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SUMÁRIO Tópico 1 – Nutrição 1.1. Milho • Adubação nitrogenada de milho segunda safra • Adubação foliar para milho • Novidades no uso de Azospirillum em milho 1.2. Soja • Manejo do boro na cultura da soja • Interação Manganês e Glifosato na soja • FBN Fixação Biológica de Nitrogênio na Soja Tópico 2 – Manejo Integrado de Pragas – MIP • Manejo integrado de pragas: quanto evoluímos em 6 décadas? Tópico 3 – Pragas e doenças em Milho • Cigarrinha do milho: o vetor do enfezamentos e isca do milho • 4 manchas foliares no milho • 3 principais ferrugens do milho: Ferrugem polysora, ferrugem tropical e ferrugem comum do milho • Milho Ardido: 5 principais fungos, prejuízos e prevenção 2 SUMÁRIO Tópico 4 – Pragas e doenças em Soja • Ocorrência de ácaro branco na soja • Mancha alvo da soja (Corynespora cassiicola): potencial de perdas e manejo da doença • 4 Principais doenças do final do ciclo da soja • Ferrugem asiática da soja (Phakospsora pachyrhizi) • Vazio sanitário e calendário de semeadura: 2 medidas para o controle da ferrugem asiática da soja • Soja ardida, queimada, mofada, fermentada: entenda 10 avarias que afetam a qualidade dos grãos Tópico 5 – Nematoides • 4 principais gêneros de nematoides no sistema soja e milho • Controle biológico de nematoides no Brasil Tópico 6 – Plantas daninhas e uso de herbicidas • Controle de capim amargoso na soja: 2 momentos importantes para aplicação de herbicidas • Importância de se manejar adequadamente a dessecação das plantas de cobertura • Herbicidas para milho: produtos que podem ser utilizados nas 3 épocas possíveis de aplicação 3 MILHO Adubação nitrogenada de milho segunda safra O país das três safras O Brasil é privilegiado pelo clima tropical, que permite, a cada ano agrícola, o cultivo consolidado de duas safras de milho nas principais regiões produtoras. Nos últimos anos, também tem se observado o cultivo de uma terceira safra, que ocorre durante o período entre maio e junho na região da Sealba (Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia), Pernambuco e Roraima. Por muito tempo o cultivo de milho no Brasil foi liderado pelo milho primeira safra, no entanto, na última década este cenário se inverteu, sendo a maior área cultivada por milho de segunda safra, também conhecido como milho safrinha (Figura 1) (CONAB, 2021). O manejo nutricional do milho primeira safra é bastante consolidado, mas no que se refere ao milho safrinha, há ainda mais variáveis e desafios que devem ser levados em consideração para se determinar o correto manejo nutricional da lavoura, como a cultura anterior, o teor de matéria orgânica do solo e o regime hídrico durante a safra, por exemplo. De todos os nutrientes, o nitrogênio é aquele exigido em maior quantidade pela cultura do milho. Em média, são necessários por volta de 23 kg de N para a produção de 1 tonelada (Tabela 1), sendo que deste total, cerca de 60% é exportado com os grãos (Tabela 2), restando apenas 40% nos restos culturais que ficam nas lavouras. A adubação nitrogenada do milho segunda safra A adubação nitrogenada é desafiadora em todos os tipos de cultivo, isso porque geralmente este é o nutriente mais exigido pelas culturas, e também devido às perdas decorrentes da volatilização da amônia da ureia, que é a fonte de N mais utilizada no Brasil. No milho segunda safra, a adubação nitrogenada é ainda mais desafiadora, pois nesta modalidade, a resposta é muito dependente da cultura cultivada anteriormente, da época de plantio, do balanço hídrico e até do local de cultivo, o qual influencia na taxa de decomposição do material orgânico remanescente sobre o solo. A realidade brasileira aponta que a maior parte do milho safrinha é cultivado após a colheita da soja, geralmente entre os meses de janeiro e fevereiro. A soja é uma leguminosa, fixadora de N, que possui baixa relação C/N, ou seja, rapidamente ela é decomposta pelos microrganismos do solo, que liberam o nitrogênio que antes estava em sua biomassa para a utilização pelo milho subsequente. 5 Autoria: Bianca de Almeida Machado (Engenehira Agrônoma (ESALQ/USP) Estima-se disponibilização de 15 kg de N a cada tonelada de soja produzida, ou seja, em uma área onde a produção de soja foi de 3 t ha-1, considera-se disponibilização de 45 kg ha-1 de N, por exemplo. Além disso, também se considera a disponibilização do N proveniente da matéria orgânica (MO) do solo. De modo geral, cada ponto (%) de MO no solo disponibiliza 20 kg ha-1 de N para a cultura. Por exemplo, há a disponibilização de 60 kg ha-1 de N por meio da mineralização da matéria orgânica de um solo que possui 3% de MO. Estes fatores podem ser considerados para diminuir a dose de N a ser aplicada via adubação mineral. Apesar da redução na quantidade total de N a ser aplicada, recomenda-se que o seu fornecimento continue sendo feito de modo a disponibilizá-lo para a cultura logo no início do seu desenvolvimento. Neste sentido, o N deve ser aplicado o mais próximo da data de plantio possível (seja antes ou após a semeadura). Recomenda-se, portanto, que a primeira aplicação seja feita no sulco (fornecendo de 20 a 50 kg ha-1), em pré-plantio (desde que com intervalo máximo de 7 dias entre a aplicação e a semeadura), ou em cobertura (antecipando o máximo possível, entre V1- V2). Resultados com milho segunda safra mostram a importância da aplicação antecipada de N, sendo que o atraso da primeira aplicação para o estádio V5 pode reduzir drasticamente a produtividade da cultura (Figura 2). Para calcular a quantidade de N a ser aplicada no milho segunda safra, pode-se utilizar os boletins de recomendação para cada região do país, como exemplo temos na Tabela 2 as recomendações de N para milho segunda safra para o estado do Paraná, que é um estado com expressiva produção desta cultura e que teve seu boletim atualizado recentemente (no ano 2017). Além dos boletins de recomendação, pode- se utilizar o seguinte cálculo para determinar a quantidade de N a ser aplicada em cobertura (Stanford e Legg, 1984): Onde: Nf = quantidade de N requerida pela cultura (kg ha-1); Ny = quantidade de N que pode ser acumulada na matéria seca da parte aérea da planta (palhada + grãos), para uma determinada produção de grãos (valores variam de 1,0% de N na palhada a 1,4% de N nos grãos); Ns = nitrogênio suprido pelo solo (20 kg de N para cada 1% de matéria orgânica do solo); Ef = é o fator de eficiência ou aproveitamento do fertilizante pela planta (valores variam de 0,5 a 0,7). Figura 2. Resposta do milho segunda safra 2B587Hx à adubação nitrogenada de cobertura em área com e sem a aplicação de N no sulco. Fonte: Vitti e Mira, 2020. Este cálculo é bastante intuitivo e prático, pois pode ser aplicado para qualquer realidade, principalmente na falta de boletins regionais de recomendação. Basicamente, ele leva em consideração a produtividade esperada para determinar a quantidade de N necessária, com base na extração e exportação de N pela lavoura, subtraindo a necessidade da cultura pela quantidade de N que já é disponibilizada pelo sistema (MO e restos culturais). 6 https://agroadvance.com.br/a-importancia-da-materia-organica-para-a-fertilidade/ https://agroadvance.com.br/a-importancia-da-materia-organica-para-a-fertilidade/ Tabela 3. Exemplo da utilização da equação de Stanford e Legg (1984) para estimativa da adubação nitrogenada de cobertura no milho segunda safra, visando produtividade de 8 t ha-1. Parcelar ou não parcelar? O parcelamento (considerando uma aplicação no sulco, em pré-plantio ou em V1-V2 + pelo menos uma aplicação em cobertura), é essencial para obtenção de produtividades satisfatórias. Via de regra, é interessante parcelar a aplicação do N o máximo possível, pois esta prática aumenta a eficiência do uso do fertilizante, no entanto, nem todos os cenários são responsivos a esta prática e, também, nem sempre ela é economicamente viável. Para solosarenosos, recomenda-se que a aplicação em cobertura seja feita em dois momentos quando a dose de N necessária ultrapassa 80 kg ha-1: uma em V2-V4 e outra em V6-V7. Para solos argilosos, apenas uma aplicação em cobertura é suficiente, realizada entre V2 e V4. Figura 4. Resposta na produtividade de grãos (kg ha-1) à adubação nitrogenada (200 kg ha-1) dividida em uma (pré plantio – PP, V3 e V6), duas (V3 + V6) ou três (PP + V3 + V6) aplicações. Barras com letras diferentes se diferenciam estatisticamente entre si pelo teste LSD (p < 0,1). Fonte: Altarugio et al., 2019. Considerações finais A adubação do milho segunda safra foi bastante negligenciada quando esta modalidade de cultivo se iniciou no Brasil, por isso que no início a sua produtividade era muito baixa, e também por isso que esta safra era conhecida como “safrinha”. Mesmo com todas as adversidades climáticas que reduzem o seu potencial produtivo, como chuvas irregulares, menores temperaturas e baixa radiação solar, hoje é fato que o principal tipo de cultivo de milho no Brasil é decorrente do milho “safrinha”, tanto que esta expressão cedeu seu espaço para o “milho segunda safra”. Expomos aqui algumas recomendações para basear a adubação nitrogenada, mas como todos os campos da agricultura, a real recomendação para cada lavoura especificamente é esta: “depende”. Depende de muitos fatores, principalmente, da época de plantio, do regime de chuvas da região e da safra em questão, do híbrido a ser semeado, da cultura anterior e também se a lavoura será cultivada irrigada ou em sequeiro. Todos estes aspectos alteram a mineralização do N-orgânico do solo, o metabolismo da planta, a produtividade esperada e, consequentemente, a dose e o modo de aplicação de N na cultura. Como via de regra, observamos que a primeira adubação nitrogenada deve ser feita antecipadamente, o mais próximo da data de semeadura possível (em pré- plantio, no sulco ou até no máximo de V1-V2). Também vimos que o milho é uma cultura bastante responsiva ao N. Segundo o Professor Fred Below, da Universidade de Illinois (EUA), a adubação nitrogenada é responsável por 26% da produção do milho. Por isso, e muito mais, aprendemos que a aplicação de N não pode ser negligenciada e que a nutrição adequada do milho é um dos fatores que pode contribuir para que a produtividade brasileira seja mais competitiva, pois ainda há muito espaço para melhoras. 