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ESP. JULIANA SPADOTO Comunicação Empresarial SUMÁRIO aula 01 Introdução à Língua Portuguesa e à Comunicação 4 aula 02 Linguagem e Comunicação 15 aula 03 Tipos de linguagem e Variações Linguísticas 25 aula 04 Linguagem Corporal e Expressão Oral 36 aula 05 Texto e Contexto 45 aula 06 Tipologia Textual 52 aula 07 A Dissertação argumentativa 62 aula 08 Informação na Era Digital 70 aula 09 Coesão e Coerência 79 aula 10 Elementos Coesivos 88 aula 11 Vícios de Linguagem 97 aula 12 A Redação Técnica 103 aula 13 A Técnica do Resumo 113 aula 14 O Novo Acordo Ortográfico 122 aula 15 Inadequações entre fala e escrita 129 aula 16 Erros comuns da Língua Portuguesa 137 Conclusão 144 Referências 148 3 INTRODUÇÃO Olá, estimado(a) aluno(a)! Vamos iniciar a disciplina de Comunicação Empresarial, e tenho certeza que você vai se surpreender com como é bom rever língua portuguesa, comunicação e gramática com outro olhar! Muitos graduandos se perguntam: “Por que tenho que estudar co- municação ou língua portuguesa se não serei professor ou profissio- nal de línguas ou pedagogia?” Ora, é preciso ter consciência, como indivíduos que necessitam afinar a comunicação para o sucesso tan- to pessoal quanto acadêmico e profissional, que a comunicação é o nosso cartão de visitas! O tratamento dado à língua enfatiza seu conhecimento de mundo e suas diferentes formas de interagir. Já é sabido que as modalidades oral e escrita, ou formal e informal, são práticas inerentes à língua; elas se complementam, e não andam se- paradas. O jeito que você as usa é que dá status a cada uma delas, conferindo-lhes poder de expressão e de convencimento em dada circunstância. Espero que você faça bom uso deste material. Aproveite o momento para refletir sobre o jeito como você se comunica e para se conscien- tizar da importância da leitura, além de sanar eventuais dúvidas acu- muladas ao longo do tempo. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. Linguagem e reali- dade se prendem dinamicamente” - Paulo Freire, educador, pedago- go e filósofo brasileiro Profª. Juliana Spadoto juliana.spadoto@uca.edu.br AULA 01 INTRODUÇÃO À LÍNGUA PORTUGUESA E À COMUNICAÇÃO 5 “Na vida dos indivíduos e da sociedade, a linguagem é um fator de importância maior do que qualquer outro.” - Ferdinand de Saussure, linguista e filósofo suíço. Olá, estimado(a)! A partir de agora, daremos início à disciplina de Comunicação em Língua Portuguesa e, para tanto, vamos começar refletindo sobre duas questões das quais não poderemos esquecer ao longo do curso: • Por que dar tanta importância ao uso correto da língua portuguesa, mesmo que eu não vá ser um profissional de línguas? • Por que, mesmo com toda a tecnologia existente, quando tudo parece ser imedia- to e descartável, há tanta preocupação em escrever bem? Primeiro: imagine que você vai ao médico e ele te receba falando erros graves, gírias ou de maneira muito informal: “E aí, cara, qualé o pobrema?” – qual seria o seu grau de confiança nesse profissional? Segundo: em vestibulares, concursos e testes de emprego, a redação pode ser usada como fator de eliminação. Por meio dela, as instituições têm um indicador mais concre- to da formação do aluno, e em alguns casos o que se avalia não é nem tanto o conteúdo ou o número de acertos, mas quanto o candidato conhece do seu próprio idioma. Dominar a arte do bom uso do idioma, no nosso caso a língua portuguesa, é um traba- lho que exige dedicação. Não existem fórmulas mágicas: a prática contínua e a reflexão, aliada à leitura de bons autores, são indispensáveis para a boa comunicação nos vários meios pelos quais a gente transita. 6 BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA “Minha pátria é a língua portuguesa.” - Fernando Pessoa Há quem diga que uma pessoa inteligente não é aquela que sabe tudo sobre um assun- to, e sim aquela que sabe um pouco de cada assunto. Você concorda? Seja qual for sua opinião, não podemos negar que um aluno ou profissional que se expressa bem – ou pelo menos não comete erros crassos na hora de falar e escrever – causa uma boa impressão, além de ser uma pessoa muito mais agradável e articulada nos meios sociais. E se expressar bem implicar saber ler, pensar e buscar informações variadas. Por isso, que tal saber um pouco mais sobre a história da língua portuguesa, chama- da pelo poeta Olavo Bilac (1865-1918) de “a última flor do Lácio, inculta e bela?” ANOTE ISSO Lácio é uma região na Itália onde se falava latim. Muitas línguas de- rivaram do latim, como francês, espanhol e italiano. A última delas foi o português, por isso a língua portuguesa foi denominada pelo poeta brasileiro Olavo Bilac de “úl- tima flor do Lácio”, ou seja, o últi- mo idioma que nasceu do latim. E “inculta” porque é uma variação do latim vulgar - não clássico - falado na época. Foto: http://caiohostilio.com/ O português é resultado da transformação do latim vulgar (uma das variantes da lín- gua romana) e do galego (falado na província da Galícia - hoje em território espanhol). Essas línguas sofreram muitas transformações ao longo do tempo, e só no século XIII foi publicado o primeiro texto mais próximo do que hoje consideramos a língua por- tuguesa. Na história da humanidade, os colonizadores geralmente utilizavam a própria lińgua como instrumento de dominação. Segundo Terciotti (2016), Os romanos, por exemplo, sempre que dominavam uma nova região, impunham sua lińgua — o latim vulgar, falado pelo povo e pelos solda- dos — e, por meio das academias militares e escolas, procuravam fazer que o povo dominado adotasse o latim vulgar como lińgua oficial. No entanto, com esse contato, as duas lińguas sofriam modificações (...). Isso levou à formação de uma terceira lińgua que, com o fim do Im- pério Romano, acabou por tornar-se autônoma e independente. Veja algumas palavras em diferentes idiomas que vieram do latim: 7 Latim Português Italiano Francês Romeno Castelhano aquam água acqua eau apa aguá legem lei legge loi lege ley populum povo populo peuple popor pueblo noctem noite notte nuit noopte noche salem sal sale sel sare sal Fonte: arquivo pessoal Mas por que, apesar de derivarem do latim, as lińguas neolatinas (português, espanhol, galego, italiano, francês e romeno) são tão diferentes entre si? Isso se dá ao fato de o latim ter se modificado durante o periódo de dominação do Império Romano, fazendo que o latim vulgar imposto aos povos da primeira região colonizada fosse muito diferen- te da lińgua imposta aos povos da última região colonizada e - e com o português não foi diferente. Ao longo dos séculos, o idioma falado no Brasil (após a colonização) sofreu ainda várias influências, como as dos povos indígenas que aqui estavam e dos africanos, trazi- dos como escravos. Mas imagine que quando o Brasil foi descoberto pelos portugueses, havia mais de 1.000 línguas no país, faladas por índios de diversas etnias. Para estabe- lecer uma comunicação com os nativos, os portugueses foram aprendendo os dialetos e idiomas indígenas. (TERSARIOL, 1970). A partir da segunda metade do século XVIII o portu- guês começa a predominar em relação à língua dos indígenas e dos africanos, e o crescente número de falantes do português começa a tornar o bilinguis- mo das famílias portuguesas no país cada vez me- nor. Em 17 de agosto de 1758, a língua portuguesa se torna idioma oficial do Brasil por meio de um decreto do Marquês de Pombal, e no ano seguinte, os jesuítas, que haviam catequizado os índios e pro- duzido literatura em língua indígena, foram expul- sos do país por Pombal. Diplomata Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal A essa altura, o português já havia tido a evolução natural que sofre toda língua no de- correr do tempo e apresentava peculiaridades em sua fala, como a generalização do uso da forma de tratamento que até hoje se mantém no Brasil, mas que em Portugal era empregadaapenas familiarmente: o “você”, redução de “vosmecê”, que por sua vez vem de “vossa mercê”. Sobre o multiculturalismo responsável pelas transformações no português, Câmara Jr. (1979) diz: Após a independência do Brasil, o tráfico de escravos diminui até ces- sar por volta de 1850. Novos imigrantes europeus tais como alemães e italianos chegaram ao país. O novo contato do português brasileiro com outras línguas foi um dos fatores que gerou as diversas varie- dades regionais existentes hoje no Brasil. A discussão sobre as dis- 8 tinções entre a fala de Portugal e a do Brasil se mantêm até hoje. O brasileiro incorporou empréstimos de termos não só das línguas indí- genas e africanas, mas do francês, do espanhol, do italiano e mais re- centemente do inglês, devido ao avanço das tecnologias, computação e cultura. (grifo nosso). A Língua Portuguesa no mundo hoje Sabia que aqueles que falam a língua portuguesa são chamados de “lusófonos” (luso = de Portugal; “fono” = fala)? E que 250 milhões de pessoas falam o idioma português hoje no mundo? Na verdade, segundo dados do Governo do Brasil (2012), o português é a oitava lín- gua mais falada no mundo e a terceira entre os países ocidentais, atrás apenas do inglês e do espanhol. Cerca de 250 milhões de pessoas se comunicam por meio deste idioma, adotado oficialmente em oito países: Angola, Moçambique, Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau, Timor Leste - além de Macau. Além disso, o português é uma das línguas oficiais da União Europeia desde que Portu- gal passou a integrar o grupo, em 1986. ISTO ESTÁ NA REDE Assista a uma videoaula sobre a influência da língua portuguesa sobre outros idiomas e sua importância no mundo: https://www.youtube.com/watch?v=o9RotGIEvXk Embora predominante, o português