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1 Avaliadores de Artigo Científico Introdução à comunicação científica1 2 Conteudista: Claudio Paixão Anastácio de Paula (conteudista, 2021); Eliane Pawlowski de Oliveira Araújo (conteudista, 2021); Fernanda Oliveto (conteudista, 2021); Keila Rêgo Mendes (conteudista, 2021); Diretoria de Desenvolvimento Profissional. Enap Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2021 SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF 3 Sumário Apresentação e boas-vindas .....................................................................................................4 Unidade 1: A comunicação científica ......................................................................................5 1.1 Contexto histórico da comunicação científica ....................................................................................... 5 1.2 O periódico científico ..................................................................................................................................... 9 1.2.1 A estreita ligação entre o periódico científico e o método científico ........................................11 Referências .............................................................................................................................................................13 Unidade 2: O artigo científico ................................................................................................ 14 2.1 Definição e tipos ...........................................................................................................................................14 2.2 As partes do artigo científico ....................................................................................................................17 2.2.1 Título e resumo: “vendendo o peixe”...................................................................................................18 2.2.2 A introdução e seus elementos.............................................................................................................18 2.2.3 Materiais e métodos .................................................................................................................................19 2.2.4 Resultados ...................................................................................................................................................19 2.2.5 Discussão e análise dos resultados: o lugar onde de fato se apresentam as conclusões .19 2.2.6 Conclusões ..................................................................................................................................................19 2.3 Quais as qualidades de um bom artigo científico? .............................................................................20 Referências .............................................................................................................................................................22 4 Apresentação e boas-vindas Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso Avaliadores de Artigo Científico. O objetivo deste curso é capacitar você para avaliar artigos científicos com qualidade e apuro. Para tanto, você terá acesso a um treinamento com carga horária de 20 horas e a um material básico, estruturado em cinco módulos. Selecionamos uma literatura complementar caso queira aprofundar-se sobre o assunto; elaboramos exercícios que envolvem estudos de casos e selecionamos questões práticas sobre a avaliação de artigos. O curso pretende, em seus objetivos específicos, colaborar para a melhoria da qualidade dos pareceres dos avaliadores, contribuir para padronizar os procedimentos do processo editorial, orientar o processo de revisão e subsidiar a elaboração de feedbacks adequados. Faremos isso por meio de uma exposição dialogada, leitura dirigida e realização de exercícios práticos. Esperamos que você desenvolva, por meio do material disponibilizado, um olhar crítico sobre a atividade de avaliador, não numa posição de poder – aquele que decide o destino de um texto –, mas numa posição de contribuição para que a informação divulgada como conhecimento científico seja de qualidade e contribua para o desenvolvimento da sociedade. Este curso foi estruturado para ser utilizado na avaliação de periódicos científicos de qualquer área, pois as diretrizes gerais podem ser aplicadas na análise de artigos independente da sua abordagem temática. O curso é oferecido no formato online autoinstrucional, ou seja, não terá tutoria. Isso significa que todo o conteúdo, cronograma e atividades foram elaborados para que você consiga desenvolver seu aprendizado sem a necessidade de um mediador. O público-alvo são os servidores públicos e profissionais da iniciativa privada que atuam ou pretendem atuar como avaliadores de artigos científicos. O conteúdo foi estruturado em 5 módulos, a saber: • Módulo 1: Introdução à comunicação científica • Módulo 2: O processo editorial • Módulo 3: O avaliador • Módulo 4: Processo de revisão • Módulo 5: Sistema OJS O curso prevê a emissão de certificado. Para fazer jus a ele, você deverá realizar as atividades avaliativas presentes ao final de cada módulo e obter, no mínimo, 60% de rendimento em cada uma delas. Desejamos a você bons estudos! 