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Úlceras genitais + Sífilis 1 🧫 Úlceras genitais + Sífilis Definição: Perda completa da cobertura epidérmica com invasão para a derme subjacente. Divisão: As úlceras genitais são divididas em: 1. Causadas por ISTs: herpes simples vírus (HSV), treponema pallidum (sífilis), Haemophilus ducreyi (cancro mole), Chlamydia trachomatis sorotipos L1-3 (linfogranuloma venéreo - LGV), Klebsiella granulomatis (granuloma inguinal ou donovanose). 2. Não causadas por ISTs: vasculite autoimune (síndrome de Behçet → úlceras orais + úlceras genitais), traumáticas, vasculares e neoplásicas. Síndrome de Behçet: Presença de úlceras orais e genitais, associado à uveíte ou retinite. Deve ser encaminhado para o oftalmologista. Mais comum em crianças e adultos jovens. O tratamento responde bem com o corticoide (oral ou tópico). Anamnese e exame físico: Na avaliação de úlceras genitais é importante que seja avaliado: Tempo e evolução (úlceras infecciosas tendem a regredir espontaneamente, enquanto, úlceras crônicas não). Localização. Aspecto (se possui bordas, conteúdo granuloso ou limpo, se possui conteúdo purulento). Associação com outros sintomas/lesões. Úlceras genitais + Sífilis 2 Além disso, úlceras com 4 semanas ou 30 dias, devem necessariamente ser biopsiadas. Sífilis: É uma enfermidade infecciosa sistêmica de evolução crônica. É causada pela bactéria Treponema Pallidum (espiroqueta). Sua transmissão se dá pelo contato sexual e por outros contatos íntimos (beijo). Pode ocorrer também transmissão vertical. Seu quadro clínico varia conforme a evolução da doença. A sífilis quando não tratada, alterna períodos de atividade e inatividade com características clínicas, imunológicas e histopatológicas distintas. Ela pode ser dividida em períodos sintomáticos (sífilis primária, secundária e terciária) e em períodos assintomáticos (latente recente ou latente tardia). Quando alguém se infecta com sífilis, isso não garante imunidade à bactéria, logo, esse paciente pode se reinfectar novamente e ter sinais e sintomas. Sífilis primária: Primeiro estágio da sífilis após infecção. Aparição de uma lesão ulcerada (em região genital ou oral) única + bordas endurecidas + fundo seco e limpo + indolor + ausência de prurido e sangramento = CANCRO DURO. Pode ser acompanhada de linfonodomegalia ou linfonodopatia (geralmente, inguinal). Em homens a lesão é mais visível, pois a genitália é exposta. Já em mulheres, pode não ser visível, pois é uma úlcera mais interna, e como é indolor, passa Úlceras genitais + Sífilis 3 desapercebido. Possui período de incubação de até 90 dias, sendo assim, após 3 semanas o paciente pode apresentar as lesões. É uma lesão que regride, mesmo sem tratamento. Sendo assim, cerca de 6 semanas após a infecção, a úlcera desaparece. Sífilis secundária: Ocorre cerca de 50-180 dias após a infecção (sem tratamento). Há presença de lesões que imitam outras doenças dermatológicas (algo mais sistêmico). Presença de roséolas que acometem palma das mãos e planta dos pés (geralmente é diferencial com outras lesões dermatológicas, pois essas poupam as palmas e plantas). Presença de condilomas planos (que se diferem do HPV, que não são tão planos). Presença de rash cutâneo, com formação de máculas e pápulas sifílides. Úlceras genitais + Sífilis 4 Paciente pode apresentar alguns sintomas inespecíficos, como cefaleia, febre baixa, mal-estar e adinamia. VDRL costuma ser alto (> 1:64). Melhora mesmo sem tratamento → lesões desaparecem dentro de 4-12 semanas. Sífilis terciária: Pode se estender durante anos após a infecção (sem tratamento) → pode se manifestar dentro de 2-3 anos ou décadas. Acomete sistemas (causa um acometimento sistêmico). Pele: pode causar as lesões em goma. Coração: pode causar estenose de coronárias ou aneurisma de aorta. SNC (lesões irreversíveis): pode causar tabes dorsalis, meningite, gomas cerebrais ou da medula, lesão de nervos cranianos, manifestações psiquiátricas. Sífilis latente: Período assintomático, que ocorre após a sífilis secundária (entre secundária e terciária). Úlceras genitais + Sífilis 5 O diagnóstico é dado apenas por exames laboratoriais (teste imunológico reagente). Pode ser classificada em: 1. Recente: menos de 1 ano (ou seja, a paciente lembra que teve uma úlcera há menos de 1 ano). 