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Psicologia Aplicada a Fisioterapia - Unid III

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113
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Unidade III
7 INTERAÇÃO FISIOTERAPEUTA-CLIENTE
7.1 Tópicos de psicologia social
Figura 39 
7.1.1 Psicologia social psicológica e psicologia social sociológica
Psicologia social é o ramo da psicologia que estuda, basicamente, o comportamento dos indivíduos 
quando estão interagindo. Essa área da psicologia surgiu recentemente, no século XX, como campo de 
interação da psicologia com as ciências sociais – sociologia, antropologia, geografia, história, ciência 
política. Por exemplo, da interação da psicologia com a etnologia (ramo da antropologia) resultou a 
etnopsicologia, que considera aspectos sociais, históricos e culturais dos fenômenos psicológicos.
Ao realizar um balanço do estado atual da psicologia social, nos âmbitos nacional e internacional, 
Maria Cristina Ferreira (2010) registra sua evolução na América do Norte, na Europa e na América Latina, 
aqui particularizando a recente produção brasileira.
Vimos que, ao longo da história da psicologia, houve grande pluralidade e multiplicidade de 
abordagens teóricas. O mesmo ocorreu no âmbito de cada área específica dessa ciência, e com a 
psicologia social não teria sido diferente. Os estudos e pesquisas foram reunidos em dois grandes 
conjuntos, um dos quais reúne aqueles cuja ênfase recai nos indivíduos e outro cuja ênfase 
recai na relação estabelecida entre indivíduos. Dessa classificação resultam duas modalidades 
de psicologia social:
114
Unidade III
• a chamada psicologia social psicológica;
• a chamada psicologia social sociológica.
Vejamos melhor o que significa isso.
A psicologia social psicológica privilegia a vida intrapsíquica do indivíduo: seus pensamentos, 
sentimentos e comportamentos quando ele se encontra diante da presença real (ou imaginada) de 
outras pessoas. Em outras palavras, a psicologia social psicológica enfatiza aquilo que se passa na 
interioridade dos indivíduos, seus processos intraindividuais que determinam o modo pelo qual os 
indivíduos respondem a estímulos sociais.
A psicologia social sociológica, por sua vez, privilegia a experiência social adquirida pelo indivíduo 
ao longo de suas diversas participações em diferentes grupos sociais. Em outras palavras, a psicologia 
social sociológica enfatiza os fenômenos observáveis em grupos e coletividades.
Entre os principais temas de estudo da psicologia social, estão incluídos os seguintes: atitudes, 
relações entre funções cerebrais e cognição social (neurociência social), processos coletivos que ocorrem 
em grupos de todos os portes, desde os processos próprios da relação interpessoal, que envolve somente 
dois participantes, passando por processos próprios dos grupos, instituições e comunidades, até atingir 
os processos próprios das redes sociais, sejam elas presenciais ou virtuais.
O que o campo da psicologia social pode oferecer de melhor aos fisioterapeutas? Parece-nos 
que, dessa área da psicologia, o mais útil para você, aluno de Fisioterapia, é a aquisição de alguns 
conhecimentos sobre estrutura e dinâmica de grupos. O estudo de grupos é indispensável a profissionais 
que integram ou muito possivelmente virão a integrar equipes multi e interdisciplinares de trabalho.
7.1.2 Noções de estrutura e dinâmica de grupos
Ao tratarmos de particularidades da estrutura e dinâmica dos grupos, ingressamos em vasto território 
da psicologia, pois, havendo uma multiplicidade de abordagens teóricas, das quais decorrem distintas 
sugestões práticas, nós, autores deste livro-texto, nos vemos obrigados, mais uma vez, a eleger temas 
cujo estudo possa ser útil a você.
Para darmos andamento à abordagem desse tema, vamos recorrer mais uma vez ao já mencionado 
Enade Psicologia: material instrucional específico, produzido pela UNIP. Nesse material, vemos que 
sociólogos e psicólogos elaboraram muitas definições de grupo, uma das quais de uso frequente: 
basicamente, grupo é um conjunto de pessoas que desempenham distintos papéis para que possam 
atingir, juntas, um ou mais objetivos em comum.
Cada grupo é um todo dinâmico, é como um organismo coletivo, de modo que qualquer alteração 
em algum de seus elementos repercute nos demais elementos e no sistema como um todo. Além disso, 
num grupo bem conduzido, a produção coletiva é sempre maior e melhor que a soma das produções 
individuais de seus membros.
115
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Durante a convivência e a realização de trabalhos em conjunto, vão se sucedendo processos 
grupais, e essa dinâmica psicossocial proporciona aos integrantes do grupo o compartilhamento de 
representações, de crenças e de conhecimentos, o desempenho de múltiplos papéis e o sentimento 
de pertença grupal. Esses benefícios do grupo podem favorecer o desenvolvimento, o autoconhecimento e a 
elevação da autoestima de seus integrantes.
Diversas modalidades de intervenção grupal compõem o repertório de profissionais da saúde, 
da educação, de organizações de trabalho, de sistemas jurídicos, de instituições e de comunidades. 
Múltiplas estratégias de análise e de intervenção nos processos grupais são tradicionalmente utilizadas 
por coordenadores, facilitadores e moderadores de grupo, para adequar os indivíduos a interesses 
corporativos ou para favorecer exercícios cooperativos de ação grupal, quando se tem em vista a 
promoção da autonomia de sujeitos e de coletividades.
O trabalho grupal demanda compatibilidade entre as condições do contexto, os objetivos da 
estratégia adotada e as necessidades dos participantes do grupo.
Figura 40 
Assim, da vasta diversidade de estratégias grupais utilizáveis em distintos contextos profissionais, 
é preciso que a escolha dos procedimentos a serem adotados se apoie em uma cuidadosa avaliação 
da situação e dos objetivos da intervenção para que se possa escolher o tipo de intervenção mais 
adequado aos objetivos e demandas do grupo e à necessidade dos indivíduos que o compõem.
Há diversas modalidades de grupo. Entre elas, é de nosso particular interesse nesse contexto o grupo 
operativo, proposto por Enrique Pichon-Rivière (1977).
7.1.3 O grupo operativo de Pichon-Rivière
Pichon-Rivière (1977, p. 42) define grupo como um “conjunto de pessoas reunidas por constantes 
de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, implícita ou 
explicitamente, uma tarefa, que constitui a finalidade do grupo”. Os grupos operativos têm por objetivo 
a realização de uma tarefa.
116
Unidade III
Eduardo Frias (2020) nos lembra que Pichon-Rivière descreve o sujeito como emergente de uma 
trama complexa de relações sociais em que ocorrem internalizações recíprocas (vínculos) e relações 
sociais (nexos). Este autor também descreve o indivíduo como um ser que se movimenta num drama 
interno enquanto participa de vários dramas externos. E, baseado em seus conhecimentos de psicanálise, 
explica que as pessoas com quem um indivíduo se relaciona se inscrevem em sua interioridade por 
meio de um progressivo processo de internalização das múltiplas e sucessivas experiências vividas 
nessas interações. Múltiplas imagens, originadas de múltiplos objetos internalizados, se articulam 
na subjetividade do indivíduo, sistema interno que compreende hábitat e grupo interno, isto é, 
compreende um cenário e, nele, personagens em relação, segundo um script ou argumento, como 
numa obra teatral.
Composto
Como antropófago
Faço de pedaços das pessoas que amo e odeio
Partes de mim mesmo.
 €_FR!@s
Fonte: Frias, E. R. (2013).
Foi possível entender esse conceito de Pichon-Rivière? Para tornar mais inteligível sua maneira 
de compreender o indivíduo colocado em relação social, basta considerarmos que cada um de nós 
representa vários papéis sociais ao interagir com outras pessoas: cada um de nós é filho; pai ou mãe; 
trabalhador em determinado lugar, exercendo determinadas funções; amigo; comprador; vendedor, e 
assim por diante. Essas interações podem ser entendidas como se cada um de nós, sem perda da própria 
unidade identitária, estivesserepresentando diversos papéis em palcos de teatro.
Pichon-Rivière (1977) vai além, ao propor que nossa interioridade é habitada por personagens em 
interação, havendo contínua comunicação entre os dramas vividos por essas personagens internas e os 
dramas vividos por nós em nossas interações sociais.
Figura 41 
117
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Às relações significativas estabelecidas entre os seres que habitam nossa interioridade 
Pichon-Rivière dá o nome de nexos, e às relações significativas por nós estabelecidas com outras 
pessoas em nosso dia a dia ele nomeia de vínculos.
O fato de as personagens internas não serem estáticas e de interagirem justifica a denominação 
grupo interno. Graças a um complexo dinamismo de introjeção e projeção de imagens, no cenário 
interno, a realidade externa é reconstruída, com maior ou menor grau de distorção, já que o sujeito 
transforma dados da realidade externa ao interpretar a experiência: configura-se, assim, a trama 
argumental interna (argumento interno).
Estando em grupo, as pessoas compartilham tempo, lugar e campo psicológico. Formam vínculos, 
manifestam emoções, têm vivências, expressam ideias e ideais. Os integrantes de um grupo interagem 
por meio de um complexo mecanismo de atribuição e assunção de papéis. A mútua representação 
interna (internalização recíproca) é o processo por meio do qual cada integrante de um grupo reconstrói 
em sua interioridade a trama de relações de que participa.
Para lidar com obstáculos e dificuldades próprias de nossa vida cotidiana, é preciso, entre outras 
coisas, superar obstáculos e dificuldades nas relações que nossas personagens internas estabelecem entre 
si. Esse trabalho a ser realizado na esfera subjetiva de cada um de nós é pré-requisito para podermos 
lidar de modo eficiente e eficaz com o que ocorre externamente, em nossas relações sociais.
