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Libras Tradução e Interpretação

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BACHARELADO LETRAS/LIBRAS 
 
 
2 
 
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES 
Figura 1 - Imagens de textos bíblicos – Bíblia Física e de Aplicativo, 
respectivamente. .............................................................................................. 16 
Figura 2- Imagens de trechos do livro do Pequeno Príncipe – Francês, 
Português e Espanhol respectivamente. .......................................................... 17 
Figura 3- Harry Potter e a Pedra Filosofal – imagens do livro e DVD. ............. 18 
Figura 4 - Imagens de interpretação simultânea realizadas em congressos – 
línguas orais. .................................................................................................... 37 
Figura 5 - Entrevista com o tradutor Ulisses Carvalho. ................................... 40 
Figura 6- Entrevista UFC 194 – Interpretação Consecutiva. ........................... 41 
Figura 7- Intepretação consecutiva. ................................................................ 42 
Figura 8 - Lei Nº 12.319 – Brasil, 2010. ........................................................... 63 
Figura 9 - Livro: Libras em Estudo – Tradução/Interpretação.......................... 66 
Figura 10– O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua 
Portuguesa. ...................................................................................................... 76 
Figura 11 - Artigo: Interpretar ensinando e ensinar interpretando: posições 
assumidas no ato interpretativo em contextos de inclusão para surdos – autora 
Audrei Gesser. ................................................................................................. 79 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
 A disciplina Fundamentos da Tradução e Interpretação objetiva 
disponibilizar novos conhecimentos e reflexões relacionadas aos conceitos de 
tradução e interpretação, bem como distinguindo-os, estabelecendo as relações 
e ligações dos estudos da tradução e interpretação na perspectiva das línguas 
de sinais. Também discutiremos sobre a formação profissional, problematizando 
a atuação e as competências necessárias para a formação de um novo 
profissional. Ao longo do texto estudaremos as temáticas a seguir: 
- Estudos da tradução: fundamentos históricos, conceitos, discussões 
relacionadas a formação profissional (unidade I); 
- Estudos da interpretação: fundamentos históricos, conceitos e aspectos 
relacionados a área (unidade II); 
- Estudos da tradução e interpretação da Língua de Sinais: fundamentos 
históricos, conceitos e aspectos relacionados às línguas de sinais, formação 
profissional (unidade III); 
 Sempre que possível disponibilizamos vídeos, indicação de leituras, para 
que você complemente seu conhecimento. A partir de agora iniciaremos nossos 
estudos!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR 
 
Sou a professora Maria Helena Nunes Almeida, possuo especialização 
em Língua Brasileira de Sinais e Metodologias Ativas, pela Faculdade Eficaz, 
graduação em Letras Libras - Bacharelado pela Universidade Federal de Santa 
Catarina e Licenciatura em Libras também pela Faculdade Eficaz. 
Atuo como intérprete Educacional desde o ano de 2009, a partir desta 
data, já trabalhei em diferentes níveis de ensino, em instituições públicas e 
privadas. Também atuo como intérprete/tradutora de Libras em outras áreas tais 
como contextos artísticos e culturais, conferências, programas e debates 
políticos, além de tradução de documentários. 
Na área da docência, atuei na graduação e pós-graduação. Atualmente, 
meus estudos estão voltados para a Tradução e Interpretação, Língua Brasileira 
de Sinais e Educação Especial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
UNIDADE I – ESTUDOS DA TRADUÇÃO ........................................................ 6 
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE .............................................................. 7 
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS ....................................................... 8 
3 CONCEITOS E ASPECTOS DA TRADUÇÃO ................................ 14 
4 O PROFISSIONAL TRADUTOR ..................................................... 23 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 28 
UNIDADE II – ESTUDOS DA INTERPRETAÇÃO ....................................... 31 
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................ 32 
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA INTERPRETAÇÃO ................ 33 
3 CONCEITOS E ASPECTOS DA INTERPRETAÇÃO ...................... 35 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 56 
UNIDADE III – ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA 
LÍNGUA DE SINAIS ............................................................................................................ 58 
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................ 59 
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA TRADUÇÃO E 
INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS ................................................ 60 
3 CONCEITOS E ASPECTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO 
EM LÍNGUA DE SINAIS ............................................................................... 64 
4 OS PROFISSIONAIS: TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS .. 75 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 86 
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
DISCIPLINA – FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO 
UNIDADE I – ESTUDOS DA TRADUÇÃO 
Professora – Maria Helena Nunes Almeida 
 
Objetivo da aprendizagem; 
 
● Definir conceitos da área de tradução; 
● Compreender as especificidades da área; 
● Reconhecer os processos de uma tradução; 
● Demonstrar a importância de compreender a diferença existente 
entre tradução e interpretação; 
● Apresentar exemplos da área de estudo. 
 
Plano de estudo: 
 
Tópico 1 – Fundamentos históricos. 
Tópico 2 - Conceitos e Aspectos da tradução. 
Tópico 3 - O profissional tradutor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE 
 
Olá, caro aluno, seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos da Tradução 
e Interpretação, durante todo esse percurso deste livro-texto, conheceremos 
diferentes conceitos e perspectivas relacionadas aos estudos da tradução, bem 
como refletir sobre as temáticas debatidas na área. A reflexão é de suma 
importância para você, futuro tradutor/intérprete. 
Atualmente, é comum viajarmos e conhecermos novos lugares com 
culturas e línguas diferentes, isto, porque a tecnologia e a mídia de fácil acesso, 
entre outros meios de comunicação nos permite evoluir com as trocas em nosso 
cotidiano. Tornou-se comum encontrarmos estrangeiros na cidade em que 
moramos, sendo assim, a tradução demonstra a sua relevância, como 
ferramenta social no mundo globalizado. 
Nesta unidade, dividimos, em três tópicos, os conceitos que embasam os 
estudos da tradução. Para tanto, daremos início à busca pelos conhecimentos 
da área, a partir de uma breve retomada histórica, uma vez que por meio desta 
retomada, poderemos compreender e perceber que a tradução não é algo atual, 
longe disso, ela vem sido discutida desde o surgimento da humanidade. 
Além da parte histórica, apreciaremos algumas conceituações 
imprescindíveis aos futuros tradutores e intérpretes. Enfatizamos que para atingir 
tal domínio e a formação que desejam, pretendemos colaborar de forma 
significativa com a sua preparação profissional e, assim, prepará-lo para exercer 
com maestria a relação da prática e da teoria. 
As teorias de tradução que estudaremos os ajudarão, e muito, em seu 
trabalho, pois a tradução não implica somente na passagemde uma língua para 
outra, sem reflexões, sem estratégias, sem escolhas tradutórias ou por palavras 
soltas, pelo contrário, a tradução é um ato extremamente complexo, que precisa 
ser pensado, não só uma, mas duas, três ou mais vezes para que a trabalho 
final chegue ao público-alvo da melhor maneira possível, de forma clara, que 
respeite sua língua e cultura. 
 Em seguida, elencamos algumas definições para o termo tradução: 
tradução intralingual, tradução interlingual, tradução intersemiótica, 
 
 
8 
 
problematizando e exemplificando cada um destes itens. A questão da fidelidade 
no ato tradutório também será amplamente discutida, com vistas a refletirmos a 
respeito do que é ser fiel e, em que a questão da fidelidade implica no processo 
de tradução. Estas são algumas das questões que embasarão nossas 
discussões no tópico 2. 
 No decurso do nosso estudo, moldamos, cuidadosamente, um caminho 
coeso e lógico, para que fosse possível compreendermos este último tópico de 
forma mais clara, por isso, no tópico 3, faremos discussões centralizadas nas 
habilidades e competências do profissional tradutor. Num primeiro momento, 
falaremos sobre a formação deste profissional, isto é, de que forma ocorreram 
as primeiras formações e, como está sendo feita na atualidade, deste modo, 
almejamos responder ao questionamento: será que já conseguimos atingir um 
nível de excelência nos cursos de graduação? 
Ainda no contexto de formação, abordaremos as particularidades em 
relação às competências necessárias ao tradutor, de maneira a tornar-se um 
profissional completo, apto a realizar seu trabalho com qualidade e ética, neste 
sentido: será que conhecer uma língua, significa que já posso ser um tradutor? 
 A proposta desta unidade é criarmos uma base histórica e conceitual para 
estudos mais complexos, passo que daremos nas próximas unidades. Portanto, 
desenvolvemos um material que traz um processo crescente aos nossos 
saberes sobre a temática tradução e interpretação. Espero que vocês entendam 
o tamanho da responsabilidade e curtam esse mundo da tradução tanto quanto 
nós! Bons estudos. 
 
 2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS 
 
Olá caros alunos, iniciaremos agora uma viagem para o mundo da 
tradução, uma área de estudo riquíssima e, a partir dela conseguiremos aprender 
e vivenciar outras culturas e línguas, porém adiantamos a vocês que esta é uma 
área de estudo muito desafiadora. No decorrer da disciplina vocês perceberão o 
quão rico e instigador é este campo de estudo, sendo, esta disciplina um começo 
para novas perspectivas e reflexões dos futuros profissionais. 
 
 
9 
 
Durante toda a disciplina refletiremos sobre o conceito de tradução e 
interpretação, os quais possuem perspectivas e conceitos diferentes, 
dependendo da vertente que se adota nos estudos. Neste material, separaremos 
as matérias da tradução dos estudos da interpretação, de forma a conceituarmos 
e compreendermos a diferença entre eles, tanto na concepção das línguas orais, 
quanto das línguas de sinais. 
O verbo “traduzir” vem do verbo latino traducere, que significa “conduzir 
ou fazer passar de um lado para o outro”, algo como “atravessar” (CAMPOS, 
1987). O tradutor, em seus estudos relacionados às línguas orais também pontua 
que, “traduzir nada mais é que isto: fazer passar, de uma língua para outra, um 
texto escrito na primeira delas. Quando o texto é oral, falado, dizemos que há 
“interpretação”, e quem realiza então é um intérprete” (CAMPOS, 1987, p. 7). 
Quando estudarmos mais profundamente a temática na abordagem da língua de 
sinais, conheceremos diferentes alternativas e áreas de trabalho tanto na 
tradução quanto na interpretação não restritas a textos orais ou escritos. 
 