5 1.1 Contexto histórico da comunicação científica Você já parou para pensar sobre o que compreende a atividade de avaliação de um artigo científico para fins de publicação em um periódico, e sobre o papel do avaliador nesse processo? Muitas vezes assumimos essa tarefa sem refletir sobre seu impacto, seja numa perspectiva individual, institucional ou social. Ao fazermos isso, incorporamos uma responsabilidade atribuída devido à nossa experiência em determinado tema e, não raro, não conhecemos exatamente tudo o que envolve esse processo. Prendemo-nos ao texto e, num movimento muitas vezes autômato, seguimos as diretrizes estabelecidas pelo periódico e pontuamos um texto decidindo sobre sua publicação ou não. Incorporamos o poder de deliberar sobre o destino de uma publicação e, sem percebermos, agimos como Maat, a deusa egípcia responsável por decidir o destino dos mortos (Figura 1). Unidade 1: A comunicação científica Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as noções básicas da comunicação científica, o contexto histórico e algumas características do periódico científico. Para isso, nesta unidade serão apresentadas questões reflexivas sobre ciência, produção e comunicação científica. Desse modo, você será direcionado para um olhar crítico da atividade do avaliador e sobre o processo de comunicação científica. Neste módulo, serão apresentadas noções básicas da comunicação científica, assim como as especificidades características dos artigos científicos. O módulo 1 está estruturado da seguinte forma: Introdução à comunicação científica M Ó D U LO 1 • Unidade 1 – A comunicação científica • Unidade 2 – O artigo científico 6 Entretanto, o papel do avaliador deve ser visto sob outras perspectivas. Uma delas considera o avaliador como um mediador entre o autor e o público leitor. Outra perspectiva, trazida por Ariádne Rigo e Andréa Ventura, ressalta que, muitas vezes, a contribuição trazida por um bom avaliador pode ser comparada a uma coautoria do próprio trabalho que está sendo avaliado: Essa forma de pensar sobre o papel de avaliadores de artigo científico remete à percepção de que eles fazem parte de comunidade científica. Isso porque os avaliadores contribuem para o fortalecimento e avanço da ciência ao procurar assegurar a qualidade das publicações científicas por meio do know-how. É importante destacar que há várias definições para o conceito de comunidade científica (que vem sendo substituído pela ideia de coletividade científica), mas esse tema será abordado sem suas implicações epistemológicas, considerando-o apenas como um agrupamento composto de cientistas provenientes de diferentes disciplinas (POLANYI, 1951). Maat, deusa egípcia. Fonte: TYalaA,CC BY-SA 4.0. [...] o avaliador, sugerindo alterações, reflexões, bibliografia e apontando fragilidades, dependendo do nível de detalhamento, contribui enormemente para a qualidade final do trabalho, sendo ele publicado ou não. Sua atuação, nestes casos, não é de um simples avaliador; mas sim de um verdadeiro coautor (RIGO; VENTURA, 2019, p. 197). Saiba mais: É muito interessante observar como o conceito de comunidade científica vem sendo ampliado, incluindo outros atores e perspectivas. Veja, por exemplo, a discussão que está sendo desenvolvida acerca da definição de Coletividade científica no artigo de Maíra Baumgarten, intitulado “Comunidades ou coletividades? O fazer científico na era da informação”, que está disponível clicando aqui. https://www.ufrgs.br/cedcis/comunidade.pdf 7 A atividade de avaliar artigos em periódicos científicos é referenciada por vários termos na literatura. Podem ser denominados como árbitros, revisores, pareceristas, consultores, examinadores, peer reviewer, referee, dentre outros. Neste curso, uniformizou-se a referência a essa atividade utilizando o termo avaliador, no masculino, para fins de padronizar a nomenclatura, apesar de sabermos que essa função não é privilégio ou é restrita a homens. Para iniciar a reflexão sobre a avaliação de artigos científicos, vamos começar discutindo acerca do processo de comunicação científica, que tem passado por mudanças ao longo dos séculos. Neste século, algumas mudanças apontadas por Maurício Pereira mostram como a divulgação científica, por meio da publicação de artigos em periódicos científicos, tem sido alterada. Segundo o autor: Em meados do século 20, havia pouca competição para publicar. Sobrava espaço nas revistas científicas. Parte da tarefa dos editores daquela época estava voltada para cativar autores e conseguir textos originais. Hoje não é mais assim. A disputa por um lugar nas páginas de periódicos científicos tornou-se acirrada. A oferta supera em muito a capacidade de absorção. Em numerosas revistas de prestígio, a taxa de recusa é alta, superior a 90%. (PEREIRA, 2011, prefácio) [...] métodos específicos (científicos) que propiciam a comprovação dos conhecimentos; os conhecimentos decorrentes da aplicação desses métodos; a conjunção de valores culturais que governam essas atividades ditas científicas; e a própria combinação dos elementos ora citados. (TARGINO, 2010, p. 3) Para desenvolver esse tópico, vamos refletir sobre a ciência considerando a abordagem trazida por Maria das Graças Targino. Segundo essa autora, a ciência busca, essencialmente, desvendar e compreender a natureza e seus fenômenos utilizando-se de métodos sistemáticos e seguros. Conforma-se em um processo ininterrupto de investigação, o que faz dela uma instituição social, dinâmica, contínua e cumulativa, que estabelece as “verdades fundamentais” de cada época. Na visão de Targino (2010), a ciência envolve: Mas por que começamos falando sobre a ciência? É porque o crescimento da ciência traz uma influência direta na comunicação científica, pois o volume de pesquisas e o de literatura científica, como destacado por Suzana Mueller (1995), crescem juntos. A publicação de um artigo não é algo isolado; situa-se num contexto de produção científica que ocorre em espaços específicos e como decorrência de um amplo estudo sobre determinado tema que é influenciado, não só pelo contexto técnico, mas também econômico, social e político. Podemos ver esse fenômeno na pandemia desencadeada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que teve seu primeiro registro em dezembro de 2019. O número de publicações oriundas de pesquisas para auxiliar no enfrentamento da COVID-19 teve um volume intenso devido ao grande quantitativo de investigações realizadas, conforme demonstrou o estudo de Oliveira et al. (2021). Efetuado em maio de 2020, por meio de análise bibliométrica, o trabalho identificou 2.625 artigos publicados em 859 periódicos diferentes indexados na Web of Knowledge/Web of Science, por 9.791 autores vinculados a 3.365 instituições de pesquisa localizadas em 105 países! 