Assim, para lidar com obstáculos e dificuldades próprias de nosso fazer profissional, é preciso que, 
além dos recursos teórico-técnicos propostos por Pichon-Rivière e outros pensadores da psicologia, 
possamos superar nossa dificuldade para lidar com determinadas questões. Pode ocorrer, por exemplo, 
que a educação que recebemos nos tenha levado a sentir antipatia, medo ou aversão por pessoas 
diferentes de nós. Diferentes por pertencerem a outra classe social, ou a outro segmento étnico-racial, 
ou por terem orientação de gênero distinta daquela que consideramos a única correta ou, ainda, por 
serem pessoas velhas, gordas, portadoras de algum tipo de deficiência, por estarem morrendo, e assim 
por diante.
Estereótipos negativos e preconceitos sempre têm raízes profundamente arraigadas em nós. 
E eis que em nossa prática profissional nos vemos diante da necessidade de cuidar de pessoas que, 
em nossa interioridade, em nosso cenário interno, são representadas como aversivas ou desprezíveis 
ou aterrorizantes.
 Lembrete
A percepção de si é tarefa exigente a ser realizada na subjetividade de 
um fisioterapeuta, de um psicólogo e de qualquer profissional chamado a 
oferecer cuidados a alguém.
118
Unidade III
7.1.4 Etapas do desenvolvimento dos grupos de trabalho
Quanto ao desenvolvimento de grupos de trabalho, quer utilizemos a técnica de grupos operativos, 
quer utilizemos outra, vale fazer algumas observações. A vida de grupos e de equipes de trabalho se 
desenvolve em conformidade com as seguintes etapas:
• formação;
• conflito;
• normatização;
• desempenho;
• desintegração.
Figura 42 
As etapas do processo grupal nem sempre obedecem exatamente a essa sequência, porque podem 
ocorrer retornos a etapas anteriores antes do avanço para etapas seguintes. O conhecimento das etapas 
dos processos grupais nos dá a conhecer que os períodos de turbulência fazem parte desses processos.
As etapas de formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração de uma equipe de 
trabalho acham-se descritas a seguir.
Durante a etapa de formação têm início os contatos interpessoais e o reconhecimento mútuo 
dos integrantes do grupo. Nessa etapa, o objetivo coletivo é identificado e são estabelecidas as regras 
de tempo, lugar, papéis e funções. Durante essa etapa da vida grupal não ocorrem disputas pelo 
poder no interior da equipe, pois os indivíduos ainda se locomovem em meio a incertezas relativas às 
responsabilidades e papéis de cada um e ainda não reconhecem a si mesmos como membros do grupo.
Durante a etapa de conflito, nitidamente marcada pela incerteza, os membros do grupo já estão 
identificados. Tem início então o processo de ajustes relativos às tarefas que serão realizadas, à decisão 
de quem fará o que e de que maneira. Durante essas negociações, os integrantes do grupo podem 
119
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
redefinir regras. As lideranças começam a emergir, o que poderá determinar a ocorrência de disputa 
pelo poder de condução do grupo e pequenos poderes começam a ser divididos e disputados entre os 
membros. Isso não implica, necessariamente, litígios, pois, apesar de serem esperadas discordâncias, as 
negociações podem ocorrer sem hostilidades.
Durante a etapa de normatização, a energia da equipe se concentra nos processos de coesão 
grupal, de identificação dos membros do grupo e de maior proximidade entre eles. Também têm 
início o compartilhamento de sentimentos e percepções e o intercâmbio de informações. Aumenta a 
tolerância frente às divergências. A concordância explícita com os objetivos do grupo se inclui entre as 
características dessa etapa. As lideranças, já aceitas, definem junto com os integrantes do grupo papéis 
e funções, bem como normas de desempenho.
Durante a etapa de desempenho, as tarefas são executadas. Já ultrapassada a etapa de 
normatização, durante a qual foram estabelecidas relações mais próximas, foram compartilhados 
percepções e sentimentos e aumentou a coesão grupal, a energia do grupo se volta agora para a 
realização de atividades. Ainda que possa haver oscilações ao longo do percurso, essa é a fase de ouro 
da produtividade grupal.
A desintegração é a última etapa do processo grupal. Tendo sido atingidos os objetivos do grupo, 
sua existência passa a ser desnecessária. É importante assinalar que, nas equipes permanentes de 
trabalho, durante essa etapa pode ocorrer a renovação de metas e de recursos, bem como a substituição 
de membros.
Uma atenção integral à saúde exige o reconhecimento da multiplicidade e da complexidade dos 
fatores implicados no processo saúde-doença-cuidado. Por isso, o trabalho interdisciplinar é fundamental 
nos sistemas de saúde. Daí a importância de nos apropriarmos de conhecimentos básicos da estrutura e 
dinâmica de grupos: para tornarmos nossa ação mais eficaz.
8 TÓPICOS RELATIVOS À QUALIDADE DE VIDA E À INSERÇÃO DA FISIOTERAPIA 
NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
Damos início a esta seção apresentando o que se entende por qualidade de vida e inclusão dessa 
temática no âmbito da atenção básica em saúde, programa integrante do Sistema Único de Saúde (SUS).
8.1 Qualidade de vida
No âmbito das ciências humanas e biológicas, há um interesse crescente por questões relacionadas à 
qualidade de vida, o que, certamente, não se restringe a um mero controle de sintomas, nem à redução dos 
índices de mortalidade, nem ao aumento da expectativa de vida. Há autores que consideram qualidade 
de vida apenas um sinônimo de saúde física e mental. Outros autores, no entanto, consideram que boas 
condições de saúde física e mental integram, junto com outros fatores, o conjunto de condições da 
qualidade de vida.
120
Unidade III
Esse conceito varia de uma área para outra, podendo ser compreendido como sinônimo de saúde, 
felicidade, satisfação pessoal, condições e estilo de vida. Etimologicamente, a palavra “qualidade” advém 
do latim qualis, que significa “modo peculiar de existência de algo ou de alguém”.
Muito frequentemente a qualidade de vida é avaliada com base em indicadores, tais como nível 
de escolaridade, ausência de sintomas de doenças, condiçõesde moradia. Os estudos sobre qualidade de vida 
são classificados em quatro abordagens: socioeconômica, psicológica, médica e holística.
A abordagem socioeconômica adota indicadores sociais como principal parâmetro de avaliação. 
Os indicadores econômicos, tidos inicialmente como principal parâmetro, logo se fizeram acompanhar 
de indicadores sociais, estando ambos voltados exclusivamente para fatores externos – instrução, renda 
e moradia, entre outros.
A abordagem psicológica privilegia indicadores de caráter subjetivo, privilegiando a experiência da 
pessoa. Essa abordagem favorece a compreensão das pessoas com base em critérios de autoavaliação: 
as pessoas são solicitadas a descreverem a si mesmas como felizes, satisfeitas, dotadas de boa qualidade 
de vida.
Tradicionalmente, a abordagem médica esteve restrita a aspectos relativos às condições de saúde, 
à cura de doenças, ao prolongamento do tempo de vida. Tais condições demandam possibilidade de 
acesso a serviços médico-assistenciais, bem como políticas públicas adequadas, articulação intersetorial 
do poder público e mobilização da população.
A abordagem holística considera a qualidade de vida multidimensional, o que inclui o respeito aos 
interesses e valores dos beneficiários. Curiosamente, segundo essa perspectiva, não é a qualidade de vida 
que depende da boa saúde e sim a saúde é que depende da boa qualidade de vida. É preciso associar 
parâmetros subjetivos (bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal) e objetivos (recursos 
sociais de atendimento a necessidades individuais e coletivas) para avaliar qualidade de vida.
 Observação
Estamos anexando a este livro-texto um instrumento de avaliação da 
qualidade de vida que poderá ser útil a você: Wisconsin Quality of Life – 
Escala de Autoclassificação da Qualidade de Vida.
8.2 Sistema Único de Saúde (SUS) e a promoção de qualidade de vida
O Sistema Único de Saúde (SUS), que tem por princípios básicos a universalização, a descentralização, 
a integralidade e a participação da comunidade, é integrado desde 1994 pelo Programa Saúde da 
Família (PSF), cujas equipes são compostas de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes 
comunitários de saúde, que estabelecem vínculos de corresponsabilidade com a população beneficiária 
dos serviços para atingirem, juntos, o objetivo de promover a saúde e elevar a qualidade de vida das 
pessoas e de sua comunidade de pertença.
121
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Baseado na abordagem holística, esse programa de assistência à saúde não se limita a intervenções 
de cunho epidemiológico e sanitário, por entender que para atingir o objetivo de melhorar a qualidade de 
vida das pessoas é preciso definir estratégias de ação com base em fatores físicos, psicológicos, históricos, 
geográficos e socioeconômicos, entre outros.
Por considerar oportuno, recorremos a Carvalho e Nogueira (2016), do campo da educação física, 
que, buscando refletir criticamente sobre o processo de institucionalização e fortalecimento das 
práticas corporais e atividades físicas entre as ações de promoção da saúde na atenção básica do SUS, 
realizaram uma análise crítica das interações, interfaces e distanciamentos que se processam entre as 
práticas corporais e as atividades físicas.
Ao realizarem a pesquisa aqui referida, havia se passado dez anos da publicação da Política Nacional 
de Participação Social (PNPS), ocorrida em 2006. Por meio de resgate histórico e análise crítica das 
relações e configurações que permeiam o processo de institucionalização de práticas corporais 
e atividades físicas entre as ações de promoção da saúde na assistência básica, esses pesquisadores 
identificaram ter havido um expressivo aumento dessa oferta em serviços e programas da assistência 
básica, o que favoreceu o acesso da população. Observaram que ainda há um importante desafio a 
ser superado: a visão baseada nos saberes da biologia e da epidemiologia, que considera as práticas 
corporais e atividades físicas como restritas à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, ainda 
é hegemônica em pesquisas científicas, políticas, programas e práticas de saúde pública.