Autores defendem a ideia de que a tradução e interpretação são 
conceitos que se remetem a tarefas distintas. Traduzir estaria 
ligado à tarefa de versar de uma língua para outra trabalhando 
com textos escritos. Desse modo, o tradutor teria tempo para ler, 
para refletir sobre as palavras utilizadas e os sentidos 
pretendidos e, ao traduzir para a língua-alvo, poderia consultar 
dicionários, livros, pessoas na busca de trazer os sentidos 
pretendidos do modo mais adequado. Já interpretar está ligado 
à tarefa de versar de uma língua para outra nas relações 
interpessoais, trabalhando na simultaneidade, no curto espaço 
de tempo entre o ato de enunciar e o ato de dar acesso ao outro 
àquilo que foi enunciado. Assim, o intérprete trabalha nas 
relações sociais em ato, nas relações face a face, e deve tomar 
decisões rápidas sobre como versar um termo ou um sentido de 
uma língua para outra, sem ter tempo para reflexões. 
(LACERDA, 2015, p. 15). 
 
Em vários momentos, surgirão questionamentos sobre essas linhas de 
pesquisas, mas ao longo de nosso estudo nos comprometemos a deixar o mais 
claro possível, a fim de chegarmos a um consenso quanto às duas perspectivas. 
O objetivo deste consenso está ligado à última unidade, composta por exercícios 
práticos, os quais serão desafios e, ainda, abordarão a língua de sinais. 
 
 
10 
 
O campo de estudo que investigaremos tem caráter desbravador, isto é, 
seu início se deu a partir do momento que povos, culturas e línguas diferentes 
começaram a ter contato umas com as outras, como também com base na 
necessidade de comunicação entre os povos. Estas ações fizeram com que as 
práticas tradutórias começassem a surgir, obviamente, não como estudamos e 
vemos hoje, mas com suas particularidades conforme as diferentes épocas e 
contextos. 
Segundo Campos (1987), historicamente, a questão da tradução surgiu 
pela necessidade que todos os envolvidos na construção da maior torre já vista 
- Torre de Babel – tinham de se comunicar, visto que a ideia desta construção 
era que a mesma alcançasse o céu, entretanto este grande projeto não estava 
sendo visto com bom grado pelo Senhor dos Exércitos, sendo assim, fez com 
que todos os envolvidos no projeto não conseguissem/pudessem se comunicar 
mais. 
 
Pode-se mesmo dizer que, biblicamente ao menos, a tradução 
nasceu de uma confusão. Todo mundo conhece a história bíblica 
da Torre de Babel, uma torre que alguns homens queriam 
construir altíssima com a pretensão de por ela chegarem ao céu; 
mas o Senhor dos Exércitos não aprovou o projeto daqueles 
pretensiosos e resolveu atrapalhar a comunicação na Torre: fez 
que se confundissem as línguas, um sem compreender o que 
outro queria dizer, e a incrível construção ficou por terminar, a 
meio caminho do seu tão almejado objetivo. (CAMPOS, 1987, p. 
10). 
 
 As comprovações históricas mostram quão antiga é a ideia da 
possibilidade de diferentes povos e culturas se comunicarem. A prática tradutora 
é muito antiga, visto que a necessidade de comunicação entre culturas e povos 
é tão antiga quanto a prática. 
 
A antiguidade deste mito bíblico, que se lê no Antigo 
Testamento, pode dar uma ideia de como é velha neste mundo 
a prática da tradução; pois é de imaginar-se que em pouco 
tempo começasse a haver na Torre de Babel pessoas com certa 
capacidade de entenderem mais de uma língua ao mesmo 
tempo, e que essas pessoas entrassem a atuar como elos de 
comunicação entre as que tinham línguas diferentes, como 
intérpretes e tradutoras, portanto. E desde aí, desde os seus 
 
 
11 
 
primórdios, a tradução teve sempre quem se pronunciasse a 
favor dela ou contra ela. (CAMPOS, 1987, p. 10). 
 
Para entendermos um pouco mais sobre tradução, primeiramente, 
precisamos dialogar um pouco sobre linguagem, esta, que é tão essencial para 
a vida humana, pois é a partir da linguagem, que todas as relações sociais 
acontecem, a aprendizagem e a construção da identidade, além do mais, é por 
meio da língua que expressamos e disseminamos o conhecimento. 
 
A linguagem e a vida são uma coisa só. A linguagem não é 
nenhum detalhe, então, é essencial, é substancial. Não é 
acessório do humano,é condição da sua existência. O que vale 
para a língua vale também para as línguas – o que vale para as 
línguas vale também para a linguagem muito individual de cada 
falante: não existe identidade sem a língua. Não somos nada 
sem a língua. O meu falar caracteriza a minha personalidade; a 
minha língua seja ela o português brasileiro, seja ela Libras, seja 
ela a Língua de Sinais na Áustria, tem um forte impacto sobre a 
minha maneira de ver o mundo e sobre a minha maneira de ser 
alguém no mundo. (WERNER, 2009. p. 03). 
 
Como Werner (2009) expressa, brilhantemente, em suas escritas, a vida 
e a linguagem são uma coisa só, não conseguimos dissociar uma da outra. 
Vamos imaginar quão triste é não ter a possibilidade de se expressar, transmitir 
suas frustrações e alegrias, do transtorno em não ser entendido. Refletiremos 
sobre isso, mais detalhadamente, na última unidade que estudaremos juntos, 
porém, pensem comigo, quantos surdos ainda estão à mercê de uma vida 
restrita, sem língua alguma? 
Por muitas vezes nos vemos horrorizados pelos noticiários, vivenciados 
no nosso dia a dia - “meninas encontradas na floresta sem comunicação 
alguma”, “criança foi trancada no porão de casa e desconhecia as formas de 
linguagem quando encontrada”. Os noticiários são chocantes, mas já pararam 
para pensar que isso pode estar acontecendo próximo de nós? Quantos surdos 
vocês já conheceram que não possui e não domina nem a língua de sinais, nem 
a língua oral de forma escrita? Uma “comunicação” dentro de casa precária ou 
que simplesmente não exista, que não vão à escola, e quando vão, não possuem 
uma escolarização adequada, para que consigam desenvolver a língua? Esses 
 
 
12 
 
fatos são mais recorrentes do que imaginamos, a língua é essencial, e 
precisamos dela para viver. 
 
A linguagem permite à criança obter explicações sobre o 
funcionamento das coisas do mundo e sobre as razões do 
comportamento das pessoas. Se não houver uma base 
linguística suficientemente compartilhada, e um bom nível de 
competência linguística para permitir uma comunicação ampla e 
eficaz, o mundo da criança ficará confinado a comportamentos 
estereotipados aprendidos em situações limitadas. 
(CAPOVILLA, 2000, p. 100). 
 
Sendo assim, a linguagem é essencial à vida humana, para nos 
definirmos e construirmos como pessoas, para entendermos nosso papel 
perante a sociedade, para estabelecer nossa identidade cultural. O estudioso 
Capovilla (2000) nos permite compreender essa essencialidade de forma clara, 
para comprovarmos essa afirmação: 
 
A linguagem tem a importante função interpessoal de permitir a 
comunicação social, ela também tem a vital função interpessoal 
de permitir a comunicação social, ela também tem a vital função 
intrapessoal de permitir o pensamento, a formação e o 
reconhecimento de conceitos, a deliberada resolução de 
problemas, a atuação refletida e a aprendizagem consciente. 
(CAPOVILLA, 2000, p. 100). 
 
Enfim, é preciso entender o quão importante foi essa breve reflexão sobre 
a linguagem, pois sem ela não haveria a comunicação entre os povos, seja nas 
línguas orais ou nas línguas de sinais, não haveria a troca cultural entre os 
povos, como também, não haveria a tradução. Podemos, então, concluir e 
compreender a importância da língua como ferramenta social, como ferramenta 
cultural, sobretudo a sua relevância para a comunicação entre os seres 
humanos, logo, se temos a língua essencial às trocas sociais, temos a tradução 
somada a essa troca, ou seja, não se pode desligar o uso da língua, em diversos 
contextos sociais, e ato tradutório. 
Para Oustinoff (1956, p. 12), “a primeira função da tradução é, então, de 
ordem prática: sem ela, a comunicação fica comprometida ou se torna 
impossível”. O processo histórico que universalizou a tradução começou desde 
 
 
13 
 
sempre, podemos citar aqui como exemplo a primeira tradução da bíblia, 
atualmente, o texto bíblico é mais foi traduzido no mundo, foram muitas e muitas 
línguas, atingindo diferentes povos, culturas e regiões da terra. Segundo 
Oustinoff (1956), os textos bíblicos foram o objeto de maior empreendimento 
dentro da história da tradução, e isso até os dias atuais. 
Com a tradução podemos manter uma língua viva e transformar a sua 
condição de sobrevivência para Oustinoff (1956, p. 12), “uma língua que não se 
consegue mais traduzir é uma língua morta, antes de a tradição vir a ressuscitá-
la”. Se ignorarmos a existência da tradução, perderemos uma língua e, 
consequentemente, uma cultura e um povo. Assim, vemos, mais uma vez, a 
importância da tradução e como ela pode colaborar ao uso e à difusão da língua 
de um povo a outro grupo social. 
Caros alunos agora chegamos ao fim da nossa primeira reflexão, logo, 
destacam-se dois pontos cruciais, primeiramente, a importância da linguagem 
para o ser humano, e não menos importante da tradução como ferramenta social, 
em prol da continuidade destas línguas e da comunicação entre os povos. 
 
Ou seja, espera-se do profissional, nos casos da tradução 
cultural, um grau de intervenção bastante acentuado, inclusive 
ciente de que suas escolhas lexicais, terminológicas e culturais 
podem afetar os processos de visibilização ou de apagamento 
de certos povos. (SANTOS e FRANCISCO, 2018, p. 2940). 
 
 Oustinoff (1956) conclui que “a tradução é uma operação de natureza 
dinâmica, nunca estática”, por isso o tradutor e o intérprete estão em evidência 
na sociedade, por esse motivo os estudos e as pesquisas pertinentes à área 
estão crescendo cada vez mais e, estão em constante debate. 
 