7 Adubação foliar para milho Adubação foliar no plantio de milho As raízes compõem um sistema especializado na absorção de água e nutrientes, por isso a correção e a adubação via solo são tão importantes para o desenvolvimento satisfatório das culturas. No entanto, são inúmeras as interações que podem ocorrer no solo e indisponibilizar os nutrientes para a absorção radicular. A adubação via folha existe como alternativa que contorna os problemas decorrentes de interações com o solo, além de permitir que o nutriente seja aplicado diretamente no local e momento em que mais é requerido. Neste texto, iremos abordar algumas práticas utilizadas na adubação foliar do milho, que pode ser feita para fornecer nutrientes de forma suplementar ou como forma de desencadear estímulos fisiológicos que podem potencializar a produção. Vias de penetração de nutrientes nas folhas Ao contrário das raízes, que fazem o transporte da seiva bruta pelo xilema, os nutrientes absorvidos via foliar são transportados por meio do floema. É importante conhecer os caminhos que os nutrientes devem percorrer até atingirem o floema, pois somente após atingirem este vaso eles serão transportados aos órgãos drenos e metabolizados. Os nutrientes podem penetrar nas folhas por meio da cutícula, rachaduras causadas por danos, tricomas, estômatos e poros (Figura 1), em seguida, devem atravessar células do parênquima e a bainha do feixe vascular para atingirem o floema. Conhecer as vias de penetração é importante para entender a diferença na eficácia dos fertilizantes disponíveis no mercado, uma vez que para atravessar a cutícula os nutrientes devem estar solúveis em água ou na forma de partículas menores que 5 nanômetros. Enquanto partículas maiores que 80 nanômetros não são absorvidas pelos estômatos. Adubação foliar para milho com micronutrientes A correção do solo é importante para ajustar o pH em valores que disponibilizem a maioria dos elementos requeridos pelas plantas, mas esta prática geralmente reduz a disponibilidade dos micronutrientes metálicos, ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn), na solução do solo (Figura 2). Figura 1. Anatomia de uma folha monocotiledônea e vias de penetração de nutrientes. Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2019) e https://img.brainkart.com/extra2/6VwdBmt.jpg. A adubação foliar com micronutrientes é uma alternativa interessante para contornar efeitos negativos do aumento do pH, pois entrega os nutrientes diretamente na planta, e evita reações indesejadas no solo. É válido lembrar que as folhas não são órgãos Figura 2. Disponibilidade de nutrientes na solução do solo em função do pH. Fonte: Adaptado de Malavolta (1979). 8 Autoria: Bianca de Almeida Machado (Engenehira Agrônoma (ESALQ/USP) https://img.brainkart.com/extra2/6VwdBmt.jpg especializados em absorção, por isso são menos eficientes que as raízes nesta função. Deste modo, pequenas quantidades de nutrientes devem ser fornecidas por aplicação, ainda mais porque concentrações elevadas também podem causar fitotoxidez. Considerando também que os micronutrientes não são remobilizados na cultura do milho, é importante que as aplicações coincidam com momentos estratégicos, de maior requerimento pela cultura. Na tabela 1, tem-se a recomendação de complementação foliar de micronutrientes no milho, considerando a aplicação prévia de B (0,15 a 0,30%), Cu (0,15 a 0,20%) e Zn (0,40 a 0,50%) junto ao fertilizante N-P-K, via solo, no sulco de semeadura (FANCELLI, 2020). Na Tabela 2, temos a recomendação de adubação com micronutrientes via foliar segundo Vitti e Mira (2020). Algumas recomendações adicionais quanto ao fornecimento de micronutrientes são: • Em áreas alagadas, onde o lençol freático é mais superficial e há excesso de água, o Cu2+ é reduzido a Cu+, que fica indisponível para absorção radicular. Neste caso, recomenda-se a aplicações do nutrientes via folar, de forma parcelada, de acordo com a tabela 2. • O Zn é um dos micronutrientes mais limitantes na produção de milho no Brasil. Teores baixos de Zn são encontrados principalmente em solos encharcados na região do Cerrado ou em solos formados sobre rochas sedimentares com baixos teores naturais de Zn. Apesar da necessidade de aplicação deste elemento, em se tratando de adubação foliar, não é recomendado o fornecimento de mais de 120 g ha-1 de Zn por aplicação, devido à possibilidade de ocorrência de fitotoxidez. Algumas estratégias com macronutrientes Macronutrientes não devem ser aplicados exclusivamente via adubação foliar, isso porque as folhas não conseguem absorver a quantidade total requerida, mas existem algumas ocasiões em que a aplicação foliar destes nutrientes pode auxiliar no metabolismo da planta. Por exemplo, a aplicação foliar de 1,5 kg ha- 1 de N + 150 g ha-1 de B em conjunto com fungicidas no estádio de pré-pendoamento, tem proporcionado ganhos no peso de grãos, resultando em aumentos de 160 a 310 kg ha-1 (FANCELLI, 2020). Considerando efeitos positivos do Mg na translocação de fotoassimilados e carboidratos nas plantas, a aplicação foliar deste elemento em estádios reprodutivos pode auxiliar no enchimento de grãos, resultando em maior produtividade. Segundo Altarugio et al. (2017), a aplicação foliar de 888 g ha-1 de Mg elevou os teores de Mg nas folhas e aumentou em aproximadamente 10% (737 kg ha-1) a produtividade do milho cultivado na região de Uberlândia-MG. Por isso, Vitti e Mira (2020) recomendam a aplicaçãode 450 g ha-1 de Mg no pré- pendoamento + 450 g ha-1 de Mg no pós- pendoamento (Tabela 3). A absorção de Mg também pode ser comprometida em solos com alta saturação de K (o que pode ocorrer devido à aplicação de vinhaça ou uso contínuo de fertilizantes formulados com concentrações elevadas de 9 K). Neste contexto, a adubação foliar de Mg também é altamente recomendada. Em condições de temperaturas altas, os efeitos do estresse térmico são amenizados quando as plantas apresentam concentrações adequadas de magnésio, o que corrobora a aplicação foliar deste elemento e, também, o correto fornecimento de Mg via solo, de modo a manter teores adequados nas plantas ao longo de todo o desenvolvimento. Temperaturas elevadas também podem diminuir a atividade da enzima nitrato redutase, que está diretamente ligada à assimilação de N absorvido via nitrato. Neste contexto a aplicação foliar de Mo em V4/V6 + N na forma amoniacal (por exemplo, sulfato de amônio) via solo em cobertura, pode amenizar os efeitos negativos do estresse térmico sobre a assimilação de N. Adicionalmente, o silício (Si, que é um elemento benéfico) pode amenizar efeitos negativos de altas temperaturas. Segundo Freitas et al. (2011), a aplicação de 217 g ha- 1 de Si resultou em maiores concentrações deste elemento nas folhas do milho. Fontes para aplicação foliar A aplicação foliar impede que haja reações de indisponibilização no solo, que podem atrapalhar a absorção de nutrientes pelas plantas. No entanto, do mesmo modo, reações indesejadas podem ocorrer no tanque de pulverização em função da mistura de produtos, diminuindo também a disponibilidade dos nutrientes, principalmente quando há a mistura de fertilizantes com defensivos agrícolas, como herbicidas, fungicidas e inseticidas. A vantagem é que, neste caso, a situação é mais fácil de controlar, pois basta fazer a escolha certa das fontes a serem aplicadas. De modo geral, fertilizantes na forma de sais são muito reativos e a sua mistura com defensivos pode ocasionar em precipitação, entupimento de bicos e perda de eficiência dos produtos envolvidos. Fosfitos são fontes que podem diminuir o pH da calda de pulverização e por causa disso, em algumas situações, podem diminuir a eficiência de fungicidas quando aplicados em conjunto. Fontes com baixa solubilidade, como óxidos e carbonatos, podem não reagir quimicamente com outros compostos da calda, mas são dificilmente absorvidas pelas plantas e podem decantar no fundo do tanque em alguns casos. As fontes mais recomendadas para misturas de tanque tem sido os quelatos, pelo fato de não reagirem com outros componentes em misturas de tanque, não alterarem drasticamente o pH da mistura e serem facilmente absorvidos pelas folhas. De qualquer forma, é válido ressaltar que estas recomendações são genéricas. Neste caso, cada tanque preparado é um universo particular que deve ser estudado de forma única. Todas as fontes podem ser utilizadas, desde que combinadas de maneira correta, respeitando toda a química envolvida na mistura. Considerações finais Cada vez mais a adubação foliar tem sido adotada pelos produtores, sendo prática essencial em áreas de alta performance. A adubação foliar na cana-de-açúcar, por exemplo, vem sendo cada vez mais adotadas nos canaviais. Devido à necessidade de entrar na área para pulverização de defensivos, a aplicação conjunta de fertilizantes diminui o custo da operação, desde que a mistura seja feita de forma adequada. A resposta à adubação foliar depende de muitos fatores. Quando feita para corrigir sintomas visuais de deficiência pode-se observar respostas positivas a olho nu, no entanto, muitas vezes os ganhos só são perceptíveis na hora da colheita. 