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1 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 SUMÁRIO PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA ................................................................. 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGOGICA ........................................................ 6 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DA CRIANÇA DE 6 A 11 ANOS E DO ADOLESCENTE ....................................................................................... 7 AS PROVAS OPERATÓRIAS .............................................................. 8 A CATEGORIA DAS PROVAS OPERATÓRIAS POR IDADE ....... 10 OS TIPOS DE PROVAS OPERATÓRIAS E A SUA FINALIDADE/OBJETIVO .......................................................................... 12 A AVALIAÇÃO DAS RESPOSTAS ................................................. 14 DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO....................................................... 15 DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO .............................................. 16 PRIMEIRO CONTATO (AGENDAMENTO) ........................................... 17 QUEIXA .............................................................................................. 18 ANAMNESE ....................................................................................... 20 CONTRATO E SESSÕES DE AVALIAÇÃO ...................................... 24 DEVOLUTIVA E ENCAMINHAMENTO .............................................. 26 INFORME PSICOPEDAGÓGICO ...................................................... 29 A ESCUTA CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA ...................................... 30 A POSTURA ANALÍTICA E A ATITUDE CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA ..................................................................................... 31 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 34 file:///C:/Users/rayssy.fernandes/Desktop/Nova%20pasta%20(2)/Nova%20pasta/Psicopedagogia%20Clínica.docx%23_Toc135659666 4 INTRODUÇÃO O campo da psicopedagogia é aquele que engloba uma ampla gama de atividades profissionais interdisciplinares e multidisciplinares. Leva em conta a singularidade, heterogeneidade e conhecimento existencial que existe nas relações formadas entre escolas e lares. Um aspecto particularmente importante do conhecimento psicopedagógico é sua capacidade de ajudar a avaliar a relação afetiva entre essas duas entidades e construir conhecimentos que podem ser aplicados tanto na escola quanto nas famílias. Sendo a aquisição do conhecimento parte integrante da experiência humana, a psicopedagogia desempenha um papel fundamental na facilitação desse processo no âmbito da educação. Os seus campos de atuação abrangem vários setores pedagógicos, cada um contribuindo para uma maior transformação da atual realidade escolar (VIEIRA et al, 2022). Os psicoeducadores profissionais são obrigados a adequar seus serviços às necessidades específicas de cada setor educacional, sendo importante que eles promovam programas sociais para despertar a curiosidade de professores, alunos e funcionários da escola sobre o trabalho dos psicoeducadores no ambiente escolar (GOMES, 2023). O psicopedagogo não apenas educa o sujeito, mas também tem a responsabilidade de capacitá-lo na aquisição do conhecimento. Nesse sentido, Bossa (1994, p. 6) diz que: Penso que a psicopedagogia como área de aplicação, antecede status de área de estudos, o qual tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir seu objeto de estudo, delimitar, seu campo de atuação, e para isso recorrer à psicologia, psicanálise, linguística, fonoaudiólogo, medicina, pedagogia. Segundo Edith (1993, p. 38) a “intervenção psicopedagógica pode, também propiciar ao aprendiz experiências”. A aquisição de novos conhecimentos, mudanças comportamentais e a capacidade de lidar efetivamente com problemas sociais em vários ambientes são resultados que 5 podem resultar de certas experiências. A principal missão de um psicoeducador é ajudar os indivíduos a superar obstáculos, considerando sua formação educacional e compreensão de um determinado assunto. Um psicoeducador pode utilizar atividades que despertem a curiosidade de seus alunos para estimular sua memória sobre o assunto. Em ambientes institucionais e clínicos, os psicoeducadores devem reconhecer que o ensino e a aprendizagem são moderados e que o conhecimento obtido por meio do ensino é mediado por educadores e outros profissionais não escolares (ESCOTT, 2004). O psicoeducador deve ter cautela ao atribuir um diagnóstico, tendo o cuidado de considerar quaisquer possíveis desafios de aprendizagem e adaptando as perguntas e tarefas de acordo para aliviar ou abordar a situação. Além disso, é importante observar que existem métodos alternativos para diagnosticar um indivíduo, como examinar álbuns de fotos ou revisar obras de arte feitas em casa ou na escola, além de consultar familiares para obter uma compreensão mais abrangente da situação. Esses métodos permitem que o psicoeducador descreva e analise minuciosamente o indivíduo, posteriormente formulando suposições e conclusões informadas (GOMES, 2023). A Psicopedagogia clínica tem caráter predominantemente terapêutico, com sessões individuais previamente programadas num espaço apropriado para tal. “Este espaço deve ser de aprendizagem, proporcionando ao sujeito chances de conhecer o que está à sua volta, o que lhe impede de aprender, possibilitando modificar uma história e não aprendizagem” (BOSSA, 2007). A Psicopedagogia clínica: Faz uma intervenção terapêutica por meio de profissional especializado que buscará não só a solução dos problemas de aprendizagem, mas também, a construção de um sujeito pleno, crítico e mais feliz. O tratamento começa com o diagnóstico clínico, que dará suporte para identificar as causas dos problemas de aprendizagem no desenvolvimento do sujeito e relação