8 Sem aprofundar em todos os elementos que compõem sua história, podemos dizer que a ciência se originou na Grécia, sendo os gregos os primeiros a iniciarem práticas científicas. Mas esse surgimento não ocorreu de repente, como uma invenção com data e hora marcada. O advento da ciência foi fruto da evolução de novas formas de explicar os fenômenos e da adoção de novos comportamentos e modos de pensar. A base da comunicação científica são as pesquisas. Conforme menciona Le Coadic (1996), as atividades científicas são as responsáveis pelo surgimento do conhecimento científico que, depois de registrado, é transformado em informações científicas acessíveis e compartilháveis. Esse registro tem apresentado características diferentes ao longo dos séculos. Veja na linha do tempo a seguir, um resumo desse desenvolvimento baseado no levantamento feito por Suzana Mueller e Rita Caribé: Século XV A transformação na história da transmissão de saberes ocorreu nas últimas décadas do século XV em decorrência do avanço da imprensa de tipos móveis de Gutenberg, sendo a troca de cartas e de outros documentos a forma usual de comunicação entre indivíduos. Entre 1490 e 1520, a inovação de Gutenberg já havia se estabelecido em vários lugares, e o livro científico impresso começava a fazer parte do panorama editorial europeu. Século XVI Os primeiros cientistas se encontravam às escondidas para evitar a censura da Igreja e do Estado. A tradição da comunicação aberta e oral sobre itens científicos teria brotado dessas reuniões. As primeiras academias eram vistas com desconfiança pelos governos dos países onde foram fundadas, e, muitas vezes, sofreram repressão. Século XVII Lançamento dos primeiros periódicos realmente científicos: Journal de Sçavans, publicado por Denis Sallo, na França, e Philosophical Transactions, editado na Inglaterra. A obra de Galileu Galilei (Diálogos sobre os dois sistemas máximos do mundo, ptolomaico e copernicano), publicada em 1632, é considerada, por alguns autores, importante precursora da divulgação científica. Século XVIII Ocorreram as primeiras conferências científicas públicas não universitárias. Possuíam o formato de cursos curtos ou de aulas magnas, ou mais extensas, prolongando-se por vários meses. Século XIX O avanço de novas técnicas de impressão e a superação do analfabetismo criaram condições propícias para a divulgação da ciência, firmando-a como força cultural influente em todos os setores da sociedade. O livro científico contribuiu para a industrialização das atividades editoriais, desempenhando papel fundamental na criação de grandes conglomerados comerciais e surgiram periódicos científicos nacionais no estrito e novo sentido da ciência. Outro acontecimento de destaque do início do século XIX foi a criação das associações para o progresso da ciência. Século XX A tecnologia da comunicação se expandiu na metade do século e revolucionou a forma de fazer divulgação científica. Rádio, televisão, cinema e imprensa mais apurada, conjugados com o incremento da educação básica, fizeram do século XX a era da informação. O advento da internet, onde todas as formas de comunicação se fundem, potencializou a informação científica. 9 Século XXI No espaço virtual, há museus, livros, revistas, enciclopédias, cursos, filmes, sites oficiais, comerciais e pessoais e inúmeras novas formas de comunicar, de acesso gratuito ou pago. (MUELLER, CARIBÉ, 2010) Saiba mais: O desenvolvimento da comunicação científica compreende muitos outros episódios além dos que foram elencados aqui. Acesse o artigo de Mueller e Caribé para conhecer esse processo. O texto está disponível clicando aqui. 1.2 O periódico científico O que é um periódico científico? Um periódico científico é uma coleção organizada de textos (artigos) científicos publicados com regularidade (daí o nome periódico).Os periódicos são um tipo muito específico de revista, que se diferencia de outros tipos não somente por seu assunto central, a Ciência, mas por sua relevância e seu processo diferenciado de publicação, conforme será visto mais à frente. Por que os periódicos científicos são importantes? Os periódicos científicos surgiram da impossibilidade de os cientistas comunicarem suas descobertas para seus colegas através de cartas e de disseminá-las através dos livros. As primeiras não conseguiam atingir vários leitores ao mesmo tempo e os segundos, além de necessitarem de tempo para serem escritos, careciam da agilidade necessária para comunicar descobertas de maneira rápida. A rapidez com a qual a Ciência avançava produziu a necessidade dos pesquisadores se adaptarem às suas novas condições e garantirem maior visibilidade e rapidez no reconhecimento por parte de seus colegas da prioridade de suas descobertas. Os periódicos cumprem, assim, um quádruplo papel: 1 Divulgação científica; 2 Visibilidade ao trabalho; 3 Proteção de descobertas; 4 Promoção da aprovação dos colegas da área. Qual é a sua origem? As revistas científicas (e o seu método de publicação) surgiram a partir de um processo de evolução que teve início do século XVII, quando, durante a guerra civil inglesa (uma época de intensa intolerância obscurantista), um grupo de filósofos da natureza (como eram chamados os cientistas da época) fundou um grupo secreto para fazer pesquisas e discutir