falado no Brasil varia conforme a região e a locali- dade, e prova disso são os diferentes sotaques encontrados no nosso país. Outro aspecto relevante é que, embora a língua portuguesa seja a oficial, ela não é a úni- ca: pesquisadores calculam que, além dela, ainda existam pelo menos 180 línguas indígenas no Brasil. A elas se somam as línguas alócto- nes (de descendentes de imigrantes), línguas crioulas, práticas linguísticas diferenciadas dos quilombos e a língua brasileira de sinais (Libras). Ou seja, vendo por essa perspectiva, o Brasil pode ser considerado um país multilíngue! Nos últimos anos, ações no campo das políticas públicas procuraram resgatar e preservar essas línguas. Na educação, a implementação da educação escolar indígena bilíngue tem colaborado para a preservação de línguas indígenas. Outra iniciativa relevante foi a inclusão, no Censo Populacio- nal, de uma pergunta para identificar a língua falada pelas pes- soas que se autodeclaram indígenas. Tudo isso serve para que a população não perca suas raízes Fonte: arq uivo pess oal 9 Uma medida visando à preservação e unificação do português que causou e ainda cau- sa polêmica foi o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que prevê a padronização da escrita entre os oito países que têm a língua portuguesa como oficial e integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o objetivo de ampliar o inter- câmbio cultural e científico. Você já a estudou? Está por dentro das novas regras? Pois adiante teremos uma aula explicando as mudanças na ortografia depois de firmado o acordo em 2009 e o fim do seu período de adaptação em 2014. ISTO ESTÁ NA REDE Todos os sotaques da língua portuguesa Sabia que existe o Dia Internacional da Língua Portuguesa? É dia 5 de maio, comemorado anualmente entre os países lusófonos. A data celebra a im- portância cultural e histórica da língua portuguesa para toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, e em 2018, a fim de celebrar o dia, o diretor Miguel Gonçalves Mendes produziu o vídeo “Sotaques” a partir da leitura do livro infantil de Valter Hugo Mãe “O paraíso são os outros”. Nele, percebemos a beleza dos vários sotaques da língua portuguesa, lem- brando que não existe um jeito certo de se falar o português mesmo dentro do Brasil. Confira: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/05/videos/1494013953_142270.html BREVE HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO A marca de uma mão humana de cerca de 30 mil anos atrás, na parede na caverna de Chauvet-Pont-d’Arc, no sul da França. Alguém tentou dizer “Estive aqui!”. Fonte: Harari, 2018. 10 Comunicação, segundo Bordenave (1996), é basicamente o ato pelo qual as pessoas se relacionam e transformam a si e a realidade em que vivem, e é um dos fenômenos mais importantes da espécie humana. Para compreendê-lo, é preciso voltar no tempo, buscar as origens da fala e do desenvolvimento das linguagens, além de verificar como e por que ele se modificou ao longo da história. Você consegue imaginar como era a comunicação nos tempos dos homens da ca- verna, nos primórdios da existência do homo sapiens? Até hoje os estudiosos buscam chegar a uma conclusão definitiva sobre como os homens primitivos começaram a se comunicar entre si, se foi por gritos ou grunhidos, por gestos ou pela combinação de ambos. De qualquer forma, para Bordenave (1996), o homem chegou a misturar dos sons e gestos para descrever um objeto, uma situação, um lugar, etc. À medida que o homem foi combinando um som e um gesto ou um desenho para designar alguma coisa, surgiu a necessidade de organizar essas combinações, pois se usados de forma desordenada, a comunicação se tornaria difícil - e foi essa situação que deu origem à linguagem. ANOTE ISSO Um exemplo para explicar a organização linguística é a gramática: um con- junto de regras que organiza e relaciona os signos (sons, palavras, significa- dos, etc.) entre si. Se não existisse essa forma organizada de expressão e cada um ordenasse os signos da forma que bem entendesse, poderia acon- tecer de uma pessoa dizer: “O menino beijou a menina”, enquanto outra po- deria dizer “Beijou menino o menina a” para falar da mesma situação. Aqui, o significado já não depende somente das palavras, mas sim da estrutura e da sequência direcionada pelas regras gramaticais. Com o passar do tempo, a comunicação foi ganhando traços mais evoluídos e ficando mais clara. Os sumérios foram os primeiros a usar a escrita, conhecida como sistema pictográfico, que data de 8.000 anos a.C. aproximadamente. Tábula de argila com escrita pictográfica, a mais antiga conhecida pela humanidade. Fonte: https://www.estudopratico.com.br/escrita-cuneiforme/ 11 A princípio, o homem contava os acontecimentos na mesma ordem em que eles acon- teciam: um caçador descrevia sua rotina na mesma sequencia dos fatos. Quando pega- va um instrumento usado como arma, enfrentava um animal, matava-o e comia-o, ele desenhava os pictogramas nessa ordem. ISTO ESTÁ NA REDE Disponibilizados na Plataforma do Letramento, dois minidocumentários do MEC abordam a construção da escrita ao longo da história, desde os sis- temas de escrita pictográficos egípcio, sumério e cretense, passando pelos ideogramas chineses e japoneses, até o primeiro alfabeto, desenvolvido pe- los gregos por volta de 800 a.C. Vale a pena assistir! Vá lá: http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-para-aprofun- dar/348/a-construcao-da-escrita.html Da Pré-história à História Certamente, ao longo de suas experiências escolares e pessoais, em algum momento foi preciso que você traçasse mentalmente uma linha cronológica do que foi a pré-história e o que veio depois dela até os dias atuais. Todas as datas conhecidas sobre a evolução da comunicação são datas presumidas, sem muita exatidão, mas é necessário afirmar que ela acompanhou a evolução biológica da humanidade. Para ficar mais fácil a nossa compreensão, fez-se a divisão da evolução em Pré-História e História. Inclusive, pré-história é considerada toda forma de civilização anterior à invenção da escrita e data aproximadamente de 500.000 a.C. Segundo Harari (2018), foi nessa época que surgiram osneandertais, onde hoje seriam a Europa e o Oriente Médio. A transição da Pré-história para a História acontece no final da Idade dos Metais, que foi por volta de 4.000 A.C e assim denominada porque foi quando o homem começou a utilizar cobre, ferro e bronze no seu dia a dia. Nessa época, os egípcios criaram a escrita hieróglifa. 12 ANOTE ISSO A história da escrita sempre despertou o fascínio dos homens. Antes que a tecnologia ocidental de impressão surgisse para disseminar os textos, as có- pias manuscritas circulavam entre os poucos que decifravam seus códigos. Briggs e Burke (2004) contam que, nas expedições que fazia, Alexandre, o Grande, carregava consigo a Ilíada de Homero, um dos dois principais poe- mas épicos da Grécia Antiga, e uma biblioteca com cerca de meio milhão de manuscritos foi erguida na cidade que levou seu nome, Alexandria. PERLES, J.B. Comunicação: conceitos, fundamentos e história. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/perles-joao-comunicacao-conceitos-fun- damentos-historia.pdf. Acesso em 01 fev. 2018. Papiro egípcio Fonte: pixabay. Paralelamente à evolução da linguagem, desenvolveram-se também os meios de co- municação. Hoje, na História Moderna - também chamada de Era Atual -, temos ar- quivos que registram os acontecimentos. Se o surgimento da escrita marca o início da história, a invenção da técnica de imprimir ilustrações, símbolos e a própria escrita foi a possibilidade de tornar a informação acessível a um número cada vez maior de pessoas, mudando assim o modo de viver e de pensar de uma sociedade. 13 Em 1455, temos na invenção da imprensa um dos maiores avanços e contribuições para a comunicação no mundo moderno. A tipografia permitiu que os textos, antes escritos à mão, fossem impressos a partir da elaboração de letras móveis produzidas em cobre e colocadas em uma base de chumbo onde recebiam a tinta e eram prensadas no papel. Dessa maneira, a “imprensa”, como ficou conhecida a invenção do alemão Johannes Gutenberg, passou a influenciar a produção e divulgação de conhecimento e a contri- buir para um maior desenvolvimento da produção literária e de informações em geral na Europa e no mundo. Os tipos - letras - da prensa de Gutenberg Depois da imprensa, acompanhe as principais invenções a favor da comunicação: - JORNAL - O primeiro exem- plar data de 59 a.C., em Roma, quando Julio César quis in- formar o povo sobre os mais importantes acontecimentos sociais e políticos do seu império. Até hoje, tem pratica- mente a mesma função. - RÁDIO- Com sua primeira transmissão datada de 1900, foi um marco na história, pois ao contrário do jornal, as ondas do rádio tinham um alcance de pessoas e velocidade e informação muito superiores. - TELEVISÃO - Em 1924, era a junção dos com- ponentes gráficos (imagens e figuras) de um jornal com os componentes de áudio do rádio (a fala), o que tornou possível ver ima- gens em movimen- to juntamente com o áudio. - INTERNET - Desenvolvida em 1969 nos EUA para fins de comuni- cação militar, e tinha o nome de ArpaNet. Com o fim da Guerra Fria, o sistema tornou-se praticamente desnecessário para fins militares e o Exército decidiu levá-lo a público. Elaborado pela autora 14 Fazendo um resumo, vê-se um processo crescente em que o homem desenvolveu a linguagem, depois dos desenhos nas cavernas, com a escrita, o papel, as impressões manuais e as mecânicas, sendo assim possível a informação cruzar grandes distâncias geográficas, culturais e cronológicas. Passamos pelos meios de