com sua família e grupos sociais (ESCOTT, 2004). O psicopedagogo “somente poderá recomendar um tratamento após a 6 anamnese (entrevista inicial) com os pais e com o aluno, com o objetivo de colher dados significativos sobre a história de vida do paciente” (WEISS 2012 p. 61). Caso sejam identificados outros problemas, deve ser indicado um profissional especializado para ajudar no tratamento, como psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, entre outros. Assim, o psicopedagogo clínico, ao se utilizar de vários recursos para sua análise, atuará como mediador de todo o processo, orientando pais e escola qual a melhor atitude a ser tomada (GOMES, 2023). AVALIAÇÃOPSICOPEDAGOGICA Frequentemente, as instituições de ensino encaminham os jovens para avaliação psicopedagógica por uma causa específica: o rendimento escolar não corresponde às expectativas. Pode haver uma dificuldade com o processo de leitura e escrita quando comparado a outros alunos da mesma classe. Alternati- vamente, pode haver dificuldade em compreender um tópico, ou o aluno pode exibir uma abordagem sem entusiasmo ou até mesmo desengajada para apren- der (ANDRADE, 1998). As famílias tendem a ter inúmeras queixas iniciais quando se trata de dificuldades de aprendizagem de seus filhos. No entanto, é crucial enfatizar a importância de conduzir uma investigação completa para chegar a uma decisão informada. Ressalta-se que a avaliação psicopedagógica serve como ponto de partida para esse processo investigativo (GRIZ, 2009). 7 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DA CRIANÇA DE 6 A 11 ANOS E DO ADOLESCENTE Ao realizar uma avaliação psicopedagógica de crianças de 6 a 11 anos ou adolescentes, o psicopedagogo deve utilizar recursos adequados, com obje- tivos claros e dentro da faixa etária do avaliado. A finalidade pretendida do ins- trumento deve estar alinhada com as questões colocadas pela hipótese diagnós- tica e fornecer os dados necessários. O não cumprimento desses requisitos re- sulta em perda de valor do instrumento e perda de tempo do psicopedagogo, pois outros recursos poderiam ser utilizados durante a avaliação. O tempo é um bem precioso durante as avaliações, pois há sessões planejadas para a conclu- são do trabalho. Os Testes de Diagnóstico Operativo de Jean Piaget (WEISS, 2012) são frequentemente utilizados na avaliação de crianças entre 6 e 11 anos. Esses testes são fundamentais para determinar o estágio de desenvolvimento da cri- ança, bem como sua prontidão para certos marcos, como a alfabetização. A pesquisa e a análise de Piaget revelaram que a capacidade cognitiva de uma criança se desenvolve em estágios separados e distintos que são quali- tativamente diferentes uns dos outros. Ele identificou quatro estágios fundamen- tais do desenvolvimento cognitivo, cada um com vários subestágios. O primeiro é o estágio sensório-motor, que vai do nascimento até os 2 anos de idade. O segundo é o estágio pré-operatório, que ocorre entre os 2 e os 7 anos de idade. O terceiro é o estágio operacional concreto, que ocorre entre os 7 a 11 anos de idade. O estágio final é o estágio operacional formal, que se inicia após os 11 anos e se estende por toda a vida adulta (BALESTRA, 2007). As provas desenvolvidas por Piaget podem ser categorizadas em quatro categorias distintas: conservação, classificação, seriação e medição espacial. Essas categorias abrangem treze testes que são usados para medir o desenvol- vimento cognitivo. Os treze testes operativos são: conservação de conjuntos de elementos pequenos e discretos; conservação da superfície; conservação de lí- quidos; Conservação de massa; conservação de peso; conservação de volume; 8 conservação do comprimento; mudança de critério (dicotomia); inclusão de tur- mas; interseção de classes; serialização de palitos; combinação de fichas; e pre- visão. (BALESTRA, 2007). É importante notar que as provas piagetianas são uma ferramenta amplamente utilizada para medir o desenvolvimento cognitivo. AS PROVAS OPERATÓRIAS As provas de Piaget têm significativa relevância no campo da psicopeda- gogia. Eles foram inicialmente desenvolvidos como uma ferramenta epistemoló- gica para pesquisas empíricas sobre o processo de aquisição de conhecimento em crianças. Essas provas permitiram a Piaget demonstrar que o conhecimento não era inato nem imposto por fatores externos, mas o resultado de um processo gradual e contínuo de construção (VISCA, 2008). Ele pretendia construir uma teoria do conhecimento e empregou o método clínico para conseguir isso, refinando e modificando-o conforme necessário para se adequar ao seu experimento. As provas Piagetianas têm grande importância para a psicopedagogia. Elas nasceram como um recurso epistemológico de investigação empírica da construção do conhecimento em crianças. Através delas, Piaget pode demonstrar teoricamente que os conhecimentos não eram inatos ou impostos a partir do meio, mas que proviam do resultado de uma construção gradativa (VISCA, 2008). A sua intenção era construir uma teoria do conhecimento e para tal utilizou o método clinico aperfeiçoando-o e adaptando-o quando conveniente ao seu experimento. Visca (2008) apresenta quatro etapas da elaboração desse método clínico: 1ª – Verbal, observação direta 2ª – Observação crítica 3ª – Formalização: combinação do pensamento verbal e as operações 9 efetivas e concretas 4ª – Inclusão de perguntas interdisciplinares Entretanto, deve-se a Bärbel Inhelder o uso do método clinico no campo da psicologia abrindo assim, caminho para que as provas operatórias fossem utilizadas com são ultimamente (VISCA, 2008). Atualmente, as provas de Piaget (piagetianas) vêm sendo amplamente utilizadas na clínica psicopedagógica para avaliação do raciocínio e construção de conhecimento de crianças na fase escolar (RUBINSTEIN, 2014). Por intermédio delas é possível investigar e avaliar o nível cognitivo da criança e constatar se este realmente corresponde a sua idade cronológica ou se existe alguma