 
14 
 
 
 
3 CONCEITOS E ASPECTOS DA TRADUÇÃO 
 
Iniciaremos este segundo tópico, informando que discutiremos aqui 
conceitos importantíssimos, que você como futuro tradutor e intérprete de Língua 
Brasileira de Sinais, precisa compreender, dominar e distinguir. 
No decorrer deste tópico estudaremos os diferentes tipos de tradução - 
tradução intralingual, tradução interlingual e tradução intersemiótica, à luz do 
estudioso Roman Jakobson (1959). 
A tradução intralingual, também chamada de reformulação, implica em 
uma interpretação dos signos verbais por meio de outros signos verbais, porém 
dentro da mesma língua. Vocês podem estar se perguntando, como assim 
professora, dentro da mesma língua? Sim, é possível ocorrer tradução dentro da 
mesma língua, podemos citar o exemplo de textos mais antigos, escritos em 
português e a reformulação destes mesmos textos para o português atual. 
Como falamos no tópico anterior, a bíblia é o texto em maior evidência 
dentro da área da tradução, mostraremos para vocês um exemplo, para que 
fique mais claro o entendimento sobre a concepção de tradução intralingual 
utilizando como base as escrituras bíblicas. 
 
 
15 
 
 Com o avanço da tecnologia, são inúmeros os aplicativos, disponíveis 
para baixarmos em nossos celulares, tablets e computadores. Buscamos no 
aplicativo a palavra “bíblia”, para minha surpresa existem diferentes opções e 
com diferentes focos – Bíblia para criança, mulheres, linguagem atual, entre 
outros – optamos pela Bíblia na linguagem atual, quando instalada, buscamos 
então o trecho bíblico que fala sobre a Torre de Babel, assunto pertinente à 
tradução, e que já estudamos, anteriormente. Mas professora aonde você quer 
chegar com tudo isso? Pois então, na imagem que veremos a seguir, temos um 
exemplo de tradução intralingual. 
A primeira imagem (Capítulo 11 de Gênesis – texto conciso) da Figura 1, 
foi retirada de uma bíblia física, com uma escrita mais tradicional, já na segunda 
imagem, temos o mesmo texto proveniente de um aplicativo intitulado “Bíblia 
Linguagem Atual”, que como o nome diz, faz uso de uma linguagem mais atual, 
simples e compreensível. Quando olhamos as imagens, percebemos, facilmente 
as reformulações existentes entre um texto e outro. 
 Analisemos a imagem presente na Figura 1, quais consideraçõesvocê 
pode fazer em relação às duas imagens? Você acha que mudou o sentido? O 
significado? E o objetivo final do texto? 
 
 
 
 
16 
 
Figura 1 - Imagens de textos bíblicos – Bíblia Física e de Aplicativo, respectivamente. 
Fonte: Imagem da autora 
 
No versículo 3 dos excertos da Figura 1 temos um exemplo claro da 
tradução intralingual, vamos juntos analisar as escolhas feitas nos dois textos: 
isto é, as escolhas lexicais e terminológicas foram diferentes, porém a 
mensagem é a mesma, obtendo, assim, o mesmo sentido e objetivo ao final do 
texto. Desta feita, observa-se que o sentido do texto permaneceu, nas duas 
versões, ou seja, estão falando de materiais para a construção. O significado de 
contar um momento da rotina de construção permaneceu, portanto se a primeira 
versão for lida por um adolescente dos dias de hoje terá um pouco de dificuldade 
em reconhecer alguns termos e construir o significado. Veja a comparação no 
Quadro 1 - Quais considerações você pode fazer em relação às duas imagens? 
Você acha que mudou o sentido? O significado? E o objetivo final do texto? 
 
Quadro 1 – Versículo 3 – Gênesis – Bíblia Física e Aplicativo 
 
Disseram uns aos outros: “Vamos fazer tijolos 
e cozê-los ao fogo”. Usaram tijolos, em vez de 
pedras, e betume, em vez de argamassa. [...] 
Tornemos célebre nosso nome, para não 
sermos dispersos sobre toda a terra”. 
 
 
Um dia disseram uns aos outros: 
- Vamos, pessoal! Vamos fazer tijolos 
queimados! Assim, eles tinham tijolos para 
construir, em vez de pedras, e usavam piche, 
em vez de massa de pedreiro. [...] Assim 
ficaremos famosos e não seremos espalhados 
pelo mundo inteiro. 
Fonte: elaborado pela autora. 
 
Observa-se que o significado do texto pode mudar, dependendo de quem 
faz a leitura e, por isso, a tradução intralingual tem seu valor e sua necessidade, 
de acordo com o público a que se destina. Desta maneira, a tradução intralingual 
consiste na tradução para o mesmo signo linguístico, por exemplo: do português 
para o português, do inglês para o inglês, isto é, do inglês britânico para o inglês 
americano. Outro exemplo que podemos oferecer é com a tradução de uma 
sinalização de um adulto surdo para uma criança surda, isto é, o sinalizante, 
provavelmente, utiliza sinais mais simples e compreensíveis para uma criança 
em fase de desenvolvimento de língua. 
 
 
17 
 
Outro conceito importante que precisamos aprender é o de tradução 
interlingual, este é um pouco mais fácil de compreender, pois é mais comum ao 
nosso cotidiano. Tradução interlingual consiste em interpretação de signos 
verbais por meio de outra língua. Por exemplo: do inglês para o português, 
Italiano para o Francês, Português para Libras e, assim por diante. Na imagem 
da Figura 2 temos a exemplificação deste conceito. 
 
 
Figura 2- Imagens de trechos do livro do Pequeno Príncipe – Francês, Português e Espanhol 
respectivamente. 
Fonte: Mensagens 10, 2019. 
 
As três imagens referem-se a um pequeno trecho muito conhecido do livro 
“Pequeno Príncipe” do autor Antoine de Saint-Exupéry, cuja primeira versão foi 
lançada em 1943. Temos a tradução em três línguas: Francês, Português e 
Espanhol. 
Por último, mas não menos importante, temos a tradução 
intersemiótica, esta consiste em uma interpretação dos signos verbais por meio 
de sistemas de signos não verbais. Alguns exemplos seriam: vídeos, história em 
quadrinhos, música, dança, pintura, cinema, entre outros. É possível também, 
encontrarmos tradução intersemiótica entre dois signos não verbais. 
 
 
18 
 
Na imagem da Figura 3 contemplamos um nítido exemplo de tradução 
intersemiótica - o livro do Harry Potter, da autora J. K. Rowling, que foi adaptado 
e produzido para as telas do cinema. Em uma das imagens temos a capa do livro 
e na outra a capa do DVD do filme. 
 
Figura 3- Harry Potter e a Pedra Filosofal – imagens do livro e DVD. 
Fonte: Imagem da autora. 
 
Na Figura 3 podemos observar um exemplo de tradução intersemiótica, 
um livro que foi traduzido/adaptado para as telonas. 
Os próximos conceitos que estudaremos neste tópico serão de língua-
fonte e língua-alvo. 
Língua-fonte é a língua que o tradutor ou intérprete vê ou ouve e, a partir 
dela faz todo o processo tradutório para outra língua. Já a língua-alvo, é a língua 
de destino de todo o processo de tradução. Por exemplo, em um seminário de 
Literatura Brasileira, a língua-fonte, na qual está sendo produzido o discurso é o 
Português e, a língua-alvo, pela qual está ocorrendo o processo de interpretação, 
é a Libras, podendo, então, ser compreensível aos públicos a que se destinam: 
o ouvinte e a comunidade surda. 
 
 
19 
 
Durante todo o processo tradutório precisamos ter a preocupação em 
relação à estrutura da língua, a intenção do autor, bem como o respeito cultural 
da língua-alvo. Quando pensamos em todos estes referenciais no campo da 
tradução, chegamos a um ponto primordial para analisarmos, que é a coerência 
que o trabalho teve em seu produto final. Todos estes questionamentos 
englobam a discussão e reflexão de um único conceito - o da ‘fidelidade’ - um 
tema polêmico, notório quando buscamos este tema na Internet e, encontramos 
as discussões realizadas há muito tempo no campo no que tange à tradução. 
Segundo Vasconcelos e Junior (2009, p. 12) a fidelidade está relacionada a 
questão da autonomia do tradutor/ intérprete, pois no momento em que é 
realizado determinada leitura daquele trabalho que está sendo realizado, as 
concepções teóricas condizem com a realidade vivida naquele momento. 
Será que uma tradução termo a termo, palavra a palavra significa ser 
coerente e atinge o objetivo do texto-fonte? Vamos pensar nas possibilidades 
dos erros que podem ocorrer devido à semântica da palavra, bem como outras 
possibilidades, como a incompatibilidade com a estrutura linguística entre outros. 
 
A tradução termo a termo leva, tanto em um caso como no outro, 
a resultados desastrosos, agravados pela rapidez do exercício, 
mesmo quando se trata de passagens tão fáceis de entender 
(...). (OUSTINOFF, 1956, p. 100). 
 
 Por exemplo, como sinalizar em Libras a frase: 
 
 
QUANDO EU TINHA 10 ANOS, GOSTAVA MUITO DE BRINCAR DE BONECA 
Português 
 
QUANDO – EU – TER – 10 – ANOS – GOSTAR – MUITO – BRINCAR – BONECA 
Tradução palavra por palavra 
 
PASSADO - IDADE - 10 - GOSTAVA (INTENSIDADE) - BONECA – BRINCAR 
Tradução de sentido 
 
 
 
Nesse exemplo, observamos que a tradução de sentido fica mais 
coerente ao objetivo final do texto, sendo que a tradução palavra por palavra 
 
 
20 
 
pode ficar incompreensível para o interlocutor surdo, visto que não respeita a 
estrutura linguística da Língua Brasileira de Sinais (SVO). 
 
A maior vantagem de uma representação dessas é ressaltar o 
fato de que a tradução não é simplesmente uma operação 
literária ou uma operação linguística, mas também uma 
operação conceitual: o tradutor não é um mero executor, um 
simples técnico da linguagem. As operações nas quais ele se 
empenha são da ordem do conceito. (OUSTINOFF, 1956, p. 
103). 
 
