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Desenvolvimento Neuropsicomotor e Aprendizagem

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AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO 
NEUROPSICOMOTOR E 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Everton Adriano de Morais 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na presente aula, discutiremos a importância dos processos mentais no 
funcionamento do comportamento motor, ou seja, a inter-relação entre esses 
processos e suas contribuições ao desenvolvimento humano. 
Já parou para pensar que estamos sempre em movimento? Esse 
movimento se dá desde os processos automatizados do nosso organismo 
(batimento cardíaco, fluxo sanguíneo, sistema respiratório etc.) até os nossos 
pensamentos mais complexos, como raciocínio lógico, leitura, resolução de 
problemas, entre outros. Tais mecanismos envolvem uma gama de informações 
interligadas e que contribuem para o bom andamento da nossa vida. 
Ao fazer um arremesso, um jogador de basquetebol não apenas utiliza 
articulações, movimento de pressão, músculos e força: há também uma interação 
com os pensamentos. Em frações de segundo, ele imagina o movimento e 
coordena todos os sistemas do organismo que serão envolvidos até a execução 
do arremesso. Quando um escritor vai produzir sua obra utilizando uma caneta, 
lápis ou material similar, ele tem em si uma organização a partir da coordenação 
motora, viso-motora, da atenção, da percepção, da memória e de muitas outras 
funções cognitivas. 
Dessa forma, conseguimos inicialmente entender que há uma ligação direta 
entre o comportamento motor e os processos da mente. Cada um tem sua 
particularidade e seu papel importante no desenvolvimento, mas existe uma 
integração que auxilia no amadurecimento e no crescimento de cada indivíduo. 
CONTEXTUALIZANDO 
Desde a infância até o envelhecimento, passamos por fases de maturação 
e aprimoramento de funções cognitivas. Pode-se dizer que o comportamento 
motor se inicia de forma controlada e, porteriormente, segue sendo aprimorado. 
Existe uma importância enorme em relação à estimulação no desenvolvimento 
infantil sobre o compormento motor e também a respeito da cognição. Há, 
portanto, no que tange a essa estimulação, uma responsabilidade que se distribui 
em diversas esferas – na família, na escola, nas atividades lúdicas e esportivas, 
entre outras (Murta et al., 2011, p. 220-229). 
A psicomotricidade atua em inúmeras áreas do conhecimento, como 
educação física, psicopedagogia, psicologia, fisioterapia, dentre outras, o que 
 
 
3 
mostra a representatividade que há entre as ciências que estudam o 
corportamento motor e a mente. As diversas teorias sobre o desenvolvimento 
humano demonstram preocupação a respeito de como esse desenvolvimento 
ocorre de forma integral e holística. As áreas de educação, por exemplo, 
consideram importante a relação e a mediação da psicomotricidade junto a 
características socioemocionais – controle inibitório, formação de autoconceito, 
dentre outros aspectos que auxliam na formação do indivíduo. 
Com base nisso, entende-se que a criança precisa contar com o 
autoconhecimento para se situar no meio que a cinrcunda, pois toda atividade e 
ação executadas no desenvolver são aprimoradas no decorrer dos anos. Contudo, 
é necessária a ligação entre o que é biológico e o que é do meio. 
Para autores como Jean Piaget (Santos, 2008, p. 15), a capacidade 
intelectual é resultante de interações junto ao mundo exterior, quando ocorre uma 
adapatação por meio de assimilação (estruturação cognitiva por meio da 
experiência anteoriormente vivenciada) e uma acomodação (inclusão de uma 
nova informação que acrescenta a estruturas anteiores). Isso corresponde às 
interações que demandam funções intelectuais e à motricidade propriamente dita 
(Santos, 2015, p. 14-15). 
TEMA 1 – PROCESSOS COGNITIVOS E COMPORTAMENTO MOTOR: PENSAR, 
AGIR E EXECUÇÃO 
A organização de pensamentos, emoções, funcionamentos biológicos, 
reações etc. acontece de forma simultânea em nossa mente. Mas como essa 
organização se dá? Entende-se que, por meio da sensação (processo 
responsável pelo recebimento dos estímulos e ativação dos órgãos dos sentidos) 
e da percepção (atribuição e interpretação dos estímulos recebidos), acontecem 
as primeiras interações com as informações que chegam ao nosso organismo, 
sendo organizadas em um terceiro processo, chamado de cognição. 
Considerando todos esses contextos, pode-se entender como o ser humano 
aprende, lembra de informações, manipula imagens mentais, percebe o mundo, 
interpreta ações e mais uma infinidade de interações. A cognição tem por 
responsabilidade organizar como os homens pensam e constroem o pensamento 
(Sternberg, 2016, p. 19-20). 
O comportamento motor, por sua vez, tem uma relação direta com os 
processos de pensamento. No funcionamento biológico a partir do sistema 
 
