Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública Municipal Atores e agendas prioritárias de segurança e justiça Eduardo Pazinato da Cunha 1ª Edição Coordenação de Educação a Distância Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA Copyright © 2020 - FADISMA - Todos os direitos reservados Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 1 ENTENDA OS ÍCONES Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Biografia: é um breve resumo biográfico acerca do autor. Interatividade: remete o tema para outras fontes: livros, filmes, músicas, sites, programas de tv, etc. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Nota explicativa: tem por objetivo explicar algo que foi mencionado no texto. Pense nisso: instiga para refletir sobre o assunto. Saiba mais: informações que enriquecem o assunto, podem ser curiosidades ou notícias relacionadas ao tema. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 2 ATORES E AGENDAS PRIORITÁRIAS DE SEGURANÇA E JUSTIÇA Para início de estudo O presente conteúdo visa identificar o papel e as principais atribuições das instituições e dos profissionais que atuam no campo da Segurança Pública e da Justiça Criminal no Brasil contemporâneo, além de verificar as principais Agendas Prioritárias de Segurança e Justiça, a partir da socialização da Agenda Prioritária da Segurança Pública (2014); da Agenda Municipal de Segurança Cidadã (2016) e das Reformas Institucionais da Segurança Pública e da Justiça Criminal (no Brasil e no exterior), com destaque para a necessária reforma das polícias. Para tanto, a apostila divide-se em dois tópicos principais: 1. Agentes de Segurança Pública e da Justiça Criminal no Brasil contemporâneo; 2. Agendas Prioritárias de Segurança e Justiça. Vamos iniciar? 1. Agentes de Segurança Pública e da Justiça Criminal no Brasil contemporâneo O Sistema de Justiça Criminal abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis da federação, ou seja, em âmbito federal, estadual e municipal e, também Poder Legislativo, com a produção das normas penais pelo Congresso Nacional. De modo geral, é possível dividir a organização do sistema em três frentes principais, quais sejam: segurança pública, justiça criminal e execução penal (FERREIRA; FONTOURA, 2008, p. 15). Isto quer dizer que a atuação do poder público ocorre desde a prevenção de infrações penais até a aplicação e execução de penas e sanções nos sistemas carcerários, por exemplo. Para que GLOSSÁRIO Prioritária: que tem prioridade; que são mais importantes. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 3 você possa se familiarizar e conhecer o Sistema de Justiça Criminal como um todo, passaremos a análise geral de cada um dos subsistemas: segurança pública, justiça criminal e execução penal. 1.1 Segurança Pública O artigo 144 da Constituição Federal de 1988 estabelece que a segurança pública é dever do Estado, além de ser direito e responsabilidade de todos. Além disso, importa realizar a leitura do artigo 144 em conjunto com o artigo 6º, ambos da Constituição Federal, que apresenta a segurança como um direito social. Ou seja, a segurança é um direito garantidor de outros direitos. Não haverá direito à segurança sem a segurança dos direitos. De acordo com a CF, os órgãos que exercem a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio são: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, as Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital (esta última acrescida pela Emenda Constitucional nº 104 de 2019) e as Guardas Municipais (esta última como possibilidade aos municípios, no parágrafo 8º). Além destes, o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que regulamentou o parágrafo sétimo do artigo 144 da CF, incluiu como integrantes operacionais do Sistema de Segurança Pública, além das guardas municipais e dos já mencionados, os órgãos do sistema penitenciário, os institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), as secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), a Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad), os agentes de trânsito e a guarda portuária. Em âmbito nacional, a competência para os assuntos de Segurança Pública é do atual Ministério da Justiça e NOTA EXPLICATIVA De acordo com o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o “Sistema Único de Segurança Pública (Susp) foi instituído pela Lei 13.675, sancionada em 11 de junho de 2018. O Susp cria uma arquitetura uniforme para a segurança pública em âmbito nacional, a partir de ações de compartilhamento de dados, operações integradas e colaborações nas estruturas de segurança pública federal, estadual e municipal”. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm https://www.novo.justica.gov.br/ https://legado.