10 https://agroadvance.com.br/blog-adubacao-foliar-na-cana-de-acucar/ Aliás, estudos mostram que quanto mais a planta está bem nutrida, mais facilmente ela absorve nutrientes via folha. Neste sentido, a adubação foliar deve ser adotada como prática para fornecer nutrientes de forma complementar a uma adubação que já foi bem-feita na base. O maior intuito desta prática deve ser fornecer o nutriente prontamente metabolizável no momento e local em que as plantas mais precisam, muitas vezes como um estímulo fisiológico para facilitar este árduo trabalho que é produção de alimentos em campo aberto. Novidades no uso de Azospirillum em milho Azospirillum é uma das bactérias promotoras do crescimento de plantas mais estudadas no mundo desde sua descoberta por Martinus Beijerinck na Holanda em 1925. Figura 1. Imagens de microscopia eletrônica de raízes de milho inoculadas (direita) e não inoculadas (esquerda) com Azospirillum brasilense. Fonte: SANTOS et al., 2014. Como resultado das pesquisas realizadas por Johanna Döbereiner no Brasil na década de 1970, duas principais características são usadas para definir as bactérias do gênero Azospirillum: • a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico (N2); • a capacidade de produzir vários fitohormônios que melhoram o desenvolvimento do sistema adicular das plantas Figura 2. Efeito positivo do Azospirillum nas raízes das plantas. IAA: ácido 3-indol-acético. ABA: ácido abscísico. Fonte: Traduzido de Rodrigues et al., 2015. Dentre os efeitos relatados como benefícios da utilização das estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense – as utilizadas em produtos comerciais no Brasil, temos: • Fixação biológica de Nitrogênio; • Promoção do crescimento das raízes (Figura 3); • Maior expansão foliar e biomassa de plantas; • Melhor condutância estomática, tolerância a seca e salinidade; • Aumento no teor de clorofila e taxa Fotossintética; • Aumento da absorção de macro e micronutrientes; • Aumento na resistência a patógenos • Maior rendimento e índice de colheita. Como o Azospirillum ajuda no crescimento das plantas? Fisiologicamente falando, enquanto a planta fornece nutrientes ao Azospirillum, as bactérias agem de duas formas principais: • Promovendo a síntese de fitohormônios - como auxinas, citocininas e giberelinas – que aumentam a proliferação do sistema radicular das plantas. • Promovendo alterações positivas em metabólitos secundários que ajudam a planta a tolerar estresses o hídrico e promove resistência ao ataque de patógenos. 11 Autoria: Beatriz Nastaro Boschiero Engenheira Agrônoma, pela UNESP Botucatu Não é novidade, portanto que existem benefícios na utilização desse bioproduto. Contudo somente agora, mais de 10 anos depois, é que foi possível compilar vários resultados de pesquisas realizada ao longo de todo esse tempo e compreender claramente quais os benefícios do uso desse inoculante Figura 3. Arquitetura radicular de plantas de milho com ou sem indução de nitrato e com ou sem inoculação com A. brasilense após 7 d de tratamento. Fonte: Pii et al., 2019. Evolução no uso de Azospirillum como inoculante no Brasil A utilização de Azospirillum em milho e trigo não é novidade e ocorre no Brasil desde 2009/2010, quando a Embrapa lançou comercialmente o primeiro inoculante para as culturas de milho e trigo. Ao longo dos anos a adoção da prática de inoculação em gramíneas vêm sendo cada vez mais implementadas pelos agricultores brasileiros, sendo que mais de 10 milhões de doses do inoculante contendo Azospirillum brasilense foram comercializadas no país em 2019 (Figura 4). Figura 4. Doses de inoculantes contendo cepas de Azospirillum brasilense Ab-V5 e Ab-V6 comercializadas no Brasil desde o lançamento do primeiro inoculante comercial. Fonte: Santos et al., 2021. Uso de Azospirillum em milho Uma meta-análise de 103 experimentos realizados em 54 locais de 10 estados brasileiros (Figura 5) mostrou que a inoculação de sementes de milho com Azospirillum promove: ↑ de 5,4% na produtividade de grãos, ↑ de 4,3% no teor de N na folha, ↑ de 3,6% no teor de N nos grãos, ↑ de 12,1% no crescimento das raízes das plantas. Mas em que condiçõesexiste resposta? Nas mais diversas! Figura 6 - Efeito da inoculação das cepas de Azospirillum brasilense Ab-V5 e Ab-V6 na produtividade de grãos de milho em função do clima, faixa de produtividade, textura do solo e teor de carbono orgânico do solo (COS). Os valores são médias ± intervalo de confiança. O efeito é significativo quando o IC não se sobreponha a zero. Os dados são de 30 experimentos. Fonte: Traduzido de Hungria et al., 2022. 12 Redução de 25% na dose de N em cobertura após inoculação com Azospirillum em milho As informações mais recentes publicadas pela Embrapa indicam para o produtor, que na prática, a inoculação de sementes de milho com a bactéria Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) permite a redução de 25% da adubação nitrogenada de cobertura - considerando a dose de 90 kg por hectare de N-fertilizante - sem perdas de produtividade (Figura 7). Figura 7. Rendimento de grãos de milho não inoculado e recebendo fertilizante 100% N (90 kg ha-1 de N) aplicado em cobertura aos 35 d após emergência, inoculadas com as cepas de Azospirillum brasilense Ab-V5 e Ab-V6 e recebendo adubação 75% N. Fonte: Traduzido de Hungria et al., 2022 Tal prática de manejo resulta em: • Ganho econômico gerado ao produtor devido a economia de fertilizantes nitrogenados; • Ganho ambiental com redução nas emissões dos gases do efeito estufa (redução nas emissões de CO2 equivalente), que contribuem para a sustentabilidade da agricultura brasileira. O produto comercial é vendido na forma turfosa ou na forma líquida. Como o Azospirillim é utilizado a campo? Embora para o milho o produto possa ser aplicado via foliar em estágios que vão do V2 ao V6, o mais comum e o que traz os melhores resultados é a aplicação via inoculação das sementes (Figura 10). Figura 8. Efeito da inoculação com Azospirillum brasilense na produtividade de grãos de milho segundo o método de inoculação e cepa de A. brasilense. Valores são meios ±95% do intervalo de confiança (IC). Número de comparações para cada milho atributo está entre parênteses. O efeito é significativo quando o IC não se sobrepõe o zero. Fonte: Traduzido de Barbosa et al., 2022 Cuidados para aquisição e uso de inoculantes contendo Azospirillum • É importante que o produto apresente o número de registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); • Atente-se ao prazo de validade do produto; • Conserve o inoculante em local protegido do sol e arejado até a utilização – as temperaturas NÃO devem ser superiores à 32ºC; • Durante a semeadura, se o depósito de sementes na máquina ficar 30 muito aquecido (temperatura > 35°C), deve-se interromper a atividade e resfriar a caixa, pois o calor pode matar as bactérias; 13 • No caso de uso de inoculante turfoso utilizar solução açucarada a 10% para permitir aderência do produto nas sementes; • Não inocular diretamente na caixa de semeadura; • A semeadura deve ser imediatamente ou no máximo 24 horas após a inoculação; • Lembrar que o inoculante contém bactérias vivas, sensíveis ao calor, deficiência hídrica (cuidado com solo seco) e agrotóxicos. Nessas condições, aumentar a dose do inoculante, permitindo maior número de células de Azospirillum por semente e semear o mais breve possível. • Não ultrapassar 1 dose na semente e 2 doses no sulco. Conclusão 14 SOJA Manejo do boro na cultura da soja Importância do boro (B) De acordo com Malavolta (2006) o boro (B) é o micronutriente cuja a deficiência é a mais comum em uma série de culturas no Brasil. Nas condições brasileiras, em que os solos são em sua maioria ácidos, o boro é absorvido pelas plantas principalmente na forma de ácido bórico B(OH)3, o qual é uma molécula não iônica (sem carga), muito móvel no solo e consequentemente altamente lixiviável. Nas plantas o boro tem várias funções, dentre as quais podem-se destacar a participação na síntese e estrutura da parede celular; transporte de açúcares; lignificação; respiração; metabolismo de fenóis e ácido indol acético (AIA); frutificação e crescimento de tubo polínico. Em termos de exigência, as dicotiledôneas, como soja, necessitam uma concentração de boro no tecido vegetal de 20-70 mg kg-1, ou seja, maior do que as monocotiledôneas, que exigem de 5 a 10 mg kg-1 . Na maioria das plantas o boro possui baixa mobilidade, sendo que os sintomas de deficiência deste nutriente manifestam-se principalmente em tecido jovens, devido às características do boro, entre os quais podemos destacar: • Redução do crescimento e deformações nas zonas de crescimento; • Diminuição da superfície foliar, com folhas pequenas, deformadas, espessas e quebradiças; • Crescimento reduzido das raízes (figura 1). A cultura da soja, para a produção de 1,0 tonelada de grãos, extraí aproximadamente 75 g de boro, dos quais 30% são exportados nos grãos. Como diagnosticar a necessidade de adubação de B na soja Análise de solo Para um adequado fornecimento de boro para a soja deve-se considerar o teor do nutriente no solo na camada de 0-20 cm, visando verificar a necessidade de aporte via fertilizante através da análise de solo. De acordo com vários trabalhos de pesquisa (Abreu et al., 2005; Vale, Araújo, Vitti, 2008) mais de 80% dos solos brasileiros possuem teores de boro abaixo do nível crítico, fazendo-se necessária a adubação do elemento via solo. Tabela 1. Interpretação dos teores de boro no solo de acordo com Boletim Cerrado de Correção e Adubação (Sousa e Lobato, 2002) e o Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996). O boro é o micronutriente cuja a aplicação via fertilizante tem mais respondido em produtividade na cultura da soja. Figura 1. Efeito do baixo e adequado suprimento de boro no sistema radicular de canola, soja e milho. Imagem: Dr. Ismail Cakmak (Sabanci University) 15 Autoria: Eduardo Zavaschi Engenheiro Agrônomo, Doutor em solos e nutrição de