Essas constatações levaram os autores a considerar que no âmbito da atenção básica é preciso que 
as Equipes de Saúde da Família (ESF), em ação conjunta com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família 
(NASF), avancem na oferta de práticas e atividades, ampliando o escopo e as modalidades oferecidas, 
estimulando a participação social e o acesso de populações ainda pouco presentes na atenção básica, 
como adolescentes e homens, para, progressivamente, contribuírem para expandir a compreensão de 
que tais práticas e atividades são ferramentas potentes de promoção da saúde, pois propiciam benefícios 
biológicos à saúde individual, fortalecem a equidade, a autonomia, o empoderamento e o protagonismo 
dos indivíduos e, simultaneamente, contribuem para a integralidade e sustentabilidade do cuidado no 
sistema de saúde.
Carvalho e Nogueira (2016) chamam atenção ao fato de que, embora tenhamos avançado em 
publicações e experiências que levam ao entendimento de que práticas corporais e atividades físicas 
são recursos do cuidado ampliado, grande parte dos conteúdos de formação profissional, de artigos 
científicos, das políticas e das normativas e práticas em saúde pública compartilham a compreensão 
de que tais ações promovem benefícios biológicos à saúde individual, em geral expressos por alguma 
medida de aptidão física. É preciso que tais achados das ciências naturais sejam expandidos por meio 
de uma profícua interlocução com as ciências sociais e humanas para ampliação dessa perspectiva de 
compreensão dos fenômenos.
Os autores observam que os binômios promoção da saúde/prevenção de doenças e práticas corporais/
atividade física são utilizados como sinônimos nos âmbitos leigo, científico e/ou político, embora a cada 
um desses termos estejam subjacentes distintas visões de mundo e distintos projetos de sociedade.
122
Unidade III
8.3 Inserção do fisioterapeuta no SUS
Considerando a necessidade de regulamentar a atenção em fisioterapia no âmbito do SUS, o Ministério 
da Saúde aprovou a Portaria n. 2.916, de 13 de novembro de 2007, que, em seu artigo 3º, inclui a assistência 
fisioterápica com suas respectivas formas de organização e procedimentos (BRASIL, 2007).
Esse ato foi bastante divulgado desde então. Um exemplo disso é a matéria veiculada em 2 de 
março de 2017 pelo Diário da Manhã, intitulada “Fisioterapia na saúde coletiva”, de autoria de Glenia 
Feitosa dos Santos Barbosa, fisioterapeuta especialista em saúde pública e analista de saúde da 
Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. Em poucas palavras, Barbosa (2017) descreveu a fisioterapia 
como ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinético-funcionais intercorrentes 
em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças 
adquiridas; e o fisioterapeuta, como profissional de saúde habilitado em curso superior para realizar 
diagnóstico de distúrbios cinético-funcionais, prescrever condutas fisioterapêuticas e acompanhar a 
evolução do quadro clínico funcional e as condições para alta do serviço.
Chamando atenção ao fato de o fisioterapeuta ser visto exclusivamente como um profissional cuja 
ação se efetiva no nível de atenção terciário (atividades de cura e reabilitação), reconhece que, diante 
das mudanças na organização social e na organização dos sistemas de saúde, passou a ser exigida a 
expansão de suas atividades para o nível da atenção básica em saúde, ou seja, para o campo da promoção 
da saúde e prevenção de doenças, conforme a Resolução n. 10, de 3 de julho de 1978, do Conselho 
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 1978), que estabelece como responsabilidade 
fundamental do fisioterapeuta prestar assistência ao homem, participando da promoção, tratamento 
e recuperação de sua saúde e, como membro de uma equipe de saúde, participar de programasde 
assistência à comunidade, em âmbito nacional e internacional. A atuação profissional do fisioterapeuta, 
nesse nível, acha-se afinada com o novo paradigma de saúde, que privilegia ações de cunho social, 
realizadas por equipes multi e interdisciplinares.
 Saiba mais
Sobre a oferta dos serviços de fisioterapia e terapia ocupacional na 
saúde pública, visite os sites a seguir, da World Confederation of Physical 
Therapy (WCPT) e da World Federation of Occupational Therapists (WFOT):
https://world.physio/
https://www.wfot.org/
Bispo Jr. (2010), do Instituto Multidisciplinar de Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/UFBA), 
publicou o artigo “Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e novas responsabilidades profissionais”, no 
qual chama atenção ao fato de o fisioterapeuta estar se dedicando quase exclusivamente à cura de 
doentes e reabilitação de sequelados. Tal restrição não condiz com o novo perfil epidemiológico e a 
123
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
nova lógica de organização do sistema de saúde, voltados para o propósito de reestruturar práticas 
profissionais e redefinir o campo de atuação desse profissional.
No artigo mencionado, o autor aborda o tema da reorientação do campo de atuação profissional da 
fisioterapia e novas possibilidades de atuação no SUS, e conclui em favor da necessidade de expandir 
o campo de ação dos fisioterapeutas da reabilitação de casos individuais para uma prática de cunho 
coletivo. Enumera algumas possibilidades de atuação do fisioterapeuta na atenção básica do SUS, com 
destaque para o nível primário, sem esgotar outras possibilidades de ação. O autor considera necessário 
que essa atuação seja norteada pelos seguintes princípios e regras:
• Atuar em equipe multiprofissional e com abordagem interdisciplinar, objetivando a integralidade 
da assistência.
• Seguir a lógica da territorialização e inserir a prática do cuidado continuado.
• Agir preferencialmente no âmbito coletivo, com envolvimento e participação da população.
• Articular suas ações com a ação promovida por diversos setores da sociedade e dos governos, 
considerando a necessidade de estar sempre atento aos determinantes e condicionantes sociais 
da saúde.
O autor volta seu olhar também para a formação profissional dos fisioterapeutas, que, diante do 
gradual deslocamento da ênfase curativo-reabilitadora para a ênfase promocional-preventiva, deve 
incluir e valorizar, tanto na formação básica quanto na educação continuada, conhecimentos inerentes 
às ciências sociais, à saúde coletiva e ao SUS.
 Observação
Fisioterapeutas encontram novas oportunidades de inserção 
profissional em órgãos do SUS. Como todo novo campo de ação, este 
também apresenta desafios a serem enfrentados e superados em favor da 
população beneficiária e em favor dessa classe profissional.
8.4 O fisioterapeuta, a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC) do SUS e o binômio espiritualidade-saúde
Desde sua criação pelo Ministério da Saúde em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC) foi implantada no SUS com o objetivo de implementar tratamentos alternativos 
à medicina baseada em evidências na rede de saúde pública do Brasil, através do SUS.
A ampliação de ofertas conduziu ao atual conjunto de 29 modalidades de práticas integrativas e 
complementares, entre as quais as seguintes:
124
Unidade III
• arte terapia;
• biodança;
• dança circular;
• dança sênior;
• dinâmica energética do psiquismo;
• fitoterapia e plantas medicinais;
• homeopatia;
• hortas comunitárias;
• medicina antroposófica, que inclui a prática de euritmia;
• medicina tradicional chinesa (que inclui acupuntura, meditação e práticas corporais, como o tai 
chi chuan);
• medicina tradicional indiana (aiurveda);
• musicoterapia;
• naturopatia;
• oficina de memória;
• osteopatia;
• quiropraxia;
• reiki;
• relaxamento;
• shantala;
• teatro do oprimido;
• terapia comunitária;
• terapia de florais;
125
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
• termalismo;
• ioga.
Ao redigir o editorial da HU Revista, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em número 
especialmente dedicado ao tema Espiritualidade e Saúde: Aplicações Práticas, Resende et al. (2018) 
informam que, em levantamento recente, foi identificado que cerca de 84% da população mundial 
possui alguma filiação religiosa, estando previsto que até o ano de 2060 esse número aumentará 
para 87%. No Brasil, mais de 90% da população refere possuir uma religião e 84% consideram a religião 
como muito importante (MOREIRA-ALMEIDA et al., 2016 apud RESENDE et al., 2018). Esses dados não 
deixam dúvida: o tema da religiosidade é importante para a grande maioria da população mundial e, em 
especial, para a população brasileira.
Essa publicação não poderia ser mais importante do que está sendo, neste momento em que o 
tema saúde e espiritualidade ocupa tantos e diversificados palcos de debate. Para nós, autores deste 
livro-texto, por exemplo, que estamos entabulando um diálogo com você, aluno de Fisioterapia da UNIP, 
essa publicação caiu como uma luva, chegou na hora certa.
Esses dados de alta religiosidade e espiritualidade da população mundial são relevantes para 
todos os profissionais da saúde. O conhecimento sobre as inter-relações entre saúde e religiosidade e 
espiritualidade vem sendo disseminado entre nós nas últimas décadas, mas permanece a necessidade 
apontada por Resende et al. (2018), de preparar profissionais da saúde para que esse conhecimento 
seja integrado nas práticas de saúde.
O preparo desse volume especial da HU Revista (2018) teve por objetivo colaborar para que 
profissionais da saúde possam incluir a abordagem da religiosidade e espiritualidade em sua prática 
cotidiana, de modo ético e baseado em evidências, sem desrespeito aos princípios de laicidade do Estado 
brasileiro. A seguir, reunimos particularidades de alguns artigos dessa revista.
Santiago e Pinheiro (2018) enfatizam que encontrar um sentido de vida também pode ser considerado 
como um recurso de promoção de saúde via espiritualidade. Diante da indagação “como a espiritualidade 
pode atuar na promoção da saúde?”, esses autores procuraram por respostas realizando uma revisão 
de achados referentes às associações entre, de um lado, espiritualidade e religiosidade, o que incluiu 
aspectos de intervenção com uso de prece intercessória, e, de outro lado, atividade imunológica, saúde 
mental, neoplasias, doenças cardiovasculares e mortalidade.
Os autores puderam constatar que a literatura especializada vem identificando influências positivas e 
negativas de crenças religiosas e espirituais no enfrentamento de enfermidades: o envolvimento 
religioso está relacionado a melhores resultados tanto na preservação de doenças físicas e mentais 
quanto em sua recuperação. No entanto, por outro lado, esse envolvimento também pode estar 
associado a resultados negativos, devidos ao fanatismo, às mortificações e ao tradicionalismo 
opressivo de algumas religiões.
