULTIPROFISSIONAL. 
 
“O que temos que aprender a fazer, aprendemos fazendo”. 
Aristóteles 
 
Um Velho Novo Caminho. 
 
A atuação do Terapeuta Ocupacional, frente às inúmeras facetas do fazer 
humano, é extremamente diversificada. Na saúde mental, não poderia ser 
diferente. Diversos teóricos, partindo de pontos diferentes, agregam valor à 
profissão com a multiplicidade dos seus olhares. Quando se fala de psicoterapia 
na terapia ocupacional, apesar de algo já bem antigo (o termo, “Psicoterapia 
Ocupacional” já era utilizado por Suliano Filho, em 1982), ainda há muito medo 
e insegurança em assumir esta posição, cercada de pré-conceitos e ignorância. 
Rui Chamone Jorge, terapeuta ocupacional mineiro e um dos fundadores 
da graduação em terapia ocupacional da UFMG, seguiu a terminologia proposta 
por Suliano Filho e nomeou seu último livro (publicado após o seu falecimento) 
como psicoterapia ocupacional (1995), tomando este nome para a nova 
abordagem que propunha. Para Jorge, a terapia ocupacional podia ser definida 
como “método críticolaborativo das relações humanas, portanto, modo 
psicoterapêutico”. 
Sendo a psicoterapia uma intervenção multiprofissional, em 2010, o 
College of Occupational Therapits of Ontario (COTO) fez uma publicação 
denominada Standards For Psychotherapy em que conceitua o seguinte: 
“A psicoterapia concentra-se nos problemas emocionais do cliente com o 
objetivo de mudar padrões de comportamento de derrota, promovendo 
mudanças positivas de personalidade, crescimento e desenvolvimento e 
reorganizando a personalidade. Os psicoterapeutas frequentemente trabalham 
com uma variedade de teorias ou combinações de teorias e podem usar um ou 
mais procedimentos ou modelos para tentar alcançar os resultados desejados”. 
 
 
 
28 
Em dezembro de 2013, Moll et. al. publicaram artigo na Canadian Journal 
of Occupational Therapy marcando a importância da psicoterapia como parte da 
prática da terapia ocupacional psicossocial, reforçando que seu uso requer 
treinamento especializado para alcançar e manter a competência para esta 
atuação. 
Considerando a psicoterapia uma ferramenta multiprofissional, surgem 
então alguns questionamentos, tais como: o que um terapeuta ocupacional 
agregaria numa equipe de saúde mental com esta prática? Qual fundamentação 
teórica respalda este desempenho? Estas respostas serão obtidas ao longo 
desse capítulo, descrito a seguir. 
 
A Relação Triádica na Terapia Ocupacional. 
 
Rui Chamone Jorge definia a relação terapêutica ocupacional como uma 
relação triádica entre terapeuta, paciente e atividade, em que cada vértice do 
triângulo faz a mediação da relação entre os outros dois. A atividade estaria 
dividida em três elementos: material, ferramenta e objeto-concreto, totalizando o 
que ele chamava de “cinco elementos da terapia ocupacional”, como é possível 
visualizar na Figura 1. 
 
 
 
 
29 
Em 1995, Vianna faz uma releitura da tríade proposta por Jorge 
identificando, primeiro, os elementos OSI (nesta ordem, “O” representaria o 
objeto, a que Jorge chamou de material, “I” seria a imagem conceitual, o objeto 
plástico enquanto articulação discursiva, Jorge chamou de objeto-concreto, e “S” 
seria qualquer pessoa) e nomeando esta relação de “Triparalelismo do 
Conhecimento”. Em seguida, encaixou o sistema OSI num novo triângulo 
(Figura 2), ao qual denominou de “O Conhecimento Geral da Terapia 
Ocupacional”. 
 
Numa reorganização dos triângulos de Chamone e Vianna, chegou-se ao 
triângulo da Figura 3. 
 
 
 
30 
Entretanto, tratar esta relação como geradora de uma imagem conceitual 
parece pouco. Foi quando se teve conhecimento, em Nova York, durante a 
formação em Accelerated Experiential Dynamic Psychotherapy (AEDP), o 
triângulo de self-outro-emoção (Figura 4) usado por Diana Fosha para 
exemplificar como ocorrem as psicopatologias e o trabalho com a perspectiva de 
cura. 
 