defasagem. Rubinstein ainda afirma que, Essas provas avaliam a noção de conservação e as operações lógicas de classificação e seriação, nos níveis concreto e formal, e encontram- se diluídas na obra de Piaget. Alguns autores fizeram a seleção e organização das mesmas com o intuito de facilitar a sua utilização clinica ou escolar (2014, p. 70). Antes de realizar esses testes, é crucial considerar alguns critérios. Um fator essencial é estabelecer uma conexão entre o entrevistador e o entrevistado. Se faltar uma conexão, o entrevistado pode sentir desconforto e nervosismo, o que pode impactar negativamente no processo avaliativo como um todo (BARBOSA, 2001). O levantamento de hipóteses pelo entrevistador é um componente crítico para qualquer investigação. Na verdade, todas as explorações começam com a formulação de hipóteses. Na aplicação dos testes, é fundamental ter cautela com a faixa etária e com as habilidades cognitivas de cada criança ou adolescente. É importante garantir que os testes não sejam muito simplistas nem muito complexos para a faixa etária em questão. O processo investigativo consistirá em diálogos informais e flexíveis que 10 podem ser modificados de acordo com a situação. É fundamental observar atentamente e anotar as respostas e justificativas do entrevistado, pois podem revelar seus processos cognitivos e de raciocínio. Além disso, todo o ambiente deve ser estudado, incluindo comportamento do entrevistado, postura, padrões de fala, preocupações, apreensões, argumentos, organização ou falta dela, manipulação de objetos, ansiedades e apatias. (BARBOSA, 2001). Uma compreensão completa dos estágios do desenvolvimento humano é crucial para analisar e avaliar efetivamente o material reunido. O sucesso de uma investigação conduzida por meio de testes depende da habilidade do entrevistador em administrar os testes com perícia. O entrevistador deve ter uma compreensão abrangente de todo o processo, incluindo aplicação, progressão, formação de hipóteses e conclusões (BARBOSA, 2001). A CATEGORIA DAS PROVAS OPERATÓRIAS POR IDADE Mediante pesquisas e observações Piaget classificou e agrupou as provas operatórias por idades (Quadro 1). Devido a esse minucioso trabalho é possível se ter um referencial preciso na hora da seleção da prova a ser aplicada. A categoria das provas mostra o nível de estrutura cognitiva que o indivíduo é capaz de operar na situação apresentada.11 Quadro 1 - A categoria das provas operatórias por idade 12 Fonte: Sampaio, 2014. OS TIPOS DE PROVAS OPERATÓRIAS E A SUA FINALIDADE/OBJETIVO O objetivo principal das provas operatórias é descobrir e avaliar a noção- chave do desenvolvimento cognitivo, revelando o nível de pensamento alcançado pela criança, isto é, o nível de estrutura cognoscitiva com que ela opera. (WEISS, 2012, p. 106). De acordo com Borges, As provas operatórias foram organizadas com o objetivo de criar certo tipo de escala de desenvolvimento intelectual e, sobretudo, de testar a validade das hipóteses de Piaget, ou seja, fundamentar o sujeito epistêmico [...] (1992, p. 7) Os tipos de provas operatórias e a sua finalidade e objetivo específicos se encontram descritos no quadro 2 a seguir. 13 Quadro 2 - Os tipos de provas operatórias e a sua finalidade/objetivo 14 Fonte: Visca, 2008. A AVALIAÇÃO DAS RESPOSTAS Uma avaliação eficaz não se dará apenas pela análise das respostas obtidas nas provas. O aplicador deve observar o contexto geral: reações, postura, fala, inquietações, reação diante do desconhecido, argumentos, organização e manipulação do material (SAMPAIO, 2014). O nível que a criança irá alcançar em cada uma das etapas revelará o grau de sua estrutura operatória. Desta forma, será possível identificar o nível do pensamento alcançado por ela. As respostas podem ser classificadas dentro de três níveis (VISCA, 2008; SAMPAIO, 2014): 15 Nível 1: Não conserva, não atinge nível operatório nesse domínio. Nível 2: Intermediário: respostas oscilantes, instáveis ou incompletas: hora conserva, hora não conserva. Nível 3: respostas firmes, demonstram aquisição da noção. DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO De acordo com Weiss (2012), o objetivo do diagnóstico é identificar os desvios e os obstáculos apresentados pelo sujeito e seu modelo de aprendizagem que impossibilita a aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. O diagnóstico Psicopedagógico tem aspectos afetivos, cognitivos, e que na visão clínica, os aspectos afetivos retratam uma relação entre o aprendente e o Psicopedagogo, que poderá ser uma relação amigável ou não, em que o sujeito projeta de forma inconsciente suas emoções para a relação entre pessoa em atendimento e Psicopedagogo. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Segundo Weiss (2012), todo diagnóstico Psicopedagogico é uma investigação, daquilo que não vai bem com o sujeito, em relação a uma conduta esperada, portanto é esclarecer uma queixa da família, escola ou do próprio sujeito. Assim trazendo suas expectativas em relação ao conhecimento, por isso o profissional precisa estabelecer uma estratégia significativa para que isso não interfira nos atendimentos. Ou seja, estabelecer um laço de confiança entre ambos, e que essa relação seja de parceria com esse sujeito. Já o Prognóstico é realizado após o Diagnóstico Psicopedagógico, 16 quando o profissional já conhece o nível do aprendente, suas fragilidades e suas potencialidades, além do estilo e gênese da aprendizagem, própria de cada indivíduo, só então ele traça o Prognóstico, que consiste no plano de intervenção para sanar os problemas detectados e fortalecer as potencialidades do aprendente (WEISS, 2012). DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO O diagnóstico psicopedagógico é o ponto de partida do trabalho do psicopedagogo. Por isso, precisa ser realizado de maneira séria e atenta aos detalhes de todo o processo, desde o primeiro contato telefônico até a devolutiva, ou seja, a divulgação do diagnóstico. Segundo Weiss (2012), para que tenhamos uma visão global do cliente durante a abordagem do fracasso escolar, precisamos levar em consideração os seguintes aspectos: 1. Aspectos orgânicos – são os relacionados à estrutura biofisiológica do sujeito que aprende. Quaisquer alterações nessas estruturas irão prejudicar o acesso ao conhecimento. Atentar também para o fato de que, na maioria das vezes, crianças portadoras de alterações orgânicas recebem uma educação diferenciada por parte da família, podendo ocasionar problemas emocionais em diversos níveis, gerando dificuldades na aprendizagem escolar. 