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VAMOS
PENSAR
+
UM
POUCO?
 
Lições ilustradas com a Turma da Mônica
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 
 
Sousa, Mauricio de
 
Vamos pensar + um pouco? [livro eletrônico] : lições ilustradas com
a Turma da Mônica / Mauricio de Sousa, Mario Sergio Cortella. --
São Paulo : Cortez : Mauricio de Souza Editora, 2020.
 
14.1 Mb ; epub
 
ISBN 978-65-5555-009-2 (Cortez)
 
1. Filosofia 2. Reflexões 3. Turma da Mônica (Personagens
fictícios) I. Cortella, Mario Sergio. II. Título.
 
20-39812 CDD-100
 
 
Índices para catálogo sistemático:
 
1. Filosofia 100
 
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
Mauricio de Sousa
Mario Sergio Cortella
 
Vamos
pensar
+
um
pouco
 
Lições ilustradas com a Turma da Mônica
 
 
 
 
Sumário
 
Novo jeito de olhar
 
Coloração do tempo
 
Bom dia!
 
Os grandes de verdade
 
Falou bonito… Será?
 
Arte à mesa
 
Virtude cívica
 
Psiuuuu…
 
O bem silencioso
 
Não, não… de novo, não!
 
Bem lembrado
 
Pausa do bicho-carpinteiro
 
O papo nosso de cada dia
 
Tô chegando
 
Transpiração ou inspiração
 
Matéria-prima
 
Brinquedo de olhar o céu
 
No lugar do outro
 
Fazer mais para fazer melhor
 
Olhar renovado
 
Checar antes de espalhar
 
Foi por pouco
 
Vivendo e aprendendo
 
O bom espanto
 
Cultivo responsável
 
Vitalidade da arte
 
As medidas de cada um
 
O grande Poetinha
 
Mundo fantástico
 
A casa de todos nós
 
Conexão imediata
 
Conhecimento ilusório
 
Está, mas não está
 
Sai pra lá
 
Energia vital
Novo jeito de olhar
 
Quando nos habituamos a algumas coisas no nosso dia a dia,
nosso olhar se torna distraído. A capacidade de criar, de
reinventar, de renovar está muito ligada à possibilidade de nos
desconectarmos daquilo que nos é rotineiro. Nós nos
acostumamos com certas coisas e as olhamos sempre do mesmo
jeito. E o que nos permite crescer, criar, encontrar soluções, ir
além do óbvio é procurar olhar as coisas de um novo jeito.
 
Esta é uma ideia forte, que pode ser muito debatida no campo da
Filosofia. Sabedoria é ser capaz de, também, se espantar com
tudo. Sim, porque quem só encontra mesmice no dia a dia, só
encontra “o de sempre”, só encontra o habitual, acaba por não se
recriar. Qual o risco dessa situação? Tornar-se uma pessoa
repetitiva, fechada, com repertório limitado.
 
O grande pensador Immanuel Kant (1724-1804) tinha uma frase
que nos ajuda a refletir: “Avalia-se a inteligência de um indivíduo
pela quantidade de incertezas que ele consegue suportar”.
 
Questionar, não se contentar com o corriqueiro, procurar olhar
para além do óbvio é, portanto, uma forma de inteligência.
 
Coloração do tempo
 
Sabemos que o tempo passa, porém, nem sempre o notamos. A
passagem do tempo deixa algumas marcas, como as rugas na
pele ou os cabelos embranquecidos. Mas o tempo cria também
cores. E cores inéditas.
 
O estupendo poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994), no livro
Sapato florido, escreve: “Há uma cor que não vem nos dicionários.
Essa indefinível cor que tem todos os retratos, os figurinos da
última estação, a voz das velhas damas, os primeiros sapatos,
certas tabuletas, certas ruazinhas laterais: – a cor do tempo…”.
Olha que interessante. Quando a gente pega um documento
antigo, uma foto, uma roupa, passa por uma ruazinha, vê os
primeiros sapatos, enxerga algumas tabuletas, aparece uma cor
que não é definida em nenhum dicionário, que não aparece em
lugar nenhum, mas que marca a nossa história. É fácil reconhecer
algo que é antigo, que está marcado pela cor do tempo, como tão
bem escreveu Quintana.
 
É uma marca da passagem, da mudança, que, nítida, fica como a
“cor do tempo”…
 
Bom dia!
 
Quando eu noto que sou uma pessoa autêntica? Quando aquilo
que eu penso, que faço, a maneira como ajo coincide com aquilo
que eu quero ser, com aquilo que eu penso de mim. Isto é, sou
autêntico quando não há uma ruptura entre o que eu penso e o
que eu faço.
 
Essa percepção de autenticidade dá vigor à própria identidade de
uma pessoa. Eu sou como acho que devo ser, e isso é bom
quando aquilo que eu acho que devo ser é bom não apenas para
mim, mas para os outros que vivem ao meu redor, para a vida
coletiva. O pensador francês Paul Valéry (1871-1945) dizia:
“Homem feliz é aquele que, ao despertar, se reencontra com o
prazer e se reconhece como aquele que ele gosta de ser”. Olha
que frase boa! É uma percepção muito interessante de Valéry
sobre felicidade.
 
Quando você ou eu acordamos, existe mesmo uma grande
satisfação em nos reconhecer e gostarmos de ser do modo que
somos. Evidentemente, existem também pessoas que se inclinam
a fazer coisas equivocadas, que falam de um jeito e agem de
outro. Mas, se nós entendemos que o melhor modo de ser é ser
decente, nos identificamos com a conduta que escolhemos. E isso
nos dá muito prazer em começar o dia.
 
Os grandes de verdade
 
Um poder que serve é aquele que não se serve da sua própria
condição. O poder do conhecimento, o poder da autoridade, o
poder da liderança. Sempre gosto de retomar essa percepção,
porque a grandeza de alguém vem da possibilidade de partilha e
da atitude de não se elevar pela diminuição das outras pessoas.
 