 
O TRIÂNGULO DO CONFLITO. 
 
Segundo Fosha (2000), a relação que estabelecemos com nossos 
cuidadores nos primeiros anos de vida são fundamentais na construção de 
resiliência emocional ou mesmo de uma psicopatologia. Então, nos 
relacionamos com o “outro” (cuidador primário) recebendo influência de 
acontecimentos externos e sentindo emoções. 
Quando o “outro” tem recursos internos suficientes e sabe como manejar 
os afetos (comportamentos observáveis que representam as emoções) dos 
(geralmente) filhos, os filhos podem sentir, na linguagem de Fosha, a emoção 
central, aprender a manejá-la com os cuidadorese se relacionar de forma 
segura, tanto com os cuidadores quanto, posteriormente, com as pessoas que o 
circundam. 
Entretanto, se os cuidadores não sabem como lidar com os afetos dos 
filhos, estes terão que fazer uma escolha, não de forma consciente. 
Haverá um rompimento ou com os cuidadores ou com a emoção central 
(ou emoção primária, na linguagem de Pat Ogden, que teorizou a Sensorymotor 
Psychotherapy). 
 
 
 
31 
Uma criança não pode ficar sem o cuidado dos seus cuidadores. Então, 
o que lhe resta é romper com a emoção, deixando de senti-la e dando lugar a 
outros conteúdos, que irão gerar a psicopatologia. É aí que surgem as defesas 
e as emoções secundárias, na linguagem de Ogden, ou “afetos de sinal 
vermelho”, na linguagem de Fosha, formando um novo triângulo: o triângulo do 
conflito (figura 5). 
 
O CÉREBRO TRIUNO E A NEURO-OCUPAÇÃO. 
 
Partimos, então, para um aprofundamento em outra teoria: o cérebro 
triúno, que vai nos ajudar a compreender como toda emoção tem um 
componente somático e um componente cognitivo. O neurocientista Paul 
Maclean criou a teoria do cérebro triúno (ou trino) e apresentou-a em 1990 no 
livro “The Triune Brain in evolution: Role in paleocerebral functions”. 
 
Os três cérebros seriam: 
 
(a) o cérebro reptiliano, o tronco cerebral, responsável pelo 
processamento sensório-motor, em amarelo na figura 6 
(b) o cérebro mamífero, o sistema límbico, responsável pelo 
processamento das emoções, em verde na figura 6 e 
(c) o cérebro de primatas e humanos, o neocórtex, responsável pelo 
processamento cognitivo, em azul na figura 6. 
 
 
 
32 
 
Essa teoria nos mostra que não somos um corpo ambulante no mundo, 
nem somente um conjunto de crenças que definirão nosso destino, ou um 
compêndio de emoções que nos levam do Oiapoque ao Chuí em segundos sem 
nem entendermos o que está acontecendo. Há correspondentes sensório-
motores e cognitivos para cada emoção, há correspondentes emocionais e 
cognitivos para cada sensação e/ou movimento e há correspondentes sensório-
motores e emocionais para cada pensamento/ crença. Não é possível romper 
com uma emoção sem padrões de crença, de postura, de movimento e 
sensações que sustentem esse padrão. 
Com base na teoria do cérebro triúno, Tina Champagne (2011) nos 
apresenta a neuro-ocupação. O termo foi uma inflexão das neurociências ao 
termo ocupação, naturalmente para dar visibilidade científica ao uso de 
ocupações como dispositivos terapêuticos. 
Champagne apresenta o neocórtex como a estrutura responsável pela 
“consciência perceptiva”, o sistema límbico responsável pelo “significado”, e o 
tronco cerebral responsável pela “intencionalidade”. 
Amplio o uso do termo “neuro-ocupação” para o conhecimento produzido 
pela neurocientista Kelly Lambert (2008). Lambert descobriu que, além da 
chamada “Recompensa Cerebral”, temos também a “Recompensa Impulsionada 
Pelo Esforço”. Essas descobertas foram fundamentais para a auto-preservação 
humana por motivar os seres humanos primitivos à realização de esforço físico 
necessário para a obtenção de recursos para a sobrevivência. Segundo 
Lambert, quando o esforço físico (principalmente se feito com as mãos) produz 
algo tangível, visível e significativo, há sensação de bem-estar, realização e 
satisfação e o cérebro é estimulado em diversas regiões, o que não acontece 
quando obtemos um “prazer pronto”, como no caso de substâncias psicoativas 
ou mesmo no lazer maquinizado de ver televisão. 
 