 
4 
nervoso há células funcionais (os motoneurônios), que têm por responsabilidade 
determinar a contração e o relaxamento dos músculos, o controle das articulações 
e o movimento em si. Um exemplo do comportamento motor junto à cognição é o 
ato de escrever: para executar essa função motora, são necessários a contração 
e o relaxamento de diversos músculos, assim como o uso de articulações, visando 
produzir o movimento e efetivar o comando. Toda e qualquer ação ligada à 
movimentação requer interações e ações do sistema nervoso como um todo, o 
que integra a cognição em todos os eventos. 
A aprendizagem motora ocorre desde os primeiros dias de vida. Apesar de 
um bebê ser incapaz de se defender a partir de suas ações, ele apresenta 
comportamentos motores e reflexos que se desenvolvem e se aprimoram no 
decorrer de sua existência. Reflexos como pressão palmar, de busca, entre outros 
são herdados da espécie humana e antecedem comportamentos motores 
construídos anos mais tarde (Gazzaniga; Heatherton; Halpern, 2018, p. 77; 361). 
 A construção do desenvolvimento mostra a integração entre aprendizagem 
motora e pensamento, emoções e cognições. No nascimento, por exemplo, um 
bebê tem aparato biológico suficiente para reflexos básicos, mas que estão em 
constante desenvolvimento; a partir da estimulação e do apreender, eles são 
aprimorados a cada dia de vida. Outro exemplo refere-se à progressão do 
comportamento motor: inicialmente sem muita coordenação, a criança começa a 
se mexer na cama; depois, rola de um lado para o outro; depois, senta com a 
ajuda de alguém, ou não, e assim vai seguindo uma sequência até chegar ao ato 
de andar. Toda essa construção parte de um processo controlado – a princípio, 
precisando de certa atenção, mas, com o passar do tempo, contando com 
estimulação e envolvimento dos familiares e de outras pessoas envolvidas, todo 
e qualquer movimento passa a ser mais complexo. Após mais ou menos 1 ano de 
idade, essa criança já consegue ficar em pé sem apoio (não sendo esse o padrão 
para todas as crianças) e firmar mais os passos. Nesse caso, entra uma sequência 
simultânea de movimentos controlados e automatização de outros que foram 
praticados repetidamente, de acordo com a demanda do ambiente. 
 Pode-se perceber que, desde os movimentos reflexos iniciais até os mais 
elaborados, a motricidade está ligada ao pensamento, às ações pré-motoras e 
motoras. Existe uma relação muito íntima entre a cognição e o comportamento 
motor: enquanto um prepara, planeja e elabora as ações, o outro executa, efetiva 
e efetua essas ações de uma maneira controlada ou automatizada baseado na 
 