O grande pensador britânico Gilbert Keith Chesterton (1874-1936),
no livro Charles Dickens, de 1906, nos leva a uma reflexão
necessária: “Há grandes homens que fazem com que todos se
sintam pequenos, mas o verdadeiro grande homem é aquele que
faz com que todos se sintam grandes”.
 
Ele usa a ideia de grande de maneira dupla. Quando fala que há
“grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos”,
é grande no sentido de poder, de autoridade. Mas, logo na
sequência, lembra Chesterton que “o verdadeiro grande homem é
aquele que faz com que todos se sintam grandes”. Porque a
grandeza vem dessa partilha, de colocar numa condição mais
elevada aqueles que estão à volta. Um grande homem, uma
grande mulher, quando sobe de patamar, faz com que os outros
também se elevem.
 
Falou bonito… Será?
 
Um aspecto bastante curioso na cultura brasileira é a ideia de que
falar difícil é sinal de inteligência. Quando ouvimos alguns
discursos, algumas expressões, notamos a intenção da pessoa de
passar uma imagem de inteligente, mas muitas vezes acaba
sendo ininteligível. Para demonstrar erudição, ela dá voltas e mais
voltas dentro de um raciocínio, e a fala fica sem clareza. Com isso,
ela despreza a mais importante regra da comunicação, que é se
fazer entender. É um equívoco, portanto, supor que uma
linguagem mais intrincada seja sinônimo de sofisticação
intelectual.
 
O escritor francês Victor Hugo (1802-1885), lá no século XIX,
escreveu algo que nos alerta: “Quando não somos inteligíveis, não
somos inteligentes”. Claro! Faz parte da inteligência ser capaz de
ser inteligível, de ser compreendido por quem nos ouve, quem nos
lê, quem nos vê.
 
Quem deseja expressar inteligência precisa ter a capacidade de
se fazer entender, de ser inteligível. Quem conosco se comunica
precisa compreender o conteúdo que expomos, e não apenas nos
admirar supondo que “falar difícil” é sinal de inteligência.
 
Arte à mesa
 
Agastronomia tem despertado o interesse de muitas pessoas
atualmente. Existem cursos, programas na TV e na internet que
ensinam receitas ou que promovem competições entre
cozinheiros. Crianças e adultos têm se direcionado para a
culinária. A carreira ligada à gastronomia é envolta numa
atmosfera de encanto. A formação nessa área vai muito além de
cozinhar, se aproxima do campo da arte, portanto, da sofisticação.
 
Houve uma mudança na relação com a comida. Todo ser vivo
precisa se alimentar. Nós, humanos, no entanto, não nos
contentamos com a mera ingestão de comida. Nossa alimentação
é marcada também pela nossa identidade, pelo nosso prazer à
mesa.
 
Esta grande moda hoje do mundo da gastronomia já foi
mencionada há muito tempo. Lá no século XVIII, o advogado e
escritor escocês JamesBoswell (1740-1795), em seu livro Viagens
às Hébridas, escreveu: “O homem é um animal que cozinha”. Em
vez de usar a clássica percepção do pensador grego Aristóteles
de que o homem é um animal racional, Boswell afirma que o
homem é um animal que cozinha. De fato, nós somos um ser
capaz de cozinhar e não apenas coletar algum alimento disponível
na natureza para degluti-lo. Mais que isso, somos capazes de
desenvolver a plantação, de criar culturas alimentares e também
de cozinharmos. E, pelo visto, de forma cada vez mais elaborada
e diversificada.
 
Virtude cívica
 
Muito tem sido falado sobre valores e ideais republica-nos, que
têm muito a ver com a nossa capacidade de vivermos em
conjunto, cuidando da coisa pública. Cabe dizer que a coisa
pública não é aquela que não é de ninguém, mas a que pertence a
todas e todos. E, por isso, a coisa pública não diz respeito apenas
à propriedade, ao patrimônio, mas à nossa convivência, à nossa
cidadania.
 
Muitas virtudes cívicas precisam ganhar força nos tempos atuais.
O filósofo e jornalista francês Émile-Auguste Chartier, mais
conhecido como Alain (1868-1951), um dos mais importantes
defensores do pacifismo no século XX, disse um dia: “Resistência
e obediência, eis as duas virtudes do cidadão. Pela obediência, o
cidadão garante a ordem, pela resistência, garante a liberdade”.
Afinal, o conceito de uma república é baseado no princípio de
direitos iguais, com uma legislação que assegure igualdade entre
todas as pessoas. Por isso, a frase de Alain destaca a importância
dessas virtudes. Vale acatar as regras que garantam a paz social,
o bem-estar coletivo, mas resistir a tudo aquilo que for ilegítimo,
que contrarie os direitos do cidadão e, portanto, não deva estar
presente no nosso cotidiano.
 
Psiuuuu…
 
Vivemos atualmente num mundo bastante ruidoso. Nas cidades,
nas comunidades, na nossa família, no prédio, na vizinhança… É
barulho para tudo que é lado. Não são só nas comemorações,
mas na agitação das pessoas que se deslocam para lá e para cá
na tentativa de resolver suas urgências. Há uma pressa fortíssima
no nosso cotidiano e, de vez em quando, bate uma vontade de
encontrar o silêncio, de ter um pouco de paz.
 
Quando o final de semana chega ou as épocas de feriado se
aproximam, nós desejamos um pouco de silêncio. A grande
questão é: o que é o silêncio? O poeta paranaense Eno Teodoro
Wanke (1929-2001) tem um livro com um título que eu acho
magnífico, que é Quando a cadabra se abriu. A gente não fala
“abracadabra”? É um livro de definições, com frases muito boas.
Eno escreveu: “Silêncio é uma falta de ruído que acontece quando
o barulho se acaba, enquanto ele não recomeça”. É um raciocínio
de uma clareza estupenda. Ao desejar o silêncio, há necessidade
de se acalmar um pouco esse caos auditivo, esses ruídos
intermináveis que nos rondam, principalmente nas grandes
cidades. De vez em quando, um pouco de repouso, um pouco de
harmonia nos faz muito bem. Eita, coisa boa…
 
O bem silencioso
 
Existem pessoas que praticam atos de bondade na mais completa
discrição. Não costumam propagandear seus gestos de
generosidade.
 