126
Unidade III
O cuidado espiritual frequentemente colide com o cuidado de saúde a ser oferecido durante o 
exercício de papéis profissionais. Ou seja, o profissional de saúde receia associar essas duas modalidades 
de cuidado. No entanto, a análise qualitativa dos dados de pesquisa possibilitou identificar benefícios do 
cuidado espiritual oferecido por profissionais da saúde a seus clientes.
Foi constatado, por exemplo, que o cuidado espiritual coloca tanto o paciente com câncer quanto a 
enfermeira oncológica no caminho do crescimento espiritual. Ao promover conforto e sensação de paz 
no paciente, a enfermeira obtém, eventualmente, satisfação interior.
Santiago e Pinheiro (2018) concluem seu relato propondo que seja elaborado um plano sistemático 
de sensibilização de enfermeiros oncológicos para que fiquem incentivados a incluir o cuidado espiritual 
em seus planos de intervenção.
Com o objetivo de revisar pesquisas sobre intervenção espiritual/religiosa(IER) em saúde física, 
Gonçalves e Vallada (2018) realizaram a triagem de mais de 4 mil artigos científicos, dos quais selecionaram 
30 que abordaram, de modo criterioso, a IER em desfechos físicos/clínicos. Identificaram que as IERs 
descritas apresentam foco espiritual ou religioso, sendo variadas as técnicas de abordagem utilizadas. 
Os desfechos incluíram diversas variáveis, entre as quais qualidade de vida, perda de peso e atividade 
física, dor e promoção de comportamento saudável. Relativamente aos resultados clínicos, alguns foram 
considerados insignificantes, outros considerados relevantes, mas nenhum estudo apresentou desfecho 
negativo que contraindicasse a IER.
Saad, Medeiros e Peres (2018) voltaram sua atenção à relação entre religiosidade/espiritualidade e 
saúde física e mental quando se trata de pacientes internados em hospital. A assistência religiosa-espiritual 
hospitalar (AREH), referente à atenção profissional oferecida aos mundos espirituais e religiosos 
subjetivos dos pacientes, se volta para mundos compostos de percepções, suposições, sentimentos e 
crenças que os pacientes têm sobre a relação do sagrado com sua doença, sua hospitalização, sua 
recuperação ou possível morte.
Baseados em sua experiência profissional, esses autores identificam que há pelo menos cinco razões 
para que uma instituição invista em um programa de AREH:
• o bem-estar religioso-espiritual, prioritário durante uma internação;
• a apreciação religiosa-espiritual como padrão para a acreditação hospitalar;
• as oportunidades para que mal-entendidos religiosos-espirituais que afetariam o tratamento 
sejam desfeitos;
• o desejo de pacientes que querem uma perspectiva religiosa-espiritual da instituição;
• a redução de custos hospitalares com a oferta de apoio religioso-espiritual.
As AREHs podem ser oferecidas de modo individual ou coletivo. Podem se restringir a alguma 
denominação religiosa específica ou podem ser multifé. Em um nível básico, essa modalidade de apoio 
127
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
pode ser da alçada dos profissionais de saúde e, em um nível crescente de especialização, pode ser 
oferecida por um voluntário treinado, por um ministro religioso da comunidade ou por um capelão hospitalar.
O público-alvo da AREH inclui, além do paciente internado, seus familiares, seus cuidadores e os 
profissionais de saúde. Apesar de haver leis que garantem o acesso do interno ao apoio religioso, no 
Brasil não há regulamentação para a profissionalização dessa atividade. Os autores concluem seu artigo 
sugerindo aos serviços de internação hospitalar que realizem investimento em ações de apoio a recursos 
religiosos-espirituais e que busquem formas de atendimento. 
Com o propósito de descrever a trajetória e atuação do Programa de Saúde, Espiritualidade e 
Religiosidade (ProSER), desde sua fundação, e sua atuação nas áreas de ensino, pesquisa e assistência, 
Braghetta et al. (2018) publicaram um artigo sobre esse programa, implantado em 2008 no Instituto de 
Psiquiatria do Hospital das Clínicas, pertencente à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 
(IPq-HC-FMUSP). Reconhecendo que crenças e valores espirituais são parte integrante da experiência 
dos pacientes, podendo, por isso, ser utilizados como recursos para lidar com problemas emocionais 
e com sofrimentos, o ProSER inclui, entre seus objetivos, conceder especial atenção às necessidades 
religiosas e espirituais.
Entre as atividades do ProSER, está incluído um curso teórico-prático, intitulado “Espiritualidade no 
cuidado em saúde: como conduzir uma avaliação religiosa e espiritual na prática clínica”, voltado para 
a capacitação de profissionais, e um programa de assistência cujo protocolo é adaptado a oito semanas 
de intervenção, com uma hora de prática semanal em grupo, incentivo de prática diária de pelo menos 
dez minutos e a manutenção de um diário de anotações.
Na pesquisa “Ensino de ‘saúde e espiritualidade’ na graduação em Medicina e outros cursos da 
área de saúde”, Damiano, Lucchetti e Lucchetti (2018) tiveram por objetivo desenhar o panorama do ensino 
de temas relacionados a saúde e espiritualidade na graduação em saúde no mundo, com particular 
enfoque na educação médica brasileira. Para atingir seu objetivo, os pesquisadores realizaram uma 
revisão narrativa da literatura especializada no Brasil e no mundo, em bases de dados como PubMed 
e SciELO, sem restrição de data e com limitação de artigos em português, espanhol e inglês. Foram 
usados os descritores (em português e inglês), com várias combinações: “espiritualidade”, “religião”, 
“religiosidade”, “educação médica”, “estudantes de medicina”, “estudantes de enfermagem”, “estudantes 
de fisioterapia”, “estudantes de psicologia”, “estudantes”, “educação” e “saúde”.
Foi possível identificar que o avanço da interface saúde-religiosidade-espiritualidade no campo 
de pesquisas se fez acompanhar de crescimento no ensino dessa temática em universidades brasileiras e 
internacionais, embora a maioria das escolas brasileiras ainda não possua uma inserção consistente da 
temática na grade curricular, e embora haja 45 ligas acadêmicas de saúde e espiritualidade espalhadas 
pelo Brasil.
Importante destacar que a literatura científica brasileira e mundial avança cada vez mais em direção 
a uma prática de saúde mais humanizada, que procura integrar as necessidades biológicas, psicológicas, 
sociais e espirituais dos pacientes. Há um movimento internacional de entidades no sentido de estimular 
a introdução dessa temática nos currículos das universidades.
128
Unidade III
8.5 Relação fisioterapeuta-cliente e relação corpo-mente: dois 
importantes binômios
Além de preocupadas com a relação fisioterapeuta-cliente, as pesquisadoras Canto e Simão (2009) 
decidiram investigar também alguns aspectos da integração corpo-mente por meio de um estudo 
de caso.
Estudos sobre a relação corpo-mente são realizados há muito tempo. Em muitas crenças religiosas 
e populares, o corpo é entendido como instrumento da alma. Descartes não falará nunca em alma. 
A ótica proposta por ele trata da relação corpo-mente como uma relação entre duas substâncias 
distintas e independentes, que interagem.
Esse modo de entender o binômio corpo-mente influenciou, e continua influenciando, o pensamento 
médico-científico ocidental, que fragmenta o ser humano em duas partes: uma parte fisiológica e a 
outra psicológica. Cada uma dessas partes demanda cuidados específicos, e por isso médicos e outros 
profissionais da saúde física ficam incumbidos de cuidar do corpo; e psicólogos ficam incumbidos de 
cuidar da alma.
Segundo observaram essas pesquisadoras, o atendimento fisioterapêutico, muitas vezes, faz parte 
de um atendimento multi ou interdisciplinar, e a preocupação do fisioterapeuta fica restrita à intenção de 
lidar com a específica queixa física trazida à sessão. As expectativas e emoções vividas pelo cliente 
que sofre algum tipo de limitação física, bem como as emoções mobilizadas pelo próprio tratamento, 
geralmente não são consideradas relevantes para o sucesso do tratamento.
Não podemos minimizar a importância do fato de que profissionais do cuidado estão continuamente 
expostos ao sofrimento de outras pessoas. A vivência cotidiana de estar próximo a pessoas em estado de 
sofrimento tende a (in)sensibilizar esses profissionais, que desenvolvem uma relativa indiferença à dor 
alheia e preferem desconhecer as circunstâncias existenciais do cliente para pouparem a si mesmos do 
confronto com os próprios sentimentos.
Além disso, é pressuposto por profissionais, clientes e seus familiares que, para haver objetividade 
por parte do profissional, é indispensável que ele isole as próprias emoções. Com base nessa crença 
compartilhada, a objetividade é incluída entre as qualidades de um bom fisioterapeuta. E é isso o 
que presenciamos frequentemente nos locais de atendimento clínico e psicológico: profissionais 
da saúde substituindo pessoas por casos clínicos e reduzindoa relação terapeuta-cliente a seus 
aspectos técnicos.
Isso é geral para todos os profissionais do cuidado em saúde. Ao particularizarmos a questão no 
âmbito da fisioterapia, vemos que também nesse âmbito são válidas as regras mencionadas.
A objetividade reforça a dicotomia corpo-mente e facilita a rotina profissional, ao evitar que o 
fisioterapeuta, em contato com diversos clientes, sempre desafiado pelo imprevisível, tenha que lidar 
com as próprias emoções e com as emoções dessas pessoas.
129
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Outro dado importante da pesquisa de Canto e Simão (2009) é o relativo à tensão produzida pelo 
fato de serem continuamente confrontados distintos valores e distintas concepções durante a interação 
fisioterapeuta-cliente.