ciência que ficou conhecido como o “colégio invisível”. Foi só em 1660, com o fim da guerra civil, que foi possível dar o próximo passo. O colégio invisível pôde se tornar público e tornar-se a Royal Society (RS), e seu secretário, o filósofo Henry Oldenburg, pôde ter a ideia de publicar um periódico que registrasse e tornasse públicos os resultados dos experimentos feitos na RS. Nascia aí, em 1665, a primeira revista científica da história, a Philosophical Transactions of the Royal Society. https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/13202/1/ARTIGO_ComunicacaoCientificaPublico.pdf 10 A primeira revista científica, de 1665. Fonte: Henry Oldenburg, CC BY 4.0. Essa ideia mostrou-se interessante e, logo, outros grupos de estudiosos da França e da Alemanha também começaram a criar as suas próprias publicações periódicas. O processo foi se complexificando até atingir a casa de centenas de milhares de publicações e um elevado nível de especialização, atingindo todos os temas de segmentos do conhecimento científico. Assim, as revistas científicas passaram a se dividir por escopos. O escopo é o tema central das pesquisas ali divulgadas. No entanto, algumas revistas mantiveram o seu caráter generalista (os exemplos mais relevantes dessa categoria são as famosas Science e Nature). Com o crescimento do interesse por publicar nas revistas científicas, veio um problema. Como avaliar todas as propostas que eram recebidas? De novo, o pioneirismo cabe à Royal Society e a Henry Oldenburg, quem criou um comitê para assessorá-lo na seleção dos manuscritos. Logo, o número de interessados em publicar artigos em outras revistas passou a sobrecarregar outros secretários que acabaram criando seus próprios comitês para avaliar e revisar os artigos. Foi uma seção da Royal Society de Edimburgo (na Escócia) que publicou a primeira edição de uma revista científica com artigos inteiramente avaliados por outros cientistas membros da instituição. A prática se revelou muito bem-sucedida porque passou a exigir dos autores uma melhor sustentação para as suas pesquisas. Com o tempo, começaram a ser convidados pesquisadores de outras instituições para se tornarem revisores da revista, e isso passou a se tornar um ponto de prestígio na carreira desses revisores. Mas revisores e autores são seres humanos, e seres humanos estão sujeitos a emoções, vaidades e interesses. Surgiu aí um novo problema. Como garantir que não houvesse, de um lado, favorecimento de um revisor em relação ao trabalho de um autor em demérito de outro, ou, a perseguição a um revisor por causa de alguma crítica ou rejeição? A solução foi criar o estilo de revisão duplo cego: onde nem autores, nem revisores sabem quem submete ou avalia o artigo. Assim, estavam lançadas as bases para o processo que guia a maioria das publicações atuais. Finalmente, existe o mercado que movimenta milhões pelo pagamento de taxas para a publicação de artigos e taxas para acessar esses conteúdos com grandes remunerações aos acionistas das revistas e com o surgimento das revistas predatórias (revistas caça-níqueis que publicam artigos sem critério de qualidade e apenas mediante pagamento). 11 Saiba mais: O canal Meteoro Brasil no YouTube traz um excelente retrato ilustrado sobre a origem dos periódicos científicos e da revista da Royal Society. Acesse clicando aqui. Aproveite e amplie seus conhecimentos lendo, também, sobre o Colégio invisível, clicando aqui. Assim como sobre a Royal Society, clicando aqui. E também sobre o primeiro periódico científico, clicando aqui. 1.2.1 A estreita ligação entre o periódico científico e o método científico O método científico, também conhecido como método hipotético-dedutivo, tem uma relação muito estreita com os periódicos científicos, não só por eles serem o seu principal meio de divulgação, mas também porque, sem eles, as pesquisas como hoje as conhecemos não seriam possíveis e nem avançariam como nós necessitamos. Mas, afinal, o que é o método hipotético-dedutivo? Sinteticamente, são as regras para produzir conhecimento científico. Diferentemente do senso comum, que é o conhecimento popular, o conhecimento científico não é sustentado apenas por evidências anedóticas (aquele tipo de situação que eu sinto que é verdadeira porque aconteceu comigo ou da qual eu ouvi falar e que é baseada em experiências subjetivas), mas por uma empiria (por um processo de testagem metódica das possibilidades que nos ocorrem para explicar as coisas). Ou seja, o método hipotético-dedutivo é um procedimento científico para testar a validade de uma ideia. Esse procedimento científico é desenvolvido a partir de uma sequência de passos: Cérebro e engrenagens. Fonte: CEPED/UFSC (2021). https://www.youtube.com/watch?v=w2Sbh7xHHoo http://www.lodgestpatrick.co.nz/origins.php https://royalsociety.org/about-us/history/ https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1087/20140101 12 1 Observação - Tudo começa com a observação de um fato, de uma alteração numa rotina de acontecimentos e que desperta o interesse. Nessa observação se busca estabelecer e, na medida do possível, isolar a forma do fato (como ela ele se manifesta), quais são seus agentes ou os elementos envolvidos, as condições em que ele ocorre, as suas possíveis variações de acordo com a interferência dos agentes anteriormente identificados e outros elementos dignos de nota. 2 Problematização - Tendo sido estabelecidas essas referências básicas, surge o momento de problematizar o fato. Elabora-se uma reflexão que culmina com uma pergunta de pesquisa que irá guiar a investigação: o que poderia causar esse fato? A partir dessa pergunta, é possível formular uma hipótese para explicar o fato (a partir de deduções ou experimentos mentais – se alguma coisa acontecer dessa maneira, então