Independentemente de seguir ou não uma religião, vale demais
pensar sobre uma recomendação que está na Bíblia dos cristãos.
No Evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 2, há uma frase
magnífica atribuída a Jesus de Nazaré: “Quando deres um
donativo, não toques trombeta diante de ti como fazem os
hipócritas, para serem glorificados pelos homens”. Aliás, neste
trecho do Evangelho de Mateus aparece um outro conselho que
reforça a reflexão: “Que não saiba a sua mão esquerda o que faz
a direita”. Evidentemente, a ideia nesta frase não é de um
anonimato desnecessário, mas de não se divulgar aos quatro
ventos o bem que foi realizado.
 
De maneira geral, a pessoa dotada de uma fraternidade sincera é
discreta na bondade que exerce. Na convivência com quem
precisa de algo, ela oferece, afaga, acalma, ajuda, mas não faz
dessa conduta um motivo para a autopromoção. Não faz
publicidade de si mesma. Vale pensar sobre isso.
 
Não, não… de novo, não!
 
Errei, mas parei. Não faço mais isso. Quantas vezes você e eu
fomos capazes de parar e refletir sobre o que fizemos e não
gostaríamos de fazer novamente? O ser humano tem a
capacidade de se arrepender daquilo que fez e decidir não agir
mais daquele modo.
 
Muitas vezes, porém, não conseguimos transformar nossas
intenções em realidade. O escritor polonês Karol Irzykowski (1873-
1944) dizia: “O que me dói não são as tolices que cometi, mas as
que ainda vou cometer”. Nesta frase, ele projeta o futuro com a
perspectiva de um acontecimento não desejado e, portanto,
dolorido. Afinal, nós somos, sim, capazes de cometer tolices, mas
além do arrependimento em relação às besteiras já cometidas,
sabemos que existe a possibilidade de nos equivocarmos
novamente.
 
Ao termos essa consciência, fica mais fácil prestarmos atenção
aos nossos atos, avaliarmos os erros, corrigi-los e redobrar a
vigilância para não repeti-los. Cuidado para não repetir o erro. Se
esse for um objetivo (não repetir erros), teremos mais clareza para
fazer as mudanças necessárias em nossas atitudes e tomar as
decisões mais acertadas.
 
Bem lembrado
 
Como qualquer estrutura físico-químico-biológica, nós, seres
humanos, estamos sujeitos a rupturas. No nosso cérebro,
especificamente, podem acontecer desconexões, lapsos, perdas
de sinapses. Portanto, podemos nos esquecer de muitas coisas. E
esse esquecimento, mesmo em seres mais complexos, como é o
nosso caso, é quase uma norma da natureza. Mas nós, seres
humanos, lutamos imensamente contra esse fenômeno. Nós
queremos impedir a desmemória, nos esforçamos para preservar
as nossas lembranças.
 
Amado Nervo (1870-1919), poeta mexicano, escreveu em sua
obra Crônicas: “A recordação é uma rebelião contra o
esquecimento, que é uma lei”. De fato, a recordação de
acontecimentos, o esforço de trazer à tona a memória, as
comemorações de datas ou eventos marcantes são como uma
rebelião contra o esquecimento. Como disse Amado Nervo, o
esquecimento é uma lei. No entanto, uma lei da natureza que nós
somos capazes, sim, de recusar, de afastar. Nós insistimos em
querer lembrar, isto é, dizer “eu não me esqueço, nem do bem
nem do mal”.
 
Pausa do bicho-carpinteiro
 
Você já ouviu a frase “tá com o bicho-carpinteiro”? Ela é
direcionada à criança quando está muito agitada. De fato, algumas
crianças não sossegam nem quando é tempo de descansar. É
claro que essa movimentação toda é desejada como energia,
como alegria, como demonstração de vitalidade. Mas há
momentos em que quem cuida de uma criança deseja uma pausa.
 
A criança demora para se cansar, mas não demora tanto para
cansar quem dela cuida.
 
Uma frase muito inteligente do filósofo norte-americano Ralph
Waldo Emerson (1803-1882), já lá no século XIX, nos alertava:
“Nunca houve uma criança amável a ponto que a própria mãe não
ficasse satisfeita ao conseguir adormecê-la”. O que é verdade.
 
Por mais que a criança seja encantadora, carinhosa, afetiva, ainda
assim, há um momento em que o pai ou a mãe tem uma grande
sensação de paz: quando consegue fazer com que a criança
adormeça, repouse. Nessa hora, o pai ou a mãe ou quem cuida
costuma pensar: “Agora, sim, tendo cuidado do importante, vou
cuidar do que é urgente”.
 
O papo nosso de cada dia
 
Aconversa à toa é uma arte que nós, brasileiros e brasileiras,
somos capazes de praticar com imensa alegria. Vez ou outra, você
passa numa segunda-feira de manhã e vê três ou quatro pessoas
numa esquina, na frente de uma banca de jornal, num ponto de
ônibus, falando sobre o futebol, comentando o resultado do jogo
no dia anterior, mas ninguém ali está preocupado em vencer
aquela discussão. Estão ali apenas para, como a gente diz, jogar
conversa fora. Há momentos no nosso cotidiano em que isso é
muito gostoso, quando podemos ter uma folga dos assuntos
sérios. Ficamos ali levando aquela conversa sem eira nem beira,
que não vai para lugar nenhum e nem por isso deixa deser
agradável, prazerosa.
 
O escritor mineiro Fernando Sabino (1923-2004), em seu livro
chamado Deixa o Alfredo falar!, lembra: “A arte brasileira da
conversa não é de fácil aprendizado, falo precisamente do bate-
papo. Erigido numa das mais requintadas instituições nacionais.
No papo bem batido, a discussão não passa de uma motivação
sem intuito de convencer ninguém, nem de provar que você tem
razão”.
 
