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PEDIATRIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL PROF A. MA VANESSA PAOLA POVOLO GASPARI PROF. RONALDO ZOPELLARO PROF A. DANIELE TABONI PROF A. LUCIANA SANGED PORTELLA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Edson Dias Vieira Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Camila Cristiane Moreschi Danielly de Oliveira Nascimento Fernando Sachetti Bomfim Luana Luciano de Oliveira Patrícia Garcia Costa Renata Rafaela de Oliveira Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4 1. A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA PEDIATRIA ...............................................................................5 2. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL COMO BASE DE INTERVENÇÃO EM PEDIATRIA .........................................8 3. AVALIAÇÕES E INSTRUMENTOS PADRONIZADOS ............................................................................................. 10 4. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E O PAPEL DOS PAIS NO PROCESSO TERAPÊUTICO ................................... 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 17 TERAPIA OCUPACIONAL E PEDIATRIA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PEDIATRIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL 4WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A terapia ocupacional, enquanto profissão formal, foi construindo-se ao longo da história, passando por vários acontecimentos, modelos socioeconômicos e culturais, políticos e pensamentos filosóficos que permeavam cada período da sociedade. Inicialmente, ela surge nos campos da Psiquiatria com Pinel e, mais tarde, no campo da reabilitação física, no pós-guerra, atendendo diretamente indivíduos adultos com sequelas físicas, ocasionadas pelas batalhas nas grandes guerras (DE CARLO; BARTALOTTI, 2001, p. 31). Figura 1 - Hospital Psiquiátrico Pinel. Fonte: Wikimedia (2014). Ao relembrarmos sua história, compreendemos e fortalecemos o papel dos terapeutas ocupacionais como agentes promotores da saúde e qualidade de vida nos diversos contextos em que atuam. E ao pensarmos sobre a linguagem da Terapia Ocupacional, vale destacar os chamados “contextos”, ou seja, elementos que compõem ou circundam o indivíduo e que, embora menos tangíveis, exercem forte influência sobre o seu desempenho (AOTA, 2015, p. 09). São condições que envolvem o indivíduo ou que são próprias dele, que o influenciam na execução de suas atividades cotidianas. Tais contextos envolvem o indivíduo durante todo seu processo de desenvolvimento, entendendo que estão diretamente relacionados às suas necessidades. Neste capítulo abordaremos os que envolvem a primeira infância. 5WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA PEDIATRIA Figura 2 - A atuação do Terapeuta Ocupacional na Pediatria. Fonte: NARSELLI (2017). Como em todas as profissões, especializar- se em determinada área de interesse, para desempenhar com mais eficácia o trabalho com grupos específicos de pacientes, é de suma importância e, para o Terapeuta Ocupacional, não é diferente. Muitas dessas áreas de foco visam restaurar as habilidades daqueles que perderam as capacidades que possuíam anteriormente, seja por questões relacinaonadas ao envelhecimento ou como resultado de um evento traumático, lesão, vício ou doença mental. Já, os terapeutas ocupacionais pediátricos têm uma oportunidade única; não só a de intervir com crianças, mas a de garantir que elas tenham o melhor início possível durante as fases primordiais de desenvolvimento, fornecendo suporte aos bebês, às crianças, e aos adolescentes, bem como para suas famílias em uma variedade de ambientes. A American Occupational Therapy Association (AOTA) destacou crianças e jovens como uma das seis principais áreas de foco para a prática de terapia ocupacional no século 21. Sobre a atuação do terapeuta ocupacional na população infantil, é importante relembrarmos que, conforme citado por SOARES (2007, p.07), ela toma maior evidência no Brasil em meados dos anos 40 (período em que a sociedade lutava contra o surto de poliomielite e meningite), dentro do contexto da reabilitação física, ganhando apoio de entidades como a do Rotary Internacional, que possibilitou a criação entidades beneficentes para reabilitação de pessoas físicas e mentais, dentre as quais as APAES (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Sociedade Pestalozzi e outros centros de reabilitação. Desse período em diante, os terapeutas ocupacionais continuaram desempenhando papel de grande importância intervindo em todas as etapas e comprometimentos do desenvolvimento infantil; atuando em diversos ambientes tais como: hospitais, clínicas de saúde mental, centros de reabilitação, escolas, cuidados de saúde domiciliar, dentre outros. 6WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Vale destacar que a intervenção dos profissionais de terapia ocupacional pediátrica é considerada de suma importância dentro de uma equipe de estimulação precoce, pois, quanto mais tempo uma criança passa sem dominar as habilidades necessárias para o sucesso e a independência, mais o problema pode se agravar. Esse profissional pode atuar em áreas gerais de desenvolvimento, que incluem habilidades cognitivas, habilidades motoras finas, habilidades motoras grossas, tarefas de autocuidado e habilidades sociais, assim como áreas mais específicas, por exemplo: a atuação em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), trabalhando com recém nascidos pré-termo, assim como crianças em período de internação; atendimentos ambulatoriais; Programas de Intervenção Precoce; áreas ligadas ao sistema escolar; pisquiatria infantil; estimulação visual. Outras abordagens de atuação do Terapeuta Ocupacional: • Transtornos do processamento sensorial; • Problemas de alimentação de base sensorial; • Deficiências de aprendizagem ou cognitivas; • Atrasos no desenvolvimento em crianças com síndrome de Down; • Autismo/transtornos invasivos do desenvolvimento; • Lesões; • Malformação congênita (anomalia funcionalou estrutural no desenvolvimento do feto); • Spina Bifida; • Saúde mental, problemas comportamentais ou TDAH; • Lesões traumáticas (cérebro ou medula espinhal); • Ortopedia (indicação e confecção de órteses); • Tecnologias assistivas; • Queimaduras; • Amputações traumáticas ou lesões graves nas mãos; • Recuperação pós-cirúrgica; • Doenças crônicas, como câncer, esclerose múltipla, paralisia cerebral e artrite reumatóide juvenil. Os terapeutas ocupacionais que atuam com bebês, crianças e adolescentes, muitas vezes incorporam a brincadeira em suas intervenções para ajudar a motivá-los. Isso pode envolver jogos, quebra-cabeças, brinquedos, músicas, exercícios físicos e inúmeros outros recursos terapêuticos, que também ajudam a reduzir a ansiedade potencial que eles podem sentir durante o processo, o que faz com que as crianças não apenas desenvolvam habilidades críticas, mas muitas vezes também aumentem seus níveis de confiança e autoestima. http://kidshealth.org/en/teens/autism.html http://kidshealth.org/en/parents/spina-bifida.html 7WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para maiores informações sobre a Política Nacional de Atenção Integral à saúde da Criança (PNAISC), acessar: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/ u p l o a d s / 2 0 1 8 / 0 7 / P o l % C 3 % A D t i c a - N a c i o n a l - d e - Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da- Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf Figura 3 - olítica Nacional de Atenção Integral à saúde da Criança (PNAISC) Fonte: Ministério da Saúde (2018). https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf 8WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL COMO BASE DE INTERVENÇÃO EM PEDIATRIA Figura 4 -O desenvolvimento infantil. Fonte: Opas (2017). Sobre a atuação da terapia ocupacional na infância, Motta e Takatori (2001) reforçam que: O olhar da Terapia Ocupacional sobre a criança deve considerar as bases teóricas que abordam o processo do desenvolvimento e a relação da criança com o mundo externo, buscando intermediar e facilitar esse encontro e, quando necessário adaptar o ambiente para que este possa ocorrer MOTA; TAKATORI, 2001). Em seu livro ‘Iniciação ao desenvolvimento da Criança’, Sylva e Lunt (1994) comentam que: Todo desenvolvimento é um processo de mudança contínua, às vezes rápida e evidente, às vezes lenta e difícil de ver. A mudança, no desenvolvimento, não procede a esmo, mas de modo ordenado, e ao longo de toda a vida. Na verdade, a infância é apenas um estágio dentro de um ciclo vital de desenvolvimento que culmina na velhice e a morte (SYLVA; LUNT, 1994). Ao falarmos de desenvolvimento infantil, é importante compreendermos os marcos que norteiam o desenvolvimento típico e os problemas que podem vir a afetá-lo, bem como os componentes envolvidos: sensório-motores, cognitivos, psicológicos e psicossociais que comprometerão o desempenho ocupacional da criança na realização de suas AVDs, brincar, escola, lazer. Como os terapeutas ocupacionais pediátricos trabalham com pacientes que vão da infância à adolescência, é indiscutível a importância sobre o conhecimento profundo do desenvolvimento infantil em todas as áreas