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1. Princípios do Planejamento Sucessório 4 2. Requisitos Legais 5 3. Aspectos Legais da Sucessão 11 4. Instrumentos de Planejamento Sucessório 24 5. Estruturas de Planejamento Sucessório 30 6. Aspectos Tributários 35 CONTEÚDO MÓDULO IV PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO OBJETIVOS, SEGUNDO O PROGRAMA DO EXAME CFP É fundamental que o Planejador Financeiro conheça e saiba analisar os impactos jurídicos das alternativas de planejamento sucessório, fundamentando as decisões que devem ser tomadas pelos clientes para preparar seus sucessores e a transmissão de seus bens após sua morte. O Planejador Financeiro deverá demonstrar a habilidade de avaliar e calcular o custo tributário, indicar as implicações sucessórias e de direito de família gerais, bem como os aspectos societários e regulatórios envolvidos no planejamento. Como os aspectos jurídicos permeiam praticamente todas as decisões de investimento e de planejamento sucessório, é essencial avaliar a capacidade do candidato de identificar e relacionar estas questões de forma a buscar o máximo de eficiência e segurança jurídica. Os componentes do planejamento sucessório também são abordados, destacando-se os aspectos tributários, de direito de família e negociações, e de planejamento sucessório de bens móveis e imóveis. SEÇÕES DO MÓDULO SEÇÃO RESUMO 1. Princípios do Planejamento Sucessório - O que observar em um planejamento sucessório -Quais os objetivos de um planejamento sucessório 2. Requisitos Legais - Explicar os 4 tipos de regime de casamento, bem como a união estável, e os impactos na partilha de bens conforme o pacto antenupcial - Conhecer os limites e regras da doação de patrimônio 3. Aspectos Legais da Sucessão - Saber a diferença e a ordem entre a aplicação da meação e da herança, especialmente identificar quando o cônjuge concorre com os demais herdeiros - Saber a ordem correta da sucessão e a regra da herança legal e disponível - Conhecer a regra em situações específicas como: equiparação do companheiro, aceitação e renúncia, exclusão da sucessão, dívidas do espólio e andamento do inventário 4. Instrumentos de Planejamento Sucessório - Conhecer os 4 instrumentos de planejamento sucessório - Saber as regras de doação, especialmente as cláusulas restritivas e de usufruto - Saber as regras de testamento, em especial as diferentes formas e as cláusulas restritivas - Conhecer os benefícios do seguro de vida e planos de previdência 5. Estruturas de Planejamento Sucessório - Conhecer as três estruturas de planejamento sucessório, em especial saber como usar o tipo de holding correta, as regras de fundos fechados e características de uma Trust, no exterior 6. Aspectos Tributários - Conhecer as regras de aplicação dos três impostos envolvidos na sucessão: ITCMD, ITBI e IR. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 4 1. PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 1.1) O processo do planejamento sucessório Para o planejamento sucessório deve-se obter principalmente os seguintes dados: • Estado civil e regime de casamento • Existência de ascendentes (pais, avós, etc.), descendentes (filhos, netos, etc.) e colaterais (irmãos, tios, sobrinhos, etc) • Situação patrimonial do cliente: ativos de uso, ativos de não uso, dívidas, enfim. • Objetivos do cliente na sucessão 1.2) Situação financeira projetada no momento da sucessão Liquidez Um problema comum na sucessão é a existência de ativos sem liquidez. No momento do planejamento, deve-se avaliar a possibilidade dos herdeiros ficarem sem recursos imediatos para lidar com as necessidades ocasionadas pelo eventual falecimento do cliente. Ativos É necessário listar os ativos do cliente e sua avaliação correta de mercado para compreensão total da situação de liquidez, questões fiscais e adequação ao horizonte de tempo projetado, podendo propor alterações na carteira de investimentos do cliente. Passivos Conhecer as dívidas e obrigações é importante para avaliar o impacto na abertura do inventário, no qual os credores podem se habilitar para receber valores, o que pode forçar a família a ter que realizar a liquidação forçada de ativos e bens eventualmente dados em garantia. Implicações Fiscais A verificação de passivos fiscais é fundamental, uma vez que o Estado, enquanto credor, pode se habilitar no inventário para receber valores devidos de obrigações fiscais. 1.3) Objetivos do Planejamento Sucessório Definir os beneficiários Obedecida a regra dos herdeiros legais, que veremos adiante, é possível destinar a herança livremente. Portanto, é importante entender junto ao cliente o seu desejo particular em relação aos beneficiários e estruturar o planejamento em torno de sua vontade. Proteção de familiares incapazes Identificada a existência de familiares incapazes (um menor de idade, pessoa com necessidades especiais, idoso em idade muito avançada, etc.) o planejador deve se atentar a formas de proteger tais indivíduos na dinâmica de sucessão, buscando preservar parte do patrimônio para suprir a necessidade dos incapazes. Obviamente, respeitando a vontade de seu cliente. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 5 Filantropia Eventuais desejos de ações filantrópicas devem ser considerados na sucessão, devendo o planejador propor a melhor forma de execução, conforme regras vigentes no Brasil e no exterior, quando for o caso. Planejamento Fiscal A economia fiscal é um dos principais objetivos do planejamento sucessório, preservando o patrimônio da família para atender às vontades e desejos particulares. Por óbvio, dentro do enquadramento legal, o planejador deve buscar formas de elisão fiscal, resultando em uma menor carga tributária quando no momento da sucessão. 2. REQUISITOS LEGAIS 2.1) Regimes de Casamento Conhecer os regimes de casamento e suas particularidades é importante, pois o pacto antenupcial escolhido impactará na forma de partilhar os bens quando na dissolução (divórcio) ou encerramento (morte de um dos cônjuges) do casamento. Um conceito importante é o de comunicabilidade de bens: Bens comunicáveis (bens que geram comunhão): são considerados propriedade de ambos os cônjuges, independentemente de quem tenha adquirido o bem ou do nome de quem esteja registrada a propriedade. Bens incomunicáveis (que não geram comunhão): aqueles que não formam propriedade conjunta, permanecendo como particular de cada cônjuge. Comunhão de Bens: formação de propriedade comum de bens e direitos, sendo 50% para cada cônjuge. É importante lembrar que as dívidas e obrigações também podem ser comunicáveis! Para ilustrar os efeitos do regime de casamento na partilha de bens, considerar-se-á o seguinte exemplo: Cônjuge Patrimônio individual antes do casamento Patrimônio adquirido de forma onerosa na constância do casamento Patrimônio adquirido de forma gratuita na constância do casamento A R$ 200.000 R$ 800.000 R$ 300.000 B R$ 400.000 R$ 200.000 R$ 100.000 Total R$ 600.000 R$ 1.000.000 R$ 400.000 R$ 2.000.000 • De forma onerosa: aquisição financeira • De forma gratuita: recebido em doação ou de herança MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 6 Separação de Bens Na separação de bens (ou separação total de bens), não existe comunhão de bens. Separação Convencional de Bens: quando os nubentes (noivos) decidem por livre e espontânea vontade escolher tal regime de casamento. Separação Obrigatória de Bens: quando os nubentes são obrigados por lei a casar sob tal regime de casamento, sendo que o caso mais comum é quando um (ou ambos) dos nubentes for maior de 70 anos. No caso do exemplo mencionado como ficaria a partilha de bens em caso de dissolução ou