planta. https://agroadvance.com.br/manejo-do-solo-com-boro/ https://agroadvance.com.br/blog-analise-de-solo-o-que-e-tipos-e-como-fazer/ https://agroadvance.com.br/blog-interpretacao-analise-de-solo/ https://agroadvance.com.br/blog-insights-nutricao-de-plantas-cakmak/ Atualmente, visando a obtenção de altas produtividades de soja, muitos pesquisadores e consultores tem recomendado que o nível crítico de B no solo seja de 0,8 a 1,0 mg dm-3. Análise de tecido foliar Além do teor do elemento no solo é válido verificar a concentração dos nutrientes nos tecidos foliares para avaliar a capacidade de suprimento do solo. Para soja recomenda-se coletar o terceiro ou quarto trifólio completamente expandido, com pecíolo, quando a cultura estiver no estádio fenológico de R2. Segundo a EMBRAPA (2008), o teor foliar de boro adequado para a cultura da soja é de 20 a 55 mg dm-3. Como fazer a adubação de B na soja Via solo Por apresentar baixa mobilidade na planta e ter grande importância para o crescimento das raízes, o boro deve estar presente em quantidade satisfatória no perfil do solo e, portanto, ser aplicado preferencialmente via solo. Esta modalidade apresenta correção lenta, duradoura e preventiva e deve ser feita quando os teores do solo estiveram abaixo do nível adequado, de acordo com a Tabela 1. As doses de boro recomendadas para aplicações do boro na soja, objetivando rendimentos elevados estão apresentadas na tabela 2. Tabela 2. Recomendação de boro via solo para a cultura da soja Para aplicação de fertilizantes via solo, na forma sólida, recomenda-se preferencialmente o Tetraborato de Sódio Pentahidratado – Bórax Penta – (Na2B4O7.5H2O) e Ulexita (NaCaB5O2.8H2O). Ressalta-se que a melhor forma de aplicação destas fontes é agregada aos grânulos dos fertilizantes NPK, tecnologia que permite maior uniformidade de distribuição e solubilidade dos micronutrientes devido as propriedades do boro. Porém há produtores aplicando as fontes boratadas de maneira isolada com bons resultados.De acordo com a legislação as fontes do boro, para aplicação sólida via solo, devem ter no mínimo 60% do teor total de B solúvel em ácido cítrico para serem comercializadas. É importante que o agricultor faça análises periódicas dos fertilizantes para verificar estas exigências. Existe também a possibilidade da aplicação do boro via solo de forma fluida e em área total na dessecação, simultaneamente com o herbicida. A fonte tradicionalmente mais utilizada nessa modalidade é o ácido bórico (17% B), na dose de 2,0 a 4,0 kg ha-1, fornecendo em média de 0,34 a 0,68 kg ha-1 de B. Essa modalidade tem algumas restrições pelo fato do ácido bórico ser altamente lixiviável no solo e dos problemas operacionais relacionados com a dificuldade da dissolução do produto no tanque de pulverização. Via foliar O fornecimento de micronutrientes via foliar permite correção rápida, porém menos duradoura. As fontes mais indicadas para aplicação foliar devem ser solúveis em água e estão descritas na tabela 3. Tabela 3. Opções de fontes de boro para aplicação na operação de dessecação 16 https://agroadvance.com.br/blog-perfil-do-solo/ https://agroadvance.com.br/blog-entenda-a-adubacao-foliar/ https://agroadvance.com.br/blog-entenda-a-adubacao-foliar/ Devido a importância do boro na fertilização, manutenção e integridade dos órgãos reprodutivos e no transporte de açúcares sugere-se que pulverizações foliares do nutriente sejam realizadas principalmente no período reprodutivo da cultura. Além disso, em função ao boro ter mobilidade muito baixa na planta de soja, recomenda-se que a aplicação deste elemento via foliar seja parcelada ao longo do ciclo da cultura, visando atingir a maior quantidade possível de tecidos da parte área. A eficiência deste manejo foi comprovada em trabalho recente da Fundação MS (Tabela 4), que mostrou que o parcelamento do fornecimento de boro proporcionou as maiores respostas em produtividade de soja. Tabela 4. Efeito do parcelamento da aplicação de boro via foliar Desta forma, visando o fornecimento de boro via foliar, recomenda-se a aplicação de 100 a 200 g ha-1 de B, parcelada nos estádios fenológicos de V4/V5; R1/ R2 e R3/R4. Considerações finais Para se obter o adequado fornecimento de boro à cultura da soja é fundamental a determinação de boro no solo, na camada de 0-20 cm, verificação periódica dos teores foliares e aplicação do nutriente via solo, preferencialmente agregado ao fertilizante NPK, com complementação via foliar, de forma parcelada. Interação Manganês e Glifosato na soja Uma história de fortes interações, mas nem tanto assim. Fertilizantes Foliares e Herbicidas A aplicação de fertilizantes foliares em conjunto herbicida sobre uma cultura agrícola é uma prática bastante comum em lavouras de soja resistentes ao glifosato. Conhecidas também como “RR” (Roundup Ready), as cultivares resistentes ao glifosato são comercializadas no Brasil desde 2003, e representam hoje mais de 95% de toda a área de soja plantada no país. O sucesso desta tecnologia está no controle facilitado de plantas daninhas, pois ela possibilitou que o glifosato, que é um herbicida pós emergente de amplo espectro, fosse aplicado em área total e pós emergências, sem comprometer o desenvolvimento da cultura. A possibilidade de aplicar o glifosato sobre a soja permitiu o aproveitamento desta operação para fornecer em conjunto micronutrientes via foliar para a cultura, o que é uma prática interessante para reduzir custos operacionais. No entanto, para atingir este objetivo é preciso conhecer algumas peculiaridades sobre este assunto. Dentre os micronutrientes, o manganês (Mn) é o mais comum em misturas com glifosato, e talvez o mais polêmico. A aplicação de Mn é pratica comum nos campos de soja RR, isso porque há algumas hipóteses bastante difundidas que sustentam interações indesejadas com o glifosato, desde a mistura no tanque de pulverização, passando pelo meio intracelular, e chegando até à rizosfera das plantas que recebem a aplicação. A seguir, iremos discutir melhor sobre estas hipóteses e desmistificá-las com base em novos resultados de pesquisa sobre o assunto. 17 Autoria: Bianca de Almeida Machado (Engenehira Agrônoma (ESALQ/USP) https://agroadvance.com.br/herbicidas-4-criterios-para-classificacao/ O que há entre o Mn e o glifosato? Tudo começou com a observação de um amarelecimento temporário em folhas de soja RR emergidas logo após a aplicação do glifosato. Este sintoma se mostrou temporário por se reverter entre 14 a 21 dias após o aparecimento, e ficou popularmente conhecido como yellow flashing, sendo observado em lavouras nos Estados Unidos e no Brasil. Por ser semelhante aos sintomas de deficiência de Mn, levantou-se a hipótese de que a aplicação de glifosato estivesse indisponibilizando e/ou interferindo no metabolismo do Mn pela planta. Esta hipótese foi considerada porque o glifosato, antes de se tornar o principal herbicida da história, foi desenvolvido e patenteado, em 1964, como um agente quelante, devido à sua capacidade de complexar cátions di e trivalentes. Sendo o Mn absorvido pelas plantas na forma divalente (Mn2+), considerou-se a possibilidade de o glifosato estar complexando-o no interior das células, indisponibilizando-o para cumprir suas funções no metabolismo da planta. Desmistificando a hipótese da complexação intracelular De fato, o glifosato é capaz de complexar átomos de Mn2+ em soluções aquosas, como veremos com mais detalhes nos próximos tópicos, no entanto, a complexação do Mn intracelular nunca foi comprovada, pelo contrário, trabalhos de pesquisa mostram evidências que refutam esta hipótese (BOTT et al., 2008; MACHADO et al., 2019). O Laboratório de Instrumentação Nuclear, coordenado pelo Prof. Hudson de Carvalho no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), publicou resultados de um experimento analisado no Laboratório Nacional de Luz Sincrotron que, utilizando raios-x, mostrou que o Mn aplicado via foliar, em conjunto com o glifosato, não é transportado de forma complexada, como vimos na Figura 1 (MACHADO et al., 2019). Figura 1. Análises feitas no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron. (A) Plantas de soja foram tratadas via foliar com MnSO4, Mn-EDTA e Mn-fosfito, misturados ou não com glifosato. (B) 2 horas após a aplicação, os pecíolos das folhas tratadas foram analisados, com as plantas ainda vivas. (C) Os resultados mostram que, independente da fonte e da mistura com o glifosato, os espectros medidos nos pecíolos coincidem com os espectros usados como padrão para cada fonte, que são soluções destes fertilizantes. Como resultado, observamos que o Mn-EDTA é absorvido via foliar e transportado até o pecíolo na sua forma quelatizada. Para mais detalhes, veja o artigo de Machado et al. (2019). Não há evidências que comprovem a complexação intracelular do Mn pelo glifosato, mas, embora não seja uma regra, o yellow flashing é um problema visto no campo em algumas situações, como no caso de aplicações de altas doses de glifosato, realizadas sob condições (calor e umidade) que promovam o rápido desenvolvimento da soja. O que causa o yellow flashing? A maior parte do glifosato absorvido é transportado para tecidos meristemáticos. Algumas frações também podem ser exsudadas pelas raízes ou metabolizadas pela planta, sendo o AMPA (ácido aminometilfosfônico) o primeiro e principal metabólito formado a partir da sua degradação, conforme esquematizado na figura 2. Estudos mostraram que o aparecimento do yellow flashing é na verdade uma 18 resposta das cultivares RR à toxicidade ao AMPA, que é uma substância que se mostrou capaz de reduzir o conteúdo de clorofila nas folhas (DING et al., 2011; REDDY; RIMANDO; DUKE, 2004), razão pela qual se dá o amarelecimento. O AMPA é posteriormente metabolizado pela planta e sua concentração nas folhas é significativamente