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APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS EAD UNIFACVEST 0 Aprendizagem baseada em projetos Claudia Simone Antonello Ingrid Gayer Pessi Marcelo Milano Falcão Vieira Mary Ann Von Glinow Rejane Prevot Nascimento Renata Perrenoud Steven L. McShane APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS Edição revisada Grupo A Educação Porto Alegre 2022 EAD UNIFACVEST 1 Aprendizagem baseada em projetos © 2022 – Grupo A Educação. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _____________________________________________________ S581g Claudia Simone Antonello. Et. Al. Aprendizagem Baseada Em Projetos. - 1.ed., rev. – Porto Alegre, RS : Grupo A Brasil, 2022. 121p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3102-3 1. Aprendizagem Baseada Em Projetos. I. Título. 41-6948. CDD: 341.207 CDU: 47.014.5 84.10.18 10.10.18 239393 _____________________________________________________ Capa: Núcleo de Produção EAD Unifacvest Imagem da capa: Copyright © 2010-2022 Freepik Company Imagem livre de Direito Autoral Centro Universitário Unifacvest © 2022 - Todos os direitos reservados. © Grupo A Educação. Todos os direitos reservados. Av.Jerônimo de Ornelas, 670 | Santana CEP 90040-340 | Porto Alegre/RS CNPJ: 87.133.666/0001-04 EAD UNIFACVEST 2 Aprendizagem baseada em projetos Sumário APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA |03 UNIDADE I Aprendizagem organizacional|04 UNIDADE II Dinâmica de equipe|19 UNIDADE III Aprendizagem baseada em projetos|62 UNIDADE IV Aprendizagem baseada em projetos e em problemas|74 UNIDADE V Estilos de aprendizagem|88 GABARITO DOS EXERCÍCIOS|119 EAD UNIFACVEST 3 Aprendizagem baseada em projetos Apresentação Olá! Você sabe que a aprendizagem é essencial ao crescimento dos indivíduos. Nas organizações não é diferente. O conceito de aprendizagem organizacional está associado à necessidade e à capacidade de inovações tecnológicas e sociais pelas organizações. Neste livro, você verá o que é aprendizagem dentro das organizações e o modelo conceitual para a gestão da aprendizagem organizacional. Boa leitura. Bons estudos! EAD UNIFACVEST 4 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE I Aprendizagem organizacional APRESENTAÇÃO Olá! A maior parte da discussão sobre aprendizagem organizacional divide-se em duas grande correntes, embora uma delas seja predominante. Para saber mais sobre o tema, leia o capítulo A aprendizagem organizacional como forma de controle dos indivíduos do livro "Aprendizagem organizacional no Brasil". Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Conceituar aprendizagem organizacional. II. Identificar os processos da aprendizagem organizacional. III. Reconhecer os tipos de aprendizagem organizacional. EAD UNIFACVEST 5 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO Para Souza (2004), a aprendizagem organizacional está alinhada diretamente com a percepção de adequação da organização ao seu ambiente. A aprendizagem organizacional, assim, estaria intrinsecamente ligada à concepção de que as organizações estão em contínuo aprimoramento, abrangendo, neste processo, todos os tipos de mudanças organizacionais. O processo de aprendizagem deveria, neste contexto, contemplar um ou mais tipos de mudanças que podem afetar as organizações. Sabendo da existência de diversos modelos de aprendizagem dentro da aprendizagem organizacional, identifique a partir da situação abaixo, a qual modelo de aprendizagem o pedagogo João atende. João possui competências que o classificam dentro de um modelo conceitual de aprendizagem. João é um profissional que gera oportunidades dentro de sua organização, relaciona-se bem com as pessoas, possui medidas administrativas e estratégicas com comprometimento. Alguns fatores como: resultados prévios e lógicos lhe influenciam no processo de transformação e exploração de demandas existentes e novas. Ele cria equipes com o foco em transformá-las em equipes comprometidas com o trabalho e que buscam o crescimento e oportunidades tanto para si quanto para os seus colaboradores. INFOGRÁFICO O infográfico que você verá agora sistematiza o modo como a aprendizagem organizacional tem sido compreendida e tratada nas empresas. Confira! EAD UNIFACVEST 6 Aprendizagem baseada em projetos A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL COMO FORMA DE CONTROLE DOS INDIVÍDUOS OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Apresentar uma reflexão crítica acerca do uso da Aprendizagem Organizacional como forma de controle nas organizações. RESUMO Este capítulo apresenta uma análise crítica da aprendizagem organizacional, abordando-a como um mecanismo que visa propiciar o controle dos indivíduos nas organizações. Resgata-se, neste sentido, as origens sistêmico-funcionalistas do conceito de aprendizagem organizacional e sua associação com a ideia de organização como um espaço para a obtenção de relações “harmoniosas” de trabalho. O uso da aprendizagem organizacional como forma de controle sustenta-se no argumento contido nos estudos sobre o processo de trabalho, segundo o qual as novas tecnologias de gestão utilizadas pelas organizações tem como finalidade possibilitar