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Aula 02 Natália Gindri Fiorenza Maria Paula de Souza Sampaio Citopatologia Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS NATÁLIA FIORENZA Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde. Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos científicos e participando de muitos Congressos e Cursos em diferentes área de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante 4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e ensinar e por trocar conhecimentos quer na área científico-acadêmica, quer na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que sei e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei com você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo! As Autoras MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente, sou voluntária de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação científica por um ano. Em minha jornada de aprendizado contínuo pude participar ativamente de congressos e projetos de estudo, e sempre tive uma paixão por ensinar. Junto com Natália, pretendo transmitir todo o ensinamento que obtive até aqui, buscando sempre aprender mais. Estamos juntos nesse aprendizado! INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Compreendendo a citologia do trato genital feminino 10 Anatomia do trato genital feminino 10 Histologia do aparelho genital feminino 11 Células escamosas 15 Células endocervicais e endometriais 17 Colpites e Cervicites 19 Colpites 20 Candidíase vulvovaginal 20 Vaginose bacteriana 21 Tricomoníase 22 Lactobacilos 23 Actinomyces spp. 24 Leptothrix vaginalis 24 Herpes vírus 25 Cervicites 25 Chlamydia trachomatis 26 Citopatologia hormonal e endometrial 27 Citopatologia hormonal 28 Ciclo menstrual 29 Trofismo do epitélio 32 Padrões citológicos em diferentes etapas da vida 35 Índices citológicos de avaliação hormonal 35 Tratamentos hormonais 36 Citopatologia endometrial 37 Adenocarcinoma de endométrio 39 Gravidez e citopatologia do líquido amniótico 40 Citologia da gravidez 41 Citopatologia do líquido amniótico 42 Psicofarmacologia Clínica 7 UNIDADE 02 Citopatologia8 Você sabia que o câncer do colo do útero é o terceiro mais incidente na população feminina brasileira, excetuando-se os casos de câncer da pele não melanoma (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2014). Para o rastreamento desse tipo de câncer, o método mais amplamente utilizado é o teste de Papanicolaou (exame citopatológico do colo do útero), o qual é oferecido gratuitamente, através do SUS e recomendado às mulheres de 21 a 64 anos, com periodicidade em torno de 1 ano. Considerando-se que o exame citopatológico é vital na prevenção desse tipo de câncer, é necessário que o profissional da área tenha bastante conhecimento dos padrões e das mudanças histológicas sofridas pelo trato genital feminino, ao longo do ciclo de vida da mulher, além das alterações citopatológicas associadas à DSTs e infecções. Vamos agora aprofundar em cada um dos capítulos dessa unidade que contempla a citopatologia ginecológica. Vamos nessa? INTRODUÇÃO Citopatologia 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Estudar os epitélios presentes no trato genital feminino, conhe- cendo as características morfológicas das células presentes. 2. Aprender sobre os processos inflamatórios nos epitélios escamoso e glandular do colo uterino, assim como a sua sintomatologia e os microorganismos responsáveis pelas inflamações. 3. Compreender a respeito do grau de maturação do epitélio escamoso do trato genital feminino e os hormônios relacionados, conhecer as células normais do endométrio, além de critérios de anormalidades. 4. Ressaltar aspectos citológicos do líquido amniótico e suas principais técnicas para diagnóstico laboratorial, correlacionando-os com a gestação. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conheci- mento? Ao trabalho! OBJETIVOS Citopatologia10 Compreendendo a citologia do trato genital feminino INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de compreender sobre o trato genital feminino - com ênfase na vagina e cérvice - e como se aplica a citologia ginecológica, aprendendo sobre a anatomia dessas estruturas, as células presentes e seus critérios de normalidade. Essa unidade é fundamental para o exercício de sua profissão, uma vez que o câncer de colo de útero está entre os mais frequentes na população feminina e a colpocitologia oncótica é o método universal de escolha na prevenção dessa patologia. Então vamos iniciar nossa jornada pelo esse pequeno e complexo universo. Vamos lá? Anatomia do trato genital feminino Para compreender a citologia ginecológica é de extrema importância entender e conhecer sobre o local da coleta do material que será analisado, além de saber identificar os elementos presentes nos esfregaços da ectocérvice e da endocérvice, através do exame de Papanicolaou. O trato genital feminino é composto por vulva, vagina, útero (cérvice e corpo), tubas uterinas e ovário. Figura 1: Representação dos elementos presentes no trato genital feminino. A vulva é composta pelo monte de vênus, pelos pequenos e grandes lábios, clitóris, prepúcio, vestíbulo, meato uretral, glândulas de Bartholin e de Skene e pelo óstio vaginal, onde fica o hímen. A vagina é um órgão musculomembranoso tubular que comunica-se, na sua Citopatologia 11 porção superior, com o útero e inferiormente com o vestíbulo da vulva. Possui quatro fundos de saco, porção da vagina que fica ao redor do colo uterino: um anterior, dois laterais e um posterior. As tubas uterinas são compostas por dois ductos que se estendem bilateralmente desde o útero até os ovários. Os ovários (direito e esquerdo) possuem superfície lisa até a puberdade e torna-se irregular devido à ruptura dos folículos ovarianos. Além da função de produçãodos óvulos, este órgão também é importante para a produção de hormônios sexuais, como o estrogênio e a progesterona. O útero é um órgão muscular, côncavo, de paredes espessas, que se divide em duas partes, colo e corpo do útero. Figura 2: Representação do útero. Histologia do aparelho genital feminino A parede vaginal é composta por três camadas, sendo elas: mucosa, camada muscular intermediária e camada externa. A camada mucosa possui epitélio pavimentoso estratificado, enquanto que a muscular intermediária é composta por músculo liso e a externa por tecido conjuntivo denso. O epitélio da camada mucosa contém glicogênio e é dividido em camada basal (única camada de células), parabasal (duas a cinco camadas de células), intermediária e superficial (essas últimas com número de camadas variável). O colo do útero (cérvice ou cérvix) é formado por duas mucosas e por tecido conjuntivo. Uma mucosa reveste o lado externo do colo do útero e a outra reveste internamente. A cérvice inicia-se dentro da vagina e possui glândulas cervicais na mucosa. O trato genital apresenta vários tipos de epitélios e tecidos de sustentação. Citopatologia12 Epitélio escamoso estratificado não queratinizado (epitélio escamoso) O epitélio escamoso é composto por camadas de células basal, parabasal, intermediária e superficial. Figura 3: Representação esquemática do epitélio escamoso estratificado não queratinizado. A camada basal está apoiada em uma lâmina basal, suas células são pequenas e possuem capacidade mitótica. As células parabasais estão dispostas em várias camadas e são maiores que as basais; possuem um papel importante na regeneração epitelial. A maturação e diferenciação delas dão origem às células intermediárias. A espessura de suas camadas vai depender dos estímulos hormonais no ciclo menstrual. As células intermediárias podem conter uma grande quantidade de glicogênio em seu citoplasma. A camada mais madura desse epitélio é composta por células