Quanto aos valores e concepções relativos à relação corpo-mente, que também são colocados em 
confronto durante o atendimento, as pesquisadoras verificaram que esse confronto produz tensões no 
diálogo estabelecido entre fisioterapeuta e cliente. Expliquemos melhor: durante esse diálogo, pode 
ficar evidente que fisioterapeuta e cliente entendem de modo diferente a relação corpo-mente.
No caso de haver distintas perspectivas no modo de ambos perceberem a relação corpo-mente, o 
que pode ocorrer? Pode ocorrer que um bom diálogo favoreça a preservação de um bom relacionamento 
fisioterapeuta-cliente. Mas também pode ocorrer que seus modos de entender essa relação sejam 
conflitantes e, nesse caso, as consequências podem ser desfavoráveis tanto para o processo terapêutico 
quanto para aspectos gerais da vida cotidiana e profissional. Estamos afirmando que as consequências 
podem ser desfavoráveis. Não estamos afirmando que as consequências serão desfavoráveis. Na 
pesquisa aqui relatada, as autoras constataram que, em alguns momentos, a busca de solução para os 
conflitos acabou gerando perspectivas inesperadas.
Tratando aqui da relação fisioterapeuta-cliente, até agora privilegiamos o polo do fisioterapeuta 
nessa relação. Vamos nos voltar agora para o cliente, que chega trazendo sua doença e suas inquietações. 
Afinal, ele está sofrendo física e psicologicamente, ele está sendo obrigado a aceitar o papel de doente, 
ele está lidando com limitações e transtornos sociais e econômicos que vieram no “pacote” dessa doença. 
Para ele, a doença que ameaça sua integridade física e psicossocial exige que ele dirija seu olhar para 
uma relação que é psicossomática ou somatopsíquica. E é possível que ele nunca tenha sido chamado 
a fazer isso.
Enquanto o profissional da saúde está preocupado com o caso clínico, o cliente está preocupado 
com as transformações impostas pela doença à sua rotina de vida. Esse desencontro nos focos de 
preocupação pode promover desequilíbrio cognitivo e afetivo na interação de ambos.
As autoras continuam discorrendo sobre suas conclusões, salientando outros detalhes importantes 
dessa relação: durante o processo de atendimento fisioterapêutico, é preciso avançar com exercícios 
cada vez mais exigentes, e normalmente o cliente rejeita novos exercícios. Agarrado ao que já é capaz 
de realizar, se recusa a enfrentar novos desafios, receoso de fracassar. No entanto, ele sabe que deve 
avançar e isso o mobiliza a buscar recursos subjetivos para superar sua dificuldade.
Canto e Simão (2009) apontam para o ganho adicional obtido pelo cliente quando ele supera a 
ambiguidade entre avançar no tratamento ou permanecer empacado: essa superação contribui para 
o desenvolvimento do processo fisioterapêutico, proporcionando melhora física e, ao mesmo tempo, 
aumento de sua capacidade pessoal de solucionar conflitos.
Segundo essas autoras, a empatia é um fator fundamental: havendo empatia entre ambos, fisioterapeuta 
e cliente se tornam capazes de “ler” as intenções um do outro, capazes de discernir sentimentos, decodificar 
gestos e alcançar significados manifestos e latentes da comunicação estabelecida entre ambos.
130
Unidade III
Quando um fisioterapeuta entra em contato com sentimentos experimentados por seu cliente 
e, de outro lado, quando um cliente entra em contato com sentimentos experimentados por seu 
fisioterapeuta, ambos vivenciam o aumento de possibilidades pessoais. Cada um dos dois reconhece em 
si mesmo sentimentos experimentados pelo outro.
E é a isso que se dá o nome de empatia, que, etimologicamente, resulta da fusão de duas palavras 
gregas: in, “para dentro”, e pathos, “qualquer sentimento que uma pessoa experimente”. Ou seja, 
empatia é a capacidade de “trazer para dentro de si sentimentos experimentados por outra pessoa”. 
Lembrando que as palavras empatia e compaixão têm significados próximos: compassĭo, ōnis, palavra 
latina, significa “sofrimento comum”, “comunidade de sentimentos”. Com-paixão é “sentir com”. O ponto 
comum entre essas palavras – empatia, de origem grega, e compaixão, de origem latina – é que ambas 
se referem à capacidade humana de sintonizar profundamente com outra pessoa e experimentar em si 
mesmo sentimentos alheios.
Como a questão do corpo é especialmente importante em processos fisioterapêuticos, trataremos a 
seguir de procedimentos terapêuticos que incluem o contato corporal.
8.6 Abordagens corporais em psicoterapia e possíveis articulações com 
a fisioterapia
No contexto da psicologia, a noção de que ao tocarmos um corpo tocamos mais do que somente 
essa dimensão física do ser deu lugar a algumas propostas de intervenção psicoterapêutica, entre as 
quais particularizamos, nesse contexto, a análise bioenergética, criada em 1955 pelos estadunidenses 
Alexander Lowen e John Pierrakos. Esses autores e outros, entre os quais Keleman, tomando por base as 
teorias de Wilhelm Reich, desenvolveram propostas de intervenção psicoterapêutica.
Wilhelm Reich (1897-1957), psiquiatra e psicanalista, discípulo de Freud, dele se afastou para construir 
uma nova teoria. Considerando que as energias vitais são de natureza essencialmente sexual, postulou a 
existência de uma energia, por ele denominada orgone, cuja liberação considerava fundamental para 
a obtenção, preservação ou recuperação de equilíbrio mental.
Alexander Lowen (1910-2008), um de seus principais seguidores, desenvolveu a análise bioenergética, 
psicoterapia mente-corporal cuja prática consiste em intervir sobre o corpo da pessoa para (re)conectá-la 
com suas emoções. Também denominada bioenergética, psicoterapia bioenergética ou terapia 
bioenergética, essa modalidade de psicoterapia postula a necessidade de atuarmos simultaneamente 
nos níveis psíquico e somático.
Partindo do conteúdo verbal levado pelo cliente à sessão de psicoterapia, e entendendo que o 
movimento e os padrões de tensão corporal narram uma história, o psicoterapeuta realiza intervenções 
corporais e verbais para promover o reencontro do indivíduo com o próprio corpo e com a própria história.
Para conquistar integração pessoal e crescimento com prazer e satisfação, essa psicoterapia propõe 
a realização de uma viagem ao inconsciente, que, segundo entendem esses teóricos, acha-se ancorado 
no corpo.
131
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Em artigo publicado em 1994, Ricardo Amaral Rego discorre sobre a questão do corpo na psicoterapia, 
privilegiando aspectos práticos. Ele pergunta: como compreender e influenciar o impalpável a partir do 
palpável, o invisível a partir do visível? Ao tocar o palpável – o corpo –, como influenciar dimensões 
do ser responsáveis pela capacidade humana de ter consciência de si e do mundo, de sentir e pensar, de 
imaginar, planejar e criar? Como tocar essa dimensão que tem recebido diversas denominações – mente, 
espírito, psiquismo, alma?
Ao formular essas questões, Rego (1994) está situado nos domínios de um campo de trabalho muitas 
vezes chamado de psicoterapia de abordagem corporal, psicoterapia somática ou psicoterapia corporal. 
E, estando nesses domínios, à pergunta se é possível haver alguma abordagem em psicoterapia que 
possibilite trabalhar apenas sobre o mental, sem “abordar de algum modo o corpo”, Rego(1994) responde: 
não, de maneira alguma!
E, para a abordagem desse tema, lembra que a interação entre as pessoas não se restringe à 
linguagem verbal, por haver um contínuo intercâmbio de informações em nível não verbal – forma, 
gestos, expressões, ruídos, tom de voz, odores...
Nas psicoterapias de base reichiana, é imprescindível a chamada leitura corporal, utilizada há 
milênios na tentativa de decifrar pensamentos, sentimentos e intenções das pessoas. A leitura corporal 
inclui a biopsicotipologia ou fisiognomonia, leitura de estruturas corporais de longa duração, 
com características psíquicas estáveis, relativas ao caráter, à personalidade e ao temperamento, e a 
comunicação não verbal, leitura de expressões continuamente mutáveis – posturas, gestos, modo de 
ocupar o espaço e de definir a distância entre corpos.
Não podemos encerrar esta seção sem nos determos mais demoradamente em aspectos da 
psicossomática. Constatado o fato de as condições de saúde física poderem ser afetadas por sofrimentos 
psíquicos, a psicossomática, ramo da psicologia, estuda a dinâmica por meio da qual emoções humanas 
são convertidas em distúrbios orgânicos, configurados como sinais de alerta para a necessidade de 
cuidado psicológico e/ou psiquiátrico.
Segundo Lipowski (1988 apud COELHO; ÁVILA, 2007, p. 279), a somatização pode ser definida como 
“uma tendência que o indivíduo tem de vivenciar e comunicar suas angústias de forma somática, isto 
é, através de sintomas físicos que não têm uma evidência patológica”, esses sintomas geralmente 
levam os pacientes a procurarem ajuda médica. Já Ramos (1994 apud CASTRO; ANDRADE; MULLER, 
2006) alerta para o fato de o termo “psicossomática” resultar da junção de “psique” e “soma” (mente 
e corpo), indicando não haver separação entre o organismo biológico e o psiquismo – elementos 
inconscientes, emoções e funções cognitivas, sendo impossível dissociar essas duas instâncias do ser, 
dada a sua interdependência.
 
132
Unidade III
Figura 43 
O levantamento bibliográfico e as entrevistas realizadas por Assis et al. (2013) os conduziram à 
conclusão de que o termo “psicossomática” é empregado para designar a influência do psiquismo 
sobre o corpo, ou a ação de fatores psíquicos, como a tensão, as emoções e o estresse, no organismo, 
ocasionando sintomas físicos não detectáveis por exames clínicos.