O que é esse bate-papo? É a conversa à toa, é aquele papo que
vai e volta. Fala-se de alguém, fala-se do futebol, fala-se da
política, fala-se do trânsito, fala-se da chuva ou do sol, fala-se da
vida alheia e, diz Fernando Sabino, “essa é uma arte bem
brasileira”. É difícil para uma pessoa de outro país compreender
esse hábito, no qual nós somos mestres. A única motivação ali é…
conversar.
 
Tô chegando
 
Existem pessoas que são realmente comprometidas com a
pontualidade. E isso é um indicativo do caráter delas. Por outro
lado, há muita gente que é bem despreocupada em relação aos
horários combinados. Os argumentos costumam ser “ah, mas nós
somos assim”, “o brasileiro tem essa mania de atraso”, “aqui nada
começa no horário”, “as coisas são desse modo e vamos nos
habituando”.
 
Essa nossa impontualidade, seja para um compromisso
agendado, seja para os prazos que precisam ser cumpridos, seja
no atendimento que precisamos receber em espaços públicos e
privados, acaba contribuindo para uma percepção de frouxidão no
que se refere ao jeito brasileiro de ser. E esse aspecto é
absolutamente negativo.
 
Desde o século XIX, o carioca Marquês de Maricá (1773-1848),
senador durante o Império, um homem com doutorado em
Filosofia pela Universidade de Coimbra, alertava: “Não espereis
moralidade em quem não tem pontualidade”. Ou seja, um dos
indicadores de um caráter responsável, que respeita o próprio
tempo e o de outras pessoas, tem a ver com a pontualidade. É um
dos requisitos da própria moralidade, da convivência decente.
Essa mania de chegar atrasado pode até ser colocada como algo
gracioso, mas não o é. Ela fere o princípio do compromisso
assumido.
 
Transpiração ou inspiração
 
No que se refere ao campo da criação, a inspiração é algo que
pode vir sem que se tenha buscado ou não aparecer quando tanto
se deseja. Seja na poesia, na concepção de uma obra de arte, na
culinária, na produção de qualquer coisa que nos emocione. Pode-
se dizer, dessa forma, que há uma rebeldia da própria criação.
 
Alguns escritores, compositores, poetas costumam dizer que a
obra é resultado de um grande esforço – o que é verdade. Alegam
que a inspiração tem um papel secundário no processo criativo.
Há outros, no entanto, que entendem que a chama criadora de
alguma ideia é algo incontrolável, que surge às vezes em ocasiões
e momentos inusitados.
 
A poetisa paulistana Yolanda Jordão (1913-1990) parece fazer
parte dos que veem a inspiração como uma visita que pode
chegar a qualquer hora. Na obra Ponte de pedra, ela escreve: “O
ser poeta não é profissão, nem a poesia, burocracia, em que o
funcionário assine ponto às onze em ponto de cada dia. Ela vem,
se quer, numa manhã de primavera na fresca brisa ou às três
horas da madrugada de um fevereiro quente e bissexto”. O que diz
a autora? Que a poesia não é burocracia. Muitas vezes, ela surge
sem que se espere. Nesse sentido, segundo Yolanda Jordão, a
poesia é que busca o autor ou a autora e não o contrário. É um
dos modos de olhar a criação.
 
Matéria-prima
 
Existem vários relatos de experiências em que para se verificar a
veracidade de um metal, como o ouro, por exemplo, a peça era
exposta à altíssima temperatura. Conforme a reação, do que
sobrava era possível aferir a real constituição daquele material.
 
Essa é uma comparação que pode ser feita em relação a pessoas
também. Qual a capacidade de enfrentamento, de resistência que
uma pessoa pode ter diante de condições adversas durante a
vida?
 
O filósofo latino Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), na obra A providência,
fez essa associação entre metais e seres humanos: “O fogo é a
prova do ouro, a miséria, a do homem forte”. Nessa frase, Sêneca
usa a palavra “miséria” no sentido de dificuldade, de turbulência.
 
Como se comprova que o ouro de fato é autêntico? Ao se
observar o que sobra após testar a sua resistência à alta
temperatura. Comparativamente, alguém mostra que é forte
quando tem de encarar as adversidades, as contrariedades, as
pressões. É diante de um grande desafio que a pessoa demonstra
a sua capacidade de enfrentamento.
 
Brinquedo de olhar o céu
 
Ao avistarmos uma pipa no céu, dificilmente imaginamos se tratar
de um brinquedo inventado pelos chineses há mais de três mil
anos. Aqui no Brasil, conforme a região, a pipa recebe vários
nomes: pandorga, quadrado, papagaio, arraia.
 
Nós precisamos ficar alertas quanto aos riscos de empinar pipas
perto de redes elétricas. É fundamental evitar também a batalha
tola de cortar a pipa do outro. Para essa disputa, recobrem-se as
linhas com produtos cortantes, o que pode ocasionar acidentes
sérios a pessoas que nem sequer estão participando daquela
situação.
 
Mas, tirando esses hábitos perigosos do circuito, existe um
romantismo em relação à imagem das pipas no céu. O escritor
sergipano Gilberto Amado (1887-1969) escreveu algo
absolutamente verdadeiro e poético no livro Depois da política:
“Empinar papagaio é um bom brinquedo, obriga o menino a olhar
para o céu”.
 
Quantos de nós, na nossa infância, não nos habituamos a olhar
mais para o céu e a prestar atenção em horizontes mais
alargados?
 
E você, já olhou para o céu hoje?
 
No lugar do outro
 
Quem já passou por sofrimentos costuma ajudar de maneira mais
efetiva alguém que esteja passando por momentos difíceis. Afinal,
quem enfrentou uma situação de penúria, de turbulência, de
tormento, é capaz de condoer-se e de apoiar aquelas pessoas que
no dia a dia passam, também, por atribulações.
 
Num país como o nosso, em que muitas pessoas perdem seu
posto de trabalho, ficam impedidas de exercer a sua atividade e
encontram dificuldades até para se sustentar, é extremamente
necessária a ideia de compaixão pelo próximo.
 