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp https://legado.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp https://legado.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp Segurança Pública. Em linhas gerais, vinculados a este Ministério estão a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o Departamento da Polícia Federal e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal. À Polícia Federal compete: (i) investigar/apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme; (ii) prevenir e reprimir o tráfico ilícito de drogas; (iii) exercer funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; e (iv) exercer funções de polícia judiciária da União (artigo 144, §1º,da CF/88). Já a Polícia Rodoviária e Ferroviária Federal compete o patrulhamento ostensivo das rodovias e ferrovias, respectivamente (artigo 144, §§2º e 3º, da CF/88). Em âmbito estadual, os órgãos responsáveis pela Segurança Pública são as Polícias Civis, as Polícias Militares e Corpo de Bombeiros, as quais são subordinadas ao Poder Executivo estadual. A Polícia Militar é quem realiza o policiamento ostensivo com o objetivo de proteção à ordem pública, e a Polícia Civil, por sua vez, é a responsável pelas investigações de infrações penais, com exceção das militares. Aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil (artigo 144, §§ 4º e 5º, CF/88). Além disso, frisa-se que com a Emenda Constitucional nº 104 de 2019 foi acrescido aos órgãos de segurança pública tanto em âmbito federal, como estadual, às Polícias Penais, as quais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais. Já em âmbito municipal, o § 8º do artigo 144 da CF/88 estabelece que compete aos Municípios constituir Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações. Tratam-se de Guardas Civis, que, de acordo com o Estatuto Geral das Guardas Municipais, cumprem a função SAIBA MAIS Não é objetivo deste estudo especificar todas as competências de cada órgão da justiça criminal, mas sim apresentar um panorama geral da sua estrutura. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 5 https://www.novo.justica.gov.br/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13022.htm de proteção municipal preventiva. 1.2 Justiça Criminal Os órgãos de Justiça Criminal no Brasil organizam-se nos níveis federal e estadual. Em âmbito federal, temos os juízes federais, os Tribunais Regionais Federais, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União. Na esfera estadual, compõem o sistema de justiça criminal, os juízes estaduais, os Tribunais de Justiça, os Ministérios Públicos e as Defensorias Públicas Estaduais. Cada um destes órgãos possuem as suas competências expressas na Constituição Federal e nas suas legislações específicas. (FERREIRA; FONTOURA, 2008, p. 15) Os juízes, tanto em âmbito federal como estadual, constituem aquilo que chamamos de primeiro grau de jurisdição. Ou seja, fazem parte da da primeira instância da hierarquia judiciária. Os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais de Justiça representam, via de regra, o segundo grau de jurisdição federal e estaduais, respectivamente. Por exemplo: um juiz (primeiro grau) decidiu por condenar determinado acusado. O advogado do acusado recorrerá da decisão do juiz ao Tribunal competente (segundo grau). O Ministério Público, por sua vez, é instituição considerada essencial à justiça a qual incumbe “a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (artigo 127, CF/88). Na área criminal, cabe, principalmente, ao Ministério Público, tanto na esfera Estadual como na Federal - cada qual com suas competências específicas - promover a ação penal pública e exercer o controle externo da atividade policial. As Defensorias Públicas, assim como o Ministério Público, também são consideradas instituições essenciais à justiça pela Constituição Federal e atuam cada qual dentro de suas esferas de competências (estadual ou federal/União). De modo geral, cabe às Defensorias a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos SAIBA MAIS No caso do Poder Judiciário, as competências estão previstas entre os artigos 92 e 106 da Constituição Federal. Sobre o Ministério Público, as regras e competências estão dispostas entre os artigo 127 e 130-A da CF/88. No tocante às Defensorias Públicas, as regras e competências gerais estão estabelecidas entre os artigos 134 e 135 da CF/88. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 6 individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados (artigo 134, CF/88). Essa defesa é assegurada constitucionalmente em todos os graus, tanto judicial, como extrajudicialmente. 