2. Aspectos cognitivos – são os ligados basicamente ao desenvolvimento e funcionamento das estruturas cerebrais que permitem a aprendizagem, entre eles a memória, atenção, antecipação, entre outros. 3. Aspectos emocionais – são os aspectos ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste por meio da produção escolar (WEISS, 2012). Isto porque o não aprender pode ter uma relação com um problema familiar, por exemplo, num caso de não conseguir bom desempenho em matemática a partir da separação dos pais e a constituição de novas famílias (não consegue dividir, subtrair, somar, multiplicar 17 porque isto remete às novas organizações familiares). 4. Aspectos sociais – como o próprio nome diz, trata-se de tudo o que interfere socialmente naquela família, como a sua cultura, sua situação econômica, entre outros. 5. Aspectos pedagógicos – são os aspectos ligados à metodologia de ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação das turmas, enfim, à organização geral da escola, que influem diretamente na qualidade de ensino e interferem no processo de ensino-aprendizagem (WEISS, 2012). Diante desses aspectos, é importante lembrar que o bom diagnóstico psicopedagógico não é medido pela quantidade de instrumentos utilizados, mas, sim, que os instrumentos utilizados sejam capazes de auxiliar no entendimento do funcionamento desses cinco aspectos do cliente em questão. PRIMEIRO CONTATO (AGENDAMENTO) Ao procurar um profissional psicopedagógico pela primeira vez para agendar uma consulta, é fundamental tratar com muito cuidado o contato inicial. Esse alcance inicial significa o primeiro passo da família em direção à mudança, reconhecendo que algo está errado. Este pode ser um reconhecimento desafiador tanto para a família como um todo, quanto para membros individuais da família (VIEIRA et al, 2022). É imprescindível que um profissional dê orientações a uma secretária ou recepcionista quando estiver à frente do atendimento. A secretária/recepcionista deve manter um comportamento amigável e profissional. Eles devem fornecer informações relevantes de maneira concisa, como horário de funcionamento, cronograma de reuniões e preços. No entanto, algumas indagações podem exigir a expertise do profissional (GOMES, 2023). Quando o psicoeducador recebe uma ligação, ele também pode receber 18 a ficha de trabalho junto com as informações prestadas. É crucial responder a quaisquer perguntas que o chamador possa ter, mas também é importante evitar focar demais no cliente em potencial e, em vez disso, guardar os detalhes da reclamação para a entrevista inicial. Segundo Escott (2004), os níveis de ansiedade poderiam ser observados se o chamador tivesse consultas urgentes, solicitasse um número elevado de sessões ou propusesse horários de reunião inapropriados. QUEIXA Quando o responsável por uma criança entra no consultório, muitas vezes surge uma sensação de desconforto. Esse desconforto pode ser sentido até pelos próprios profissionais, e deve ser administrado para não atrapalhar o encontro. Por exemplo, o responsável pode chegar significativamente mais cedo do que o programado, conversar sem parar ou simplesmente não responder às perguntas do profissional (BOSSA, 2007). Durante esses momentos,é melhor cumprimentar o responsável com respeito, guiá-lo pelo espaço do escritório, discutir seu histórico e perguntar como ele pode ajudá-lo. A queixa evidente pode ser dirigida à mãe, ao pai ou à criança, enquanto as queixas implícitas - que são trazidas durante as sessões - podem diferir (VIEIRA et al, 2022). A consulta inicial com o responsável é um aspecto crucial do nosso processo de avaliação. Isso nos permite determinar se o casal irá à reunião junto ou se estará acompanhado de seus filhos. Enquanto alguns especialistas defendem que esse atendimento inicial deva ser voltado apenas para as crianças, outros defendem que seja prestado apenas ao responsável (GOMES, 2023). A experiência do escritório oferece a oportunidade de encontrar os dois cenários e, no último caso, os pais tendem a responder às perguntas com maior 19 compostura. Esse ambiente permite uma identificação mais fácil de erros e uma disposição para mostrar vulnerabilidade diante dos problemas. Os pais também podem se esforçar para fornecer atenção total aos profissionais devido a preocupações com o bem-estar de seus filhos. Como resultado, eles podem preferir agendar uma consulta separada ou se envolver em comunicação não verbal na presença de seus filhos. Além disso, eles às vezes optam por dar seguimento mais tarde com mais informações que podem não se sentir à vontade para compartilhar na presença de seus filhos ou adolescentes. (VIEIRA et al, 2022). Texto Reescrito: O significado desses pontos de vista não pode ser exagerado, pois eles trazem à tona a ausência de comunicação aberta entre membros da família, casais e relacionamentos entre pais e filhos. Na maioria dos casos, um dos pais pode se recusar a participar dessas reuniões. Portanto, torna-se necessário que ambas as partes participem dessas discussões periodicamente para garantir que as diretrizes sejam seguidas por todos e que todos estejam na mesma página. Vale ressaltar que, por vezes, a reunião agendada pode ser cancelada devido a circunstâncias imprevistas (ESCOTT, 2004). É responsabilidade dos profissionais registrar prontamente tais incidentes para recuperação, pois eles indicam relutância em