 
5 
vivência e das experiências no dia a dia, seja em ambiente familiar ou escolar, por 
exemplo. Dessa forma, para que o desenvolvimento ocorra de maneira saudável, 
é de extrema importância a estimulação e o incentivo para maturação dessas 
capacidades. 
TEMA 2 – BRINCADEIRA É COISA SÉRIA PARA A MENTE: QUANDO O 
BRINCAR CONTRIBUI PARA A MENTE E PARA A MOTRICIDADE 
A aprendizagem está inserida nos primeiros anos de vida dos seres 
humanos. Segundo Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018, p. 364-365),as 
crianças, desde os primeiros momentos na maternidade, têm a capacidade de 
interação e de aprender. Por exemplo, caso uma pessoa pare em frente ao berço 
de um bebê e mostre a língua, a criança mostrará a língua também. De acordo 
com os autores, essa criança não olhou no espelho durante um tempo para 
aprender essa ação – ou seja, o ser humano tem um aparato biológico de 
imitação. Sabe-se que não aprendemos apenas por motivos hereditários; também 
a aprendizagem não é inata, mas há uma interação entre o ambiente e o biológico. 
Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) ainda mencionam que a imitação 
configura a primeira interação social dos seres humanos, mas envolve uma 
capacidade intelectual peculiar, pois os recém-natos reproduzem imitações de 
outros seres humanos, e não de objetos – é como se os humanos categorizassem 
suas ações do processo de aprender desde o começo da vida. Entende-se, assim, 
que toda e qualquer brincadeira aplicada por qualquer pessoa a crianças pode ser 
reproduzida, sendo inicialmente mais simples em relação a gestos e movimento, 
e posteriormente mais complexa. 
A estimulação por meio do brincar também é extremamente importante na 
formação dos processos de aprendizagem. Cada atividade lúdica contribui 
diretamente e com grande expressividade para o desenvolvimento do ser. De 
acordo com Almeida e Shigunov (2004, p. 69-70), o brincar corresponde a algo 
intimamente ligado aos seres humanos. A construção das atividades do brincar 
possui uma linguagem singular e que varia de acordo com a faixa etária, 
aumentando sua complexidade a cada maturação alcançada. 
Os autores também definem a diferença entre brincadeira, jogo, brinquedo 
e atividade lúdica (Almeida; Shigunov, 2004): a brincadeira se refere a atividades 
livres e espontâneas; o jogo corresponde a brincadeiras, mas que exigem 
mediações de regras (nesse caso, pode-se entender que há um exercício 
 
 
6 
cognitivo de atenção, como, por exemplo, tomar decisões e saber o que pode ou 
não ser feito em uma atividade); o brinquedo é definido como um instrumento 
utilizado na brincadeira, logo, é importante definir quais serão utilizados, pois, para 
o desenvolvimento motor, são diversos os brinquedos que podem auxiliar na 
construção tanto do desenvolvimento quanto da brincadeira; por fim, a atividade 
lúdica envolve todos os outros mencionados anteriormente. 
É interessante analisar como o processo do aprender, o brincar e as 
atividades lúdicas auxiliam o desenvolvimento humano de um modo geral. Uma 
brincadeira de pular corda pode ajudar na interação e na maturação biológica, 
envolvendo processos cognitivos, como, por exemplo, atenção, tomada de 
decisão, motricidade voluntária e automatizada, além de aperfeiçoar o 
comportamento motor de um modo geral, aprimorando os movimentos 
característicos de cada faixa etária. 
Desde os comportamentos reflexos de um bebê até um movimento mais 
complexo, como um passo de dança ou um movimento de arte marcial em um 
exercício sincronizado para uma apresentação, a inter-relação entre 
comportamento motor e pensamento é constante (Fortuna, 2000, p. 3-4). 
TEMA 3 – EDUCAÇÃO PSICOMOTORA E SUAS HABILIDADES MENTAIS 
VISUAIS 
A educação psicomotora ocorre a partir da colaboração de diversos fatores, 
sendo eles cognitivos, comportamentais, emocionais, psicológicos, entre outros. 
Essa elaboração e esse aprimoramento dependem de como o ser humano se 
relaciona com a estimulação e percepção da vivência diária. Tudo decorre de 
como observamos e aprendemos todo e qualquer tipo de informação, o que é 
dado por meio do recebimento de estímulos que identificamos pelos órgãos dos 
sentidos – e, dentre esses, considera-se que a visão é a maior responsável pela 
interação do nosso organismo junto ao ambiente em relação à percepção. Estima-
se que 80% das percepções humanas são visuais, envolvendo cores, textura, 
formas etc., além de toda a complexidade cognitiva para identificar esses 
estímulos (Fonseca, 2008, p. 281). 
Por meio dessa explanação, pode-se analisar que a aprendizagem 
acontece por uma interação de estímulos, interações e treinamentos, em parceria 
com a maturação neurológica, pois não bastam apenas o desenvolvimento 
biológico e seu progresso, mas uma construção de ambos. 
 