encerramento do casamento? Como não há comunhão de bens, eles permanece como propriedade individual: Cônjuge Patrimônio a ser considerando no momento da partilha de bens A R$ 1.300.000 B R$ 700.000 Comunhão Parcial de Bens Na comunhão parcial de bens, apenas os bens adquiridos onerosamente (com contrapartida financeira) na constância do casamento geram comunhão. Importante:os bens recebidos de forma não onerosa/gratuita (doação ou herança) são considerados incomunicáveis (não geram comunhão) mesmo quando são recebidos na constância do casamento e, portanto, permanece como patrimônio individual de cada cônjuge. Sub-Rogação: instrumento legal que torna possível manter a propriedade exclusiva dos bens, mesmo quando esses são adquiridos na constância do casamento. Isso pode ocorrer desde que o dinheiro usado na compra do bem seja fruto de venda de bem particular que já existia antes do casamento. Comunicabilidade dos frutos: são comunicáveis (geram comunhão) os frutos percebidos na constância do casamento, mesmo que o bem seja de propriedade exclusiva. Exemplo: o cônjuge A tinha um imóvel antes do casamento, bem que permanece como individual durante o casamento, e passou a alugar este imóvel durante o casamento, recebendo aluguel mensalmente. Logo, os alugueis recebidos (frutos) são comunicáveis sendo considerados propriedade conjunta dos cônjuges em partes iguais. Não requer lavratura de pacto antenupcial: caso os nubentes não optem deliberadamente por nenhum regime de casamento específico, aplica-se o regime de comunhão parcial de bens como padrão. Diferentemente, caso queiram optar pelos demais regimes, deve ser informado no registro cartorial o pacto escolhido. No caso do exemplo mencionado como ficaria a partilha de bens em caso de dissolução ou encerramento do casamento? MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 7 Cônjuge Patrimônio a ser considerando no momento da partilha de bens A R$ 200.000 + R$ 500.000 (50% x R$ 1.000.000) + R$ 300.000 = R$ 1.000.000 B R$ 400.000 + R$ 500.000 (50% x R$ 1.000.000) + 100.000 = R$ 1.000.000 Comunhão Universal de Bens Na comunhão universal/total de bens, todos os bens são comunicáveis, independentemente de quando foram adquiridos ou se foram adquiridos de forma gratuita ou onerosa. Portanto, no momento da partilha, soma-se todos os bens e divide-se 50% para cada um dos cônjuges. Cláusula de incomunicabilidade: não são comunicáveis, mesmo no regime de comunhão universal/ total, os bens recebidos via doação ou herança e que contenham cláusula de incomunicabilidade. Tal cláusula é um instrumento jurídico utilizado no ato da doação ou testamente, que visa a preservação dos bens repassados aos beneficiários. No caso do exemplo mencionado como ficaria a partilha de bens em caso de dissolução ou encerramento do casamento? Cônjuge Patrimônio a ser considerando no momento da partilha de bens A R$ 1.000.000 (50% x R$ 2.000.000) B R$ 1.000.000 (50% x R$ 2.000.000) Obs: note que, no exemplo utilizado, o patrimônio individual na partilha ficou igual ao do regime de comunhão parcial, mas por mera coincidência. Participação Final nos Aquestos A participação final nos aquestos é um regime híbrido. Diz-se que ele é regido pelo regime de separação total, mas dissolvido pelo regime de comunhão parcial. Isso porque durante o casamento os cônjuges podem agir livremente em relação a seus bens particulares, não necessitando da chamada outorga uxória ou marital, que é a autorização de um cônjuge para outro poder assinar contratos, contrair dívidas e alienar bens, por exemplo). Já no momento da dissolução/ encerramento, a partilha é feita idem ao regime de comunhão parcial de bens, isto é, geram comunhão os bens adquiridos na constância do casamento. O regime de participação final nos aquestos é indicado para quem precisa de maior autonomia e agilidade na realização de negócios, visando maior simplicidade operacional na condução destes, mas que também buscam isonomia de tratamento em relação aos bens conquistados durante a relação matrimonial. No caso do exemplo mencionado como ficaria a partilha de bens em caso de dissolução ou encerramento do casamento? MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 8 Idem ao regime de comunhão parcial de bens: Cônjuge Patrimônio a ser considerando no momento da partilha de bens A R$ 200.000 + R$ 500.000 (50% x R$ 1.000.000) + R$ 300.000 = R$ 1.000.000 B R$ 400.000 + R$ 500.000 (50% x R$ 1.000.000) + 100.000 = R$ 1.000.000 PACTO ANTENUPCIAL O pacto antenupcial é a escolha pelo regime de casamento pretendida pelos nubentes, devendo ser lavrada (registrada) em escritura pública. Em caso de omissão, o regime de bens padrão é o da comunhão parcial de bens. 2.2) Mudança no regime de casamento O regime de bens do casamento pode ser alterado durante o casamento, desde que mediante decisão judicial e justificativa plausível. Isso ocorre em função da mudança de regime de bens poder afetar o direito de credores. 2.3) Reflexos patrimoniais no término da sociedade conjugal O término do casamento pode ser dar pelo divórcio ou morte de um dos cônjuges, sendo que em caso de falecimento deve ser aberto o processo de inventário após a realização da meação. Compreender a ordem do processo é fundamental para calcular corretamente a partilha de bens, portanto: 1º: Faz-se a meação 2º: Faz-se a divisão da herança O que é a meação? A meação é o ato de identificar e separar o patrimônio dos cônjuges em: • Patrimônio particular de A • Patrimônio particular de B • Patrimônio conjunto de A e B (50/50) É fundamental compreender que o casal pode optar por registrar patrimônio e bens de forma conjunta (digamos, comprar um imóvel e colocar 30% para um e 70% para outro). Isso só faz sentido no regime de separação de bens, uma vez que na comunhão parcial e universal, todos os bens adquiridos durante o casamento serão divididos 50% para cada um, independente da origem do recurso e no nome de quem está registrado o patrimônio. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 9 No regime de separação total e universal é muito fácil identificar a meação, pois: a) Na separação total não existe geração de comunhão e, portanto, os bens são contabilizados conforme foram registrados no momento da aquisição b) Na comunhão universal todos os bens são conjuntos e, portanto, são contabilizados como 50% para cada cônjuge. Após a meação, com a devida distribuição igualitária do patrimônio conjunto, restam então os bens devidamente separados entre patrimônio individual de A e de B. O patrimônio individual do falecido forma o espólio e deve ser inventariado para depois ser dividido entre os herdeiros O que é a divisão da herança? É a distribuição do patrimônio individual do falecido entre os herdeiros, sendo 50% para os herdeiros legais e 50% conforme livre vontade do falecido, desde que tenha formalizado através do instrumento correto. 2.4) União Estável A união estável é o estado civil de pessoas que não casaram, sendo denominados companheiros e possuem uma relação com as seguintes características: a) Convivência pública b) Contínua e Duradoura c) Com o intuito de constituir família União estável de fato ou formalizada A união estável pode ser: a) Formalizada: quando os companheiros lavram (registram) a união em escritura pública no cartório, definindo data de início e regime de bens, tal qual no casamento (separação total, comunhão parcial, comunhão universal e participação nos aquestos). b) De fato: quando não é registrada em cartório, podendo ser reconhecida quando houver alguma necessidade específica, como por exemplo a meação e a herança. Nesse caso, pode ser reconhecida de comum acordo ou então via judicial. Na união de fato, o regime de bens que se aplica é o da comunhão parcial de bens. Sob o aspecto do planejamento financeiro, recomenda-se fortemente realizar a formalização da união estável, uma vez que impacta diretamente em caso de sucessão e visando preservar o direito do companheiro e eventuais filhos. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 10 Regime de bens na união estável É possível optar pelos mesmos regimes de bens já detalhados na seção 2.1, desde que a união estável seja formalizada. Para alterar o regime de bens basta realizar a alteração em cartório através de escritura pública, não necessitando de ação judicial. Reflexos patrimoniais no término da uniãoestável O término da união estável ocorre pelos mesmos motivos que no casamento: separação ou falecimento e a partilha de bens se dá conforme o regime de bens. Lembrando que, na união estável de fato, aplica-se a comunhão parcial de bens. 2.5) Partilha de bens em conformidade com o regime de bens A partilha de bens, conforme visto nas seções anteriores, depende do regime de bens (casamento ou união estável). Em resumo: Regime de Bens Resumo Separação total de bens Não se forma comunhão de bens Comunhão parcial de bens Os bens adquiridos onerosamente durante o casamento são de propriedade conjunta Comunhão universal de bens Todos os bens são de propriedade conjunta Participação final nos aquestos Durante o casamento age-se como no regime de separação, mas na dissolução aplica-se a regra da comunhão parcial 2.6) Limites para dispor do patrimônio em vida Algumas pessoas optam por distribuir gratuitamente o seu patrimônio aos herdeiros e cônjuge/ companheiro ainda em vida, realizando uma doação. É importante observar algumas regras em relação a isso. Doação Universal Por lei, não é permitido doar todo o seu patrimônio (doação universal), devendo o doador manter ao menos os bens mínimos necessários para sua subsistência. Doação acima da legítima Não é permitido doar o patrimônio acima da parcela legítima, que representa 50% do patrimônio individual e deve obrigatoriamente ser destinada aos herdeiros legais (ou necessários). Quem são os herdeiros legais/necessários? O cônjuge, os descendentes vivos e os ascendentes vivos. Irmãos (colaterais) não são considerados herdeiros necessários. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 11 Quanto do patrimônio pode ser destinado livremente? Até 50% do patrimônio pode ser doado em vida ou destinado após a morte (através dos instrumentos corretos) para qualquer pessoa, podendo ser herdeiro legal ou não. Os outros 50% devem ser destinados aos herdeiros legais. Caso não haja qualquer disposição em contrário (testamento, por exemplo) por parte da pessoa que falecer, 100% do patrimônio será destinado aos herdeiros legais ou aos demais herdeiros na cadeia sucessória. Não havendo herdeiros legais, poderá destinar livremente 100% de seu patrimônio. Em resumo: não é possível fazer doações em vida acima de 50% do patrimônio, exceto se não houver nenhum herdeiro legal (cônjuge, descendentes e ascendentes vivos). Doação a descendentes ou entre cônjuges Pode ser feita doação a descendentes e cônjuges, entretanto será considerada como um adiantamento de herança e o valor doado será descontado no momento da partilha de bens. A exceção ocorre quando o doador fizer constar expressamente, no ato da doação ou via testamento, de que se trata de doação da parcela disponível (a parcela que pode ser livremente distribuída) e não representa uma antecipação de herança. 3. ASPECTOS LEGAIS DA SUCESSÃO 3.1) Abertura da sucessão Abrir a sucessão é o ato de, após o falecimento de uma pessoa, iniciar a transmissão do patrimônio do falecido a terceiros. Esse processo deve seguir a legislação e é iniciado através da abertura do inventário, judicial ou extrajudicial, cujo resultado final será a distribuição do espólio (bens em inventário e ainda não distribuídos) aos credores, herdeiros legais e beneficiários. 3.2) Divisão da herança e os regimes de casamento A repetição desse conceito é extremamente importante: na sucessão, faz-se primeiro a meação, na qual soma-se metade dos bens conjuntos do casal (50/50) ao patrimônio individual e o resultado é o que vai para ser dividido entre os herdeiros. Portanto: MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 12 Na prática, isso só se aplica quando o regime de bens é a comunhão parcial, pois: i. Na separação total não existem bens comuns ii. Na comunhão total não existem bens individuais (exceto aqueles recebidos gratuitamente e que contenham cláusula de incomunicabilidade) 3.3) Ordem para suceder: cônjuge; descendentes, ascendentes; colaterais Após a individualização do patrimônio do falecido, procede-se à distribuição aos herdeiros vivos no momento da sucessão (ressalvada a hipótese do “direito de herança” e o “direito de representação”) na seguinte ordem de categorias, conforme legislação: Lembrando que os herdeiros legais/necessários têm direito a, pelo menos, 50% da herança. Não havendo disposição em contrário (através de testamento) os outros 50% também são distribuídos aos herdeiros legais conforme a ordem acima. É importante reforçar que a existência de herdeiros de categoria superior afasta as demais categorias da sucessão. Exemplo: existindo descendentes, os ascendentes não participam da herança. O que é o “direito de “herança”? Se, após a abertura da sucessão e antes de concluída a distribuição da herança, o herdeiro falecer, então os seus herdeiros terão direito ao seu quinhão (parcela da herança). O que é o “direito de representação”? Quando um dos herdeiros está morto quando o dono da herança falece então os descendentes do herdeiro tem de receber o quinhão que pertenceria a ele. Simplificando em termos familiares: é o direito que os netos têm, de receber o quinhão do pai que já era falecido (chama-se pré-morto) no momento em que o avô faleceu. Esse quinhão se divide em igualdade de proporções entre os irmãos. O direito de representação só ocorre na linha sucessória descendente. Logo, o avô materno não recebe herança de neto falecido e cuja mãe era pré-morta (desde que o pai esteja vivo). MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 13 A seguir, exemplos de casos em cada uma das categorias para ilustrar os conceitos e regras da ordem hereditária. 1ª Categoria: Descendentes + Cônjuge/Companheiro Caso A: Descendentes sem existência de cônjuge/companheiro Nesse caso, a herança é distribuída entre os herdeiros em igualdade de proporções. Exemplo A Caso I: no caso de filho pré-morto, por direito de representação, a herança passaria aos netos de João também na proporção de 1/3, sendo distribuído igualmente aos herdeiros. Exemplo: Filho C pré-morto e com 2 filhos (netos de João). Dividir-se-ia R$ 166.666,66 para cada neto. Caso II: no caso de filho pré-morto e sem filhos (sem netos de João), a herança é dividida somente aos filhos vivos. Exemplo: Filho C pré-morto e sem filhos. Dividir-se-ia R$ 500.000,00 para os filhos A e B. Caso B: Descendentes com existência de cônjuge/companheiro Quando há descendentes e cônjuge a divisão da herança irá depender do regime de bens, para saber se haverá concorrência entre eles ou não. Lembrando novamente que: primeiro é feita a meação (divisão dos bens comuns do casal) e depois a herança! MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 14 Quais os casos em que o cônjuge não concorre com os descendentes? CASO MOTIVO No momento da morte, estão separados judicialmente Não são considerados casados perante a lei No momento da morte estiverem separados de fato há mais de 2 anos, salvo se tal separação se deu sem culpa do sobrevivente Não são considerados