superficiais, que sofrem descamação. O epitélio escamoso não queratinizado reveste os pequenos lábios da vulva, a vagina e a parte externa do colo uterino. Figura 4: Histologia do epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Citopatologia 13 Na idade reprodutiva, o estímulo hormonal faz com que o epitélio escamoso sofra maturação completa e ocorre a descamação celular. Epitélio endocervical e endometrial O canal cervical é revestido por epitélio cilíndrico simples e possui em sua maioria células secretoras e poucas células ciliadas. As células secretoras produzem o muco cervical; sua atividade secretora é regulada pelo estrógeno, atingindo sua atividade máxima no pico da ovulação. As células ciliadas formam uma corrente mucociliar que transporta células e partículas. As estruturas glandulares formam-se por invaginações do epitélio cilíndrico e dão origem às criptas endocervicais. Figura 5: Histologia do epitélio cilíndrico simples endocervical. O endométrio é a parte mais interna do útero e é recoberto por mucosa vascularizada. Possui lâmina própria e epitélio de revestimento simples, cilíndrico, associado a glândulas endometriais que produzem o muco. Figura 6: Histologia do epitélio cilíndrico simples endometrial Citopatologia14 Junção escamocolunar (JEC) e zona de transformação A JEC é o local de transição entre os epitélios da endo e da ectocérvice. A sua localização original fica na junção entre o orifício da ectocérvice e o epitélio endocervical, porém a sua localização pode variar de acordo com fatores como idade, uso de anticoncepcionais, número de gestações e estímulo hormonal. Com o crescimento do colo do útero, o canal cervical se alarga, fazendo com que haja uma ectopia, ou seja, uma eversão do epitélio endocervical. A exposição do epitélio ectópico ao meio ácido vaginal faz com que ocorram os processos de metaplasia, substituindo o epitélio escamoso pelo metaplásico. A JEC funcional é a união do epitélio metaplásico com o epitélio endocervical e a zona de transformação é a região desde a JEC original até a JEC funcional. Figura 7 – Localização da junção escamocolunar. Identificar a zona de transformação durante a coleta do exame citológico é extremamente importante, visto que a maioria das lesões precursoras do câncer de colo de útero se estabelece nessa região. Citopatologia 15 Células escamosas Células basais As células basais estão presentes na camada mais profunda do epitélio e são basófilas, ou seja, coradas com Hematoxilina. São células pequenas, de formato arredondado e apresentam um núcleo central e volumoso. Figura 8 – Célula basal comparada à células maduras. As células basais podem aparecer em esfregaço citológico em casos de atrofia grave e após o parto, devido à descamação intensa causada pela queda hormonal brusca. Células parabasais Essas células possuem um tamanho maior do que as células basais; são arredondadas, possuem citoplasma mais abundante e de coloração que varia do azul-esverdeado para o rosa. São observadas, principalmente, na infância, no pós-parto e na pós-menopausa (atrofia). Figura 9 – Células parabasais. Citopatologia16 Em atrofia bem pronunciada, como o que ocorre alguns anos após a menopausa, as células parabasais podem apresentar picnose e cariorrexe, características de degeneração, com fragmentação do seu conteúdo. Células intermediárias As células intermediárias possuem formato poligonal, núcleo menor que das células profundas e de formato arredondado com cromatina finamente granular. Tem citoplasma mais abundante e geralmente cianófilo. Essas células possuem um alto teor de glicogênio fazendo com que os lactobacilos presentes ali metabolizem esse glicogênio em ácido lático, que mantém o pH vaginal entre 3,8 a 4,2. Isso faz com que haja degradação do citoplasma, formando núcleos desnudos facilmente visualizados no esfregaço. Possuem junções celulares (desmossomos) e isso faz com que sua descamação seja em aglomerados. Figura 10 – Células intermediárias acompanhadas de lactobacilos. Na gravidez, devido ao alto teor de glicogênio, ocorre arredon- damento da borda citoplasmática com deslocamento do núcleo para a periferia, deixando o seu formato navicular. Células superficiais As células superficiais são as mais diferenciadas; estão na fase final de maturação do epitélio e sofrem descamação de forma isolada. Seu citoplasma é o mais abundante, delicado, poligonal e transparente, podendo ser cianófilo ou eosinófilo, a depender da coloração de Papanicolaou. O núcleo é central, picnótico e denso. Não possuem junções celulares, por isso descamam isoladamente. Citopatologia 17 Figura 11 – Células superficiais eosinofílicas. Células endocervicais e endometriais As células endocervicais, ou glandulares, possuem núcleo volumoso, arredondado ou oval, com cromatina finamente granular. São células altas, com citoplasma basófilo e vacuolizado. Essas células são bastante sensíveis a alterações reativas, podendo apresentar multinucleação. Descamam em agrupamentos e podem estar dispostas em “favo de mel”, quando visualizadas de cima, e “paliçadas”, quando visualizadas de lado. A presença dessas células no esfregaço indica que a coleta foi realizada na JEC, sendo esse um indicativo da boa qualidade do esfregaço. Figura 12 – Células glandulares dispostas em “paliçada’’. As células endometriais são observadas nos esfregaços devido à descamação do epitélio glandular durante a menstruação, podendo ser vistas até o 12º dia do ciclo menstrual. São células pequenas, menores que as células endocervicais, tendo pouca definição das bordas do seu citoplasma. Podem ser ciliadas ou não. Seu núcleo é hipercromático e oval. Citopatologia18 A visualização de células endometriais após o 12º dia do ciclo menstrual é considerada anormal e possui maior relevância em mulheres na pós-menopausa. Figura 13 – Grupo de célulasendometriais. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Importância da qualidade da coleta do exame preventivo para o diagnóstico das neoplasias glandulares endocervicais e endometriais” (UGHINI & CALIL), acessível pelo link: http://bit.ly/2VzJD1D Outros elementos Além das células supracitadas, o esfregaço comumente pode conter outros elementos contaminates ou celulares como muco, espermatozoides, histiócitos (células que apresentam formas variadas), leucócitos polimorfonucleares (principalmente neutrófilos) e hemácias. E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a compreensão deste tema que é tão importante dentro da citopatologia, vamos resumir tudo o que vimos. Você aprendeu aqui que o trato genital feminino possui estruturas anatômicas específicas e diferentes células que compõem essas estruturas. Conseguiu diferenciar os tipos de epitélios presentes, a ectocérvice, a endocérvice e a junção escamocolunar; aprendeu sobre suas características individuais e suas funções, observando exemplificações de cada tipo celular apresentado – células escamosas na ectocérvice e endocervicais ou glandulares na Citopatologia 19 endocérvice. Pôde entender a importância da coleta cérvico-vaginal na zona de transformação (JEC) e a significância da presença das células endocervicais no esfregaço. Compreendeu que existem diferentes fases do ciclo reprodutivo feminino em que estarão presentes algumas células características que não estarão presentes em outras fases. E que alterações nesse perfil são indicativas de anormalidade ou atipia, e isso é utilizado como diagnóstico nos exames preventivos. Colpites e Cervicites INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de compreender sobre os processos inflamatórios que ocorrem nos epitélios constituintes do trato genital feminino e os microorganismos causadores da inflamação nessa região. Considerando- se que o exame citopatológico tem papel importante