2. Tardia: mais de 1 ano (ou seja, a paciente lembra que teve úlcera há mais de 1 ano). 3. Indeterminada: a paciente não se recorda se teve a presença de alguma úlcera, ou apenas, lembra que alguns sintomas inespecíficos. Diagnóstico: O diagnóstico padrão ouro (muito específico) é a microscopia em campo escuro para identificação do Treponema → porém é um exame pouco disponível. Além disso, é possível melhor observar as espiroquetas na sífilis primária e secundária, não tanto, na terciária e latente. Testes sorológicos: 1. Não treponêmicos: ou seja, não são específicos para identificação do treponema pallidum, sendo assim, podem estar positivos em outras doenças autoimunes, como lúpus. Exemplos: VDRL e RPR → possuem janela imunológica mais longa (cerca 1-3 semanas após aparecimento do cancro duro). 2. Treponêmicos: específico para identificação do treponema pallidum. Exemplo: hemaglutinação, TPHa, imunofluorescência indireta (FTA Abs, ELISA, Western-Blot), teste rápido (mais utilizado) e CMIA (quimioluminescência) → possuem janela imunológica mais curta (detectam os anticorpos com até 10 dias após a infecção). Úlceras genitais + Sífilis 6 Pode-se observar que a microscopia é melhor utilizada em casos de lesões (como na primária e secundária). Já os testes treponêmicos estarão positivos em toda a evolução da doença, pois eles são específicos para o treponema pallidum, ou seja, a partir do momento que a pessoa se infectou com essa bactéria, esse teste estará positivo para sempre (nunca negativa). Já os testes não treponêmicos, tendem a diminuir com a evolução da doença, ou seja, no período inicial ele estará mais elevado, pois sugere maior infecção. Sendo assim, por essa razão, que ele é utilizado para acompanhamento de tratamento. O DIAGNÓSTICO É REALIZADO NA PRESENÇA DE UM TESTE TREPONÊMICO POSITIVO + TESTE NÃO TREPONÊMICO POSITIVO. Úlceras genitais + Sífilis 7 Se em fase primária ou secundária, o paciente apresenta lesões típicas, podemos iniciar o tratamento e depois confirmar com os exames. Teste treponêmico positivo + teste não treponêmico positivo = avaliar se é sífilis ou cictariz sorológica (alguém que já teve sífilis e tratou → tratamento documentado e queda das titulações) → se for sífilis, tratamos e se for cicatriz apenas orientamos. Teste treponêmico positivo + teste não treponêmico negativo = devemos realizar o teste treponêmico (porém de outra metodologia) → se for positivo (tratamos sífilis ou avalia se é cicatriz), se vier negativo (não é sífilis). Se o paciente não apresenta lesão, apenas teste rápido positivo = devemos pedir VDRL e não tratar. Em casos de pacientes que possuem lesão e teste rápido positivo = tratamos e pedimos o VDRL. Quando VDRL não positiva na primeira (demora cerca de 1-3 semanas para positivar), devemos pedir após 3 semanas (pós tratamento). Tratamento: Úlceras genitais + Sífilis 8 1. Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): trata com penicilina benzatina (IM) na dose de 2.400.000 UI em dose única. Em pacientes alérgicas, atuamos com doxiciclina ou ceftriaxone. No entanto, gestantes com sífilis devem ser apenas tratadas com penicilina, logo, caso sejam alérgicas, é necessário internação + dessensibilização. 2. Sífilis tardia (terciária, latente tardia e latente indeterminada): trata com penicilina benzatina (IM) na dose de 2.400.000 UI por semana, por 3 semanas. O intervalo entre as doses não deve ultrapassar 7 dias em gestantes e 14 dias em não gestantes. 