O escritor romano Vírgílio (70 a.C.-19 a.C), na clássica obra
Eneida, fala de Eneias, o único sobrevivente da guerra de Troia. E
a personagem Dido, a primeira rainha de Cartago, diz ao náufrago
Eneias: “Tendo eu mesma experimentado o infortúnio, aprendi a
socorrer os infelizes”.
 
Frase densa, verdadeira. Carrega a ideia de uma compaixão que
não seja mera formalidade. Demonstra que aquela pessoa que já
experimentou a dor, a perda, o sofrimento, quando encontra
alguém numa situação desfavorável, tem a sensibilidade e é capaz
de apoiá-la, animá-la, ajudá-la.
 
Essa é a ideia de humanidade, aquilo que nos faz praticantes da
fraternidade.
 
Fazer mais para fazer melhor
 
Adedicação contínua a uma atividade aumenta a nossa perícia, a
nossa habilidade em executá-la. Essa é uma ideia antiga na
ciência, na arte, na docência, no jornalismo, na medicina, em
várias áreas.
 
Uma competência extremada em exercer uma atividade não
decorre de uma inspiração momentânea, como se uma força
sobrenatural baixasse na pessoa e “agora você vai ser um bom
escritor, padeiro, músico, jogador de futebol”. Ao contrário, a
perícia advém exatamente do esforço contínuo.
 
Nas atividades ligadas à arte, por exemplo, essa postura é
decisiva. Tanto que Apeles (370 a.C.-306 a.C), um afamado pintor
grego do século IV a.C., considerado por alguns um dos maiores
pintores da Antiguidade, tem uma frase clássica: “Nenhum dia sem
um traço”. Esse lema de Apeles significa praticar todos os dias,
não deixar passar a oportunidade de se aprimorar naquilo que se
está fazendo.
 
É de grande valor a ideia de que o esforço dedicado, metódico,
organizado, faz a perícia. Ser competente numa determinada
atividade não é fruto apenas de uma inspiração.
 
Olhar renovado
 
Émuito interessante ter a capacidade de olhar de um modo inédito
para aquilo que já é habitual. Eu aprecio andar por São Paulo,cidade na qual eu vivo há bastante tempo, procurando coisas que
sejam inéditas, mesmo que eu já tenha passado por aquele lugar.
 
Quase sempre pessoas que vêm para a cidade onde moramos
são capazes de nos indicar olhares a que nós, moradores, não
estamos habituados. O olhar do outro renova a nossa percepção.
 
O escritor santista Ribeiro Couto (1898-1963), no livro Chão da
França, escreveu: “Todas as viagens são lindas, mesmo as que
fizeres nas ruas de teu bairro. O encanto dependerá do seu estado
de alma”. Olha que bela reflexão: todas as viagens são lindas, a
depender do nosso estado de alma. Nesse sentido, pode ser até
uma “viagem” pelo próprio bairro, caminhando pelas ruas da
cidade em que se mora, e o encantamento virá à tona.
 
O estado de alma permite acolher a beleza de um outro modo,
com uma outra perspectiva. Dessa forma, é possível nos
encantarmos com o que seja habitual à nossa volta.
 
Checar antes de espalhar
 
Determinadas pessoas acreditam de cara em histórias que ouvem,
nas notícias que leem, em teorias que circulam por aí. Esse
comportamento, por vezes, pode causar problemas. Em tempos
de redes sociais, em que as histórias se difundem rapidamente,
muito do que se fala não passa de boato, de fofoca, de narrativa
fantasiosa. E tem gente que retransmite uma informação ou uma
história que não necessariamente é verdadeira.
 
Nessa circunstância, é muito recomendável ter a capacidade de
suspeitar da veracidade de algumas informações. É a partir da
dúvida que se chega à confirmação de um relato.
 
O filósofo francês Denis Diderot (1713-1784), um dos maiores
pensadores da História e um dos criadores da primeira
enciclopédia, anotou nos seus pensamentos: “O que nunca foi
posto em questão, nunca foi provado”. Por quê? Porque quando
se questiona algo, cria-se a necessidade de uma comprovação.
Aquilo que gera dúvida tem de ser provado, comprovado,
confirmado para virar certeza. Uma vez feito isso, sempre
recorrendo a fontes confiáveis, aquela informação ganha
consistência. Portanto, a dúvida ajuda, sim, a construir certezas.
 
Foi por pouco
 
Quase deu certo, quase aconteceu, quase funcionou… Temos
sensações assim nas situações em que uma chance foi perdida,
algo passou sem que pudéssemos dar o encaminhamento que
imaginávamos. Momentos assim deixam um sabor amargo na
boca. Ficamos com aquela percepção de que faltou pouco para
que aquilo que desejávamos se concretizasse. “Por pouco eu não
consegui”, “por pouco não deu certo”, “por pouco não aconteceu”,
“por pouco não me escolheram”, “por pouco não acertei”. Essa
ideia do “por pouco” nos entristece, gera em nós uma carga de
frustração.
 
Nessa hora, vale lembrar um pensamento do poeta e advogado
norte-americano John Greenleaf Whittier (1802-1892), que teve
participação importante no movimento abolicionista dos Estados
Unidos. Na sua obra Poesias, ele traz uma frase contundente: “De
tantas palavras tristes da língua ou da pena, as mais tristes são
estas: poderia ter sido”.
 
Essa expressão “poderia ter sido” carrega um amargor, uma
impossibilidade de seguir adiante.
 
Mas é preciso continuar, ir em frente, ainda que de um outro
modo.
 
Vivendo e aprendendo
 
Avida não tem rascunho. Essa é uma ideia antiga e que tem valor.
Ela parte da constatação de que nós vamos vivendo a vida
enquanto aprendemos a vivê-la. Nesse sentido, o jogo da vida, de
fato, não tem rascunho. Estamos vivendo e aprendendo a jogar.
 
