Prévia do material em texto
CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Processos de Ensino Natalie Brito Olá, aluna (o) do CBI! Seja bem-vinda (o) a continuidade da disciplina de processos de ensino! A análise do Comportamento Aplicada vem se dedicando há décadas a pesquisas aplicadas sobre procedimentos de ensino e sua efetividade. A disciplina anterior e a presente trazem um resumo dos principais procedimentos de ensino utilizados por analistas do comportamento para a instalação e o fortalecimento de comportamentos. Na primeira parte da disciplina, especificamente, falaremos sobre economia de fichas, modelagem, modelação e contrato comportamental para o fortalecimento de repertórios. Na segunda parte, abordaremos procedimentos e conceitos utilizados para GERAR RESPOSTAS NOVAS, ou seja, procedimentos de ensino que têm a GENERATIVIDADE como aspecto central. Precisamos fazer uma advertência em relação a essa disciplina: ela não é um livro de receitas! Por mais que estejamos falando de procedimentos de ensino aqui, a prática supervisionada é indispensável para a boa formação do analista do comportamento! Então, a disciplina fornecerá uma base para a sua prática, que deverá ser supervisionada sempre! Recomendamos também que aprofunde a leitura de cada um dos procedimentos, por meio de artigos e livros na área. Lembre-se também que essa apostila é complementar ao ensino, um suporte à aula. É o pontapé inicial na sua jornada! 1. Economia de Fichas A economia de fichas é um procedimento abordado nesse conteúdo, mas que poderia ser facilmente trazida na disciplina de manejo de comportamento também, uma vez que também é um procedimento bastante utilizado para redução de comportamentos. A economia de fichas é, provavelmente, um dos procedimentos mais antigos na Análise do Comportamento Aplicada, com o primeiro sistema sendo aplicado na década de 60, em contexto de intervenção psiquiátrica institucional (Boerke & Reitman, 2011). Ela pode ser definida como: CBI of Miami 4 “(...) descrições formais de relações contingentes (definidas aqui como antecedentes, comportamentos e consequências) que buscam modificar ou influenciar comportamentos por meio da entrega de reforçadores condicionados. Antecedentes (ex.: estímulos discriminativos ou ajudas) são eventos que precedem um comportamento que, quando especificado como parte de um sistema de economia de fichas, indica um dado comportamento que deve e ser emitido. Comportamentos são ações especificadas em uma relação de contingência. Consequências na forma de reforçadores “backup” que devem seguir a performance do comportamento confiável. Frequentemente, a emissão do comportamento sinaliza a entrega de uma consequência imediata e incentivos maiores e progressivos de longo prazo” (Boerke & Reitman, 2011, p. 370). Existem três palavras-chaves para compreender o conceito de economia de fichas: o de comportamento, de ficha (como reforçador condicionado) e de consequência backup. O conceito de comportamento já foi extensivamente abordado nesse curso. Detalharemos os dois últimos conceitos. A ficha, nesse sistema, funciona como um reforçador condicionado – um estímulo que não era reforçador incialmente, mas que adquiriu poder reforçador por ser pareado a outros reforçadores. O dinheiro, por exemplo, é um tipo de reforçador condicionado que dura e pode até ser trocado por outro reforçador – dizemos que esse tipo de reforçador é chamado de token. O sistema no qual trocamos tokens por outros reforçadores para fortalecer comportamentos desejados é chamado economia de fichas. Os reforçadores backup, ou de troca devem ser sabiamente escolhidos, com cuidado ético de não colocar reforçadores primários (ex.: comida, conforto) nesse lugar, pois isso significaria que o sujeito seria privado disso por um tempo. Martin & Pear (2009) sugerem algumas etapas iniciais na implementação de um sistema de economia de fichas: A. Escolher o(s) comportamento(s) alvo(s): é importante sinalizar que o alvo escolhido deve estar operacionalizado principalmente (ter uma definição clara, completa e objetiva) em termos de sua função. A topografia pode estar descrita CBI of Miami 5 para especificar a definição. É importante também que o comportamento seja um alvo possível de ser atingido. Como o sistema de economia de fichas pode ser implementado em grupo, o comportamento escolhido para as pessoas do grupo deve ser compreendido por todos, que terão repertórios similares. B. Coletar linha de base: A linha de base é o dado (frequência, duração, intensidade, latência...) do comportamento antes da implementação de uma intervenção e serve para sinalizar a eficácia de um programa de ensino. C. Selecionar reforçadores backup: Sem esquecer dos aspectos éticos já mencionados, é importante ressaltar que a economia de fichas traz como facilidade o fato de que podemos selecionar uma ampla variedade de reforçadores de troca, uma vez que o aluno não terá acesso imediato a ele. É importante considerar como esses reforçadores serão obtidos e o método de troca também (ex.: serão trocados em uma “lojinha?). D. Selecionar o tipo de ficha: As fichas podem ter qualquer forma, no entanto, há recomendações gerais para que sejam leves, duráveis, fáceis de carregar e seguras para quem vai receber. E. Identificar a disponibilidade de pessoal: quem irá dispensar as fichas? Quem irá auxiliar na troca por reforçadores de troca? Essa pessoa recebeu treinamento para fazê-lo? Ela estará disponível quando necessário? Essas são perguntas importantes a se fazer nesse tópico. F. Escolher o local. Martin & Pear (2009) também listam uma série de procedimentos que facilitam a inicialização do sistema de economia de fichas. Por exemplo, eles destacam que, mesmo que haja muitas pessoas dispensando fichas, o ideal é que uma pessoa seja escolhida para reforçar comportamentos