comunicação como jornais e revistas, rádio e televisão, e chegamos à nossa época, que podemos chamar de Era da Tecnologia e da Informação. Na era da tecnologia, o computador é o carro-chefe. Quando foi desenvolvido em 1943, era uma máquina gigantesca que ocupava uma sala inteira e só servia para fazer cálcu- los, até 1971, quando surgiu nos EUA o primeiro microcomputador. Andando lado a lado com a evolução dos computadores, está a Internet, que nem sempre foi da maneira que a conhecemos: na verdade, ela foi desenvolvida para fins mi- litares e não passava de um sistema de comunicação entre as bases militares dos EUA. Em 1971, a até então chamada ArpaNet passou a ser usada por acadêmicos e professores universitários, principalmente nos EUA, pela qual trocavam ideias e mensagens, e então recebeu o nome de Internet. A disseminação e a popularização da rede no Brasil aconte- ceram no final da década de 1990, e aos poucos foi se tornando aquilo que conhecemos hoje: indispensável para a nossa vida, pois estar conectado à rede mundial é uma fonte de conhecimento, interatividade, diversão e, acima de tudo, de comunicação. AULA 02 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO 16 “Se você falar com um homem em uma linguagem que ele com- preende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração.” - Nelson Mandela No mundo moderno e tecnológico, a palavra comunicação tornou-se chave na observa- ção das relações humanas e no comportamento individual e coletivo. De acordo com Martins e Zilberknop (2010), comunicar é buscar entendimento e compreensão; é manter contato. “É uma ligação, transmissão de sentimentos e de ideias.” Por isso, comunicar-se bem não significa apenas falar bonito, mas ser eficiente no momento de transmitir mensagens, isto é, fazer com que elas alcancem os objetivos propostos pelo emissor. Nesse sentido, comunicamos eficientemente quando o re- ceptor compreende a mensagem segundo os objetivos daquele que a produz. E é por meio da linguagem que o homem se comunica, que transmite seus senti- mentos e ideias para a sociedade. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Quando falamos em linguagem, não estamos falando apenas da linguagem escrita e do português padrão, correto e formal. A comunicação utiliza vá- rios tipos de linguagens tais como a linguagem corporal, o tom de voz, os símbolos, as cores, etc. Além dos diferentes tipos de linguagens, devemos considerar a diversidade de contextos sociais e indivíduos culturais diferen- tes entre si. O diálogo realizado entre amigos no final da tarde em um happy hour não é o mesmo diálogo realizado pelos colegas dentro da empresa ou em uma reunião com a diretoria. Todos os lugares possuem suas regras próprias, inclusive os locais considerados informais. Ninguém chega à casa de um amigo e vai entrando no quarto sem pedir licença. Assim, acontece com a linguagem. 17 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Um dos primeiros estudiosos a considerar quais elementos são necessários para que uma comunicação eficaz aconteça foi Roman Jakobson (1986-1982). Para esse linguista russo, há basicamente seis funções determinadas de acordo com o elemento em que a ênfase da mensagem recai. Veja o esquema: Fonte: arquivo pessoal Cada um desses elementos é responsável por tornar a comunicação eficaz. Se um deles não existe ou falha, acontece o chamado “ruído” na comunicação, ou seja, a mensagem não acontece totalmente. Vamos a cada um deles: • EMISSOR: é aquele que envia a mensagem. Pode ser uma pessoa, uma empresa, uma equipe, etc. Nem sempre é uma única pessoa a responsável pela transmissão de uma mensagem. • MENSAGEM: é o conteúdo informativo enviado de um emissor para um receptor. • RECEPTOR: é aquele que recebe a mensagem enviada pelo emissor. • CANAL DA COMUNICAÇÃO: é qualquer meio pelo qual a mensagem é enviada. Pode ser a voz, celular, computador, livro, propaganda, gestos, outdoor, etc. • CÓDIGO: é a língua em que a mensagem é escrita ou falada. • CONTEXTO: é a situação em que ocorre o processo comunicativo: fatores sociais, políticos, emocionais, situações de relacionamento, fatores culturais, religiosos, etc. Falaremos mais sobre o contexto em outra aula deste material. Para ilustrar onde entra cada um desses elementos, imagine uma situação comum do cotidiano: Janaína quer lembrar o esposo, Roberto, de algo que ela disse a ele no café da manhã, antes de saírem para trabalhar:“Amor, não se esqueça de trazer um suco para o jantar, tá?” Ela, então, envia uma mensagem de texto pelo WhatsApp reforçando que ele pare em um supermercado depois do trabalho e compre o suco. Roberto responde a mensagem e logo chega em casa com uma caixa de suco de- baixo do braço. Mas tem algo errado: ele comprou suco de laranja, e Janaína queria suco de uva. 18 Nesse exemplo, temos o esquema: Remetente: Janaína Contexto: familiar/cotidiano Canal de comunicação: celular/WhatsApp Código: idioma/português Mensagem: “Não se esqueça do suco!” Continuando nossa historinha: No supermercado, Roberto tira uma foto da caixa de suco, envia para Janaína e vai para casa. No entanto, por algum motivo, a mensagem com a foto não chegou e Janaína não viu que ele iria levar suco de laranja, e não de uva. Será que rolou uma “DR” ou o jantar seguiu em paz? :D Assim, o processo de comunicação não foi totalmente satisfatório nesse caso porque houve uma falha em um dos elementos - no canal, na hora de enviar a foto - e a mensa- gem não foi recebida. A essa falha dá-se o nome de ruído. Ruído: fotografia não enviada/não recebida ANOTE ISSO O QUE É RUÍDO NA COMUNICAÇÃO? Uma comunicação só é efetivamente realizada quando há compreensão por parte do interlocutor. Sem que haja a recepção, uma mensagem emitida de nada serve. A isso se chama ruído na comunicação. Este ruído ocorre quando a mensagem não é decodificada corretamente pelo receptor. São vários os fatores que podem atrapalhar na identificação dos elementos da comunicação. Desde a voz baixa do locutor até o barulho de um ambien- te ou ainda um código de signos desconhecidos pelo receptor. Fonte: CEGALLA, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48. ed. São Paulo: Editora Nacional, 2008. Em suma, comunicar-se bem é apresentar eficiência na transmissão das mensagens, isto é, fazer com que elas alcancem os objetivos propostos pelo emissor. Nesse sentido, comunicamos eficientemente quando o receptor compreende a mensagem segundo os objetivos daquele que a produz. Para tanto, é necessário ser o mais claro e objetivo dentro do processo comunicativo para que o receptor compreenda e responda aos objetivos do emissor de modo positivo. 19 LINGUAGEM E SOCIEDADE “Quem não se comunica se trumbica” - Chacrinha, comunicador Estimado aluno, pense nas seguintes questões: • Por que o homem se comunica? • O jeito que um grupo ou indivíduo se comunica tem a ver com o meio social em que vive? • Comunicar-se é essencial para a vida ou é possível “existir” sem ter contato com a escrita, a fala e o contato social? • Você se lembra de como “se tornou gente”? Agora pense em sua casa, seu bairro, sua escola, sua turma. Esses certamente foram os primeiros meios sociais em que você viveu, e a comunicação foi o canal pelo qual sua cultura foi transmitida a você. Foi usando a linguagem, falando e ouvindo, escrevendo e lendo, que você aprendeu a ser membro de sociedade (BORDENAVE apud INFANTE, 1998), que adotou seu modo de pensar e de agir, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Não foram os professo- res na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos e amigos, na rua, no ônibus, no jogo, no bar e na igreja que lhe transmitiu, ainda criança, as qualidades essenciais para viver em sociedade e ser cidadão. Utilizar bem a linguagem e a interpretação vai muito além do que apenas falar ou escrever: é fazer parte de grupos sociais, ascender pessoal e profissionalmente, adquirir e compartilhar conhecimento. A comunicação confunde-se com nossa própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos sua importância quando, por um acidente ou doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Você sabia que pessoas que foram impedidas de se co- municar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura? 20 Bordenave (1986) traduz em exemplos do dia a dia a importância da linguagem e da comunicação em diferentes contextos: “Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um ho- mem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é sim- plesmente inacreditável, desde o ‘bom dia’ à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relató- rios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: ‘boa noite’.” (Bordenave, 1986) Assim, vale ressaltar a importância de estar atento ao modo como nos comunicamos nos diferentes meios que convivemos. É fato que ninguém usa o mesmo linguajar, as mesmas palavras, postura e tom de voz quando conversa com os amigos em uma festa e quando trata com o patrão no ambiente de trabalho. São contextos díspares que exi- gem uma percepção e uma fala para cada um deles. Misturá-los é perigoso, causa uma impressão errada e pode até lhe retirar de algum meio de convívio social. ISTO ESTÁ NA REDE No filme “O Náufrago”, de Robert Zemeckis, Chuck Noland (Tom Hanks) fica sozinho em uma ilha deserta depois de um desastre de avião. A certa altura da trama, ele “faz amizade” com uma bola de vôlei, à qual ele chama de Wil- son - a marca da bola. À primeira impressão, o espectador pode achar que Chuck ficou louco por conversar e dedicar sentimentos a uma bola, mas o que se percebe é o contrário: ele sabe que ficará louco se não socializar com alguém na ilha. Logo, conversa com um objeto e a ele atribui características humanas para evitar ir à loucura enquanto está sozinho. Leia um artigo sobre as teorias da comunicação do filme em https://www. sosestudante.com/biblioteca/diversos/o-naufrago-e-as-terorias-da-comu- nicacao.html A linguagem e os grupos sociais Considerando o grupo social do qual o sujeito faz parte, ele passa a dominar determina- do tipo de vocabulário e expressões que não são compreendidos dentro de outro grupo social. É o caso dos diferentes jargões utilizados em discursos jurídicos, médicos, pre- sidiários, cantores, jogadores de futebol, chefes de cozinha, etc. Cada grupo específico possui palavras que são frequentemente utilizadas em seu dia a dia, mas que dificil- mente são compreendidas dentro de outro grupo social. 