tal coisa irá resultar. Uma ou mais relações de causas e consequências, de “se, então”. Essas possíveis relações de causas e consequências são essenciais para a pesquisa científica. Elas são chamadas hipóteses e precisam ser formuladas para poderem ser testadas: hipótese 1, hipótese 2, etc. 3 Experimentação - Finalmente, são planejados experimentos para testar as hipóteses e verificar se alguma delas é comprovada. Geralmente, as hipóteses (quando há mais de uma) são mutuamente excludentes de forma a deixarem os seus resultados o menos ambíguos possível. É essencial que se submetam as hipóteses a teste utilizando grupos experimentais e de controle: no grupo experimental, introduz-sea variável nova que se deseja testar e no grupo de controle se mantém as coisas como estão, apenas simulando a introdução dessa variável. Ao fim desse processo, e submetendo o material testado à análise, é possível refutar ou provar uma hipótese e, a partir dessa avaliação, chegar a uma conclusão. É essencial destacar que a conclusão a que se chegou é, geralmente, uma conclusão provisória. É importante publicá-la para registrar a hipótese, os procedimentos e os resultados e repetir o experimento com múltiplos sujeitos para verificar se o fenômeno ocorre em outros contextos. A publicização dos resultados através de artigos permite que outros pesquisadores repitam a operação e submetam a hipótese testada a novas avaliações em novas condições. E, em algumas ciências, é possível chegar até a proposição de uma Lei Científica, que é a descrição da regularidade com que um fenômeno se manifesta (talvez o exemplo mais popular disso sejam as Leis de Newton). Ao se analisar toda essa metodologia, fica evidente como as publicações científicas evoluíram não só para ser uma etapa fundamental do processo de construção do conhecimento científico, mas também para se tornarem um espelho desse processo. Com esse tópico, você chegou ao fim do estudo desta unidade. Parabéns! Continue os estudos para compreender um pouco mais sobre o artigo científico. Com o passar do tempo, a reunião de vários estudos pode permitir que um ou mais pesquisadores cheguem ao ponto de publicar uma Teoria (que nada mais é que um conjunto de hipóteses relacionadas, confirmadas por experimentos repetidos), e torna-se possível que as pessoas possam confrontá-la e tentar provar que ela está errada (falsear a teoria) e, dessa forma, permitir que o conhecimento avance. 13 LE COADIC, Y. F. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 1996. 119p. MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. O crescimento da ciência, o comportamento científico e a comunicação científica: algumas reflexões. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, jan./jun. 1995. MUELLER, Suzana Pinheiro Machado; CARIBÉ, Rita de Cássia do Vale. Comunicação científica para o público leigo: breve histórico. Informação & Informação, Londrina, v. 15, 2010. Número especial. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/ article/view/6160. DOI: 10.5433/1981-8920.2010v15nesp.p13. OLIVEIRA, Erika Morganna Neves; CARVALHO, Ana Raquel Bastista; SILVA, Joyce Soares; SOUSA NETO, Antônio Rosa; MOURA, Maria Eliete Batista; FREITAS, Daniela Reis Joaquim. Analysis of scietific production on the new coronavirus (COVID-19): a bibliometric analysis. São Paulo Med. J. 139 (01) Jan-Feb 2021. https://www.scielo.br/j/spmj/a/5SyhpMcdW6RXpNnxGq 88wVD/?lang=en. POLANYI, Michael. Self-government in Science: The Logic of Liberty. London: Routledge e Kegan Paul LTD, 1951 . RIGO, Ariádne Scalfoni; VENTURA, Andréa Cardoso. Revista Organizações & Sociedade - v. 26, n. 89, p. 194-199, abr./jun. 2019. DOI 10.1590/1984-9260890 | ISSN Eletrônico - 1984- 9230 TARGINO, Maria das Graças. Comunicação científica: uma revisão de seus elementos básicos. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v.10, n.2, 2000. Referências http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/6160 http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/6160 https://www.scielo.br/j/spmj/a/5SyhpMcdW6RXpNnxGq88wVD/?lang=en https://www.scielo.br/j/spmj/a/5SyhpMcdW6RXpNnxGq88wVD/?lang=en 14 2.1 Definição e tipos Você viu que a pesquisa científica começa com uma boa pergunta sobre o universo e segue propondo um caminho para respondê-la. Porém, viu que não basta apenas responder perguntas. É preciso fazer com que não somente as respostas cheguem ao público de forma a serem compreendidas, como também o caminho que permitiu que elas fossem encontradas. Unidade 2: O artigo científico Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você deverá conseguir reconhecer o gênero textual artigo científico, identificando as partes que o compõe, além de diferenciar o artigo científico de outros tipos de texto. Pesquisando artigos científicos. Fonte: CEPED/UFSC (2021). Partindo dessa premissa de perguntas para a pesquisa científica, o que você já sabe a respeito de artigo científico? Bem, o artigo científico é um tipo de texto narrativo bem peculiar e inconfundível. De acordo com a NBR 6022 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), artigo científico é a “Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento.” (ABNT, 2003). Ele não só se diferencia dos textos de cunho literário, como também se separa dos outros textos de cunho não literário, nos quais ele se configura como uma subcategoria. Textos literários Os textos literários são carregados de subjetividade e, por serem centrados na expressividade do autor, permitem que os leitores se projetem em seu conteúdo e os interpretem de acordo com suas vivências e referenciais ideológicos. Por estarem abertos ao subjetivo, podem incluir manifestações poéticas e ficcionais, voltando-se de forma criativa para a expressão de pensamentos e sentimentos do autor e destinar-se ao entretenimento do leitor. Textos não literários Já os textos não literários são informativos, elaborados de forma específica e intencional para serem claros, objetivos e informativos. Embora eles também possam ser enviesados por ideologias e interpretados a partir delas, a linguagem de um bom texto não literário busca, por sua objetividade, diminuir o grau de subjetividade com o qual tenderá a ser interpretado. São exemplos de textos não literários os didáticos, as matérias jornalísticas e os textos, artigos científicos (comunicações, pôsteres, teses, dissertações e, entre eles, os artigos). 