 
7 
Nos processos de aprendizagem, há o entendimento de que existe uma 
relação das capacidades viso-espaciais em conjunto com o comportamento 
motor. Por exemplo, a coordenação viso-motora é responsável pela reprodução 
da escrita, por desenhos, formas, traços etc., e a aplicação dessa habilidade 
requer diretamente uma integração de ações motoras e funções cognitivas 
complexas, como atenção concentrada e seletiva, coordenação motora fina, 
classificação, categorização etc. 
 Outro ponto importante trazido por Fonseca (2008, p. 291) configura que o 
funcionamento psicomotor é possível apenas a partir da integração sistêmica de 
processos e por meio de uma efetuação visual saudável, sem a qual não há 
realização integral e adequada. Educar pelo movimento pelo movimento, 
mediante repetições físicas e sem uma organização integral do aprender não 
atende à necessidade da educação de um modo geral. O princípio holístico que 
integra as habilidades motoras junto à cognição traz à educação global uma forma 
não apenas de se movimentar, mas a construção de uma motricidade elaborada 
por particularidades de consciência do próprio corpo – concentração e 
organização de planos psíquicos que contribuirão para o desenvolvimento 
humano de um modo geral no processo do aprender. 
 Dessa forma, os processos cognitivos auxiliam na aprendizagem pela 
motricidade: uma educação psicomotricista que envolve regulação e coordenação 
a partir de orientação espacial e temporal, concentração, habilidades que 
envolvem ritmo, flexibilização mental, agilidade e outras funcionalidades em 
relação à mente e ao comportamento motor, o que, segundo Fonseca (2008, p. 
295), caracteriza um desenvolvimento da evolução das crianças, por exemplo, 
que vai do crescimento até a aprendizagem. 
Figura 1 – Descrição ilustrativa a respeito do processo de desenvolvimento do 
mover ao aprender 
 
Fonte: Fonseca, 2008, p. 296. 
 
 
8 
 Outra questão importante apontada pelo autor refere-se à aprendizagem 
perceptivo-motora, que corresponde à construção de funções cognitivas – como 
a linguagem, por exemplo – por meio da educação na perspectiva do movimento, 
em que a criança deve desenvolver a sua aprendizagem por meio de noções 
espaciais, peso, tempo, relação interpessoal etc. associadas à conscientização do 
corpo e à busca da exploração do espaço que vivencia. Nesse sentido, explora-
se a capacidade viso-espacial e é requerida uma construção de espaço, tempo e 
conhecimento perceptivo sensorial do corpo em movimento. 
Figura 2 – Descrição da educação motora em movimento 
 
Fonte: Fonseca, 2008, p. 296. 
Assim, pode-se analisar que a educação pelo movimento é caracterizada 
pela criatividade e pelo conhecimento espontâneo, pela relação da criança junto 
ao mundo externo e seu mundo interior. Toda construção parte de processos 
sensório-motores e vai até aprendizagens mais complexas de nível abstrato e 
metacognitivo, envolvendo uma reflexão do ser humano para aplicação mais 
refinada e elaborada diretamente. 
TEMA 4 – PSICOMOTRICIDADE E FUNCIONAMENTO CORTICAL: 
INTEGRAÇÃO BIOLÓGICA E O SOCIAL 
De acordo com Fonseca (2008, p. 414), a motricidade humana corresponde 
a uma interação comportamental entre o indivíduo e o meio externo. O cérebro é 
o órgão responsável pela integração entre as informações recebidas pelos 
sentidos e a interpretação dos estímulos vindos do ambiente. A execução do 
 