casados perante a lei, ressalvada a hipótese mencionada Regime de bens é o da comunhão universal O sobrevivente já recebeu metade dos bens comuns (todos, no caso). A outra metade é particular do falecido, porém resultado da meação Regime de bens é o da separação obrigatória Imposição legal Regime de bens é o da comunhão parcial e não há bens particulares do falecido O sobrevivente já recebeu metade dos bens comuns. A outra metade é particular do falecido, porém resultado da meação Regra geral: sob o patrimônio que já foi feito meação, o cônjuge não concorre à herança. Quais os casos em que o cônjuge concorre com os descendentes? CASO MOTIVO Regime de bens é o da separação total convencional (feita por pacto antenupcial) Não há meação Regime de bens é o da comunhão parcial de bens e o falecido tem bens particulares A meação foi feita, mas somente dos bens comuns. Portanto, o cônjuge concorre somente na distribuição dos bens que já eram particulares antes da meação Sem dúvida,o caso mais complexo é quando o regime de bens é o da comunhão parcial de bens e há bens particulares, visto que pode haver confusão para saber sob quais bens o cônjuge concorre. Neste caso, como regra geral: 1º: Separar os bens do casal entre bens comuns e bens particulares 2º: Sobre os bens comuns aplica-se a meação (50/50) e metade “viram” bens particulares do sobrevivente e a outra metade do falecido. 3º: Vão para herança os bens particulares do falecido, sendo que o cônjuge concorre somente sobre os bens que já eram particulares antes da meação. 4º: Sobre os bens em que o cônjuge concorre, divide-se em igualdade de proporções com os herdeiros, exceto quando se aplica a Reserva Mínima, explicada a seguir. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 15 O que é a Reserva Mínima? Quando há concorrência na divisão da herança entre descendentes e cônjuge, se este for pai/ mãe de todos os descendentes, deve ser respeitada uma reserva mínima de 25%. Se um ou mais descendentes forem fruto de outra relação, não se aplica a reserva mínima. Exemplos Nº de filhos da relação Quinhão do pai/mãe Quinhão de cada filho 1 50% 50% 2 33,33% 33,33% 3 25% 25% 4 25% 18,75% 5 25% 15% Reforçando: se um ou mais descendentes forem filhos de outro relacionamento, a distribuição é em igualdade de proporção entre todos herdeiros. A seguir, três exemplos distintos para ilustrar a regra MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 16 Exemplo I Exemplo II Exemplo III MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 17 Sobre direito de representação, no caso da existência de descendentes, há duas regras básicas: i. Os descendentes do herdeiro pré-morto recebem, em igualdade de proporções, o quinhão que seria destinado a ele. ii. Se todos descendentes forem pré-mortos, então a herança é distribuída em igualdade de proporções entre os descendentes do próximo grau 2ª Categoria: Ascendentes + Cônjuge Caso A: Ascendentes sem existência de cônjuge/companheiro Havendo ascendentes e não havendo cônjuge, a herança é destinada integralmente aos ascendentes vivos, em igualdade de proporções entre o lado paterno e o lado materno, obedecendo às seguintes regras: MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 18 i. A existência de ascendentes de grau mais próximo (pai e mãe) afasta os de grau mais distante (avós). Exemplo: João falece e possui apenas o pai e o avô materno vivos. A herança vai 100% para o pai, mesmo havendo um ascendente do lado materno, pois: a. Não há direito de representação para ascendentes b. Existência de um herdeiro de grau mais próximo (pai) afasta o de grau mais distante (avô) ii. Em caso de ausência de ascendentes de grau mais próximo (pai/mãe), divide-se a herança 50% para cada linha paterna/materna. Exemplo: João falece e seus pais já eram falecidos, possuindo apenas 1 avô materno e ambos avós paternos vivos. A herança vai metade para o lado materno (50%) e a outra metade para o lado paterno (25% para cada). Caso B: Ascendentes com existência de cônjuge/companheiro Havendo cônjuge, ele sempre irá concorrer com os ascendentes, independentemente do regime de bens. Deve-se observar as seguintes regras: i. Havendo ambos ascendentes de grau mais próximo (pai/mãe) vivos, a distribuição da herança é em igualdade de proporções, sendo 1/3 para cada ii. Se um ou ambos ascendentes de grau mais próximo forem falecidos, a distribuição da herança ocorre da seguinte forma: • 50% para o cônjuge • 50% para a linha ascendente, lembrando que: a) Divide-se metade para a linha paterna e metade para a linha materna b) A existência de ascendentes de grau mais próximo, excluem os de grau mais distante. Duas ilustrações de casos mais complexos: Exemplo I MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 19 Exemplo II 3ª Categoria: Cônjuge/Companheiro Na ausência de descendentes e ascendentes, a herança é integralmente destinada ao cônjuge. 4ª Categoria: Colaterais até 4º grau Caso o falecido não tenha cônjuge, descendentes e ascendente vivos, os colaterais são os próximos na linha sucessória. Entretanto, é bom lembrar que os colaterais não são herdeiros necessários, ou seja, se o falecido direcionou a herança para outras pessoas que não os colaterais, então estes não possuem direito de recebê-la. Os colaterais são subdivididos em graus, cuja preferência de herança se dá nesta ordem: 2º grau: irmãos; 3º grau: tios e sobrinhos 4º grau: primos, tios-avôs e sobrinhos-netos Portanto, herdeiros de grau mais próximo afastam o direito de herança dos de grau mais distante. Colaterais de 2º grau: irmãos bilaterais e unilaterais Havendo irmãos, a herança é dividida em igualdade de proporções entre eles. A exceção é quando o irmão é unilateral, sendo que este deve receber o equivalente à metade do quinhão que cada irmão bilateral receber. Lembrando que: a) Irmão Bilateral: mesmo pai e mãe b) Irmão Unilateral: filhos do mesmo pai ou da mesma mãe MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 20 Exemplo: falecido sem descendentes e sem ascendentes vivos, com patrimônio de R$ 1.000.000 Irmãos Bilaterais Irmãos Unilaterais Quinhão de cada irmão bilateral Quinhão de cada irmão unilateral 1 0 R$ 1.000.000 x 2 0 R$ 500.000 X 2 1 R$ 400.000 R$ 200.000 2 2 R$ 333.333 R$ 166.666 Direito de representação entre colaterais: além dos descendentes, a única categoria em que há direito de representação (os filhos do herdeiro que for pré-morto têm direito a receber o quinhão dele) é a de filho de irmãos (sobrinhos). Colaterais de 3º grau: tios e sobrinhos Não havendo irmãos vivos passa-se aos colaterais de 3º grau, sendo que a preferência de recebimento é a seguinte: 1º: Sobrinhos, em igualdade de proporção entre eles (1/2 se forem dois, 1/3 se forem três, 1/4 se forem quatro e assim por diante) 2º:Tios, em igualdade de proporção entre eles O único detalhe aqui é que, da mesma forma como ocorre com os irmãos, os sobrinhos unilaterais (sobrinhos de irmão unilateral) recebem metade do quinhão devido a um sobrinho bilateral. Colaterais de 4º grau: primos, tios-avós e sobrinhos netos Por último na linha sucessória temos os parentes de 4º grau: primos, tios-avós e sobrinhos-netos, que recebem em igualdade de proporção e sem ordem de preferência entre eles. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 21 Herança Jacente e Herança Vacante Herança jacente ocorre quando não há herdeiros conhecidos ou que ignoraram o patrimônio deixado, e não há testamento destinando o patrimônio a ninguém. A herança jacente é temporária e antecede a vacância, portanto podendo ser revertida no prazo de um ano, quando então é declarada como vacante. Herança vacante é quando não se verificam herdeiros após o prazo de jacência, ou ainda quando os herdeiros renunciarem expressamente à herança. Neste caso, o patrimônio do falecido é transferido para o munícipio, distrito federal ou à união, a depender da localização do bem. 3.4) Equiparação do companheiro ao cônjuge para fins sucessórios Aplica-se à união estável as mesmas regras de partilha previstas para o casamento, no que tange à divisão de bens quando do término oficial da relação. Em ambos os casos é possível escolher o regime de bens, com duas exceções: i. Quando a união estável não for formalizada, aplicando-se a comunhão parcial de bens ii. Nos casos em que se aplica a separação obrigatória de bens, sendo a mais comum quando um ou ambos cônjuges/companheiros possuírem mais do que 70 anos. 3.5) Aceitação e renúncia da herança Aceitação da herança É quando o herdeiro demonstra a vontade de receber a herança, podendo ser: i. Expressa: declaração escrita ii. Tácita: atos praticados (permanecer na casa que era do falecido, ou habilitar-se no inventário como credor, por exemplo) iii. Presumida: ausência de manifestação em contrário sobre a herança Renúncia da herança É o ato formal feito através de escritura pública ou termo judicial, no qual o herdeiro renuncia à herança. A repercussão na divisão patrimonial é a seguinte: a parcela devida ao renunciante será acrescida aos outrosherdeiros de mesma categoria. Sendo o único da categoria, passa-se então aos do próximo grau na linha sucessória. Não havendo próximo grau, passa-se à próxima categoria. Exemplo I: João, Pedro e José são irmãos e o pai de Marcos (viúvo) falece. Pedro renuncia à herança. Seu quinhão será distribuído igualmente entre João e José. Exemplo II: Pedro é filho único de Marcos (viúvo) e possui dois filhos, Antônio e Felipe. Marcos falece e Pedro renuncia à herança. Então, ela é distribuída igualmente para Antônio e Felipe, netos de Marcos. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 22 Exemplo III: Pedro é filho único de Marcos e Maria e não possui filhos. Marcos falece e Pedro renuncia à herança. Maria então torna-se a única herdeira. Importante lembrar que não há direito de representação de herdeiro renunciante. 3.6) Excluídos da sucessão Existe a possibilidade de que os herdeiros ou legatários (a quem for destinada herança por testamento) sejam excluídos da sucessão, o que é chamado de exclusão da sucessão por indignidade. Segundo a legislação, isso pode ocorrer nos seguintes casos: I – que houverem sido autores, coautores ou participes de homicídio doloso, ou tentativa desde, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de ultima vontade. Quanto aos efeitos da exclusão na divisão da herança, ocorre que o indigno é tratado como se pré- morto fosse. Portanto, diferente do que ocorre na renúncia da herança, a exclusão não retirar o direito de representação (direito que os descendentes têm de receber o quinhão que seria devido ao herdeiro). Apesar disso, o excluído da sucessão não pode usufruir (receber aluguel ou morar em um imóvel, por exemplo) dos bens recebidos pelos seus descendentes. 3.7) Dívidas e contingências tributárias na sucessão As dívidas (fiscais e comerciais) não são transferidas aos herdeiros, porém os credores podem se habilitar no processo de inventário para receber valores devidos. Logo, os bens do devedor respondem pelas suas dívidas e o credor participa da partilha. Além disso, os herdeiros são responsáveis pela quitação dos tributos gerados pela partilha (ITCMD e IR, se houver). Veremos com mais detalhes na seção sobre tributação na sucessão. Se a partilha ocorrer sem que sejam quitadas as dívidas, os credores podem cobrar dos herdeiros, mas somente na proporção em que tenham sido contemplados na partilha e até o limite máximo do que tiver recebido. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 23 Exemplo I: Exemplo II 3.8) Inventário e Partilha O inventário é o processo através do qual os bens são transmitidos aos herdeiros. O inventariante, pessoa que será responsável pela administração do espólio (bens, direitos e obrigações do falecido) até a conclusão do processo, o qual deverá necessariamente contar com a participação de um advogado (seja o inventário extrajudicial ou judicial) MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 24 Inventário Extrajudicial Feito através de escritura pública em cartório, auferindo velocidade e simplicidade ao processo. Porém, algumas condições devem estar presentes para que o inventário possa ser feito desta forma: i. Todos os herdeiros devem ser maiores e capazes; ii. Deve haver consenso entre os herdeiros quanto à partilha dos bens; iii. O falecido não pode ter deixado testamento, exceto se o testamento estiver caduco ou revogado; iv. A escritura deve contar com a participação de um advogado. Inventário Judicial Não atendidas as condições para o inventário ser feito de forma extrajudicial, ou também por mera opção dos herdeiros, o processo se dá pela via judicial, no qual há a necessidade de um juiz homologar a partilha. Na prática, não há diferença na questão da partilha de bens e demais regras. 4. INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 4.1) Doação Conceito Ato entre vivos de transmitir gratuitamente, ou seja, sem contrapartida financeira, patrimônio (bens e ativos) a terceiros. É uma forma de antecipar a transmissão de bens aos herdeiros sem a necessidade de passar por um processo de inventário quando após o falecimento. Relembrando alguns pontos importantes sobre doação: • Não é possível doar todo o patrimônio (doação universal) • Necessidade de resguardar a Reserva de Legítima (50% do patrimônio deve ser destinado aos herdeiros necessários). • Antecipação de Legitima: salvo disposto expressamente o contrário, doação a ascendentes e descendentes é considerada antecipação de herança e deve ser descontada em uma eventual partilha de bens. Forma É feita através de documento escrito, sendo recomendada a formalização através de escritura pública, para maior segurança jurídica. Doação com Encargo A doação não pode exigir contrapartida financeira, mas pode condicionar a efetividade da doação a alguma condição (cláusula condicional) como por exemplo, doar um imóvel desde que o mesmo seja usado para fins de caridade. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 25 Quanto ao evento condicionado à doação, este pode ser: i. Futuro e certo: por exemplo, doar um imóvel ao filho, mas que se efetivará somente quando o mesmo completar 24 anos. ii. Futuro e incerto: por exemplo, doar um imóvel ao filho, desde que ele se forme em algum curso de grau superior. O donatário (pessoa que recebe a doação) não é obrigado a realizar a contrapartida, entretanto também não verá concretizada a doação. Cláusulas Restritivas A doação (assim como o testamento) pode conter cláusulas restritivas, cada qual com o seu propósito: Cláusula de incomunicabilidade Os bens doados não comunicam com o cônjuge do donatário, não formando bens comuns para fins de divórcio, independentemente do regime de bens (inclusive comunhão universal). Cláusula de impenhorabilidade Os bens doados não podem ser penhorados, seja pelo donatário em caso de prestação de garanta, seja pelos credores em caso de cobrança de dívida. Cláusula de inalienabilidade Os bens doados não podem ser alienados (vendidos ou transferidos), podendo esta cláusula ser: i. Temporária: por tempo determinado ii. Vitalícia: até que o donatário faleça. Colação da Doação Trata-se da obrigação que os herdeiros têm de declarar os bens recebidos do falecido em doação e que representaram antecipação de herança. Isso é importante, pois na partilha os bens recebidos de forma antecipada devem ser descontados do quinhão de quem recebeu a doação. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 26 Exemplo I Na hipótese de omissão da colação e contestação de outro herdeiro, então o herdeiro que omitiu é penalizado, perdendo direito sobre o valor equivalente que deixou de declarar e que é distribuído em partes iguais aos demais herdeiros. Exemplo II MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 27 Quando pode ser dispensada a colação de doação? Quando a doação feita não for considerada antecipação da parcela legítima de herança e sim da parcela disponível (recordar da regra dos 50/50). Para que isso ocorra, o doador precisa fazer constar expressamente na doação (ou testamento, se for o caso) de que os bens doados compõem a parcela disponível e não representam antecipação de legítima. Compra e venda entre ascendentes e descendentes Exceto no caso da separação total de bens, a venda entre ascendentes e descendentes podem ser anuladas caso não tenham a anuência dos demais herdeiros e seus respectivos cônjuges, uma vez que a operação de compra e venda pode ser feita com o intuito de não ser uma doação e burlar a regra da antecipação de herança. Reversão e Revogação A reversão da doação pode ocorrer quando existe a cláusula de reversão, que reverte a doação no caso do donatário falecer antes do doador. Neste caso, o patrimônio doado volta a pertencer ao doador.Já a revogação ocorre basicamente por dois motivos: i. Na doação com encargo, no caso de descumprimento das condições estabelecidas ii. No caso de revogação por ingratidão que, semelhante ao caso do herdeiro indigno, é provocada por atos graves praticados ao doador pelo donatário, quais sejam: I. Se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II. Se cometeu contra ele ofensa física; III. Se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV. Se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. Usufruto A cláusula de usufruto na doação é uma importante ferramenta que permite ao doador antecipar a transmissão do patrimônio sem deixar de usufruir dele em vida. Nesse caso, os donatários possuem a propriedade do bem, porém o doador é quem pode usufruir (usar e receber os frutos). Exemplo: João doa ao filho Pedro, com cláusula de usufruto, uma sala comercial que está alugada como uma forma de antecipar a herança. O imóvel passa a ser de Pedro, mas a renda de aluguel permanece sendo de João. A cláusula de usufruto impede a alienação do imóvel por parte do donatário e pode ser estipulada de forma temporária ou vitalícia. Interesses de credores na doação É ilícito o ato de doar seus bens de forma a prejudicar deliberadamente os credores. Isto é, doar seus bens de forma a ficar sem patrimônio o suficiente para fazer frente às dívidas contraídas perante terceiros, caracterizando uma “fraude a credores”. Caso a dívida já esteja sendo executada (cobrada) em juízo (ação de cobrança), então a doação configuraria “fraude à execução”. Em ambos os casos, a doação pode ser anulada. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 28 4.2) Testamento Conceito Ato personalíssimo de caráter revogável feito em vida e que repercute após o falecimento. Serve para destinar a parcela disponível (50%) do patrimônio para qualquer pessoa (legatário) ou finalidade. Os outros 50% são obrigatoriamente destinados aos herdeiros legais (descendentes, ascendentes e cônjuge). Não havendo herdeiros legais (também chamados de herdeiros necessários) o testador pode destinar 100% de seu patrimônio como quiser. Capacidade do Testador O testador, dono do patrimônio que será destinado, deve estar civilmente capaz para a realização do ato. São considerados civilmente incapazes: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Formas Existem três formas de fazer um testamento, resumidas abaixo: Forma Características Condições para a Validade Segurança Jurídica Particular Documento particular 3 testemunhas assinarem Fraca Cerrado Documento particular Ser aprovado por tabelião e na presença de 2 testemunhas Média Público Escritura Pública Lavrar escritura em cartório Forte Além das formas descritas, existem as disposições especiais que se referem a detalhes como os relacionados à forma de enterro, doações de pequenas quantias e destinação de objetos de valor sentimental. É recomendado que o testamento seja feito na forma pública, conferindo a certeza de que a vontade do testador será respeitada. Testamenteiro O testador deverá nomear uma pessoa que será o testamenteiro, o qual será responsável pela execução das disposições constantes no testamento. É importante ressaltar alguns detalhes da função do testamenteiro: i. Não se confunde com a figura do inventariante, embora possam ser a mesma pessoa ii. Não possui poder de gestão sobre o espólio, salvo se for também o inventariante, cabendo apenas fazer cumprir as vontades do testador expressas no testamento, bem como defender a validade deste no caso de tentativa de impugnação por parte dos herdeiros. iii. Não sendo nomeado, a função fica a cargo do cônjuge e, na ausência deste, a algum herdeiro nomeado pelo juiz. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 29 Herdeiro Menor Se dentre os herdeiros, houver menores de idade, então os bens recebidos ficam sob gestão do tutor legal (geralmente os ascendentes diretos). Todavia, através do testamento é possível designar um curador que substitui a figura do tutor legal para administrar os bens deixados de herança. Essa cláusula pode ser útil quando o testador entende que o tutor legal não teria a capacidade de gerir corretamente o patrimônio deixado ao herdeiro menor de idade. Esse mesmo mecanismo pode servir para nomear um tutor legal de preferência para ter a guarda do filho em caso de falecimento de ambos os pais. Cláusulas Restritivas Assim como na doação, existe a possibilidade de destinar bens via testamento e acrescentar cláusulas restritivas. Relembrando: i. Inalienabilidade ii. Impenhorabilidade iii. Incomunicabilidade As cláusulas restritivas podem ser impostas também sobre a parcela legítima da herança, ou seja, embora o testador não possa destinar livremente 50% dos bens ele pode indicar restrições sobre o patrimônio que a compõe. Para tal, é necessário apresentar um motivo justo no testamento. 4.3) Seguro de Vida O seguro de vida é um instrumento de sucessão que consiste no pagamento de prêmios periódicos (mensais, anuais, etc.) em troca de uma cobertura em eventual sinistro previsto em contrato. Para fins de planejamento sucessório, deve-se contratar a cobertura contra morte. Algumas vantagens do seguro de vida: Liquidez imediata Os recursos financeiros ficam retidos até que seja efetivamente distribuído aos herdeiros após a conclusão do procedimento legal. O seguro de vida provê liquidez aos beneficiários, pois o pagamento independe do processo de inventário Livre nomeação dos beneficiários Não existe obrigatoriedade de respeitar a parcela legítima que caberia aos herdeiros necessários em indenizações de seguro de vida. O segurado pode nomear quem desejar como seu beneficiário Ausência de tributação Não incide qualquer tipo de tributação sobre indenizações de seguro de vida, inclusive sobre a forma de pecúlio (renda) Não responde por dívidas Com exceção de um tipo específico de seguro (prestamista), as indenizações recebidas não possuem vínculo com dívidas e não compõe patrimônio passível de ser atingido pelos credores MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 30 Planejamento financeiro familiar Muitas vezes a pessoa não possui patrimônio suficiente para fazer frente às necessidades financeiras da família em caso de falecimento. Neste caso, o seguro de vida provê os recursos financeiros aos beneficiários, agregando maior segurança num momento de fragilidade patrimonial. 