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Livro 4 - Percepção e Intervenção Clínica

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PROCESSOS 
PSICOLÓGICOS 
BÁSICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Identificar disfunções relacionadas à percepção.
 > Relacionar síndromes com a imagética visual.
 > Explicar percepção na clínica psicológica.
Introdução
Júlia acabou de assistir ao seu filme favorito. Ela está sentada no sofá da sala, 
segurando uma vasilha que uma hora antes estava cheia de pipoca, enquanto os 
créditos passam na televisão. Júlia fecha os olhos e imagina sua cena preferida, 
que viu apenas alguns minutos atrás, incluindo a música instrumental que a 
acompanha. Para Júlia, nesse momento, é fácil distinguir entre o que ela está 
imaginando e a realidade (estar sentada no sofá da sala). Para a grande maioria 
das pessoas também é fácil fazer essa distinção. A diferença entre o que é ima-
ginado e o que é percebido (aquilo que é do mundo real, objetivo) é entendida 
como que instintivamente. No entanto, para algumas pessoas e/ou em algumas 
situações, essa diferença não é óbvia e pode parecer até impossível. Quando isso 
acontece dizemos que há uma disfunção da percepção. Disfunções da percepção 
acontecem quando falhamos em perceber o mundo real como ele realmente é 
por meio dos nossos órgãos sensoriais. Dois exemplos: (1) “ouvir” uma voz que 
não existe realmente e (2) “ver” uma pessoa com olhar malvado onde na verdade 
há apenas um cabideiro.
Percepção e 
intervenção clínica
Marina Luiza Nunes Diniz
É possível entender as disfunções da percepção a partir de algumas proprie-
dades principais: tipo e frequência. Alguns tipos são comuns e não são indicativos 
de nenhum transtorno ou condição clínica quando acontecem em uma frequência 
baixa. Outros tipos já são indicativos de transtornos ou condições clínicas mesmo 
quando acontecem uma única vez ou em baixa frequência. Nessa direção, as 
disfunções da percepção são especialmente importantes para o entendimento de 
algumas síndromes e condições clínicas específicas, mas também para o entendi-
mento da experiência humana geral. Um exemplo de condição clínica que tem uma 
disfunção da percepção como característica central é a prosopagnosia, condição 
na qual o paciente percebe a face de outras pessoas, mas tem muita dificuldade de 
reconhecer aquelas que já viu outras vezes, mesmo as mais familiares, como a de 
um esposo ou melhor amigo. É possível afirmar, então, que a correta identificação 
das disfunções da percepção é essencial para um bom processo psicodiagnóstico 
e para adequados planejamento e intervenção clínica.
Neste capítulo, você vai estudar (1) a relevância da percepção e suas disfunções 
com foco em depressão e transtornos de personalidade; (2) o que caracterizam as 
falsas percepções; (3) a relação entre disfunções da percepção, imagética visual 
e algumas síndromes; e (4) algumas maneiras por meio das quais as disfunções 
da percepção podem ser trabalhadas na clínica psicológica.
Percepção na prática clínica: o que 
considerar
Como seres humanos, tendemos a confiar que a nossa percepção corresponde 
fielmente ao mundo real. No entanto, disfunções na percepção são mais comuns 
do que podemos imaginar (NAKAYAMA, 2010) e são um tópico constantemente 
considerado na prática clínica psicológica. Um exemplo são as alterações na 
percepção que tipicamente acompanham transtornos depressivos. 
Nessa seção vamos explorar a relevância da percepção e suas disfunções 
a partir de três ângulos: (1) a percepção de si e dos outros com foco em 
transtornos da personalidade, (2) alterações da percepção em transtornos 
depressivos e (3) disfunções da percepção na esquizofrenia.
Percepção de si e transtornos da personalidade
Transtornos da personalidade (TP) são padrões duradouros e inflexíveis 
de pensamentos, comportamentos e sentimentos que levam a sofrimento 
psicológico e prejuízo no funcionamento familiar, social e de educação/
Percepção e intervenção clínica2
trabalho dos indivíduos. A quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico 
de Transtornos Mentais (DSM-5) organiza os TPs em três grupos ou clusters 
de acordo com as suas similaridades descritivas: grupos A, B e C (AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014): 
 � o grupo A, dos estranhos e excêntricos, inclui os transtornos de per-
sonalidade paranoide, esquizoide e esquizotípico e tem prevalência 
estimada de 5,7%. 
 � o grupo B, dos dramáticos, emocionais, erráticos e imprevisíveis, inclui 
os transtornos de personalidade antissocial, borderline, histriônico e 
narcisista e tem prevalência estimada de 1,5%. 
 � o grupo C, dos ansiosos e medrosos, inclui os transtornos de personali-
dade evitativo, dependente e obsessivo-compulsivo e tem prevalência 
estimada de 6%. 