 
9 
movimento se origina em estruturas complexas do córtex cerebral, posteriormente 
passando por emissores responsáveis pela informação, de estrutura subcortical, 
sendo enviada por meio da medula. Essa construçãodestina-se diretamente ao 
sistema musculoesquelético, no qual ocorre a execução do comportamento motor. 
Toda essa construção, segundo Fonseca (2008), constitui a relação entre 
a intenção do movimento (ainda em um processo cognitivo) e a execução pelo 
comportamento motor. Para efetivação da motricidade, é necessário passar por 
diversas vias da cognição, como autocontrole, tomada de decisão, planejamento, 
pré-motricidade, entre outras. Há também uma interação com os estímulos 
recebidos por meio dos órgãos dos sentidos: visão, audição e, nesse caso 
comentado, tátil-cinestésico (Moraes, 2015, p. 85-86). 
A interação entre o sistema aferente (que recebe as informações dos 
estímulos por meio dos sentidos) e o sistema eferente (que executa a informação 
regulada e coordenada) parte de uma integração de processos internos e 
externos. A organização entre a regulação das informações recebidas e as 
posteriormente efetuadas para ação do comportamento tem uma relação junto ao 
ambiente que parte de um contexto histórico, social e cultural. A partir disso, 
segundo Luria e Wallon (Fonseca, 2008, p. 410-414), há uma inter-relação da 
prática e do conhecimento desenvolvido no meio em que o indivíduo está inserido: 
o cérebro é moldado de acordo com as vias de recebimento de informação, 
regulação, intenção e ação comportamental – todas essas sendo determinadas 
por uma interação ambiental e biológica. 
TEMA 5 – PSICOMOTRICIDADE, PROCESSOS COGNITIVOS E 
NEUROFUNCIONALIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA RUSSA 
A escola russa de estudos voltados ao comportamento e aos processos 
psicológicos tem como principais autores Vygotsky, Leontiev e Luria. Luria é 
responsável por explicações do funcionamento do sistema nervoso em um 
conjunto de estruturas funcionais, e seu trabalho defende que as funções 
cognitivas partem de uma integração sistematizada e funcional de ordem 
complexa, por meio de uma progressão filogenética e ontogenética construída de 
maneira sócio-histórica. A partir dos estudos sobre linguagem é possível analisar 
a evolução do comportamento motor em conjunto com processos cognitivos e 
suas complexidades. Desde os tempos da micromotricidade e da 
macromotricidade até a linguagem escrita, a filogênese mostra a evolução e a 
 
 
10 
maturação da espécie em relação à aprendizagem – o que direciona cada ação, 
pensar e agir (Fonseca, 2008, p. 406). A seguir, confira, na figura, como isso 
aconteceu no decorrer dos anos. 
Figura 3 – Descrição dos processos evolutivos da linguagem no decorrer dos anos 
 
Fonte: Fonseca, 2008, p. 406. 
Para Fonseca (2008, p. 407), o cérebro não age diretamente de forma 
equipotente, como diriam os unitaristas (corrente que acreditava no 
funcionamento único do cérebro para quaisquer funções), mas ele também não 
considerava plenamente correta a visão localizacionista de Gall (que trazia a ideia 
do funcionamento do cérebro em centros específicos: centro do andar, do ler etc.). 
A visão luriana é a de que as atividades cerebrais ocorriam de forma integradora 
e por um sistema funcional, possibilitando uma reorganização com base em uma 
imensurável flexibilidade, funcionalidade esta que, segundo o autor, não está 
construída por um sistema rígido e imutável, mas que desenvolve uma interligação 
entre diversas áreas de forma simultânea. Por exemplo, o comportamento motor 
de andar contribui, a cada fase do desenvolvimento, para maturação e evolução, 
e se aprimora e se aperfeiçoa de acordo com o exercício e a estimulação de 
treinamento das habilidades. 
O viés e o foco dos psicomotricistas russos configuravam o entendimento 
do desenvolvimento humano por meio de uma construção sócio-histórica. 
Conforme o tempo e a história vão definindo rotas e enredos, o ser humano passa 
por alterações fisiológicas e anatômicas. Vygotsky defendia ser a linguagem a 
responsável pela humanização dos homens, e todos os processos cognitivos 
básicos ocorreriam de acordo com a história social do indivíduo, e não sendo 
 