no diagnóstico e estudo dos processos inflamatórios em geral, a capacidade de reconhecer as características citopatoló- gicas relacionadas a cada tipo de infecção que acomete o trato genital é fundamental para o profissional da área. Sendo assim, vamos explorar mais detalhadamente esse assunto, neste capítulo. Está preparado? Então vamos lá! O ambiente da cérvice-vaginal é composto, normalmente, por elementos como glândulas (sebáceas, sudoríparas, de Bartholin, de Skene), células vaginais e cervicais esfoliadas, transudato da parede vaginal, microorganismos (bactérias como lactobacilos) e seus produtos metabólicos, líquidos endometriais, entre outros. O trato genital feminino está em contato direto com o ambiente externo através da vagina, o que favorece o surgimento de infecções. Secreção vaginal anormal, prurido, dor e sangramento são os sintomas mais comuns associados a essas. O exame citológico tem como principal objetivo detectar as lesões neoplásicas do colo uterino, entretanto também possibilita reconhecer os processos inflamatórios associados à quadros infecciosos e avaliar a sua intensidade. Recomenda-se a colheita de amostra do fundo de saco posterior da vagina para estudar a microbiota vaginal. O exame citológico deve Citopatologia20 conter amostras representativas da ectocérvice, endocérvice e também da vagina (colheita tríplice). Apenas a presença de microorganismos no esfregaço citológico não significa infecção, visto que na vagina há a presença de bactérias que não são patológicas (microbiota vaginal). Alguns fatores fisiológicos (gravidez, parto, menopausa), patológicos (distúrbios hormonais e metabólicos, insuficiência hepática) e locais (uso de DIU, exposição sexual) irão interferir na microflora. O processo inflamatório pode acometer tanto o epitélio escamoso, como o glandular. Denomina-se colpite a inflamação que ocorre em epitélio escamoso estratificado, o qual reveste a parede vaginal e a ectocérvice, e cervicite quando a inflamação acomete o epitélio glandular do colo uterino. Colpites O processo inflamatório que ocorre na ectocérvice pode ser causado por uma série de patógenos e gera sintomas como corrimento, mal odor, prurido e ardência. Os agentes patogênicos mais comuns são: Candida albicans, Gardnerella vaginalis e Trichomonas vaginalis. Candidíase vulvovaginal A candidíase vulvovaginal (CVV) é a segunda mais frequente dentre as vulvovaginites, ficando atrás somente da vaginose bacteriana. As infecções micóticas representam a causa mais comum de vaginite nas regiões tropicais, sendo que em 85% a 90% dos casos a cultura microbiológica dessas regiões demonstra Candida albicans. A infecção por Candida envolve geralmente a vulva, vagina e às vezes o colo do útero. É mais comum em pacientes imunossuprimidas ou diabéticas, grávidas, ou que fazem tratamento com corticoides e quimioterápicos. A sintomatologia é secreção vaginal espessa, branca ou amarelada sem odor, prurido e ardor, porém pode não apresentar nenhum sintoma. No esfregaço citológico é possível identificar hifas, pseudo-hifas e esporos (redondos ou ovais, com 3-7 micrômetros de diâmetro). A Candida se reproduz por brotamento, seus brotos se alongam e formam as pseudo-hifas. Para diferenciar as pseudo- hifas das hifas é necessário observar que nas últimas o protoplasma é Citopatologia 21 contínuo entre o eixo principal e as ramificações. A coloração dessas estruturas geralmente é de vermelho ou marrom. Aumento nuclear, halos perinucleares, vacuolização citoplasmática, agrupamento de neutrófilos degenerados e pseudoeosinofilia são características que ajudam a identificar a presença do fungo, levando em consideração que o agente, seja hifa ou esporo, nem sempre é fácil de ser visualizado. Avaliar as extremidades do esfregaço é útil, visto que nessas áreas ocorre dessecação, facilitando a identificação de esporos (que se apresentam maiores que os presentes no restante do esfregaço). Figura 14 – Representação de pseudo-hifas segmentadas, de coloração roxa e também de leveduras, alongadas, com formato oval (Primeira imagem). Seta indicando esporos, na segunda imagem. Vaginose bacteriana A vaginose bacteriana (VB) é causada, predominantemente, por Gardnerella vaginalis, coco-bacilos gram-negativos ou variáveis. Na maioria das mulheres a VB não apresenta sintomas, porém em infecções mais severas sua sintomatologia está associada a corrimento fluido, amarelo ou acinzentado, com odor fétido (de peixe estragado) que piora com a alcalinização do meio vaginal. Quando o pH vaginal é maior que 4.5, a Gardnerella pode se associar a várias outras bactérias, especialmente Mobiluncus. O odor fétido se intensifica durante a menstruação e após relações sexuais, devido ao aumento do pH, causado por microorganismos que liberam aminas responsáveis pelo cheiro desagradável. No esfregaço é possível visualizar uma adesão ao citoplasma das células superficiais e intermediárias feita pela Gardnerella, conferindo a essas células um aspecto granular (clue cells). O aspecto turvo do fundo é característico da VB, devido a maior concentração de bactérias ao redor das células. É comum ocorrer cariopicnose nas células superficiais, já neutrófilos são raros. Citopatologia22 Em algumas ocasiões, bacilos ou cocos se sobrepõem às células escamosas, dando a falsa impressão de clue cells (célula-guia). Nesse caso, o fundo não tem a aparência turva. Figura 15 – Fundo de aspecto turvo, na primeira imagem, causado por Gardnerella. Clue cell demonstrando citoplasma com aspecto granular devido ao depósito dos cocobacilos. Tabela 1 – Consequências associadas à VB para as mulheres acometidas. Complicações que a Vaginose bacteriana pode trazer Endometrite Doença inflamatória pélvica Parto prematuro Corioamnionite Infecção puerperal A presença de clue cells no esfregaço não confirmao diagnóstico da vaginose bacteriana, tendo em vista que elas não são tão específicas e podem, inclusive, estar ausentes em mulheres com essa patologia. Tricomoníase Causada pelo protozoário flagelado Trichomonas vaginalis, é transmitida pelo contato sexual e sua sintomatologia está associada a corrimento vaginal abundante de cor verde-amarelada e odor desagra- dável, apesar de metade das mulheres acometidas não apresentarem nenhum sintoma. É muito difícil a identificação do flagelo do parasita nos esfregaços, devido à intensa degeneração que ocorre. O protozoário apresenta, geralmente, formato piriforme com tamanho variável, limites mal definidos, paranúcleo pequeno, redondo ou oval, de difícil identificação. Para diferenciar o parasita de restos citoplasmáticos é necessária a visualização do núcleo. Citopatologia 23 Figura 16 – Parasitas ovais, com coloração rosada, núcleo borrado e pouco definido, com aparência degenerada. Lactobacilos Lactobacillus vaginalis (bacilos de Döderlein) são bacilos gram- positivos que constituem a microflora vaginal normal. As suas enzimas causam citólise (destruição proteolítica) das células intermediárias, devido ao glicogênio presente nessas. A citólise é identificada nos esfregaços pela presença de restos citoplasmáticos e núcleos desnudos de células intermediárias, tendo ao seu redor numerosos bacilos. Quando ocorre citólise intensa, o diagnóstico das lesões pode ser dificultado e até mesmo impedido, já que não é possível verificar a relação núcleo- citoplasma, critério importante na detecção das lesões. Ocorre um predomínio de lactobacilos na fase luteínica do ciclo menstrual, na gravidez, na menopausa precoce e durante a administração de hormônios sexuais. Figura 17 – Citólise causada pela presença de lactobacilos. Citopatologia24 Actinomyces spp. Microorganismo que não faz parte da microbiota vaginal, possui morfologia variável, apresentando-se como bacilo ou cocobacilo. É uma bactéria