uma avaliação mais aprofundada. Após a apresentação da denúncia, é fundamental que os responsáveis realizem uma entrevista semiestruturada, na qual os pais são estimulados a expressarem suas opiniões sobre o assunto. Ocasionalmente, esse processo pode necessitar de múltiplas sessões (GOMES, 2023). A entrevista semiestruturada recebe esse nome porque o psicoeducador só faz perguntas periodicamente, seja quando o sujeito termina de falar ou quando o responsável pela sessão solicita esse tipo de intervenção. Concluída essa fase, inicia-se a entrevista estruturada, que envolve o exame do prontuário (VIEIRA et al, 2022). Em alguns casos, a pessoa responsável pela condução da reunião pode ficar "presa" nos estágios iniciais ou pode parecer inacessível. Para contornar 20 qualquer constrangimento em potencial, é aconselhável começar revisando os gráficos primeiro. Dessa forma, os pais podem adicionar informações adicionais a seu próprio critério e nível de conforto. ANAMNESE Uma técnica de entrevista abrangente conhecida como anamnese é projetada para reunir os dados históricos completos de um cliente desde o início até os dias atuais. Vários modelos de anamnese estão disponíveis, mas o modelo mais eficaz para utilização clínica é o modelo de entrevista semiestruturada ou livre, conforme adaptado por ESCOTT (2004). Quando se trata de avaliações psicopedagógicas, é fundamental que os questionários utilizados sejam informativos, mas envolventes. Essas avaliações geralmente envolvem um determinado número de reuniões, geralmente em torno de oito a dez, com prazos rígidos e requisitos de feedback. O objetivo é proporcionar um espaço responsável onde os indivíduos possam discutir quaisquer problemas ou dificuldades que possam estar enfrentando. Não é incomum que psicólogos educacionais descubram que o problema inicial apresentado pelo cliente pode ser separado da verdadeira questão no decorrer da avaliação, conforme observado por Vieira et al em 2022. Na hora de abordar a situação em questão, é fundamental envolver os pais da criança na conversa, principalmente considerando que eles já iniciaram o processo de mudança. Além disso, é fundamental levar em consideração o plano de trabalho com a criança proposto pelo psicoeducador. Durante a rememoração, é comum que alguns aspectos da situação sejam enfatizados em detrimento de outros, sendo importante que o psicoeducador esteja atento a essas ênfases e mantenha uma postura aberta e acolhedora. Ao fazer isso, os pais podem estar mais propensos a baixar espontaneamente suas defesas (GOMES, 2023). 21 O modelo a seguir é uma adaptação do citado por Weiss (2012) e utilizado para entrevistas iniciais com os pais ou responsáveis e posterior planejamento das estratégias para atendimento ao cliente. ANAMNESE PSICOPEDAGÓGICA Data: ___/___/_____ Dados pessoais (ideal que sejam recolhidos no contato telefônico) Nome do responsável:_____________________________________________ Telefones de contato:______________________________________________ Nome do paciente: ________________________________________________ Idade: __________________ Data de Nascimento: ________________ Escolaridade: _______________________________________________ Escola: _________________________________________________________ Quem solicitou a avaliação: _________________________________________ Por qual razão a fez (queixa): _______________________________________ Quem indicou o profissional:________________________________________ Está em atendimento com outros profissionais? ________________________ Se sim, quais? __________________________________________________ O paciente concorda em fazer a avaliação? ____________________________ Valores da sessão e duração: _______________________________________ Agendamento e prazo para desistência:_______________________________ a. História das primeiras aprendizagens não escolares: (abrange todo o 22 desenvolvimento infantil; muitas vezes os pais têm dificuldade de lembrar com quantos anos estava a criança nessas ocasiões; é importante deixá-los à vontade e, caso não se lembrem, perguntar se foi normal, como as crianças da mesma idade na época ou se foi tardio ou precoce). a) Uso da mamadeira. b) Uso da colher. c) Uso da canequinha. d) Engatinhar. e) Andar. f) Andar de velocípede. g) Controle dos esfíncteres. h) Aquisição da fala. i) Outros. (deve-se acrescentar o que mais surgir de importante no que diz respeito às aprendizagens: se elas foram estimuladas pela família, se ocorreram naturalmente ou tiveram um forte nível de exigência). História das primeiras aprendizagens escolares: a) Adaptação à escola. b) Idade de ingresso. c) Alfabetização. d) Mudança de escola. e) Aulas extras. f) Outros. 23 b. Evolução geral a) Desenvolvimento físico. b) Aquisição de hábitos (da casa e da família). c) Interiorização de normas (da família e da escola). d) Alimentação (come bem?, tem restrições?, gosta de beliscar?). e) Sono (normal ou agitado? Tem sono fora de hora?). f) Sexualidade (demonstra curiosidade? Já perguntou?). g) Ocorreram problemas neurológicos ou acidentes? h) Houve defasagens significativas? (de qualquer ordem). i) Foi estimulado a novas aprendizagens? (situação socioeconômica). j) Foi desejado? k) Como se deu a gravidez? l) Outros. c. História clínica (problemas de saúde em geral, acompanhamentos com especialistas, cirurgias, internações, atitude da família). d. História da família nuclear a) Fatos marcantes dos pais e irmãos antes, durante e depois da entrada do pacientena família. b) As famílias provenientes dos novos casamentos dos pais (perspectiva socioeconômica e cultural). c) Alterações familiares (nascimento de irmãos, mudanças, mortes, desemprego, separações). 