15 Os artigos científicos são caracterizados, portanto, por serem a comunicação dos resultados de estudos e experimentos científicos, geralmente originais, e se materializam como um relato para tornar públicas essas informações. São publicados por revistas científicas e devem seguir padrões e convenções, redigidas com o objetivo de homogeneizar a forma dessas produções e diminuir ao máximo as imprecisões, discrepâncias e mal-entendidos. Manuscrito x Artigo Antes de ser submetido a uma revista científica, denominamos o texto como manuscrito (que é a versão original do texto). O manuscrito só passa a ser considerado artigo após o aceite da revista para o processo editorial. Existem tipos diferentes de artigos científicos: Artigo científico original, Artigo científico original curto, Artigo científico de revisão bibliográfica, Estudo de caso e Artigo de opinião. Conheça a seguir o objetivo de cada um deles. Artigo científico original Esse tipo de artigo é elaborado como resultado do desenvolvimento de pesquisas inéditas ou progressos obtidos em determinada investigação, que busca responder objetivos específicos, partindo de uma hipótese do estudo, usados para embasar as conclusões concretas e mais relevantes. O artigo científico original é redigido de modo que outros pesquisadores possam reproduzir os experimentos, descritos no tópico materiais e métodos. Além disso, são mostrados resultados científicos, que são discutidos com base na análise de dados. Na discussão podem ser abordados os pontos fortes e os pontos fracos do estudo onde são explanados os achados do estudo, o significado dos principais achados comparados com os de outros estudos publicados. Geralmente, esse tipo de produção científica possui a seguinte ordem estrutural, embora possa variar dependendo da revista científica na qual o artigo venha a ser publicado: - Título; - Resumo; - Introdução; - Metodologia; - Resultados; - Discussão; - Conclusão; - Agradecimentos; - Referências bibliográficas. Artigo científico original curto Esse tipo de artigo científico é muito similar ao artigooriginal, mas com a diferença de possuir menor extensão, uma vez que estamos lidando com um produto de uma pesquisa que também é mais diminuta em sua abordagem geral. 16 Geralmente, nos aportamos aos artigos originais breves quando queremos apresentar estudos descritivos ou retrospectivos. Além disso, esse tipo de artigo científico entrega ao leitor uma série de fatos que o convidam a realizar pesquisas mais profundas sobre o tema tratado. Geralmente, este tipo de artigo contém uma estrutura diferente: - Introdução; - Conteúdo – desenvolvimento; - Discussão sobre o tema apresentado; - Referências bibliográficas. Artigo científico de revisão bibliográfica Produção textual desenvolvida de forma completa, estruturada e simples. O artigo científico de revisão bibliográfica utiliza o levantamento de literatura para obtenção de artigos, livros, capítulos de livros, entre outros tipos de documentos, para subsidiar o tema do trabalho de pesquisa. O autor fornece aos seus leitores uma visão geral e sistemática sobre um determinado assunto, considerando as diferentes perspectivas teóricas e práticas a partir dos estudos clássicos e atuais. A estrutura desse tipo de artigo é a seguinte: - Título; - Resumo; - Introdução; - Desenvolvimento; - Conclusão; - Agradecimentos; - Referências bibliográficas. Estudo de caso Esse tipo de artigo científico aborda uma pesquisa pautada em informações e descrições de casos individuais (uma doença, um procedimento técnico) ou múltiplo, nos quais vários estudos são conduzidos simultaneamente: vários indivíduos, várias organizações, por exemplo, acompanhados de análise e discussão. Também é necessário fazer o diálogo do relato de caso com referências teóricas sobre os temas abordados. O estudo de caso apresenta diversas aplicações e utilidade em pesquisas exploratórias e comparadas. Como toda pesquisa, apresenta vantagens e limitações na sua aplicação, merecendo o cuidado necessário quando buscar generalizações. Em nenhum momento o pesquisador deverá desprezar, em busca da simplificação, o rigor científico necessário para sua validação. 17 São atributos indispensáveis nos estudos de caso: consistência; sistematicidade e periodicidade de acompanhamento; registro detalhado; o período de médio a longo prazo de experiência. Geralmente, o artigo de estudo de caso tem a seguinte estrutura: - Resumo; - Introdução; - Descrição do caso; - Discussão; - Referências bibliográficas. Artigo de opinião O artigo de opinião utiliza o gênero discursivo, e é considerado adequado para a exposição, descrição e discussão de temas com relevância coletiva e que proporcionam o debate público. Esse tipo de artigo científico busca defender uma opinião que pressupõe argumentos ou provas, e construir um bom texto argumentativo apresentando a situação-problema, discussão e solução-avaliação. Além disso, não existe um formato específico para a sua apresentação, mas usualmente pode ter a seguinte estruturação: - Introdução; - Reporte ao caso; - Discussão; - Referências bibliográficas. Ao optarmos por esse tipo de produção textual, devemos observar que as notas precisam ter produções de caráter concreto e com uma escrita bastante clara. 