gram-positiva, presente na cavidade oral e no trato gastrointestinal. Está associada ao uso de dispositivo intrauterino (DIU) e, em raros casos, as bactérias podem se disseminar, ocasionando abscesso tubo-ovariano e até mesmo doença inflamatória pélvica. No esfregaço citológico observa-se tufos de bactérias formados pela aglomeração de Actinomyces, apresentando aspecto de ouriço do mar. É comum a presença de células polimorfosnucleares. Figura 18 – Bactérias Actinomyces em formato de ouriço do mar se irradiando a partir de um centro escuro. Leptothrix vaginalis São bactérias comuns na cavidade oral, no intestino e menos comum na vagina. Seu formato filamentoso se apresenta em formato de “C”, “U” e “S”, ou vem enovelado. Em cerca de 80% dos casos existe a associação dessa bactéria com Trichomonas vaginalis. Figura 19 – Filamentos de Leptothrix vaginalis com presença de Trichomonas. Citopatologia 25 Herpes vírus O vírus da herpes pode acometer a região genital, sendo transmitido por contato sexual. Os tipos mais comuns são os vírus Herpes simplex tipo 1 (HSV-1) e tipo 2 (HSV-2), sendo esse último mais comum entre os dois. As manifestações clínicas da doença são febre, indisposição, mialgia e vesículas na pele ou na mucosa genital. As lesões se rompem com o aparecimento de úlceras que curam espontaneamente dentro de 2-4 semanas. Fatores como estresse e a consequente queda do sistema imunológico podem ser responsáveis pela reativação do vírus. O vírus causa alterações em células escamosas parabasais, metaplásicas imaturas e endocervicais. A princípio se evidenciam citomegalia e cariomegalia. A seguir, devido à degeneração, os núcleos assumem um aspecto de “vidro fosco”. É comum ocorrer multinucleação. Em alguns casos, inclusões intranucleares grandes podem ser observadas, não devendo ser confundidas com nucléolos, que são menores e esféricos. O citoplasma das células acometidas é denso e opaco. Figura 20 – HSV em células aglomeradas e multinucleadas com núcleos de variados tamanhos e formas, com aspecto de vidro fosco. Cervicites As cervicites são processos inflamatórios do epitélio glandular do colo uterino - endocérvice - e são assintomáticas, na maioria dos casos. São causadas pelos microorganismos Neisseria gonorrheae e Chlamydia trachomatis. Citopatologia26 Chlamydia trachomatis É uma bactéria gram-negativa que pode causar inflamações na vulva, vagina, colo do útero, endométrio e trompas. As infecções urogenitais por C. trachomatis estão entre as DSTs mais frequentes no mundo. É comum associação com vaginose bacteriana. A bactéria se apresenta nos esfregaços sob a forma de inclusões citoplasmáticas de diferentes tipos, vai depender do seu estágio de desenvolvimento. Os tipos de inclusões podem ser corpos elementares, corpos reticulares e corpos agregados. No esfregaço, são observadas inclusões citoplasmáticas em material endocervical ou uretral. Na detecção da Chlamydia a citologia é um método pouco preciso com taxas baixas de sensibilidade. Essa bactéria nem sempre produz anormalidades citológicas que podem ser visíveis no esfregaço e também em razão de os vacúolos citoplasmáticos poderem ou não estarem relacionados com a presença da bactéria. Um diagnóstico definitivo exige cultura microbiológica, testes de imunofluorescência com antígeno específico, ELISA ou PCR. Figura 21 - Vacúolos citoplasmáticos sugestivos de Chlamydia com inclusões eosinofílicas em células metaplásicas. A citologia em meio líquido é uma metodologia que permite a utilização de resíduos para testes de biologia molecular para vírus como o HPV e outros micro-organismos como a Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonorrhoeae. Agora que você aprendeu mais detalhadamente sobre colpites e cervicites, seus patógenos causadores e características citológicas, vamos resumir os principais tópicos deste capítulo. Citopatologia 27 Você aprendeu aqui que colpites são processos inflamatórios que ocorrem no epitélio escamoso – ectocérvice -, enquanto cervicites acometem o epitélio glandular (endocérvice). Observou que as colpites mais frequentes, são: Candidíase vulvovaginal - causada por Candida sp, podem ser observadas hifas, pseudo-hífas e esporos no esfregaço; vaginose bacteriana – é mais comum por Gardnerella vaginalis, são observados depósitos citoplasmáticos de cocobacilos (clue cells); tricomoníase – causada por Trichomonas vaginalis, que se apresentam degenerados, com coloração rosada e núcleo borrado; bacilos de Döderlein - Lactobacillus vaginalis causam citólise local; Actinomyces spp. – no esfregaço apresenta-se como tufos de células com aspecto de ouriço do mar; Leptothrix vaginalis – de formato filamentoso, associa- se com frequência à Trichomonas vaginalis; herpes vírus – causado por Herpes simplex tipo 1 e tipo 2, forma aglomerados de células multinucleadas (“vidro fosco”). Também aprendeu as cercivites são causadas por Neisseria gonorrhoeae ou por Chlamydia trachomatis e que, a infecção por essas últimas é de difícil diagnóstico citopatológico. Citopatologia hormonal e endometrial INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo você será capaz de compreender os níveis de maturação do epitélio escamoso do trato genital feminino e os hormônios relacionados a esse e conhecer as células normais do endométrio, além de critérios de anormalidades. A fisiologia da mulher sofre mudanças mensais e cíclicas que se refletem na histologia do trato genital feminino. Essas mudanças são reguladas por hormônios sexuais e qualquer alteração nesse padrão, pode indicar o início de um processo patológico. Sendo assim, é importante conhecer o perfil citológico normal de cada estágio do ciclo ovariano/uterino, para poder reconhecer eventuais anormalidades nesse ciclo. Neste capítulo vamos adentrar nas características citológicas e citopatológicas do ciclo feminino. Estão preparados? Citopatologia28 Citopatologiahormonal Antes da citologia ser utilizada para fins diagnósticos de lesões pré-cancerosas, já era utilizada para investigar as mudanças hormonais do epitélio cervical. Em 1847, Pouchet descreveu em seu atlas as alterações celulares durante o ciclo ovariano, o que representou o início das investigações que vieram a seguir. A citopatologia hormonal se baseia no fato do epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado possuir receptores hormonais que vão controlar a maturação e diferenciação das células, e dessa forma pode-se avaliar as condições endócrinas das pacientes através do estudo da morfologia das células vaginais. Ela se torna mais utilizada quando os laboratórios não realizam análises bioquímicas específicas nessa área, já que os exames bioquímicos são bem precisos para detectar os distúrbios endócrinos femininos. A citologia hormonal é aplicada na avaliação da função ovárica normal e patológica de pacientes na puberdade até a menopausa, na avaliação da função placentária e de disfunções na área da obstetrícia. Também é utilizada para calcular o tempo da ovulação, ajudar na escolha da terapia hormonal e monitoramento de resultados de tratamentos hormonais. VOCÊ SABIA? Stockard e Papanicolaou acidentalmente descobriram as células neoplásicas quando utilizavam a citologia para observar fenômenos hormonais durante o ciclo menstrual. O epitélio vaginal sofre alterações que dependem da produção de hormônios como estrógeno e progesterona. O estrógeno está relacionado à maturação epitelial completa das células e induz à predominância de células maduras superficiais no esfregaço. Já a progesterona atua inibindo a maturação das células. Quando não há a presença de estrógeno ocorre atrofia do epitélio escamoso (reduz a maturação). Portanto, quando estuda-se a maturação do epitélio é possível saber a respeito das taxas de hormônios esteróides e do