reduzida,em média, 22 dias após a aplicação, o que coincide com o momento em que os sintomas do yellow flashing são atenuados. Por que aplicamos o Mn junto com o glifosato? Como vimos, a complexação do Mn intracelular pelo glifosato não é a causa do yellow flashing, por isso, se a sua aplicação é feita apenas com o objetivo de compensar possíveis efeitos negativos do glifosato sobre o seu aproveitamento pela soja, então ela é feita pelo motivo errado. No entanto, embora o glifosato não interfira no metabolismo do Mn, este elemento é essencial para o desenvolvimento da cultura, sendo importante na mitigação de estresses oxidativos e indispensável para atingir altas produtividades, sendo o fornecimento do nutriente via foliar uma boa opção. Neste sentido, a aplicação do Mn junto com o glifosato é uma alternativa interessante, não como tentativa de compensar o mito da complexação, mas sim para aproveitar operações mecanizadas que já devem ser feitas, buscando reduzir custos. Misturas de tanque: reduzir custos, mantendo a eficiência de aplicação Figura 2. Destinos do glifosato após absorção pela soja. Embora não haja interações no meio intracelular, o glifosato continua sendo capaz de complexar o Mn2+ em soluções aquosas, sendo estas espécies altamente reativas em misturas de tanque. Neste contexto, algumas estratégias devem ser tomadas para driblar esta situação e evitar perdas. As fontes importam Um estudo conduzido pelo Laboratório de Instrumentação Nuclear (CENA/USP) testou 4 fontes de Mn em misturas de tanque com glifosato, bem como a eficiência destas misturas no fornecimento de Mn para a soja RR. As fontes utilizadas foram sulfato de Mn (MnSO4), carbonato de Mn (MnCO3), fosfito de Mn (MnHPO3) e Mn quelatizado com ácido etilenodiaminotetracético (Mn-EDTA). Os resultados mostraram que misturas de MnSO4 + glifosato podem causar perdas de até 30% do Mn e do glifosato no tanque de pulverização, devido à formação de complexos pouco solúveis que precipitam com uma razão molar Mn:Glifosato de 2:1. Essas perdas refletem em diminuição na eficiência do fornecimento do Mn para a soja (Figura 3) e no controle de plantas daninhas pelo glifosato, como constatado por Bernards et al. (2005). Figura 3. Efeitos da mistura do glifosato com solução de MnSO4, causando precipitação do Mn e diminuindo a eficiência do MnSO4 no fornecimento deste micronutriente para a soja. 19 Figura 4. O MnCO3 não se mostrou eficiente no fornecimento de Mn via foliar para a soja durante o período avaliado (72 horas) independente da mistura do glifosato.O MnCO3 utilizado neste trabalho consistia em um pó com partículas nanométricas (80 – 100 nm), suspenso em água, sem estabilizantes. Neste caso, o MnCO3 não reagiu quimicamente com o glifosato, mas precipitou em sua totalidade por ser pouco solúvel, mostrando-se como uma fonte pouco eficiente para o fornecimento de Mn via foliar (Figura 4). Provavelmente devido ao seu pH ácido (em torno de 1,7), a solução de fosfito de Mn não reagiu com o glifosato na mistura de tanque, porém esta combinação reduziu a eficiência no fornecimento de Mn para a soja. Das fontes de manganês avaliadas, a única que não reagiu e não teve sua eficiência afetada pela mistura com o glifosato foi o Mn-EDTA (Figura 5). Figura 5. A mistura do glifosato reduziu a eficiência do fosfito de Mn no fornecimento de Mn via foliar para a soja, enquanto a eficiência do Mn-EDTA não foi afetada. Influência do pH da mistura O controle do pH das misturas no tanque de pulverização é importante para garantir a ação adequada do glifosato, e pode evitar reações indesejadas de complexação do Mn. Na imagem a seguir observa-se a condutividade elétrica e do pH das fontes de Mn, antes e após a mistura do glifosato. Observa-se algumas características destas fontes, como a alta acidez do fosfito de Mn (com pH abaixo de 2) e a grande influência que a mistura do glifosato causa sobre a solução de MnSO4. Fontes como o Mn-EDTA, Mn-fosfito e o MnCO3 não sofrem grandes influências devido à mistura, pois não reagem quimicamente com o glifosato. O Mn quelatizado não reage pois o EDTA tem força de ligação maior que a molécula de glifosato. No caso do MnCO3 não há interação pois esta é uma fonte pouco solúvel, que não disponibiliza íons Mn2+ livres para reagirem com o glifosato em solução. O caso do Mn-fosfito é interessante, pois é uma fonte solúvel de Mn2+, mas seu pH ácido não proporciona um meio favorável à complexação do Mn com o glifosato. Em pH ácido, a molécula desse herbicida está protonada, ou seja, os sítios de adsorção estão preenchidos com íons H+, não restando locais para a adsorção do Mn2+. Neste sentido, diminuir o pH da mistura é uma alternativa para evitar complexação até mesmo quando se usa uma fonte como o MnSO4, mas também veremos que esta pode não ser a melhor opção. Na imagem a seguir, observa-se as espécies de glifosato em função do pH (A), bem como a influência deste parâmetro na formação de precipitados em misturas de MnSO4 + glifosato (B). Observa-se que em pH 1 não há a formação de precipitados, ao contrário do que se observa em condições de pH entre 3 e 5. No caso de se elevar o pH para 7, a forma química do Mn é alterada. Figura 6. Condutividade elétrica (A) e pH (B) de fontes de Mn em função da mistura do glifosato ao longo do tempo. 20 Figura 7. Espécies de glifosato (A) e soluções de MnSO4 + Glifosato em função do pH do meio (B). No entanto, embora a redução do pH evite reações de complexação no tanque, a aplicação de soluções ácidas sobre a folha da soja pode ser danosa para a cultura. Na Figura 8, vemos alguns exemplos do efeito da aplicação de soluções ácidas sobre a epiderme da folha. A olho nu, é possível observar sintomas de fitotoxidez e, analisando os danos em microscópio eletrônico de varredura, vemos que as células são severamente danificadas, tendo suas paredes e membranas colapsadas. Este efeito, ao mesmo tempo que pode promover a absorção rápida da solução aplicada, devido aos ferimentos causados, pode também causar estresses oxidativos e servir como porta de entrada para patógenos. Figura 8. Efeitos da aplicação de soluções ácidas sobre a epiderme foliar. de novela, com mentiras, verdades, polêmicas e reviravoltas. O maior desafio é desconstruir mitos, que podem ser usados erroneamente como justificativas para explicar fenômenos como o yellow flashing. Diante dos fatos, vemos que não é necessário aumentar doses de Mn para compensar efeitos do glifosato, portanto, produtor e produtora, fiquem atentos quando receber alguma recomendação deste tipo. A aplicação do Mn ainda é importante para se atingir altos rendimentos, e é interessante ser feita em conjunto com o glifosato, pensando na redução de operações mecanizadas. A Embrapa recomenda a aplicação de 350 g ha-1 de Mn ao longo do desenvolvimento da cultura, e é interessante parcelar esta aplicação em 3 vezes (em torno dos estádios V3, V7 e R1). No campo, observamos a utilização de doses menores, dependendo da fonte, sem prejuízos de produtividade. Dentre as fontes, a mais eficiente para misturas é o Mn-EDTA, pois não reage no tanque de pulverização, não tem sua eficiência diminuída e mantém o pH da solução em um nível aceitável (em torno de 5), sem causar maiores danos às células da epiderme foliar. Adquirir produtos de procedência e qualidade também é imprescindível, pois é importante que o Mn esteja completamente quelatizado. Geralmente uma boa fonte de Mn-EDTA possui em torno de 13% de Mn. De qualquer forma, recomenda-se que seja feito teste de qualidade/compatibilidade antes de realizar as misturas de tanque, analisando cada lote de fertilizante adquirido. Considerações finais e recomendações As histórias que cercam as interações entre o Mn e o glifosato compõem um bom roteiro 21 FBN Fixação Biológica de Nitrogênio na Soja O Brasil se destaca hojecomo maior produtor mundial de soja devido a adoção de tecnologias que são ambientalmente favoráveis, como a fixação biológica de nitrogênio, onde a inoculação das sementes com bactérias do gênero Bradyrhizobium dispensa totalmente a utilização de fertilizantes nitrogenados e por isso diminui as emissões de gases de efeito estufa e a contaminação de lençóis freáticos com nitrato. Depois da fotossíntese – processo realizado pelas plantas para a produção de energia, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um dos processos mais importantes para a sobrevivência das espécies. As estimativas são de que a FBN contribui com cerca de 65% de todo o N reativo introduzido no ciclo do N no planeta, ou 96% da fixação por processos naturais. Bactérias diazotróficas transformam o N2, gás que constitui 78% da atmosfera terrestre em N assimilável pelas plantas. Esse mesmo N irá depois ser utilizado para produção de aminoácidos, proteínas e todos os demais compostos orgânicos essenciais à manutenção da vida. Assim, pode-se afirmar que a FBN é uma verdadeira “fábrica biológica”, capaz de suprir as necessidades de várias leguminosas como a soja. O que é a fixação biológica do nitrogênio? A fixação biológica de nitrogênio é um processo de simbiose mutualística entre uma planta e bactérias diazotróficas. As bactérias se fixam nas raízes do hospedeiro em troca de abrigo, nutrientes e compostos fotoassimilados, formando nódulos. Em contrapartida, realizam a fixação atmosférica do nitrogênio (N2) em amônia (NH3) que passam a ser utilizados pela planta em seu metabolismo. Dessa forma a fixação biológica de nitrogênio captura da atmosfera milhares de tonelada de N2 por ano e transforma em formas assimiláveis de nitrogênio para a formação de proteínas e tecidos. A reação que ocorre durante a fixação biológica de nitrogênio é a seguinte: N2 + 8 e– + 8 H + 16MgATP —> 2NH3 + H2 + 16MgADP + 16 Pi Figura 1. Sistema radicular da soja e a presença de vários nódulos. Quais os benefícios da FBN? Os grãos de soja contêm cerca de 40% de proteína e 15% dessa proteína é nitrogênio. A Fixação biológica de nitrogênio é a capaz de suprir toda a demanda da cultura da soja, juntamente com o N oriundo da matéria orgânica do solo, alcançando elevados índices de produtividade. A técnica de inoculação da semente é uma ferramenta de grande importância para maximizar a fixação biológica de nitrogênio. Durante os anos houve uma grande evolução das técnicas de inoculação, que buscam os seguintes objetivos: • Garantir uma alta concentração de bactérias sobre a semente; • Incorporar ao solo estirpes de alta capacidade de fixar biologicamente mais nitrogênio do ar; • Manter altos níveis de sobrevivência bacteriana para se obter maior quantidade de nódulos provenientes dos inoculantes. 