específicos em determinados momentos. Eles também sugerem que o número de fichas seja reduzido gradativamente e que o esquema de reforçamento seja paulatinamente modificado de contínuo para sistemas intermitentes. Por fim, é importante ressaltar que, como em qualquer procedimento analítico comportamental, o uso de um bom sistema de registro de dados é fundamental para acompanhar o progresso da eficácia da intervenção e, CBI of Miami 6 sobretudo, para identificar falhas ao endereçar as soluções. É importante que, o sujeito que planeja um sistema de economia de fichas seja competente na área e possua experiência e expertise em análise do comportamento aplicada, afinal, é um sistema que envolve a aplicação e o conhecimento de diversos conceitos da área. 2. Modelagem A modelagem é um procedimento bastante utilizado para instalar comportamentos novos e, assim como a economia de fichas, também é um procedimento antigo na análise do comportamento. Ela é definida como “o desenvolvimento de um novo comportamento por meio do reforçamentosucessivo de respostas cada vez mais próximas do comportamento final desejado e da extinção de respostas anteriormente emitidas” (Martin & Pear, 2009, p. 146). Para compreensão do conceito supracitado, podemos destacar dois pontos: 1. Reforçamento diferencial e 2. Respostas próximas da final. São as chaves para entender a modelagem. Para modelar um comportamento novo (ex.: escrever a letra M) precisamos saber qual a resposta final esperada e a partir daí estabelecer uma lista de respostas sucessivas que se aproximam cada vez mais da resposta final e, a partir daí, reforçar cada resposta da lista enquanto coloca as respostas inferiores em extinção. Se uma criança está aprendendo a dizer “ajuda”, por exemplo, começamos reforçando a primeira resposta mais próxima da final (por exemplo, dizer “a). Posteriormente, quando ela já estiver numa etapa na qual diz “auda” não vamos mais reforçar a resposta de dizer “a” e sim, a atual. Podemos modelar não somente a topografia (forma) da resposta, mas também a sua frequência, sua duração, sua latência e até sua intensidade (imagine, por exemplo, a modelagem do comportamento de levantar uma barra em uma atividade física). Martin & Pear (2009) sugerem algumas diretrizes para aplicação eficaz da modelagem: 1. Selecionar o comportamento final (que deve ser específico e, de preferência, deverá ser mantido por contingências naturais); 2. Selecionar CBI of Miami 7 o reforçador apropriado; 3. Traçar um plano inicial com uma lista das aproximações sucessivas, que podem ser modificadas ao longo do programa; 4. Colocar o plano em prática. Para colocar o procedimento em prática, é necessário informar ao aprendiz antes de começar e iniciar reforçando imediatamente cada ocorrência do comportamento inicial. Estabeleça um critério para considerar a próxima etapa da lista (um critério comum é o de execução correta da etapa entre 6 a cada 10 tentativas). Erros comuns em modelagem ocorrem quando o instrutor reforça excessivamente uma determinada etapa, ou quando o aprendiz para de trabalhar ou começa a “chutar” as respostas. Nesse caso, reveja a programação, a operação motivadora, a dificuldade da tarefa e o sistema de reforçamento utilizado. Por fim, é importante ressaltar que a prática desse procedimento, assim como de todos os outros deve ser planejada por um analista do comportamento competente ou por um aprendiz em supervisão. A modelagem é uma excelente ferramenta para instalação de comportamentos novos quando planejada e executada por profissionais experientes e competentes. Caso contrário, gera o risco de fortalecer comportamentos danosos e/ou disruptivos. 3. Modelação É muito comum vermos alunos confundindo o conceito de modelagem com o de modelação. Como dissemos em tópico anterior, a modelagem é um procedimento que visa a instalação de um comportamento novo via reforçamento diferencial de aproximações sucessivas de uma resposta final. A modelação, por sua vez, é a aprendizagem por MODELO ou por IMITAÇÃO. O que elas possuem em comum é o fato de que ambos os procedimentos ensinam comportamentos novos. Crianças com desenvolvimento típico aprendem rapidamente por meio de imitação, principalmente habilidades sociais. A imitação, então, é um repertório crucial para o desenvolvimento de comportamentos socialmente relevantes e é uma classe de comportamentos operante, que está sensível às consequências como qualquer outro e que, devido a isso, pode ser ensinada. CBI of Miami 8 Cooper, Heron & Heward (2020) definem o comportamento de imitação a partir de quatro critérios: um estímulo modelo (que pode ser planejado ou não planejado); uma similaridade formal entre modelo e comportamento de imitação; uma relação temporal entre modelo e comportamento de imitação e o modelo como variável principal que controla a resposta de imitação. Quando somos capazes de imitar estímulos sem nenhum treino (ex.: imitamos alguém comprando um ticket para o metrô), dizemos que possuímos o repertório de imitação generalizada. Algumas pessoas com quadros de desenvolvimento atípico têm lacunas em imitação generalizada e, para esses casos, realizamos treinos de imitação. Os protocolos de treino de imitação sistematizam sessões ativas e breves de treino e usam princípios de reforçamento e ajudas para instalar respostas de imitação (Cooper, Heron & Heward, 2020). Quando o aprendiz possui repertório imitativo, a modelação pode se tornar uma potente ferramenta de ensino. A modelação é uma estratégia de modificação de comportamento para a qual aprendizes aprendem, por meio de modelos ao vivo ou simbólicos, novos comportamentos. Existem variações dessa estratégia, como a videomodelação, que utiliza vídeos representando o comportamento a ser ensinado. Novamente enfatizamos: é necessária experiência e leituras específicas na área para o