21 ---- GÍRIA x JARGÃO ---- A gíria teve sua origem na maneira de falar de grupos marginalizados que não que- riam ser entendidos por quem não pertencesse ao grupo. Hoje, entende-se a gíria como uma linguagem específica de grupos específicos, como os jovens. Já o jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc. Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-mudacon- forme-situacao.htm Conceitualizando, Araújo e Sousa (s/d) nos dizem que (...) gíria é o tipo de linguagem que surge restrita a um determinado grupo, como um código, que com o passar dos tempos invade a socie- dade sendo utilizada pelas pessoas até de forma inconsciente, inde- pendentemente da idade ou nível social da qual fazem parte, tornando o seu uso muito frequente em qualquer situação de interação. Na prática, sabemos que a gíria é uma fala informal, que varia conforme o grupo e a épo- ca. Você se lembra das gírias que falava quando criança? São as mesmas que os jovens falam hoje? Certamente a resposta é não. Caso alguém leia este mesmo material em 2030, por exemplo, as gírias atuais aqui expostas já seriamultrapassadas. E quem cria as gírias? - Nós mesmos, os próprios falantes de uma língua, e elas po- dem surgir nas mais diversas situações tais como contextos culturais, de entretenimen- to, na internet, na rua, em um vídeo que viraliza... Gírias atuais: 22 Gírias da década de 1980: Fonte: arquivo pessoal Quanto ao jargão, é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc. Conceitualizando, para Dino Preti, professor titular de língua portuguesa da PUC-SP, jar- gão é a “linguagem científica ou técnica banalizada”. Por definição, é uma forma de falar inadequada à situação. “A pessoa quer se promover, mostrar que fala uma linguagem que o outro desconhece, o que disfarça uma ignorância.” Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u468.shtml 23 Na prática, imagine que você foi a um hospital e ouviu um médico conversando com outro. A certa altura, um deles disse: Em relação à dona Ana, o prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio. É provável que você tenha levado algum tempo até entender o que o médico falou. Isso por- que ele utilizou, com seu colega de trabalho, termos com os quais os dois estão acostumados. Com a paciente, o médico deveria falar de uma maneira mais simples. Assim: Bem, dona Ana, a senhora pode parar de tomar o remédio, sem problemas. No livro “Línguas e Jargões” (Editora Unesp, 1996), o historiador Peter Burke explica como o conceito sofreu alterações desde a Idade Média. No início, a palavra descrevia o gorjeio das aves e também a fala incompreensível, um gargarejo: “jargon”, em francês, e “gar- gle”, em inglês, saem da mesma raiz. Ao se espalhar de uma língua para outra, o termo ganhou o sentido de gíria de submundo e só passou a designar as linguagens técnicas a partir do século 19, com o surgimento de profissões, quando grupos de novos espe- cialistas começaram a marcar seus territórios temáticos, criando jeitos próprios de falar. Considerando todos os exemplos apresentados, é importante levar em conta o am- biente e a situação em que estamos para saber utilizar a língua de modo adequado. Desta forma, é possível estabelecer uma comunicação eficaz, alcançando o objetivo por parte do emissor e, ao mesmo tempo, a compreensão por parte do receptor. Cada pessoa e grupo social possui uma maneira própria de falar, criando suas pró- prias marcas linguísticas. Tais marcas produzem uma variedade não apenas no âmbito geográfico, mas também no âmbito profissional. Em suma, a língua varia de acordo com os elementos regionais, socioculturais e contextuais, conceitos que veremos mais adiante neste curso. 24 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Você deve estar se perguntando: mas então eu nunca posso considerar a gíria como um termo usado em um ambiente não tão formal nem tão infor- mal? Pode! Apresento alguns de tantos exemplos de “gírias já dicionarizadas”, ou seja, verbetes registrados como linguagem informal no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), mas que, estando no dicionário, podem ser consi- derados domínio não só de um grupo minorizado, mas da população falante de um idioma em geral, pois resistiram ao tempo e ao contexto no qual fo- ram criados. Abacaxi = trabalho complicado, difícil de ser feito; coisa intrincada; problema Amarelar = perder a coragem diante de uma situação difícil, perigosa, embaraçosa, etc. Bafafá = 1 conflito entre muitas pessoas; rolo 2 desordem barulhenta; confusão Barbeiro = 11 motorista ou qualquer profissional descuidado, imperito ou incompetente na realização de seu trabalho Boiar = não perceber ou não entender (algo) <nessa eles boiaram> Duro = sem dinheiro Frouxo = que ou aquele que é covarde; medroso Galho = emprego ou ocupação subsidiária; biscate 6 situação difícil; complicação <há um g. que teremos que enfrentar> 7 falta de entendimento; confusão, briga <aquele recado do vizinho provocou um g. danado> 8 relação extraconjugal <há anos tem um g. com a secretária>”. Gringo = infrm. pej. indivíduo estrangeiro Lelé = que ou aquele que age insensatamente, apresentando sinais de loucura; doido) Nanico = que ou aquele que tem a aparência, a estatura de um anão 3 pequeno, de pouca expressão <empresa n.>”. Natureba = diz-se de ou praticante ou defensor da alimentação natural Patavina = coisa alguma; nada <não aprendi p. do que você disse>”. Porre = estado de bêbado; bebedeira, embriaguez p.ext. aquilo que é tedioso, chato Quadrado = diz-se de ou pessoa antiquada, retrógrada, de mentalidade pouco evoluída Sacoleiro = diz-se de ou pessoa que se dedica à venda domiciliar ou em locais de tra- balho de mercadorias ger. populares, como roupas, bijuterias e produtos eletrônicos Trouxa = que ou quem é facilmente iludido ou ludibriado; tolo Xilindró = cadeia Fonte: Revista Eletrônica de Linguística (http://www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem) Volume 5, - n° 1 - 2011 Segundo a norma culta, não se deve usar “falar no telefone”e sim “FALAR AO TELEFONE.” Fonte: adaptado de @linguaportuguesa_ AULA 03 TIPOS DE LINGUAGEM E VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 26 “Nenhuma língua humana fica parada no tempo. A mudança linguística é da própria natureza das línguas” - Carlos Alberto Faraco, linguista. Nos espaços sociais em que vivemos, temos a oportunidade de encontrar diversas for- mas de linguagem escolhidas dependendo da intenção do emissor. Vejamos algumas informações sobre as características e os aspectos mais relevantes que demarcam as formas de linguagem, sejam elas no plano verbal ou no plano não verbal. No instante em que você põe os olhos em um texto, você o lê. Por que você o leu? Porque, a partir do momento que você se alfabetizou, torna-se um ato instintivo, auto- mático. Placas, sinais, filmes, livros, bilhetes, posts, todas essas manifestações só existem porque existe a linguagem aprendida. Já vimos nas aulas anteriores que a linguagem está diretamente relacionada à práti- ca social. Ela é viva e dinâmica, e tanto modifica a sociedade quanto é por ela modifica- da. Nos estudos sobre o assunto, a linguagem é abordada e entendida a partir de três vertentes, e a prática social é uma delas: A linguagem é algo externo ao sujeito A linguagem é uma capacidade inerente ao ser humano A linguagem é uma prática social É um conjunto de regras e formas aprendidas, e só existe comunica- ção se o emissor e o receptor divi- direm o mesmo código. Ela se faz na vida do ser humano a partir em que seu cérebro e corpo começam a ficar suficientemente maduros para isso. Ela surge da necessidade do ho- mem de viver em grupos sociais e de realizar trocas com os inte- grantes desses grupos. Fonte: adaptado de Mendonça, 2012. LINGUAGEM Linguagem verbal Quando conversamos com alguém ou lemos um texto, estamos utilizando a palavra como código. Quando alguém escreve um e-mail ou uma mensagem no WhatsApp, por exemplo, está usando a linguagem verbal, ou seja, está transmitindo informações através das palavras. 