 Vocês devem estar se perguntando: mas por que estamos falando sobre 
tradução palavra por palavra se o assunto era fidelidade, professora? Como 
disse Oustinoff (1956), traduzir não é meramente uma operação literária ou 
linguística, estamos falando em passagens de conceitos, conceitos coerentes na 
língua-alvo, mantendo o objetivo da mensagem do locutor e respeitando sua 
cultura. 
 
Contudo, se concluímos que toda a tradução é fiel às 
concepções textuais e teóricas da comunidade interpretativa a 
que pertence o tradutor e também aos objetivos que se propõe, 
isso não significa que caem por terra quaisquer critérios para a 
avaliação de traduções (ARROJO, 1986, p. 45). 
 
 A questão da fidelidade é muito ampla, vai depender da interpretação que 
o tradutor aplica ao texto-fonte, bem como sua própria concepção de tradução,conforme Arrojo (1986) pontua em seus textos. Sendo assim, nós tradutores 
seremos fiéis à nossa interpretação textual do texto-fonte e a nossa interpretação 
do texto-fonte implica em vários outros fatores externos, como: sentimentos, 
pensamentos e a nossa construção social de um modo geral. 
 
No entanto, por mais que o tradutor esteja imbuído do sincero 
propósito de oferecer um texto isento de vícios, incorreções e 
imprecisões (não querendo, aqui, dar uma ideia negativa da 
tradução), por vezes, os obstáculos são intransponíveis e aquilo 
que pretendia ser uma tradução se torna inevitavelmente 
também uma interpretação. Isso acontece por uma simples 
razão: toda língua possui suas peculiaridades, sua beleza, seus 
trocadilhos e suas ambiguidades poéticas, resistindo a todos os 
esforços do tradutor no sentido de adaptá-la a outro idioma. 
(PENA, 2009, p. 3). 
 
 
21 
 
 
 Por fim, sabemos que a tradução ocorre em um determinado tempo e 
cultura, porém o importante na questão da fidelidade é o tradutor saber 
transformar a mensagem da língua-fonte para a língua-alvo, levando em 
consideração o sentido, o objetivo daquele texto e a estrutura das línguas 
envolvidas. 
 
Reflita! 
 Há uma banda curitibana formada por mulheres, cujo objetivo é 
disseminar a independência e a valorização das mulheres no hodierno, o nome 
é Mulamba. Pensando nisso, convido vocês a ouvirem uma música da banda e 
a analisar sua letra, que tem uma forma única de lidar com o cotidiano feminino. 
Pergunto a vocês: as mulheres surdas precisam participar desta luta também? 
Como poderiam ter acesso a essa música? Óbvio, que por meio de uma 
interpretação/tradução em Libras, sendo assim, solicito que leiam a letra da 
música, pensem em alguns dos conceitos aprendidos – intralingual, 
interlingual, fidelidade – e assistam ao vídeo da interpretação feita pelo Jonatas 
Medeiros, TILS da UFPR. 
 
Ontem desci no ponto ao 
meio dia 
Contramão me parecia 
Na cabeça a mesma reza 
Deus, que não seja hoje o 
meu dia 
Faço a prece e o passo 
aperta 
Meu corpo é minha pressa 
Ouviu-se um grito agudo 
engolido no centro da cidade 
E na periferia? Quantas? 
Quem? 
O sangue derramado e o 
corpo no chão 
Guria 
Por ser só mais uma guria 
Quando a noite virar dia 
Nem vai dar manchete 
(nem vai dar manchete) 
Amanhã a covardia vai 
ser só mais uma que 
mede, mete, e insulta 
Vai filho da puta 
Painho quis de janta eu 
 
 
Tirou meus trapos, e ali 
mesmo me comeu 
De novo a pátria puta me 
traiu 
E eu sirvo de cadela no 
cio 
E eu corro (eu corro) 
Pra onde eu não sei (pra 
onde eu não sei) 
Socorro (socorro) 
Sou eu dessa vez (sou eu 
dessa vez) 
E eu corro (eu corro) 
Pra onde eu não sei (pra 
onde eu não sei) 
 
Socorro (socorro) 
Sou eu dessa vez (sou eu 
dessa vez) 
Hoje me peguei fugindo 
E era breu, o sol tinindo 
Lá vai a marionete 
Nada que hoje dê manchete 
(E ainda se escuta) 
 
 
22 
 
 
 
A roupa era curta 
Ela merecia 
O batom vermelho 
Porte de vadia 
Provoca o decote 
Fere fundo o forte 
Morte lenta ao ventre forte 
Eu às vezes mudo o meu 
caminho 
Quando vejo que um homem 
vem em minha direção 
Não sei se vem de rosa ou 
espinho 
Se é um tapa ou carinho 
O bendito ou agressão 
E se mudasse esse ponto de 
vista 
E o falo fosse a vítima 
O que o povo ia falar? 
Trocando, assim, o foco da 
história 
Tirando do homem a glória 
De mandar nesse lugar 
Socorro tô num mato 
sem cachorro 
Ou eu mato ou eu morro 
E ninguém vai me julgar 
 
E foda-se se me rasgar a 
roupa 
Te arranco o pau com a 
boca 
E ainda dou pra tu 
chupar 
Pra ver como é severo o 
teu veneno 
Eu faço do mundo 
pequeno 
E Deus permita me 
vingar 
E Deus permita me 
vingar 
E Deus permita me 
vingar 
E eu corro 
Pra onde eu não sei (pra 
onde eu não sei) 
Socorro 
Sou eu dessa vez 
Morreu na contramão 
atrapalhando o sábado 
(Pra onde eu não sei) 
Agonizou no meio do passeio 
público 
(Sou eu dessa vez, e eu 
corro) 
Morreu na contramão como 
se fosse máquina 
(Pra onde eu não sei, 
socorro) 
Seus olhos embotados de 
cimento e tráfego 
(Sou eu dessa vez) 
Amou daquela vez como se 
fosse máquina 
(Pra onde eu não sei, 
socorro) 
Amou daquela vez como se 
fosse a última 
(Sou eu dessa vez) 
 
 
 
Link do vídeo da música: 
https://www.youtube.com/watch?v=ZdpZ-93uUnY 
 
Link do vídeo da interpretação: 
https://www.youtube.com/watch?v=_CqXvDF8SJg 
 
Analisem se a mensagem foi passada, se o objetivo da música foi 
atingido, pensem sobre a construção das línguas e suas estruturas: há a 
utilização de elementos gramaticais da Libras presentes na interpretação que 
 
 
23 
 
deixou o significado claro ao público-alvo? E, por fim, entendam como é 
importante e fundamental o papel do tradutor e intérprete de Libras. 
 
 
 
4 O PROFISSIONAL TRADUTOR 
 
 Caros alunos, neste último tópico da unidade haverá uma discussão sobre 
a formação do tradutor. Durante este capítulo fizemos algumas breves 
comparações/relações com as línguas sinais, desta feita, isso será discutido de 
maneira mais aprofundada em nossa última unidade, inicialmente abordaremos 
as línguas orais. 
 Como vimos anteriormente, os tradutores surgiram a partir da 
necessidade da comunicação e troca entre os povos, uma atividade milenar. 
Contudo, a grande preocupação até os dias atuais diz respeito ao modo como 
ocorre a formação destes profissionais. 
 
 
24 
 
Recentemente a tradução começou ganhar espaço no meio acadêmico. 
Antes estar neste espaço, era discutida de forma breve, com pouca notoriedade 
dentro da área da Literatura e da Linguística. Segundo Paschoal (2007) somente 
a partir de 1970, a tradução começou ganhar popularidade, o que instigou 
discussões relevantes a seu respeito e, assim, ganhou espaço como disciplina 
específica, mas considerada, apenas, uma formação complementar nos cursos 
de Letras. 
Sabemos que o ato de traduzir requer muitas competências, o que implica 
numa formação mais específica e completa, pois a formação de um professor de 
línguas requer outras competências profissionais. 
 
No Brasil, a Tradução, situada na área de Letras, é muitas vezes 
considerado um complemento da formação e, 
consequentemente, não proporciona ao futuro profissional o 
instrumental de que precisa para exercer sua função, já que é 
restrita: não se pretende dizer que os conhecimentos adquiridos 
no curso de Letras não sejam necessários à formação do 
tradutor, mas é preciso aceitar que os níveis de exigência e 
conhecimento de algumas disciplinas podem variar 
significativamente na formação do tradutor e do professor de 
línguas estrangeiras. (PASCHOAL, 2007, p. 216). 
 
Conforme estudamos durante toda essa unidade comprovamos que o 
processo de tradução não é somente a transferência de ideias de uma língua 
para outra, a tradução precisa levar em consideração a cultura, o público-alvo, a 
língua, entre outras peculiaridades do processo tão rico e detalhado que é o 
processo tradutório. 
 Sendo assim, Paschoal (2007) pontua alguns vieses que a formação de 
um tradutor precisa ter, a fim de mostrar como a formação necessita ser o mais 
completa possível, pois o futuro profissional necessita dominar e adquirir o 
conhecimento exigido para a atuação na área. 
 
Dentre alguns pressupostos que consideramos mais 
importantes para a formação de tradutores, indicamos os 
seguintes: a) língua materna, b) língua estrangeira, c) relações 
entre teorias linguísticas e tradução, d) cultura estrangeira, e) 
tradução de textos técnicos. (PASCHOAL, 2007, p. 217). 
 
 
 
25 
 
 Para Paschoal (2007) a formação do tradutor contribui para o 
desenvolvimento das habilidades necessárias para atuação, sendo que em um 
curso de formação não é necessário a sistematização e normalização em 
diferentes etapas, mas sim, que as formações busquem a cooperação de 
diferentes disciplinas,buscando uma formação geral e completa em todos os 
âmbitos, língua e tradução. 
Segundo Pagano (2009), a formação do tradutor requer o 
desenvolvimento de habilidades que vão muito além do conhecimento 
linguístico, por isso os cursos de formação precisam ter um olhar especial com 
a prática tradutória e o processo tradutório em si, garantindo ao estudante de 
tradução o desenvolvimento de percepções mais acentuadas em relação à 
prática, conhecer as teorias e oportunizar a reflexão destas ações e, ainda, fazer 
a relação prática versus teoria. Conforme suas reflexões, Paschoal (2007) 
compreende que a grande preocupação que os cursos e os formadores 
necessitam ter é a clareza das intenções neste contexto, que é formar tradutores 
e não teóricos da tradução. Arrojo (1986) também complementa esse 
pensamento dizendo: 
 
ao considerarmos a tradução uma atividade essencialmente 
produtora de significados, e ao considerarmos o trabalho do 
tradutor pelo menos não complexo quanto o do escritor de textos 
“originais”, fica evidente que não pode haver fórmulas mágicas 
nem atalhos fáceis para se aprender a traduzir (ARROJO, 1986, 
p. 76). 
 