22 Autoria: Beatriz Nastaro Boschiero Engenheira Agrônoma, pela UNESP Botucatu https://agroadvance.com.br/blog-soja-ardida-fermentada-avarias-graos/ Tabela 1. Principais vantagens e desvantagens da utilização de fertilizantes nitrogenados e do processo de fixação biológica de N2 (FBN) em leguminosas Ambientalmente falando a fixação biológica de nitrogênio reduz os impactos ambientais devido à não utilização de fertilizantes minerais. O aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados pelas plantas é baixo e raramente ultrapassa 50%. Isso significa que ao aplicar 100 kg de N, pelo menos 50 kg são perdidos por diferentes processos que ocorrem no solo, como volatilização e lixiviação. Pensando na fixação biológica de nitrogênio, a contribuição de N não excede as necessidades dos agro ecossistemas. Além das perdas econômicas, o fertilizante perdido simboliza uma grave fonte de poluição ambiental, contaminando rios, lagos, lençóis freáticos e a atmosfera com gases de efeito estufa, incluindo o óxido nítrico e o óxido nitroso, que são os de maior impacto à camada de ozônio. A fixação biológica de nitrogênio também traz benefícios econômicos, devido a não utilização de fertilizantes nitrogenados nas lavouras de soja. Estima-se que o Brasil economize anualmente cerca de US$ 8 bilhões. Vantagens e desvantagens da FBN comparado a fertilizantes minerais Se houver uma associação eficiente entre esses microrganismos diazotróficos e as plantas, o nitrogênio fixado pode suprir todas as necessidades de várias espécies com importância econômica e ambiental, eliminando a necessidade de fertilizantes nitrogenados. No caso da simbiose com leguminosas, são observados aportes de grandes quantidades de nitrogênio por hectare por ciclo. Na Tabela 1, são apresentadas as principais vantagens e desvantagens da fixação biológica de nitrogênio (FBN) em simbiose em comparação com o uso de fertilizantes nitrogenados. O caso mais bem-sucedido de utilização da FBN na agricultura, reconhecido internacionalmente, é a cultura da soja no Brasil, resultado de décadas de investimentos em pesquisa, transferência de tecnologia e adoção pelos agricultores. Figura 1. Sistema radicular da soja e a presença de vários nódulos. O produtor deve utilizar fertilizante nitrogenado para um “arranque inicial” da soja? Muitos produtores são orientados a fazerem uma “aplicação de arranque” com N mineral no plantio da soja. Essa prática é mesmo correta? Embora essa questão tenha sido alvo de muitos debates a resposta mais sensata diante de evidências científicas é: não! A aplicação de fertilizantes nitrogenados na soja, além de aumentar os custos de produção, pode comprometer o processo simbiótico e interferir na formação dos nódulos que são as grandes fábricas de nitrogênio e com isso diminuir a produtividade da cultura. Apesar de poder melhorar o desenvolvimento do sistema radicular no início do ciclo de crescimento, o fornecimento de N via fertilizante atrapalha o processo de formação dos nódulos e consequentemente diminui a capacidade das plantas em aproveitar o N atmosférico (fonte limpa e segura com um custo 100 vezes menor que a adubação Fonte: Hungria e Nogueira, 2022. 23 https://agroadvance.com.br/blog-eficiencia-de-uso-de-n-pelas-plantas/ https://agroadvance.com.br/blog-eficiencia-de-uso-de-n-pelas-plantas/ https://agroadvance.com.br/blog-eficiencia-de-uso-de-n-pelas-plantas/ https://agroadvance.com.br/blog-fertilizantes-nitrogenados-tecnologias/ rendimento de grãos de 8,4%, enquanto a coinoculação apresentou um aumento ainda maior, de 16,1% (HUNGRIA & NOGUEIRA, 2022). A coinoculação também mostrou benefícios adicionais, como maior massa de raízes, número e massa de nódulos, e teor de nitrogênio nos grãos. Essa prática tem sido difundida por programas de assistência técnica e extensão rural, alcançando milhares de agricultores em diferentes municípios do país. Estudos científicos têm respaldado os benefícios da coinoculação, consolidando-a como uma estratégia eficiente para o cultivo da soja. Conclusões A fixação biológica de nitrogênio desempenha um papel fundamental na sobrevivência das espécies, incluindo a soja, sendo uma verdadeira “fábrica biológica” de nitrogênio assimilável pelas plantas. Ao adotar a inoculação anual com bactérias fixadoras de N, os agricultores obtêm benefícios significativos, como maior rendimento de grãos e teor de nitrogênio. Além disso, a coinoculação com Azospirillum brasilense potencializa esses resultados, promovendo o crescimento das raízes e melhorando a absorção de nutrientes. Essas práticas sustentáveis reduzem a dependência de fertilizantes nitrogenados, diminuem as emissões de gases de efeito estufa e preservam a qualidade ambiental. O Brasil, como maior produtor mundial de soja, tem se destacado no uso dessas estratégias, impulsionando a produtividade da cultura de forma econômica e sustentável. Ao adotar a fixação biológica de nitrogênio na soja, os agricultores estão investindo no futuro da agricultura, garantindo a saúde do solo, o aumento da produtividade e a preservaçãodo meio ambiente. nitrogenada – que por sua vez comprometem a qualidade ambiental). A importância da inoculação anual da soja A inoculação anual da soja tem se mostrado uma prática importante e benéfica para o cultivo dessa cultura. Pesquisas realizadas pela Embrapa Soja mostraram que mesmo em solos com populações elevadas de rizóbios nodulantes, introduzidas por inoculações anteriores, a reinoculação anual proporciona incrementos significativos no rendimento de grãos e no teor de nitrogênio dos grãos. Esses benefícios são especialmente observados em regiões mais sujeitas a estresses ambientais. A inoculação anual contribui para uma nodulação inicial eficiente na coroa da raiz principal, resultando em maior atividade de fixação biológica do nitrogênio (FBN) durante a fase inicial de crescimento das plantas. Essa prática tem se mostrado mais eficiente do que a aplicação de fertilizantes nitrogenados, que podem inibir a nodulação sem proporcionar ganhos nos parâmetros de rendimento e teor de nitrogênio dos grãos. Devido aos benefícios comprovados, a inoculação anual da soja é amplamente adotada pelos agricultores, sendo praticada em aproximadamente 79% da área cultivada no Brasil na safra 2019/2020 (HUNGRIA & NOGUEIRA, 2022). Coinoculação na cultura da Soja A coinoculação da soja, que consiste na aplicação conjunta de Bradyrhizobium spp. e Azospirillum brasilense, tem demonstrado resultados positivos e despertado o interesse dos agricultores. As estirpes de A. brasilense selecionadas no Brasil são conhecidas por sua capacidade de produzir fitormônios, como o ácido indolacético, promovendo o crescimento das raízes e melhorando a absorção de água e nutrientes pelas plantas. Estudos mostraram que a inoculação anual da soja resultou em incrementos médios no 24 https://agroadvance.com.br/soja-inocular-reinocular-e-coinocular-por-que/ https://agroadvance.com.br/soja-inocular-reinocular-e-coinocular-por-que/ MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS – MIP Manejo integrado de pragas: quanto evoluímos em 6 décadas? Entenda o que é e como funciona, quais seus princípios e como ocorreu a evolução do MIP desde sua concepção na década de 1970 até os dias de hoje. O manejo integrado de pragas (MIP) visa uma agricultura sustentável com redução significativa do uso de defensivos agrícolas. Apesar dos esforços, desde sua concepção na década de 1970, o uso global de defensivos agrícolas, também chamados pesticidas químicos, permanece robusto, trazendo impactos negativos para os cultivos e para a biodiversidade dos sistemas. Mas afinal, o que é o MIP e por que ele surgiu? Quais princípios norteiam esse manejo? E porque apesar de 6 décadas terem se passado pouco se evoluiu nesta abordagem holística do manejo? Confira neste artigo. O que é e como funciona o Manejo integrado de Pragas (MIP)? O manejo integrado de pragas (MIP) é definido como uma “abordagem” ou “estratégia” holística para combater pragas e doenças de plantas usando todos os métodos disponíveis, minimizando as aplicações de defensivos químicos. Ao contrário do controle tradicional de pragas que envolve a aplicação rotineira de defensivos agrícolas, o MIP: • Foca na prevenção de pragas; • Utilização de defensivos agrícolas somente quando necessário. Qual o objetivo do MIP? Sobre o manejo integrado de pragas (MIP) é incorreto afirmar que se deseja eliminar as pragas da lavoura. O objetivo do MIP não é erradicar as pragas, mas manejá- las, mantendo suas populações abaixo de níveis economicamente prejudiciais. Colocar em prática essa visão reduziria não apenas a exposição de agricultores, consumidores e do meio ambiente a compostos químicos tóxicos, mas também os problemas causados pela resistência de pragas a inseticidas. Quais são os 8 princípios do MIP? Quais são as ações necessárias para o manejo integrado de pragas? De acordo com Barzman et al. (2015), existem 8 princípios do MIP, definidos em legislação e adotados pela União Europeia: 1. Prevenção e supressão 2. Monitoramento 3. Decisão baseada no monitoramento e nos limites 4. Utilização de métodos não químicos 5. Seleção de defensivos químicos 6. Redução do uso de defensivos químicos 7. Estratégias anti-resistência 8. Avaliação Tais princípios resultam de uma sequência lógica de eventos a serem cumpridos no campo, conforme ilustrado na Figura 1. Os 3 pilares do manejo integrado de pragas (mip)? são definidos pelos 3 primeiros princípios, que devem ser realizados antes que haja a necessidade de intervenção no controle de pragas na lavoura. 