27 Esse tipo de linguagem é conhecido como linguagem verbal, pois a palavra - escri- ta ou falada - é a forma pela qual nos comunicamos. É certamente a linguagem mais comum no nosso dia a dia e deve ser trabalhada para que a usemos corretamente nas diferentes situações exigidas. Linguagem não verbal Ao contrário da linguagem verbal, a linguagem não verbal não utiliza palavras, pois o código utilizado é um símbolo. Nessa forma de comunicação, o objetivo não é de expor verbalmente o que se quer dizer ou o que se está pensando, mas de se utilizar de outros meios comunicativos tais como figuras, placas, gestos, objetos, cores - ou seja, os signos visuais. Por exemplo: um jogo de futebol só acaba quando o juiz apita e um motorista só para no sinal quando ele está vermelho. Ninguém deu ordem para parar, mas, como se co- nhece a simbologia utilizada, apenas o apito e o sinal da luz vermelha já são suficientes paracompreender a mensagem. Portanto, a linguagem não verbal é construída a partir de símbolos não verbais como imagens e cores. Linguagem mista ou híbrida Como o próprio nome diz, a linguagem mista (ou híbrida) é o uso simultâneo da lingua- gem verbal e da linguagem não verbal por meio de palavras escritas e figuras ao mesmo tempo. As histórias em quadrinhos, as charges e os outdoors são um exemplo deste tipo de linguagem, já que integram simultaneamente imagens, símbolos e diálogos. VERBAL NÃO VERBAL MISTA OU HIBRÍDA É PROIBIDO FUMAR NESTE LOCAL PROIBIDO FUMAR Fonte das imagens: https://www.todamateria.com.br/linguagem-verbal-e-nao-verbal/ ISTO ESTÁ NA REDE Sabia que a Libras, a Língua Brasileira de sinais, não é uma linguagem, mas uma língua; um idioma oficial do nosso país? Leia o decreto que regulamenta a Libras e sua inserção como disciplina cur- ricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm Conheça a origem da Libras no Brasil: http://blog.handtalk.me/historia-lingua-de-sinais/ 28 Linguagem Formal e Informal Fonte: arquivo pessoal A linguagem formal é baseada na norma culta, que é o modelo de padrões linguísticos que determinam seu uso correto. Em outras palavras, é aquela linguagem sem erros e gírias, utilizada em livros, revistas, documentos oficiais, etc. Como podemos ver, a lin- guagem formal é voltada principalmente para a comunicação escrita e vai de acordo com a gramática vigente. Por outro lado, quando conversamos espontaneamente e fazemos o uso de gírias e formas reduzidas tais como “cê” (você), “tai” (está aí), “pra” (para), por exemplo, temos a linguagem informal. Neste caso, nos comunicamos principalmente por meio da fala e de maneira coloquial. Um famoso exemplo da diferença existente entre tais é o poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade. Veja: PRONOMINAIS Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. O primeiro verso foi escrito de acordo com a norma culta, logo, em uma linguagem for- mal, pois o verbo (dar) vem antes do pronome (me). A gramática diz que o pronome (no caso “me”) nunca deve vir antes do verbo em começo de frase. No último verso, já ocorre o contrário: o pronome (me) vem antes do verbo (dar), representando assim a forma como falamos e também a linguagem informal. Mas não podemos dizer que se trata de uma forma errada: é somente inadequada em ocasiões e discursos formais. Resumindo: 29 LINGUAGEM FORMAL • Preserva as convenções gramaticais e sempre respeitando a norma culta da lín- gua portuguesa. • É utilizada para comunicação com autoridades e superiores em organizações, em conferências, palestras e seminários, documentos oficiais e discursos públicos. • Envolve a comunicação entre pessoas que não se conhecem ou possuem pouca ou quase nenhuma afinidade. • Também chamada de norma culta ou padrão. LINGUAGEM INFORMAL • Preza pela descontração e pelo relaxamento quanto às regras gramaticais. • Permite o uso de palavras mais simples, abreviadas e até gírias. • É muito utilizada na comunicação entre amigos, colegas, familiares e pessoas com alto grau de envolvimento e relacionamento. • Também chamada de linguagem coloquial. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Existem diferentes situações de comunicação. Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação for- mal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes isso não acontece conosco no cotidiano? Na família e com amigos fa- lamos de uma forma, mas numa entrevista para procurar emprego é muito diferente. O sucesso da comunicação não depende apenas de saber utilizar os ele- mentos do processo comunicativo. É preciso que o emissor considere, antes de qualquer coisa, quem é o seu público-alvo. Após estar ciente de quem receberá sua mensagem, o emissor deverá, então, adequar sua mensagem utilizando uma linguagem que atinja seu receptor da melhor forma. Para isso, é imprescindível levar em conta o contexto de comunicação, ou seja, se é um ambiente formal ou informal. Além disso, é importante compreender as expressões, gírias ou jargões específicos do público-alvo para que a co- municação flua da forma mais natural possível. VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Além do português padrão, há outras variedades que são usadas em situações informais diversas e diferentes de acordo com o contexto e sujeitos do processo comunicativo. Fatores tais como escolaridade, nível social, idade, região, etc. são responsáveis por de- terminado tipo de linguajar que pode ser discriminado inclusive dentro de situações informais. Infelizmente, a língua é vista como um status social e há muito preconceito em re- lação às pessoas que não sabem utilizar a norma padrão e culta da língua portuguesa, mas conhecer as variações linguísticas é importante justamente para combater esse preconceito. Leia o seguinte trecho: 30 ANTIGAMENTE Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimo- sas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arras- tando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. (...) Antigamente, acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Antigamente, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não mor- riam: descansavam. Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora. Carlos Drummond de Andrade, in: Quadrante (1962), obra coletiva. Reproduzida em Ca- minhos de João Brandão, José Olympio, 1970. É perceptível que nele existem expressões que já não usamos mais, tais como mademoi- selles, janotas, pé-de-alferes, balaio, botica, ceroulas, outrora. O texto de Drummond fala exatamente disso: de como se falava antigamente. Caso fôssemos adequá-las ao voca- bulário atual, como ficaria? Os termos em destaque seriam substituídos por “mina”, “ga- tinha”, “cantadas”, “da hora”, “os caras”, “a galera,” “farmácia”, “cuecas” e assim por diante. Fonte: arquivo pessoal Perceberam que a língua é dinâmica? Ela sofre transformações com o passar do tempo em virtude de vários fatores advindos da própria sociedade, que também é totalmente mutável. Ou seja: todo mundo tem seu jeito de falar, seja por história pessoal ou coletiva. O que vale lembrar é que não existe um certo ou um errado quando a questão é sotaque, por exemplo, ou vocabulário diferente de uma geração ou região para outra. Errado é o que não está de acordo com a gramática vigente. As diferentes formas de falar a língua portuguesa são chamadas de variações linguísticas. Segundo Moysés, “[...] o português, como qualquer outra língua, não é estático e imutável. Assim sendo, podemos dizer que uma língua não é uma unidade homo- gênea e uniforme. Ela poderia ser definida como um conjunto de varie- dades. É esta diversidade que faz surgir os níveis de linguagem que va- riam de acordo com o nível social, econômico, cultural e geográfico. No Brasil há uma grande variedade de pronúncia e vocabulário: há diferen- tes sotaques: o sotaque mineiro, o gaúcho, o nordestino, etc. Também no vocabulário observam-se diferenças entre regiões e também na fala de quem mora na capital e de quem vive na zona rural” (MOYSÉS, 2014). 31 Assim, vamos separar essas variações em: • variação histórica - a língua sofre variações devido ao tempo • variação regional - a língua sofre variações devido ao lugar em que o falante vive • variação regional - a língua sofre variações devido à condição e ao meio sociais do falante Variação Histórica É aquela que sofre transformações ao longo do tempo.Por exemplo, a palavra “você”, que no tempo do Brasil colônia era “vossa mercê” e depois virou “vosmecê”. O mesmo aconte- ce com as palavras escritas com PH, como era o caso de pharmácia, agora, farmácia. Propaganda veiculada nos anos de 1920. 32 Variação Regional São os chamados dialetos: as variações ocorridas de acordo com a cultura de uma deter- minada região como, por exemplo, a palavra mandioca, que em certas regiões é tratada por macaxeira e aipim; e abóbora, que é conhecida como jerimum. O sotaque também é uma variação regional, como em regiões que puxam o “r” ou ainda falam “tu” mesmo que não conjugue o verbo corretamente (tu é, tu vai, etc.). Fonte: arquivo pessoal 33 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Ao contrário do que muitos pensam, a pronúncia errada de palavras não tem a ver somente com o pouco grau de instrução do falante, mas principalmen- te com fatores relacionados à região e ao tipo de colonização que tal região sofreu. Por exemplo, o uso de “r” pelo “l” em final de sílaba (quando dizem “pranta, broco” ao invés de “planta, bloco”) tem influência dos imigrantes italianos, que não conseguiam pronunciar tais sílabas corretamente enquan- to aprendiam a língua portuguesa. Outros exemplos: • Alternância de “lh” e “i”: dizem muié, véio ao invés de mulher, velho. • Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: dizem “arve, figo” ao invés de “árvore, fígado”. • Redução dos ditongos: dizem “pexe, caxa” ao invés de “peixe, caixa”. • Simplificação da concordância: dizem “as menina” ao invés de “as meni- nas”. • Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: dizem “chegou duas moças” ao invés de “chegaram duas moças.” • Uso de pronome pessoal tônico em função de objeto: dizem “Nós pega- mos ele” ao invés de “Nós o pegamos”. • Assimilação do “ndo” em “no”: dizem “falano” ao invés de “falando”. • Assimilação do “mb” em “m”: dizem “tamém” ao invés de “também”. • Redução do “o” e do “e” átonos: dizem ovu, bebi ao invés de ovo, bebe; • Redução do R do infinitivo ou de substantivos terminados em OR: dizem amá, amô ao invés de amar, amor. • Simplificação da conjugação verbal: dizem “nós ama, eles ama” ao invés de “nós amamos, eles amam”. O chamado “caipira” pode ser um