Os sintomas psicossomáticos podem ser compreendidos como um recurso de comunicação utilizado 
pelo inconsciente para alertar à necessidade de cuidado psicológico: indicam ser preciso recorrer a 
cuidados médicos e psicológicos para atendimento holístico e integral. O diagnóstico médico de doenças 
psicossomáticas é realizado por exclusão de hipóteses: primeiramente são verificadas todas as possíveis 
causas orgânicas e, não sendo identificadas tais causas, se entende que algum sofrimento psíquico está 
sendo somatizado.
Os sintomas psicossomáticos geralmente ocorrem, ou se tornam mais intensos, quando a pessoa 
está sob situação estressante ou sob pressão. Situações traumáticas, sobrecarga profissional, situações 
de maus-tratos, de violência física e/ou sexual são algumas das condições que contribuem para a 
instalação de quadros de sofrimento psicossomático.
A depressão e os distúrbios de ansiedade também podem induzir a quadros de distúrbios 
psicossomáticos, merecendo nossa atenção. No plano psíquico, os sintomas podem incluir ansiedade, 
irritabilidade, impaciência e desinteresse; e no plano físico, falta de ar, aumento da pressão arterial, 
dores de cabeça, alterações da visão, dores musculares, irritações de pele, urticária, náuseas, dores no 
estômago, vômitos, constipação, diarreia, queda de cabelos e insônia, entre outros.
133
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
As doenças mais comumente associadas a processos psicossomáticos incluem alergias de pele, 
alergias respiratórias, gastrite, enxaqueca, impotência e esterilidade. Seu tratamento demanda 
medicação para suprimir sintomas físicos, e psicoterapia para suprimir causas da produção de sintomas.
Como os sintomas psicossomáticos cumprem a função de sinais de alerta para a necessidade de 
cuidado psicológico, eles não podem ser negligenciados. É preciso que essa mensagem do psiquismo 
seja ouvida e atendida, o que implica a necessidade de encaminhamento para cuidados imediatos para 
evitar o agravamento de sintomas e de doenças relacionadas.
 Saiba mais
Esse tema é de fundamental importância para todas as profissões da 
saúde. Sugerimos a você que expanda seus conhecimentos consultando 
fontes bibliográficas e virtuais, começando pelo artigo de Rego, aqui exposto:
REGO, R. A. Psicoterapia e corpo. I-Biopsicotipologias. Revista Reichiana, 
São Paulo, v. 3, p. 24-43, 1994.
Conforme mencionado, Reich e seguidores são os principais representantes dessa vertente da 
psicologia. Os neorreichianos Lowen e Keleman elaboraram propostas de biopsicotipologias (ou 
fisiognomonias), resumidas por Rego (1994).
A proposta de Lowen, de base psicanalítica, correlaciona três elementos:
• características físicas;
• características psíquicas;
• caráter.
Tomando por base a concepção de Reich, segundo a qual as vicissitudes e fixações ocorridas ao longo 
das fases de desenvolvimento da libido (oral, anal, fálica, genital) gerariam um tipo específico de caráter, 
Lowen afirma que, segundo a bioenergética, os diversos tipos de estrutura de caráter são classificados 
em cinco tipos básicos, cada qual com um padrão peculiar de defesas tanto em nível psicológico quanto 
muscular. Estabelece que os cinco tipos são: “esquizoide, oral, psicopático, masoquista e rígido” (LOWEN, 
1982, p. 131-132) e a cada tipo desses corresponde um biotipo específico.
Como vemos pelos designativos dos tipos, a teoria de Lowen tem por base a psicanálise e a 
psicopatologia e, segundo essa concepção, os seres humanos nascem mais ou menos indiferenciados 
quanto à sua anatomia e disposições psíquicas. Tanto sua estrutura física quanto a caracterológica são 
moldadas pelas experiências, conflitos e traumas ocorridos durante a infância.
134
Unidade III
O nova-iorquino Stanley Keleman (1931-2018) também está incluído entre os principais 
neorreichianos. Seu interesse pelo corpo, iniciado com o atletismo, foi intensificado por sua 
formação pelo Instituto Quiroprático de Nova York, onde se graduou em 1954. Keleman propõe uma 
biopsicotipologia distinta da proposta por Lowen: postula a existência nos animais superiores de um 
reflexo de susto que lhes serve de recurso para lidar com emergências. Descreve uma sequência de 
eventos por ele denominada continuum do estresse: do alerta à luta, depois a fuga, o encolher, o 
render-se e o colapso final. Esses eventos, normalmente temporários, podem constituir um padrão 
estrutural, caso ocorra imobilização em alguma fase do referido continuum.
A proposta de Keleman também correlaciona três elementos entre si:
• características físicas;
• características psíquicas;
• estrutura.
Keleman considera que há interação entre características constitucionais herdadas e condições ambientais.
As tipologias de Lowen e de Keleman apresentam similaridades, embora esses autores tenham 
utilizado distintos fundamentos teóricos.
Rego (1994) é de opinião de que ainda precisamos de pesquisa científica que possibilite conhecer 
de modo rigoroso a correlação entre características psíquicas, tônus muscular e estilos de respiração; 
questiona o porquê de os nomes utilizados nas tipologias neorreichianas terem quase todos uma 
conotação fortemente patológica e alerta para o risco do uso de tipologias biopsicológicas que tentam 
reduzir a complexidade humana a algumas poucas categorias: ao utilizarmos uma classificação 
biopsicotipológica, não podemos perder de vista que toda regra tem exceção e eis que a pessoa a quem 
estamos atendendo talvez seja uma exceção à regra.
 Observação
É recomendável a estudantes de Fisioterapia e a fisioterapeutas uma 
ampliação de conhecimentos sobre a terapia bioenergética (psicologiacorporal, análise bioenergética). Estamos convencidos de que os alunos de 
Fisioterapia apreciarão muito expandir conhecimentos sobre esse assunto. 
Além de vídeos veiculados na internet, outras informações podem ser 
encontradas em sites especializados.
135
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
 Saiba mais
Para conhecer melhor a prática dessa modalidade de terapia, sugerimos 
a você que visite o site do Centro Reichiano & Volpi:
CENTRO REICHIANO & VOLPI PSICOLOGIA CORPORAL. Psicologia corporal – 
análise bioenergética. [s.d.]. Disponível em: http://centroreichiano.com.br/
psicologia-corporal-analise-bioenergetica/. Acesso em: 28 dez. 2020.
Além disso, acesse, no YouTube, gravações de sessões de terapia e vídeos 
de entrevistas realizadas com Lowen.
Outras abordagens do corpo em psicoterapia foram propostas por outros autores, entre as 
quais mencionamos os métodos de relaxamento propostos por Johannes Heinrich Schultz e 
Pethö Sándor.
O treinamento autógeno, método de relaxamento desenvolvido na Alemanha por Johannes 
Heinrich Schultz entre 1908 e 1912, é um método de aprendizagem progressiva, que pode ser usado 
por indivíduos sem apoio de terapeutas. Esse método é utilizado para induzir autocontrole e estados 
subjetivos de tranquilidade. Favorece alívio do estresse, elaboração de incidentes afetivos inesperados, 
melhora no rendimento físico e no rendimento cognitivo, mais disposição e maior resistência a fadigas 
física e intelectual.
O treinamento autógeno demanda a prática diária de exercícios de concentração durante um 
período que varia de três a quatro meses. As pessoas realizam sua prática diária sem a presença de 
terapeutas e a aprendizagem do método é realizada durante um breve processo individualmente ou 
em pequenos grupos.
Criado originalmente para ser usado como método preventivo, foi incluído no conjunto de 
psicoterapias não verbais. Os psiquiatras de orientação pavloviana têm nesse método uma ferramenta 
terapêutica importante. O relaxamento global proporcionado por esse treinamento ilustra o que foi 
afirmado por teóricos que, apoiados nos trabalhos de Wallon, defendem a tese de que há uma relação 
muito estreita entre a vida tônica e a vida emocional.
Outro método de relaxamento corporal, denominado calatonia, bastante conhecido e utilizado, 
é o proposto pelo médico Pethö Sándor, nascido no sul da Hungria, região da atual Iugoslávia, em 
28 de abril de 1916. A calatonia é utilizada em processos de individuação, ou seja, em processos 
psicoterápicos de atualização de potencialidades inatas por meio do estabelecimento de equilíbrio 
entre consciente e inconsciente. A individuação, encontro com o Si-mesmo, se intensifica geralmente 
na segunda metade da vida e, embora esse processo seja natural, ou seja, possa ocorrer de modo 
instintivo, há métodos psicoterápicos que favorecem sua ocorrência por possibilitarem aos indivíduos 
a ampliação de conhecimentos sobre si por meio da tomada deliberada de consciência de dinamismos 
psíquicos próprios.
136
Unidade III
A calatonia, realizada por meio de toques suaves em pontos específicos do corpo do cliente, 
proporciona um relaxamento do tônus muscular, atuando em vários níveis da complexa estrutura 
psicofísica do indivíduo. Os toques trazem à tona lembranças de fatos vividos e de outras vivências, que 
são elaboradas posteriormente, durante a sessão de psicoterapia verbal. A calatonia é, pois, uma técnica 
de relaxamento que favorece o processo de individuação.
Esse recurso psicoterapêutico tem por base a convicção de que toques realizados em determinadas 
partes do corpo ativam memórias adormecidas, que, ao serem despertadas, se fazem acompanhar de 
emoções, por vezes muito intensas, que frequentemente conduzem a crises de choro. A terapia verbal 
que sucede à sessão de calatonia deverá garantir ao cliente os recursos necessários para a elaboração de 
sentimentos e emoções dinamizados pelo toque corporal.
Fica como alerta aos fisioterapeutas este fato: toques corporais despertam lembranças, imagens, 
sentimentos, emoções, que demandam acolhida, compreensão e aceitação. Não havendo preparo 
profissional para lidar com esses emergentes emocionais, o que se espera de fisioterapeutas e 
outros profissionais da saúde é o compromisso ético de trabalharem em parceria com profissionais 
da psicologia.