26 Autoria: Beatriz Nastaro Boschiero Engenheira Agrônoma, pela UNESP Botucatu Autoria: Beatriz Nastaro Boschiero Engenheira Agrônoma, pela UNESP Botucatu https://agroadvance.com.br/blog-defensivos-agricolas-mais-comercializados/ Figura 7. Rendimento de grãos de milho não inoculado e recebendo fertilizante 100% N (90 kg ha-1 de N) aplicado em cobertura aos 35 d após emergência, inoculadas com as cepas de Azospirillum brasilense Ab-V5 e Ab-V6 e recebendo adubação 75% N. Fonte: Traduzido de Hungria et al., 2022 • O uso de material de plantio saudável; • Detecção precoce de patógenos em substratos e; • o melhoramento genético de plantas para resistência a pragas; • Rotação de culturas; • Aumento da diversidade de plantas no campo. A integração efetiva de várias táticas agronômicas é essencial para diminuir a dependência dos defensivos químicos no controle de pragas. Os princípios 2 (Monitoramento) e 3 (Tomada de decisão), que entram em ação uma vez implantado o sistema de cultivo, baseiam-se na ideia de que as medidas de controle na estação resultam de um processo de tomada de decisão sólido que leva em conta a incidência real ou prevista de pragas. O monitoramento envolve a coleta regular de dados sobre a presença e a abundância das pragas, permitindo que os agricultores e pesquisadores acompanhem as tendências e desenvolvam estratégias adequadas de controle. O uso de feromônios e armadilhas é muito importante nesta etapa. No caso de uma intervenção ser decidida, os Princípios 4 a 7 oferecem uma sequência de opções de controle que podem ser exploradas começando com as menos preocupantes primeiro: • dar preferências para métodos não químicos (princípio 4), • seleção de defensivos agrícolas com menores impactos possíveis (princípio 5), • diminuição da dose e frequência de aplicação (princípio 6) e • adotar estratégias para minimizar a evolução da resistência de pragas aos defensivos agrícolas (princípio 7). O Princípio 8 (Avaliação) fecha o ciclo, garantindo que os usuários olhem para trás e avaliem suas ações com vistas a melhorar todo o processo. Figura 1. O raciocínio sequencial por trás dos oito princípios do MIP (P1-P8). Fonte: Traduzido de Barzman et al (2015). O princípio 1 (Prevenção e supressão) vem em primeiro lugar porque engloba o desenho inicial e as ações realizadas no nível do sistema de cultivo para reduzir a severidade e a frequência de surtos de pragas. A prevenção envolve a adoção de sistemas de cultivo que sejam menos suscetíveis a perdas causadas por pragas. Já a supressão consiste em reduzir a incidência e a severidade do impacto das pragas, complementando a prevenção. O objetivo não é erradicar totalmente as pragas, mas evitar que elas se tornem dominantes ou prejudiciais em um sistema de cultivo. Algumas estratégias preventivas incluem práticas importantes para fortalecer os sistemas de cultivo e reduzir a pressão das pragas, como: 27 Como e quando o MIP surgiu? O uso excessivo e indiscriminado de defensivos agrícolas nas décadas de 1940 e 1950 levou a desastres ecológicos e à impossibilidade de controle das populações de pragas devido ao acúmulo de resistência aos agrotóxicos. Na década de 1950, pesquisadores dos EUA, propuseram o conceito de “Controle Integrado”, que enfatizava a necessidade de combinar e integrar o controle biológico e químico de pragas.Essa abordagem visava levar em conta as preocupações ambientais decorrentes do uso indiscriminado de agrotóxicos e buscar soluções mais sustentáveis. Na década de 1960, o manejo de pragas preocupava-se com o manejo de populações de pragas em uma lavoura. Na década de 1970, especialmente na Europa continental, a FAO e a IOBC (International Organization for Biological and Integrated Control of noxious animals and plants) promoveram o MIP, como uma estratégia para a proteção de cultivos, integrando várias técnicas de controle de pragas. Evolução do MIP até os dias de hoje Analisando a situação atual do controle de pragas no Brasil e no mundo, pode-se concluir que muitos dos princípios do MIP foram abandonados e que, em geral, os defensivos agrícolas são usados ao primeiro sinal do aparecimento dos insetos na lavoura. Vários fatores contribuem para essa situação, principalmente a falta de uma política governamental que incentive tal prática. Embora os conhecimentos técnicos estejam disponíveis e existam diversos programas de MIP satisfatórios, os índices de sua adoção e utilização são, no momento, insatisfatórios, podendo comprometer a sustentabilidade agrícola. 1. Diversas definições do que é o MIP geram uma confusão desnecessária. 2. Há inconsistências entre os conceitos, práticas e políticas do MIP. 3. Há um envolvimento insuficiente dos agricultores no desenvolvimento de tecnologias de MIP e frequentemente uma falta de compreensão básica de seus conceitos ecológicos subjacentes. 4. Desvios dos princípios fundamentais da MIP levaram a abordagens ineficazes e resultados insatisfatórios. 5. A pesquisa em MIP muitas vezes está atrasada, equivocada e não dá a devida atenção à ecologia e ao funcionamento ecológico dos agro ecossistemas. Os autores afirmam que desde a década de 1960, as diretrizes da MIP têm sido distorcidas, seus conceitos fundamentais têm se degradado e sua implementação séria (em nível de fazenda) não avançou. Para abordar esses problemas, os autores propõem a “Proteção Agroecológica de Cultivos” como um conceito que explora como a agroecologia pode ser otimamente empregada para a proteção de cultivos. A Proteção Agroecológica de Cultivos é um campo científico interdisciplinar que inclui uma estratégia ordenada (e priorização clara) de práticas em nível de campo, fazenda e paisagem agrícola, bem como uma dimensão de ecologia social e organizacional. A Proteção Agroecológica de Cultivos se baseia em princípios de agroecologia e ecologia, visando à saúde dos agroecossistemas em vez de se concentrar apenas no controle de pragas. Isso envolve uma abordagem interdisciplinar, estratégias agronômicas organizadas e integração da ecologia social. Os autores destacam a necessidade de uma revolução intelectual e uma mudança radical nas práticas atuais, propondo a transição para uma abordagem mais orientada para o cultivo ecológico. 28 Conclusões Ao longo de seis décadas, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) buscou promover uma agricultura sustentável, reduzindo o uso indiscriminado de defensivos agrícolas. No entanto, apesar dos esforços, a utilização global de pesticidas químicos continua a ser robusta, resultando em impactos negativos nos cultivos e na biodiversidade. O MIP foi concebido como uma abordagem holística que envolve a combinação de diversos métodos de controle de pragas, com foco na prevenção e utilização criteriosa de defensivos agrícolas apenas quando necessário. Os princípios do MIP, que incluem prevenção, monitoramento, decisões baseadas em limites, métodos não químicos, seleção cuidadosa de defensivos, redução de seu uso, estratégias contra a resistência e avaliação, proporcionam um roteiro lógico para o controle de pragas de maneira mais sustentável. No entanto, a implementação eficaz desses princípios tem enfrentado desafios, incluindo a falta de envolvimento dos agricultores, a deterioração dos conceitos fundamentais do MIP e a insuficiente consideração da ecologia. Diante dessas limitações, alguns pesquisadores propõem uma nova abordagem, chamada Proteção Agroecológica de Cultivos, a fim de adotar princípios de agroecologia e ecologia, priorizando a saúde dos agroecossistemas em vez do simples controle de pragas. Será que conseguiremos efetivamente implementar uma abordagem da Proteção Agroecológica de Cultivos em detrimento ao MIP? Diante dos desafios atuais e das limitações enfrentadas na adoção plena dos princípios do MIP, a proposição de uma mudança radical em direção a uma abordagem mais orientada para o cultivo ecológico levanta questões sobre sua viabilidade e aceitação. Será necessário um esforço conjunto de cientistas, agricultores, formuladores de políticas e sociedade em geral para explorar e abraçar essa nova perspectiva, buscando equilibrar a eficácia no controle de pragas com a preservação da saúde dos ecossistemas agrícolas. O futuro da proteção de cultivos reside, em grande parte, na nossa capacidade de superar desafios e transformar a maneira como concebemos e praticamos a agricultura. 