2.2 As partes do artigo científico Agora que você já conhece os tipos diferentes de artigos científicos, saiba que para garantir que essa narrativa seja boa e compreensível, todo artigo científico precisa incluir algumas partes básicas: título, resumo, materiais e métodos, resultados, discussão (ou análise) dos resultados e conclusão. Cada um desses elementos irá contar uma parte dessa história. 18 2.2.1 Título e resumo: “vendendo o peixe” O título é o primeiro anúncio da história a ser contada e, muitas vezes, já oferece um vislumbre dos resultados ou de sua conclusão. Um bom artigo pode fazer essa indicação e, ao longo do caminho, na medida em que for compondo a sua narrativa, mostrar como esse resultado foi alcançado, levando o leitor (junto com o narrador/pesquisador) pelo caminho que conduziu à descoberta. Após o título, vem o resumo. Um resumo bem escrito deve ter as seguintes partes bem identificadas: Motivação Qual é o problema estudado? O que levou o pesquisador a se debruçar sobre a pesquisa? Qual foi o contexto em que a pesquisa ocorreu? Método Como o estudo foi realizado? Quais materiais o pesquisador utilizou durante o estudo? Resultados Quais os resultados obtidos a partir da motivação e do método empregado. Discussão Interpretação dos resultados. E a introdução, como deve ser? Um bom artigo científico apresenta uma introdução que tem, logo no início, o contexto da pesquisa, situando-a no tempo e no espaço e as informações essenciais que permitirão ao leitor acompanhar o desenrolar da argumentação. Parte da argumentação da introdução e da discussão precisa ter o suporte ou o apoio de citações, referências às ideias de outros autores que sustentam a argumentação apontada. Considerando que a Ciência é construída por peças que gradualmente vão se conectando, as ideias não surgem do nada, é essencial indicar de onde elas vieram. Isso garante que o leitor tenha acesso à origem das informações apresentadas e que ele possa julgar a relevância e a respeitabilidade daquelas informações. 2.2.2 A introdução e seus elementos Após o contexto, que ocorre em um ou dois parágrafos, é o momento em que é apresentada a problematização. Ou seja, a lacuna que deverá ser explorada. Ela é, usualmente, sinalizada através de uma conjunção adversativa, como: porém, no entanto, contudo, todavia. É na introdução que se esboça, em linhas gerais e claras, o plano proposto para resolver a situação nova que surgiu e, de forma especial, acena para as micronarrativas de causa e efeito que irão demonstrar as diferentes situações com as quais o personagem terá que lidar e que podem gerar consequências futuras. A situação problema é, geralmente, uma lacuna no conhecimento que se tem acumulado, até então, sobre aquele tema. É nesse ponto que se torna relevante outro elemento fundamental da introdução, a apresentação de uma proposta sobre como essa lacuna deverá ser preenchida. Essa proposta será a hipótese do estudo. 19 2.2.3 Materiais e métodos 2.2.4 Resultados 2.2.5 Discussão e análise dos resultados: o lugar onde de fato se apresentam as conclusões 2.2.6 Conclusões Mesmo que na introdução o pesquisador apresente, em linhas gerais, a forma pela qual buscou responder ao problema de pesquisa para alcançar os objetivos do estudo, na seção de materiais e métodos ele deverá descrever os detalhes, o “como” fez para chegar à determinada conclusão. A importância de descrever os detalhes é possibilitar que outros pesquisadores consigam reproduzir os passos e as análises para chegar aos mesmos resultados. É o chamado princípio da reprodutibilidade, ou seja, a capacidade de reproduzir um experimento de tal modo que chegue a um mesmo resultado. Cada teste gera um resultado. E é a partir dos resultados, que são micronarrativas, que irá se formar a grande narrativa a ser apresentada. Os impactos e as implicações dos resultados são apresentados na discussão dos resultados. Geralmente, a discussão começa expondo o resultado mais importante e vai, a partir dele, costurando os demais resultados para formar a narrativa e cotejando esses resultados com referências de outros estudos e autores que irão explicar esse resultado. Ao final da discussão, o autor conclui a sua análise reunindo tudo o que foi dito de forma a deixar claro tudo que ali foi descoberto. Nas conclusões, finalmente, o autor deverá dissertar sobre a importância de tudo que foi descoberto nesse estudo e, se possível, apresentar possíveis desdobramentos e sugestões para novos estudos. É nesse momento que o autor pode, literalmente, apontar para novos voos e novos horizontes. Hipóteses são respostas provisórias para as perguntas de pesquisa e que ainda não foram testadas. Geralmente, as hipóteses relacionam variáveis,especulando, por exemplo: “SE” a presença de A indica B “SE” a presença de B indica A “SE” A afeta B, “SE” B afeta “A” 20 Avaliador eficiente. Fonte: CEPED/UFSC (2021). O experiente editor Rafael Loyola, diretor científico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), autor de mais de 200 publicações científicas (entre as quais, 12 livros), comenta (LOYOLA, 2021) que existe um nível de subjetividade ao se tentar definir o que é um “bom artigo científico”, mas há três pontos que nos ajudam na definição: Albuquerque (2009), também editor com vasta experiência, segue outro caminho para chegar à resposta do que é um bom artigo, a partir da análise dos artigos rejeitados. Ao observar os argumentos utilizados pelos avaliadores para rejeitarem os artigos e os considerarem de baixa qualidade e, portanto, sem condições de serem publicados, ele observou que há fundamentalmente três aspectos que devem ser levados em conta: • a exatidão do trabalho científico; • o público a que o trabalho se destina; • o veículo em que será publicado. • a qualidade da ciência, o mérito científico; • a apresentação da ciência; • a conduta do pesquisador. 