ensino da videomodelação. Existem algumas diretrizes gerais para uma modelação efetiva (Cooper, Heron & Heward, 2020): 1. O aprendizado é mais provável quando o modelo tem similaridade com o aprendiz; 2. Também é mais provável a imitação quando esse modelo é uma referência de prestígio para o aprendiz; 3. Na produção do modelo, é importante enfatizar o aspecto crítico do comportamento que está sendo ensinado; 4. Instruções sobre a tarefa modelada podem enriquecer a aprendizagem; 5. Quando o contexto do modelo é similar ao do aprendiz, o comportamento é mais provável de ser imitado; 6. O uso de ensaios comportamentais (role playing) e de feedbacks pode otimizar a aprendizagem e 7. O princípio do reforçamento, além de aumentar a probabilidade do comportamento de imitar, também o aumenta quando o aprendiz percebe que o modelo também está tendo o comportamento reforçado. CBI of Miami 9 Um outro conceito relativo ao campo da imitação é o de aprendizagem observacional, a qual “implica em detectar o comportamento de outra pessoa e suas consequências e usar essa informação para determinar se irá imitar ou não aquele comportamento” (Cooper, Heron & Heward, 2020, p. 579). Esse tipo de aprendizagem envolve imitação, mas não implica, necessariamente, que ela será utilizada (você pode ver alguém fazendo algo e decidir imitar ou não a pessoa). Existem três requisitos críticos para a aprendizagem observacional: a pessoa precisa saber imitar, atentar a um estímulo e discriminar. Por isso que falamos tanto em ensino de comportamentos requisitos para aprendizagem por observação. 4. Comportamento Governado por Regras e Contrato Comportamental Como descrito em princípios básicos, podemos aprender nos expondo diretamente à contingência, observando pessoas se comportando ou por regras. Uma regra é uma “descrição oral ou escrita de uma contingência de reforçamento de três termos (antecedente – comportamento – consequências)” (Martin & Pear, 2009, p. 248). Comportamentos controlados por uma regra são chamados “comportamentos governados por regras”. Um procedimento de ensino que utiliza o controle por regras em seu cerne é o contrato de contingências, ou contrato comportamental. “É um documento que especifica uma relação contingente entre a finalização de um comportamento-alvo e o acesso ou entrega de uma consequência específica” (Cooper, Heron & Heward, 2020, p. 724). Ele é bastante usado para modificação de comportamentos acadêmicos, controle de peso, aderência a regras médicas e habilidades atléticas (Copper, Heron & Heward, 2020, p. 724). Um contrato comportamental pode ser aplicado em casa, na sala de aula, na clínica ou em qualquer outro contexto, com uma pessoa ou com um grupo de pessoas. Seus componentes básicos sãoa tarefa, a recompensa e o registro da tarefa (todo contrato comportamental necessita desses três componentes, no mínimo). Sua execução começa com um encontro para estabelecer as regras, os passos e o funcionamento do contrato. Após escolher uma tarefa para cada pessoa, como será a execução dessa tarefa e como será CBI of Miami 10 registrado, o contrato é assinado pelos participantes (o aprendiz não precisa saber ler, ele pode “assinar” de outras formas). Para que contratos comportamentais funcionem, precisam ser claros, justos e honestos. Não adianta o aprendiz cumprir as tarefas e as consequências não estarem disponíveis, por exemplo. Também não adianta fornecer tarefas com um alto custo de resposta ou muito longas, que provavelmente não irão gerar acesso às consequências estipuladas. Exemplos de contratos comportamentais podem ser facilmente encontrados com uma simples busca em um buscador da internet usando a expressão chave behavioral contract. É importante ressaltar que essa é uma ferramenta útil quando alinhada aos princípios do behaviorismo radical e a outros procedimentos de ensino analítico comportamentais. 5. Procedimentos de Ensino de Generalização Existem diversas estratégias de ensino para o planejamento da generalização de comportamentos. Para que possamos entendê-las, necessitamos revisar o conceito de generalização. 5.1 Definindo Generalização O comportamento generalizado é uma das sete dimensões da ABA. De nada adianta você ensinar um comportamento em contexto instrucional (contexto de ensino) se o aprendiz não o emite na “vida real”, ou seja, em contexto de generalização. Chamamos de contexto de generalização qualquer lugar ou situação de estímulo que difere do contexto instrucional de ensino de alguma forma significativa. Alguns conceitos são bastante relevantes quando falamos de generalização: generalização de estímulos, generalização de respostas e manutenção de respostas. A generalização de estímulos acontece quando uma determinada resposta é mais provável em determinada situação por ter sido reforçada na presença de outra situação. O sujeito responde da mesma forma a dois ou mais estímulos diferentes. Ela pode ocorrer devido à semelhança física entre os estímulos ou com semelhança física mínima. Nesse último caso, a pessoa CBI of Miami 11 aprende uma classe de estímulos com um ou mais elementos em comum, mas note que o fator similaridade física ainda tem um peso. Quando não há similaridade física entre os estímulos, diz-se que a generalização de estímulos é aprendida devido à classe de equivalência de estímulos (estudaremos equivalência no próximo tópico) (Martin & Pear, 2009, p. 248). A generalização de estímulos, combinada ao processo de discriminação, é bem importante para a formação de conceitos. Além disso, treinos de discriminação e atenção ao controle de estímulos são fatores bem importantes para o analista do comportamento se atentar no ensino. Quando há falha de controle de estímulos no treino, pode acontecer um fenômeno chamado overgeneralization (ou supergeneralização, tradução livre), no qual o aprendiz emite o