de desenvolvimento, referindo-se à habilidades motoras, cognitivas, psicossociais e educacionais, além de entender como doenças, enfermidades e lesões afetam o desenvolvimento. Os marcos de desenvolvimento dizem respeito ao que se é esperado de uma criança na idade em que ela se encontra. As atividades esperadas para essa criança em seu estágio de desenvolvimento encontram-se organizadas em estágios cronológicos, artificialmente isolados e separados do contexto de seu desenvolvimento total (BOBATH; BOBATH, 1989), sendo esses estágios: 9WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • O estágio dos 03 meses; • O estágio dos 05 meses; • O estágio de 7 – 8 meses; • O estágio de 9 – 10 meses. Na prática, um dos trabalhos do terapeuta ocupacional no atendimento de crianças em quaisquer ambientes é detectar, além de outros aspectos, os possíveis atrasos do desenvolvimento e prejuízos, possibilitando à criança melhores condições para desempenhar suas atividades cotidianas com maior autonomia e independência e, consequentemente, maior participação nos diferentes contextos sociais ao longo da sua vida (CARELLE, 2015, p. 87). Conforme mencionam Cavalcante e Galvão (2007): Na perspectiva da terapia ocupacional, crianças são consideradas com atraso ou desvio no desenvolvimento quando não são capazes de ser engajar ou desempenhar uma ocupação [...] apresentando assim transtornos no desempenho ocupacional (CAVALCANTE; GALVÃO, 2007). O olhar dos terapeutas ocupacionais, em todo o processo de tratamento, deve estar voltado para o desempenho ocupacional de seus clientes (WILLARD; SPACKMAN, 2002, p.137). Ao compreender os aspectos relacionados às etapas de desenvolvimento infantil e os comprometimentos que ela apresenta, o terapeuta ocupacional consegue intervir de forma mais eficaz nas reais demandas em seu desempenho ocupacional. Dependendo da criança, do caso clínico e da demanda que cada caso apresenta, as sessões de terapia podem abranger, além de muitas outras especificidades, algumas das seguintes áreas a seguir: • Habilidades motoras finas, para que as crianças possam agarrar e soltar brinquedos, desenvolver boas habilidades de caligrafia, copiar de um quadro-negro e usar um computador; • Coordenação mão-olho, para melhorar as habilidades lúdicas das crianças, como encaixar peças de um quebra-cabeça, empilhar blocos, acertar um alvo, rebater uma bola e vestir uma boneca; • Autocuidado básico, para ajudar as crianças a se tornarem mais independentes e aprenderem a tomar banho, se vestir, escovar os dentes e se alimentar; • Atenção e foco, para melhorar as habilidades sociais, bem como as habilidades de aprendizado e estudo; • Coaching comportamental, para abordar questões de gerenciamento da raiva e fornecer opções positivas para lidar com a raiva, como escrever ou fazer exercícios; • Necessidade e uso de equipamentos especializados, como cadeiras de rodas, talas, equipamentos de banho, curativos ou auxiliares de comunicação. 10WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. AVALIAÇÕES E INSTRUMENTOS PADRONIZADOS Figura 6 - Avaliações e Instrumentos Padronizados Fonte: Adobe Stock (2021). O desempenho ocupacional é influenciado pela relação dinâmica entre: • pessoa • ocupação • meio ambiente • No primeiro passo em um serviço de reabilitação, o terapeuta ocupacional deve considerar todos os aspectos desta relação ao realizar uma avaliação. O terapeuta ocupacional avalia e considera os fatores da criança, do ambiente e da ocupação para determinar quais mudanças ou adaptações são necessárias em qualquer uma dessas áreas, para melhorar o desempenho ocupacional e o sucesso desejado. Ninguém esperava muito de Christy Brown, o menino de uma família humilde de operáriosirlandeses, que nasceu com paralisia cerebral. Apesar de tetraplégico, um evento milagroso ocorre quando, aos cinco anos, ele demonstra o controle de seu pé esquerdo e usa giz para rabiscar uma palavra no chão. Com coragem, determinação e a ajuda da mãe, Christy, ele supera as limitações físicas e torna-se pintor, poeta e autor. Figura 5 - Filme “Meu Pé Esquerdo” ] Fonte: E o Vídeo Levou (2021). 11WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Na sua atuação, os terapeutas ocupacionais utilizam como primeira etapa no processo terapêutico ocupacional a avaliação. Sobre a avaliação em terapia ocupacional, Willard e Spackman (2002), referem que: A avaliação é o processo de coleta de informações que os profissionais de saúde usam para identificar problemas relacionados à saúde dos clientes. Normalmente as avaliações são feitas no início do tratamento (avaliações iniciais), periodicamente durante o processo de tratamento (avaliações durante o tratamento), e ao fim do tratamento (avaliações de alta) (WILLARD; SPACKMAN, 2002). A avaliação facilita o olhar do terapeuta sobre as condições do cliente e o impacto das possíveis alterações, patologias e sofrimentos em seu corpo, em sua vida cotidiana e em seu grupo social, reconstruindo assim, a história de seu cliente, que não se resume apenas em patologia, mas reflete um processo de vida (DE CARLO; LUZO, 2004, p. 18). Com base nos dados obtidos na avaliação, o terapeuta ocupacional conseguirá estabelecer seu plano de tratamento e, consequentemente, sua intervenção. Sauron e Oliveira (2003) referem que o processo de avaliação se dá por meio de habilidades e instrumentos que ajudarão o profissional a extrair dados relevantes, interpretando- os corretamente, sendo que essa etapa, irá depender da base de conhecimento do avaliador, de sua compreensão dos procedimentos da avaliação, de sua habilidade para analisar as informações coletadas e de competência para aplicar os achados nas circunstâncias e necessidades particulares do cliente. As mesmas autoras ainda mencionam que a avaliação pode ser entendida como o momento de apresentação do paciente e do terapeuta, desta forma, elementos como empatia, sinceridade, respeito, bom humor, dentre outros, são posturas que devem ser adotadas pelo terapeuta. Mas o que deve ser avaliado pelo terapeuta ocupacional no atendimento à população infantil? Nesse processo inicial, o terapeuta faz uma anamnese (coleta sobre histórico de saúde do paciente). No caso de crianças avaliadas, quem irá descrever esse histórico serão os pais ou seus cuidadores. Hassui (2003, p.409-410) aponta alguns itens importantes na anamnese infantil, tais como: • Existência ou não de antecedentes familiares; • Dados sobre o desenvolvimento neuropsicomotor da criança; • Quando foram notados os primeiros sinais da doença; • Forma de progressão do quadro até o momento atual; • Exames e tratamentos realizados ou que realiza; • Existência ou não de outros comprometimentos associados (cardíacos, respiratórios, disfágicos, etc); • Dúvidas e expectativas quando ao diagnóstico e proposta de tratamento. Além da anamnsese, o terapeuta ocupacional avalia também as áreas de desempenho ocupacional e os componentes de desempenho ocupacional da criança. As áreas de desempenho ocupacional dizem respeito às: Atividades de vida Diária (AVDs), atividades do brincar/lúdicas, atividades escolares. Já, os componentes de desempenho a serem avaliados conforme Willard e Spackman, (2002 p. 203), dizem respeito às habilidades neuromusculares, de processamento, de comunicação e de interação. 12WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Desta forma, com base nas áreas de desempenho e componentes de desempenho ocupacional, durante sua avaliação, o terapeuta ocupacional observa como essa criança desenvolve as atividades oferecidas, como brinca, como explora os brinquedos, como explora o ambiente, como pega os objetos, quais as preensões utiliza para pegar, quais posturas ela prefere, em que situações ela chora, como é o vínculo com os pais, como fica na ausência dos pais ou cuidadores, como se porta com estranhos, em quais situações ela necessita de ajuda, ou o que ainda não consegue fazer sozinha, etc. Hassui (2003) elenca alguns dados importantes de serem investigados pelos profissionais durante a avaliação, sendo estes: Motor: • Alteração de tônus muscular (hipotônico, hipertônico); • Alterações no trofismo muscular (presença de hipotrofia, hipertrofia e pseudo-hipertrofia); • Avaliação da força muscular (de grupos musculares); • Limitações na amplitude de movimento (presença de retrações, encurtamentos, deformidades). Atividade Motora: • Observação da postura e movimentação global do indivíduo; • Avaliação das mudanças posturais e da forma como são realizadas; • Dificuldades encontradas na área da mobilidade; • Presença ou não de movimentos e posturas compensatórias. Função de membros superiores: • Dominância; • Coordenação motora grossa e fina; • Função uni e bimanual; • Preensões. Aspectos Percepto-cognitivos e Sensoriais: • Avaliação da existência ou não de alguma alteração ou déficits nesses aspectos. • Desempenho Funcional: • Auto-cuidado (alimentação, vestuário, banho, higiene); • Escola; • Lazer/brincar; • Comunicação; • Mobilidade. 13WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Aspectos Emocionais: • Aspectos psicoafetivos e sociais; • Dinâmica familiar; • Auto-imagem. Além das observações e perguntas feitas aos responsáveis pela criança, na prática clínica, o terapeuta ocupacional utiliza, também, instrumentos avaliativos padronizados e validados que possibilitam estabelecer uma linguagem comum entre outros terapeutas e demais profissionais da área, bem como o paciente e familiares. Existem diversos instrumentos de avaliação, não nos caberia citar todos, no entanto podemos mencionar alguns bem utilizados na prática clínica, sendo estes: • Inventário de Avaliação Pediátrica (PEDI): esse instrumento avalia as habilidades funcionais da criança, o nível de assistência do cuidador e a frequência de modificações utilizadas para o seu desempenho nas tarefas; • Perfil Sensorial: esse instrumento descreve o processamento sensorial, a modulação sensorial, as respostas comportamentais e emocionais da criança; • GMFM (Gross Motor Classification System): elucida as aquisições funcionais da criança. • Esses instrumentos auxiliam o terapeuta a monitorar progressos e possibilitam ao profissional demonstrar de forma objetiva os avanços obtidos no tratamento (SAURON; OLIVEIRA, 2003). OBS: ao final desta unidade, deixaremos um modelo anexo de uma anamnese e avaliação informal que pode ser utilizada em nossa prática clínica. No artigo de revisão Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor: mapa conceitual, definições, usos e limitações do termo, as autoras buscaram resgatar a origem do termo atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), sua evolução conceitual ao longo do tempo e construir mapa conceitual do termo, com base em busca bibliográfica, e concluíram que o atraso do desenvolvimento é abordado na literatura internacional e nacional sob diversos nomes, diferentes aplicações e conceitos heterogêneos. Internacionalmente, apontam‐ se caminhos para melhorar a comunicação entre profissionais, com definição padronizada do termo e uso em situações específicas até o quinto ano de vida, o que não foi encontrado nas publicações nacionais. Disponível em: https://www. scielo.br/j/rpp/a/rWNf3F7qSTGLbWRP6hzLkRP/?lang=pt&format=pdf. https://www.scielo.br/j/rpp/a/rWNf3F7qSTGLbWRP6hzLkRP/?lang=pt&format=pdf https://www.scielo.br/j/rpp/a/rWNf3F7qSTGLbWRP6hzLkRP/?lang=pt&format=pdf 14WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PACI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E O PAPEL DOS PAIS NO PROCESSO TERAPÊUTICO Figura 8 - A importância do brincar. Fonte: Anna (2017). Como garantir à criança que, por motivos permanentes ou temporários, foi impedida de brincar, comer, vestir-se, estudar e ir à escola, construir relações de amizade e parcerias? Pensando nessas questões, esse livro direcionado a terapeutas ocupacionais, a pais e a profissionais de diferentes áreas que queiram conhecer a atuação do terapeuta ocupacional na infância, apresenta a fundamentação teórica de diversos aspectos clínicos e ocupacionais presentes na criança, avaliação validadas para a população infantil brasileira e intervenções que demonstram evidências na prática clínica. São 22 capítulos distribuídos em duas seções: 1. Instrumentalizando o terapeuta ocupacional para atuar com crianças. 2. Intervenções da terapia ocupacional na infância, todas acompanhadas de relatos de caso. Figura 7 - Terapia Ocupacional na Infância: Procedimentos na Prática Clínica. Fonte: Memnon, (2021). 15WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O brincar é um ato natural, espontâneo e o meio mais livre e pessoal que toda a criança encontra de indicar as formas mais primitivas de exercício funcional, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento infantil. É através das brincadeiras que a criança tem possibilidade de criar, explorar, descobrir e inventar o mundo, tornando-se uma das atividades do seu cotidiano. Em suas pesquisas sobre o Modelo Lúdico, Ferland (2006, p. 42) aponta que o brincar “[...]representa um excelente meio de entrar em contato com a criança, de suscitar seu interesse e de fazê-la descobrir o prazer”. A mesma autora aponta que na prática, os terapeutas ocupacionais utilizam dois modos diferentes de abordar o brincar em terapia: No primeiro modo: brincar como atividade em terapia - o brincar como atividade servindo de ponto de partida para suscitar o interesse da criança em relação à terapia, podendo estar associada aos métodos e abordagens específicos seguidos pelo profissional, servindo como “recompensa” pelo esforço durante a terapia. No segundo modo: a terapia como forma de brincar – aqui o brincar é entendido de forma mais ampla, indo além da dimensão da atividade, incluindo, sistematicamente, um contexto do brincar. A criatividade e imaginação do terapeuta entram a serviço da terapia, partindo de uma abordagem mais lúdica para a criança. Araújo (1998, p. 110) diz que: [...]a vivência do brincar saudável não garantirá que a criança esteja livre de angústias e das mazelas da vida, mas certamente, propiciará descobertas, construção e reconstrução de relações; fortalecerá sua crítica, preservando a capacidade de ser criativo – ser capaz de transpor barreiras e encontrar soluções (ARAÚJO, 1998). O brincar, em terapia ocupacional, é entendido como uma área de ocupação humana, dessa forma, merece grande atenção por parte dos terapeutas ocupacionais, sendo importante ao profissional compreender a dimensão do brincar na vida da criança e os impactos gerados ao desenvolvimento da criança, quando privada do brincar. A família representa a estrutura do ser humano que a ela pertence. Dessa forma, a família deve encontrar-se sólida e unida, além de sempre oferecer uma base física, afetiva e social aos seus membros, principalmente às crianças (NAVAJAS; CANIATO, 2003). Para Takatori et al. (2004) referem que: [...]as primeiras experiências envolvendo segurança e confiança se dão no lar, que permite a exploração, a experimentação de diferentes relacionamentos e a ocupação de espaços que a criança preenche com seus próprios fragmentos, tornando-os seus espaços e sentindo-se como tais (TAKATORI; ET AL., 2004). Sendo assim, a família exerce um papel de grande importância no tratamento de crianças encaminhas à terapia. Ela deve ser grande aliada nesse processo, já que é a parte mais interessada na evolução. A relação entre o terapeuta e a família (pais ou cuidadores) inicia desde o momento da avaliação com base no que os pais trazem sobre os comportamentos da criança. O terapeuta ocupacional reforça com os pais suas responsabilidades pela terapia e pela evolução do quadro de sua criança, bem como o papel dos pais como co-terapeutas, já que é em casa, no ambiente familiar, por meio das orientações passadas pelo profissional, que a terapia terá que continuar. 16WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Muitas vezes, o terapeuta ocupacional terá que lidar com conflitos, questões emocionais trazidas pelos pais, sentimentos de angústias, frustrações, etc. É importante, nestes casos, saber ouvir e acolher e, quando julgar necessário, encaminhar os pais para ajuda de outro profissional, no caso um psicólogo que ajudará os pais a lidarem com essas questões. Christy e Kevin Beam são pais de três garotas: Abbie, Annabel e Adelynn. Cristãos convictos, os Beams vão à igreja com frequência. Um dia, Annabel começa a sentir fortes dores na região do abdome. Após muitos exames, é constatado que a garota possui um grave problema digestivo. Tal situação faz com que Christy busque a todo custo algum meio de salvar a vida da filha, ao mesmo tempo em que se afasta cada vez mais de sua crença em Deus Figura 9 - Filme Milagres do Paraíso. Fonte: Netflix (2016). 17WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS O terapeuta ocupacional compreende a criança como um sujeito que requer cuidados e atenção nas suas áreas de desempenho ocupacional. Nosso objetivo principal é dar o máximo de condições, para que esse sujeito alcance sua independência e autonomia. Diversas são as demandas e os contextos na área da terapia ocupacional infantil, desta forma é de suma importância que o profissional busque constante aperfeiçoamento, por meio de cursos específicos para essa demanda e conheça as abordagens mais utilizadas em terapia ocupacional pediátrica, gerando confiança e segurança para a criança e seus familiares. 1818WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 19 1. INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA TÍPICA .............................................................20 2. COMO IDENTIFICAR ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR ....................................................................25 3. FERRAMENTAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR ...........29 4. ORIENTAÇÕES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS .................................................................................................... 