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POLÍCIA CIENTÍFICA: PROVA E LOCAL DO CRIME AULA 3 Prof. Thiago Massuda 2 CONVERSA INICIAL Neste módulo veremos os princípios que norteiam a perícia criminal e quais são os principais vestígios encontrados em uma cena de crime. Na sequência, discutiremos a dinâmica e o trabalho do perito no local. Por fim, falaremos sobre a importância da cadeia de custódia para a credibilidade da prova técnica para a instrução processual. TEMA 1 – OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PERÍCIA CRIMINAL Os princípios fundamentais da perícia criminal são: observação, análise, interpretação, descrição e documentação, os quais passaremos a discutir na sequência. Segundo o livro Tratado de Perícias Criminalísticas, organizado por Domingos Tochetto (1995), esses princípios são descritos da seguinte maneira: 1. Princípio da observação: de acordo com o Princípio de Locard, todo contato deixa uma marca. Em locais de crime, a busca por vestígios nem sempre é uma tarefa de fácil execução. Em muitos casos, esses elementos resultantes da ação delituosa, sejam eles originários do autor, sejam eles originários da vítima, somente podem ser detectados por meio de análises microscópicas, ou até mesmo com o auxílio de equipamentos de altíssima precisão. O que é importante destacar é que não existem ações que não produzam marcas de provas, e o que pode acontecer é que no momento atual não detenhamos as técnicas necessárias para identificar todas essas marcas. Todavia, com a notória evolução das pesquisas científicas na área, novas metodologias estão sendo desenvolvidas, visando a detectar tanto vestígios como microvestígios. 2. Princípio da análise: A análise pericial deve sempre seguir o método científico. A perícia, por ser cientificamente embasada, visa a definir como o fato ocorreu (teoria) por meio de uma criteriosa coleta de dados (vestígios e indícios), os quais permitem estabelecer uma ideia de como os fatos se desenvolveram. O método científico é empregado para testar essas hipóteses, o que, após análise criteriosa, permite formular no próprio local dos exames uma teoria completa dos fenômenos ocorridos, 3 e às vezes isso só é possível após a realização de exames complementares. 3. Princípio da interpretação: Dois objetos podem ser indistinguíveis, mas nunca idênticos. Por esse princípio, também conhecido como Princípio da individualidade, preconiza-se que a identificação deve ser sempre enquadrada em três graus, a saber: 1. a identificação genérica; 2. a identificação específica; e 3. a identificação individual, sendo que os exames periciais devem alcançar o último grau. 4. Princípio da descrição: O resultado de um exame pericial é constante com relação ao tempo e deve ser exposto em linguagem ética e juridicamente perfeita. Os resultados dos exames periciais, sempre baseados em princípios científicos, não podem variar pela passagem do tempo. Ainda além, considerando que qualquer teoria científica deve gozar de propriedade da refutabilidade, os resultados da perícia, quando expostos através do laudo, devem ser descritos de uma forma clara, reacionalmente disposta e bem fundamentadas. 5. Princípio da documentação: Toda amostra deve ser documentada, desde seu nascimento no local de crime até sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um histórico completo e fiel de sua origem. Este princípio, baseado na cadeia de custódia (que estudaremos mais adiante), visa proteger a fidelidade da prova material, evitando considerações de provas forjadas, incluídas no conjunto das demais, para provocar a incriminação ou a inocência de alguém. Todo o caminho de vestígio deve ser devidamente documentado de modo que haja a rastreabilidade do mesmo. TEMA 2 – OS PRINCÍPAIS VESTÍGIOS DE LOCAL DE CRIME Em um local de crime, quase tudo que se possa imaginar pode ser um vestígio. Há também vestígios que podem ser encontrados na vítima ou no criminoso. Dentre os principais tipos de vestígios estão as marcas (por exemplo: pegadas, marcas de freada ou arrasto), impressões (por exemplo: impressões digitais), as manchas (por exemplo: sangue, sêmen, saliva etc.), objetos e armas, líquidos, tintas, resíduos etc. 4 Segundo o Princípio da Observação, quando um criminoso comete um crime ele acaba levando consigo elementos do local e/ou da vítima e consequentemente deixando no local algo que possa comprovar sua presença ali, mesmo que o criminoso não perceba. Quando isso é analisado de maneira adequada pelos peritos, esses elementos constituem importante informação para a investigação criminal. Os vestígios podem ser de grande valor na elucidação de um crime, por isso mesmo o mais insignificante dos elementos não deve ser dispensado, pois dele pode vir a comprovação de um ato delituoso. Todo vestígio tem potencial de ser analisado pelos laboratórios em momento futuro. Conforme já estudamos, para se conseguir um bom resultado na investigação criminal são necessárias uma boa atuação do policial que primeiro chega ao local do crime e a maneira correta de preservar os vestígios existentes TEMA 3 – O LEVANTAMENTO DO LOCAL Segundo algumas apostilas