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AULA 19 - QUEIXAS NÃO TRAUMÁTICAS MEDIAIS E LATERAIS DO JOELHO Professora Nayra Rabelo 1. Dor Anteromedial no Joelho Quando pensamos em dores na região anteromedial do joelho de forma insidiosa, sem evento traumático associado, uma das condições mais comuns é a “tendinopatia da pata de ganso” ou “síndrome da dor anserina”. A síndrome da dor anserina, também conhecida como tendinopatia da pata de ganso, é uma condição que afeta a região anteromedial do joelho, especificamente a inserção de três tendões. Esses tendões pertencem aos músculos sartório, grácil e semitendíneo, formando uma estrutura que lembra a aparência de uma pata de ganso ou pato. Esses músculos desempenham funções importantes, incluindo a adução do quadril e a flexão do joelho. Quando ocorre a síndrome da dor anserina, os pacientes experimentam dor na região anteromedial do joelho, que pode estar ou não associada a inchaço devido ao atrito dessas estruturas com a bursa anserina. A dor é frequentemente agravada durante a palpação da região da pata de ganso e durante atividades que envolvem descarga de peso, como subir e descer escadas ou correr. O diagnóstico dessa condição é, em grande parte, baseado em avaliação clínica. É interessante notar que a tendinopatia da pata de ganso pode estar relacionada ao excessivo valgo dinâmico do joelho, devido à tensão nas estruturas do compartimento medial do joelho. Além disso, estudos indicam que um número significativo de pessoas com osteoartrite de joelho pode desenvolver essa tendinopatia (40 - 90%). Figura 1: localização da pata de ganso. WPS_1660134844 Ink Figura 2: anatomia da pata de ganso. 2. Dor Lateral no Joelho Quando um paciente apresenta dor na região lateral do joelho, especialmente sem um histórico traumático e com início insidioso, é importante considerar a origem dessa dor, que pode ser dividida em anterolateral e posterolateral. Se a dor estiver mais voltada para a parte anterior da região lateral do joelho, próxima à inserção no tubérculo de Gerdy, pode estar associada à síndrome do trato iliotibial. Essa síndrome é caracterizada por uma sensibilização ou irritação próxima da inserção do trato iliotibial, resultando em dor na região anterolateral do joelho. Quando um paciente apresenta dores na região lateral do joelho, especialmente na parte posterior da região lateral, próxima à inserção da cabeça da fíbula, pode estar diante de uma tendinopatia do bíceps femoral. Essa condição envolve a irritação ou lesão do tendão do músculo bíceps femoral, que pode causar desconforto e dor nessa área. Figura 3: locais onde são referidas dores na região lateral do joelho. 2.1. Síndrome do Trato Iliotibial (STIT) A STIT é caracterizada por dor na região distal do trato iliotibial, mais precisamente próximo a inserção no tubérculo de Gerdy. Os sintomas podem incluir dor exacerbada durante a palpação, bem como durante atividades que envolvem descarga de peso, como a corrida. Além disso, a dor pode piorar durante movimentos de flexão ativa do joelho, tanto em cadeia cinética aberta quanto fechada. Em atletas corredores, a dor pode surgir durante o contato inicial e em resposta à carga durante a absorção de carga, especialmente quando o joelho está em discreta flexão em cadeia cinética fechada. A dor também pode ocorrer durante a retirada do pé do solo durante o pré-balanço e fase de balanço durante a corrida, além de estar presente durante a subida e descida de escadas e em caminhadas ou corridas em declives. O diagnóstico da STIT é principalmente clínico, sendo que os exames de imagem, como ressonância magnética, geralmente são utilizados para complementar o diagnóstico. Fatores Mecânicos ou Causais Associados: Maior pico de adução do quadril: Quando há um aumento no ângulo de adução do qua- dril, isso pode resultar em um aumento do momento adutor do joelho. Isso implica em um maior estresse no compartimento lateral do joelho, o que pode contribuir para o desenvolvi- mento da STIT. Fraqueza dos músculos abdutores do quadril: A fraqueza dos músculos que realizam a abdução do quadril, como o músculo glúteo médio, pode levar a uma instabilidade na região do quadril e sobrecarregar o trato iliotibial, contribuindo para a irritação e dor. Volume de treino intenso: Atletas ou corredores que realizam treinamentos de alta intensidade, principalmente envolvendo longas distâncias na corrida, estão mais suscetíveis a desenvolver a STI devido à sobrecarga repetitiva na região do joelho. Maior tempo de adução de quadril durante a fase de apoio da marcha: Um tempo prolongado de adução do quadril durante a fase de apoio da marcha pode gerar uma maior carga na região lateral do joelho, resultando em uma maior tensão no compartimento lateral do joelho. Hiperpronação do retropé e rotação interna da tíbia: A hiperpronação do retropé associada à rotação interna da tíbia durante a fase de apoio da marcha pode levar a uma maior tensão no trato iliotibial, desencadeando a STI. Tensionamento do trato iliotibial confirmado pelo teste de Ober: O teste de Ober é frequentemente utilizado para avaliar a tensão do trato iliotibial. Um resultado positivo nesse teste pode indicar uma maior tensão no trato iliotibial, o que está associado à STI. Figura 4: trato iliotibial. Figura 5: tendão do bíceps femoral. 