 Como pontua Arrojo (1986) não existem fórmulas mágicas e caminhos 
fáceis para ser um tradutor, é necessário que compreendamos a importância que 
a profissão tem diante de seu papel social, por isso prescinde de muito estudo, 
dedicação, envolvimento na cultura-alvo e empenho. 
 
 
 
26 
 
 
 
A formação adequada do profissional tradutor implica no domínio das 
estratégias tradutórias, as quais ele deve ter ao realizar o seu trabalho. Posto 
isto, enumeramos algumas das principais competências que o tradutor precisa 
ter – competência linguística, competência tradutória e, por último, e não menos 
importante, a competência referencial. Segundo Pagano (2009, p. 12) “a prática 
da tradução requer estratégias de diversas naturezas, algumas das quais podem 
ser adquiridas por meio da experiência, sendo que outras podem ser 
desenvolvidas ou aperfeiçoadas pela formação profissional”. 
Competência linguística segundo Roberts (1992, apud Quadros, 2004) 
é a habilidade que o profissional precisa ter em manipular as línguas envolvidas 
nos processos tradutórios, compreender e usar as línguas enredadas em todos 
os seus aspectos, expressando-se corretamente, fluentemente e da forma mais 
clara possível, na língua-alvo. 
 
Além da complexa tarefa de dominar as línguas envolvidas no 
processo, aprender a traduzir significa necessariamente 
aprender a “ler” (...) aprender a “ler” significa, portanto, aprender 
a produzir significados, a partir de um determinado texto, que 
sejam “aceitáveis” para a comunidade cultural da qual participa 
o leitor (ARROJO, 1986, p. 76). 
 
É importante compreendermos que a competência linguística engloba as 
duas línguas envolvidas, isso significa que tanto o tradutor quanto o intérprete 
 
 
27 
 
precisam dominar a língua em todos os seus níveis, lexical, semântico, sintático, 
pragmático, as terminologias, entre outros. Para Vasconcellos e Junior (2009, p. 
15) “A competência linguística é uma condição essencial – ou seja, sem ela não 
é possível realizar um ato tradutório – mas não suficiente – ou seja, apenas o 
conhecimento dos dois códigos não faz de um indivíduo um tradutor/intérprete.”. 
 Isso significa, caros alunos, que só dominar a língua, não te constitui um 
tradutor ou um intérprete, existem outras exigências e competências que estes 
profissionais necessitam ter para desempenhar a função. 
Vamos usar como exemplo a Libras, visto que hoje em dia é comum e 
normal (ainda bem!), as pessoas procurarem fazer cursos de Libras, muitos 
acabam se aprofundando no assunto, buscam outros meios e se tornam fluentes 
na Língua Brasileira de Sinais, mas será que para atuar como um tradutor ou 
intérprete conhecer a língua basta? Como eu disse desde o começo desta 
unidade, o ato tradutório é muito mais complexo do que imaginamos. 
 Outra competência importante deste tripé profissional é a competência 
referencial, esta como diz o nome, é a competência de buscar, dominar e 
socializar com o assunto abordado no trabalho aceito. Sabemos que a formação 
dos tradutores é muito ampla (falaremos mais sobre isso na unidade III), isto é, 
a formação não ocorre em áreas específicas de atuação, por isso o tradutor 
precisa buscar o conhecimento nas áreas específicas de atuação. 
 Já a competência tradutória contempla várias outras habilidades, 
segundo Pagano (2009) “pode ser definida como todos aqueles conhecimentos, 
habilidades e estratégias que o tradutor bem-sucedido possui e que conduzem 
a um exercício adequado da tarefa tradutória”. 
 Conforme Hurtado (2005) indica, o conceito de competência tradutória já 
vem sendo discutido e estudado desde os meados de 1990, diante dessas 
discussões realizadas foram várias as perspectivas e modelos propostos para 
conceituar e explicar essa competência. Vários destes modelos buscam pontuar 
as habilidades que compõem esta competência - como cita Hurtado (2005), 
“conhecimento linguístico, culturais, de documentação, capacidade de 
transferência etc.”. Porém são diversas as perspectivas referentes a este ponto: 
 
 
 
28 
 
Outros autores (Lowe, Pym, Hatim e Mason) preferem falar de 
“habilidades e destrezas tradutórias”. Lowe aponta 
características tais como: compreensão leitora e capacidade de 
redação, velocidade etc.; Pym destaca a habilidade de gerar 
diferentes opções e de selecionar uma única delas em função 
dos fins específicos e do destinatário; Hatim e Mason postulam 
destrezas de processamento do texto original (reconhecer a 
intertextualidade, localizar a situacionalidade, inferir a 
intencionalidade, valorizar a informatividade etc.) e de 
processamento do texto de chegada (estabelecer 
intertextualidade e situacionalidade, criar intencionalidade, 
equilibrar a informatividade etc.) e habilidades de transferência 
para renegociar estrategicamente com eficácia, eficiência e 
relevância. (HURTADO, 2005, p. 23). 
 
Então, é necessário ter um equilíbrio nestas competências e habilidades. 
O profissional deve pensar no público-alvo e fazer o seu máximo para atingi-lo, 
por isso, estamos aqui, neste momento, buscando um bom desenvolvimento nas 
habilidades e competências. 
 
 
 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 
29 
 
 Compreendemos durante esta unidade o quão complexo é o trabalho do 
tradutor, uma vez que traduzir não é apenas a passagem de uma palavra de uma 
língua para outra, vai muito além, como falamos durante toda essa leitura. Quão 
trabalhoso é o processo tradutório, cabendo a nós, profissionais tradutores, fazer 
escolhas que sejam mais viáveis e coerentes à língua-alvo, à cultura e ao público 
que irá utilizar aquela tradução. 
 Precisamos estar cientes e conscientes do trabalho que assumiremos, 
além disso, nos questionarmos a respeito da nossa competência sobre 
determinado trabalho. Sempre nos perguntarmos: será que eu possuo as 
competências necessárias para exercer e assumir esse trabalho? Isto porque 
está em nossas mãos, literalmente, o entendimento e até a única forma de 
adquirir informações sobre alguns assuntos. 
É importante compreendermos que no mundo complexo da tradução não 
podemos viver sozinhos, a crítica construtiva de outro colega de profissão, que 
exerce a função há mais tempo, por exemplo, só vem a colaborar e aprimorar 
nosso serviço. Quando surgem dúvidas sobre alguma coisa no momento da 
tradução podemos buscar livros, glossários, dicionários, como também, fazer 
trocas e reflexões com os nossos pares, que já possuem mais experiência e 
tempo de trabalho. As trocas são riquíssimas e nos ajudam a construir nossa 
identidade profissional! 
Busquem colocar em prática tudo que aprendemos durante esta unidade, 
agora é o momento de fazer a relação teoria e prática, que é tão importante neste 
processo de formação de vocês. A partir deagora as suas escolhas tradutórias 
serão mais conscientes e caberá a você distinguir se foi uma boa escolha ou 
não. 
Lembre-se sempre de seu papel social como tradutor, se pensarmos, 
especificamente na comunidade surda, imaginem que maravilhoso seria se tudo 
fosse de fácil acesso e compreensível a eles? Cabe a nós (sim, nós tradutores, 
surdos e comunidade em geral) lutarmos pelo direito linguístico e tradutório 
destes cidadãos, para que eles possam ter o direito de informação tanto quanto 
nós. 
 
 
30 
 
Nunca se esqueça: a tradução permite que línguas e culturas continuem 
vivas e cabe a nós esta tarefa. Por isso, sempre anseie em conhecer, estudar, 
aprimorar e refletir sobre o seu ato tradutório. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
DISCIPLINA – FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO 
UNIDADE II – ESTUDOS DA INTERPRETAÇÃO 
Professora – Maria Helena Nunes Almeida 
 
Objetivo da aprendizagem: 
 
● Definir conceitos da área de interpretação; 
● Compreender as especificidades da área; 
● Reconhecer os processos de uma interpretação; 
● Apresentar exemplos da área de estudo. 
 
Plano de estudo: 
 
● Tópico 1 – Fundamentos históricos da Interpretação. 
● Tópico 2 – Conceitos e aspectos da interpretação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE 
 
Caros alunos, durante a leitura desta unidade, aprenderemos um pouco 
sobre o mundo da interpretação, tentei organizar essa disciplina de forma que 
estudássemos de forma separada o conceito de tradução e interpretação, 
porém, como vocês já perceberam, são conceitos estudados de forma conjunta 
e, muitas vezes, indissociáveis. 
Durante a unidade II, retomaremos alguns pontos históricos sobre o 
profissional intérprete, bem como, todo processo de formação destes 
profissionais. 
As teorias que trabalharemos são baseadas nas línguas orais, porém 
sempre farei relações com as línguas de sinais. Trabalharemos com conceitos 
importantes, como: interpretação simultânea, consecutiva e sussurrada. O intuito 
é fornecer a vocês, futuros profissionais, exemplos práticos, a fim de 
visualizarem, de forma mais ampla, a complexidade e responsabilidade do futuro 
trabalho de vocês. 
O intérprete, em sua formação, precisa conhecer e dominar estas 
modalidades de interpretação, pois cada trabalho exigirá uma forma de atuação 
e cabe ao profissional saber qual é a melhor modalidade de interpretação para 
cada trabalho. Esta é uma das competências necessárias, que o intérprete deve 
possuir: saber analisar e escolher o que é mais apropriado diante das 
circunstâncias de trabalho. 
Estudaremos, também, a questão da memória e da complexidade do 
processo de interpretação, visto que, diferentemente, da tradução, a 
interpretação pode ocorrer de forma simultânea e de contato direto com o 
público-alvo, o que torna o trabalho mais complexo, podendo ocorrer 
interferências externas e até problemas técnicos com os equipamentos. Para 
refletirmos melhor sobre esse ato, usaremos como base Fábio Alves (2009), que 
em suas pesquisas, discorre sobre memória de curto e longo prazo. 
Falaremos sobre a importância do trabalho em dupla, da afinidade, 
respeito e parceria, que deve ocorrer entre os profissionais durante o trabalho, 
 
 
33 
 
visto que o mesmo exige alta complexidade cognitiva e qualquer deslize no ato 
interpretativo pode ocasionar um abalo emocional. 
Para finalizarmos, espero que vocês leiam e olhem, com muita atenção e 
carinho, todos os vídeos que sugerimos neste capítulo, pois, por meio deles 
vocês poderão fazer a relação teoria e prática. Vocês, também podem buscar o 
conhecimento em outros lugares além desta apostila, como, por exemplo, pelo 
Youtube, o qual consiste em um instrumento riquíssimo, que só veio fortalecer e 
aumentar nosso conhecimento. Sabendo onde procurar e como procurar, este 
meio tecnológico é como um grande livro aberto, que nos proporciona 
conhecimento e incontáveis relações teóricas e práticas. 
Bons estudos! 
 