Para qualquer transtorno de personalidade a prevalência estimada é de 
9,1% (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Esses padrões são muito gerais e influenciam praticamente todos os 
aspectos da vida desses indivíduos, incluindo sua percepção de si mesmo, 
das outras pessoas e do ambiente ao redor. Uma das características dos TPs 
é, inclusive, a reduzida qualidade da percepção de si mesmo e em relação a 
outras pessoas. De fato, estudos sugerem que a discrepância entre o relato 
sobre características de personalidade daqueles diagnosticados com muitos 
sintomas de TP e o relato de pessoas próximas é maior do que a discrepância 
encontrada entre aqueles sem TP (CARLSON; OLTMANNS, 2015; CARLSON; VA-
ZIRE; OLTMANNS, 2013; CLIFTON; TURKHEIMER; OLTMANNS, 2004; MOSTERMAN; 
HENDRICKS, 2011). Essa diferença parece ser especialmente pronunciada entre 
aqueles do grupo B (CLIFTON; TURKHEIMER; OLTMANNS, 2004). Em um estudo 
com mais de 2.000 adultos residentes nos Estados Unidos, Clifton, Turkheimer 
e Oltmanns (2004) encontraram que aqueles avaliados por pessoas próximas 
como narcisistas se avaliaram como muito trabalhadores, extrovertidos e 
agradáveis, o que foi interpretado pelos autores não como uma tentativa de 
dissimulação, mas como um genuíno relato da percepção de si mesmo, que 
é em parte moldada pelo TP.
Outro importante conceito para a compreensão da percepção no caso 
de TP é o de metapercepção (CARLSON; OLTMANNS, 2015). Esse conceito se 
refere à nossa percepção da percepção que outros tem de nós. Por exemplo, 
as seguintes perguntas exigem metapercepção para serem respondidas: 
Meu melhor amigo acha que sou uma boa pessoa? Meu chefe acredita que 
Percepção e intervenção clínica 3
sou incompetente? Meu pai gosta de mim? Minha namorada acha que sou 
infiel? Como você pode imaginar, nossa metapercepção é um importante 
determinante de como percebemos a nós mesmos, do nosso autoconceito. 
E pessoas com TP ou com muitos sintomas de TP tendem a apresentar um 
déficit nas suas habilidades de metapercepção; elas apresentam uma per-
cepção de si mesmas mais distinta da percepção que terceiros têm delas. 
Esse déficit é especialmente relevante porque parece ser um forte preditor 
da interrupção da terapia entre aqueles com TP (MOSTERMAN; HENDRICKS, 
2011). Uma hipótese explicativa desse fenômeno pode ser encontrada no 
fato de que pessoas com TP tendem a se sentir menos compreendidas 
por pessoas próximas (CARLSON; OLTMANNS, 2015). E, nessa direção, os 
pesquisadores Carlson e Oltmanns (2015) sugerem que um objetivo das 
intervenções nos casos de TP seja a redução da discrepância entre a 
percepção de si mesmo e (1) a percepção de pessoas próximas sobre o 
sujeito e (2) a percepção sobre o que pessoas próximas percebem sobre 
o sujeito (metapercepção).
Alterações da percepção na depressão
Os transtornos depressivos são caracterizados pela presença de “humor 
triste, vazio ou irritável acompanhado de alterações somáticas e cognitivas 
que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo” 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 155) e influenciam a percepção 
de diversas maneiras, em geral na forma de um viés na direção de percepções 
negativas. Esses transtornos estão entre os diagnósticos psicológicos mais 
comuns no mundo. Em um relatório da Organização Mundial de Saúde publi-
cado em 2017,o Brasil foi apontado como o quinto no mundo e primeiro na 
América do Sul em prevalência de depressão (5,8% da população ou 11.548.577 
pessoas) (DEPRESSÃO..., 2017). A compreensão de alterações na percepção 
associadas a esses transtornos é especialmente relevante para a atuação 
de psicólogos nesse contexto. A seguir exploraremos a associação entre 
depressão e percepção das emoções e das cores.
Pessoas com transtorno depressivo tendem a apresentar um déficit na 
identificação e discriminação de emoções, tanto as percebidas na face como 
as percebidas por meio de movimentos corporais (KALETSCH et al., 2014; 
KOHLER et al., 2011). Esses dados são especialmente relevantes porque a 
acuidade na percepção das emoções é um importante preditor de sucesso 
Percepção e intervenção clínica4
na formação e manutenção de relacionamentos interpessoais de qualidade. 
Como exemplo, Kaletsch et al. (2014) compararam a percepção de emoção 
em movimentos corporais em 30 adultos com transtorno depressivo maior 
(TDM) e 30 pares controles saudáveis. Os autores utilizaram diversos ato-
res para mapear os movimentos corporais em interações sociais e depois 
reproduziram essas interações substituindo os corpos por pontos de luz e 
projetando-os em um fundo preto. Esse tipo de técnica é frequentemente 
utilizado com o objetivo de reduzir a influência de outras variáveis, como 
estereótipos de gênero. Os autores encontraram que aqueles participan-
tes com TDM tenderam a avaliar as emoções expressadas nas interações 
como mais negativas e a julgar as interações com emoções negativas como 
mais intensas (assim como acontece com a percepção de emoções faciais) 
(KALETSCH et al., 2014). 