comportamento sob uma ampla gama de estímulos, inadequados às vezes (ex.: um bebê que chama tudo de papá). A generalização de respostas, por sua vez, é a extensão na qual um aprendiz emite respostas não treinadas com a mesma função do comportamento alvo (por exemplo: você é treinado a fechar sapatos com fivela, mas não é treinado a fechar com velcro, mas o faz mesmo assim). A manutenção de respostas é relativa à extensão na qual um sujeito continua emitindo um comportamento mesmo quando a intervenção terminou. É um tipo de generalização temporal. Frequentemente, na prática, fazemos sondas de manutenção para testar se o comportamento se mantém no repertório do sujeito ou se deteriorou. Essas sondas são testes realizados em períodos cada vez mais espaçados. Além da generalização de estímulos, de respostas e da manutenção, existem outras formas de operacionalização de aprendizagem de comportamentos generalizados, que envolvem diferentes procedimentos de ensino: equivalência de estímulos, recombinação generativa e teoria das molduras relacionais. Todos eles se preocupam em estudar COMPORTAMENTO NOVO, ou seja, como conseguimos emitir respostas novas com um mínimo de treino. Esses tópicos serão abordados adiante nessa disciplina. CBI of Miami 12 5.2 Planejando a Generalização Como exposto anteriormente, o ensino da generalização também deve ser planejado. Cooper, Heron & Heward (2020) sugerem algumas diretrizes para esse planejamento: podemos selecionar alvos que irão encontrar contingências naturais de reforçamento e/ou especificar todas as variações desejadas do alvo e dos settings de generalização. A primeira estratégia vem ao encontro da regra de relevância do comportamento, a qual diz que os comportamentos escolhidos em uma intervenção devem produzir reforçadores em ambiente natural. Ou seja, o comportamento que você ensina ao seu aprendiz deve encontrar, de alguma forma, fonte de reforçamento no ambiente de contingências naturais dele (ou seja, em ambientes nos quais o instrutor não está presente). Essa estratégia deve ser levada em consideração desde a programação de ensino, ou seja, na escolha dos objetivos que serão ensinados. A próxima estratégia envolve listar todos os comportamentos que precisam ser modificados e todas as situações em que ele deverá ser emitido. Quando listamos essas situações, colocamo-las como centrais para o critério de generalização de aprendizado (ex: o aprendiz precisa emitir o comportamento no contexto escolar, com colegas e no parquinho). A partir desse planejamento, conseguimos saber se a intervenção está produzindo dados, de fato, significativos na vida do sujeito. Além dessas estratégias sondas de generalização são importantíssimas para uma intervenção. Sondas são pequenos testes com estímulos novos. Elas devem ser programadas antes do ensino, durante o ensino e depois do ensino. Elas fornecem pistas sobre o status da generalização de estímulos e do nível de ajuda requerido para o treino. 5.3. Ensinando a Generalização Além de planejar a generalização, planejamos estratégias de ensino para promover mudanças generalizáveis de comportamento. São 15 estratégias, divididas em cinco grandes grupos, resumidos nas linhas laranjas da tabela a seguir. As linhas numeradas e sublinhadas são as estratégias de ensino. CBI of Miami 13 Estratégias de ensino de mudanças comportamentais generalizáveis (Um resumo de Cooper, Heron & Heward, 2020, tradução livre) Ensinar uma ampla gama de Condições Relevantes de Estímulos Respostas 1. Ensino de exemplos suficientes de estímulos: Nessa estratégia, selecionamos múltiplos exemplares de estímulos para ensinar e outros para fazer sondas (testes). Uma variação dessa estratégia é o treino de matriz, abordado em aula posterior. 2. Ensino de exemplos suficientes de respostas: Essa estratégia também é chamada de MEI (treino de múltiplos exemplares). Aqui, incorporamos variações de ensino de múltiplos estímulos e múltiplas respostas para uma mesma classe de estímulos. Por exemplo: ensinamos respostas de tato e pareamento e treinamos respostas de ouvinte para diferentes exemplares. 3. Análise de Caso Geral: é um método sistemático de escolha dos exemplares que serão ensinados. 4. Ensino de exemplos negativos: Nessa estratégia, ensinamos ao sujeito situações nas quais ele não deve emitir o comportamento ensinado (ex.: ensinarquando não cumprimentar as pessoas). Tornar o contexto de instrução similar ao contexto de generalização 5. Programar estímulos comuns: É uma estratégia na qual incorporamos estímulos típicos e relevantes do contexto de generalização no contexto de ensino (ex.: ensinamos a criança a amarrar o cadarço com seu próprio sapato). 6. Teach Loosely: Traduzimos essa estratégia como ensino flexível, o qual diz respeito à variação de aspectos não críticos do ambiente de ensino nas sessões (ex.: variar o tom de voz da instrução, colocar ruídos de fundo, variar CBI of Miami 14 a posição dos estímulos...). Maximizar o contato com reforçamento no contexto de generalização 7. Ensinar comportamentos aos níveis requeridos por contingências naturais: muitas vezes, a generalização não ocorre devido à emissão do comportamento não ser fluente. Respostas com latências muito longas, durações muito curtas ou taxas muito baixas podem não ser suficientes para serem selecionadas pelo ambiente. Na programação de ensino, essas características devem ser planejadas. 8. Programar contingências indiscrimináveis: Contingências indiscrimináveis são aquelas nas quais o aprendiz não consegue perceber se a próxima resposta será reforçada ou não. Isso envolve tornar o esquema de reforçamento gradativamente mais próximo do contexto de generalização. 9. Planejar armadilhas comportamentais: Armadilhas comportamentais são contingências poderosas, que produzem mudanças em longo prazo (exemplo: ensinar um comportamento com um alto custo de resposta em um parque de diversões). 