4.4) Planos de Previdência Os planos de previdência possuem caráter previdenciário, sendo inclusive regulados pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados). Por isso, possuem características distintas de outras aplicações financeiras, especialmente no que tange à questão sucessória. Liquidez imediata Recursos aplicados em planos de previdência estão dispensados de passar pelo processo de inventário, conferindo liquidez imediata aos beneficiários em caso de falecimento. Livre nomeação de beneficiários Ao contratar um plano de previdência, é possível nomear beneficiários, que serão aqueles que receberão os valores em caso de falecimento. Sob esse aspecto, o plano de previdência pode ter a mesma função de um testamento, porém é importante observar a reserva legítima (50% do patrimônio deve ser destinado aos herdeiros legais) Tributação favorável Por causa dos valores não irem à inventário, não há necessidade de recolher o ITCMD*. Quanto ao imposto de renda, só é cobrado no momento do resgate das cotas, o que é facultado ao beneficiário fazer de imediato após o falecimento ou aguardar um momento mais favorável. No caso do plano de previdência prever o pagamento de pecúlio (renda) no caso de falecimento, não há incidência de imposto de renda. * Alguns estados passaram a tributar ITCMD sobre valores alocados em planos de previdência nomomento da transmissão. Entretanto, as decisões judiciais tem sido amplamente proferidas pela inconstitucionalidade desta cobrança. Não responde por dívidas Por não passar por inventário, os valores pagos aos beneficiários não compõem patrimônio passível de ser atingido pelos credores 5) Estruturas de Planejamento Sucessório 5.1) Holding Uma Holding é um tipo societário cuja função é de gestão de bens e direitos, podendo, ou não, ter uma atividade operacional (holding mista). Basicamente é estruturada com dois objetivos: i. Transferir os imóveis da família para uma estrutura jurídica, integralizando-os* como um ativo da empresa MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 31 ii. Transferir as cotas de empresas familiares para uma estrutura societária que passa a centralizar a gestão e o recebimento de dividendos. * Por integralizar, entende-se compor o capital inicial da empresa. Por quê criar uma holding no planejamento sucessório? Ao criar a holding, a família pode inserir os herdeiros formalmente nos bens e negócios familiares e assim, no momento da sucessão, a gestão do patrimônio segue normalmente sem a necessidade de aguardar os trâmites burocráticos de inventário. Além disso, existe a possibilidade do patriarca ou matriarca afastarem-se formalmente dos negócios ao doar todas as suas cotas, mas continuarem a receber os dividendos e rendimentos frutos da holding, fazendo uma doação com cláusula de usufruto. Nessa última hipótese, não haveria necessidade de fazer inventário no caso de falecimento de um deles. Holding de Participações A holding de participações (ou pura) serve para ser uma empresa “guarda-chuva” de outras empresas, centralizando e simplificando a participação, a gestão e o recebimento de dividendos em uma única estrutura societária Holding Imobiliária A holding imobiliária tem por objetivo centralizar imóveis que geralmente estão em nome de pessoas da família em uma única estrutura jurídica. Alguns pontos importantes a serem observados: i. Geralmente (há exceções) existe redução da carga tributária, no sentido de que se paga menos de imposto de renda sobre aluguel e ganho de capital na pessoa jurídica do que na pessoa física. ii. No ato da integralização dos imóveis, pode haver o pagamento de ITBI.* iii. Na sucessão, o ato de transferir as cotas empresariais ao invés de participação em imóveis confere agilidade ao processo. iv. Na sucessão, o ITCM incide sobre o valor da cota e não sobre o valor de mercado dos imóveis. *Há uma discussão jurídica recente sobre a incidência ou não do ITBI na integralização de holding, devendo ser analisado caso a caso. Holding Patrimonial A holding patrimonial é o nome geral que se dá a uma holding de aspecto familiar e que serve tanto para alocar ativos imobiliários, como outros tipos de ativos sob a sua estrutura jurídica. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 32 5.2) Fundos de Investimento Regras Gerais e Especiais Os fundos de investimento que investem em ativos de renda fixa e renda variável são regidos pela Instrução CVM 555, podendo ser um fundo aberto ou fechado. Ocorre que, para fins sucessórios, o fundo aberto não é vantajoso, pois: Art. 13. A cota de fundo aberto não pode ser objeto de cessão ou transferência, exceto nos casos de: I – decisão judicial ou arbitral; II – operações de cessão fiduciária; III – execução de garantia; IV – sucessão universal; V – dissolução de sociedade conjugal ou união estável por via judicial ou escritura pública que disponha sobre a partilha de bens; e VI – transferência de administração ou portabilidade de planos de previdência. Já no caso de fundos fechados: Art. 14. As cotas de fundo fechado e seus direitos de subscrição podem ser transferidos, mediante termo de cessão e transferência, assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou por meio de negociação e mercado organizado em que as cotas do fundo sejam admitidas à negociação Portanto, para planejamento sucessório é necessário que as cotas estejam em um fundo fechado. Ainda, existe a possibilidade da formação de um fundo imobiliário, regido pela instrução CVM 472 e que o caracteriza como “sob a forma de condomínio fechado e poderá ter prazo de duração indeterminado”. Sendo assim, um fundo imobiliário também pode ser uma estrutura adequada para fins sucessórios. Fundos fechados Por suas cotas serem passíveis de transferência de um titular para outro, os fundos fechados são considerados estruturas possíveis em um planejamento sucessório. Algumas características importantes de um fundo fechado: Vantagem tributária Não há tributação de IR quando há movimentação de compra e venda de ativos, uma vez que ela ocorre dentro da estrutura do fundo Simplicidade Por ter um único valor de cota, a rentabilidade é consolidada e de mais fácil acompanhamento Autonomia Os cotistas podem alterar os prestadores de serviço do fundo (gestor, administrador e custodiante) conforme a sua vontade. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 33 Planejamento Sucessório Como já ressaltado, é possível distribuir as cotas a herdeiros, antecipando a herança. Outra possibilidade é de doar todas as cotas e manter os direitos sobre as cotas (cláusula de usufruto). Além disso, em caso de falecimento de um dos cotistas o fundo permanece sendo gerido sem impedimentos, não prejudicando a estratégia de alocação dos ativos e, por consequência, a rentabilidade. 