 
 
33 
Diante de todos esses conhecimentos, conclui-se que quando se fala em 
imagem conceitual, fala-se também em emoção, em sensação e em movimento. 
Essa relação se dá frente a diversas ações, engendradas numa cultura. Então, 
apresento um novo triângulo. Um triângulo do sentir, pensar e fazer na relação 
com o outro no âmbito da cultura. 
 
Quando um indivíduo rompe com sua emoção primária, ele rompe 
também com suas sensações e movimentos construindo crenças que trarão 
estagnação, não conseguindo fazer o que realmente gostaria de fazer. 
Na psicoterapia, como bem descreve Fosha (2000), o terapeuta entrará 
no lugar desse “outro”, promovendo uma experiência emocional corretiva, e, 
segundo Ogden (2012), facilitando que ocorra o que precisa acontecer. Então, 
esse triângulo passa a fazer parte do processo psicoterapêutico, ao qual pode 
ser denominado de “psicoterapia neuro-ocupacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
Aqui temos o cliente como alguém que sente (emocional e fisicamente), 
pensa e faz na relação com o terapeuta e tudo isso permeado pelo arcabouço 
cultural em que se encontram. 
 
A Peculiaridade da Terapia Ocupacional. 
 
O terapeuta ocupacional é o profissional que trabalha visualizando a 
atividade como parte de uma relação triádica, e o seu “grande trunfo” nos 
trabalhos em equipe é ser o “profissional da ação”. Pois, o mesmo trabalha por 
meio da ação (fazer, atividade, ocupação) para uma ação mais adaptativa, 
alcançando, com esta intervenção, os três níveis do cérebro, enquanto outros 
profissionais vieram de uma prática intervencionista verbal, privilegiando apenas 
o neocórtex. 
Todavia, os pacientes atendidos nas instituições de saúde mental têm 
grande possibilidade de terem sofrido traumas emocionais ao longo da vida. 
Quando isso ocorre, há um comprometimento da integração do processamento 
das informações nos níveis cognitivo, emocional e sensóriomotor do cérebro e 
também hiper ou hipoestimulação autonômica, levando a uma elevação das 
emoções, pensamentos em círculo e má interpretação das pistas presentes no 
ambiente como as do trauma do passado. 
Trabalhar só com o conteúdo verbal, sem acessar sensações corporais e 
movimentos, é insuficiente para ajudar quem sofreu trauma. Pois o terapeuta 
ocupacional, por já utilizar de método ascendente ou bottom-up (trabalhando a 
partir do tronco cerebral) tem um arcabouço de ferramentas mais apropriado 
para a clientela, precisando apenas aprofundar o conhecimento e o uso de 
técnicas adequadas para promover a reintegração da pessoa assistida, tanto do 
ponto de vista neurológico, quanto do social. 
Por fim, o terapeuta ocupacional, enxergando a atividade a partir de uma 
ótica neurocientífica, considerando a relação terapeuta versus cliente como 
reparadora de vínculos anteriores, e percebendo o cliente a partir de suas 
expressões plásticas, sensório-motoras, emocionais e cognitivas, tem 
possibilidade de um cuidado psicoterapêutico, desde que haja treinamento 
adequado para esta atuação, sendo fundamental a sua presença nas equipes 
 
 
 
35 
de saúde mental pela possibilidade de proporcionar a elaboração de conteúdos 
que não seriam trabalhados de outra maneira.(ADRIANO CONRADO; 
RODRIGUES, 2018) 
LESÃO MEDULAR 
 