10. Pedir para pessoas reforçarem o alvo, no contexto de generalização: Muitas vezes, orientar pessoas chaves no contexto do aprendiz a reforçar respostas adequadas de uma forma também adequada é uma estratégia poderosa para programar generalização. 11. Ensinar o aprendiz a recrutar reforçamento: Ensinar respostas chaves que produzem reforçamento podem facilitar a generalização (ex.: ensinar um aluno a perguntar para o professor “como estou indo nessa tarefa?”). Mediar a generalização 12. Criar estímulos mediadores: são estímulos que facilitam a generalização em ambiente natural. Devem ser funcionais e transportáveis. (Ex.: carregar CBI of Miami 15 uma pista visual de ajuda). 13. Ensinar habilidades de auto manejo: existe uma gama de estratégias de auto manejo que podem ser ensinadas para que o próprio sujeito crie condições de ensino para si mesmo. Ensinar uma pessoa a ir ao supermercado após almoçar, por exemplo, pode ser uma estratégia útil de manejo de contingência para minimizar o comportamento de escolher comidas calóricas. Treinar para generalizar 14. Reforçar a variabilidade comportamental: Reforçar a emissão de comportamentos variados pode aumentar repertório criativo e flexível e reduzir frequência de rigidez comportamental. Uma forma de reforçar a variedade é por meio do esquema LAG de reforçamento. 15. Instruir o aprendiz a generalizar: Nessa estratégia, ensinamos o sujeito, durante as sessões, a sistematicamente buscar contingências de generalização para o seu comportamento. Note que a tabela exposta faz um resumo das estratégias elencadas por Cooper, Heron e Heward no livro Applied Behavior Analysis. Infelizmente, não há ainda (até o início de 2022, quando essa apostila foi redigida) literatura em português que disserte sobre tais estratégias. Dessa forma, aconselhamos fortemente que cada estratégia seja estudada no livro indicado e discutida em prática supervisionada, antes de realizar prática independente. 6. Procedimentos de Ensino e Generatividade No tópico anterior, falamos sobre comportamento generalizável, comportamento NOVO. Pesquisadores na Análise do Comportamento têm se dedicado cada vez mais a esse campo de estudos. A preocupação central dessa área é: como gerar o máximo de comportamento sem treino, a partir de treinos mínimos? Existem várias correntes teóricas e aplicadas dentro da análise do comportamento se preocupando com essa pergunta. Exploraremos CBI of Miami 16 as principais nesse tópico. 6.1 Unidades de Ensino Greer & Ross (2007) partem das definições de comportamento verbal do Skinner para construir um sistema de intervenção com foco na ampliação do repertório linguístico e fluência de fala. Eles desenvolvem protocolos de ensino com base em comportamento verbal para a formação de comportamentos novos (cúspides comportamentais). Uma abordagem relacionada ao comportamento verbal será aprofundada na disciplina de operantes verbais, nessa pós-graduação. No entanto, trazemos a definição de “unidades de ensino”, abordada pelos autores, como ponto de partida para a nossa discussão de ensino generativo. Uma unidade de ensino é um “potencial interlocução entre contingências de três termos para estudantes e pelo menos duas contingências de três termos para professores (...). Elas mensuram a ocorrência de antecedentes, comportamentos e consequências para ambos (...) durante a instrução” (Greer & Ross, 2007, p. 46, tradução livre). Os autores propõem uma tabela para operacionalizar o conceito: Unidade de ensino do professor. Componentes Instrucionais. Resposta do estudante a unidade de ensino (contingência de três termos). Primeiro antecedente do professor. Professor obtém a atenção do aluno. Primeiro comportamento do professor. Professor segura um pedaço de bolacha e espera 3 segundos por uma resposta. Primeiro antecedente do estudante. Primeira consequência do professor (reforçamento positivo) / Segundo antecedente do Aluno diz “eu quero bolacha, por favor” dentro dos três segundos de Primeiro comportamento do estudante. CBI of Miami 17 professor. oportunidade de resposta. Segundo comportamento do professor. Professor fornece um pedaço de bolacha ao aluno. Primeira consequência do estudante (reforçamento positivo). Segunda consequência do professor. Professor registra a resposta do estudante e a unidade de ensino está completa. Greer & Ross (2007, p. 48 – Figura 2.3 – Tradução livre). Os autores sugerem um ensino operacionalizado em inúmeras unidades de ensino e a elaboração de gráficos com a evolução dos repertórios do estudante. Paralelamente ao ensino, o instrutor deverá realizar sondas de generalização e graficar as respostas novas (de generalização). Para tanto, eles sugerem a utilização de General Case Instruction (ou Instrução de Caso Geral – tradução livre) para o ensino de abstrações de estímulos ou conceitos. “No procedimento de caso geral você garante que o aspecto alvo do estímulo está presente, e você apresenta uma gama de apresentações irrelevantes. Por exemplo, se você está ensinando as cores, apresente a cor em múltiplos exemplares variando em formas, tamanhos, texturas, e pequenos detalhes diferentes. O distrator não exemplar – a resposta errada – deve ser randomizada. Portanto, no caso das cores, diferentes cores não alvo devem ser apresentadas como distratores ou exemplo errado. Isso aumenta a probabilidade de você ensinar o controle de estímulos essencial” (Greer & Ross, 2007, p. 61). A apresentação e registro de unidades de ensino e o treino de generalização com caso geral são apenas um pequeno aspecto dos protocolos desenvolvidos por esses autores. Esses protocolos devem ser parte da formação sólida de um analista do comportamento que trabalha com desenvolvimento de repertórios verbais. CBI of Miami 186.2 Instrução Direta Um dos grandes