Aqueles com depressão também tendem a apresentar uma alteração na 
percepção de cores, com reduzida percepção de contraste e tendência a 
associar tons acinzentados com emoções negativas (WU; CHANG; LEE, 2009). 
Um exemplo de estudo é o realizado por Bubl e colaboradores (2010): os 
pesquisadores investigaram a sensitividade na percepção de contraste vi-
sual entre 40 participantes sem e 40 participantes com TDM. Os resultados 
indicaram que aqueles com TDM apresentaram grande redução na percepção 
visual de contraste e que a redução aumentava conforme os sintomas de TDM 
aumentavam. O título do artigo no qual os autores relatam o estudo é inte-
ressante: “Vendo cinza quando se sente azul?” (BUBL et al., ,2010.). Na língua 
inglesa, muitas expressões associadas à percepção visual são utilizadas para 
se referir à depressão, e uma delas é “se sentir azul”. É possível que essas 
expressões sejam metáforas para algumas das alterações da percepção que 
de fato tendem a acompanhar essa condição.
Percepção: verdadeira ou falsa? 
Até agora exploramos casos em que o mundo real, objetivo e independente dos 
sujeitos é percebido, mas de maneira distorcida ou com reduzida acuidade. Por 
exemplo, um paciente com depressão maior que relata que o tempo passa muito 
devagar ou até “não passa”. A passagem do tempo é percebida, mas de maneira 
alterada. Mas e quando algo que não existe no mundo real é, ainda assim, per-
cebido? Essas são as falsas percepções, que são organizadas em três grandes 
tipos: ilusões, alucinações e pseudoalucinações, como ilustrado na Figura 1.
Percepção e intervenção clínica 5
Figura 1. Esquema das falsas percepções.
Fonte: Adaptada de Oyebode (2018).
Ilusões acontecem quando um estímulo percebido é combinado com uma 
produção mental e geram uma falsa percepção. Elas podem acontecer em 
qualquer modalidade sensorial, no entanto, as visuais são as mais comuns. 
Ilusões são experiências comuns e não necessariamente indicam um quadro 
clínico. Por exemplo, quando acordamos durante a noite podemos perceber 
o chapéu no cabideiro como uma face expressando um sentimento negativo 
ou ameaça. Existem três tipos de ilusões: ilusão de completude, ilusão de 
afeto e pareidolia.
� Ilusões de completude: dependem da falta de atenção. Um exemplo é 
quando percebemos uma palavra escrita sem erros, mas na verdade 
uma letra está faltando.
� Ilusões de afeto: aparecem e podem ser entendidas apenas no contexto 
de um humor específico. Por exemplo, no caso da morte de um ente 
querido, uma pessoa desconsolada, que está sofrendo intensamente, 
pode acreditar que está vendo o falecido.
� Pareidolia: essas são ilusões que acontecem sem a nossa intenção e às 
vezes até contra a nossa vontade. São muito comuns, especialmente na 
infância, e podem não estar associadas a quadros clínicos (OYEBODE, 
2018). Um exemplo é a percepção de formas específicas nas nuvens ou 
de rostos em objetos do dia a dia, como tomadas ou pregos.
Alucinações são comumente descritas como “percepção sem o objeto” 
e podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial, embora as auditivas 
sejam as mais comuns. Segundo Casey e Kelly (2019, p. 27), o que distingue 
alucinações das percepções verdadeiras “é que elas vêm de ‘dentro’, embora 
o sujeito reaja a elas como se fossem percepções verdadeiras vindas ‘de 
fora’”. Alucinações são indicativas de casos clínicos (CASEY; KELLY, 2019) e 
Percepção e intervenção clínica6
podem ser causadas por emoções intensas, transtornos mentais (como es-
quizofrenia, transtorno bipolar e depressão), outros transtornos que afetam 
o sistema nervoso, uso de substâncias tóxicas e outros fatores. Alucinações 
são especialmente comuns em pacientes esquizofrênicos e estão presentes 
em 74% desses casos (CASEY; KELLY, 2019). No livro intitulado Contos do sofá: 
histórias verdadeiras de psicopatologia contadas por um psicólogo clínico, o 
Dr. Bob Wendorf compartilha seu relato sobre a alucinação de uma paciente 
esquizofrênica:
[...] ela ouviu vozes conversando com ela quando ninguém estava presente, essas 
alucinações sendo as vozes de Chelsea Clinton e do Príncipe William da Inglaterra. 