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA INTERPRETAÇÃO 
 
Olá, caros alunos, no decorrer do estudo deste tópico, conheceremos e 
construiremos alguns conceitos da área da interpretação, seguindo a mesma 
linha de pensamento que utilizamos na unidade anterior, todavia, agora, o foco 
é um pouco diferente, pois exibiremos em detalhes os estudos na interpretação. 
Perceberemos que muitas coisas vão ao encontro dos estudos da 
tradução, mas como já explanamos a temática anteriormente, você perceberá 
que muitas teorias trabalham, não só a tradução, mas também a interpretação 
dentro da mesma perspectiva. Apesar disso, aqui, separaremos estes dois 
estudos porque nos estudos da Língua Brasileira de Sinais, estes temas são 
vistos separadamente, cada um com uma função. 
Conforme estudamos na primeira unidade, a tradução surgiu a partir da 
necessidade das trocas já em épocas remotas. A interpretação também não 
surgiu de modo muito diferente, com base nos livros históricos, a interpretação 
surgiu durante a guerra, porém, como objeto de estudo é uma área muito 
recente. 
 
Apesar de evidências históricas mostrarem que a interpretação 
como atividade nas áreas do comércio, diplomacia e 
 
 
34 
 
negociações de guerra data de milhares de anos, a história 
moderna da interpretação inicia-se há apenas 100 anos, com as 
negociações do Tratado de Versalhes, após a I Guerra Mundial, 
centrada principalmente na interpretação de conferências 
(PÖCHHACKER, 2004, p. 28, apud CARNEIRO, 2017, p. 3). 
 
 Segundo Carneiro (2017) logo que este tipo de trabalho começou a ser 
executado chamou a atenção dos pesquisadores pelo fato de ser uma atividade, 
extremamente, complexa e única. Impulsionando, a partir de então, os estudos 
pertinentes à área e a preocupação de formar os profissionais para exercer esse 
tipo de trabalho. 
 
Esse novo campo de estudos logo chamou a atenção dos 
psicólogos pesquisadores, que se interessaram principalmente 
pela simultaneidade da escuta e da fala em dois idiomas 
diferentes e por medições do lapso de tempo ocorrido entre uma 
e outra. Na década de 1960, impulsiona-se a profissionalização 
dos intérpretes devido à criação de escolas de 
tradução/interpretação e à fundação de associações 
internacionais como a FIT (International Federation of 
Translators) e a AIIC (International Association of Conference 
Interpreters), esta última na década de 1950. (CARNEIRO, 
2017, p. 3). 
 
Conforme Carneiro (2017) explicita em suas pesquisas, todo esse 
desdobramento histórico favoreceu e incentivou a realização de pesquisas 
acadêmicas, além do surgimento de escolas específicas para a 
profissionalização desta função “estabelecendo uma íntima ligação entre a 
prática profissional, o treinamento em nível universitário e uma linha de pesquisa 
em tradução/interpretação na Universidade de Paris 3 – Sorbonne Nouvelle” 
(PÖCHHACKER, 2004, p. 28-29 e p. 35 apud CARNEIRO, 2017, p. 3). 
O processo de surgimento de o intérprete de Língua de Sinais ocorreu de 
forma diferente e, também, podemos dizer que isso aconteceu recentemente. 
Trataremos mais profundamente deste processo histórico e de 
profissionalização na próxima unidade, pois abordaremos, especificamente, a 
área da Língua de Sinais. 
 
 
 
 
35 
 
 
 
 
3 CONCEITOS E ASPECTOS DA INTERPRETAÇÃO 
 
 Iniciaremos nosso estudo em relação aos conceitos e teorias ligadas à 
área de interpretação. Como dito anteriormente e reiterado ao longo dos nossos 
estudos, percebemos que o conceito de tradução e de interpretação são 
utilizados, por muitos pesquisadores das línguas orais, como sinônimos, 
entretanto, durante esta disciplina e toda a graduação Letras/Libras, vocês 
compreenderão que na perspectiva das línguas de sinais essas terminologias 
possuem significados e implicaçõesdiferentes. 
 O primeiro conceito que estudaremos é a interpretação, encontramos 
este tipo de exercício tanto nas línguas orais como nas línguas de sinais, ela 
abarca as modalidades oral-auditiva e visual-espacial. Os intérpretes trabalham 
em situações de tempo real e possuem o diferencial de ter o contato direto com 
o público-alvo. Características que diferem interpretação de tradução, já que 
esta, normalmente possui um tempo prévio de estudo e preparação para realizar 
o trabalho, além disso, o contato com o público-alvo ocorre indiretamente. 
 
 
36 
 
 Quando pensamos na perspectiva das línguas de sinais, esse contato 
com o público ocorre de forma bem diferenciada em relação às línguas orais, isto 
é, enquanto o intérprete de língua oral fica dentro de uma cabine, o intérprete de 
língua de sinais fica em contato direto e exposto para todo o público, seja no 
palco ou em um local mais próximo do público-alvo, entretanto, exemplificando 
como ocorreria aqui no Brasil, isso ocorre quando a palestra é ministrada do 
português (língua-fonte) para a Libras (língua-alvo). 
Nesta esteira, tivemos alguns avanços no Brasil, por exemplo, em 
congressos internacionais e específicos da Língua de Sinais, o intérprete já 
trabalha dentro de uma cabine, quando a interpretação ocorre em Libras (língua-
fonte) para o Português (língua-alvo), o que antes ocorria de forma mais 
‘precária’, pois o profissional fazia a interpretação sentado no auditório junto aos 
outros participantes (o que implica em muitas interferências), hoje, este trabalho 
ocorre dentro de uma cabine, com abafamento de som, sem interferências 
tecnológicas e humanas, assim como em interpretações de línguas orais. Claro, 
estamos falando de congressos maiores, com mais recursos, porém já é uma 
nova perspectiva e novas possibilidades para a realização de um trabalho mais 
adequado e seguro. 
 
Em uma situação ideal, o intérprete funciona como um 
transformador. Entra 110, sai 220. Entra 220, sai 110. Entra 
espanhol, sai português. Entra português, sai espanhol. Como a 
comunicação é processo dinâmico, a situação envolve mais que 
a mera substituição de palavras. a depender das línguas em 
questão, pode haver alterações estruturais e semânticas a 
compensar, além de expressões idiomáticas que não encontram 
correspondente imediato na língua de chegada. Há sempre 
alguma variação, e o intérprete se vê diante da necessidade não 
apenas de trasladas palavras, mas de adaptar conceitos. 
(MAGALHÃES, 1963, p. 45). 
 
A interpretação simultânea é a mais comum encontrarmos em congressos 
e/ou eventos. Interpretação simultânea significa ‘ao mesmo tempo’, o que quer 
dizer que ocorre durante a fala do palestrante, conforme ele vai explicitando seu 
discurso por meio da língua-fonte, o intérprete vai fazendo a interpretação para 
a língua-alvo. Magalhães (1963) descreve como ocorre a interpretação 
simultânea na perspectiva das línguas orais: 
 
 
37 
 
 
Já na interpretação simultânea propriamente dita, os intérpretes 
se isolam em uma cabine à prova de som e recebem o áudio por 
meio de fones de ouvido. À medida que escutam, vão 
produzindo um novo discurso na língua-meta ao microfone. A 
interpretação é levada aos participantes por meio de ondas de 
rádio (ou luz infravermelha) e captada por meio de receptores 
sem fio e fones de ouvido individuais. (MAGALHÃES, 1963, p. 
45). 
 
A Figura (4) ilustra esta experiência para que possamos perceber as 
particularidades da interpretação simultânea. 
 
 
Figura 4 - Imagens de interpretação simultânea realizadas em congressos – línguas 
orais. 
Fonte: VoiceLink: Tradução Simultânea – 2019. 
 
Existe um pequeno atraso entre a fala do emissor e o intérprete, isso 
acontece devido ao processo interpretativo, como este ocorre de forma 
simultânea, logo, é rápido e demanda grande esforço cognitivo do intérprete. 
 
O processo de interpretação simultânea tem mais a ver com a 
compreensão e expressão de ideias que com comparação entre 
línguas, já que todo o processo se dá na velocidade da fala 
(cerca de 150 palavras por minuto). Devido à velocidade com a 
qual se deve realizar o trabalho, ele demanda altos níveis de 
esforço cognitivo do intérprete. Todo o processo pode ser 
dividido em três fases: a compreensão, a desverbalização e a 
reexpressão. (CARVALHO, 2007, p. 51). 
 