Essa expressão aparece nos versos da música Aprendendo a
jogar do cantor e compositor paulistano Guilherme Arantes – autor
de canções bastante conhecidas, algumas mais voltadas ao
público infantojuvenil, como Lindo balão azul. Essa canção,
Aprendendo a jogar, ficou imortalizada na voz da cantora gaúcha
Elis Regina (1945-1982), no disco Elis, o último que ela gravou em
estúdio, em 1980. A música fez bastante sucesso e até hoje toca
nas rádios pelo país.
 
A canção traz versos sobre os quais devemos refletir: “Vivendo e
aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando, nem sempre
perdendo, mas aprendendo a jogar”.
 
É fundamental que crianças, jovens e adultos entendamos que, na
vida, nem sempre ganharemos, nem sempre perderemos, mas
estaremos o tempo todo aprendendo a jogar. Afinal, como diziam
algumas das nossas avós, “não há mal que sempre dure nem bem
que nunca se acabe”.
 
O bom espanto
 
Aexpressão “admirar” significa olhar a distância, mirar a distância,
observar. E isso pode incluir a possibilidade de tomar um susto
com algumas coisas, que é a admiração que produz o
conhecimento novo, que produz a arte que encanta, que produz a
ciência que inova, que reinventa o que já estava no nosso cenário.
Esse movimento faz com que nós sejamos capazes de avançar,
de não ficarmos num modo repetitivo, automatizado de existência.
 
Existem algumas pessoas, tomadas por um misto de inocência e
tolice, que dizem “ah, já vi de tudo nessa vida”. Essa declaração,
além de exagerada, é extremamente negativa. Porque a vida se
coloca para nós, em grande medida, pela capacidade de produzir
algum espanto, de nos colocar numa rota que nos faça pensar
diferente, olhar ao que está ao nosso redor de uma outra forma.
 
O escritor francês André Gide (1869-1951), ganhador do Nobel de
Literatura em 1947, na sua especial obra Os frutos da terra,
escreveu: “Sábio é aquele que se espanta com tudo”. Isto é, a
pessoa que tem a consciência de que ainda há muito para
conhecer, em vez de achar que já sabe, que já conhece e que
tudo é óbvio.
 
Cultivo responsável
 
Cada um colhe o que planta. Essa é uma ideia comum que circula
de geração para geração. Se você planta feijão, é feijão que
colherá, se planta arroz, colherá arroz. Há um ditado antigo que
diz que “quem semeia vento colhe tempestade”, sendo o vento, no
caso, o gerador da tempestade.
 
Atualmente muita gente reclama de fatos que marcam
negativamente o cotidiano do nosso país. Nesse contexto,
podemos pensar que se trata também de resultados colhidos
conforme o que foi plantado.
 
Ah, mas eu não queria que acontecesse.
 
Ora, então não plantasse, não ajudasse a plantar ou não se
omitisse em relação àquilo que estava sendo plantado. Agora a
colheita vem conforme aquilo que foi semeado.
 
Na Obra do orador, o político e poeta romano Cícero (106 a.C.-43
a.C.) atesta: “Como tiveres semeado, assim hás de colher”. É uma
forma de expressar a ideia de “plantou, colheu”.
 
A imagem do plantio é uma maneira de se abordar a ideia de
responsabilidade, para que se possa ter clareza do resultado
quando se tem uma causa geradora. Por isso, de nada adianta
dizer “eu não queria que fosse assim”. Se o resultado foi este, é
porque assim foi feito. É preciso ter noção de que somos
responsáveis pelo que fazemos.
 
Vitalidade da arte
 
Na arte, a fonte de vitalidade pode não vir necessariamente do
artista, do autor, daquele que faz a obra. Alguns consideram que a
fonte vital para um objeto de arte, isto é, uma escultura, um
quadro, um desenho, um texto, venha daquele que vai aproveitá-
la. No caso, por exemplo, de uma pintura, de quem vai vê-la.
 
É a visão da arte como vivência. Uma arte se torna arte quando o
espectador, o leitor, o ouvinte, é capaz de percebê-la. Portanto,
sem a exposição, sem colocá-la em contato com o público, aquilo
que chamamos de arte, para alguns artistas, não seria, de fato,
arte.
 
Por exemplo, Pablo Picasso, estupendo pintor espanhol (1881-
1973), disse um dia: “Um quadro só vive graças àquele que o
olha”.
 
Isto é, a exposição, a visualização é o que faz com que o quadro
viva. Nesse sentido, é a vitalidade que não vem da fonte original, o
artista, mas da fonte que aprecia, que admira, que encontra
sentido naquela obra. Um artista, como Pablo Picasso, que tem
essa percepção, é alguém capaz de afastar qualquer possibilidade
de arrogância, pois não se julga a fonte exclusiva daquilo que
produziu.
 
As medidas de cada um
 
Há pessoas que precisam de coisas demais, enquanto outras
necessitam de coisas de menos. Aquilo que é fartura paraalguns
pode indicar escassez para outros.
 
Algumas pessoas se movem pela ganância, isto é, mesmo já
tendo muito, continuam acumulando, obcecadas por mais ganhos.
São movidas pela volúpia de aumentar o patrimônio.
 
Poderíamos dizer que a riqueza é algo peculiar. Até porque a
palavra “peculiar” tem a ver com riqueza. Deriva da expressão do
latim pecus, que significa riqueza, propriedade, acúmulo. Deu
origem também a palavras como “pecúnia”, que tem a ver com
moeda, e “pecuária”, sendo o gado, no caso, entendido como
propriedade. Peculiar, portanto, está ligado à riqueza, a posses.
 
Durante quatro anos, o escritor esloveno Gustav Janouch (1903-
1968) teve conversas com o também escritor Franz Kafka (1883-
1924), nascido em Praga, na época pertencente ao Império
Austro-Húngaro, atualmente capital da República Tcheca. Os
diálogos começaram quando Janouch tinha 17 anos e Kafka, 37.
Desses encontros nasceu o livro Conversas com Kafka, de autoria
de Janouch, em que registra a seguinte fala de Kafka: “O que é a
riqueza? Para um, uma velha camisa já é riqueza, outro é pobre
com 10 milhões. A riqueza é algo completamente relativo e
insatisfatório. No fundo, não passa de uma situação peculiar”.
Uma belíssima reflexão feita por Kafka, que nos ajuda a entender
qual o lugar da ganância.
 