Ela afirma que as vozes lhe disseram que iam matá-la, que ela estava morta e que 
deveria fazer coisas malucas (WENDORF, 2015, p. 86).
O terceiro tipo de falsa percepção são as pseudoalucinações. Elas estão 
entre os fenômenos menos entendidos da psicopatologia e sua definição 
ainda está longe de ser consensual (OYEBODE, 2018). Uma das definições mais 
comuns é “alucinação com insight”, ou seja, o paciente percebe um objeto 
que não está lá, mas tem algum nível de insght (conhecimento) sobre o fato 
de essa ser uma percepção errada ou enganosa. Em uma revisão da validade 
conceitual das pseudoalucinações, van der Zwaard e Polak (2001) argumentam 
que elas são “clinicamente ambíguas” e apresentam sobreposição com outros 
processos, como a imagética visual, e sugerem que o termo “alucinações 
não psicóticas” é preferível. Vamos explorar a relação entre disfunções da 
percepção visual e imagética visual a seguir.
Disfunções da percepção visual e imagética 
visual: encontros e desencontros
Existe diferença entre imaginar um objeto que você acabou de ver e percebê-lo 
visualmente? Essa pergunta também pode ser feita assim: existe diferença 
entre a imagética visual e a percepção visual? Imagética visual é um evento 
mental que acontece quando representamos um objeto a partir da memória 
visual, quando esse objeto já não é mais visto. Imagética visual também é 
descrita como “ver com os olhos da mente”. Por exemplo, o que você faria 
para responder à pergunta: quantas janelas existem no quarto do seu melhor 
amigo? A maioria das pessoas imaginaria o quarto, o que é um exemplo de 
Percepção e intervenção clínica 7
imagética visual. A imagética visual é a nossa representação mental do mundo 
e existe na nossa imaginação (KOSSLYN; GANIS; THOMPSON, 2003). Há outros 
tipos de imagética, como a auditiva, que seria “ouvir com os ouvidos da mente”, 
e a motora, que seria imaginar realizar uma ação sem realmente realizá-la.
A imagética visual é um processo muito importante em grande parte 
porque permite aos seres humanos a possibilidade de “experimentar sem 
realmente experimentar”. Já que diante de muitas situações temos várias 
opções de ação, como podemosescolher? Uma das ferramentas para obter 
informações sobre o desfecho na escolha do curso de ação “x” é imaginar 
o que aconteceria caso essa ação fosse executada. Albert Einstein utilizava 
a imagética visual frequentemente para imaginar cenários “e se…” (SMITH; 
KOSSLYN, 2013). Muitos atletas acreditam que “ensaiar mentalmente” seus 
movimentos antes de executá-los em uma competição esportiva os ajuda 
a ter um desempenho melhor. Pesquisas sugerem que esse realmente é 
o caso (FELTZ; LANDERS, 1983), e essa prática tem sido indicada como uma 
estratégia para melhorar o desempenho também em outras áreas, como a 
cirurgia (COCKS et al., 2014). 
Uma experiência comum de pacientes dependentes químicos é o 
“craving”: uma vontade intensa, extrema, de consumir a substância 
em questão. Algumas das técnicas mais comuns e simples para ajudar pacientes 
nessas condições envolvem a imagética visual. Duas delas são as seguintes: 
refocagem de imagem e substituição por imagem negativa. A refocagem de 
imagem consiste em, quando experienciando craving, imaginar um sinal de 
“PARE”, uma luz vermelha, algum policial e/ou outra imagem que faça referência 
a ação de “parar”. Já a substituição por imagem negativa consiste em imaginar 
as consequências negativas frequentemente associadas ao consumo da subs-
tância em questão, como ir para a cadeia. O objetivo de ambas as técnicas é 
interromper a linha de pensamento que associa o consumo da substância com 
prazer e outras consequências positivas.
Percepção visual e imagética visual são construtos similares e comparti-
lham a maioria dos mecanismos neurais. Imagens mentais podem ter quali-
dades da percepção visual, como cor, tamanho e formato (SMITH; KOSSLYN, 
2013). Um exemplo de evidência sobre a proximidade desses dois processos 
é a alta probabilidade de um paciente que apresenta grande dificuldade de 
reconhecer faces devido a uma lesão cerebral apresentar, também, dificuldade 
para imaginar faces (SMITH; KOSSLYN, 2013).
O estudo da imagética visual é uma área controversa, e um dos principais 
debates gira em torno da diferenciação entre os processos da percepção 
Percepção e intervenção clínica8
visual e da imagética visual (SMITH; KOSSLYN, 2013). Um dos achados mais 
relevantes sobre a relação/diferença entre a imagética visual e a percepção 
visual diz respeito à análise de dois casos clínicos, apresentados no Quadro 
1, dos pacientes RM (TANAKA; FARAH, 1993) e CK (BEHRMANN; MOSCOVITCH; 
WINOCUR, 1994). Esses dois casos são um exemplo de dupla dissociação. 