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................33 DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL DE 0 A 3 ANOS ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PEDIATRIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL 19WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O desenvolvimento humano é um processo que ocorre durante toda vida e que resulta de uma inter-relação complexa de fatores biológicos, psicológicos, culturais e ambientais, e é definido como “mudanças que acontecem na vida de um indivíduo desde a concepção até a morte” (SHORT, 1988). E quando falamos em Desenvolvimento Motor, estamos falando de um processo que se inicia ainda intra útero, no momento da fecundação, e evolui conforme acontece a maturação do sistema nervoso central. Vale destacar que existem outras denominações para esse processo, sendo elas, desenvolvimento neuropsicomotor,desenvolvimento motor normal, desenvolvimento neurosensoriomotor ou, como recomendam as nomenclaturas recentes, desenvolvimento motor típico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). O desenvolvimento motor da criança também depende de fatores essenciais como: das condições biológicas, comportamentais e do ambiente. (CARVALHO, M., 2011) A interferência do ambiente no desenvolvimento psicomotor da criança é afirmada por vários autores (Brandão, 1992; Ajuriaguerra, 1986; Cavicchia, 1993; De Vitta, 1998). No aprender da criança, fatores biológicos são influenciados pelos ambientais que, por sua vez, também são influenciados pelos primeiros, levando à aquisição de novas habilidades, conhecimentos, sentimentos etc. (VITTA; SANCHEZ; PEREZ, 2000.) Segundo o Ministério da Saúde (2016), essa pluralidade de fatores e dimensões envolvidas com o desenvolvimento infantil se expressa nas vivências e nos comportamentos dos bebês e das crianças, nos modos como agem, reagem e interagem com objetos, pessoas, situações e ambientes. A primeira etapa motora que o bebê deve atingir é o controle cervical, pois nosso desenvolvimento motor ocorre de modo céfalo-caudal, ou seja, da cabeça até os pés. São caracterizados por várias habilidades em diversas áreas, sendo elas, motora, cognitiva, sensorial, comportamental e da linguagem. (CARVALHO, M., 2011) Existem ferramentas para avaliar quantitativa e qualitativamente para identificação de possíveis atrasos motores, que são utilizados possibilitando a detecção precoce de alterações, fazendo com que o terapeuta consiga realizar uma intervenção mais rápida e eficaz em seu tratamento (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2016). É de suma importância que pais e cuidadores tenham conhecimento das etapas motoras do desenvolvimento motor típico no primeiro ano de vida das crianças, para que estimulem e percebam precocemente qualquer alteração que possa prejudicar o desenvolvimento da sua criança. A evolução motora não é estática e a sequência das aquisições motoras estão sempre interligadas. A identificação precoce de alterações no desenvolvimento é de relevante importância e tem como objetivo minimizar os efeitos negativos, uma vez que, fatores ambientais podem sobrepor-se aos determinantes genéticos do desenvolvimento (OLIVEIRA e col, 2001). Existem evidências suficientes de que, quanto mais precoce for a intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura da criança e no impacto na morbimortalidade infantil (MANCINI, 2004). 20WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA TÍPICA Figura 1 -Desenvolvimento Neuropsicomotor. Fonte: Denise Mota (2009). Durante os primeiros anos de vida, ocorrem grandes mudanças na vida do bebê, é quando ele obtém vários saltos evolutivos em um curto período de tempo. Além disso, o desenvolvimento do bebê respeita uma linha de movimentos com uma sequência de eventos, sendo estes, por meio de controles corporais contra a gravidade, progressivamente adquirindo maturação cerebral e aprendizagem motora. É importante lembrar que essas etapas não devem ser seguidas como regra, pois é normal haver uma variação na idade dos aparecimentos de cada marco motor. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016) E outros termos que fazem parte desse universo são: intervenção precoce e estimulação precoce. A intervenção precoce deve começar o mais cedo possível para obter os melhores resultados para a criança e para a família. Os primeiros 3 anos de vida são um período crítico do desenvolvimento infantil, em que grande número de sinapses ocorrem no Sistema Nervoso Central. Bebês e crianças pequenas estão oferecendo serviços físicos, desenvolvimento cognitivo, sensorial e social com diferentes experiências e vários sentidos e estímulos sensórios do meio ambiente nesse período. Os terapeutas ocupacionais avaliam e implementam intervenções para atividades, meio ambiente, bebês/crianças e suas famílias, para minimizar os riscos de um desenvolvimento inadequado ou ineficiente. Por essas razões, os terapeutas ocupacionais são considerados membros importantes de uma equipe de intervenção precoce. Entendendo que essa equipe caracteriza-se de forma multiprofissional, com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento voltado às necessidades específicas de cada criança, podendo ser capaz de recuperar possíveis atrasos observados em relação aos marcos do desenvolvimento e facilitar o acolhimento familiar dessas crianças. 21WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A tabela abaixo sintetiza os principais indicadores do desenvolvimento motor infantil de zero a três anos. Ou seja, a representatividade dos eventos a partir de uma média, tendo crianças que alcançam algumas aquisições adiantadas e outras mais tardiamente, porém dentro das variações normais. Tabela 1 - Diretrizes de estimulação precoce crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. IDADE INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO 1° mês Em supino: membros flexionados (hipertonia fisiológica), cabeça oscilante, comumente mais lateralizada, mãos fechadas. Os membros inferiores mais livres, que alternam movimentos de flexo- extensão, porém com as pernas geralmente fletidas sobre o abdome. O tronco apresenta característica mais hipotônica, com ausência de equilíbrio cervical e de trono. Apresenta movimentos amplos, variados e estereotipados, com forte influência de reflexos primitivos. Abre e fecha os braços em resposta ao estímulo, movimento que pode estar influenciado pelo Reflexo de Moro. Em prono: o peso do corpo se encontra na cabeça e tronco superior, em função da elevação da pelve decorrente da flexão de membros inferiores. Isso dificulta a ampla mobilidade dos membros superiores. Pode levantar a cabeça momentaneamente, sempre lateralizada, sem alcance da linha média (ajeita a cabeça para poder respirar/primeiro passo no desenvolvimento da extensão anti-gravitacional). 2° mês Em supino: pode apresentar uma postura mais assimétrica, influenciada pela resposta ao Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (extensão dos membros superior e inferior do lado para o qual a face está volta e flexão dos membros contralaterais). Acompanha visualmente os objetos ou a face humana, com movimentos de cabeça geralmente até a linha média. Em prono: eleva mais a cabeça, aproximadamente 45°, mas não a mantém erguida. Os membros inferiores estarão um pouco mais estendidos, porém ainda em flexão. Colocado na posição sentada, mantém a cabeça elevada intermitentemente. 22WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3° mês No final do 3° mês, espera-se aquisição do equilíbrio cervical. Em supino: melhor controle cervical, consegue manter a cabeça na linha média. Acompanha objetos visualmente com movimentos de rotação da cabeça para ambos os lados, a mais de 180º. Os movimentos dos olhos e cabeça já são, muitas vezes, simultâneos e coordenados. Em prono: é capaz de fazer a descarga de peso em antebraços, com melhora da estabilidade escapular, elevando a parte superior do tronco e a cabeça (em 90°), na linha média. Puxado para sentar: leve atraso de cabeça. Colocado na posição sentada: mantém a cabeça erguida, podendo ainda ocorrer oscilações. 4° mês Alterna facilmente os movimentos dos membros entre a extensão e a flexão. Postura mais simétrica; une as mãos na linha média, mantendo também a cabeça mais centralizada. Os olhos são mais ativos e a atenção visual contribui para o aumento da estabilidade da cabeça e garante a sua correta orientação no espaço. Em supino: consegue alcançar os joelhos e rolar para decúbito lateral, com maior percepção corporal. Ouvindo ruídos, o bebê para de mover-se e vira para a fonte sonora. Em prono: é capaz de manter o apoio das mãos com o cotovelo estendido,e de se estender contra a gravidade deixando apenas o abdome no apoio. Tendência a cair para os lados, rolando acidentalmente para supino. Inicia reação de Landau. Gosta de ser colocado na posição sentada, mantendo a cabeça ereta, mas instável quando o tronco oscila; tronco permanece menos tempo fletido. 5° mês Em supino: é capaz de levar os pés à boca, eleva o quadril e pode arrastar em supino, empurrando o corpo para trás (interesse no alcance do objeto), inicia o rolar para prono ainda sem muita rotação do tronco. Em prono: desloca lateralmente o peso sobre antebraços para o alcance dos brinquedos, rola para supino, tenta “nadar” no chão, é capaz de pivotear (giro sob o próprio eixo) e de manter membros superiores estendidos. Puxado para sentar: eleva a cabeça do apoio. Colocado na posição sentada: a cabeça não oscila; começa a sentar com apoio, mantendo o tronco ereto. 23WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 6° mês Ao final do 6° mês, a criança já tem domínio sobre os movimentos rotacionais, denotando controle sobre as transferências de decúbito como o rolar. Em supino: rola para prono, levanta a cabeça espontaneamente. Em prono: suporta peso nas mãos, liberando o apoio de uma delas para o alcance de objetos; apresenta reação de equilíbrio nesta posição, começando em supino; inicia o arrastar. Puxado para sentar: auxilia no movimento, elevando a cabeça do apoio e tracionando membros superiores. Colocado na posição sentada: é capaz de manter-se nessa postura com apoio, por longo tempo, ainda com cifose lombar. Apoia as mãos à frente do corpo pela reação de proteção para frente. Como ainda não tem total controle do seu deslocamento de peso nesta postura e não apresenta ainda as reações laterais e posteriores de apoio, pode cair para os lados e para trás. 7° mês Nesse período, o desenvolvimento adequado da musculatura de tronco e da pelve permite uma ótima estabilidade na postura sentada e, com isso, a retificação do tronco fica mais evidente. Em supino: reações de equilíbrio presentes (iniciando na posição sentada); eleva a cabeça como se fosse sentar. Em prono: mantém cabeça elevada, com apoio no abdômen e nas mãos, pode girar ou arrastar-se. Brinca em decúbito lateral. Aquisição do equilíbrio de tronco/senta sem apoio 8° mês Com o domínio das rotações, o bebê experimenta várias posturas diferentes como o sentar em anel, o sentar de lado (sidesitting), o sentar com as pernas estendidas (longsitting), sentar entre os calcanhares (sentar em “w”), e todas essas possibilidades permitem a transferência para a postura de gatas e ajoelhado e vice-versa. Em supino: geralmente rola ou puxa-se para sentar. Em prono: assume a posição quadrúpede (ou de gatas), transfere de prono para sentado e vice-versa. Sentado: bom equilíbrio de tronco, inclina-se para frente, apresenta reação protetora para os lados. 24WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 9° mês Uma vez na postura de gatas, a criança experimenta as transferências de peso, balançando para frente, para trás e para os lados; com isso, vai desenvolvendo o equilíbrio e a força muscular para iniciar o engatinhar. Inicialmente, desenvolve o engatinhar com o tronco em bloco e depois de maneira dissociada, ou seja, com movimentos laterais do tronco. Apresenta reação de equilíbrio na posição sentada (inicia quadrúpede), com melhor controle de tronco (realiza movimentos de rotação). Engatinha e realiza transferências de sentado para a posição de gatas e vice- versa. Começa a assumir a posição de joelhos e fica de pé com apoio. 10° mês Ao final do 10° mês, a criança consegue se transferir de sentado para gatas, para joelhos, semi-ajoelhado e tracionar-se para de pé. Engatinha ou desloca-se através da posição “tipo urso”, com apoio nas mãos e pés, mantendo joelhos estendidos. Sentado, apresenta extensão protetora para trás, roda em círculos. Inicia marcha lateral com apoio nos móveis e é capaz de caminhar quando segurado pelas mãos. 11° mês Essa fase é marcada pelo desenvolvimento da postura ortostática; a criança realiza marcha lateral e já é capaz de liberar o apoio de uma das mãos. Posteriormente, realiza marcha para frente, empurrando um apoio móvel (como cadeira ou banquinho). O caminhar para frente, ao redor dos móveis, enquanto se apoia com uma mão, é um precursor natural da marcha para frente com auxilio da mão de um adulto. 12° mês Capaz de elevar-se estendendo ativamente membros inferiores; transfere da posição ortostática para sentado, dissociando movimentos de membros inferiores; inicia ficar de pé sem apoio; primeiros passos independentes. Na fase inicial da marcha independente, a criança assume uma base alargada de apoio nos pés, abdução dos braços e fixação do tronco superior. Apresenta passos curtos e acelerados, com cadência aumentada em função do déficit de equilíbrio. A literatura aponta que a ocorrência de marcha sem apoio antes dos 12 meses ou até os 18 meses pode ser considerada dentro da faixa de normalidade, no caso de uma criança nascida a termo e sem sinais de comprometimento neurológico. 25WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 12 a 18 meses Ganho gradativo de equilíbrio, reduz base de suporte durante a marcha. Após o 15º mês, a criança mantém o ritmo de aquisições motoras, porém com foco no refino das habilidades motoras grossas e habilidades manipulativas. Sobe e desce escadas engatinhando ou apoiada pelas mãos. Ajoelha-se só. 18 a 24 meses Melhora do equilíbrio e desempenho de marcha: realiza choque de calcanhar no início do apoio, diminui cadência e aumenta a velocidade. Fica sentada sozinho numa cadeira. Sobe e desce escadas segurando-se no corrimão. Começa a saltar sobre os dois pés. 24 a 30 meses Corre e bate numa bola sem perder o equilíbrio; tenta se equilibrar num só pé. 30 a 36 meses Sobe escadas alternando movimento de membros inferiores (coloca um pé de cada vez no degrau, apenas para subir). Consegue se manter em pé sobre uma única perna. Salta no mesmo local com ambos os pés. Anda de triciclo. Fonte: Adaptado de Bly, 1994; Shepherd, 1996; Braga, 2005; Flehmig, 2005; Castilho-Weinert e Fort-Belleni, 2011. 2. COMO IDENTIFICAR ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR Figura 2 - A importância do estímulo. Fonte: Centro Ama Desenvolvimento (2021). 26WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os marcos motores de desenvolvimento para crianças foi desenvolvido pela Academia Norte-Americana de Pediatria (AAP), desde o nascimento até os 5 anos de idade (CARVALHO,2011). A Tabela 2 demonstra os problemas, os sinais e os sintomas possíveis, que indiquem as anormalidades no desenvolvimento nos 3 primeiros anos de vida das crianças. Deve-se observar que, se a criança não está aprendendo habilidades referentes à sua idade cronológica, é de suma importância observar quais fatores estão impedindo e/ou dificultando a aquisição de tais habilidades, podendo vir a ser um risco biológico ou risco social/ambiental. Muitos falam que as crianças têm seu tempo, que nenhuma criança é igual a outra. Isso é fato! Nenhuma criança é igual a outra, mas temos uma faixa etária a ser seguida. Caso o bebê esteja apresentando algum tipo de atraso, isso deve sim ser um sinal de alerta para os pais ou profissionais que participam do processo de desenvolvimento da criança. Se ela não está aprendendo habilidades que outras da mesma faixa etária estão, como engatinhar, virar, sentar, dentre outras, torna-se necessário o profissional comunicar aos pais sua percepção e aconselhá-los a buscar orientação específica. Conforme Lopes et al. (2010): A estimulação é fundamental no desenvolvimento de um bebê, pois ele nasce com muitas habilidades motoras,mas para essas se aprimorarem, se desenvolverem é preciso que ele vivencie coisas novas, que ele seja estimulado a conhecer o mundo novo. Uma criança vai se descobrindo muito mais rápido e eficazmente se estimuladas desde cedo (LOPES; et al., 2010). 27WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Tabela 2 -Sinais de possíveis atrasos em crianças em seu primeiro ano de vida. IDADE DA CRIANÇA PROBLEMAS ENCONTRADOS Durante a 2ª, 3ª e 4ª semanas Sucção deficiente e alimentação demorada. Não pisca diante de luz intensa. Não fixa o olhar nem segue objeto próximo que se move de um lado para outro. Raramente movimenta os braços, e as pernas parecem rígidas. Parece ter membros excessivamente flácidos. A mandíbula parece trêmula, mesmo quando não está chorando, nem excitado. Não responde a sons em alto volume. Final do 3º mês Não tem reflexo de Moro após os 4 meses. Não parece reagir a sons em alto volume. Não percebe as próprias mãos aos 2 meses de vida. Não segue com o olhar em movimento aos 2 a 3 meses. Não agarra nem segura objetos aos 3 meses Não tenta alcançar nem segurar brinquedos aos 3 a 4 meses. Inicia balbucio, mas não imita qualquer som aos 4 meses. Não balbucia aos 3 e 4 meses. Não leva objetos à boca aos 4 meses Não tenta empurrar com os pés quando são apoiados sobre uma superfície firme aos 4 meses. Apresenta dificuldade de movimentar um ou os dois olhos em todas as direções. Apresenta olhar cruzado a maior parte do tempo. Não presta atenção em novas faces, ou parece assustar se com novas faces ou novos ambientes. Ainda mantém o reflexo tônico cervical aos 4 a 5 meses. 28WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Final do 4º mês Aparece rígido com músculos tensos. Parece muito flácido, como uma boneca de pano. A cabeça cai parar trás como em uma boneca de pano. Alcança objetos apenas com uma das mãos. Recusa abraço. Não demonstra afeição pelo cuidador. Parece não gostar de estar próximo de outras pessoas. Um ou os dois os olhos constantemente se desviam (para dentro ou para fora). Lacrimejamento constante, sensibilidade à luz. Não reage aos sons ao seu redor. Demonstra dificuldade de levar um objeto à boca. Não gira a cabeça para localizar sons aos 4 meses. Não rola em qualquer direção (de frente para trás ou vice versa) aos 5 meses. Parece inconsolável durante a noite depois dos 5 meses. Não sorri espontaneamente aos 5 meses. Não consegue sentar, mesmo com ajuda, aos 6 meses. Final do 4º mês Não ri nem faz sons engraçados aos 6 meses. Não tenta ativamente alcançar objetos dos 6 aos 7 meses. Não acompanha objetos sonoros com o olhar a distância da audição (0,3 a 1,8) aos 7 meses. Não sustenta peso sobre os membros inferiores aos 7 meses. Não tenta chamar atenção com gestos aos 7 meses. Não balbucia aos 8 meses. Não se interessa por brincadeira de encontrar objetos aos 8 meses. Final do 12º mês Não engatinha. Inclina-se para um lado do corpo enquanto engatinha (por mais de 1 mês). Não consegue ficar de pé mesmo com apoio. Não procura objetos que viu serem escondidos. Não pronuncia nenhuma palavra (“mamão ou papá”). Não aprende a utilizar gestos, tais como dar adeus ou balançar a cabeça. Não aponta objetos nem gravuras. Fonte: Sinais de possíveis atrasos no desenvolvimento da criança (UMPHRED; CONSTANCE, 2007). 29WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. FERRAMENTAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR Figura 3 -Como identificar atrasos motores. Fonte: Semprematerna (2020). Existem algumas escalas e testes para identificação de possíveis atrasos no desenvolvimento das crianças. Esses testes e escalas de desenvolvimento padronizados são utilizados possibilitando a detecção precoce de alterações, levando a uma intervenção terapêutica mais rápida e eficaz. Essas escalas são realizadas geralmente por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fisiatras e neurologistas. Esses testes são utilizados para quantificar e qualificar o desempenho motor das crianças em diferentes domínios. Isso faz com que os terapeutas consigam, da melhor forma possível, traçar metas e objetivos para alcançar em seu tratamento dentro das possibilidades de cada criança. Vamos citar abaixo escalas e testes mais utilizados na prática clínica para avaliar o desenvolvimento motor das crianças, as quais avaliam as aquisições motoras em diferentes faixas etárias; sinais neurológicos precoces anormais no período neonatal; a qualidade do movimento, controle e alinhamento postural, equilíbrio e coordenação e desempenho funcional de crianças na realização das atividades de vida diária (AVD’s). (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016) • Test of Infant Motor Performance (Timp): Trata-se de avaliação de postura e do movimento infantil que pode ser utilizada com recém-nascidos de 32 semanas de idade gestacional até quatro meses de idade corrigida. Teste disponível em: https://www.infantmotortest. com/. • Alberta Infant Motor Scales (Aims): Tem como objetivo avaliar as aquisições motoras de crianças até os 18 meses de idade. É observacional e avalia os componentes do desenvolvimento na tentativa de identificar bebês cujo desenvolvimento motor esteja atrasado e medir esse desempenho através do tempo. Modelo de avaliação disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/18975/000733746.pdf. 30WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • General Movements (GM): Escala proposta por Prechtl e Beintema (1977), que se constitui em um exame neurológico utilizado para avaliação do RN a fim de detectar precocemente sinais neurológicos anormais no período neonatal. Existem outras escalas que também podem ser utilizadas com o propósito de avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor, por exemplo: • PEDI (Pediatric Evaluation Disability Inventary), adaptada para a realidade brasileira por Mancini (2005); • Denver Development Screening Test (DSST) padronizado para a população brasileira por Drachler, Marshall e Carvalho-Leite (2007); • Bayley Scales of Infant Develpment (BSID); • Peabody Developmental Motor Scale (PDMS-2), adaptado e validado em versão portuguesa por Saraiva, Rodrigues e Barreiros (2011); • GMFM (Gross Motor Function Measure), • ALBERTA INFANT MOTOR SCALE (AIMS) é uma escala padronizada, desenvolvida por Piper e Darrah (1994); De acordo com Dornelas, Duarte e Magalhães (2015), estima-se que, 200 milhões de crianças em todo mundo, menores de cinco anos de idade estão sob risco de não atingir seu pleno desenvolvimento. A prevalência do atraso do desenvolvimento é uma incógnita muitas vezes, mas dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que 10% da população de qualquer país é constituída por pessoas com algum tipo de deficiência, com uma taxa de 4,5% entre aquelas com até cinco anos de idade. No Brasil, foi observado uma diminuição na prevalência de crianças com atraso no desenvolvimento, o que se justifica pelos avanços nos cuidados neonatais, pelo avanço e ampliação da cobertura de assistência no primeiro ano de vida da criança. Porém, esses mesmos fatores provocaram uma situação paradoxal, pois a maior sobrevivência de bebês de risco, especialmente os prematuros, está associada a aumento da morbidade, como as sequelas no neurodesenvolvimento, gerando nova demanda para o pediatra e demais profissionais da saúde. 31WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. ORIENTAÇÕES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS Figura 4 -Pais e filhos Fonte: Medina (2018). Os pais ou os responsáveis devem contribuir no desenvolvimento do seu filho de modo que eles interajam com a criança, estabelecendo afeto e comunicação entre as partes, prevenindopatologias emocionais e cinestésicas (MINISTERIO DA SAUDE, 2016). Ainda, segundo o Ministério Mundial da Saúde (2016), não devemos esquecer que o ambiente que a criança se desenvolve deve ser um ambiente favorável para o desempenho de suas atividades. E que na primeira infância é quando ela mais vai aprender a se desenvolver mecanicamente. São nos dois primeiros anos de vida da criança que acontece maior maturidade no desenvolvimento motor. Os pais e a comunidade devem sempre receber orientações quanto às possibilidades de acompanhamento, desde o período neonatal, até a fase escolar. Há muita carência de informações sobre o desenvolvimento motor típico na sociedade. E, atualmente, estamos passando por períodos muito delicados, em que nossas crianças estão sendo privadas de estímulos externos, fazendo com que cada vez mais fiquem com atrasos em seu desenvolvimento global, tanto motor, quanto sensorial e social (MINISTERIO DA SAUDE, 2016). Orientar os pais a brincar com seu filho, levá-lo para passear, mostrar que esse período é tão rápido e breve na vida dos filhos, que devem viver intensamente essa fase. Para que as crianças tenham boas memórias de sua infância. É por meio do brincar e das brincadeiras com o próprio corpo, com o corpo do outro e com objetos, que a criança vai desenvolvendo todo seu repertório motor, sensorial, cognitivo, social e emocional (TEIXEIRA et al., 2003). As crianças começam o processo de autoconhecimento, quando começam a ter contato com a realidade externa, começando a projetar vínculos e interagindo com o mundo. 32WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Como ação do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia o Ministério da Saúde elaborou esse material, disponível em: https://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_estimulacao_ criancas_0a3anos_neuropsicomotor.pdf. Figura 5 - Diretrizes de Estimulação Precoce: Crianças de Zero a 3 Anos com Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor. Fonte: Ministério da Saúde (2016). 33WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Deve ressaltar que o desenvolvimento motor infantil é de suma importância para o desempenho neuropsicomotor da criança. Sabemos que os 3 primeiros anos de vida são os anos que mais aprendemos e passamos por experiências que podem marcar nossa infância. Sendo assim, não podemos esquecer que as crianças precisam de estímulos para desenvolver suas funções. E dessa forma, devemos aprender a brincar da melhor maneira possível para promover o desempenho das funções dos bebês. Além de estarmos em alerta e, ao notar algum atraso, procurar ajuda de um profissional capacitado e entender que é essencial a realização de avaliações precisas, com parâmetros de acordo com os marcos de desenvolvimento adequados para as determinadas faixas etárias, com metodologias estruturadas e completas, que abranjam todas as áreas. 3434WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................35 1. AFINAL, O QUE O FETO PERCEBE?........................................................................................................................37 2. SISTEMAS SENSORIAIS .........................................................................................................................................38 2.1SISTEMA PROPRIOCEPTIVO .................................................................................................................................40 2.2 SISTEMA TÁTIL .....................................................................................................................................................40 2.3 SISTEMA VESTIBULAR ......................................................................................................................................... 