 
 
38 
 
Carvalho (2007) divide esse processo em três etapas: compreensão, 
desverbalização e reexpressão. Conforme vimos na citação anterior, essas três 
etapas englobam todo o processo, desde o recebimento do discurso a partir da 
língua-fonte até a produção do discurso na língua-alvo. Vale-nos, neste 
momento, retomar algo que dissemos e solicitamos a reflexão de vocês na 
unidade anterior: será que saber/conhecer uma língua já permite que a pessoa 
se torne/seja um intérprete? Vocês podem perceber com os escritos de 
Carvalho, que o processo é muito mais complexo e rápido, por isso o intérprete 
além de dominar a língua, precisa também dominar as estratégias de 
interpretação. 
 
O processo funciona da seguinte forma: durante a fase de 
compreensão há a interpretação fonológica. O intérprete 
compreende o que foi dito e passa para a segunda fase, 
chamada de desverbalização. Na desverbalização, o 
profissional dissocia a forma linguística do conteúdo que está 
sendo passado. Neste momento os conhecimentos linguísticos 
e os complementos cognitivos se misturam. Durante a 
reexpressão, ocorre a reformulação linguística da ideia na língua 
de chegada. (CARVALHO, 2007, p. 51). 
 
 Vamos pensar, se o intérprete não domina e não compreende esses 
processos, como será que chegará ao público-alvo essa interpretação? Como 
exposto, anteriormente, o processo e o esforço cognitivo são muito grandes, 
considerando um contexto em que o intérprete domina e possui as competências 
necessárias – linguística, referencial e tradutória –. Suponha-se, agora, que o 
intérprete não possua estas competências, será que o seu esforço para exercer 
a função não dobra? Não triplica? Podemos dizer por experiência própria, que 
no começo de nossa atividade como profissional, todo esse processo ocorria de 
forma mais sofrida, pois além do desgaste cognitivo, tinha também o desgaste 
emocional, percebíamos as escolhas equivocadas, o que implicava 
automaticamente em feedbacks negativos do público-alvo (já que é um contato 
direto), o qual piorava a situação emocional, prejudicando, consequentemente, 
o processo cognitivo e a continuação da interpretação. 
 
 
 
39 
 
Entre as estratégias cognitivas que utilizamos para traduzir 
existem algumas que podem nos servir de apoio interno ao longo 
do processo tradutório. Este apoio interno se dá, sobretudo, por 
meio do nosso conhecimento de mundo, que abrange nossos 
conhecimentos enciclopédicos, incluindo-se nele toda nossa 
bagagem cultural, e o conhecimento procedimental que nos 
ensina como utilizar o que já conhecemos. (ALVES, 2009, p. 57). 
 
 Por isso, antes de assumirmos qualquer trabalho precisamos pensar, 
refletir e nos questionar: será que possuo competências necessárias para 
assumir esse serviço? Se eu não tenho, onde posso buscar? O que eu posso 
fazer para me preparar para a interpretação? Sobre o que eu posso ler? 
 
 
Reflita! 
 A fim de refletirmos um pouco mais sobre o que falamos, a respeito de as 
competências necessárias para ser um intérprete, vamos ver a entrevista da professora 
Fernanda com o intérprete Ulisses Carvalho, que foi realizada em fevereiro de 2018 no 
seu canal do Youtube, em que falam sobre o perfil profissional, a formação, as 
competências. Ulisses é intérprete das línguas orais, porém as temáticas abordadas, 
durante a entrevista, vêm ao encontro com tudo que falamos até agora: Será que saber 
uma língua me torna um intérprete? Será que mesmo sendo intérprete posso abraçar o 
mundo e atuar em todas as áreas? 
 Esperamos que vocês consigam, a partir destevídeo, minuciar a formação e a 
responsabilidade que vocês, como futuros profissionais, terão! 
Link para acesso: (para quem precisar é só ativar a legenda!) 
https://www.youtube.com/watch?v=3dW9WjajeE8 
 
https://www.youtube.com/watch?v=3dW9WjajeE8
 
 
40 
 
 
Figura 5 - Entrevista com o tradutor Ulisses Carvalho. 
Fonte: Canal do Youtube – Teacher Fernanda, 2018. 
 
Vejamos, a partir de agora, a interpretação sussurrada, a qual acontece 
do mesmo modo que a anterior: simultaneamente, porém, ao invés de ser para 
um grande público-alvo, tem como foco, apenas, uma ou duas pessoas. 
Segundo Magalhães (1963, p. 44) “há também a técnica conhecida como 
whispering ou chuchotage, que nada mais é que uma interpretação sussurrada 
‘simultaneamente’ ao pé do ouvido de um ou dois convidados. A técnica 
sussurrada dispensa equipamentos”. 
Em seguida, temos a interpretação consecutiva, esta é um pouco mais 
complexa de entender, pois não é muito comum de encontrar este tipo de 
interpretação em congressos ou em eventos. Ela pode ocorrer da seguinte 
forma: o intérprete escuta/olha alguns trechos do discurso na língua-fonte e, 
posteriormente, após a pausa do emissor, o intérprete produz o texto na língua-
alvo com suas próprias palavras, não seguindo, necessariamente, as mesmas 
frases, contudo mantém o mesmo objetivo e o sentido do orador. Em suma, este 
processo de interpretação acontece de forma intercalada, sendo o tempo 
dividido entre orador e intérprete e, o público tem acesso aos dois textos. 
 
 
41 
 
Com o intuito de exemplificar, citamos um exemplo que, normalmente 
ocorre na TV. A Figura 6 mostra a entrevista pós-luta do atleta Aldo. Para a 
realização da entrevista foi necessário o trabalho do intérprete, que optou por 
realizar um trabalho na forma consecutiva. É um exemplo simples, que nos 
ajudará a organizar e compreender este conceito de interpretação. 
Link para acesso do vídeo: 
https://www.youtube.com/watch?v=8Kmp7r3f0z0 
Interpretação a partir do minuto 2:52 
 
 
Figura 6- Entrevista UFC 194 – Interpretação Consecutiva. 
Fonte: Canal do Youtube: UFC – Ultimate Fighting Championship, 2015. 
 
Durante toda nossa disciplina, sempre que possível, utilizaremos e 
demonstraremos, de maneira prática, os conceitos que estamos estudando. A 
fim de nos apropriarmos e exemplificarmos, mais uma vez o conceito de 
interpretação consecutiva, analisaremos o vídeo ‘tradução consecutiva, um 
exemplo prático Voicelink Tradução Simultânea’. 
A transcrição e a tradução do vídeo foram realizadas pelo tradutor Alison 
Felipe Gesser, solicitei ao profissional que ao fazer a tradução para o português 
https://www.youtube.com/watch?v=8Kmp7r3f0z0
 
 
42 
 
não a fizesse palavra por palavra, mas uma tradução literal, mantendo a 
fidelidade semântica, porém dentro da estrutura gramatical do português. O 
objetivo de utilizar essa estratégia tradutória é que vocês, caros alunos, 
consigam fazer reflexões significativas em relação às escolhas do intérprete. 
A Figura 7 traz dois tradutores, um homem que faz a leitura do texto em 
Espanhol, e a mulher que faz a interpretação consecutiva para o inglês, logo em 
seguida temos a transcrição do inglês e do espanhol, bem como, a tradução em 
português das duas falas. 
Link para acesso: 
https://www.youtube.com/watch?v=Nl1p7NRAOQI 
 
 
Figura 7- Intepretação consecutiva. 
Fonte: Agrupación de Intérpretes de Barcelona, canal do Youtube – 
Janapietro, 2012. 
 
HOMEM (ESPANHOL) MULHER (INGLÊS) 
Buenos días. Hoy les voy a hablar del 
curioso caso de un pueblo andaluz, en la 
sierra de Cádiz, que ha optado por una 
curiosa respuesta ante la crisis: aprender 
idiomas, y concretamente el alemán. El 
Good morning. Today we’re here to talk 
about a rather strange case of a village in 
Cadiz and Andalusia which has come up 
with a rather unusual solution to the crisis: 
it has decided to go for language learning 
https://www.youtube.com/watch?v=Nl1p7NRAOQI
 
 
43 
 
pueblo se llama Espera. Sí: “Espera”. Y 
tiene 4 mil habitantes. Su economía 
dependía mucho últimamente de la 
Construcción. Llegó a tener hasta 37 
empresas de hormigón prensado y casi 
toda la población masculina se dedicaba a 
esta actividad, entretanto muchas de las 
mujeres trabajaban en el campo. Pero, al 
pararse el boom del ladrillo, pues, todo se 
vino abajo. De todos modos, es curiosa la 
reacción que les lleva al aprendizaje de un 
idioma tan difícil como el alemán, 
precisamente. Porque en inglés se supone 
que habría más puertas. Aunque el inglés 
lo hable todo el mundo, la aprobación 
específica, temática, para un oficio o una 
profesión, podría parecer más adecuada. 
Pero no: los habitantes de Espera, o al 
menos 120 de ellos, han optado por 
aprender alemán. Y no es casualidad que 
la primera palabra que han aprendido a 
decir en alemán los habitantes de Espera 
sea precisamente la palabra “Arbeit”: 
“trabajo”. Hay que pensar en las cifras del 
pueblo para entender este fenómeno. Son 
francamente escalofriantes: 1234 
demandantes de empleo, y eso en un 
pueblo de 4 mil habitantes. Algunos 
sobreviven a base de trabajo esporádico: 
campaña de la fresa en Huelva, cosecha 
de la fruta en Zaragoza, vendimia a finales 
de agosto, aceituna en noviembre... Pero 
cuando hay una familia a que mantener es 
muy duro vivir así, al menos por mucho 
tiempo, sin la menor seguridad de que 
incluso esos trabajos esporádicos 
persistan en el futuro. Y en España, más 
bien en Espera, se vislumbra ya el regreso 
de la otra estampa clásica de la migración 
de los años 60: la migración hacia 
Alemania. Pensemos que los años 60 y 70 
Espera perdió habitantes. Pasó de 5 mil a 
3 mil porque mucho se fueron, 
principalmente a Cataluña, Francia e 
incluso Alemania. Menos en la luna, dicen 
los lugareños, espereños hay en todo el 
mundo. Los de los años 60 tuvieron 
algunas sorpresas, como las retenciones 
de impuestos que eran muy altas y 
superiores incluso para los solteros. Si 
cobraban 1000 marcos alemanes, pues, 
– and not just any language: German. The 
village is called Espera and it has a 
population of 4 thousand. The economy of 
this village had been basically construction 
based up until recently there were 30 plus 
companies only in a special type of 
concrete. And while most of the men were 
working in that industry, the women largely 
attended the fields. But all of that came to 
sudden hot with the end of the construction 
boom and so now they are dealing with 
this. But it’s great strange it seems to me 
for them to have chosen German of all 
things as the way out of their current 
problems. You would think English for 
instance would be more of a door opener, 
although of course it’s also true that more 
people know it so it’s less of an edge or 
some sort of vocational training of specific 
training for a particular occupation would 
seem to be a more obvious solution, but 
whatever the reason the inhabitants of 
Espera, or at least 120 of them so far, have 
chosen to learn German. And not by 
chance have they chosen to learn as their 
first words of vocabulary the word “Arbeit” 
– in other words, “work”. Now the figures 
for Espera are absolutely horrendous when 
you think of 1234 jobseekers in the village 
with a total population of 4 thousand. Many 
people cope by taking seasonal work, 
they’ll harvest strawberries in Huelva, then 
will go to harvest fruit in Zaragoza, in 
August they will go to the grape harvest 
and then in late fall they will harvest olives. 
And they receive a lot of support from their 
families, but when you have a family to 
support it’s very difficult to cope with this 
kind of seasonal migration. It’s hard to 
support a family and there’s no guarantee 
that the work will still be there next season. 
So in a way Espera is now starting to go 
back to what it was in the 60s when many 
of the population emigrated to Germany. 
Now, the village of Espera seems to be 
returning now to a different imageof what 
it was like in the 1960s, with people 
emigrating on a more less seasonal basis 
to Germany. Because in fact of the 60s and 
the 70s the population of Espera dropped 
from 5 thousand to 3 thousand, with people 
 