1.3 Execução penal A execução penal diz respeito a quem incumbe cuidar do direito de punir que o Estado detém. A execução penal "tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado", de acordo com o artigo 1º da Lei 7.210/84 - Lei que institui a Execução Penal no Brasil. A execução penal fica predominantemente a cargo dos estados, que organizam o sistema penitenciário de acordo com as leis nacionais e locais em vigor. No âmbito do governo federal, além dos órgãos do Poder Judiciário, existem os órgãos do Poder Executivo encarregados de definir a política penitenciária e fiscalizar sua aplicação nos estados. (FERREIRA; FONTOURA, 2008, p. 22). No Brasil, estamos longe de concretizar aquilo que dispõe a Lei de Execução Penal. Por exemplo, o artigo 10 da Lei dispõe que a assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa ao preso, ao internado e ao egresso é dever do Estado. A precarização dos espaços penitenciários e a superpopulação carcerária existente no Brasil são apenas dois exemplos de que há um grande descompasso entre o oferecimento de tratamento humanitário e o cumprimento de pena no país. 2. Agendas prioritárias de segurança e justiça As agendas prioritárias de segurança e justiça podem ser considerados instrumentos estratégicos no âmbito da segurança pública, as quais partem de estudos científicos e sugerem, diante do contexto de segurança pública, do sistema de justiça criminal e de acordo com a necessidade Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm de cada local, as prioridades em relação à segurança, visando a redução da violência e da criminalidade. 2.1 Agenda Prioritária da Segurança Pública (2014) Em 2014, o Instituto Sou da Paz, em parceria com organizações e especialistas da área de SegurançaPública, entre eles Instituto Igarapé, Bruno Paes Manso (NEV/SP), Claudio Beato (CRISP/MG), Eduardo Pazinato (Instituto Fidedigna/RS), Haydée Caruso (UNB/DF) e outros, elaboraram a Agenda Prioritária de Segurança Pública (2014). Neste documento, seis propostas principais foram aventadas, conforme síntese elaborada a partir do documento original e também de matéria publicada no Congresso em Foco (2014): 1. Construção de um novo pacto federativo para a segurança pública: apontou-se a necessidade de redefinição das responsabilidades dos entes federativos e da necessária qualificação de gestores públicos para colocar em prática as políticas públicas na área. 2. Aperfeiçoamento da capacidade de difusão e gestão das informações de segurança pública: a importante criação de um sistema padronizado e integrado de gestão de informações, que seja disponibilizado de forma transparente para a sociedade como um todo. 3. Redução de homicídios: a necessidade da criação de um Plano Nacional de Redução de Homicídios, com ênfase para as investigações policiais e fortalecimento do controle de armas e munições, com investigação, informação, dados. 4. Reforma do modelo policial: investimentos em polícias integradas de ciclo completo, que atue desde a prevenção até a investigação de forma integrada. 5. Modernização da política criminal e penitenciária: demonstração de que encarceramento em massa não é a solução; necessidade de se pensar medidas alternativas à prisão, ampliar acesso à justiça e o Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 8 https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2015/05/agenda_priorit_ria_2014.pdf controle do Estado sobre as prisões, com a integração dos sistemas de segurança pública e de justiça criminal. 6. Revisão de aspectos da política de drogas: necessidade de políticas alternativas ao encarceramento de pequenos traficantes e usuários e de ações que visem de fato combater a criminalidade em torno do tráfico de drogas. O objetivo da Agenda foi apresentar temas e propostas que poderiam servir para subsidiar os e as candidatos(as) ao Governo Federal e melhorar a qualidade do debate público nas eleições federais de 2014. Em casos concretos, a partir de análises das situações de cada município, esses seis macro temas destacados precisam ser aprofundados e pensados de acordo com a localidade e necessidade. 2.2 Agenda Municipal de Segurança Cidadã (2016) Em 2016, com vistas às eleições municipais da época, os Institutos Igarapé, Sou da Paz e Fidedigna, lançaram a Agenda Municipal de Segurança Cidadã. O documento propunha a estruturação da atuação municipal na prevenção da violência, considerada a principal competência do município na esfera da segurança pública. Tal estrutura foi pensada a partir de 4 eixos prioritários: ➔ Eixo 1 - Estabelecimento de estruturas de gestão, financiamento, monitoramento e avaliação da Agenda Municipal de Segurança Cidadã: chama-se atenção para a importância da gestão política do projeto (no caso, o prefeito), a importância da criação de uma estrutura de governança integrada ao gabinete do prefeito, a definição