24 d) Houve, para a criança, oportunidade de elaborar a perda? (Se a perda ocorrida estava ligada a um castigo prometido e eventualmente acontecido – por exemplo, “o papai vai embora para sempre se você não se comportar”; ou se estava relacionada com a vontade de conhecer, curiosidade sobre os fatos). e. História da família ampliada (relações com familiares paternos e maternos, como tios, primos e avós). CONTRATO E SESSÕES DE AVALIAÇÃO É imprescindível que o psicopedagogo forneça as informações solicitadas no primeiro contato telefônico, mas é igualmente importante que ele as forneça novamente por escrito antes da finalização do contrato de trabalho. Os componentes necessários para este contrato estão descritos no primeiro segmento da anamnese sugerida (BOSSA, 2007). Uma vez que o psicopedagogo tenha avaliado o caso, ele terá determinado a capacidade de atendimento, o número de sessões necessárias, os descontos que podem ser concedidos, a duração de cada sessão, a disponibilidade para agendamento e os prazos para cancelamento de sessões por motivos de circunstâncias imprevistas (ESCOTT, 2004). Os clientes que não cumprem os termos do contrato podem experimentar benefícios terapêuticos. Tal descumprimento pode revelar outros comportamentos que são exibidos em suas vidas diárias, levando a desafios adicionais. Além disso, é crucial fornecer feedback sobre essas situações para estimular a autorreflexão. (VIEIRA et al, 2022). Ao discutir o período de avaliação diagnóstica com os pais, não é incomum que eles se sintam desiludidos. Muitos pais desejam um diagnóstico imediato dos impedimentos de aprendizagem de seus filhos, mas é importante reservar um tempo para examinar e entender minuciosamente as causas subjacentes de suas dificuldades. 25 Para aliviar a ansiedade dos pais, a psicopedagoga pode explicar que o processo de avaliação é terapêutico. Mesmo sem um diagnóstico definitivo de dificuldade de aprendizagem, o processo pode levar a modificações de comportamento à medida que pais e filhos se conscientizem da possibilidade de remédios ou soluções para amenizar suas inquietações (GOMES, 2023). Da mesma forma, é fundamental estabelecer os termos do acordo com a criança no primeiro dia de atendimento. Depois de recebê-lo, é importante perguntar à criança se ela entende o motivo de estar ali. Muitas vezes, a criança já pode saber o motivo, pois seus pais podem ter informado, no entanto, é importante que o terapeuta forneça sua própria explicação. Nos casos em que os pais não forneceram nenhuma informação, o terapeuta deve perguntar à criança ou adolescente por que eles acham que estão ali (ESCOTT, 2004). O cliente apresentou reclamação, cabendo agora prestar à criança ou adolescente as informações pertinentes sobre o contrato celebrado com a família. Isso inclui detalhes sobre agendamentos, duração da sessão e regras para as sessões. As regras vão esclarecer como as sessões serão conduzidas - se o psicopedagogo ditará sempre o curso de ação (durante o período de avaliação) ou se há momentos em que o cliente pode tomar decisões (durante o acompanhamento psicopedagógico). Também serão explicados os objetivos das sessões, e será enfatizado o quanto é importante a colaboração do cliente no processo (VIEIRA et al, 2022). Estabelecer uma conexão entre o psicopedagogo e o cliente é fundamental nas sessões iniciais, pois é fundamental que o cliente perceba o adulto como capaz de auxiliá-lo em seus problemas. Para agilizar esse processo, é vantajoso empregar linguagem compatível com a faixa etária do cliente, tanto em termos de assunto quanto de terminologia. Com isso, a experiência terapêutica torna-se mais amigável, e os resultados positivos são alcançados com agilidade (GOMES, 2023). Quando encontrar resistência, é importante perguntar ao cliente sobre o que ele estaria fazendo durante a sessão. Ocasionalmente, pode ser revelado que a família está utilizando recursos psicopedagógicos de forma punitiva, como 26 por exemplo, afastar uma criança de um esporte que ela gosta. Nesses casos, é crucial reunir os pais e a criança e ter uma discussão aberta sobre esse comportamento, oferecendo opções alternativas de agendamento (BOSSA, 2007). Segundo Weiss (1994), uma vez concluídas as sessões com a criança, podemos utilizar o "Modelo de Aprendizagem" como meio de chegar às nossas conclusões. O Modelo de Aprendizagem engloba uma série de fatores, incluindo o conhecimento existente do sujeito, estilo de aprendizagem, ritmo, conduta, função cognitiva, hábitos, motivações, ansiedades, defesas e conflitos relacionados à aprendizagem. Considera também a relação do sujeito com os saberes em geral e com as disciplinas escolares especificamente, bem como o significado da aprendizagem escolar para o sujeito, sua família e comunidade escolar. Ao delinear com sucesso o Modelo de Aprendizagem do sujeito, o terapeuta atingiu um nível de integração de dados que lhe permite refletir e desenvolver hipóteses sobre a causa raiz por trás da dificuldade de aprendizagem ou deficiências acadêmicas. Posteriormente, o terapeuta pode propor um curso de ação para resolver o problema existente, levando em consideração os vários níveis de orientação necessários para a escola, família, e tratamentos especializados (como a psicopedagogia). A síntese desses dados conduz ao Prognóstico e fundamenta a entrevista de Retorno (GOMES, 2023). DEVOLUTIVA E ENCAMINHAMENTO O momento em que todas as informações coletadas do cliente e dos responsáveis são devolvidas na forma de diagnósticos ou recomendações é conhecido como "retorno". Quando a denúncia é da escola, é fundamental que a psicopedagoga faça a visita no início da avaliação e após sua conclusão 27 informar aqueles que têm o direito de saber, como professores, coordenadores e administração, sobre os resultados. É importante manter o sigilo ético neste momento, compartilhando apenas informações relevantes para o desenvolvimento acadêmico do cliente e evitando quaisquer detalhes privados que possam "vazar" dentro da instituição escolar e causar constrangimento ao cliente. Se o cliente autorizar, essas informações podem ser repassadas aos pais. É por isso que é necessário fornecer feedback à criança antes de qualquer feedback ser dado à sua família ou escola (VIEIRA et al, 2022). Quando uma criança passa por um atendimento psicopedagógico, uma infinidade de pensamentos passa por sua cabeça. Eles podem se lembrar de momentos de frustração, em que não conseguiram concluir uma atividade ou tarefa, bem como momentos de triunfo, em que ganharam jogos e gostaram de jogar. Isso pode criar confusão dentro da criança, pois ela luta com emoções conflitantes. Por um lado, podem sentir que continuar frequentando o serviço pode indicar falta de inteligência. Por outro lado, eles gostam da experiência e ficariam tristes se parassem de frequentar. É essencial garantir que o contrato seja renovado periodicamente para manter a clareza sobre o caráter temporário da presença do cliente. Além disso, comunicar aos pais os momentos de descontração da criança dentro do consultório é fundamental. Muitos pais lutam para passar tempo suficiente com seus filhos devido à carga de trabalho, resultando em uma falta de compreensão dos interesses de seus filhos. Oferecer uma janela para esses momentos familiares evita que os clientes se apeguem demais e permite que o acompanhamento necessário ocorra sem problemas (SAMPAIO, 2014). Ao fornecer feedback a uma criança, é fundamental comunicar o diagnóstico de maneira clara e concisa, usando umalinguagem que a criança possa compreender. Além disso, é fundamental oferecer orientações sobre o prognóstico, que se refere às habilidades ou limitações da criança, caso sejam tomadas medidas específicas, como acompanhamento com outros profissionais como fonoaudiólogo ou psicólogo. Ressalta-se que qualquer informação compartilhada com a criança também será comunicada aos seus pais, 28 principalmente nos casos em que possa haver limitações ou restrições (Vieira et al., 2022). Ao trabalhar com crianças ou adolescentes, é importante ouvir o que eles não se sentem à vontade para ouvir. Se a informação for irrelevante, ela pode ser descartada. No entanto, se a informação for crucial para o crescimento e progresso da criança, é vital convencê-la de seu significado. Se houver resistência, forneça opções alternativas. Por exemplo, permitir que a criança divulgue as informações primeiro em casa, em um momento adequado, ou permitir que o profissional informe seus pais em seu nome (ESCOTT, 2004). Em acompanhamentos mais longos, torna-se necessário oferecer aos pais um feedback parcial que transmita informações, facilite mudanças efetivas e imediatas e ajude a garantir um processo tranquilo, além de sanar as dúvidas que possam surgir durante esse período. Mas tanto as devolutivas parciais quanto as finais obedecem ao seguinte esquema (WEISS, 2012): 1. Retomada da queixa – inicia-se esse momento, também carregado de expectativa e ansiedade, pela retomada da queixa (explícita na entrevista, e a implícita, que se aflorou no decorrer do processo; se houve divergências entre as queixas, etc.). 2. Retomada do processo – o psicopedagogo retoma o processo desde o início, falando sobre suas impressões de como a família chegou ao consultório, as técnicas utilizadas no atendimento à criança, se houve ou não cumprimento do contrato, entre outros. 3. Pontos positivos do paciente – aqui são retomados todos os êxitos do paciente, suas conquistas, o que foi melhorado e/ou superado. 4. Pontos a serem trabalhados – são passadas as orientações e recomendações gerais à família e à escola. 5. Encaminhamentos – por fim, realizam-se encaminhamentos quando necessários para profissionais de saúde, educação, esporte, enfim, o que for necessário para a criança melhorar seu desenvolvimento global. 29 Após o encaminhamento, quando solicitado pela família o nome de profissionais para indicação, é importante levar em conta a situação econômica da família para que se faça o encaminhamento para profissionais particulares ou de órgãos públicos. Ter esse conhecimento aumenta as possibilidades do encaminhamento realmente se efetivar. Outro cuidado é com o número de profissionais envolvidos no encaminhamento, o que pode levar a uma sobrecarga de atendimentos que nem sempre trarão resultados à criança. Primar pelos mais emergenciais para que, quando sanados alguns problemas, possam ser trabalhados outros. INFORME PSICOPEDAGÓGICO O informe psicopedagógico é o documento que o psicopedagogo elabora ao término da avaliação ou de um acompanhamento psicopedagógico. Por meio dele é possível passar informações sobre o processo que foi realizado com o cliente, encaminhamentos para profissionais e orientações à escola e aos pais. Caso haja necessidade, fazer dois tipos de informe: um mais completo para os pais e outro somente com as informações pertinentes à escola ou outro órgão solicitante (SAMPAIO, 2014). O informe é importante também para sistematizar o trabalho do psicopedagogo, além de facilitar o planejamento das sessões subsequentes. Segue o modelo de informe com dados de um estudo de caso pautado em observações e seu respectivo programa de trabalho, ou seja, planejamento das sessões. Na sequência, temos outro informe, este já baseado numa avaliação psicopedagógica realizada em consultório, na qual a solicitante foi a escola. 