teóricos que se dedicou ao estudo de repertórios generativos foi Siegfried Engelmann, na década de 60 (Spencer, 2021). Ele criou um modelo poderoso de ensino chamado Direct Instruction (ou instrução direta), que tem sido aperfeiçoado e utilizado em vários currículos de ensino desde então. A Instrução Direta é um modelo de ensino que utiliza estratégias efetivas de desenho instrucional para ensino de repertório generativo complexo. Ela se preocupa com a programação de generatividade de uma forma sistemática. Spencer (2021) descreve 10 diretrizes para a elaboração de um design instrucional baseado em instrução direta. Esse artigo é trazido como referência dessa disciplina. Aconselhamos o seu estudo aprofundado. A seguir, um resumo das 10 diretrizes (em tradução livre): 1. Identificar Estratégias Generalizáveis para ensino: Nessa etapa, o profissional identifica as ideias centrais e as habilidades pivotais, conduz uma análise do conteúdo e quais os pontos que precisam de uma consultoria de outros profissionais. 2. Sequenciar o Conteúdo de forma lógica e desenvolvimentista: Após identificar os pontos centrais, o analista conduz análises de tarefa sobre o que os aprendizes precisam aprender a fazer e criam um rascunho de gráfico de sequência, considerando ordem desenvolvimental e pré-requisitos das habilidades. 3. Organizar o conteúdo em Rotas ou Caminhos: As sequências criadas, nessa etapa, viram rotas de ensino verticais. Essas rotas devem facilitar a prática de algumas poucas habilidades em várias lições. As diferentes rotas também se encontram nas mesmas lições. 4. Adotar ou criar uma avaliação que reflita estratégias generalizáveis: Após criar as rotas de ensino, o analista do comportamento decide a forma de avaliação. Essas avaliações devem mesclar conteúdos novos e já adquiridos e devem ser distribuídas com regularidade no currículo. As avaliações servirão para determinar o placement dos alunos nos grupos. 5. Determinar agrupamentos instrucionais: os arranjos de grupo deverão refletir o aprendizado mais eficiente possível. Os dados avaliativos deverão CBI of Miami 19 refletir dados para modificar os grupos. 6. Roteirizar instruções para aprendizes e professores: Esse passo deverá vir depois da completude dos anteriores. O analista deverá criar roteiros pormenorizados do que o professor irá dizer e das respostas do aprendiz. Esses roteiros devem ser de fácil leitura, a fim de serem reproduzidos com fidelidade e devem considerar uma variedade de formas de apresentação instrucional. 7. Priorizar o responder do aprendiz e minimizar a fala do professor: Na programação, o professor deverá evocar o máximo de respostas possível do aprendiz, priorizando o responder a cada 20 segundos. Ele também irá programar a forma de sinal fornecida para a resposta em coro e o uso de cartões de resposta. 8. Ordenar as tentativas instrucionais para discriminação máxima: Algumas diretrizes são importantes para maximizar a discriminação – usar a mesma frase para itens similares; começar uma lição com exemplos e não exemplos; exemplos consecutivos de conceitos devem ser o mais diferente possível um do outro e, ainda assim, possuir os mesmos elementos críticos e deve haver exemplos não ensinados durante a sequência para testar a generalização. 9. Transferir o controle de estímulos por meio de formatos instrucionais intencionais: O analista deverá considerar todos os possíveis elementos de tentativa nos formatos instrucionais e ajustar tais formatos aos alunos, inserindo e removendo pistas e ajudas. Tais formatos instrucionais devem conter práticas guiadas e práticas independentes, com o esvanecimento progressivo e programado de estímulos. 10. Planejar as correções: O analista deverá, por fim, planejar formatos específicos de correção que terminam no aprendiz emitindo a resposta correta. Tais correções devem ser rápidas e imediatas. 6.3 Instrução Baseada em Equivalência Já falamos anteriormente que o paradigma da equivalência de estímulos é um dos que investiga respostas generalizadas. No fenômeno da equivalência, ocorre um efeito mais complexo do controle de estímulos – o responder ocorre para uma série de estímulos perceptualmente diferentes, mas CBI of Miami 20 intercambiáveis entre si. Ela está ligada à formação de conceitos. Um desenho instrucional baseado em equivalência de estímulos incorpora o esse paradigma, por meio de procedimentos de pareamento ao modelo, para a generatividade (emergência de respostas novas). Suponha que eu esteja ensinando a você uma língua nova. Você aprende a relação entre alguns estímulos por meio de treino (por exemplo, aprende a relação entre um objeto e a palavra escrita nessa língua); no entanto, outras relações que não foram diretamente ensinadas EMERGEM, ou seja, são aprendidas sem treino direto (por exemplo: a relação entre a palavra escrita nessa nova língua e o português). Essa intercambialidade entre estímulos sem treino direto explica o porquê de crianças pequenas aprenderem tão rápido novos conceitos. A Instrução Baseada em equivalência tem como propósito, portanto, explicar a INTERCAMBIALIDADE (OU SUBSTUTIBILIDADE) FUNCIONAL entre estímulos que são fisicamente diferentes, mas que possuem TEMÁTICAS SEMELHANTES. As áreas de pesquisa e ensino da instrução baseada em equivalência vão desde ensino de leitura até o ensino da relação entre nomes e rostos (Fryling, Rehfeldt, Tarbox & Hayes, L. J., 2020). O conjunto de procedimentos que compõem a Instrução Baseada em Equivalência têm em comum o fato de requererem respostas de observador e conterem estímulo modelo e vários estímulos comparação (com um deles fazendo parte de uma classe de estímulos). Geralmente, nos procedimentos, são treinadas as relações AB e BC e, a partir daí, as relações de simetria e de transitividade são testadas. (Fryling, Rehfeldt, Tarbox & Hayes, L. J., 