de metas e mecanismos de monitoramento e avaliação, a dotação orçamentária para implementação da Agenda, a promoção de parcerias estratégicas entre os governos (Federal, Estadual e Municipal), setor privado, sociedade civil e associações locais, a instituição de um Conselho Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 9 https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf Municipal de Segurança Cidadã e o desenvolvimento de um plano de comunicação. ➔ Eixo 2 - Produção e coleta de dados e informações para diagnóstico, monitoramento e avaliação: as ações de prevenção da violência precisam ser focalizadas, por isso é importante que haja a criação de uma plataforma para coleta sistemática de dados de diferentes secretarias do município e a capacitação de gestores para coleta e análise de dados e informações, por exemplo. ➔ Eixo 3 - Fortalecimento dos fatores de proteção e redução dos fatores de risco de grupos populacionais, áreas geográficas e comportamentos mais suscetíveis à violência: o município deve investir na elaboração e implementação de ações focalizadas, sobretudo voltadas aos grupos populacionais mais vulneráveis à violência, entre eles: crianças, jovens, mulheres, usuários de drogas, e outros, além de considerar diferentes dinâmicas a partir da perspectiva racial e de gênero. ➔ Eixo 4 - Orientação das ações da Guarda Municipal para a mediação de conflitos e resolução de problemas: é imprescindível, por exemplo, que haja a modernização das guardas, a orientação adequada para ações em áreas de maior incidência criminal e de grupos vulneráveis, a capacitação dos integrantes da Guarda Municipal para fortalecimento de sua função mediadora e a busca de cooperação e o intercâmbio de informações entre Guarda e Polícias. 2.3 Reformas Institucionais da Segurança Pública e da Justiça Criminal (no Brasil e no exterior), com destaque para a necessária reforma das polícias No Brasil e no exterior já há muito se discute reformas institucionais da Segurança Pública e da Justiça Criminal a partir de diversas frentes. Um dos debates sempre intensos e necessários é a reforma das polícias. Pesquisas têm Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 10 https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/11/datafolha-aponta-que-51percent-dos-brasileiros-tem-medo-da-policia-e-47percent-confiam-nos-policiais.ghtml demonstrado que a maior parte da população brasileira de um modo geral não confia nas polícias. É desde a redemocratização que uma reestruturação das polícias no Brasil se mostra necessária. Na Agenda Prioritária de Segurança Pública de 2014, acima referida, os especialistas no assunto apontam para o esgotamento do modelo constitucional das polícias e sugerem algumas alternativas, entre elas. (SOU DA PAZ et al, 2014, p. 8-9): ➔ Implementar polícias integradas de ciclo completo: os trabalhos das Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento ostensivo, e da Polícia Civil, responsável pela investigação das infrações, é dificultado pela falta de integração dos trabalhos de segurança. Ainda não se sabe qual caminho seria o mais adequado e estudos nessesentido precisam avançar, mas parece haver uma enorme necessidade de se pensar em polícias de ciclo completo, ou seja, que atuem desde a prevenção até a investigação. ➔ Fortalecer o controle externo da atividade policial: o fortalecimento aconteceria a partir da criação de Ouvidorias de Polícia autônomas e regulamentação do artigo 129 da Constituição Federal que prevê o Ministério Público como agente do controle externo da atividade policial. ➔ Alterar a natureza da atividade policial: sugerem, neste aspecto, a revisão de códigos disciplinares com a necessária adequação à CF de 1988, a extinção da justiça militar especializada para as polícias militares, a exclusão de subordinação das polícias militares ao Exército e regulamentação do direito à sindicalização e greve de Policiais Militares. ➔ Reformar as carreiras das diferentes polícias garantindo a entrada única e a possibilidade de progressão até o nível mais alto da hierarquia: sugere-se organizar a estrutura da complexa carreira policial, com o objetivo de fortalecer e motivar a Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 11 carreira. As mudanças e reformas são sempre lentas e graduais. Ainda, Beato e Ribeiro (2016, p. 190) lembram que "reformas do âmbito da justiça e das polícias são eventos raros" e que, geralmente, acontecem "no esteio de agudas crises institucionais". Exemplos disso são os casos de Colômbia e Peru. No caso colombiano, uma grave crise de corrupção sistêmica levou a reformas legislativas profundas na polícia, com a reestruturação da instituição para obter maior transparência e possibilidade de denúncias