Uma dupla dissociação acontece quando existe um padrão inverso de 
funções preservadas e comprometidas entre dois pacientes. Estudos de 
dissociação dupla são quase sempre realizados com pacientes com lesão 
cerebral: (1) um que é capaz de realizar o grupo de tarefas A, o que indica 
que a capacidade/função “x” está preservada, mas não consegue realizar o 
grupo de tarefas B, o que indica que a capacidade/função “y” está compro-
metida, e (2) outro que não consegue realizar as tarefas A, mas consegue 
realizar as tarefas B. 
Quadro 1. Esquema de dissociação dupla
   Percepção visual Imagética visual
Paciente RM
Preservada Comprometida
Paciente CK 
Comprometida Preservada
Fonte: Adaptado de Tanaka e Farah (1993) e Behrmann, Moscovitch e Winocur (1994).
O paciente RM tinha um quadro de lesão cerebral no lobo occipital e 
parietal e era capaz de reconhecer e desenhar quando o objeto era apre-
sentado visualmente (percepção visual preservada), mas não conseguia 
desenhar “de memória” ou responder perguntas que requeriam imaginar o 
objeto (imagética visual comprometida). Já o paciente CK apresentava um 
caso de agnosia visual: era incapaz de reconhecer visualmente objetos do 
dia a dia, como colheres, copos, cadernos e lápis (percepção visual com-
prometida), mas os reconhecia ao tocar e conseguia imaginá-los (imagética 
visual preservada).
Dissociações duplas estão entre as evidências mais poderosas possíveis 
a favor da existência de processos distintos (SMITH; KOSSLYN, 2013). Como 
exemplificado pelo estudo de dissociação dupla com os pacientes CK e RM, 
percepção visual e imagética visual, apesar de similares, são construtos 
distintos. O Quadro 2 organiza algumas características da percepção e da 
imagética visual (OYEBODE, 2018).
Percepção e intervenção clínica 9
Quadro 2. Características da percepção e da imagética visual
Percepção Imagética visual
São provenientes da realidade 
concreta
São figurativas e tem um caráter 
subjetivo
Ocorrem no espaço externo, objetivo Acontecem no espaço interno, 
subjetivo
São claramente delineadas São incompletas e de “baixa 
resolução”
São constantes (já que objetos no 
mundo real não mudam por mágica)
Se dissipam e precisam ser recriadas
São independentes da nossa vontade Dependem da nossa vontade para 
existir
Fonte: Adaptado de Oyebode (2018).
O estudo da imagética visual é especialmente importante para o enten-
dimento das disfunções da percepção visual (OYEBODE, 2018). Nessa direção, 
três grandes exemplos são a prosopagnosia e as síndromes de Anton e de 
Charles Bonnet. A prosopagnosia é uma condição na qual o paciente tem 
grave prejuízo na sua habilidade de reconhecer faces diferentes e também 
é conhecida como “cegueira de faces”. Os prosopagnosíacos, como são cha-
madas as pessoas com essa condição, são capazes de reconhecer emoções 
em uma face e uma face em oposição a um objeto, como uma abóbora ou 
uma árvore, porém tem dificuldade para reconhecer um rosto como sendo o 
rosto da pessoa “x”. Excluindo comorbidades, pacientes com essa condição 
são capazes de ver e reconhecer a maioria dos objetos do dia a dia e de 
navegar nas dinâmicas sociais e de trabalho de uma vida adulta típica. Po-
dem, inclusive, ter excelente memória verbal. No entanto, eles têm extrema 
dificuldade em reconhecer uma determinada face, mesmo quando essa é a 
face de uma pessoa muito próxima, como pais, esposo, melhor amigo ou até 
a própria face. Barton (2003, p. 521) compartilha o relato de um paciente, LH, 
com prosopagnosia:
Eu estava em uma conferência e vi outra pessoa caminhando. Eu pensei que 
era provavelmente alguém que eu conhecia e então sorri para ele e comecei a 
cumprimentá-lo apenas para perceber, então, que era meu próprio rosto e eu 
estava olhando para uma parede espelhada.
Percepção e intervenção clínica10
Prosopagnosia é uma condição na qual há uma inabilidade ou grande 
dificuldade de reconhecer faces, apesar da ausência de alterações 
cognitivas ou lesões visuais.
Barton (2003) afirma que existem poucas condições neurológicas com 
sintomas mais dramáticos do que a prosopagnosia. Essa condição é geralmente 
causada por lesões cerebrais, mas também pode ocorrer sem uma lesão 
(prosopagnosia desenvolvimental). A prosopagnosia desenvolvimental afeta 
aproximadamente 2% da população e tende a ocorrer nas mesmas famílias, o 
que indica a influência de fatores genéticos (DUCHAINE; GERMINE; NAKAYAMA, 
2007). O termo “prosopagnosia” foi proposto pela primeira vez em 1867, mas, 
talvez, a mais famosa referência sobre o seu estudo seja o falecido e famoso 
neurologista Oliver Sacks (1933–2015). Em 1985, foi publicado o livro O Homem 
que Confundiu sua Mulher com um Chapéu, no qual Sacks descreve o caso do 
professor “Dr. P”, um prosopagnosíaco que realmente chegou a confundir o 
rosto da sua esposa com um chapéu.