cidadão instruído, com estudo e hábitos sociais que o fazem escrever corretamente, mas ao voltar para sua cidade ou ter contato com pessoas de sua terra, invariavelmente voltam a falar errado. Fonte: NERY (2007). Fonte: https://www.iturrusgarai.com/ Vejamos a seguir um exemplo típico de variação regional, nas palavras do poeta Oswald de Andrade: 34 Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhado Oswald de Andrade. In: Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971 Variação Sociocultural É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso, podemos destacar as gírias, a linguagem coloquial usada no dia a dia das pessoas e a linguagem formal, que é aquela utilizada por pessoas com maior grau de instrução. Também fazem parte deste grupo os jargões, dos quais já falamos na Aula 2, que pertencem a uma classe profissional mais específica, como é o caso dos médicos, pro- fissionais da informática e policias, dentre outros. Fonte: arquivo pessoal Diante de tantas variantes linguísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta. Res- posta: não existe uma opção correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, falar bem significa se mostrar capaz de escolher a va- riante adequada a cada situação e conseguir o máximo de eficiência dentro da variante escolhida. Usar o português rígido, próprio da língua escrita formal, numa situação descontraí- da da comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos, fugir afinal das normas típicas dessa situação. 35 ISTO ESTÁ NA REDE Você já ouviu falar em preconceito linguístico? É aquele gerado pelas variações linguísticas existentes dentre de um mes- mo idioma e praticado por pessoas desinformadas que não aceitam essas diferenças. O fenômeno passou a ser debatido com mais amplitude, e o seu maior estudioso é o professor, sociolinguista e filólogo Marcos Bagno. Se- gundo ele, não existe uma forma “certa” ou “errada” dos usos da língua, e o preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada na gramática normativa), colabora com a prática da exclu- são social. Assista a uma ótima entrevista com Bagno sobre preconceito linguístico: https://www.youtube.com/watch?v=UbdSNWv9XDQ Ao observar as variações linguísticas, percebemos que elas não acontecem ao acaso, como se cada indivíduo falasse à sua maneira. Há algumas ideias importantes acerca disso: Nenhuma lín- gua é imutáv- el, toda língua se modifica com o passar do tempo O que é considerado padrão numa época pode ser ultra- passado em outra A língua pode variar em função: 1. Da identidade social do emissor 2. Da identidade social do receptor; 3. Das condições sociais de produção discursiva Fonte: adaptado de “A teoria bakhtiniana na concepção de linguagem atual”. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/a-teoria-bakhtiniana-na-concep- cao-de-linguagem-atual/58360. Acessado em 10 de fev. 2019. Dessa forma, o falante deve possuir alto grau de flexibilidade da língua para usá-la de acordo com o contexto, com seu interlocutor, com seu objetivo comunicativo, etc. Todos os falantes são capazes de adaptar seu estilo de fala à diversidade das circunstâncias sociais da interação verbal e de escolher quais formas são as mais apropriadas para o momento. A escola, seja qual for a etapa, deve proporcionar reflexões acerca dos variados usos da língua, sem apresentar a norma padrão como a única aceita. É dessa singularidade, ou melhor, é desse ensino plural que os estudantes poderão desenvolver suas compe- tências linguísticas para interagir em diferentes contextos de uso. O ensino da varieda- de padrão continua a ser dever da escola e um direito do aluno, mas não precisa ser substitutivo e, por isso, não implica a erradicação das variedades não padrões. AULA 04 LINGUAGEM CORPORAL E EXPRESSÃO ORAL 37 “Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.” - Machado de Assis LINGUAGEM CORPORAL Voltando à linguagem não verbal, devemos nos atentar para o fato de que assim como acontece com a linguagem verbal, a compreensão da linguagem corporal nos ajuda a entender melhor nosso semelhante e nos possibilita agir de maneira inteligente e res- peitosa, além de desenvolver um melhor relacionamento com as pessoas, seja no âmbi- to familiar, profissional ou social. Também, como na linguagem verbal, o corpo fornece pistas acerca da pessoa que você é - como pensa e vê o mundo. No ambiente profissional, por exemplo, a linguagem corporal é fortemente valori- zada, pois a importância dela para quem lida com um público reside no fato de muitas pessoas ficarem inseguranças ou relutarem em comunicar abertamente suas intenções. No entanto, é enfatizada também nesses contextos a necessidade de se levar em conta todo o contexto e o tipo de personalidade das pessoas e do público com quem você lida. Tim Connor, presidente do Connor Resource Group, traçou regras básicas ampla- mente aceitas de tipos comuns de comportamento humano no meio profissional e o que o cliente/paciente provavelmente está pensando ou sentindo: 38 Abertura • Mãos abertas • Tirar o casaco ou blazer • Aproximar-se • Inclinar-se para a frente • Descruzar as pernas • Braços cruzados suavemente sobre as pernas Entusiasmo • Pequenos sorrisos ou risadas • Corpo firme e ereto • Mãos abertas, braços estendidos, olhos alertas• Voz bem modulada e com energia Defesa • Corpo rígido • Braços/pernas cruzados fortemente • Contato visual reduzido • Lábios contraídos • Cabeça baixa, com queixo sobre o peito • Punhos cerrados • Dedos entrelaçados sobre braços cruzados • Jogar-se para trás na cadeira Alerta • Colocar as mãos sobre as coxas • Corpo relaxado, mas rosto alerta • Ficar em pé com mãos na cintura, pés levemente separados Avaliação • Cabeça levemente inclinada para o lado • Sentar na ponta da cadeira e inclinar-se para a frente • Mão na parte da frente do queixo ou na bochecha • Coçar o queixo Nervosismo • Limpar a garganta • Morder (lábios, unha, dedo, etc.) • Cobrir a boca quando fala • Puxar o lóbulo da orelha • Abrir os olhos • Caretas • Contorcer mãos ou lábios • Boca entreaberta • Brincar com objetos • Ficar trocando o peso de uma perna para a outra (quando em pé) • Tamborilar os dedos • Ficar mexendo o pé Rejeição ou dúvida • Coçar o nariz • Coçar os olhos 39 • Franzir o cenho • Pernas e braços cruzados • Corpo em posição de “fuga” • Limpar a garganta • Esfregar as mãos • Levantar as sobrancelhas Suspeita • Pouco contato visual • Resistência a olhar “olho no olho” • Ficar olhando para os lados ou por sobre o ombro • Coçar o nariz • Ficar olhando por sobre os óculos Confiança, autoridade • Jogar-se para trás na cadeira com as mãos atrás da cabeça • Postura orgulhosa • Cabeça alta, com queixo levantado • Contato visual firme, sem piscar Precisando ser reconfortado • Ficar beliscando a mão • Esfregar gentilmente um objeto pessoal (anel, relógio, etc.) • Roer unhas • Examinar as cutículas Frustração • Mãos apertadas firmemente • Balançar punhos fechados • Respiração curta, porém controlada • Olha ‘através’ de você • Passar as mãos no cabelo • Bater os pés no chão Chateado, indiferente • Mãos ‘segurando’ a cabeça • Olhos sonolentos • Postura relaxada demais (largada) • Ficar mexendo com pés, mãos, dedos • Balançar as pernas • Olhar vazio • Pouco contato visual • Boca “mole”. Fonte: adaptado de https://educandoatravesdalinguagem.blogspot.com/2012/08/o-corpo-fala- -entenda-seu-vocabulario.html?m=1 40 ANOTE ISSO A linguagem corporal é só uma parte da história. Você deve considerar também seu comportamento em geral, sua natureza e seu jeito de ser para transmitir mensagens e lidar com um público. E da próxima vez que alguém disser que ouvir é a parte mais importante das profissões que lidam com pessoas, lembre-se que o corpo também fala. Todo ser humano tem a capacidade de se comunicar, e saber ouvir é essencial. Mas por que existem tantas falhas e desencontros quando nos comunicamos? O ato de se comunicar é um processo complexo - seja verbalmente, pela escrita ou por gestos. Intencional e conscientemente ou não, a comunicação acontece. Até quan- do deixamos de falar, gesticular ou escrever, estamos nos comunicando; como dizem os vários provérbios: “Quem cala consente.”, “Poupa o teu tempo e também as tuas pala- vras.”, “Bom é saber calar até ser tempo de falar.”, “De calar ninguém se arrepende e de falar, sempre.”,”Uma imagem vale por mil palavras”. Prevenção de falhas ou ruídos Toda situação de comunicação está sujeita a falhas devido à presença de ruído ou in- terferência - todo e qualquer fator que interfira no processo de comunicação, como por exemplo, distrações físicas, erros gramaticais, diferenças culturais, etc. Cada um de nós processa informações de maneiras distintas. Assim, falhas na comunicação geram con- flitos, improdutividade, prejuízos e ressentimentos. Os ruídos na comunicação interna das empresas são erros bastante comuns no dia a dia profissional, porém, muito prejudiciais para a produtividade e bem-estar no am- biente corporativo. As falhas comunicacionais entre equipe, clientes e gestores, muitas vezes geradas por erros corriqueiros, podem resultar em retrabalho, atrasos em prazos e desentendimentos. Cada um tem uma maneira própria de se comunicar, mas algumas práticas simples podem ser adotadas para reduzir ao máximo a possibilidade de ruídos: 1. Documente os acordos – registre sempre por e-mail decisões acordadas em re- uniões presenciais, on-line ou por telefone. Não se esqueça de deixar claro quem ficou responsável por cada tarefa, datas de novas reuniões ou eventos e prazos estipulados. 2. Mantenha os envolvidos informados – certifique-se de que todos os envolvidos em determinado projeto ou processo estão inteirados sobre todas as informações necessárias, estando copiados nos e-mails e recebendo convites para as reuniões, por exemplo. 