referentes ao curso de formação de profissionais da área de Segurança Pública, o levantamento de local de crime constitui-se das seguintes informações: “Em criminalística, levantamento é a reprodução desse local, por meio de descrição, dos croquis e de fotografias, filmagens, etc.” Segundo Gilberto Porto, o levantamento é estudar devidamente o lugar do evento criminoso. Portanto, levantamento de local de crime ou de infração penal é o ato pelo qual esse local é reproduzido, através de descrição, croquis, fotografia, datiloscopia, modelagem, vestígios e indícios ou outros meios técnicos, no sentido de documentar com detalhes a situação fiel. Antes do levantamento propriamente dito, devem os peritos procurar detalhes para que a descrição seja exata e objetiva, levando ao êxito da investigação criminal e à elucidação do delito. O procedimento investigatório policial começa na percepção do local de crime. A busca pela prova material, para efetivamente provocar a ação da justiça, parte do encontro com os vestígios encontrados no local, motivo da investigação criminal. 5 3.1 Procedimentos no local Deve-se descrever detalhadamente o local, com ilustração esquemática, objetivando caracterizar o endereço do fato. É importante listar: a área imediata e mediata; as formas de acesso ao local; as condições atmosféricas; topografia e iluminação; orientação geográfica com pontos de referência; condições de visibilidade e sentido do vento; ponto de referência para a descrição dos vestígios encontrados; amarramento do local (Governo da Bahia, 2008). TEMA 4 – CADEIA DE CUSTÓDIA Para que a prova possa ser apresentada de maneira adequada aos tribunais e sua credibilidade seja garantida, é necessário que ela se submeta a uma série de normas e regras denominadas cadeia de custódia. Segundo Lopes, Gabriel e Bareta (2006), a expressão “cadeia de custódia” refere-se à capacidade de garantir a identidade e a integridade de um vestígio, seja um material, equipamento, máquina, documentos, substância ou amostra, a partir de sua identificação no local de crime. É o processo usado para documentar e manter a história cronológica desse vestígio e está baseada no Princípio da Documentação. Os vestígios coletados deverão possuir uma cadeia de custódia que assegure sua integridade desde o local de crime até o momento em que eles integrarão o processo judicial. Geralmente os vestígios são coletados e encaminhados para exames laboratoriais se necessário, sendo então armazenados até a análise. Posteriormente esses vestígios são devolvidos para a autoridade policial para compor o inquérito, que será encaminhado ao MinistérioPúblico para realização da denúncia. Durante esse trâmite, várias pessoas podem manusear esse vestígio, por isso é fundamental a documentação de todo esse processo. O principal objetivo da cadeia de custódia é garantir a segurança e idoneidade do vestígio. Esse cuidado é fundamental para que não haja 6 questionamentos com relação à credibilidade da prova. De nada adianta ter as mais modernas tecnologias de análise se os vestígios apresentarem pontos questionáveis com relação a sua obtenção, coleta ou armazenagem. TEMA 5 – CONTRAPROVA Conforme estabelecido no Código de Processo Penal, art. 170, temos: “Art. 170: Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas” (Brasil, 1941). Como se vê, o próprio Código de Processo Penal deixa clara a necessidade de se guardar material para um segundo ou terceiro exame posterior nas perícias de laboratório. No entanto, não especifica por quanto tempo deverá ser guardado esse material. NA PRÁTICA Um dos processos críticos para a credibilidade da prova técnica é a cadeia de custódia. Caso tenham acesso a provas de um processo criminal, já repararam se os procedimentos de rastreabilidade da prova estão sendo atendidos? Quais as consequências do não atendimento da cadeia de custódia para o processo penal? FINALIZANDO Nesta aula verificamos quais são os princípios que norteiam o trabalho pericial, bem como quais são as principais tarefas realizadas pelo perito no local de crime, na busca por vestígios. Outro processo importante discutido neste módulo foi a cadeia de custódia da prova e o mecanismo legal que garante a realização de uma nova perícia (contraprova). 7 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 13 out. 1941. ESPINDULA, A. Perícia Criminal e Cível: uma visão geral para peritos e usuários da perícia. 2. ed. Campinas: Millennium, 2006. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública: 2016. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2016. GOVERNO DA BAHIA. Secretaria da Segurança Pública. Polícia Civil da Bahia. Curso de Formação de Agente e Escrivão de Polícia – 2008. LOPES, M.; GABRIEL, M. M.; BARETA, G. M. S. Cadeia de custódia: uma abordagem preliminar. Visão Acadêmica, Curitiba, v. 7, n. 1, 2006. TOCHETTO, D. (Org.). Tratado de Perícias Criminalísticas. Porto Alegre: Sagra-D.C. Luzzatto, 1995. VELHO, J. A.; GEISER, G. C.; ESPINDULA, A. (2017). Ciências Forenses: uma introdução às principais áreas da criminalística moderna. Campinas: Millenium, 2017.
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