5.3) Exterior Para o investidor que deseja alocar seus recursos no exterior para fazer a sucessão é recomendável, do ponto de vista tributário, fazê-lo através de uma estrutura jurídica como uma offshore ou trust. Isso ocorre devido à alta tributação sobre herança que existe em alguns países que são destino comum de investimentos feitos por brasileiros. Por exemplo, 40% nos EUA, 50% na Alemanha e 40% na Inglaterra. Por outro lado, existem países como a Suiça, a China e a Rússia que praticamente não tributam a herança. Bens e direitos no exterior Apesar de variar conforme o caso, o ideal para quem tem investimentos no exterior em relação a planejamento sucessório é estruturar uma offshore em um país amigável para a tributação como Ilhas Cayman, Singapura e Uruguai. Uma offshore nada mais é do que uma sociedade jurídica estabelecida fora do país de domicílio de seus investidores. Os investidores então possuem cotas dessa empresa que realiza investimentos no exterior. A lógica no caso de falecimento do investidor ou de um dos investidores é parecida com a do fundo fechado: transfere-se somente as cotas da empresa e não todos os ativos, agregando agilidade e menores custos de tributação, pois vale a regra da jurisdição onde a empresa está registrada. Trust Uma trust é um tipo específico de offshore (já que não existe estrutura jurídica idêntica no Brasil), constituídas com a finalidade de gestão de ativos e muito utilizada no planejamento sucessório para quem possui ativos no exterior. A sua estrutura é a seguinte: MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 34 O Settlor é a pessoa que transfere seus bens para a esfera jurídica da Trust, a qual é administrada pelo Trustee (opcionalmente, supervisionado pelo Protector). O Trustee é o responsável pela gestão profissional dos bens em benefício das pessoas indicadas pelo settlor (beneficiarys). No falecimento do settlor aplica-se a distribuição do patrimônio estabelecida previamente nas regras (letter of wishes). Quanto às regras de sucessão, se o Settlor e os herdeiros forem brasileiros ou tiverem domicílio no Brasil, deverão ser observadas as mesmas regras no que diz respeito à parcela legítima, que deve ser destinada aos herdeiros necessários, e demais aspectos da divisão de herança. Já se o Settlor teve último domicílio no exterior, varia conforme a nacionalidade e domicílio dos herdeiros. Fundações No Brasil, a fundação pode ser criada por qualquer indivíduo (ou um grupo), chamado instituidor, por meio de escritura pública ou testamento (dotação especial de bens livre), através dos quais reservaparte de seu patrimônio particular para a criação de uma entidade jurídica de interesse público e social que, necessariamente, deve ter uma das seguintes atividades previstas em lei: I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX – atividades religiosas Quanto à estrutura de uma fundação, alguns pontos relevantes: Não existem sócios: Uma fundação é formada pela dotação de um patrimônio inicial, não havendo formalmente sócios. Ministério Público: A fundação deve ter autorização e é fiscalizada pelo ministério público Obtenção de Lucro: Não podem ter fins lucrativos e seus dirigentes não podem ser remunerados, exceto se tiverem vínculo empregatício. Não pode haver distribuição de lucro, mas pode exercer atividade econômica desde que os recursos obtidos sejam reinvestidos na manutenção da fundação. Recursos para a instituição: no caso dos recursos destinados serem insuficientes para a formação da fundação, serão destinados a outra fundação com finalidade semelhante (exceto se disposto em contrário pelo instituidor). Outro ponto importante é que o patrimônio doado deve estar livre de quaisquer ônus reais e ações. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 35 Estatuto e Conselho de Fundação: o instituidor deverá designar pessoa que elaborará o estatuto da fundação, que é o documento de constituição. O instituidor poderá também designar os membros do conselho que irão administrar a fundação. Para fins sucessórios, aplica-se a regra da parcela legítima. Uma vez respeitado os 50% que cabe aos herdeiros necessários, o restante pode ser livremente doado, inclusive para instituir uma fundação. 6. ASPECTOS TRIBUTÁRIOS 6.1) ITCMD – Imposto sobre Transmissão Causa Mortis ou Doação Competência Estados e Distrito Federal Fato Gerador Transmissão de bens e direitos por doação ou por ocasião de falecimento/causa mortis (herança e legado) Base de Cálculo Valor venal, ou seja, o valor de mercado dos bens transmitidos quando ocorrer o fato gerador. Alíquota Cada Estado (e Distrito Federal) aplica uma alíquota, a qual não pode ser superior a 8%. No Estado de São Paulo, aplica-se a alíquota de 4%, mas tramita projeto de lei que o torna o tributo progressivo de 0% a 8%, além de aplicar alíquotas diferentes dependendo se for doação ou “causa mortis”. Identificação do Contribuinte Depende da lei de cada Estado/DF, mas geralmente é o herdeiro/legatário quando na transmissão “causa mortis” e o donatário na doação. Momento de Recolher Depende da lei de cada Estado/DF, mas no caso de inventário é obrigatório o recolhimento do tributo para encerramento da partilha. Isenção Depende da lei de cada Estado/DF 6.2) ITBI – Impostos sobre Transmissão de Bens Imóveis Competência Município onde se localiza o bem Fato Gerador Conforme Art. 156 d CF, “transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, [...] e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição” MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 36 Base de Cálculo Valor venal dos bens ou direitos transmitidos, assim entendido o valor pelo qual o bem ou direito seria negociado em condições normais de mercado para compra e venda à vista. Alíquota Varia conforme a lei de cada município. No município de São Paulo, salvo algumas exceções, aplica- se a alíquota de 3%. Identificação do Contribuinte Quem está adquirindo o bem ou direito sobre o imóvel. Momento de Recolher Varia conforme a lei de cada município, porém deve ser feito antes da efetiva formalização da transmissão do bem ou direito. Isenção Varia conforme a lei de cada município. Na cidade de São Paulo um dos fatos que gera isenção é a primeira aquisição de imóvel ou pelo Programa Minha Casa Minha Vida 6.3) IR – Imposto de Renda Competência União Federal Fato Gerador No caso da sucessão é o ganho de capital (acréscimo patrimonial) declarado no processo de inventário. Essa atualização monetária é opcional para os herdeiros. No geral, as transmissões de bens via inventário são isentas de IR. Base de Cálculo A diferença positiva entre o valor de aquisição declarado do bem e o valor atualizado de alienação, no momento da transmissão do bem aos herdeiros. Não havendo atualização de valores, não há diferença de valor e, portanto, não há ganho de capital e incidência de IR. Exemplo: João possui 3 imóveis que, em sua última declaração de IR, constam com o valor de R$ 100.000,00 cada. No falecimento de João, abre-se o processo de inventário e forma-se o espólio, sendo que os herdeiros resolvem atualizar o valor dos imóveis para R$ 500.000,00 cada. Neste caso, o ganho de capital é de R$ 400.000,00 por imóvel, totalizando R$ 1.200.000,00. O IR a ser cobrado é de 15% (conforme tabela IR de Ganho de Capital) totalizando R$ 180.000,00. MÓDULO VI | CFP | EA BANKING SHOOL 37 Alíquota Conforme Tabela IR para Ganho de Capital: Identificação do Contribuinte É o espólio (conjunto de bens e direitos do falecido em processo de inventário). Na prática, o inventariante é quem é o responsável por fazer os pagamentos. Momento de Recolher Segundo a Receita Federal, “o imposto devido sobre ganho de capital deve ser pago pelo inventariante até 30 (trinta) dias do trânsito em julgado da decisão judicial da partilha, sobrepartilha ou adjudicação ou lavratura da escritura pública.” Isenção Existe uma tabela de descontos que devem ser aplicados sobre o ganho de capital, conforme o ano de aquisição ou incorporação do bem imóvel: Fonte: seudescontolegal.com Exemplo: João tem um imóvel adquirido em 1979 pelo valor equivalente a R$ 100.000,00. Por ocasião do seu falecimento, durante o processo de inventário, o seu único herdeiro Pedro preferiu atualizar o valor do bem, que hoje vale o equivalente a R$ 600.000,00. Neste caso, Pedro deve recolher IR correspondente ao ganho de capital de R$ 250.000,00 (R$ 500.000,00 x 50%), que resulta no valor de R$ 37.500,00.
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