 
11 
determinadas por fatores congênitos. Logo, as habilidades dos indivíduos 
resultariam da interação social e cultural, desenvolvendo o pensar, a ação motora 
e todos os outros processos cognitivos (Vygotsky, 2008, p. 9-10). 
Dessa forma, apesar das investigações com base no pensamento luriano 
a respeito do funcionamento cerebral e seus estudos sobre o sistema nervoso, os 
pensadores russos tinham uma grande vertente histórico-cultural, que carregava 
como pressupostos a influência da cultura e os hábitos construídos por meio da 
interação externa. 
FINALIZANDO 
Os processos do aprender ligados ao desenvolvimento cognitivo e à 
interação do ambiente são produzidos e criados a partir de estímulos e 
treinamentos. Quando se fala em aprendizagem, pode-se discutir sobre 
perspectivas motoras, visuais, auditivas, dentre outras, mas a construção dessas 
ocorre por meio de assimilações e acomodações, e traz transformação à 
maturação de cada indivíduo. Respeitando as particularidades de cada um, a 
educação, por meio do brincar, estimula a criança a, por exemplo, aprender sobre 
algo novo, criar hipóteses, usar a imaginação e potencializar a criatividade. Com 
isso, suas capacidades e habilidades cognitivas tendem a se aprimorar e o 
funcionamento biológico e o processo maturacional do córtex tendem a 
aperfeiçoar funções, como atenção, memória, linguagem etc. 
 Outrossim, entende-se que a aprendizagem tem uma ligação direta com a 
motricidade, pois os seres humanos constroem atividades, criam e montam 
histórias – cheias de intenções – que partiram de sua interação social-cultural; 
mediante isso, aplicam esses contextos no seu dia a dia, tanto no âmbito 
educacional quanto em outro meio social. A regulação e a coordenação desses 
processos levam ao aprimoramento da inter-relação dos processos de 
funcionamento interno e externo no aprender. 
 
12 
LEITURA COMPLEMENTAR 
Texto de abordagem teórica 
BORGES, S. de M. et al. Psicomotricidade e retrogênese: considerações sobre o 
envelhecimento e a Doença de Alzheimer. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 37, 
n. 3, p. 131-137, 2010. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rpc/a/hP88GYvFQnGcgJ39qctcCwC/?lang=pt>. Acesso
em: 10 ago. 2021.
Texto de abordagem prática 
GOMES, J. A. D. G. Construção de coordenadas espaciais, psicomotricidade 
e desempenho escolar. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de 
Campinas, Campinas, 1998. Disponível em:
<http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/252617>. Acesso em: 10 
ago. 2021. 
Saiba mais 
OLIVEIRA, G. C. Configuração cognitiva de crianças com dificuldades de 
aprendizagem em função de uma avaliação escrita de língua portuguesa. Pro-
posições, v. 5, n. 1, p. 7-20, 1994. Disponível em: 
<https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644322>. 
Acesso em: 10 ago. 2021. 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA, A. C. P. C. de; SHIGUNOV, V. A atividade lúdica infantil e suas 
possibilidades. Journal of Physical Education, v. 11, n. 1, p. 69-76, 2008. 
Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/v
iew/3793/260>. Acesso em: 19 jun. 2018. 
FONSECA, V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto 
Alegre: Artmed, 2008. 
FORTUNA, T. R. Sala de aula é lugar de brincar? In: XAVIER, M. L. M.; DALLA 
ZEN, M. I. H. (Org.). Planejamento em destaque: análises menos convencionais. 
Porto Alegre: Mediação, 2000, p. 147-164. (Cadernos de Educação Básica, 6). 
GAZZANIGA, M.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto 
Alegre: Artmed, 2018. 
MORAES, S.; MALUF, M. F. de M. Psicomotricidade no contexto da 
neuroaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica. Revista 
Psicopedagogia, v. 32, n. 97, p. 84-92, 2015. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862015000100009>. Acesso em: 19 jun. 2018. 
MURTA, A. M. G. et al. Cognição, motricidade, autocuidados,linguagem e 
socialização no desenvolvimento de crianças em creche. Journal of Human 
Growth and Development, v. 21, n. 2, p. 220-229, 2011. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-
12822011000200005>. Acesso em: 19 jun. 2018. 
VYGOTSKY, L S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 
 
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	Contextualizando
	LEITURA OBRIGATÓRIA

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