2.3 Quais as qualidades de um bom artigo científico? Caso você esteja fazendo este curso porque pretende ampliar suas qualidades como revisor ou se preparar para se tornar um, saiba que avaliar um artigo é um desafio para qualquer revisor. Principalmente quando se trata da primeira avaliação que fazemos. É natural que surjam perguntas como: “o que diferencia um artigo de qualidade de um artigo de baixa qualidade? Quais são as características que fazem com que um artigo seja considerado bem escrito ou relevante para a ciência?”. A pergunta que buscamos responder aqui neste curso é: como ser um avaliador eficiente e assertivo? Os problemas de qualidade da ciência dizem respeito às lacunas deixadas pelo pesquisador ao realizar sua pesquisa – o que, para Loyola (2021) é a “exatidão do trabalho científico”. Trata-se de falhas na concepção do estudo, na estrutura, no embasamento teórico e metodológico, no levantamento dos dados, na análise e discussão, e na elaboração dos resultados. 21 Saiba mais: Para ler um exemplo de caso em que os autores demoraram a responder o editor e, com isso, ocasionar um atraso na publicação, clique aqui. Podemos resumir que um artigo de qualidade deve possuir algumas características. Qualidade da ciência; da apresentação e Conduta do pesquisador. Com esse tópico, você termina a apresentação do conteúdo selecionado para esta unidade. Vamos fazer uma verificação de como foi sua aprendizagem? Execute as atividades disponibilizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e veja se você compreendeu os principais pontos desenvolvidos. Qualquer dúvida retorne ao texto! Qualidade da ciência • Mérito científico • Consistência na construção de: ȍ Hipótese; ȍ Objetivo do estudo; ȍ Método; ȍ Literatura científica; ȍ Discussão dos resultados; ȍ Resultados. Qualidade da apresentação • Estrutura bem definida; • Clareza no título; • Resumo direto e objetivo; • Texto coeso, coerente, gramaticalmente correto; • Figuras e tabelas de qualidade; • Linguagem científica; • Normas da revista. Conduta do pesquisador • Integridade na pesquisa; • Observação às boas práticas. Com relação aos problemas de apresentação da ciência, são considerados desde a estrutura do artigo científico, como escolha do título, das palavras-chave, clareza das partes do artigo (introdução, materiais e métodos, resultados, discussão dos resultados, conclusão); a qualidade e pertinência das figuras, gráficos e tabelas; a correção gramatical; a coerência e a coesão do texto; uso adequado da linguagem científica; até o uso correto das normas utilizadas pela revista para a qual foi submetido o artigo. Por último, a conduta do pesquisador diz respeito aos problemas éticos envolvidos na pesquisa e na escrita do artigo (plágio, manipulação de dados, fraude, conflito de interesse). O Committee on Publication Ethics (Comitê de Ética em Publicações – COPE) publica uma série de orientações e boas práticas relativas à integridade na pesquisa e à ética na publicação dos resultados. No site do COPE, além de guias, textos informativos e orientações sobre ética na atividade de editor, de autor, de avaliador, entre outros, é possível ter acesso a situações práticas, com exposição do caso, questões centrais e aconselhamento sobre o que deve ser feito para solucionar o problema. https://publicationethics.org/case/unresponsive-authors-delaying-publication 22 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica técnica e/ou científica: apresentação. 2. ed. Rio de Janeiro, 2018. ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de. A qualidade das publicações científicas – considerações de um editor de área ao final do mandato. Acta Botanica Brasilica, 23(1). 2009. https://doi. org/10.1590/S0102-33062009000100031 BÉGULT, Béatrice. O periódico científico, um papel para a mediação de informação entre pesquisadores: qual seu futuro no ambiente digital? Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 3(3). 2009. doi: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index. php/reciis/article/view/796. BOFF, Odete M. B. KÖCHE, Vanilda S.; MARINELLO, Adiane F. O gênero textual artigo de opinião: um meio de interação. REVEL, 7(13), 2009. LOYOLA, Rafael. Palestra “Os bastidores da publicação científica”. In: XII SEMINÁRIO DE PESQUISA DO ICMBIO. 2021, palestra online. OLIVEIRA, Erika Morganna Neves; CARVALHO, Ana Raquel Bastista; SILVA, Joyce Soares; SOUSA NETO, Antônio Rosa; MOURA, Maria Eliete Batista; FREITAS, Daniela Reis Joaquim. Analysis of scietific production on the new coronavirus (COVID-19): a bibliometric analysis. São Paulo Med. J. 139 (01) Jan-Feb 2021. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33656129/. Ventura, Magda Maria. O Estudo de Caso como Modalidade de Pesquisa. Rev SOCERJ. 20(5). 2007. Referências https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/796 https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/796 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33656129/ Apresentação e boas-vindas Unidade 1: A comunicação científica 1.1 Contexto histórico da comunicação científica 1.2 O periódico científico 1.2.1 A estreita ligação entre o periódico científico e o método científico Referências Unidade 2: O artigo científico 2.1 Definição e tipos 2.2 As partes do artigo científico 2.2.1 Título e resumo: “vendendo o peixe” 2.2.2 A introdução e seus elementos 2.2.3 Materiais e métodos 2.2.4 Resultados 2.2.5 Discussão e análise dos resultados: o lugar onde de fato se apresentam as conclusões 2.2.6 Conclusões 2.3 Quais as qualidades de um bom artigo científico? Referências
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