3. Carga vs Repouso É importante ressaltar que o repouso completo não é geralmente a abordagem mais eficaz no tratamento de tendinopatias, como a da pata de ganso, do bíceps femoral e síndrome do trato iliotibial, especialmente se essas condições não forem agudas. De fato, o repouso prolongado pode levar à hipotrofia muscular, perda de força e piora das condições em questão. Em vez disso, a ênfase deve ser colocada na modulação adequada das cargas durante a reabilitação. Os exercícios devem ser prescritos de acordo com a tolerância do paciente e gradualmente aumentados à medida que a capacidade de carga e a tolerância melhoram. Isso é conhecido como princípio de graduação de carga. O objetivo de graduar as cargas é estimular a cura das estruturas acometidas, melhorar a capacidade histológica (ou seja, a capacidade de cicatrização dos tecidos) e restaurar a função normal das estruturas afetadas. 4. Tratamento Fisioterapêutico No que diz respeito ao tratamento, é essencial considerar quais estruturas podem estar afetadas. Se estamos lidando com a tendinopatia da dor na pata de ganso, devemos levar em consideração a relação com os músculos adutores do quadril e flexores do joelho. Por outro lado, se a condição for relacionada ao trato iliotibial ou ao bíceps femoral, devemos enfocar mais nos músculos abdutores e flexores do joelho. Faixas compressivas: Dependendo do cenário clínico, podem ser necessários tratamentos coadjuvantes. Por exemplo, no caso da síndrome do trato iliotibial, o uso de faixas suprapatelares pode ser benéfico, enquanto nas tendinopatias da pata de ganso e do bíceps femoral, faixas infrapatelares podem ser consideradas. Crioterapia: A aplicação de gelo na área da dor também é recomendada, especialmente em casos de dor intensa, com duração de cerca de 25 a 30 minutos. Redução ou modificação das atividades físicas: Para indivíduos envolvidos em atividades físicas constantes, como a corrida, é importante considerar uma redução no volume de treinamento nas primeiras 6 semanas, dependendo do diagnóstico. No caso da síndrome do trato iliotibial, pode ser aconselhável que o indivíduo diminua a distância ou frequência da corrida. Em alguns casos, pode ser benéfico sugerir que o indivíduo experimente outras modalidades esportivas que não agravem a dor, como natação ou ciclismo, a fim de preservar a capacidade funcional. Atividades que não exacerbam os sintomas não precisam ser evitadas. Alongamento do trato iliotibial: Os alongamentos do trato iliotibial são uma recomendação importante para o tratamento dessa condição, e sugere-se que o pacienterealize esses alongamentos até três vezes ao dia. É importante ressaltar que, ao realizar o alongamento do trato iliotibial, a região que mais alonga é a parte proximal do trato iliotibial. Exercícios resistidos: Os exercícios resistidos são recomendados como parte do tratamento para a STIT e a tendinopatia do bíceps femoral, principalmente para fortalecer o complexo posterolateral do quadril e os flexores do joelho. No caso das tendinopatias da pata de ganso, é aconselhável incluir exercícios de resistência para os músculos adutores do quadril, inclusive incorporando fases de contrações excêntricas. Para pacientes com tendinopatias do bíceps femoral e da pata de ganso, os exercícios excêntricos dos isquiotibiais são recomendados, especialmente em cadeia cinética fechada. Treinos pliométricos: À medida que o tratamento progride, a ideia é que o paciente retorne gradualmente às atividades esportivas. Isso pode incluir atividades que envolvam saltos bipodais, progredindo para saltos unipodais. Para pacientes com STIT em estágios avançados de tratamento, os saltos unipodais laterais são uma opção. No caso de indivíduos com tendinopatia da pata de ganso em estágios avançados de tratamento, é possível incluir exercícios de chute de chapa, que requerem velocidade em movimentos de adução do quadril.
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