A medula espinal contém os nervos que transportam mensagens entre o 
cérebro e o corpo. A medula passa através do pescoço e pelas costas. 
Uma lesão na medula espinal pode causar perda de movimento (paralisia) 
abaixo do local da lesão. O sistema nervoso central é formado pelo cérebro e 
pela medula espinal. 
O cérebro funciona para receber impulsos nervosos da medula espinal e 
nervos cranianos. A medula espinal contém os nervos que transportam 
mensagens entre o cérebro e o corpo. 
A lesão traumática da medula pode variar de uma concussão medular 
leve até dormência transitória e tetraplegia permanente. Os locais mais comuns 
dessa lesão são no nível das vértebras cervicais, e no nível das vértebras 
torácicas e lombares. 
A Lesão Medular (LM) é um agravo irreversível, mas, pelos avanços da 
ciência e da tecnologia, o número de sobreviventes aumentou e, mesmo 
apresentando incapacidades leves e/ou graves, as pessoas com LM obtêm um 
melhor prognóstico e são consideradas potencialmente produtivas. 
Por ser a medula o órgão responsável pela condução dos estímulos 
aferentes e eferentes entre a periferia e o encéfalo, quando esse órgãosofre 
lesão, ocorre comprometimento de estruturas e funções orgânicas, resultando 
em limitações no desempenho das atividades da vida diária, aspectos que 
afetam a qualidade de vida da pessoa acometida. 
A lesão medular pode resultar de doença espinal que interfira nos trajetos 
nervosos que ligam o cérebro e os músculos. As afecções que podem causar 
interferência nesses trajetos incluem lesão física, hemorragia, tuberculose e 
tumores. No entanto, as causas mais frequentes dessa lesão estão relacionadas 
com a violência urbana, acidentes desportivos e acidentes do trabalho. 
A pessoa com LM está vulnerável à ruptura de tecidos em todas as fases 
do tratamento da lesão e da reabilitação, desde o pós-traumático até a fase de 
 
 
 
36 
reinserção comunitária. Dentre alguns problemas que podem afetar a pessoa 
com LM, destacam-se as úlceras por pressão, a depressão, amenorréia 
temporária e dor neuropática. Nos pacientes com lesão elevada pode ocorrer 6 
disreflexia autônoma, evento que se caracteriza por elevação perigosa da 
pressão arterial. Também pode ocorrer a disfunção autônoma, que resulta em 
hipotensão ortostática, termo-desregulação e anormalidades vasomotoras, 
fenômeno grave e comprometedor que necessita de atendimento de urgência, 
pois pode acarretar limitações e levar o paciente a óbito. 
A lesão medular também desencadeia alterações na eliminação urinária 
e na eliminação fecal, resultantes da perda do controle esfincteriano vesical e do 
anal com consequente mudança no padrão dessas eliminações e alterações 
decorrentes de complicações clínicas. Esses agravos, além de alterarem as 
condições físicas e psicológicas do ser humano, prejudicam a capacidade sexual 
e reprodutiva da pessoa acometida. As limitações resultantes da lesão medular 
prejudicam, de forma significativa, a capacidade das pessoas para 
desempenharem várias atividades cotidianas. 
A dor é um dos problemas mais comuns experimentados pelos indivíduos 
que sofreram lesão medular traumática. Apesar da perda da funcionalidade ser 
considerada a mais significante consequência desse tipo de lesão, a dor pode 
determinar a habilidade ou inabilidade do indivíduo para retornar às atividades 
de forma plena. A dor, de forma geral, pode iniciar-se imediatamente após a 
lesão, mas esse fato não invalida a possibilidade de manifestação tardia até dois 
anos após o evento. No entanto, tipos distintos de dor apresentam-se de forma 
heterogênea ao longo do tempo. 
Algumas causas que provocam a lesão são: ferimento de bala ou por faca, 
trauma direto no rosto, no pescoço, na cabeça, no peito ou nas costas (por 
exemplo, um acidente de automóvel), queda sobre a cabeça durante uma lesão 
esportiva, contorção extrema da parte central do corpo e queda de uma grande 
altura. 
Alguns sintomas são: cabeça mantida em posição incomum, dormência 
ou formigamento que se espalha por um braço ou perna, fraqueza, dificuldade 
para caminhar, falta de controle sobre a bexiga ou os intestinos, pescoço rígido 
e dor de cabeça. 
 
 
 
37 
Várias síndromes clínicas têm sido descritas após lesão medular , a 
mais grave e mais comum é a mielopatia transversa completa com perda 
total de todas as funções motoras e sensoriais abaixo do nível da lesão. 
Síndromes incompletas podem ser vistas com menos frequência. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
• 31% Acidentes de carro; 30% PAF; 21% quedas e 6,5% Mergulho. 
• Média de início: entre 16 e 30 anos. 
• 5 Homens / 1 Mulher 
• Nível de lesão mais comum: C5 -C6, seguido de C-4 e C-6. O nível 
inferior mais comum é T-12, seguido de L-1 e T-10. 
 