de desvios de polícias da corporação. No Peru houve a unificação das polícias por meio de leis e é considerado um caso de sucesso, pois conseguiu atingir com a reforma uma mudança efetiva na relação entre polícia e cidadãos, inclusive incorporando-os às questões ligadas à prevenção de crimes. Beato e Ribeiro (2016, p. 193) ainda chamam atenção para o fato de que todos os modelos de sucessos analisados por eles (que podem ser conferidos aqui) possuem um ponto em comum: mudanças nas práticas de ensino, tempo e formação dos policiais. A qualificação dos profissionais de segurança também pode ser um caminho para uma política de segurança mais efetiva. Conclusão Apresentou-se nesta parte do conteúdo programático o papel e as principais atribuições das instituições e dos profissionais que atuam no campo da Segurança Pública (de acordo com a Constituição Federal e o Sistema Único de Segurança Pública) e do Sistema de Justiça Criminal no Brasil Contemporâneo. Para fins didáticos e também para uma melhor compreensão do conteúdo, optou-se por verificar o sistema de justiça criminal a partir de três frentes principais: segurança pública, justiça criminal e execução penal. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 12 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-60892016000400009 Além disso, verificou-se a importância da criação e reflexão sobre agendas prioritárias de segurança e justiça, com foco nos exemplos da Agenda Prioritária da Segurança Pública (2014); da Agenda Municipal de Segurança Cidadã (2016) e das Reformas Institucionais da Segurança Pública e da Justiça Criminal (no Brasil e no exterior), com destaque para a necessária reforma das polícias. Para refletir Você considera ser necessário uma reforma estrutural nas polícias brasileiras? Revisão de conceitos ➔ O Sistema de Justiça Criminal abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis da federação, ou seja, em âmbito federal, estadual e municipal. ➔ O artigo 144 da Constituição Federal de 1988 estabelece que a segurança pública é dever do Estado, além de ser direito e responsabilidade de todos. ➔ Polícias Penais: instituídas a partir da Emenda Constitucional nº 104 de 2019, a quem cabe a segurança dos estabelecimento penais. ➔ As agendas prioritárias de segurança e justiça podem ser considerados instrumentos estratégicos no âmbito da Segurança Pública, as quais partem de estudos científicos e sugerem, diante do contexto de segurança pública e da justiça criminal e de acordo com a necessidade de cada local, as prioridades em relação à segurança, visando a redução da violência e da Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 13 criminalidade. Para complementar os estudos ➔ Agenda Prioritária de Segurança Pública (2014): https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2015/05/a genda_priorit_ria_2014.pdf ➔ Agenda Municipal de Segurança Cidadã (2016): https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/N T_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3% A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf Referências bibliográficas BEATO, Claudio Filho; RIBEIRO, Ludmila. Discutindo a reforma das polícias no Brasil. In: Civita - Dossiê: Segurança pública e reforma das polícias na América Latina, v. 16. n.4, out-dez, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151 9-60892016000400009. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituica o.htm. FERREIRA, Helder; FONTOURA, Natália de Oliveira. Sistema de Justiça Criminal no Brasil: Quadro institucional e um diagnóstico de sua atuação. In: IPEA, Texto para discussão. 1330, mar. 2008. Brasília, 2008. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_conte nt&view=article&id=4884. SOU DA PAZ et al. Agenda Prioritária de Segurança Pública. São Paulo: Instituto Sou da Paz: a paz na prática, 2014. SOU DA PAZ; FIDEDIGNA; IGARAPÉ. Agenda Municipal de Segurança Cidadã. Eleições Municipais 2016. Disponível em: https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Age Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 14 https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2015/05/agenda_priorit_ria_2014.pdf https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2015/05/agenda_priorit_ria_2014.pdf https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-60892016000400009 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-60892016000400009 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdfnda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes- Municipais-2016-16-08.pdf. Versão 1.0 - Atualizada em 14 de maio de 2020 15 https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2016/08/NT_Agenda-Municipal-de-Seguran%C3%A7a-Cidad%C3%A3-Eleicoes-Municipais-2016-16-08.pdf
Compartilhar