estrógeno. Citopatologia 29 Ciclo menstrual O ciclo menstrual corresponde às alterações mensais nas taxas de produção de hormônios femininos. Essas alterações irão promover mudanças tanto nos ovários como em outros órgãos sexuais. O objetivo do ciclo menstrual é preparar o endométrio para a gravidez e as alterações que ocorrem são reguladas pelas células nervosas do hipotálamo, através da secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). Após isso, a hipófise anterior secreta os hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) e por fim, os ovários secretam a progesterona e o estrógeno. Figura 22 – Esquematização do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Alguns fatores podem influenciar no funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovárico, como estresse, exercícios físicos acentua- dos, alterações na função da tireoide, uso de drogas ou medicamentos, anorexia, traumatismos, tumores, hiperprolactinemia, determinadas doenças crônicas, entre outros. O GnRH é o principal mediador do processo reprodutivo, atuando sobre a hipófise anterior com receptores de células produtoras de LH e FSH, esses são liberados na circulação até alcançarem os ovários. Enquanto o FSH estimula a proliferação de células foliculares, estimulando a secreção de estrógeno (que é fundamental para a produção dos folículos), o LH estimula a produção de progesterona a partir do corpo lúteo. Os ovários produzem as células reprodutoras e secretam os hormônios esteróides (progesterona e Citopatologia30 estrógeno). Os hormônios FSH e LH agem sobre os ovários, estimulando o crescimento e a proliferação das células, assim como aumentando as taxas de secreção daqueles hormônios. Na infância, os ovários permanecem inativos, porque o centro hipotalâmico está bloqueado até a puberdade. Entre 9 e 12 anos de idade, a hipófise começa a secretar mais FSH e LH, levando ao início dos ciclos sexuais mensais sendo o primeiro ciclo menstrual denominado de menarca. A menstruação ocorre porque a progesterona prepara o útero para a implantação do embrião, caso haja fecundação e o embrião passa a produzir gonadotrofina coriônica, assim mantendo o corpo lúteo. Caso não haja fecundação, o corpo lúteo irá se degenerar, ocorrendo a menstruação. O corpo lúteo é uma “cicatriz” glandular, gerada pelo folículo que amadureceu e se rompeu para a saída do óvulo do ovário. O ciclo mensal dura em média 28 dias, podendo variar de 20 a 45 dias. No 1º ao 5º dia do ciclo, na fase menstrual, os esfregaços vaginais contêm células escamosas, principalmente intermediárias; pode haver a presença de hemácias, polimorfonucleares, células endometriais e raras células glandulares. Do 6º ao 12º dia, na fase estrogênica inicial, a progesterona do ciclo anterior ainda faz efeito e ainda são predominantes as células intermediárias. Observa-se uma diminuição no número de polimorfos e raras hemácias, e pode ser observada a presença de muco. Com o aumento do estrógeno, há o aumento de células superficiais. Na fase pré-ovulatória, nos dias 12 e 13, já podem ser visualizadas grandes quantidades de células superficiais isoladas, com núcleo picnótico. Do 6º ao 13º dia as células glandulares apresentam núcleo central e citoplasma basófilo. Na fase ovulatória, que acontece nos dias 14 e 15, ocorre o pico de LH e estrogênio e o pico de maturidade celular, fazendo com que o esfregaço seja predominantemente composto por células superficiais eosinofílicas, achatadas e com núcleo picnótico. Do 16º ao 28º dia, na fase progestacional, ocorre uma redução progressiva de células epiteliais devido a ação da progesterona. São vistos lactobacilos abundantes com possível citólise em células intermediárias. Citopatologia 31 Imagem 23 – Alterações hormonais de FSH, LH, progesterona e estrógeno em um ciclo mensal de 28 dias. O padrão citológico de descamação de células em um ciclo menstrual de 28 dias. O estrógeno atua no controle da ovulação e no desenvolvimento de características femininas, além de induzir à maturação do epitélio, como foi dito, levando à predominância de células superficiais no esfregaço. Também inibe a atividade osteoclástica nos ossos, estimulando o Citopatologia32 crescimento ósseo. Na menopausa, os ovários não secretam muito pouco estrógeno, ocasionando maior atividade osteoclástica, diminuição da matriz óssea e menores depósitos de cálcio e fosfato ósseos, o que pode resultar em osteoporose. A progesterona prepara o útero para a gravidez e as mamas para a lactação. Sua função mais importante é realizar mudanças secretórias no endométrio durante a última metade do ciclo sexual feminino, preparando o útero para a implantação do óvulo fertilizado. Também é responsável pela proliferação do epitélio vaginal e pelo aumento da viscosidade do muco cervical. Vai atuar, ainda, promovendo o desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos mamários. Figura 24 – Atuação do estrógeno e progesterona na proliferação e maturação do epitélio. O melhor local de coleta do material para avaliação hormonal é o terço superior da parede lateral da vagina, pois esse local é sensível aos estímulos hormonais. Caso essa zona esteja inviável, poderá ser coletada amostra do fundo de saco vaginal. Porém, esse material poderá conter células esfoliadas em longo tempo, células da ectocérvice, endocérvice e do endométrio, o que diminui a qualidade do exame, já que não é interessante a presença dessas células para citologia hormonal. Trofismo do epitélio Ao longo da vida da mulher ocorrerão alterações nos níveis tanto de estrogênio, quanto de progesterona, e essas alterações poderão ser visualizadas na citologia cérvico-vaginal. A ação do estrógeno no epitélio escamoso faz com que ocorra sua proliferação, maturação e estratificação. Quando ocorre baixa liberação de estrógeno, o esfregaço apresenta um pequeno número de células escamosas superficiais Citopatologia 33 eosinofílicas, tendo uma diminuição da microbiota lactobacilar e aumento no pH vaginal,e isso pode tornar o epitélio susceptível a infecções. A ausência desse hormônio traz uma redução em mecanismos necessários para a lubrificação vaginal. Como foi relatado, a progesterona irá inibir a maturação celular, promovendo a proliferação do epitélio vaginal. A maturação parcial das células escamosas pode ocorrer tanto pela baixa secreção de estrógeno, como pela ação antagonista da progesterona ou de androgênicos, ou também pelo efeito do tamoxifeno, um agonista estrogênico. Porém, é complicado correlacionar o grau intermediário de maturação epitelial com a ação de hormônios específicos. O epitélio escamoso assume quatro padrões citológicos diferentes: atrófico, hipotrófico, normotrófico e hipertrófico. A atrofia ocorre quando há predominância de células parabasais com relação às células intermediárias, já que não serão encontradas células superficiais maduras devido à ausência de estrógeno e outros hormônios. Esse padrão é visto na menopausa, no puerpério, durante a amamentação, pós-radiação, entre outros. Figura 25 – Padrão atrófico com predomínio de células parabasais basofílicas. Quando há predomínio de células intermediárias no esfregaço e poucas células parabasais, o epitélio apresenta um padrão hipotrófico. Também poderão ser observadas células superficiais em quantidades inversamente proporcionais à quantidade de células parabasais. É comum observar esse padrão em meninas quando começam a secretar seus hormônios e na pré-menopausa. Citopatologia34 Figura 26 - Padrão hipotrófico com predomínio de células intermediárias e raras células parabasais (seta). O esfregaço normotrófico é representando pela presença apenas de células escamosas superficiais e intermediárias, podendo ter uma maior quantidade de células intermediárias. É o momento onde a mulher apresenta