2020). Há variações de procedimentos, mas essa forma descrita é uma das mais básicas. Os procedimentos de Pareamento ao Modelo (ou Matching to Sample) têm, dentre as suas variações clássicas, um referente à temporalidade da apresentação do modelo e comparações: se eles são apresentados ao mesmo tempo, chamamos de pareamento simultâneo; se há um intervalo entre as apresentações, denominamos pareamento atrasado. Os protocolos de treino podem ser tradicionais (na qual duas relações são treinadas e todas as outras são testadas depois); simples-a-complexo (que intercala treino -sonda – treino – sonda – do mais simples ao mais complexo) e híbrido (no qual realizamos vários treinos consecutivos e depois fazemos testes do mais simples ao mais CBI of Miami 21 complexo). Felizmente, a área de equivalência de estímulos tem um rico terreno de pesquisa e aplicação nas academias brasileiras. Basta uma simples busca com o termo “equivalência de estímulos” no google escolar para encontrar dezenas de bons artigos. Indicamos alguns no final dessa apostila para você aprofundar seus estudos. 6.4 Ensino Relacional Desde que a equivalência de estímulos emergiu como paradigma explicativo, pesquisadores da área de linguagem começaram a ver a conexão entre linguagem e o responder relacional. Uma linha relativamente recente tem estudado essa relação utilizando o conceito de RRAA (Resposta Relacional Arbitrariamente Aplicada) para isso. Essa linha teórica é chamada de Teoria das Molduras Relacionais (ou RFT, Relational Frame Theory) (Hayes, Barnes- Holmes & Roche, 2001). A RFT afirma que, além de aprendermos a relacionar estímulos temáticos, aprendemos a relacioná-los a partir de dicas contextuais,que podem ser modificadas com base em convenções sociais, para além das propriedades físicas de estímulos. Essa resposta é a Resposta Relacional Arbitrariamente Aplicável. Por exemplo, quando dizemos que música clássica é melhor do que sertaneja, estamos RELACIONANDO esses dois estímulos de forma ARBITRÁRIA (sem relação com propriedades físicas), com base em uma dica contextual (de hierarquia). Até agora, os teóricos da área argumentam que o RRAA é um responder presente apenas em humanos (Fryling, Rehfeldt, Tarbox & Hayes, L. J., 2020). A tal da Moldura Relacional se refere à resposta de EMOLDURAR EVENTOS RELACIONALMENTE (Fryling, Rehfeldt, Tarbox & Hayes, L. J., 2020). Essa resposta tem três propriedades: implicação mútua, implicação combinatória e transformação da função de estímulo. Implicação mútua ocorre quando uma pessoa responde a um estímulo em termos de outro estímulo (ex: se música clássica é melhor do que sertaneja, então, a sertaneja é pior do que a clássica). A implicação combinatória ocorre quando uma pessoa responde a CBI of Miami 22 um estímulo relacionando com outro estímulo com base em relações mútuas entre outros estímulos (ex.: “se música sertaneja é melhor do que brega, então música clássica é melhor do que brega”). A terceira propriedade da resposta de emoldurar é a transformação da função do estímulo. Ela ocorre quando “um determinado estímulo de uma rede relacional possui determinadas funções e serve para modificar as funções de outros estímulos nessa rede relacional de acordo com a função derivada (...). Como resultado, esse estímulo não apenas evocará novo comportamento, mas também evocará o comportamento em outros contextos por causa de sua história relacional com outros eventos (Fryling, Rehfeldt, Tarbox & Hayes, L. J., 2020). No exemplo fornecido anteriormente, a música brega pode passar a ter função eliciadora de respondentes negativos (nojo, raiva), mesmo sem exposição prévia do sujeito a ela, apenas pelas relações de hierarquia que foram estabelecidas e a transferência de função eliciadora do estímulo ‘sertanejo’ para ela. Essa propriedade explica o porquê de determinados estímulos novos passarem a ter funções diferentes na nossa vida (discriminativa, eliciadora, reforçadora...) mesmo sem termos tido contato direto com esse estímulo com essa função. O mais interessante dessa teoria é que o responder relacional, apesar de ter características próprias, é operante, e está sujeito às mesmas leis de quaisquer comportamentos operantes. Alguns quadros relacionais têm sido mais estudados pelos pesquisadores: coordenação, distinção, oposição, comparação, hierarquia e dêitico. O RFT tem tido algumas aplicações para o desenvolvimento da linguagem, também em pessoas com desenvolvimento atípico. Uma das aplicações mais famosas na ABA ao autismo é o currículo PEAK (Promoting Emergence of Advanced Knowledge (Dixon, 2019), um instrumento de avaliação e curricular, com base na RFT, voltado para o ensino de repertórios básicos e avançados a crianças e adolescentes. CBI of Miami 23 6.5 Ensino por Treino de Matriz A matriz é uma ferramenta elaborada para facilitar e conduzir treinos generativos. O treino de matriz ocorre quando planejamos a instrução, organizando componentes do comportamento em, no mínimo, dois eixos. Os cruzamentos desses eixos geram respostas em uma matriz. A diagonal da matriz corresponde aos estímulos que são treinados e os outros campos da matriz, os estímulos testados. Os alvos não diagonais são testados para observar se houve generalização recombinativa. Se não houver, esses estímulos também são treinados. Observe a matriz abaixo, criada pela autora dessa apostila: GRAVA VÍDEOS PARTICIPA DE LIVES ESTUDA AC AÍDA Aída grava vídeos Aída participa de lives Aída estuda AC NATALIE Natalie grava vídeos Natalie participa de lives Natalie estuda AC LUCELMO Lucelmo grava vídeos Lucelmo participa de lives Lucelmo estuda AC O exemplo acima é uma matriz simplificada (no treino de matriz, elas geralmente têm mais linhas e colunas). Imagine que você precisa aprender a tatear as ações acima (ex.: Aída grava vídeos). No treino de matriz, você receberia treino de