8.7 Importância do diálogo na interação fisioterapeuta-cliente
Indispensável dizer que a interação do fisioterapeuta com seu(s) cliente(s) não exige apenas 
conhecimentos teóricos e domínio de técnicas. Também exige condições pessoais para estabelecer 
vínculos e para dialogar. Fatores pessoais do fisioterapeuta favorecem, dificultam ou impossibilitam a 
formação de vínculos, e, havendo dificuldade ou impossibilidade de estabelecer vínculos, a ocorrência 
de diálogo fica dificultada ou impedida.
De modo geral, em todos os coletivos há indivíduos incapazes de dialogar, seja por algum tipo 
de impedimento físico ou psicológico, seja por impossibilidade de estabelecer relações dialéticas e 
dialógicas. Indivíduos incapazes de estabelecer vínculos, impedidos de estabelecer relações dialéticas 
ou dialógicas, tendem a estabelecer relações dilemáticas. Todos necessitamos escapar de angústias 
inerentes à solidão e, como diz Enrique Pichon-Rivière, alguns de nós buscam alívio para o temor da 
solidão estabelecendo relações dialógicas ou dialéticas: buscam “estar com” para não estar sós. Os incapazes 
disso estabelecem relações dilemáticas: buscam “estar contra” para não estar sós.
O que pretendemos dizer aqui, ao nos referirmos à formação de vínculos e ao estabelecimento de 
relações dialéticas, dialógicas e dilemáticas? Para não deixar dúvidas quanto ao significado que estamos 
atribuindo a essas palavras, vamos recorrer a conceitos elaborados por Enrique Pichon-Rivière, antes de 
prosseguirmos na abordagem do tema que dá título a esta seção.
Para realizarmos intervenções eficientes e eficazes, seja na área da educação, seja na área da saúde, é 
preciso antes de mais nada superarmos desconfortos íntimos, limitações e restrições. Não nos iludamos: 
há um imaginário coletivo, compartilhado por todos nós.
137
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Constante
Em uma parte
Do inconsciente
Ficava tudo
Acontecendo
Sempre.
	 	 €_FR!@s
Fonte: Frias, E. R. (2015).
No imenso reservatório de imagens compartilhadas, há inúmeras representações negativamente 
estereotipadas. Entre os estereótipos negativos que vivem nesse reservatório de imagens, estão 
incluídos os que dizem respeito à África, aos africanos e seus descendentes, aos LGBTI, aos miseráveis, 
aos marginais de nosso sistema social e a todo e qualquer segmento da população considerado 
minoritário. As mesmas inclinações ao preconceito e à discriminação presentes na subjetividade de 
muitos daqueles que buscam nossa ajuda profissional também marcam presença em nossa própria 
subjetividade. Por que não estariam? Por que seria diferente?
Representações negativamente estereotipadas são como ervas daninhas a serem removidas. 
E, como ervas daninhas, mesmo removidas, tornam teimosamente a brotar, exigindo de nós 
vigilância e trabalho contínuos para manter limpo nosso campo íntimo de plantio e colheita.
Diante dos desafios próprios das relações interpessoais, indivíduos preconceituosos tendem a ser 
“naturalmente” excluídos de equipes de trabalho e, caso isso não ocorra, sua permanência poderá 
vir a comprometer a coesão grupal, o que aumentará as chances de haver “trincas e rachaduras” 
em equipes de trabalho, estremecimento ou ruptura de vínculos, enfraquecimento de ânimos e, no 
limite, falência do grupo.
Ribeiro (2018b) considera que, dada a relevância do fator individual na composição dos 
coletivos, podemos concluir que o cultivo do diálogo nos grupos depende em boa parte da condição 
psicológica de seus componentes, o que inclui o reconhecimento das próprias fraquezas. Depende 
também da disposição de cada integrante para dialogar e para construir em bloco, solidariamente.Lembrando o provérbio africano – “são muitas as pessoas da pessoa” – ou o poema de Mário 
de Andrade (1955, p. 221) – “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, (...) mas um dia afinal 
eu toparei comigo...” –, e observando nossa própria subjetividade, constatamos que o diálogo e o 
cultivo de disposição para o diálogo interpessoal exigem disposição para outro tipo de diálogo, 
talvez mais exigente: aquele que deve ocorrer nesse âmbito íntimo.
Uma pessoa que tenha, por exemplo, dupla ou múltipla pertença religiosa, o que não é raro no 
Brasil, precisará que esses distintos corpos de crença que convivem em sua interioridade dialoguem 
satisfatoriamente entre si. Essa necessidade é óbvia. Ao considerarmos que os fatores da dinâmica 
psicológica intrassubjetiva interagem continuamente com fatores de ordem sociocultural, temos a 
dimensão do que sejam os desafios para o diálogo autêntico.
138
Unidade III
Embora a disposição para a acolhida, o dom e a dádiva sejam requisitos básicos para a realização 
de autênticos diálogos intrassubjetivo e interpessoal, é preciso considerar outros componentes 
que interferem nas relações em grupo: os de atribuição de sentido existencial e outros, de ordem 
psicossocial, econômica, política e religiosa.
A identidade é fortemente marcada pelas relações maioria/minoria e, no caso brasileiro, em 
que a identidade branco-cristã constitui modelo identificatório hegemônico e o segmento branco 
é apresentado como “maioria”, tal identidade tornou-se marco de referência para os demais 
segmentos, impropriamente considerados minoritários e “inferiores”.
Nas sociedades ocidentais, os homens são, sobretudo, autocentrados: agem de acordo com 
os próprios interesses, raramente movidos pela gratuidade, e sim pelo desejo de posse, domínio e 
prestígio. Nessas sociedades, o componente econômico favorece o desenvolvimento de atitudes 
egoístas, que, transbordando a esfera do econômico, impregnam as demais esferas. O sistema 
capitalista, que opera segundo a lógica do lucro, exige otimização de resultados, eficácia e 
produtividade, em conformidade com uma lógica que deixa pouca margem a valores como verdade, 
justiça, igualdade e solidariedade.
Na dinâmica de relações estabelecidas em espaços institucionais, interfere também o componente 
político: o poder simbólico, como todo poder, simultaneamente complacente e intransigente, 
inclusivo e excludente, gera uma dinâmica de exclusão-inclusão. Observando a rotina de atores 
sociais, sejam quais forem seus papéis, seja qual for a posição por eles ocupada no sistema hierárquico 
dos coletivos a que pertencem, certamente presenciaremos relacionamentos cuja ênfase recai ora 
na competição, ora na cooperação.
O fenômeno mencionado por Weber (apud PEREIRA, 2009) da transformação de cenários 
religiosos em “palcos de luta pacífica” é observável em outros cenários de convivência, devendo-se 
essa dinâmica de exclusão-inclusão, em parte, à dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de termos 
nas sociedades hierarquizadas espaços institucionais que não reproduzam tal modelo de relações.
Nesse complexo conjunto de componentes do diálogo, não pode ficar à margem o sentido 
existencial da adesão a coletivos. Por exemplo, no caso da adesão a coletivos religiosos, 
ocorre o seguinte: como a experiência religiosa é dotada de forte potencial de transformação 
individual, ela oferece recursos simbólicos para a ressignificação de cenários, seres e cenas da 
própria trajetória biográfica, e possibilita, com base nisso, mudanças de atitudes e de condutas. 
Rabelo et al. (2002 apud BIZERRIL; NEUBERN, 2012) se referem ao potencial de ressignificação e 
reorientação existencial das terapêuticas religiosas, atualizado por meio da reinterpretação dos 
próprios dramas existenciais à luz de cosmologias religiosas e sob o impacto de ritos.
Ao trazer para debate do graduando de Fisioterapia essas particularidades da dinâmica 
psicológica própria das situações de diálogo entre pessoas diferentes e ao utilizar exemplos relativos 
a crenças religiosas, temos a intenção de sensibilizar futuros fisioterapeutas para que atentem a 
essa temática. Sem a menor dúvida, durante sua prática profissional, muitas vezes serão chamados 
a cuidar de pessoas e de grupos em que haja pessoas com as quais não estabelecerão empatia, 
139
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
as quais talvez provoquem sensações e sentimentos negativos, o que comprometerá a eficácia de 
sua ação profissional.
 Observação
Estamos ingressando agora no universo de debates sobre o tema do 
diálogo, fundamental para todos nós que nos propusemos a cuidar de pessoas.
8.8 Acolhida e dádiva: condições indispensáveis para o diálogo
Buscando uma boa metáfora para a dinâmica interpessoal própria dos verdadeiros diálogos, Ribeiro 
(2018b) encontrou em Teixeira (2003) um versículo bíblico que poeticamente sintetiza as principais 
condições para o estabelecimento de um diálogo verdadeiro. Discorrendo sobre o diálogo no âmbito 
de reflexões sobre o diálogo inter-religioso, Teixeira (2003) recorre ao profeta Isaías (Is 54,2), que diz: 
“Alarga o espaço da tua tenda, estende as cortinas das tuas moradas (...), alonga as cordas, reforça 
as estacas”.
Essa metáfora reúne os requisitos indispensáveis para a realização de um diálogo autêntico: 
afirmação da própria identidade (“reforça as estacas”), abertura ao diferente (“estende as cortinas das 
tuas moradas” e “alonga as cordas”) e disposição para a acolhida (“alarga o espaço da tua tenda”). 
Todo diálogo exige compromisso com a própria convicção e exige, simultaneamente, disponibilidade 
para se deixar transformar, e essas atitudes são indispensáveis para o exercício da escuta acolhedora 
e da dádiva.
Recorrendo mais uma vez a Pichon-Rivière, podemos dizer que o diálogo exige conhecimento do 
próprio ECRO e disponibilidade para conhecer – sem juízo de valor – o ECRO de nosso interlocutor. 