3. Seja didático – é melhor pecar pelo excesso do que pela falta de explicações. Quando for instruir alguém, repasse até as informações que lhe parecerem mais óbvias, pois para o interlocutor, podem não ser. 4. Estipule prioridades e esclareça prazos – sempre que designar tarefas, deixe cla- ro qual é a prioridade de cada uma e estipule prazos exatos, ou seja, nunca utilize termos como “o quanto antes”, por exemplo. Dê data e, se necessário, horário em que você precisa receber o material desejado. 5. Envie lembretes – nas vésperas de entregas importantes, verifique se está tudo certo com o andamento das tarefas e se o prazo acordado está mantido, assim, você tem tempo hábil para partir para um plano B, se necessário. O mesmo vale 41 para reuniões agendadas, a confirmação evita deslocamentos e janelas desneces- sárias na agenda. 6. Tenha cuidado redobrado nos e-mails – quando for tratar de múltiplos assuntos em um mesmo e-mail, opte por escrever em tópicos, assim, evita que o recebedor deixe de ler ou responder alguma questão. Evite abordar um assunto importante em uma sequência de e-mails sobre outro tema, prefira escrever outro e-mail, dei- xando claro no campo “assunto” do que se trata. Fonte: http://www.redatoria.com/6-atitudes-para-evitar-falhas-na-comunicacao-empresarial/ EXPRESSÃO ORAL Segundo Vanoye (2017), existem dois tipos de comunicação oral: a. situação de intercâmbio: a conversa acontece com a presença real do emissor e do receptor, e os papeis se invertem durante o diálogo. É o que acontece em uma conversa, aula com diálogo, entrevista, etc. b. situação de não-intercâmbio: o receptor não tem a possibilidade imediata de responder e assumir o papel de emissor, independentemente de estar próximo ou não. Ela pode ser unicamente oral, em que a mensagem é transmitida apenas pela voz do interlocutor, ou pode ser mista, unindo o visual e o oral. Vemos essa modalidade em aulas expositivas, discursos, monólogos teatrais, sermões, etc. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA BRAINSTORMING Você já deve ter ouvido o termo brainstorming que, em inglês, quer dizer “tempestade mental”. Trata-se de uma expressão oral do tipo situação de in- tercâmbio, e é uma técnica bastante difundida que tem por objetivo a produ- ção intensiva, por um pequeno grupo, de ideias novas e originais. Quando um grupo se vê diante de um problema, os participantes do grupo apresentam suas ideais para solucioná-lo, e há toda a liberdade criativa para que propo- nham ideias extravagantes e até absurdas, mas devem se esforçar para listar o máximo número de sugestões no menos período de tempo. Ninguém do grupo está autorizado a criticar as ideias emitidas, e devem tentar associar essas ideias com as suas. O coordenador do grupo não manifesta reações visíveis e limita-se a reformular falas confusas e encorajar igualmente todos os participantes. Há também a figura do observador da atividade que, em silêncio, anota as ideias e faz uma lista a partir da qual serão selecionadas as mais originais, as mais viáveis e as mais eficazes. Gostou? Consegue pensar em alguma situação prática da sua vida para aplicá-la? Pode ser no seu tra- balho, na faculdade, na família, na igreja... 42 Técnicas de apresentação oral PREPARAÇÃO A preparação é a fase mais importante para determinar o sucesso de uma apresentação oral. Para que ela seja bem elaborada, segue algunspassos: • Definição do tema, assunto; • Objetivo da apresentação: Qual a intenção da sua fala? Emocionar? Persuadir? Informar? Instruir? Fazer rir? Fazer chorar? Vender? Expor? • Público Alvo: Você vai falar para quem? Quantas pessoas? Homens? Mulheres? Jovens? Idosos? Crianças? Empresários? • Esboço da apresentação e planejamento adequado do tempo e dos recursos. É importante organizar o roteiro de sua apresentação, definindo o início, meio e fim, para saber se o conteúdo será suficiente ou excessivo de acordo com o tempo que você tem para a apresentação. Conhecer os recursos que serão utilizados também faz diferença para organizar o tempo de sua apresentação. • Estudo e atualização de conhecimentos. É muito importante estar atualizado em relação ao tema que será apresentado. Fazer leituras e conhecer vários autores cujas opiniões acerca do tema sejam diferentes cria uma visão ampla sobre o as- sunto. Uma boa estratégia é fazer o que chamamos de antecipação das perguntas. Imaginar aquilo que poderá ser perguntado durante a apresentação e preparar as respostas mais adequadas é um bom exercício de atualização. ROTEIRO A parte oral de uma boa apresentação está relacionada com uma prévia elaboração e estruturação realizada por meio de organização das ideias. Geralmente, essa organiza- ção é realizada por meio da escrita. Para tanto, apresentaremos alguns tópicos que de- vem ser abordados no roteiro: • Estrutura: introdução, corpo, resumo, conclusão; • Identificação pessoal; 43 • Introdução do assunto; • Síntese da estrutura da apresentação; • Especificação dos recursos técnicos; • Referência ao tempo da apresentação; • Resumo e conclusão. TÉCNICAS Para vencer os aspectos negativos da apresentação oral, podemos recorrer a algumas técnicas, estratégias e recursos. O primeiro passo é: troque palavras negativas por positi- vas, por exemplo, em vez de dizer “Isso não vai dar certo”, diga “Há outras possibilidades melhores”. Existe também a técnica do “NÃO, MAS...”. A palavra NÃO é negativa por natureza. Seu uso pode causar uma má impressão. Assu- mir que não sabe algo é ético e preciso. Mentir pode trazer consequências desagradá- veis e criar uma imagem ainda mais negativa. Sendo assim, a técnica do “Não, mas...” é uma saída para escapar de situações em que não temos o conhecimento necessário. Exemplo: “-Você fala inglês?” “-Não, mas estou iniciando um curso no início do mês.” E se der branco, o que fazer? Repita a última frase. Dará impressão que você está en- fatizando. Muitas vezes, a repetição faz lembrar o que tinha sido esquecido. Caso não se lembre, continue assim: “Assim, o que eu quero dizer é...” e explique a mesma frase dita anteriormente com outras palavras. Depois segue a conversa. EVITE!! • Pedir desculpas; • Contar piadas; • Fazer perguntas no início; • Opinar sobre um assunto polêmico. Isso pode gerar discussões e situações cons- trangedoras; • Utilizar chavões ou frases vulgares; • Repetição excessiva de vícios de linguagem (né, tipo, fala sério, etc.); • Ficar falando sobre a vida pessoal; • Apresentar exemplos que não estão relacionados diretamente com o tópico abor- dado. Isso pode parecer que você está preenchendo o tempo por falta de conteú- do e conhecimento; • Apresentar vídeos muito longos; • Expor alguém da plateia; • Responder algo de forma insegura e sem a certeza da resposta. Caso não saiba, diga que vai pesquisar e tente relacionar alguma situação à questão perguntada; • Apontar o dedo pode parecer um pouco hostil, é bom evitar. 44 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Toda pessoa é auditiva, visual ou sinestésica. Sendo assim, é importante considerar sua postura, sua voz, suas atitudes. Uma postura errada pode agredir o visual, uma voz ruim agride o auditivo, atitudes de insegurança, excesso de perfume, maquiagem, risos e vários tipos de posturas agridem pessoas que têm uma percepção sinestésica. Desta forma, devemos trabalhar o visual (postura), o auditivo (voz) e os sen- tidos (conhecimento sobre o assunto). A falta de conhecimento não significa uma falha, porém a falta de aprimoramento e busca por novos conhecimentos são falhas visíveis no processo comunicativo durante uma apresentação oral. ISTO ESTÁ NA REDE Você tem medo de falar em público? Isso geralmente acontece porque te- mos receio de sofrer algum tipo de depreciação diante dos nossos colegas de trabalho ou faculdade, mas também pode ser falta de prática. Assita a algumas preciosas dicas de oratória do professor Marcello Pepe: https://www.youtube.com/watch?v=RmSVHOqlS0I AULA 05 TEXTO E CONTEXTO 46 “A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os ou- tros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor.” - Mikhail Bakhtin, pesquisa- dor, pensador, filósofo e teórico russo. Estimado(a) aluno(a), perceba que texto e contexto são duas palavras familiares a qual- quer pessoa que participa ou participou de alguma prática escolar, mesmo que não tenha necessariamente feito um estudo linguístico específico. Não são estranhas ex- pressões tais como “redija um texto”, “isso está fora de contexto”, “o texto está bem ela- borado”, “no contexto histórico...“, “melhore seu texto”, etc., e justamente por conta dessa frequência na utilização dos termos, todo leitor tem uma noção sobre o que é um texto e contexto, e isso é importante principalmente quando falamos em comunicação. TEXTO Comecemos pela consideração básica sobre texto: “texto não é um aglomerado de frases” (FIORIN & SAVIOLI, 2007). Ao contrário: ele é um bloco organizado que contém um sentido. Kobs (2012) explica que “texto é um conjunto de ideias acerca de um tema e deve desenvolver e aprofundar um assunto, a partir do encadeamento e da progressão de informações”. Tal bloco, partindo da estrutura maior para a menor, compõe-se de: TEXTO PARÁGRAFOS PERÍODOS Fonte: adaptado de Kobs, 2012. 