um equilíbrio hormonal ou uma maior taxa de progesterona. Figura 27 – Padrão normotrófico com predomínio de células intermediárias basofílicas. Quando há apenas células superficiais e intermediárias no esfregaço, com predomínio de células superficiais, o padrão é hipertrófico. Pode ser chamado de padrão estrogênico, pois os níveis de estrógeno estão predominando, induzindo à maturação das células. Figura 28 – Padrão hipertrófico com predomínio de células superficiais poligonais, com núcleos picnóticos. Citopatologia 35 Padrões citológicos em diferentes etapas da vida Durante várias fases da vida da mulher podem ser observados diferentes padrões e alterações hormonais. Logo após o nascimento, a recém-nascida apresenta um padrão celular igual ao da mãe, um padrão trófico com a presença de células intermediárias. Esse padrão permanece até a 4ª semana de vida, devido a estimulação dos hormônios da placenta. Como não há uma estimulação hormonal após 4 semanas, o padrão celular é alterado, tornando-se atrófico. Na pré- puberdade, ou seja, no início da fase adulta, ocorre um aumento na secreção de hormônios sexuais e assim ocorre a maturação do epitélio escamoso, saindo do padrão atrófico para o hipotrófico. Na menacme (período de atividade menstrual) o epitélio escamoso está sob efeito tanto do estrógeno como da progesterona. Durante a gestação o epitélio assume um padrão estimulado pela progesterona. O esfregaço gestacional é verificado a partir do 2º ou 3º trimestre da gravidez e é composto por células intermediárias ricas em glicogênio. Células endocervicais apresentam-se maiores, com núcleos proeminentes. Esse padrão permanece no puerpério (pós-parto), por aproximadamente 6 semanas; após esse período a placenta começa a se degenerar, o nível de progesterona cai e o epitélio passa a ter um padrão atrófico. Na menopausa podem ser observados 3 padrões citológicos, primeiro há níveis baixos de estrogênio, mostrando um epitélio com células intermediárias predominando. Os níveis de estrogênio vão diminuindo progressivamente até que o epitélio fique hipotrófico e, por fim, permanece um padrão atrófico, sem maturação celular. Algumas alterações citológicas podem indicar anomalias hormonais na gestação, por exemplo, aborto iminente. Nesse caso, há aumento de mais de 10% de células superficiais e diminuição de células intermediárias. Índices citológicos de avaliação hormonal Esses índices são utilizados para quantificar, em valores relativos, os tipos celulares na avaliação hormonal, além de escolher as melhores vias de administração hormonal e o melhor tratamento, caso seja necessário. Os índices são calculados contando pelo menos 100 células Citopatologia36 em quatro campos diferentes. O índice de cariopicnose (IC) quantifica a porcentagem de células com núcleos picnóticos entre as células superficiais e intermediárias presentes. O valor máximo desse índice coincide com o pico da ovulação. O índice de eosinofilia (IE) calcula a porcentagem de células maduras eosinofílicas entre todas as células escamosas maduras. O pico desse índice coincide com o pico do índice de cariopicnose. O índice de maturação (IM) determina, em porcentagem, a quantidade de células parabasais, intermediárias e superficiais (P/I/S). O índice de pregueamento celular determina a quantidade de células pregueadas, entre todas as células maduras. As células intermediárias possuem citoplasma pregueado, principalmente na fase secretora. O índice de agrupamento celular vai calcular a quantidade de células em aglomerados, porém é de difícil execução já que as células agrupadas não permitem uma contagem exata. O valor de maturação (índice de Meisels) é calculado a partir do IM e representa a soma do número de células parabasais multiplicado por 0, de intermediárias multiplicado por 0,5 e superficiais multiplicado por 1. Quando se tem um valor igual a 100 corresponde a somente células superficiais, assim como se tiver igual a 0, haverá predominância de células parabasais. Tratamentos hormonais Os hormônios utilizados em tratamento trazem efeitos e mudanças no esfregaço vaginal. O uso de cremes vaginais contendo estrógeno faz com que o esfregaço tenha uma quantidade aumentada de células superficiais eosinofílicas, com núcleos picnóticos. Ao administrar progesterona, se o epitélio estiver sendo estimulado pelo estrógeno, vai ocorrer uma diminuição da maturação das células. Caso o esfregaço esteja atrófico, a administração de progesterona vai trazer um aumento de células intermediárias. O efeito causando por andrógenos é bastante semelhante ao efeito causado pelo uso da progesterona. O tamoxifeno é muito utilizado no tratamento e prevenção do câncer de mama, e leva a um aumento na maturação do epitélio de mulheres na menopausa. Citopatologia 37 Citopatologia endometrial O endométrio é a parte mais interna do útero, responsável pelo suprimento vascular e nutritivo do feto, e responde às variações de hormônios, como progesterona e estrogênio. As células endometriais, como foram vistas, quando estão dentro da normalidade, são pequenas, se descamam em grupos tridimensionais e têm pouca definição das bordas citoplasmáticas. Podem ser vistas até o 12º dia do ciclo; a partir disso, o achado deve ser investigado pois é anormal. A aparência das células endometriais normais depende de alguns fatores, como o local de origem dos diferentes tipos celulares endometriais, o estágio do ciclo menstrual, o material usado na coleta, a técnica de processamento do material e a forma como a célula é vista (colunar ou oval). Figura 29 – Histologia do endométrio normal na fase proliferativa e secretora sob ação do estrógeno e progesterona. Os tipos de coleta de material endometrial são escovação, aspiração endometrial, lavado endouterino ou cultura de tecido endometrial. O exame de Papanicolaou também é utilizado como orientação na pesquisa de anormalidades endometriais, já que os elementos dessa mucosa podem ser vistos no esfregaço. As células endometriais descamadas naturalmentepodem vir do epitélio ou do estroma (endométrio), isoladas SAIBA MAIS: Quer aprender mais sobre a ação de hormônios como o estrógeno e a citologia hormonal vaginal? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta: Artigo “Citologia hormonal do Trato Urinário Baixo e da Vagina de Mulheres na Pós-menopausa, antes e durante a Estrogenioterapia Oral e Transdérmica” (Lustona et. al), acessível pelo link: http://bit.ly/2vwFMI2 Citopatologia38 ou aglomeradas. Existem as células endometriais secretoras, que são as mais comuns no esfregaço, e as ciliadas. As células secretoras têm seu tamanho aumentado na fase proliferativa, com citoplasma mais escasso, cianofílico e levemente vacuolado, com cromatina finamente granular. Já na fase secretora, uma maior vacuolização está presente e, à medida que a secreção é acumulada, a célula fica menos cianofílica e o núcleo se desloca para a periferia. Quando a secreção é removida da célula, o núcleo se contrai e ela reduz de tamanho, evidenciando degeneração. As células endometriais advindas do estroma possuem tamanho variado e são muito difíceis de identificar nos primeiros 3 ou 4 dias do ciclo menstrual. Por volta do 5º-6º até o 10º dia do ciclo, as células endometriais normais descamam em grupamentos característicos, que são acompanhados de numerosos histiócitos e leucócitos. O termo “exodus” ou “êxodo” foi criado por Papanicolaou devido a esse quadro da fase menstrual tardia. Figura 30 – Êxodo de células endometriais estromais A data do ciclo menstrual se torna muito importante para identificar a origem dessas células. Tabela 1 – Diferenças das características morfológicas entre células endometriais epiteliais e estromais. Características morfológicas das células endometriais Epiteliais Estromais Bem