O grande Poetinha
 
Algo que a arte consegue com muita força é proporcionar algum
sentido de eternidade. A arte – seja no campo da literatura, do
cinema, da música, do teatro – permite que algumas pessoas,
mesmo que tenham morrido, permaneçam entre nós de um modo
marcante.
 
Uma dessas pessoas é Vinicius de Moraes (1913-1980), poeta
carioca e coautor de clássicos da música popular brasileira, como
Garota de Ipanema, Chega de saudade e Samba do avião, entre
outros. Não bastante isso, Vinicius também foi diplomata. Era
chamado carinhosamente por alguns de “Poetinha”. Num soneto
dele de 1950, chamado Poética, escreveu: “De manhã escureço /
De dia tardo / De tarde anoiteço / De noite ardo. / A oeste a morte /
Contra quem vivo / Do sul cativo / O este é meu norte. / Outros
que contem / Passo por passo: / Eu morro ontem / Nasço amanhã
/ Ando onde há espaço: / – Meu tempo é quando”.
 
Olha que beleza! Como a capacidade poética de Vinicius de
Moraes nos dá a sensação de eternidade. Grande Vinicius de
Moraes, eternizado por si mesmo e por nós.
 
Mundo fantástico
 
Faz parte da capacidade humana imaginar seres como duendes,
dragões, cavalos alados, sacis, gnomos. Personagens que
povoam o reino da fantasia. Seres que em princípio não existem,
mas com os quais a gente brinca, se diverte, celebra em vários
lugares do mundo, de diversos modos.
 
Algumas pessoas reprovariam: “Isso é uma bobagem, essas
coisas não existem, não servem para nada”. Nessa hora, vale
lembrar uma advertência do poeta paulistano Paulo Bomfim, que,
no magnífico livro O colecionador de minutos, escreve: “Ou tudo é
natural ou tudo é fantástico. É tão absurdo as mesas se
levantarem sozinhas como a luz que se acende em nossa
cabeceira ou o milagre de estarmos vivos, neste instante,
pensando em tudo isso”.
 
Olha que reflexão interessante! Alguns podem até dizer que coisas
que chamamos de fantásticas não passam de bobagem. Mas
Bomfim chama a atenção para quão fantástica é a luz ou, como
disse ele, “o milagre de estarmos vivos, neste instante, pensando
em tudo isso”.
 
Quer uma coisa mais fantástica, mais exuberante do que a própria
existência? Esse é um mistério tão fascinante quanto duendes,
sacis e outros seres fantásticos.
 
A casa de todos nós
 
Nós precisamos tratar a questão da ecologia como uma urgência.
Algumas pessoas ainda consideram ecologia uma conversa
romântica. Outros usam argumentos supostamente mais práticos.
“Nós temos que viver. O dano que, em tese, se faz à natureza nos
proporciona benefícios e confortos no dia a dia.” Esse pensamento
é muito perigoso, porque os recursos disponíveis no planeta são
finitos e os maus-tratos ao meio ambiente podem colocar em risco
a espécie humana.
 
Muitas pessoas utilizam uma expressão bastante interessante,
que é “mãe Terra”, no sentido de o planeta ser a casa de todos.
Essa ideia circula há muito tempo entre vários pensadores,
homens e mulheres ligados às ciências, à Filosofia, às artes, à
religião. Ao usarem a expressão mãe Terra, reforçam a noção de
que a ecologia não pode ser deixada de lado de modo algum.
 
Robert Garnier (1544-1590), um poeta francês renascentista,
escreveu na tragicomédia Bradamante: “O país está por toda parte
onde nos sentimos bem. A Terra é, para os mortais, uma casa
comum”.
 
Olha só, isso no século XVI! Portanto, vem de longa data a ideia
da casa comum para os seres humanos e para a vida em geral.
Não podemos perder essa ideia de vista.
 
Conexão imediata
 
De vez em quando, encontramos pessoas que parecem ser da
nossa família. Já num primeiro contato, acontece uma sensação
de familiaridade. São pessoas que “parece que a gente se
conhece há muito tempo”.
 
Baltasar Gracián (1601-1656), escritor e teólogo espanhol, certa
vez disse: “A simpatia consiste num parentesco dos corações; a
antipatia, num divórcio de vontades”.
 
O que é simpático e o que é antipático? Por que temos simpatia
quase imediata por algumas pessoas? Corações que se irmanam
numa conexão que se dá de maneira automática. Por outro lado, a
antipatia é um divórcio de vontades.
 
As palavras “simpatia” e “antipatia” têm, dentro delas, o radical
pathos, que significa “aquilo que afeta”; de onde vem o termo
“patologia”.
 
Assim sendo, simpatia é o que nos afeta juntos, positivamente.
Antipatia é o que nos afeta negativamente, aquilo que nos afasta,
que nos coloca em posições contrárias. Existem antipatia gratuita
e simpatia gratuita, que são aquelas que vêm de pronto, sem
reflexão alguma. São nuances curiosas da nossa convivência.
 
Conhecimento ilusório
 
Hipócrates, estudioso grego nascido no século V a.C., é por muita
gente chamado “o pai da medicina ocidental”. Aliás, a maior parte
das pessoas o conhece pelo juramento de Hipócrates, que é feito
na cerimônia de formatura em Ciências Médicas. Em sua obra
Aforismos, Hipócrates adverte: “Há verdadeiramente duas coisas
diferentes, saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber,
em crer que se sabe está a ignorância”.
 
Convém refletir sobre essa distinção entre o saber e o não saber,
entre a ignorância e a consciência, para evitar a superficialidade.
Principalmente numa sociedade marcada pela pressa, que muitas
vezes não matura devidamente as ideias e acaba cultivando um
conhecimento ilusório, portanto, um saber aparente.
 