 
44 
 
recibían solo 500. Pero, en fin... las cosas 
han cambiado bastante. En esa época, se 
emigraba por hambre. Y por ahora no es 
ese el caso de la emigración actual, 
gracias a subsidios, ahorrillos y desde 
luego mucho apoyo familiar. La iniciativa 
que les cuento es por lo menos curiosa. No 
se me habría ocurrido nunca, a pesar de 
que a mí me gustan los idiomas e incluso 
algo sé cómo aprenderlos. El alemán, 
dicen algunos intérpretes, solo se aprende 
bien de la madre o en la cama, y 
francamente dudo que la profesora del 
pueblo esté dispuesta a eso último. En 
todo caso, tiene una bien merecida fama 
de difícil, por ello hay que felicitar a esas 
personas que se han animado a hacer algo 
distinto ante la crisis. Aunque el primer 
paso tenga que ser aprenderse el 
nominativo, el acusativo, el dativo y el 
genitivo... y cosas tan raras como la luna 
sea masculina y el sol femenino. 
Pues¡mucha suerte y qué cundael 
esfuerzo! Muchas gracias. 
emigrating to Catalonia, France, and 
indeed Germany. In fact, the saying goes 
in the village that except for the moon there 
are Espera villages just about everywhere 
in the world. Now, in the 1960s the people 
who emigrated ran up against a number of 
surprises, such as high withholding tax, 
especially for singles. A single man might 
expect to be earning a thousand marks and 
then find that he only had five thousand... 
[correction] five hundred in his pocket at 
the end of the day. But there have been 
significant changes since then and why of 
the people of Espera emigrated out of 
hunger at the time they are now not quite 
in that dire position. They’ve got subsidies, 
they’ve got some savings and they 
certainly have family support where that’s 
available. So we can say that this is a 
rather unusual solution that they’ve taken. 
It’s rather striking. I have to say: I never 
would have thought of anything like that, 
because even though I’m somebody who 
likes languages and knows how to learn a 
language the saying amongst interpreters 
is that German can only be learned as a 
mother tongue or in bed. And of course, I 
seriously doubt the German teacher in 
Espera will be willing to put up with the 
second solution. But, in any case, German 
is acknowledged to be a rather difficult 
language. I have to congratulate these 
people who’ve come up with a different 
way to combat the crisis even thought that 
means they’ll have to learn the nominative, 
genitive, dative, and accusative cases... 
and weird things such as that the moon is 
masculine and the sun is feminine (which 
is the other way around from the way it is 
in Spanish). So in any case good luck! 
 
 
HOMEM – TRADUÇÃO DE APOIO 
AO LEITOR (ADAPTADO AO 
PORTUGUÊS) 
MULHER – TRADUÇÃO DE APOIO 
AO LEITOR (ADAPTADO AO 
PORTUGUÊS) 
Hoje, vou contar a vocês o curioso caso de 
uma pequena cidade da Andaluzia 
(Espanha), na serra de Cádis, que optou 
por uma resposta curiosa diante da crise: 
aprender idiomas – mais precisamente, o 
alemão. O nome da cidade é Espera. Isso 
Bom dia. Hoje estamos aqui para falar 
sobre um caso bastante curioso de uma 
pequena cidade em Cádis e Andaluzia 
(Espanha), na qual surgiu uma solução 
incomum para a crise: decidiu-se optar 
pela aprendizagem de idiomas – e não um 
 
 
45 
 
mesmo: “Espera”. E tem 4 mil habitantes. 
Nos últimos tempos, sua economia 
dependia muito do setor de construção. 
Ela chegou a ter 37 empresas de concreto 
estampado e quase toda a população 
masculina se dedicava à atividade, 
enquanto muitas mulheres trabalhavam no 
campo. Mas, quando acabou o auge do 
setor de construção, tudo caiu por terra. De 
qualquer forma, é curiosa a reação que 
leva aquelas pessoas à aprendizagem de 
um idioma tão difícil como o alemão, 
especificamente. Porque, em teoria, o 
inglês abriria mais portas. Embora o inglês 
seja falado no mundo todo, a aprovação 
específica, temática, para um ofício ou 
uma profissão, poderia parecer mais 
adequada. Mas, não: os habitantes da 
cidade de Espera, ou pelo menos 120 
deles, escolheram aprender alemão. E não 
é coincidência que a primeira palavra que 
eles aprenderam a dizer em alemão seja, 
precisamente, “Arbeit”: “trabalho”. Para 
entender o fenômeno, é preciso pensar 
nos números da cidade, que, francamente, 
são arrepiantes: 1.234 candidatos a 
emprego – e isso em uma cidade pequena, 
de 4 mil habitantes. Alguns sobrevivem à 
base de trabalho temporário: a colheita de 
morangos em Huelva, a colheita de frutas 
em Saragoça, a vindima no final de agosto, 
azeitonas em novembro... Mas, quando é 
preciso sustentar uma família, é muito 
difícil viver assim, pelo menos durante 
muito tempo, sem a menor garantia de que 
até mesmo esses trabalhos temporários 
ainda existirão no futuro. E na Espanha – 
ou melhor, na cidade de Espera – já se 
observa a volta da outra visão clássica da 
migração dos anos 60: a migração à 
Alemanha. Tenhamos em mente que, nos 
anos 60 e 70, a cidade de Espera perdeu 
habitantes: passou de 5 mil a 3 mil, porque 
muitos foram embora, principalmente para 
Catalunha, França e, inclusive, Alemanha. 
Os habitantes nativos dizem que há 
espereños no mundo todo, exceto na lua. 
Aqueles que emigraram nos anos 60 
tiveram algumas surpresas, como as 
retenções de impostos, que eram muito 
altas, até mesmo para pessoas solteiras. 
idioma qualquer: o alemão. O nome da 
cidade é Espera e sua população é de 4 
mil habitantes. Sua economia é baseada 
no setor de construção, e, até 
recentemente, havia mais de 30 empresas 
trabalhando com um tipo especial de 
concreto. E enquanto a maioria dos 
homens trabalhava nessa indústria, a 
maior parte das mulheres participava do 
trabalho nos campos. Mas, 
repentinamente, tudo mudou, com o fim do 
auge da construção, e agora as pessoas 
estão lidando com isso. Mas é muito 
curioso, para mim, eles escolherem o 
alemão, entre tudo o que poderiam ter 
escolhido como saída para seus 
problemas atuais. Você pensaria que o 
inglês, por exemplo, abriria mais portas, 
embora, é claro, também é verdade que 
mais pessoas sabem inglês, então acaba 
sendo menos vantajoso... ou que algum 
tipo de treinamento vocacional ou 
específico, para uma determinada 
ocupação, pareceria uma solução mais 
óbvia, mas seja qual for a razão por trás da 
escolha dos habitantes de Espera, ou de 
pelo menos 120 deles até agora, eles 
escolheram aprender alemão. E, não por 
acaso, decidiram aprender, entre as 
primeiras palavras do seu vocabulário, a 
palavra “Arbeit”: “trabalho”. Atualmente, os 
números da cidade de Espera são terríveis 
quando se pensa que há 1.234 pessoas 
procurando emprego, de um total de 4 mil. 
Muitas pessoas dependem de trabalho 
temporário: colhem morangos em Huelva, 
depois vão colher frutas em Saragoça, em 
agosto vão para a colheita da uva, e, 
depois, no final do outono, vão colher 
azeitonas. E elas recebem apoio das suas 
famílias, mas, quando se tem uma família 
para sustentar, é muito difícil lidar com 
esse tipo de migração que ocorre por 
temporada. É difícil sustentar uma família 
e não há garantia de que o trabalho ainda 
estará lá na próxima temporada. Então, de 
certa forma, a cidade de Espera está 
começando a voltar ao que era nos anos 
60, quando boa parte da população 
emigrou para a Alemanha. Agora, a 
pequena cidade de Espera parece estar 
 
 
46 
 
Se a pessoa cobrasse 1.000 marcos 
alemães por um trabalho, receberia 
apenas 500. Mas, enfim... as coisas 
mudaram bastante. Nessa época, as 
pessoas emigravam por causa da fome. E, 
por enquanto, não é esse o caso da 
emigração atual, graças a subsídios, 
pequenas economias e, sem dúvidas, 
muito apoio familiar. A iniciativa que estou 
contando a vocês é, no mínimo, curiosa. 
Eu nunca teria pensado nisso, apesar de 
gostar de idiomas e, inclusive, de

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