Entendamos o que significa a expressão Esquema Conceitual, Referencial e Operativo (ECRO) de 
Pichon-Rivière (1977). Essa expressão designa um conjunto articulado de conhecimentos, ou seja, 
um sistema de ideias (esquema conceitual) que serve de referencial para que possamos operar 
adequadamente sobre determinada situação concreta que pretendamos pesquisar ou resolver. Significa, 
pois, um esquema de conceitos sobre si e sobre o entorno, que servem de referência para a adoção de 
posicionamentos e para as ações.
Assim descrita, a situação de diálogo parece fácil, mas sua realização nem sempre é fácil, podendo 
ser difícil, muito difícil, ou mesmo impossível. Não é à toa que, ao escrever seu artigo sobre a temática 
específica do diálogo inter-religioso, o já referido Teixeira (2003) o intitulou “Diálogo inter-religioso: o 
desafio da acolhida da diferença”. Sim. Dispor-se a dialogar é dispor-se a enfrentar desafios, dos quais os 
mais difíceis sejam talvez o de acolher o diferente e o de se deixar transformar.
Como cada interlocutor possui ECRO próprio, durante o confronto interpessoal é estabelecido 
um jogo entre ECROs distintos, ainda que não necessariamente contraditórios. Durante a relação de 
alteridade podem ocorrer mudanças nos ECROs dos envolvidos e também em suas identidades.
140
Unidade III
Para estabelecer um bom diálogo, é indispensável “pôr para conversar” os eus, as personagens 
que compõem o coletivo que nos constitui como indivíduos (aparentemente únicos) e, nesse coletivo 
intrapessoal, a convivência entre partes nem sempre é saudável. Dispor-se a dialogar não é simples, 
porque o pluralismo de ideias provoca dissonância cognitiva, desconforto psíquico e sentimento de 
insegurança. O pluralismo desestabiliza e ameaça romper o esquema cognitivo já instalado. Dispor-se ao 
diálogo implica conviver com o diverso. Teixeira (2003) oferece algumas pistas para a realização de um 
bom diálogo:
• humildade;
• abertura ao valor da alteridade;
• fidelidade à própria tradição;
• disposição para a busca compartilhada da verdade.
Interessante é o modocomo o escritor africano Mia Couto aborda essa questão: “A vida tem fome 
de fronteiras”, diz. Recorrendo a metáforas proporcionadas pela natureza, lembra que as membranas 
orgânicas, entidades vivas e permeáveis, delimitam e negociam, possibilitando trocas entre o de dentro 
e o de fora, e propõe que essa imagem inspire a criação de fronteiras permeáveis, que sejam varandas 
propiciadoras de vizinhanças. Outro aspecto assinalado por esse escritor é o da felicidade advinda da 
constatação de ser possível colocar em diálogo as múltiplas identidades que constituem nossa unidade 
identitária. Mia Couto propõe a construção de pontes em vez de fortalezas e de fronteiras permeáveis 
que, como varandas, convidem à vizinhança. Propõe que ultrapassemos fronteiras interiores: viajemos, 
nos percamos de nós mesmos para nos encontrarmos em outros.
Havendo forte interação entre os âmbitos intra e intersubjetivo, cada conquista em um desses 
âmbitos aumenta as chances de sucesso nos demais. O que significa isso? Significa que a possibilidade 
de estabelecermos relações dialógicas e dialéticas com pessoas que pensam de modo radicalmente 
diferente do nosso depende em grande parte da possibilidade pessoal de colocar em diálogo “as pessoas 
de nossa pessoa”. Consistência e congruência pessoais favorecem, e muito, o diálogo que se pretende 
estabelecer. Na contramão, boas experiências de diálogo favorecem diálogos intrassubjetivos.
Retornamos agora, finalmente, ao tema interação do fisioterapeuta com seu(s) cliente(s), 
interação que, conforme foi dito, exige mais do que apenas conhecimentos teóricos e domínio de 
técnicas: exige, também, condições pessoais para estabelecer vínculos e para dialogar. Como vimos 
em parágrafos anteriores, fatores pessoais do fisioterapeuta favorecem, dificultam ou até mesmo 
impossibilitam a formação de vínculos e, havendo dificuldade ou impossibilidade de estabelecer vínculos, 
o diálogo dificilmente ocorrerá.
8.9 Desafios da prática e preparo do fisioterapeuta
Durante sua prolongada permanência na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), 
Marília Ancona-Lopez orientou muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado que contribuem 
para dar consistência e legitimidade à adoção de práticas advindas de distintas racionalidades de 
141
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
prevenção e cura. A título de exemplo, fazemos referência a uma das dissertações de mestrado orientadas 
por ela: o trabalho de Rosmaninho (2010), intitulado Tornar-se terapeuta: a contribuição da prática 
da meditação na formação do psicólogo clínico de orientação fenomenológica. Embora esse trabalho 
tenha privilegiado o processo de tornar-se psicoterapeuta, sem dúvida suas conclusões transbordam o 
campo da psicologia para se estender a outros campos de cuidados da saúde.
Trabalhos como esse são úteis também a fisioterapeutas. Rosmaninho (2010) constatou que é 
indispensável a um terapeuta desenvolver sua capacidade de escuta e sua capacidade de estar 
inteiramente presente durante os atendimentos, uma vez que sua pessoa é o principal instrumento 
para a compreensão do cliente. A autora considera que o acolhimento a ser oferecido ao cliente depende 
fundamentalmente da capacidade do terapeuta de fazer-se inteiramente presente para bem escutar.
Mas como conseguir isso em meio a tantas demandas simultâneas do cotidiano? Como conseguir 
“isolar” todo tipo de preocupação? Como desenvolver a capacidade de colocar entre parênteses os 
próprios pensamentos, sentimentos, sofrimentos e inquietações e ficar inteiramente disponível para 
ouvir o outro e acolhê-lo em seus sentimentos, sofrimentos e inquietações? Como criar uma condição 
de silêncio interior, de quietude interior?
Rosmaninho (2010) assinala que a condição ideal de escuta do outro demanda mudanças de atitude 
para tornar possível o desenvolvimento da capacidade de estar presente.
Em processos psicoterapêuticos, o primeiro passo é reconhecer que o cliente é o único dotado de 
poder para tomar as rédeas da própria vida e conduzi-la do modo que lhe aprouver, pois ao psicoterapeuta 
compete apenas ouvi-lo e acolher suas escolhas. Nesses processos, frequentemente é preciso que o 
cliente seja orientado quanto a procedimentos e exercícios que deve realizar. Mas, sendo ele o único 
dotado de poder para conduzir sua vida do modo que lhe aprouver, a ação do fisioterapeuta fica restrita 
a lhe apresentar o modo como entende o que está sendo vivido por ele e lhe oferecer orientação.
Para realizar um bom atendimento, é preciso que o fisioterapeuta seja capaz de estar inteiramente 
presente, seja capaz de silenciar a si mesmo para ouvir seu cliente. Ou, pelo menos, que esteja preocupado 
em desenvolver essa condição pessoal. É preciso também que o fisioterapeuta tenha uma boa percepção 
de si mesmo e a capacidade de não confundir seus sentimentos com os sentimentos de seu cliente.
Rosmaninho (2010, p. 67) ilustra isso, citando Rubem Alves:
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite 
melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. 
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração, e 
precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que nos 
parece muito melhor.
E a autora conclui sugerindo a prática de meditação, por ela considerada um bom recurso de ação 
terapêutica, por favorecer o autoconhecimento e o desenvolvimento de uma escuta ativa e empática.
142
Unidade III
Figura 44 
Solicitado a nos oferecer uma descrição sucinta da meditação, Hernan Maximilian Rolim de Vilar, 
psicólogo clínico, mestre em Ciência da Religião e monge budista, em informação verbal fornecida em 
30 de maio de 2020, contribuiu com as informações apresentadas a seguir.
Segundo Goleman e Davidson (2017, p. 14), “meditação é uma palavra abrangente para uma 
miríade de variedades da prática contemplativa, assim como esporte se refere a uma ampla gama de 
atividades atléticas”. Cebolla, Campayo e Demarzo (2016, p. 19) correlacionam meditação com o termo 
inglês mindfulness, comumente traduzido por “atenção plena”, e apresentam a seguinte definição: 
“Mindfulness é o traço ou estado mental de estar intencionalmente atento à experiência presente”. Uma 
condição para sua prática é aceitar os acontecimentos sem julgamento de valor sobre o que ocorre.
Referindo-se à compreensão do psiquismo, Ricard e Singer (2018) contrapõem ao conhecimento 
gerado no ocidente pela psicologia, o conhecimento gerado no oriente pelo budismo. No ocidente, fatos 
marcantes foram a criação de um laboratório de estudos da consciência por Wiliam James em 1875, e 
a busca de compreensão do psiquismo e de fenômenos da consciência característica da terceira força 
da psicologia, inaugurada em 1962 por Abraham Maslow. Como vemos, o conhecimento teórico desse 
tema, construído pela psicologia no ocidente, data, quando muito, de menos de 200 anos, enquanto o 
conhecimento empírico construído pelo budismo no oriente data de 2.500 anos.
No budismo encontramos métodos práticos para “realizar uma transformação gradual das emoções, 
do temperamento e dos traços de personalidade”: a mente devidamente treinada é capaz de fazer 
emergir o que há de melhor no potencial humano – “capacidades humanas inatas permanecem em 
estado latente a menos que façamos alguma coisa para levá-las ao ponto de funcionamento ótimo” 
(RICARD; SINGER, 2018, p. 13-14).
Segundo Campayo e Demarzo (2015, p. 20), mindfulness é um exercício da atenção que pode ser 
aprendido e praticado por meio de técnicas que nos possibilitem:
• evitar a distração e a atenção multifocal;
• permanecer centrados no presente, deixando fora de foco eventos passados ou futuros;
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PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
• exercitar a intencionalidade, isto é, praticarmos nossa volição;
• assumir uma atitude ativa de curiosidade perante a experiência vivida no agora, em detrimento 
de uma atitude passiva ou resignada;
• manter essa qualidade de atenção por período

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