3. Neurossífilis (após CLR → presença de sífilis): penicilina cristalina (EV) na dose de 3-4 milhões UIa cada 4h por 14 dias. Existem alguns casos em que é preciso iniciar o tratamento imediato, após apenas um teste reagente (seja treponêmico ou não treponêmico): gestantes, vítimas de violência sexual, pessoas com chance de perda de seguimento, pessoas com sinais/sintomas de sífilis primária ou secundária, pessoas sem diagnóstico prévio de sífilis. Em casos de pacientes que se recusem a injeção, que não sejam gestantes ou soropositivo: atuar com azitromicina 2g, VO, dose única. Observação: A reação de Jarisch-Herxheimer é um evento que pode ocorrer durante as 24h após a primeira dose da penicilina (em especial nas fases primárias e secundárias), sendo assim, ocorre exacerbação das lesões cutâneas, com dor, eritema ou prurido, mal-estar, febre, cefaleia e Úlceras genitais + Sífilis 9 artralgia que regridem espontaneamente após 12-24 horas → o tratamento é com anti-térmico, não é preciso descontinuar a medicação (penicilina). Tratamento de gestantes: Somente se for usada Penicilina benzatina. Se alérgica → devemos atuar com a dessensibilização. É preciso ter registro de tratamento completo (dose adequada para o estágio clínico e primeira dose até 30 dias antes do parto). Precisa ter uma resposta imunológica adequada. O tratamento do parceiro sexual não é mais considerado como critério para classificar o tratamento da gestante como adequado ou não. Tratamento de parceiros: Sempre devemos tratar parceiros (mesmo se o teste vier negativo). Convocar os parceiros sexuais de até 90 dias → oferecer tratamento empírico + exame físico + sorologias. Penicilina benzatina 2,4 milhões em dose única → independentemente do estágio clínico ou sinais e sintomas. Úlceras genitais + Sífilis 10 Rastreamento de outras ISTs: Sempre devemos pesquisar outras infecções sexualmente transmissíveis. Seguimento sorológico: É feito com o VDRL. Deve ser feito mensalmente em gestantes e trimestralmente em não gestantes. Ideal: queda de 2 titulações em 6 meses (sífilis recente) ou queda de 2 titulações em 12 meses (sífilis tardia) ou negativação. Quando suspeitar de reinfecção/reativação? Ausência de queda no VDRL ou aumento em duas ou mais titulações. Persistência ou recorrência dos sintomas. Úlceras genitais + Sífilis 11 É importante investigar a neurossífilis (punção lombar) se não houver exposição sexual que justifique uma reinfecção. Neurossífilis: O diagnóstico é baseado nos achados clínicos + alterações do LCR (pleocitose → aumento de leucócitos) + VDRL positivo no LCR. Não é recomendado utilizar o teste treponêmico para diagnóstico. A presença de proteína no LCR não ajuda no diagnóstico, mas sua normatização é importante para o acompanhamento. Devem ser tratados pacientes com VDRL reagente no LCR, independente de sinais e sintomas neurológicos/oculares e pacientes com VDRL não reagente no LCR, mas que possuem alterações bioquímicas no LCR com sinais e sintomas neurológicos/oculares e/ou achados de imagem em SNC característicos da doença, desde que os achados não possam ser explicados por outra doença. O tratamento é Indicações de coleta do líquor: Presença de sintomas neurológicos e oftalmológicos. Em casos de evidência de sífilis terciária ativa. Após falha no tratamento sem reexposição sexual. PVHIV CD4 <350 e VDRL maior ou igual a 1:32. Sífilis e HIV: Em casos de indisponibilidade do LCR, a normatização do VDRL pode ser um parâmetro de resposta terapêutica. Úlceras genitais + Sífilis 12 Manejo de úlcera genital: O diagnóstico diferencial de úlceras genitais é feito com 3 perguntas: 1. São dolorosas? 2. São múltiplas? 3. Fistulizam linfonodos? O ideal é tratar todas as doenças que causam úlceras genitais + parcerias sexuais. Úlceras genitais + Sífilis 13 Se a lesão tem mais de 4 semanas = tratamos sífilis, cancro mole, faz biópsia e inicia o tratamento para donovanose.
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