MECANISMO DE AÇÃO 
 
MECANISMOS TRAUMÁTICOS 
• Flexão, flexão-rotação, hiperextensão, compressão vertebral e lesões 
por penetração. 
 
MECANISMOS NÃO-TRAUMÁTICOS 
• Tumores (50%dessaslesões): Extradurais/Extramedulares/Intramedulares 
• Infecções: Abcessos/Mielites/TBC/LUES/HTLV-I 
• Vasculares: Trombose /Embolia 
• Malformações: Mielomeningocele 
• Hérnias de Disco. 
 
 
 
38 
ANATOMIA DA LESÃO 
 
NIVEL DA LESÃO 
O nível de lesão: altura da lesão, se esta é mais alta ou mais baixa. 
• Uma lesão de nível mais alto resulta numa maior área corporal 
comprometida: 
Cervicais: comprometimento dos membros superiores, tronco e 
membros inferiores. São eles: C1, C2, C3, C4, C5, C6 ou C7. 
Torácicas: comprometimento do tronco e membros inferiores. São eles: 
T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9, T10, T11 ou T12. 
Lombares: comprometimento dos membros inferiores. São eles: L1, L2, 
L3, L4 ou L5. 
Sacrais: comprometimento leve dos membros inferiores. São eles: S1, 
S2, S3, S4 ou S5. 
Cervicais 
• Tetraplégico: indivíduos portadores de grande comprometimento dos 
membros superiores para baixo. 
• Tetraparético: indivíduos portadores de comprometimento leve dos 
membros superiores para baixo. 
Torácicos ou lombares 
• Paraplégico: indivíduos portadores de grande comprometimento dos 
membros inferiores. 
• Paraparético: indivíduos com comprometimento leve dos membros 
inferiores. 
 
 
 
39 
EXTENSÃO DA LESÃO 
 
 A extensão (tamanho) da lesão: se esta é completa ou incompleta. 
 
Completa: não há atividade motora voluntária nem sensibilidade do nível 
da lesão até o segmento Sacral S4-S5 
• Podem apresentar alguns níveis abaixo da lesão com contração 
muscular voluntária parcial e/ou sensibilidade parcial = Zona de Preservação 
Parcial (ZPP). 
Incompleta: há atividade motora voluntária parcial e sensibilidade parcial 
até o segmento sacral S4-S5. 
 
 
 
Importante saber que...: 
• Podem existir tantas lesões altas incompletas como lesões baixas 
completas; 
o Níveis de lesão cervicais até torácico T11: apresentam paralisia 
espástica (contração muscular involuntária); 
o Níveis de lesão torácico T12 para baixo: apresentam paralisia flácida 
(sem contração involuntária). 
 
 
 
 
40 
ESCALA FRANKEL 
 
ESCALA ASIA (INTERNACIONAL) 
 
 
QUADRO CLÍNICO 
Síndromes Medulares 
• Síndrome Centro medular 
• Síndrome de Brown-Séquard 
• Síndrome da Cauda Eqüina 
• Síndrome do Cone Medular 
• Síndrome do Canal posterior ou anterior 
 
 
 
41 
Choque Medular - A fase de choque medular pode levar até 8 semanas. 
Às vezes é por causa do edema que está comprimindo os nervos. 
Reflexo do Bulbocavernoso - sinal de que o paciente saiu da fase aguda 
da lesão medular. 
 