47 Imagina abrir uma revista ou uma página de internet e se deparar com o seguinte: VEM AÍ UM NOVO TITANIC, 110 ANOS APÓS NAUFRÁGIO Mas, talvez, nada disso aconteça — de novo. Quem conhece bem o controverso político duvida que ele consiga recriar o lendário navio, embora seja um mi- lionário. “A primeira réplica, anunciada em 2012, nem chegou a ser iniciada, depois mudou para 2016, para 2018 e, agora, para 2022”, criticam os céticos do gigantesco projeto, que não são poucos. “Se o Titanic era o navio ‘inafundável’, o Titanic II irá afundar antes mesmo de existir”, diz um deles. Quando o mundo imaginava que a ideia de recriar o mais famoso transatlân- tico da História (e que também gerou o mais lendário naufrágio de todos os tempos) havia igualmente naufragado, depois de ter sido apresentada com estardalhaço pelo político e milionário australiano Clive Palmer em 2012, com previsão de o navio ficar pronto em 2016, o que nunca aconteceu, eis que o pró- prio Palmer retorna a cena, anunciando que o projeto, agora, será retomado. E que a réplica do mais icônico de todos os navios ficará pronta daqui a quatro anos, em 2020. Adaptado de https://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2018/10/30/vem-ai-um-novo- -titanic-110-anos-apos-naufragio-sera-mesmo/. Acesso em 30 de outubro, 2018. No exemplo, fica claro que algo está errado na composição do “texto” – no caso, a ordem dos parágrafos. O bloco acima tem palavras, orações, períodos e parágrafos, mas nem por isso podemos chamá-lo de texto. Isso se confirma logo no início, na primeira frase: no geral, um texto informativo ou jornalístico não pode começar com uma conjunção, principalmente adversativa (“mas”), exatamente porque o “mas” serve para ligar duas orações com sentidos adversos, contrários – e no exemplo acima não há nenhuma ora- ção antes daquela iniciada com a conjunção. Palavras como as conjunções, essenciais para o entendimento de questões de provas e concursos, por exemplo, serão assunto de uma aula mais adiante. Além disso, todo texto éproduzido com a finalidade de transmitir uma mensagem – que é nosso objeto quando nos propomos a interpretar ou compreender um texto. Sem mensagem, o entendimento textual não acontece. ANOTE ISSO A palavra “texto” vem de uma das formas do verbo em latim “texo”, que sig- nifica “tecer”. Logo, o texto é um tecido, não um aglomerado desconexo de fios. O significado de uma frase do texto será compreendido dentro de uma totalidade. Assim, a mesma frase colocada em contextos diferentes pode apresentar sentidos diferentes. 48 E por falar em mensagem, considere o seguinte: Podemos dizer que a imagem acima é um texto? Sim, podemos. Texto não são só pa- lavras, frases e parágrafos, mas tudo aquilo que transmite mensagem. A imagem do exemplo não contém nenhuma palavra escrita, mas entendemos sua mensagem, logo, fizemos uma interpretação dela a partir dos símbolos apresentados (o sinal de wi-fi, a natureza ao redor, a inferência de que é preciso equilibrar conectividade liberdade, etc.). Segundo Martins e Zilberknop (2010), mensagem é o que se deseja transmitir. Ela pode ser visual, auditiva ou audiovisual e deve ter conteúdo e objetivos. Assim, em um e-mail, a mensagem é o texto. Em um quadro, a mensagem é a imagem retratada, e em uma canção, a mensagem é a letra mais a melodia. O texto é um objeto simbólico cuja função social depende da concretização de seu sentido, que ocorre pela interação do texto com o leitor. Em uma entrevista à Revista Letra Magna, o professor linguista José Luiz Fiorin (2007) diz que [...] texto não é apenas manifestado verbalmente, isto é, por meio de uma língua natural, como o inglês, o francês, o árabe, o português. Na verdade, ele pode manifestar-se visualmente, como uma pintura, por meio da linguagem verbal, visual e musical, como o cinema, por meio da linguagem verbal e visual como nos quadrinhos. Assim, um roman- ce é um texto; um trecho de um romance é um texto; uma poesia é um texto; uma escultura é um texto; uma ópera é um texto. Logo, vale frisar que independentemente da sua forma, o texto é algo produzido por um emissor para explicitar alguma ideia e produzir interações sociais. Sendo assim, sua funcionalidade é bem diversa. O texto serve para: 49 • informar • desinformar • formar opiniões • emocionar • manipular • motivar • persuadir • refletir • esclarecer • criticar O texto é o motor do conhecimento. Se utilidade do texto depende do sentido que ele produz, ele então serve para pro- duzir uma reação no seu receptor. Essa reação é o que chamamos de intencionalidade do texto. Por exemplo, uma palavra pode indicar um sinal de alerta, fazendo com que a utilidade do texto seja afastar a pessoa de determinado lugar com o objetivo de preser- var sua vida. Logo, esse texto serviria para salvar vidas. É possível explicitar uma ideia por meio de uma única palavra? Depende da situação e do contexto. Uma palavra isolada pode não significar nada se não estiver relacionada a um contexto e, sendo assim, ela não serve para nada. Por exemplo, a palavra “ABERTO”, na porta de um estabelecimento comercial, serve para indicar que apesar da porta estar fechada, o estabelecimento está aberto. Entre- tanto, a mesma palavra escrita em uma placa perdida no chão de uma calçada não tem função social nenhuma, simplesmente indica uma informação deslocada de seu con- texto original. Podemos concluir, assim, que o texto é uma mensagem que consegue transmitir um sentido completo, ainda que este sentido seja compreendido por uma única palavra. Cabe aqui, então, estudar o que é contexto. CONTEXTO Quanto ao contexto, para o linguista russo Roman Jakobson (2005), a ideia de contexto está ligada ao ambiente em que a mensagem foi elaborada, à situação social em que ela ocorre e a experiência do autor e do leitor em relação a determinado assunto. Façamos um teste mental com as imagens a seguir: imagine quem são essas pes- soas, onde elas estão, como seria o estilo de vida delas e o que estavam sentindo no momento em que as fotos foram tiradas. Fotos: Cartier-Bresson & Delpire (apud Cartier-Bresson, 1986), p.39. Fonte: arquivo pessoal. 50 Agora, veja a fotografia original: Foto: Cartier-Bresson & Delpire (apud Cartier-Bresson), 1986, p.39. Fonte: arquivo pessoal. Isoladas, as duas fotografias podem parecer imagens comuns retratando um momento do cotidiano de algum vilarejo. Porém, elas fazem parte de uma única fotografia, e o contexto em que ela se insere é o período de intenso preconceito e segregação racial no sul dos Estados Unidos na década de 1940. De posse dessa informação, nossa interpre- tação das imagens em separado é diferente. Ou seja: só apreendemos a real mensagem da imagem quando conhecemos seu contexto. Para fins ilustrativos, vamos analisar a imagem a seguir: Fonte: Koch e Elias, 2009. Trata-se de um anúncio do CVV - o Centro de Valorização à Vida, serviço voluntário de apoio emocional gratuito e atua na preservação do suicídio. O anúncio é composto por um texto para ser lido como “Um dia horrível” e outro para ser lido como “Um dia mara- vilhoso” dependendo do estado e do ânimo do leitor. 51 Perceba, aluno(a), que o texto em si é o mesmo para os dois títulos e, além do recurso de mudança de cor como contextualizador, se nós não lêssemos o título, a narrativa não ia fazer sentido. E o que nos transmitiu esse sentido para que entendêssemos a men- sagem do anúncio da CVV? Justamente o contexto explicitado pelo título. Ou seja: o contexto de um texto é negativo, e o emissor da mensagem encara as atividades vividas no dia como algo ruim. No segundo texto, o contexto é positivo, pois o emissor vê o dia vivido como um dia muito bom. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA É comum, principalmente em discussões e comentários de redes sociais, alguém dizer que o outro está interpretando um texto ou mesmo uma fala “fora de contexto”. Isso acontece geralmente em campos políticos, religio- sos e históricos. Dentre tantos outros, um exemplo que podemos usar como reflexão - e não como julgamento - é o caso do youtuber Júlio Cocielo que, em julho de 2018, fez uma piada considerada racista em relação ao jogador francês Mbappé. Depois da repercussão negativa, em sua defesa, Cocielo gravou um vídeo em que, entre outros argumentos, disse que “a frase havia sido interpretada fora do contexto”. A reflexão que fica é: será que o youtu- ber sabia o que significa contexto? O contexto pode justificar uma fala pre- conceituosa e ofensiva? Por isso, há que se ter cuidado, tanto como emissor quanto receptor de uma mensagem, ao usar a expressão “fora de contexto” em uma argumentação! AULA 06 TIPOLOGIA TEXTUAL 53 “A literatura é a expressão da sociedade, assim como a palavra é a expressão do homem” - Visconde de Bonald, filósofo francês Leia: Fonte: Silva, 2017. Em apenas um período do dia, o personagem do trecho acima teve contato com vários gêneros textuais - cerca de dez. Assim, fica evidente a presença da tipologia textual na sociedade, visto que é por meio deles e da linguagem que a comunicação se realiza. E o que é tipologia textual? São as diferentes formas que um texto pode apresentar dependendo de suas intenções comunicativas. Como já vimos, um texto (ou mensa- gem) é construído conforme sua finalidade: contar, descrever, argumentar, informar, proibir, etc. No trecho acima, os gêneros textuais são aqueles que estão grafados em itálico: notícias, outdoors, instruções, etc. 54 Sabe-se que a mesma palavra ou mensagem pode possuir uma intenção comunica- tiva diferente se produzida por sujeitos diferentes e em contextos diferentes. Tudo isso exige uma estruturação específica para que o texto seja compreendido segundo de- terminadas regras: uma receita culinária possui uma estruturação, um layout diferente de um horóscopo. A formatação do texto e a organização visual de seus elementos nos fazem identificar se é uma receita, um manual técnico ou uma bula de remédio. É muito fácil reconhecer
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