Essa ideia de um conhecimento que não seja ilusório é muito bem
capturada nessa frase de Hipócrates e vale imensamente não só
para a Medicina, pela qual ele ficou conhecido, mas para qualquer
outra área.
 
Eu sempre gosto de lembrar: não há ignorância em saber que não
se sabe, a ignorância está em não saber que não se sabe ou, pior
ainda, em fingir que sabe, quando não sabe…
 
Está, mas não está
 
Há várias situações em que a presença é ausente e a ausência,
por sua vez, ocupa um lugar. À primeira vista, a ideia parece
contraditória, mas, se pensarmos bem, é o que acontece com
frequência no campo da arte. Quando ouvimos um cantor ou uma
cantora, a pessoa não necessariamente está ali conosco, mas ela
marca presença naquele momento e muitas vezes nós
reservamos um lugar especial para ela na nossa emoção, na
nossa memória. É o caso do filme assistido que continua na nossa
mente mesmo depois que saímos do local em que foi exibido. O
livro é um lugar de encontro e é também o lugar da solidão. Diante
de um livro, você usualmente fica só, mas acompanhado por tudo
que aquela leitura proporciona.
 
Em 1973, o grande poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994)
reuniu, no livro Caderno H, suas crônicas publicadas em jornal.
Numa delas consta a seguinte reflexão: “Dupla delícia. O livro traz
a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo
acompanhado”.
 
Claro, o livro é uma companhianas ideias que traz, na imaginação
que suscita, nas viagens mentais que proporciona, nas emoções
que desperta, nas tristezas e dores e alegrias que produz, mas,
está quase sempre, nas mãos de quem está só. A arte permite, de
forma encantadora, a produção dessa aparente (e só aparente)
contradição, que é a presença ausente.
 
Sai pra lá
 
Na convivência humana, existem pessoas que são por nós
sustentadas em relação não só a bens materiais, mas até
afetivamente, e que não merecem.
 
No campo da Biologia, aquele que se alimenta da sobra dos
outros é chamado de parasita. Essa é uma expressão que
também se aplica à própria convivência social. Parasitós, em
grego, significa “o que come ao lado”, por isso “para” é aquele que
está sentado ao lado.
 
Curiosamente, no mundo clássico grego, havia um sorteio entre os
cidadãos para que se sentassem ao lado dos governantes nos
banquetes. Esses eram chamados de parasitas, mas não no
sentido negativo que hoje esse termo carrega. Atualmente,
parasita não é quem come ao meu lado, mas aquele que come o
que é meu e, por isso, fica ao meu lado. É um explorador, uma
pessoa que se aproveita da circunstância.
 
Nós temos de romper com muita força, em qualquer área, no setor
público ou privado, tudo aquilo que for parasitário. Gente que
ganha sem merecimento, e tira o que é nosso.
 
Energia vital
 
Quando algumas pessoas usam a expressão “fazer a vida”, o
entendimento mais frequente é de que se trata de ganhar dinheiro,
fazer a carreira, acumular patrimônio. Esse é um dos sentidos
possíveis. Uma outra percepção é de fazer a vida sem perder
tempo com futilidades, com banalidades.
 
No último livro que escreveu, intitulado Parerga e Paralipomena,
de 1851, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860)
assinala: “Não há consolo mais refinado na velhice do que a
sensação de ter concentrado toda a força de nossa juventude em
obras que jamais envelhecerão”.
 
Com esse tipo de reflexão, Schopenhauer nos ensina que uma
vida não desperdiçada, não colocada fora, é aquela em que nós
aproveitamos de fato toda a energia da nossa juventude para
deixarmos um legado. Uma herança material ou imaterial que não
envelheça.
 
Fazer a vida significa, portanto, não desperdiçá-la. O que fazemos
em nossa vida que terá valor, que servirá para as outras pessoas?
Essa é uma questão que devemos ter sempre em mente. Sejamos
capazes de envelhecer, mas que a nossa obra permaneça.
 
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Publicado no Brasil – 2020
 
 
 
Sumário
 
Capa
Folha de rosto
Sumário
Novo jeito de olhar
Coloração do tempo
Bom dia!
Os grandes de verdade
Falou bonito… Será?
Arte à mesa
Virtude cívica
Psiuuuu…
O bem silencioso
Não, não… de novo, não!
Bem lembrado
Pausa do bicho-carpinteiro
O papo nosso de cada dia
Tô chegando
Transpiração ou inspiração
Matéria-prima
Brinquedo de olhar o céu
No lugar do outro
Fazer mais para fazer melhor
Olhar renovado
Checar antes de espalhar
Foi por pouco
Vivendo e aprendendo
O bom espanto
Cultivo responsável
Vitalidade da arte
As medidas de cada um
O grande Poetinha
Mundo fantástico
A casa de todos nós
Conexão imediata
Conhecimento ilusório
Está, mas não está
Sai pra lá
Energia vital
Créditos
	Cover Page
	Capa
	Folha de rosto
	Sumário
	Novo jeito de olhar
	Coloração do tempo
	Bom dia!
	Os grandes de verdade
	Falou bonito… Será?
	Arte à mesa
	Virtude cívica
	Psiuuuu…
	O bem silencioso
	Não, não… de novo, não!
	Bem lembrado
	Pausa do bicho-carpinteiro
	O papo nosso de cada dia
	Tô chegando
	Transpiração ou inspiração
	Matéria-prima
	Brinquedo de olhar o céu
	No lugar do outro
	Fazer mais para fazer melhor
	Olhar renovado
	Checar antes de espalhar
	Foi por pouco
	Vivendo e aprendendo
	O bom espanto
	Cultivo responsável
	Vitalidade da arte
	As medidas de cada um
	O grande Poetinha
	Mundo fantástico
	A casa de todos nós
	Conexão imediata
	Conhecimento ilusório
	Está, mas não está
	Sai pra lá
	Energia vital
	Créditos

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