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL 
 
O programa de reabilitação de uma pessoa com lesão medular tem início 
no atendimento prestado ao paciente ainda na urgência ou quando da definição 
do diagnóstico nos casos não traumáticos, e segue até a reinserção do indivíduo 
no convívio social, passando por todas as esferas de atenção em saúde. 
O prognóstico funcional vai depender de uma série de fatores que incluem 
o nível da lesão, o grau de comprometi mento, o tempo decorrido desde a injúria 
medular, fatores pessoais como idade, peso, histórico de vida pregressa e 
características de humor, além de fatores sócio-econômicos como o acesso aos 
serviços especializados de saúde, acessibilidade domiciliar e rede de apoio 
social. 
Na avaliação inicial, o profissional deve considerar todas as alterações 
sistêmicas inerentes a este tipo de lesão e suas correlações funcionais. A 
prevenção das úlceras por pressão, das deformidades do sistema músculo-
esquelético e das complicações dos sistemas urinário, digestivo, circulatório e 
respiratório, além de dificuldades no âmbito psicológico e manejo da dor, devem 
ser prioridades da equipe na construção do projeto terapêutico do paciente. Em 
relação às úlceras de pressão, o estado nutricional da pele e a extensão da 
lesão medular podem influenciara origem da úlcera. 
Para a definição do programa de reabilitação é de grande importância 
para o Terapeuta o conhecimento da classificação do paciente na ASIA e, na 
ausência da mesma, é importante que profissional investigue os níveis motores 
e sensitivos preservados, visando melhor entendimento sobre o quadro. 
* A lesão medular é classificada segundo a padronização internacional 
determinada pela American Spinal Injury Association – ASIA (disponível em 
<http://asia-spinalinjury.org/>). 
 
 
 
42 
Classificado o nível funcional, o passo seguinte é a definição das metas 
de reabilitação que, preferencialmente, devem ser traçadas em conjunto com o 
indivíduo e seus familiares. O início precoce do treino das Atividades de Vida 
Diária constitui um poderoso estímulo à prevenção das perdas neuromotoras, 
comuns nos casos de lesões do Sistema Nervoso Central (SNC). O rápido 
engajamento do indivíduo em suas tarefas de rotina favorece a vivência do 
potencial produtivo, amenizando os senti mentos de menos valia e a baixa auto-
estima. As estratégias a serem adotadas dependem, obviamente, das condições 
clínicas e das possíveis comorbidades associadas à lesão medular. 
O uso de escalas funcionais como a Medida de Independência Funcional 
facilita o processo de definição de metas, auxiliando os terapeutas ocupacionais 
na construção do projeto terapêutico. 
Nas fases iniciais, como descrito anteriormente, especial atenção precisa 
ser dada as estratégias preventivas, visando evitar o surgimento de 
complicações decorrentes das alterações de sensibilidade e motricidade que 
acompanham a lesão medular. 
Já o Consortium for Spinal Cord Medicine (2008), recomenda que os 
profissionais de reabilitação devem estar envolvidos nos cuidados prestados à 
pessoa com lesão medular imediatamente após a injúria, ainda na fase aguda. 
Os autores afirmam que é fundamental o início precoce das mobilizações, ainda 
na primeira semana após a lesão medular, e que as mesmas devem ser 
realizadas durante toda a fase hospitalar. Ressaltam a importância de um 
programa de controle da hipotensão postural e posicionamento do 
paciente na postura sentada o mais rapidamente possível, desde que com 
a liberação da equipe médica. 
 
ÓRTESES 
 
O uso de órteses para evitar a instalação das deformidades ortopédicas, 
em indivíduos com lesão medular, constitui uma importante estratégia de 
prevenção secundária. Para os membros superiores podem ser utilizadas 
órteses de posicionamento ou estabilizadores de punho, principalmente para 
indivíduos com tendência a contratura em flexão de punho e dedos ou só de 
 
 
 
43 
punho, respectivamente. Extensores de cotovelo podem ser prescritos na 
tentativa de evitar as deformidades em flexão deste segmento associada à 
supinação do ante-braço, relativamente comuns em pacientes com lesões em 
C5 e C6, devido ao discinergismo entre agonistas - flexores de cotovelo - e 
antagonistas - extensores de cotovelo e pronadores. Nos casos de contratura já 
instalada, tanto uma ortetização seriada com tala gessada ou de termomoldável, 
quanto o uso de extensores dinâmicos ou com distrator para o cotovelo, pode 
ser avaliado. 
Além destes, uma série de outros aparelhos – abdutores de polegar, 
órtese para tenodese, barra lumbrical, estabilizador de punho dorsal, etc. 
também podem ser prescritos e/ou confeccionados, para os diferentes níveis de 
lesão, caso os profissionais da equipe julguem necessário. 
Especificamente para pacientes que tenham capacidade para realizar a 
tenodese ativa (uso da extensão ativa do punho e concomitante flexão passiva 
dos dedos para a função), o uso de uma luva flexora para dedos pode ser 
cuidadosamente avaliado. Tal estratégia visa favorecer uma “contratura 
funcional” dos dedos em semiflexo, situação que facilita a realização das pinças 
e da preensão cilíndrica durante a execução de atividades manuais. 
 