A prosopagnosia é uma condição especialmente interessante no contexto 
do estudo da percepção e da imagética visual porque a habilidade de reconhe-
cer faces é significativamente diferente da habilidade de reconhecer objetos. 
Seres humanos provavelmente passam mais tempo olhando rostos do que 
qualquer outro objeto (SMITH; KOSSLYN, 2013), e a habilidade de reconhecê-
-los tem implicações consideráveis para a vida social. Em um estudo com 25 
propopagnosíacos, Yardley et al. (2008) concluíram que as consequências 
psicossociais negativas associadas à prosopagnosia do desenvolvimento são 
comparáveis àquelas associadas acondições mais conhecidas, como dislexia 
e gagueira. No mesmo estudo, todos os participantes relataram interações 
sociais traumáticas frequentes causadas pela dificuldade de reconhecer 
faces, e a maioria descreveu experienciar medo e evitar situações sociais nas 
quais o reconhecimento de faces é importante, o que inclui a grande maioria 
das situações sociais.
Outra síndrome que lança luz sobre a relevância da imagética e da per-
cepção visual é a síndrome de Anton, que consiste na ausência de percepção 
de estímulos visuais acompanhada da negação consciente dessa ausência. 
O primeiro caso de síndrome de Anton já descrito foi provavelmente o de 
Harpaste, uma mulher que viveu no início da era cristã (por volta do ano 0). 
Harpaste era escrava da esposa do filósofo romano Seneca (4 a.C.–65 d.C.), que 
foi quem descreveu o caso em uma de suas cartas (ANDRE, 2018). Pacientes 
Percepção e intervenção clínica 11
com a síndrome de Anton apresentam cegueira, mas não têm consciência de 
que estão cegas. Harpaste se tornou cega, embora não se saiba como ou por 
quê, mas não reconhecia essa condição. Reclamava que os quartos estavam 
escuros e pedia que a trocassem de quarto (ANDRE, 2018). A síndrome de 
Anton é uma condição rara, com apenas 28 casos documentados entre 1965 
e 2016. Desses, 22 (78,5%) foram resultado de uma patologia vascular (p. ex., 
infarto e choque hemorrágico) (KIM; ANBARASAN; HOWARD, 2017).
Argenta e Morgan (1998) descrevem o caso de uma mulher de 19 anos, 
grávida de 21 semanas, que após um aborto espontâneo e grave caso de 
hemorragia, apresentou a síndrome de Anton por algumas horas. Imedia-
tamente após o parto, a paciente reclamou de perda de acuidade visual. A 
cegueira completa foi observada uma hora depois. A paciente não conseguia 
identificar objetos que se moviam a sua frente e não piscava em resposta a 
gestos ameaçadores próximos aos olhos. Ela estava alerta, mas não apre-
sentou sofrimento devido à perda da visão, que começou a voltar depois 
de seis horas. Quatorze horas depois do parto, a visão havia voltado ao 
normal. Pacientes com síndrome de Anton frequentemente oferecem des-
culpas para a cegueira (“está escuro demais”) e podem colocar a si mesmos 
ou a pessoas próximas em perigo ao tentar “provar” que não estão cegos 
(ARGENTA; MORGAN, 1998).
Outra síndrome relacionada à imagética e a percepção visual é a síndrome 
de Charles Bonnet, caracterizada por alucinações visuais complexas em pa-
cientes que perdem parte ou a totalidade da visão. Essa síndrome foi primeiro 
descrita pelo filósofo e biólogo suíço Charles Bonnet (1720–1793), a quem a 
síndrome foi nomeada (EPERJESI; AKBARALI, 2004). Bonnet descreveu o caso 
de seu avô, de 89 anos, que começou a experienciar alucinações de pessoas, 
prédios e carruagens, mas sabia dizer que elas não “estavam realmente lá”. 
O próprio Bonnet teve sintomas dessa síndrome nos seus últimos anos de 
vida (EPERJESI; AKBARALI, 2004). Os pacientes com a síndrome têm total ou 
parcial consciência da não realidade das suas alucinações, fazendo com que 
os termos pseudoalucinação ou alucinação não psicótica sejam também 
aplicáveis. Em uma entrevista, o neurologista e prosopagnosíaco Oliver Sacks, 
mencionado anteriormente, descreve seu encontro com uma paciente idosa 
com síndrome de Charles Bonnet:
Há alguns meses, recebi um telefonema de uma casa de saúde onde trabalho. Eles 
me disseram que uma de suas residentes, uma senhora idosa em seus 90 anos, 
estava 'vendo coisas' e eles se perguntaram se ela tinha enlouquecido ou, porque 
ela era uma senhora idosa, se ela teve um derrame ou se tinha Alzheimer. E então 
eles me perguntaram se eu iria ver Rosalie.