preservadas Descamação em cordões irregulares Agrupamentos densos Sobreposição menos frequente Citoplasma basofílico Citoplasma sem limites nítidos Núcleos redondos ou ovais Núcleos alongados Citopatologia 39 As patologias benignas que podem ser encontradas envolvendo células endometriais são endometrites, endometriose, adenomiose, pólipo endometrial e hiperplasia endometrial. Já as patologias malignas podem ser adenocarcinoma, adenoacantoma, carcinoma de células claras, carcinoma adenoescamoso misto, carcinoma secretor e adeno-carcinoma papilífero. Adenocarcinoma de endométrio Os achados citológicos nesse adenocarcinoma vão depender do grau do tumor. Em tumores de grau I poucas células anormais costumam descamar, com pouca atipia, sendo caracteristicamente interpretados como células endometriais atípicas. A sua detecção, especialmente tumores bem diferenciados, é limitada por um pequeno número de células anormais bem preservadas e pela sutileza de suas alterações celulares. Os fatores de risco para esse tipo de adenocarcinoma são infertilidade, obesidade, exposição a hormônios e hiperplasia de endométrio. As características citológicas mais comuns são células de tamanho variado, distribuídas em pequenos conjuntos, citoplasma escasso ou abundante, com vacuolização, aumento nuclear, cromatina distribuída irregularmente e presença frequente de histiócitos. Figura 31 – Adenocarcinoma endometrial com células agrupadas, grandes, com vacuolização citoplasmática, núcleos volumosos com presença de nucléolos. Muitas vezes não há critérios citológicos definitivos de malignidade, considerando-se as células endometriais. Nesses casos, utiliza-se a seguinte nomenclatura: células glandulares endometriais atípicas de significado indeterminado, sem outra especificação, preconizada pelo Sistema Bethesda. Com relação às células endometriais, não se aplica a qualificação “provavelmente neoplásicas”, já que a distinção é muito difícil e não é reproduzível. Neste capítulo você aprendeu sobre as características citológicas do ciclo menstrual, a influência dos hormônios sexuais nas alterações histológicas e o perfil histológico normal e anormal do endométrio. Agora vamos resumir os principais tópicos para você. Citopatologia40 Você aprendeu que a presença de receptores no epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado permite que os hormonais controlem a maturação e diferenciação das células que formam esse tecido. Na fase pré-púbere o FSH e LH agem sobre os ovários, estimulando o crescimento e a proliferação das células e aumentando a secreção de estrógenos e progesterona. A secreção cíclica dos 4 hormônios é responsável pelas diferentes fases do ciclo menstrual e suas características (menstrual, estrogênica, pré-ovulatória, ovulatória e progestacional). Descobriu que para a avaliação citológica, o melhor local de coleta é o terço superior da parede lateral da vagina e que, ao longo da vida da mulher, o epitélio escamoso assume quatro padrões citológicos diferentes: atrófico (menopausa ou puerpério), hipotrófico (pré-puberdade e pré-menopausa), normotrófico (equilíbrio hormonal) e hipertrófico (maior taxa de estrógeno). Descobriu que existem índices de avaliação hormonal que são utilizados para a correta análise dos exames citológicos. E aprendeu sobre as alterações que ocorrem nas células endometriais ao longo do ciclo, tais como aumento de tamanho (fase proliferativa) e descamação (fase menstrual), assim como os achados citológicos associados ao adenocarcinoma de endométrio. Gravidez e citopatologia do líquido amniótico INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer aspectos citológicos do líquido amniótico e suas principais técnicas para diagnóstico laboratorial, correlacionando-os com a gestação. Durante a gravidez não há contraindicação para a realização do exame citopatológico para investigação de câncer de colo de útero, porém alguns cuidados são necessários. Além disso, a citopatologia do líquido amniótico pode diagnosticar gestação de alto risco, maturidade, sexo, morte fetal, e infecções ovulares. Cabe ao profissional da área conhecer as técnicas adequadas a serem utilizadas durante esse período, a fim de evitar riscos desnecessários para a mãe e o bebê, assim como reconhecer os componentes do líquido amniótico. Preparados para essa jornada? Citopatologia 41 Citologia da gravidez A gravidez e o puerpério constituem uma oportunidade para efetuar o rastreio da neoplasia do colo do útero em mulheres que não realizam o exame preventivo de acordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde. As diretrizes para triagem citológica do câncer de colo de útero durante a gravidez não são diferentes daquelas para a mulher não grávida. O câncer do colo do útero é uma doença associada à infeção por HPV, vírus do Papiloma Humano, e o seu diagnóstico precoce realizado por citologia é crucial para um melhor prognóstico. A citologia vaginal a fresco é um método que consiste na utilização do microscópio imediatamente após realizado o esfregaço, importante nos exames pré-natal, a fim de melhorar a qualidade obstétrica, devido às queixas vulvovaginais. É um método com mais vantagens no ambulatorial pré-natal comparado à citologia convencional, tendo em vista que agiliza o diagnóstico e tratamento da gestante. Na literatura, não existem muitas incidências de câncer ginecológico associado à gravidez, dessa forma, a conduta deve ser discutida com a equipe de saúde e familiares da paciente. Entretanto, a triagem citológica do colo de útero é muito importante durante a gestação, principalmente nos primeiros 3 meses, para detecção de possíveis lesões. A coleta do material deve ser feita com a espátula de Ayre e não se deve usar escova de coleta endocervical, independentemente da idade gestacional. A gravidez, devido à intensa ação do estrógeno, induz à proliferação de lactobacilos, aumentando a descamação epitelial da vagina, propiciando surgimento de corrimento por vezes associado à ardência vaginal e/ou prurido. A coleta endocervical não é contraindicada em gestantes, porém deve ser realizadade maneira cuidadosa e com uma correta explicação do procedimento e do pequeno sangramento que pode ocorrer após o procedimento. A JEC encontra-se exteriorizada na ectocérvice nesse ciclo na maioria das vezes, o que dispensaria a coleta endocervical. A coleta de espécime endocervical, quando utilizada uma técnica adequada, pode não trazer riscos para a gestação. O tratamento do câncer cervical durante a gravidez deve ser abordado por uma equipe multidisciplinar e tratado de forma individual. Deve-se evitar a demora desnecessária em iniciar Citopatologia42 o tratamento, levando em consideração que o tratamento cirúrgico e quimioterápico parece seguro para o feto, se instituído após o primeiro trimestre. Quando diagnosticado, o tratamento oncológico para mulheres jovens e ou grávidas possibilita não só manter a gravidez, mas também preservar a fertilidade. A continuação da gravidez até em torno de 35 semanas deve ser aconselhada para evitar problemas cognitivos em longo prazo, induzidos pela prematuridade. A conduta deverá servir para manter a qualidade de vida, preservar a gravidez e a fertilidade da mãe, se possível. Figura 32: Membrana fetal ao término da gestação. Citopatologia do líquido amniótico O líquido amniótico é originado de estruturas tanto da mãe quanto do feto, em proporções variáveis de acordo com a idade gestacional. As suas principais funções estão relacionadas com o crescimento externo simétrico do embrião, ajudando a controlar a sua temperatura corporal, permitindo a movimentação do feto, além de funcionar como barreira contra infecções, protegendo o embrião de traumatismos sofridos pela mãe. Esse líquido é um importante componente do ambiente