ADAPTAÇÕES 
 
Adaptações para atividades básicas como alimentação e higiene bucal 
podem ser providenciadas para pacientes que apresentem lesões cervicais 
ainda na fase hospitalar. As mais consagradas são os substituidores universais 
de preensão, os copos/canecas de alças duplas, os engrossadores, 
substituidores de pinça para escrita, barra contensora de alimentos, clips para 
digitação. Mudanças na forma de realizar as atividades, como a mudança na 
altura onde ficam dispostos os produtos de higiene e beleza no banheiro ou da 
apresentação da refeição também podem ser propostas, no intuito de facilitar a 
realização destas tarefas. A prescrição de cintas de transferências e/ou tábuas 
de transferência também pode ser útil, desde que não haja contraindicações. 
Quando a unidade de internação hospitalar permitir a entrada de computadores, 
o uso de softwares livres de controle do mouse por movimentos da cabeça como 
 
 
 
44 
o câmera mouse, head mouse ou eviacam, para pacientes com tetraplegia, pode 
ser iniciado. 
Com a estabilização do quadro neurológico a escolha de dispositivos de 
apoio, as técnicas adaptadas para a realização das AVD’s e adaptações 
ambientais definitivas devem ser consideradas. 
 
CADEIRAS DE RODAS 
 
Para o indivíduo com lesão medular a cadeira de rodas deve garantir 
conforto, segurança e posicionamento adequado, além de proporcionar melhor 
funcionalidade e maior independência. 
Nas fases iniciais após a lesão medular o paciente ainda se encontra 
inseguro e, usualmente, prefere um equipamento que lhe proporcione maior 
estabilidade. À medida que o quadro evolui, torna-se viável a prescrição de uma 
cadeira de rodas mais leve e com melhor desempenho, acompanhando o quadro 
motor apresentado pelo usuário (controle de tronco conforme nível da lesão). 
Quanto à estrutura, as cadeiras de rodas podem ser construídas em aço, 
alumínio ou fibras sintéticas. As cadeiras em aço são mais resistentes, mas 
apresentam peso elevado. O alumínio garante resistência e redução 
considerável do peso da cadeira, porém com maior custo. Já as fibras sintéticas 
são muito mais leves que o aço e alumínio, porém são menos resistentes e 
possuem custo elevado. 
Independente do tipo de quadro, a cadeira de rodas deve apresentar 
acessórios que permitam ajustes personalizados à condição funcional do 
paciente. Apoios de braços e de pés reguláveis e ou rebatíveis, em folha simples 
ou dupla, freios de acionamento para frente ou para trás, protetores de roupas e 
de aros, rodas com diâmetro e pneus diversos, cintos de vários modelos, são 
alguns exemplos. 
O mancal compõe um sistema que permite a regulagem do centro de 
gravidade da cadeira de rodas. Este equipamento torna a condução mais leve à 
medida que seu centro de gravidade é adiantado em relação ao alinhamento do 
ombro do paciente sentado. Em contrapartida, quando o mancal é ajustado atrás 
 
 
 
45 
do paciente, o equipamento fica mais estável, porém mais pesado para o 
cadeirante. 
As rodas antitombo previnem a queda da cadeira pra trás enquanto os 
aros de propulsão podem ser simples (circulares ou oblongos) ou apresentar 
pinos ou fitas aderentes que facilitam a condução por pacientes que apresentem 
déficits de preensão. 
As rodas traseiras obrigatoriamente devem apresentar sistema quick- -
release, que permite a rápida montagem e desmontagem das mesmas, tornando 
o transporte da cadeira mais prático. Já as rodas dianteiras têm diâmetro 
variável, e como as traseiras, podem ser maciças ou infláveis e também podem 
ser removíveis. 
Os sistemas de encosto e principalmente de assento devem ser prescritos 
de acordo com as medidas antropométricas apresentadas pelo paciente e 
podem ser importantes aliados na prevenção do surgimento e/ou evolução das 
úlceras por pressão, desde que corretamente indicados. 
O peso, a estabilidade ou instabilidade do paciente sentado sobre a 
mesma, a distribuição/alívio de pressão proporcionado, o nível de atrito da 
cobertura/capa,

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