29 PRAGAS E DOENÇAS EM MILHO Cigarrinha do milho: o vetor do enfezamentos e risca do milho Enfezamentos do milho Foi relatada maior ocorrência destas doenças no milho safrinha que na safra de verão em algumas regiões (OLIVEIRA et al., 2002; SABATO et al., 2018). Assim, uma atenção especial a estas doenças e ao seu vetor deve ser dada pelos produtores que estão iniciando a safrinha. O enfezamento vermelho e o enfezamento pálido do milho são doenças similares causadas por molicutes (bactérias sem parede celular) que colonizam a planta de forma sistêmica. O molicute que provoca o enfezamento vermelho é um fitoplasma, sem forma definida (Figura 2A), e o que causa o enfezamento pálido é um espiroplasma, que apresenta formato espiralado (Figura 2B). A infecção por estes patógenos costuma ocorrer na fase inicial da cultura, com a manifestação de sintomas na época de enchimento dos grãos (OLIVEIRA et al., 2003; SABATO, 2018). Os enfezamentos podem ser confundidos, pois podem provocar sintomas muito semelhantes (SABATO, 2018) e é possível ainda que ocorram simultaneamente na mesma planta (OLIVEIRA, et al. 2002). Temperaturas predominantemente superiores a 17 °C à noite e a 27 °C durante o dia, são favoráveis A cigarrinha Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) ou cigarrinha do milho é uma das principais pragas da cultura do milho e, embora não provoque danos diretos expressivos durante sua alimentação, é vetor de três importantes patógenos da cultura: Maize bushy stunt phytoplasma (MBSP), que causa o enfezamento vermelho; Spiroplasma kunkelli, agente causal do enfezamento pálido; e o vírus da risca do milho Maize rayado fino virus (MRFV) (NAULT, 1980; NAULT et al., 1980). A cigarrinha do milho O inseto cigarrinha do milho tem coloração amarelo-palha (Figura 1), apresenta de 3,7 a 4,3 mm de comprimento e pode ser encontrado no cartucho de plantas de milho (OLIVEIRA, 2003). Sua alimentação se dá pela introdução de seu aparelho bucal do tipo sugador diretamente no floema da planta e é durante a alimentação que a cigarrinha adquire os patógenos que transmite (OLIVEIRA et al., 2003). O milho é a principal espécie hospedeira do vetor. Em sua ausência como cultura principal, o inseto sobrevive em plantas de milho voluntárias (tiguera) e em cultivos de milho de outras áreas que pode alcançar por migração (OLIVEIRA et al., 2013). É possível também que a cigarrinha sobreviva em outras espécies de gramíneas, mas não há evidências de que possa transmitir doenças para o milho após ter se alimentado destas espécies (OLIVEIRA, 2019; OLIVEIRA et al., 2020). No entanto, o fato de termos milho cultivado durante quase todo o ano favorece a sobrevivência e multiplicação da cigarrinha (SILVEIRA, 2019), bem como dos patógenos por ela transmitidos. Figura 1. Cigarrinha Dalbulus maidis em planta de milho(A), estágios ninfais e adultos da cigarrinha (B). Fontes: Sabato, 2018 (A) e Nault, 1980. 31 Autoria: Ísis Tikami Engenheira Agrônoma, mestre e doutoranda em Fitopatologia pela ESALQ/USP à multiplicação dos molicutes na cigarrinha e nas plantas doentes (SABATO, 2018). Figura 2. Eletromicrografias mostrando o fitoplasma do enfezamento vermelho do milho (A) e a morfologia helicoidal de Spiroplasma kunkelli (barra: 500 mm) no floema de plantas infectadas. Fontes: Nault, 1980 (A); Massola Jr. e Kitajima (B). Enfezamento vermelho O agente causal do enfezamento vermelho Maize bushy stunt phytoplasma (MBSP) é habitante do floema de plantas de milho doentes. A cigarrinha adquire o patógeno depois de se alimentar no floema de uma planta de milho infectada. Passado um período em que o fitoplasma se multiplica no interior da cigarrinha (período de latência), esta passa a transmitir o patógeno ao se alimentar de plantas de milho sadias (Figura 4) (OLIVEIRA et al., 2003). Os sintomas típicos do enfezamento vermelho se iniciam com clorose foliar marginal, seguida do avermelhamento em folhas mais velhas (NAULT, 1980). As plantas infectadas têm discreto encurtamento dos internódios, podem adquirir coloração vermelha intensa e apresentar formação atípica de perfilhos e de espigas em várias axilas da planta, além de espigas pequenas e com falhas de granação (OLIVEIRA et al., 2003). Os sintomas da doença, no entanto, podem limitar-se ao avermelhamento nas bordas e pontas das folhas, menor tamanho das espigas e falhas na granação (SABATO, 2018). Enfezamento pálido Seu agente causal Spiroplasma kunkelli é adquirido e transmitido por D. maidis da mesma maneira que o fitoplasma do enfezamento vermelho (Figura 4) (OLIVEIRA et al., 2003). Os sintomas característicos da doença são manchas cloróticas na forma de estrias que se iniciam pela base das folhas, porte reduzido, proliferação de espigas, espigas pequenas e com falhas de granação (OLIVEIRA et al., 2003; SABATO, 2018; SILVEIRA, 2019). De acordo com a idade da planta quando infectada e do nível de resistência do cultivar, os sintomas apresentados podem ser apenas de amarelecimento ou avermelhamento nas margens e pontas das folhas (OLIVEIRA et al., 2003; SABATO, 2018). Figura 3. Planta de milho com sintomas de enfezamento (A); plantas de milho com sintomas característicos de enfezamento vermelho (B) e de enfezamento pálido (C). Fonte: Sabato, 2018. Apesar da impossibilidade de diferenciar de forma segura, com base na observação dos sintomas, qual o enfezamento que mais está ocorrendo em uma lavoura (SABATO, 2018), conhecer de forma geral os sintomas dos enfezamentos é importante e o suficiente para fins práticos em seu manejo. Figura 4. Ciclo simplificado dos enfezamentos na cultura do milho. Autoria: Ísis Tikami. 32 Risca do milho Maize rayado fino virus (MRFV) é o agente causal desta doença (NAULT et al., 1980), seus sintomas se iniciam com pontos cloróticos alinhados, que se fundem formando uma risca fina (Figura 5); a redução do crescimento e aborto de gemas florais também podem ocorrer em cultivares suscetíveis infectados (WAQUIL, 2004). D. maidis adquire o vírus após se alimentar no floema de plantas de milho infectadas. Neste caso, assim como ocorre com os enfezamentos, o patógeno é capaz de se multiplicar no inseto vetor, para depois ser transmitido durante a sua alimentação em plantas sadias (RIVERA; GÁMEZ, 1986). Embora esta doença seja de menor importância econômica que os enfezamentos, perdas de produção da ordem de 30% foram associadas a ela (OLIVEIRA et al., 2003). inseticidas (indicados para o vetor e para a cultura) no tratamento de sementes e em pulverizações nos estágios iniciais de desenvolvimento do milho são importantes para reduzir a população de cigarrinhas e evitar a transmissão destas doenças (SABATO, 2018; SILVEIRA, 2019). Os fungos entomopatogênicos Isaria fumosorosea e Beauveria bassiana também estão disponíveis comercialmente para o controle do vetor (AGROFIT). Por fim, a utilização de cultivares resistentes e diversificação das cultivares semeadas para evitar quebra de resistência também são recomendadas (SABATO, 2018). Manejo das doenças transmitidas por Dalbulus maidis As medidas de manejo indicadas incluem eliminar plantas de milho voluntárias, evitar a semeadura de milho nas proximidades de lavouras adultas com sintomas destas doenças, realizar a sucessão e rotação de culturas e, quando possível, a sincronização do período de semeadura de milho na região para evitar que cultivos de milho estejam continuamente disponíveis ao vetor em uma região (SABATO, 2018). O emprego de Figura 5. Folha de milho com sintomas da infecção por Maize rayado fino virus (MRFV) (acima) e folha sadia (abaixo). Fonte: Sabato, 2018. Considerações finais Devido às características destes patossistemas, o manejo integrado das doenças transmitidas pela cigarrinha-do- milho não beneficia apenas os produtores que as empregam, mas todos os produtores de uma região. Infelizmente, o oposto também ocorre e quando o manejo não é realizado adequadamente e a incidência da doença aumenta, as plantas infectadas de um cultivo passam a ser fonte de inóculo para outros. Assim, é importante que cada produtor faça a sua parte, implementando as medidas de manejo e ajudando a alertar outros produtores sobre a sua importância. 33 benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas também podem ser utilizados para controlar a doença em cultivares suscetíveis, se a sua aplicação for economicamente viável (Pereira et al., 2005). As condições ambientais da época do cultivo do milho segunda safra podem ser menos favoráveis às plantas, tornando-as suscetíveis ao ataque de patógenos. Os patógenos que causam as manchas foliares na cultura do milho são responsáveis pela redução da área fotossintética da planta e isto resulta em menor acúmulo de fotoassimilados e em perdas de produtividade. Este artigo aborda as principais manchas foliares do milho segunda safra, seus sintomas e as estratégias de manejo para garantir um melhor aproveitamento do potencial produtivo da cultura para a época da segunda safra. Vale ressaltar que as estratégias apresentadas também são válidas para o controle destas doenças quando o milho é cultivado na safra principal. Cercosporiose no Milho É uma mancha foliar do milho causada pelos fungos Cercospora zeina e Cercospora zeae- maydis (Crous et al., 2006), que sobrevivem em restos culturais ou no próprio hospedeiro e são disseminados pelo vento e pela água da chuva ou de irrigação (Pereira et al., 2005). A infecção é favorecida em condições de elevada umidade relativa do ar, sem a presença de água livre sobre as folhas (Pereira et al., 2005). Os sintomas são manchas retangulares delimitadas pelas nervuras, de cor marrom com halo amarelado, que se tornam acinzentadas com a esporulação do fungo (Casela, 2003). A medida de controle mais eficiente é o uso de cultivares resistentes (Pereira et al., 2005) e a rotação de culturas ajuda a reduzir o inóculo do patógeno nas áreas de cultivo quando se faz a adoção de cultivares suscetíveis. Fungicidas dos grupos dos Helmintosporiose no Milho Causada pelo fungo Exserohilum turcicum, esta mancha foliar do milho provoca lesões necróticas elípticas de cor verde- acinzentada a marrom, normalmente com 2,5 a 15 cm de comprimento (Cota et al., 2013). Perdas de 44% da produtividade já foram atribuídas à doença (Bowen; Pedersen, 1988). Diferentes estruturas do fungo (micélio, conídios e clamidósporos) podem sobreviver em restos culturais e iniciar o ciclo da doença (Pereira et al., 2005). Conídios produzidos nas lesões são dispersos pelo vento e são responsáveis pelas infecções secundárias na lavoura (Pereira et al., 2005). A principal medida no manejo é o uso de cultivares resistentes, o uso de fungicidas pode ser necessário quando são
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