intrauterino, podendo fornecer inúmeras informações sobre a saúde do feto. Dentre os componentes desse líquido, em suspensão estão células esfoliadas de âmnio, lanugem e gordura, e em dissolução estão substâncias orgânicas (proteínas, alfa-fetoproteína, aminoácidos, Citopatologia 43 lipídios, carboidratos, enzimas, vitaminas, bilirrubinas, hormônios e prostaglandinas) e inorgânicas (eletrólitos). O saco vitelínico fetal sintetiza a alfa-fetoproteína, que é uma glicoproteína, do início da gestação. Mais tarde essa produção é feita pelo trato gastrointestinal e pelo fígado. O líquido amniótico é rico em células escamosas que delimitam a cavidade amniótica e possui também células provenientes do feto. A morfologia das células da citologia amniótica está ligada ao feto, a partir da necessidade de conhecer o desenvolvimento intrauterino da pele, das mucosas respiratórias e digestivas, das coberturas geniturinárias e de tudo que tenha contato com o líquido. É necessária a investigação da fisiologia de cada epitélio, assim como seu crescimento e maturação. Tabela 1 – Diferentes epitélios e suas localizações no feto. Boca, esôfago e ânus Células epiteliais escamosas estratificadas e sem cornificação Tubo digestivo, do estômago ao reto, e glândulas anexas Epitélio glandular Árvore respiratória Epitélio respiratório (cilíndrico, pseudoestratificado e ciliado) Vias urinárias Epitélio transicional Genitália masculina Epitélio glandular Genitália feminina Epitélio vaginal, uterino e das trompas A citopatologia do líquido amniótico pode diagnosticar gestação de alto risco, maturidade, sexo, morte fetal, e infecções ovulares. É indicado realizar a coleta do líquido quando há suspeita de anormalidade cromossômica, infecção, prematuridade pulmonar e isoimunização. Duas técnicas são utilizadas para coleta do líquido amniótico: amniocentese e amnioscopia. Amniocentese é uma técnica em que há a introdução de uma agulha longa através da parede abdominal da mãe para que possa ser retirado uma amostra do líquido amniótico. O volume do líquido retirado vai depender da idade do feto e do motivo do exame. Amnioscopia é um método endoscópico para observar a câmara amniótica. Permite a observação através do canal cervical e através das membranas do polo inferior do ovo. Após a amniocentese é realizada a análise do líquido amniótico que pode detectar doenças congênitas, idade gestacional, maturidade fetal pulmonar e defeitos do tubo neural. É um procedimento seguro, com pouco risco de perda fetal. Citopatologia44 Vale ressaltar que anormalidades genéticas não são visualizadas através da citologia do líquido amniótico, e sim através da cultura de células. Figura 33 – Coleta do líquido amniótico. As células visualizadas no epitélio escamoso são superficiais (cornificadas ou não), poligonais da camada espinhosa (intermediárias) e células profundas (basais e parabasais), que estão relacionadas com a espessura (diferenciação) e com o período de maturação. No epitélio de transição encontram-se células semelhantes às células profundas do epitélio escamoso. No diagnóstico, utiliza-se as células escamosas devido a sua quantidade e qualidade tintorial. As preparações normalmente são feitas por citocentrifugação, para que haja uma melhor padronização. As colorações utilizadas são Shorr e Papanicolaou, tendo o sulfato azul de Nilo a 0,1% utilizado à parte para separar quanto ao grau de maturidade. A coloração com o sulfato azul de Nilo diferencia as células orangiófilas (descamadas) das azuis e demonstra que: menos que 1% de células laranjas representa maturidade fetal de menos que 34 semanas, de 1-10% de células laranjas representa de 34-38 semanas, 10-50% significa maturidade de 38-40 semanas, e mais que 50% significa maturação de mais de 40 semanas do feto. Tabela 2 – Aparência do líquido antes e depois da centrifugação. Cor Condição associada Incolor – palha Normal Amarelo Eritoblastose Verde Hipóxia fetal Vermelho escuro castanho Morte fetal Citopatologia 45 É possível detectar diferenças significativas na citologia de fetos femininos e masculinos, já que em fetos femininos encontra-se um maior número de células, tendo predomínio de células naviculares e intermediárias basófilas. Nos fetos masculinos há uma menor quantidade de células, predominando células superficiais e intermediárias acidófilas. Para avaliação da maturidade fetal pulmonar realiza-se a amniocentese frequentemente entre 32-36 semanas da gestação e observa-se o tipo celular do epitélio alveolar fetal que está predominando. Em mulheres diabéticas, essa avaliação pode ser feita no final da gestação, porque esta patologia pode retardar a maturidade pulmonar fetal. A determinação da maturidade fetal é muito importante para avaliar uma possível antecipação do parto, principalmente em casos de gestação de alto risco. Neste capítulo falamos sobre as alterações citológicas da gravidez, a composição do líquido amniótico e os métodos de coleta utilizados para a coleta desse. O assunto está na ponta da língua? Para potencializarmos o aprendizado, vamos ao nosso resumo. Você aprendeu que as diretrizes para triagem citológica do câncer de colo de útero durante a gravidez não são diferentes daquelas para a mulher não grávida, porém alguns cuidados são necessários. A citologia vaginal a fresco é um método mais vantajoso que a citologia convencional e consiste na utilização do microscópio imediatamente após realizado o esfregaço. Deve-se utilizar, impreterivelmente, a espátula de Ayre para essa coleta. Também aprendeu que o líquido amniótico apresenta estruturas que variam, em suas proporções, sendo rico em células escamosas que delimitam a cavidade amniótica e células provenientes do feto. Quanto a citopatologia do líquido amniótico, você descobriu que ela serve ao diagnóstico de gestação de alto risco, maturidade, sexo, morte fetal, e infecções ovulares e que são duas as técnicas utilizadas para a sua coleta: amniocentese e amnioscopia. Na amniocentese há a introdução de uma agulha longa através da parede abdominal da mãe, enquanto a amnioscopia é um método endoscópico para observar a câmara amniótica,observada através do canal cervical. Para um melhor diagnóstico utiliza-se as células escamosas devido a sua quantidade e qualidade tintorial. Citopatologia46 BIBLIOGRAFIA André Luiz de Souza Barros, D. N. (2012). Caderno de referência 1: Citopatologia Ginecológica. Rio de Janeiro: CEPESC. Consolaro, M. E. (2012). Citologia Clínica Cérvico-vaginal - texto e atlas. Roca. Diane Salomon, R. N. (2005). Sistema Bethesda para Citopatologia Cervicovaginal - Definições, Critérios e Notas Explicativas. Rio de Janeiro: Revinter, 2ª ed. Ferrari, R. (25 de julho de 2019). Colpites e Cervicites. Fonte: Colpites e Cervicites. Filho, A. R. (2004). Citologia vaginal a fresco na gravidez: correlação com a citologia corada pela técnica de Papanicolaou. Revista brasileira de ginecologia e obstetrícia, vol.26 no.7. Instituto nacional de câncer (2006). Nomenclatura brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas: recomendações para profissionais de saúde. 2. ed. Rio de Janeiro. Lima, D. N. (2012). Atlas de Citologia ginecológica. Rio de Janeiro: CEPESC. Sabrina Gonçalvez Campana, J. H. (Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial). Diagnóstico laboratorial do líquido amniótico. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, vol. 39, n. 3, pp. 215-218. Sílvia Fischmann Osorio Ughini, L. N. (2016). Importância da qualidade da coleta do exame preventivo para o diagnóstico das neoplasias glandulares endocervicais e endometriais. Revista Brasileira de Análises Clínicas. Souza, B. R. (25 de julho de 2019). Citologia hormonal. Fonte: Slide share: http://bit.ly/2uJTarN
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