tato para os estímulos em amarelo e após adquiri-los, seriam testados os estímulos dos quadros em branco. Se esses últimos não emergirem, também serão ensinados. Existem variações do treino de matriz, principalmente relacionadas à quantidade de estímulos selecionados, à quantidade de componentes e a quantidade de tentativas de treino feitas com estímulos novos e estímulos não aprendidos. Sugerimos a leitura de artigos sobre o tema para aprofundamento. CBI of Miami 24 6.6 Ensino de Criatividade por Árvore de Respostas Finalizamos essa disciplina e o conteúdo de generatividade, apresentando-lhes o conceito de árvore de respostas (Neves Filho, Leite, Araripe & Picanço, 2019). A árvore de resposta é uma proposta de sistematização do comportamento, considerando aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais e a generatividade recombinativa. Assim como a matriz, do matrix training ela serve como desenho instrucional. A árvore fornece um suporte visual para o treino de pré-requisitos e testes generativos. A construção da árvore localiza, também, cada comportamento em suas bases anteriores, desenvolvimentistas. No artigo, podemos encontrar uma proposta de árvore para a construção do comportamento de tocar violino e, nesse momento, propomos uma atividade para você sedimentar o conteúdo trazido nessa disciplina: escolha um comportamento qualquer (seu, de um parente...) e monte uma árvore de comportamento com base na representada no artigo, sistematizando aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais do comportamento. Depois, compartilhe a árvore com seus colegas de turma e discutam as possibilidades de treino para emergência de repertório recombinativo! CBI of Miami 25 Referências Bibliográficas ARAN, J. F. Tomada de Perspectiva como Responder Relacional Derivado: experimentos com indivíduos com desenvolvimento típico e atípico. BOAVISTA, R. R. C. Teoria das molduras relacionais (RFT): Uma revisão de estudos empíricos. (2014). BOERKE, K. W., & REITMAN, D. Token economies. Handbook of applied behavior analysis, 370-382. (2011). BORTOLOTI, R., & ROSE, J. C. D. Medida do grau de relacionamento entre estímulos equivalentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, 20, 252-258. (2007). CEBRIA, J. F. A., & DE OLIVEIRA, G. M. A Teoria das Molduras Relacionais (RFT) e a Linguística de Noam Chomsky: uma aproximação possível? Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 12(1), 184-196. (2021). COOPER, J. O., HERON, T. E., & HEWARD, W. L. Applied behavior analysis. Pearson UK. (2020). DE ALMEIDA, J. H., & PEREZ, W. F. Paus e pedras podem machucar, mas palavras... também! -Teoria das molduras relacionais. Experimentos Clássicos Em Análise Do Comportamento, 179-197. (2016). DE ROSE, J. C., & RABELO, L. Z. Teoria das molduras relacionais e possíveis aplicações à educação. Revista de Deficiência Intelectual, 3, 10-15. (2012). DIXON, M. R. PEAK comprehensive assessment. Carbondale, IL:Shawnee Scientific Press. (2019). FRAMPTON, S. E., WYMER, S. C., HANSEN, B., & SHILLINGSBURG, M. A. The use of matrix training to promote generative language with children with autism. Journal of Applied Behavior Analysis, 49(4), 869-883. (2016). FRYLING, M. J., REHFELDT, R. A., TARBOX, J., & HAYES, L. J. (Eds.). Applied behavior analysisof language and cognition: Core concepts and principles for practitioners. New Harbinger Publications. (2020). GREER, R. D., & ROSS, D. E. Verbal behavior analysis. New York, NY: Pearson Education. (2007). JUNIOR, A. O., BENITEZ, P., & DE SOUZA, N. G. S. Tendência da pesquisa sobre equivalência de estímulos para o ensino de matemática em teses e dissertações brasileiras. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 23, 1-23. (2021). MARQUETTI, I., GONÇALVES, Y. R., & AMARAL, A. R. Q. PEAK: Revisão de Literatura das Intervenções Baseadas em Equivalência de Estímulos e RFT CBI of Miami 26 para Pessoas com Desenvolvimento Atípico. Perspectivas Em Análise Do Comportamento. (2021). MARTIN, G., & PEAR, J. Modificação de Comportamento: o que é e como fazer. São Paulo: Rocca. (2009). NEVES FILHO, H. B., LEITE, F. L., ARARIPE, N. B., & PICANÇO, C. R. F. Uma proposta conceitual para o estudo comportamental do desenvolvimento e criatividade individual: A árvore de comportamentos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 21(3), 350-371. (2019). PEREZ, W. F. Introdução ao volume especial sobre Teoria das Molduras Relacionais (RFT). Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 12(1), 001-004. (2021). PEREZ, W. F., NICO, Y. C., KOVAC, R., FIDALGO, A. P., & LEONARDI, J. L. Introdução à Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame Theory): principais conceitos, achados experimentais e possibilidades de aplicação. Perspectivas em análise do comportamento, 4(1), 32-50. (2013). SANTIAGO, A. A. Ensino de notas musicais no teclado para crianças utilizando instrução baseada em equivalência de estímulos. (2021). SILVA, Á. J. M. Aplicações da formação de classes de equivalência na intervenção analítico-comportamental ao autismo. (2017). SILVA, Á. J. M., KEUFFER, S. I. C., OLIVEIRA, J. S. C. D., & Barros, R. D. S. Aquisição de repertório intraverbal via instrução baseada em equivalência em crianças com TEA. Trends in Psychology, 26, 1155-1171. (2018). SPENCER, T. D. Ten Instructional Design Efforts to Help Behavior Analysts Take Up the Torch of Direct Instruction. Behavior Analysis in Practice, 14(3), 816-830. (2021). VARELLA, A. A., MANONI, N., RACY, R., & DE SOUZA, D. D. G. Instrução Baseada em Equivalência no Ensino de Relações de Tamanho a uma Criança com Autismo. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 17(2). (2021). VELOSO, R. J. M. D. Práticas baseadas em evidências e análise do comportamento: uma revisão crítica da instrução baseada em equivalência de estímulos no ensino superior.