30 A ESCUTA CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA A atuação do psicopedagogo, em instituições escolares, requer postura/atitude clínica frente às diversas produções sejam elas explícitas ou implícitas dos indivíduos a quem se propõe intervenção psicopedagógica. Nesta perspectiva, a escuta psicopedagógica clínica insere-se como mecanismo de verificar e tratar os diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano do trabalho docente nas escolas (VIEIRA et al, 2022). Para se apropriar da utilização da escuta clínica na psicopedagogia, é relevante antes, caracterizar o olhar clínico como aquele que toma em consideração um campo – de pesquisa ou de intervenção – estruturado por um jogo de relações e de intervenções dinâmicas e complexas. No entanto, ele também supõe que o prático e o pesquisador estejam convenientemente deslocados da relação, isto é, que eles assumam uma postura de implicação- distanciamento. Tal postura, por sua vez, possibilitar-lhes-á estar efetivamente co-presente na situação que eles analisam, sem perder, para tanto, suas especificidades e suas competências (MARTINS, 2003, p. 43). Isto remete que a atitude clínica necessária ao psicopedagogo ante sua possibilidade de intervenção, implica a busca por novos sentidos para sua relação com o objeto pesquisado. A observação torna-se, assim, importante. Pois, o olhar clínico se estabelece fundamentalmente na observação. Contudo, a escuta se impõe como fator imprescindível no que se refere ao temporal, “aquilo não-dito” (MARTINS, 2003, p. 44). Portanto, para Martins (2003), isto significa que as diferentes funções do olhar e da escuta clínicas, que se apoiam em perspectivas diferentes e, consequentemente, em metodologias também específicas, precisam ser articuladas no intuito de se estabelecer pontos de referência nos aspectos temporal e espacial. O psicopedagogo, enquanto terapeuta é um sujeito que “legaliza a palavra do paciente, [...] alguém que com sua escuta outorga valor e sentido à palavra de quem fala, permitindo-lhe organizar-se (começar a entender-se), 31 precisamente a partir de ser ouvido” (FERNANDEZ, 1991, p. 126). Com isso, a escuta psicopedagógica torna-se fator preponderante no atendimento a heterogeneidade de/dos professores na escola, possibilitando-lhes, vez e voz para expressarem-se oralmente e/ou através de mensagens subliminares. O psicopedagogo terapeutizando, precisa posicionar-se em um lugar capaz de proporcionar-lhe a análise eficaz, de modo a permitir “ao paciente organizar-se e dar sentido ao discurso a partir de um outro que escuta e não desqualifica, nem qualifica”. “Somente a partir das fraturas do discurso, por um lado, e de nos aproximarmos, por outro lado, por encontrar o dramático, resgataremos o interessante, o original dessa história (FERNANDEZ, 1991, p. 126). A POSTURA ANALÍTICA E A ATITUDE CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA O psicopedagogo deve “escutar e traduzir” (FERNANDEZ, 1991, p. 127) de modo transcendente o que lhe é apresentado, buscando a atitude clínica necessária no trato dos dados obtidos através de sua escuta e análise. Pois, “são as palavras, ou sua ausência, associados com a cena penosa, as que dão ao sujeito os elementos que impressionarão sua imaginação” (MANNONI apud FERNANDEZ, 1991, p. 127). Assim, a função da escuta psicopedagógica não é fazer o paciente confessar o tido como importante, mas sim, garantir ao indivíduo a possibilidade de que fale do que realmente carece de importância. Para Fernandez (1991, p. 128), o lugar analítico, tão importante para o desenvolvimento da escuta clínica, é “lugar de testemunha e atitude clínica, da atitude do que escuta e traduz promovendo um discurso mítico e não real. Lugar e atitudes necessários a todo terapeuta, que o psicopedagogo deverá assumir”. Neste sentido, a referida autora apresenta sua proposta ou guia para o 32 psicopedagogo conseguir uma escuta psicopedagógica: (FERNANDEZ,1991, p. 131) • Escutar–olhar: o primeiro momento da intervenção psicopedagógica supõe escutar-olhar o outro e mais nada. De acordo com Fernandez (1991, p. 131), “escutar não é sinônimo de ficar em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos”; • Deter-se nas fraturas do discurso: estar atento aos aspectos trazidos através do discurso verbal, assim como ao corporal, ao agir subjetivo do sujeito; • Observar e relacionar com o que aconteceu previamente à fratura: registrar as fraturas, as formas diferentes de expressar-se; • Descobrir o esquema de ação – significação: “para encontrar o esquema de ação, não é necessário deter-se no conteúdo do mesmo, mas no processo e nos mecanismos” (FERNANDEZ, 1991, p. 132); • Buscar a repetição dos esquemas de ação: buscar detectar em que outras situações e com que outros contextos e conteúdos repete-se este esquema; • Interpretar a operação, mais do que o conteúdo: levantar as concepções e ideias inconscientes sobre a aprendizagem, estabelecendo relações com a “operação particular que constitui o sintoma” (FERNANDEZ, 1991, P. 133). O momento da intervenção psicopedagógica é único tanto para o paciente, quanto para o terapeuta, e requer o estabelecimento de uma relação harmônica entre ambos, onde o escutar esteja presente cotidianamente neste processo. Para isso, Fernandez (1991, p. 131) esclarece que “escutar não é sinônimo de ficar em silencio, como olhar não é de ter os olhos abertos. Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se”. Todavia, o terapeuta deve 33 aprimorar a sua escuta para além do que o paciente expõe oralmente, permitindo-lhe “falar e ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem” (p. 131) para poder intervir da melhor maneira possível. No entanto, para Martins (2003) é imperioso que ambos estejam convenientemente deslocados na relação estabelecida, isto é, que eles assumam uma visão/postura de implicação-distanciamento. Esta postura possibilitar-lhes-á efetivamente estarem co-presentes na situação que analisam, sem para isso, perder suas especificidades e suas capacidades. Ou seja, uma postura/atitude clínica que se estruture numa escuta, que aqui deve ser compreendido como um mecanismo de acompanhamento acerca da realidade, registrando-se o vivenciado, o experimentado. É preciso criar espaços onde as vivências institucionais possam ser afirmadas e verdadeiramente escutadas. 34 REFERÊNCIAS ANDRADE, Márcia Siqueira. Psicopedagogia Clínica: Manual de Aplicação Pratica para Diagnóstico de Distúrbios do Aprendizado. São Paulo, poluss editorial 1998. BALESTRA, Maria Marta Mazaro. A Psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007. BARBOSA, L. M. S. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. BORGES, I. P. As provas operatórias de Jean Piaget: características metodológicas e implicações na avaliação psicológica. 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