41 3. TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL ................................................................................................................42 4. TRANSTORNO DE PROCESSAMENTO SENSORIAL ............................................................................................43 4.1 CRIANÇAS HIPER-RESPONSIVAS ........................................................................................................................43 4.2 CRIANÇAS HIPORRESPONSIVAS: ......................................................................................................................44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................46 INTEGRAÇÃO SENSORIAL ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PEDIATRIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL 35WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A terapia de Integração Sensorial é uma área de atuação do Terapeuta Ocupacional, que foi desenvolvida por Anna Jean Ayres PhD, OTR, terapeuta ocupacional e psicóloga americana, que, na década de 1960, a partir de estudos que envolviam crianças com uma série de dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem, estudou a relação entre os processos comportamentais e o Sistema Nervoso Central por meio de um processo neurobiológico, que promove a capacidade de processar, organizar, interpretar sensações do meio ambiente e responder de forma apropriada ao ambiente. Ayres definiu o processo de Integração Sensorial como “[...] o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente, de forma a ser possível a geração de respostas adaptativas adequadas, a partir do uso eficiente do corpo no ambiente [...]” (AYRES, 1972), identificando tais sensações como essenciais na promoção do conhecimento necessário para direcionar o corpo e mente (AYRES, 2005). O Sistema Evolutivo do ser humano tem por base todas as experiências sensoriais que ocorreram ao longo do processo evolutivo dos seres vivos. Centenas de milhões de anos foram gastos para que os seres vivos pudessem satisfazer duas das necessidades fundamentais: a necessidade da sobrevivência e a necessidade da perpetuação da espécie/seleção natural (sobrevive o que possui o maior grau de adaptabilidade). No ser humano, esse processo se perpetuou através do desenvolvimento do sistema nervoso central quando se adquire as porções do córtex frontal, à medida que o encéfalo se desenvolve filogeneticamente, o que vão aumentando são as áreas associativas e cognitivas do córtex cerebral e as estruturas a elas relacionadas. Segundo Tieppo (2019): “[...] o sistema nervoso não começa como um sistema de detecção do ambiente, mas sim como um sistema de reação. Inicialmente, foi mais importante reagir rapidamente do que detectar informações, embora uma coisa esteja ligada à outra”. Na evolução, aprendemos a receber as informações do ambiente externo e interno (vísceras), processar e combinar informações produzindo respostas por meio delas. Assim, como a falta de informações sensoriais costuma gerar desconforto extremo e ansiedade e sua resposta mais comum é procurar restabelecer uma condição normal procurando estímulos no ambiente. 36WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 -Receptores. Fonte: shutterstock (2021). Vamos usar de exemplo a figura 1: um estímulo doloroso é captado na região da mão, por meio dos Nociceptores (receptores sensoriais), sinais são enviados ao Sistema Nervoso Central e áreas do tálamo, hipotálamo e do córtex motor são acionadas ao mesmo tempo que áreas do sistema límbico (hipocampo e amigdala) identificam, juntamente com a visão, a origem da dor, levando a nível consciente o córtex frontal o queestá causando a dor e em resposta influenciam a atividade de outros neurônios, que provocam a contração dos músculos, gerando movimento e ação, promovendo a retirada da mão do estímulo doloroso. Podemos considerar que os neurônios sensoriais fornecem informações que são processadas pelo sistema nervoso central, integradas e gerando uma melhor resposta possível para aquela situação. Logo, no processo de desenvolvimento, a maior tarefa do sistema nervoso é configurar a maneira como a informação sensorial se torna vinculada às respostas adaptativas (ação em que o indivíduo responde com sucesso uma exigência do meio, respondendo com significado e de forma adequada a demanda do ambiente. A resposta adaptativa integra todas as nossas sensações para uma ação efetiva). O comportamento é definido como o conjunto de reações de um sistema dinâmico, em fase às interações e à renovação propiciadas pelo meio onde está envolvido. Desse modo, o sistema nervoso é esse sistema dinâmico, que frente às modificações das entradas sensoriais, é capaz de produzir respostas e estas respostas serão tão melhores quanto maior for a capacidade desse sistema de adaptar-se a essas mudanças. No ser humano, esse processo inicia durante a gestação, quando as experiências sensoriais do feto são rítmicas e cíclicas, mediadas pelos ritmos diários da mãe, sendo, também, coordenadas e integradas em um esquema padronizado e previsível. São, portanto, adequadas ao seu desenvolvimento e estão em conformidade com a visão atual, segundo a qual o feto é um participante ativo com o meio. 37WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. AFINAL, O QUE O FETO PERCEBE? Figura 2 -O que o feto percebe? Fonte: Freepik (2021). O sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a se desenvolver, com sete semanas de gestação, um toque leve sobre a região do lábio superior/nariz do feto faz com que ele afaste a face do estímulo; na décima primeira semana gestacional, já existe sensibilidade tátil na face, palmas e plantas dos pés e a partir da vigésima semana a sensibilidade tátil já está funcional em todo o corpo. A deglutição está presente desde a 12ª semana, permitindo com 30 semanas a percepção do flavour (sabor) do líquido amniótico, que terá algumas semelhanças com o do leite materno favorecendo sua futura aceitação. Entre a vigésima nona semana e a trigésima segunda semana, o sistema olfativo é o segundo sistema a se desenvolver. O Recém Nascido a termo, possui discriminação olfativa para o odor do leite humano e pode demonstrar aprendizado olfativo associativo nas primeiras 48 horas de vida. O quarto sistema a amadurecer é o auditivo, dentro do útero o feto é exposto a um ruído basal de 28dB (sons vasculares e ruídos digestivos), ao qual se superpõem (em +25dB) os batimentos cardíacos e a voz materna. O feto encontra-se bem protegido dos ruídos externos, uma vez que a parede uterina e o líquido amniótico reduzem até 35dB os sons intensos (>500Hz), e a audição, apenas pela via óssea, acarreta uma diminuição adicional de 30dB. Após o nascimento, todo o desenvolvimento das faculdades do sistema nervoso do recém- nascido se processa graças às sensações despertadas durante as atividades reflexas, o exercício dos seus movimentos espontâneos e sua interação com o meio, recebendo inúmeras informações que são encaminhadas para o sistema nervoso sendo discriminadas e correlacionadas para que possam fazer sentido e organizá-las em um plano de ação. 38WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. SISTEMAS SENSORIAIS Figura 3 -Sistemas Sensoriai. Fonte: Subject Matters (2021). A maioria das pessoas aprendem que são cinco os sentidos primordiais: sistema visual, auditivo, gustativo, olfativo e tátil. Entretanto, contamos com outros sentidos que são extremamente importantes e que precisam estar nesta lista. São eles: sistema proprioceptivo (responsável pela consciência de nossa posição corporal) e sistema vestibular (responsável pelos ajustes de postura e equilíbrio). Para compreendermos os sistemas sensoriais, um breve resumo da constituição do Sistema Nervoso: O sistema nervoso subdivide-se em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). O Sistema Nervoso Periférico constitui-se principalmente de nervos, que percorrem todo o nosso corpo em feixes, responsáveis por trazer informações do ambiente e subdivide-se em Somático (SNP Voluntário) e Motor Visceral (SNP Involuntário). O Sistema Nervoso Periférico Somático é composto por neurônios sensoriais (captam informações do ambiente externo pelos órgãos dos sentidos ou das nossas vísceras) e por neurônios motores (que ativam músculos e articulações). O Sistema Nervoso Periférico Motor Visceral, também conhecido como Sistemas Simpático e Parassimpático, cuida das funções motoras involuntárias do sistema nervoso, como na regulação da pressão arterial, controle da musculatura lisa, que comanda a contração e o relaxamento das paredes dos órgãos como o coração, estomago e pulmões. Já, o Sistema Nervoso Central compreende o Encéfalo (Tronco encefálico, o Cerebelo e o Cérebro) e a Medula Espinhal. 39WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 4 -sistema nervoso central e periférico. Fonte: Tieppo (2019). O Sistema Sensorial capta inúmeras informações sensoriais, através dos receptores sensoriais (células capazes de transformar diferentes tipos de energia em energia elétrica, funcionando como transdutores de energia, ou seja, são capazes de transformar um tipo de energia em outro, conservando uma relação entre as quantidades de energia). Essas informações chegam ao tálamo (com exceção da olfatória) e fazem conexão, por meio do aprendizado, com as regiões do córtex, do sistema Interoceptivo (mais visceral) e do Sistema Límbico, gerando como resposta o processo de autorregulação e modulação sensorial e o Sistema Reticular - vias alternativas que estimulam o córtex cerebral (TIEPPO, 2019). O organismo reorganiza as entradas sensoriais a partir de três sistemas fundamentais para a organização de respostas adaptativas, são os sistemas Proprioceptivo, Vestibular e Tátil; os outros sistemas como o visual, auditivo, olfativo, gustativo estão vinculados a como esse conjunto dos três sistemas estão regulados. 40WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 -Sistema Tátil. Fonte: InfoEscola (2021). 2.1 Sistema Proprioceptivo Os receptores estão distribuídos pelo corpo nos músculos, nos tendões e nas articulações, tornando possível ao indivíduo estar ciente de seus movimentos, assim como a capacidade de perceber a localização de suas partes corporais no espaço, sem referência visual a essas partes, através de uma percepção inconsciente (tônus muscular, alongamento do tendão, posição das partes individuais do corpo, sensações do movimento surgindo dos próprios movimentos ativos da pessoa, graduação da força de contração, timing do movimento). O Sistema Proprioceptivo processa as funções motoras e funciona como modulador, estando relacionado a interação bilateral e sequenciamento. Quando o sistema proprioceptivo funciona adequadamente, podemos ajustar nossa posição e postura de maneira automática, nos auxiliando a manter posições adequadas na execução das atividades diárias (AVDs) e práticas (AVPs). 2.2 Sistema Tátil É um dos sistemas mais importantes que está ativo desde as primeiras semanas gestacionais. Os receptores estão distribuídos pelo corpo todo, assim como os da propriocepção e, desta forma, os sistemas Tátil e Proprioceptivos estão interligados, sendo denominados como Sistema Somatossensorial. Os receptores da pele são específicos para cada estímulo e são os de pressão profunda,temperatura, dor, toque leve. • termorreceptores: distribuídos por toda a pele, apresentam função protopática, sistema pouco discriminativo; 41WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • mecanoceptores: distribuídos pele, músculos, tecidos articulares, órgãos viscerais e torácicos, vasos sanguíneos, tecidos conjuntivos; • Receptores: Direção, Velocidade e Profundidade; • Disco de Merkel (superficial) / distorção da pele / toque, pressão; • Corpúsculo de Meissner (superficial) / vibração e textura / vibração, velocidade; • Terminações de Ruffini (profundo) / estiramento da pele e movimento articular; • Corpúsculo de Pacini (profundo) / vibração de 100-300Hz / vibração de alta frequência. O Sistema Espinotalâmico (Antero Lateral) e o Sistema Lemnisco Medial (coluna dorsal) são responsáveis pelo trajeto das informações ao SNC. O Sistema Espinotalâmico está relacionado à informação de temperatura, de dor e de toque, suas fibras finalizam no tálamo e algumas no córtex, estando relacionado ao Sistema de proteção (alerta o organismo). Já o Sistema Lemnisco Medial (Coluna Dorsal) é responsável pelo toque discriminativo, pressão, cinestesia e vibração; chega ao córtex via tálamo e está relacionado ao planejamento motor. Ativa um programa de resposta específico como resultado de interações de input postural e tátil. Contribui para o planejamento e execução de ações sequenciais (contribui para o timing preciso e sequenciamento). 2.3 Sistema Vestibular Este sentido se desenvolve durante o processo gestacional e é de extrema importância durante os primeiros meses de desenvolvimento do bebê. O Sistema Vestibular Central trabalha com os sistemas visuais e proprioceptivos, com relação estreita com o cerebelo, responsável pela coordenação dos movimentos (grosseiros dos membros, voluntários finos e distais e equilíbrio) e controle postural ao comparar a estimulação motora efetiva ao movimento pretendido e, em seguida, realizar os ajustes dos movimentos quando necessário, sistema reticular e sistema nervoso autônomo. O Sistema Vestibular Periférico tem em seus receptores o Labirinto responsável pela aceleração angular da cabeça, gravidade e, possivelmente, vibração, sendo responsável pela audição e equilíbrio. A informação sensorial proveniente do sistema vestibular periférico é usada para promover uma imagem visual estável na retina (enquanto a cabeça se move) e fazer ajustes na postura, para manter o equilíbrio. A detecção dos movimentos da cabeça pelo aparelho vestibular permite que, mesmo ao movimento da cabeça, o campo visual permaneça estável e as imagens sejam focalizadas na mácula da retina, que possui a maior acuidade visual, integrando os movimentos da cabeça, pescoço, olhos e corpo. O Sistema Vestibular, em conjunto com os Sistemas Tátil e Proprioceptivo, auxiliam na manutenção dos níveis de alerta, de atenção e de ritmo, auxiliando nos processos de aprendizagem escolar e emocional. O sistema vestibular está responsável por: - Processamento viso espacial: Estabiliza o campo visual por meio de movimentos oculares compensatórios em resposta ao movimento da cabeça; - Equilíbrio: Controle postural e equilíbrio durante a execução de atividades; - Segurança Gravitacional: Modula os movimentos do corpo e dos olhos em relação a gravidade; 42WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - Planejamento motor e Coordenação bilateral: Fornece sensação inconsciente de nossos. No conjunto dos sistemas sensoriais contamos ainda com: - Sistema Visual: posição no espaço, figura fundo, sequenciamento, visualização espacial, tamanho, textura, posição do objeto; - Sistema Auditivo: localização e discriminação do som, sequenciamento; - Sistema Olfativo: conexão direta com córtex; - Sistema Gustativo: alimentação. 3. TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL Abordagem de Integração Sensorial: integra todos os sistemas sensoriais para a elaboração das respostas adaptativas e as modulações sensoriais. A Integração Sensorial está dentro do desempenho ocupacional, portanto o terapeuta ocupacional é o profissional capacitado a identificar quais os processos sensoriais estão afetando as AVDs e AVPs, compreender e avaliar quais as bases sensoriais estão em desarmonia e quais precisam ser organizadas e moduladas. 3.1 Diferença entre Estimulação Sensorial e Integração Sensorial A Estimulação Sensorial tem por objetivo estimular a criança utilizando as percepções sensoriais de forma separada, não havendo a necessidade de interrelacionar os demais sistemas. Abordagem de Integração Sensorial tem por objetivo integrar todos os sistemas sensoriais para a elaboração de respostas adaptativas e modulações sensoriais. Para isso, o terapeuta precisa compreender e avaliar quais as bases sensoriais estão em desarmonia e quais estão corretas. Modulação, segundo Miller e Lane (2005), é: [...] capacidade para regular e organizar o grau, a intensidade e a natureza das respostas a estímulos sensoriais de uma forma gradual e adaptativa. Isso permite que o indivíduo atinja e mantenha uma faixa ideal de desempenho e para que se adapte aos desafios na vida diária (MILLER; LANE, 2005). A Terapia de Integração Sensorial (TIS) favorece ao sujeito, após receber a informação pelas vias sensoriais, organizar, processar e integrar tais informações de maneira a oferecer uma resposta adaptativa. Portanto, a integração sensorial e as respostas adaptativas se retroalimentam. A partir do uso eficiente do corpo no ambiente, as informações sensoriais (sensações provenientes dos sentidos) podem fluir adequadamente, o cérebro é capaz de formar percepções e comportamentos adaptados à situação, portanto, é possível gerar respostas adaptativas adequadas, inclusive motoras e comportamentais. 43WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quando ocorre disfunções em alguns dos processos acima ocorrem Disfunções do Processamento Sensorial. Transtornos do Processamento sensorial ocorrem por alguns motivos, o mais comum é a imaturidade do Sistema Nervoso (dificuldade em organizar e processar todas as informações sensoriais vindas do ambiente), gerando comportamentos inadequados, dificuldades no desempenho ocupacional e no desenvolvimento motor e emocional. 4. TRANSTORNO DE PROCESSAMENTO SENSORIAL 4.1 Crianças Hiper-responsivas Apresentam um input sensorial com um maior impacto na construção da sua resposta adaptativa com níveis de alerta alto, respostas aversivas (AVDs, contato corporal, toques leves), alto índice de stress, se defende o tempo todo (dificuldade em autorregulação) e dificuldades no desempenho escolar e social. • Hiper-responsividade Tátil e auditiva: input sensorial tem maior impacto na entrada sensorial respectiva; • Defensividade Tátil: evita os estímulos táteis que não toleram o toque, dificuldade nas AVDs, na alimentação e no brincar; • Defensividade Auditiva: aversão ao som alto, hipersensibilidade aos sons; • Hiper-responsividade Vestibular: insegurança gravitacional (geralmente são crianças que andam em bloco), atraso na linguagem e automatizações em coordenação motora fina. Impacto no brincar, dificuldade de mobilidade (escada rolante, elevadores, transporte público...); • Hiper-responsividade gustativa e olfativa: Gustativa: dificuldade em experimentar novos alimentos (textura, temperatura), dificuldade em descriminar os alimentos. Vinculado a baixa exploração tátil na primeira infância; • Hiper-responsividade visual: fotofobia, a entrada de luz dificulta a regulação sensorial; • Hiper - responsividade Proprioceptiva: dificuldade com o movimento em bloco, na maioria das vezes, com tônus mais alto. 44WWW.UNINGA.BR PE DI AT RI A PA RA T ER AP IA O CU PA CI ON AL | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A
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