Percepção e intervenção clínica12
Entrei para vê-la, ficou evidente de imediato que ela estava perfeitamente sã. 
Ela ficou muito assustada e muito perplexa porque estava vendo coisas, e ela me 
disse que era cega, mas agora, nos últimos dias, ela tinha visto coisas. Então eu 
disse: 'Que tipo de coisas?' E ela disse, 'Pessoas em vestidos e cortinas orientais, 
subindo e descendo escadas. Um homem que se vira para mim e sorri, mas tem 
dentes enormes em um lado da boca. Animais também. Vejo um prédio branco, 
está nevando, neve fofa. ' Eu disse: 'Isso é como um sonho?' Ela disse: 'Não, não é 
como um sonho, é como um filme. Tem cor, tem movimento, mas é completamente 
silencioso, como um filme mudo. E é um filme bastante enfadonho, todas essas 
pessoas com trajes orientais andando para cima e para baixo, muito repetitivo, 
muito limitado.'
E eu então disse a ela: 'Acho que sei o que você tem. Existe uma forma especial 
de alucinação visual que pode acompanhar a deterioração da visão ou cegueira. 
Isso foi originalmente descrito, 'eu disse,' lá no século 18, por um homem chamado 
Charles Bonnet, e você tem a síndrome de Charles Bonnet. Não há nada de errado 
com seu cérebro, não há nada de errado com sua mente, você tem a síndrome de 
Charles Bonnet (MALCOLM et al., 2020, documento on-line, grifo nosso).
A síndrome de Charles Bonnet é uma condição na qual pessoas, depois 
de perderem toda ou parte da visão, experienciam alucinações (ou 
pseudoalucinações) visuais enquanto mantêm insights sobre a “falsa” natureza 
destas.
A síndrome de Charles Bonnet é mais comum do que a síndrome de 
Anton. Para a população geral, estimativas de prevalência variam en-
tre 1 e 10% (SHIRAISHI et al., 2004); para aqueles com condições visuais 
associadas à idade avançada, estimativas indicam 12% (LE et al., 2021). 
Fatores de risco incluem idade acima de 64 anos, isolamento social e baixa 
capacidade cognitiva (SCHADLU; SCHADLU; SHEPHERD, 2009). Em um estudo 
com 446 participantes que tiveram sintomas da síndrome de Charles 
Bonnet nos últimos 10 anos, 86% tiveram perda da visão relacionada a 
idade e 64% tinham realizado uma cirurgia de catarata (LE et al., 2021). 
No mesmo estudo, 288 participantes descreveram suas alucinações, que 
duraram em média três anos e eram compostas de formas diversas, na 
sua maioria de pessoas e faces. As alucinações também podem incluir 
linhas, pontos e outras formas geométricas, paisagens, animais e cria-
turas fantásticas. Estudos indicam que as alucinações características da 
síndrome de Charles Bonnet podem diminuir e até desaparecer depois 
de tratado o processo de perda da visão subjacente (EPERJESI; AKBARALI, 
2004). Uma das explicações mais aceitas sobre a causa da síndrome é a 
“teoria da privação”, a qual propõe que, na ausência de ou na drástica 
Percepção e intervenção clínica 13
redução da percepção visual (p. ex., cegueira), o cérebro produz imagens 
espontaneamente, que seriam as alucinações características da síndrome 
(EPERJESI; AKBARALI, 2004).
Disfunções da percepção na prática clínica: 
os casos da prosopagnosia e da síndrome de 
Charles Bonnet
Disfunções da percepção podem contribuir para elevado sofrimento psicoló-
gico e reduzida adaptabilidade social. Elas são muitas e acontecem em todas 
as modalidades sensoriais. A seguir aprofundaremos o contexto clínico nos 
casos de prosopagnosia e de síndrome de Charles Bonnet.
Prosopagnosia
Algumas propostas de tratamento de prosopagnosia já foram feitas, e resul-
tados sugerem que alguns treinamentos de reconhecimento de face podem 
ajudar. No entanto, os resultados são preliminares e mais estudos e com 
amostras maiores são necessários para investigar os efeitos a longo prazo 
e a generalização para outras áreas da vida (SUSILO; DUCHAINE, 2013). Mayer 
e Rossion, em 2007, relataram encontrar apenas quatro estudos sobre inter-
venções para prosopagnosia (MAYER; ROSSION, 2007). Em um desses estudos, 
após dois anos de treinamento em reconhecimento de faces quase diários, a 
paciente não apresentou nenhuma melhora (ELLIS; YOUNG, 1988).
A gravidade da prosopagnosia varia e são raros os casos de prosopag-
nosíacos “puros”. Mayer e Rossio (2007) relatam um desses casos: PS, uma 
enfermeira e professora que era incapaz de reconhecer o marido e a filha sem o 
auxílio da voz. Após umaintervenção de reabilitação que durou quatro meses, 
com duas sessões por semana, PS apresentou melhora no reconhecimento 
de faces. No entanto, os autores concluíram que a reabilitação não tratou a 
prosopagnosia, mas diminuiu as consequências negativas dessa condição 
na vida diária da paciente (MAYER; ROSSIO, 2007).
Prosopagnosíacos podem se beneficiar de estratégias mais efetivas para 
usar pistas não visuais (como voz, sotaque e gestos) ou não relacionadas ao 
rosto (como cor do cabelo, penteado, tatuagem, cicatriz, piercing, acessórios) 
para auxiliar no reconhecimento de outras pessoas. E também podem utilizar 
estratégias mediadas por terceiros, como no exemplo pessoal: durante o 
meu estágio em avaliação psicológica, pré-requisito para minha graduação 
Percepção e intervenção clínica14
em psicologia, conheci uma pessoa com prosopagnosia. Ela trabalhava com 
educação especial para crianças, mais frequentemente com crianças com 
deficiência visual e, para minha surpresa, também morava na minha rua. Em 
um dos meus primeiros dias no estágio, ela me informou que tinha dificul-
dade de reconhecer rostos e que ajudaria se eu me apresentasse no início 
das conversas. A partir daí, passei a iniciar todos os meus diálogos com ela 
dizendo “É a Marina”. 
Síndrome de Charles Bonnet
Para a síndrome de Charles Bonnet, a primeira e mais usual intervenção é a 
psicoeducação sobre a síndrome, que inclui a informação de que as alucina-
ções são benignas e uma explicação sobre a causa da síndrome, utilizando 
a analogia do “membro fantasma” (EPERJESI; AKBARALI, 2004). Em seguida, 
intervenções oftalmológicas e/ou farmacológicas podem ser indicadas (EPER-
JESI; AKBARALI, 2004). Frequentemente, pacientes com essa síndrome sofrem 
por antecipar que as alucinações sejam um sinal de perda da capacidade 
cognitiva, como um quadro de Alzheimer. Assegurar ao paciente que esse 
não é o caso (excluindo a existência de comorbidades) pode ser suficiente 
para significativamente reduzir o estresse (SCHADLU; SCHADLU; SHEPHERD, 
2009). Um exemplo é o que foi dito por Oliver Sacks ao encontrar uma paciente 
idosa com síndrome de Charles Bonnet, como comentado na seção anterior. 
Ao informá-la sobre seu diagnóstico, Sacks a tranquiliza dizendo que “Não 
há nada de errado com seu cérebro, não há nada de errado com sua mente, 
você tem a síndrome de Charles Bonnet.” (MALCOLM et al., 2020).
Em um estudo com 30 pacientes com síndrome de Charles Bonnet, 17 
expressaram preocupação, 19 tiveram receio de serem classificados como 
insanos se admitissem as alucinações e 10 temiam que as alucinações eram um 
sinal de inevitável insanidade (MENON, 2005). Experiências alucinatórias são 
quase sempre admitidas apenas frente a um questionamento direto (MENON, 
2005). Esse dado sugere que um ambiente acolhedor e uma escuta livre de 
julgamentos podem ser adequados. No entanto, o profissional deve sempre 
ter em mente que alucinações (e pseudoalucinações) podem ser causadas por 
outros fatores (p. ex., transtorno bipolar, esquizofrenia e outros transtornos 
neurológicos) e que maiores investigações podem ser necessárias.
Outras intervenções possíveis são as de natureza social e psicológica. 
Dado que o isolamento social pode contribuir para alucinações associadas 
à síndrome de Charles Bonnet, intervenções em grupo podem ser indicadas. 
Uma possibilidade nesses casos é encorajar compartilhamento de experi-
Percepção e intervenção clínica 15
ências e técnicas para reduzir a duração das alucinações. Alguns exemplos 
são: aumentar a iluminação dos espaços internos, piscar e se concentrar em 
algo diferente (EPERJESI; AKBARALI, 2004).
A percepção está entre os processos psicológicos mais relevantes para a 
prática clínica. Toda a nossa experiência, passada e futura, e o consequente 
significado que damos a ela, depende da nossa percepção do mundo real. No 
entanto, como vimos, nossa percepção com frequência falha e nós percebemos 
o mundo de maneira distorcida ou percebemos algo que não é real. Essas 
falhas, distorções da percepção, frequentemente devem ser abordadas ou 
trabalhadas na prática clínica do psicólogo e existem técnicas baseadas em 
evidências que sugerem possíveis caminhos para intervenção.
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