o controle dos indivíduos, controle este que, no que tange a aprendizagem organizacional, ocorre no nível cognitivo. INTRODUÇÃO O surgimento da teoria de sistemas ao final da década de 30, e sua posterior difusão nos estudos organizacionais na década de 50, representou um rompimento ontológico com os pressupostos funcionalistas predominantes nestes estudos ao longo do século XX. A influência desta teoria, construída em bases interdisciplinares a partir da biologia, possibilitou uma visão integrada do ambiente organizacional e da inter-relação entre seus elementos internos, assim como entre esses e o ambiente externo. EAD UNIFACVEST 7 Aprendizagem baseada em projetos Esta nova visão de mundo substituiu a visão reduzida da organização como uma estrutura simplificada e departamentalizada, cujos elementos constituintes eram passíveis de controle e predeterminação e cujo funcionamento poderia ser explicado a partir de leis gerais. Em contrapartida, o paradigma sistêmico introduz uma visão da organização, por meio da metáfora de organismo complexo, submetido à atuação de múltiplas e indeterminadas variáveis e a relações não lineares. A difusão dos pressupostos sistêmicos coincide com o declínio da burocracia e do taylorismo como formas de gestão das organizações e do trabalho, em função das mudanças ocorridas no contexto organizacional após a segunda guerra mundial. Estas mudanças levaram a maiores exigências de inovação e qualidade de produtos provocando, posteriormente, a crise do setor industrial em paralelo à expansão do setor de serviços. Como consequência, há uma mudança sobre as demandas de qualificação dos indivíduos. Nas organizações burocráticas, os trabalhadores deveriam restringir-se às atividades previamente prescritas e à tomada de decisões baseada em categorizações preexistentes, sendo submetidos a um controle direto. A hiperespecialização, exigida pelos processos burocráticos, foi substituída pela necessidade de um trabalhador com formação generalista, capaz de adaptar-se a diferentes processos e, principalmente, capaz de exercer a autonomiapara decidir rapidamente quando da ocorrência de eventos inesperados no decorrer do seu trabalho. Em outras palavras, um indivíduo apto a lidar com as organizações complexas preconizadas pela visão sistêmica. Dentre as características exigidas por este tipo de organização encontra-se a capacidade do indivíduo de aprender continuamente, formatando ao longo da sua vida “produtiva” múltiplos conhecimentos sobre os novos processos de produção. Da mesma forma, é demandada a capacidade de compartilhar o conhecimento adquirido sobre as atividades de trabalho, a fim de possibilitar a constituição de sistemas produtivos flexíveis (assim como a adaptação a estes sistemas). O discuro presente neste “novo” tipo de gestão voltada para a obtenção da flexibilidade ressalta com frequência a ampliação do espaço de autonomia e intervenção do sujeito sobre o seu próprio trabalho, além de supostamente permitir uma compreensão mais abrangente da organização, em contraposição à percepção fragmentada do indivíduo sobre o processo de trabalho sob a gestão burocrática, possibilitando a constituição de um ambiente mais propício ao desenvolvimento humano. É na oposição a esta visão da aprendizagem organizacional que se situa a análise que desenvolvemos neste capítulo, a saber, a discussão da aprendizagem organizacional não como uma possibilidade de desenvolvimento humano no trabalho. A nosso ver, a aprendizagem organizacional é utilizada como tecnologia de gestão que amplia o controle da organização sobre os indivíduos, no que se refere ao controle de suas premissas cognitivas, não obstante ela esteja fortemente revestida, nos meios acadêmicos e empresariais, por um discurso de autonomia do trabalho e crescimento dos indivíduos. A TEORIA DE SISTEMAS E AS ORIGENS DA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Na década de 30, sociólogos e cientistas passam a questionar a interpretação feita sobre o mundo e suas relações. Desta forma surge um novo paradigma, substituindo a visão mecanicista do mundo por um pensamento sistêmico, ou seja, o mundo passa a ser analisado por suas relações e integrações. Esta nova visão denomina-se Teoria dos EAD UNIFACVEST 8 Aprendizagem baseada em projetos Sistemas, segundo a qual “a propriedade das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior” (Capra, 1998). Prestes Motta (1971) entende por teoria dos sistemas um conjunto complexo de elementos que estão em constante interação e intercâmbio com os diversos ambientes. Esta teoria foi influenciada por diversas disciplinas científicas, entre elas biologia, ciências sociais e relações humanas. Para o estudo da aplicação do modelo do sistema aberto à teoria das organizações, a visão do processo simbiótico, pelo contato dessa abordagem com a teoria sociológica, é fundamental, assim como o conhecimento do funcionalismo, na concepção de Talcott Parsons. Foram fundamentais as contribuições do biólogo Ludwig von Bertalanffy que objetivava criar uma unidade entre as diversas ciências, sendo contra o reducionismo científico presente na década de 50. Segundo este biólogo, “um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação que formam um todo organizado no sentido de alcançar um propósito” (Bertalanffy, 1975, p. 33). Assim, Von Bertalanffy especifica as funções básicas da Sociedade de Pesquisa Geral dos Sistemas, fundada em 1954: investigar a isomorfia de conceitos, leis e modelos em vários campos e promover a transferência útil de um campo para outro; 2– encorajar a criação de modelos teóricos adequados em campos onde atualmente não existem: 3– reduzir ao mínimo a duplicação do esforço teórico em diferentes campos; 4– promover a unidade da ciência mediante a melhoria da comunicação entre os especialistas. (Bertalanffy, 1975, p. 33) A necessidade de relacionar o funcionamento do organismo vivo com o conceito de sistemas parte da premissa de que os problemas encontrados nos seres humanos são típicos de um sistema, considerando todas as partes envolvidas nele. Morgan (1996) propõe que o entendimento dos sistemas biológicos podem ser reproduzidos para teoria geral dos sistemas, trazendo para o campo organizacional conceitos como: homeostase (autorregulação e capacidade para se manter um sistema em estado estável – desvios ativam ações de correção a fim de assegurar a harmonia do sistema); entropia e entropia negativa (entropia caracteriza os sistemas fechados tendendo ao desaparecimento; os sistemas abertos buscam a autossustentação, por meio da entropia negativa, importando energia para compensar as tendências do processo entrópico); estrutura, função, diferenciação e integração (todos esses elementos estando inter-relacionados permitem a autossustentação); requisito de variedade (a diversividade do ambiente necessita que aja uma variedade de mecanismos de controle interno compatível); equifinalidades (relacionada à diversidade de métodos possíveis para se atingir um determinado objetivo); evolução do sistema (habilidade de expandir-se para formas mais complexas de diferenciação e integração). Para Katz e Kahn (1987), a abordagem mais desenvolvida de sistemas abertos é definida por Talcott Parsons, principal ator do funcionalismo, com o estudo das estruturas sociais, resultando na visão dessas estruturas como sistemas de natureza planejada, já que apresentam padrões de relacionamento. Fatores como pressões do ambiente, valores e expectativas compartilhadas reduzem a variabilidade possível desses padrões. EAD UNIFACVEST 9 Aprendizagem baseada em projetos Outras influências também têm sido absorvidas por muitos estudiosos que adotaram o modelo do sistema aberto na teoria das organizações. Entre elas se encontra a psicologia social, pela obra de F. H. Allport, que desenvolveu suas ideias em uma linha adequada à abordagem sistêmica das organizações, definindo estrutura como ciclos de eventos paralelos ou tangenciais que ocorrem em um sistema social. Da mesma forma, as ideias difundidas pela Teoria Geral de Sistemas e pelo Funcionalismo Parsoniano influenciaram significativamente os pesquisadores do Instituto Tavistock, de Londres, Fred Emery e Eric Trist, responsáveis pela elaboração do Modelo Sociotécnico de Organização. O Modelo Sociotécnico baseia-se na valorização não somente dos aspectos técnicos e tecnológicos do ambiente organizacional como também dos aspectos humanos e sociais: “a organização eficiente precisa levar em conta tanto as importações que o subsistema social faz do ambiente, isto é, valores e aspirações, como também a que faz o subsistema técnico, ou seja, matérias-primas, equipamentos, etc.” (Motta; Vasconcellos, 2006, p. 181). A noção sociotécnica de organização compreende que a eficiência produtiva seria, portanto, decorrente da integração entre os aspectos técnicos e sociais da organização, entendendo-se o subsistema técnico como aquele capaz de conferir a eficiência potencial do sistema como um todo, enquanto que o subsistema social seria responsável por tornar a eficiência potencial em eficiência real. Em outras palavras, o modelo aponta para o fato de que a eficiência técnica/tecnológica só é possível de ser alcançada considerando-se a participação dos indivíduos nos processos organizacionais de forma a mobilizar suas capacidades de aprendizagem e relacionamento mútuo, promovendo desta forma a integração entre os diferentes subsistemas de forma harmoniosa (e, consequentemente, produtiva). A concepção sociotécnica está alicerçada, assim, em características que a distinguem da concepção clássica de organização burocrática, uma vez que ela pressupõe que o indivíduo possua uma visão sistêmica do seu trabalho, como um conjunto de atividades integradas entre si, e não como uma série de tarefas parcelizadas que não possibilitam a percepção do todo;há uma ênfase no trabalho em grupo, no lugar do trabalho individualizado, sendo este grupo responsável pela organização de suas atividades e da própria distribuição de tarefas, conferindo um alto grau de autonomia ao grupo no que concerne à tomada de decisões relativas ao processo de trabalho, excluindo a existência de controles do trabalho externos aos grupos. O modelo sociotécnico de organização foi aplicado em várias empresas automobilísticas suecas na década de 70, como a Saab Scania e a Volvo. Nesta última, principalmente, em duas plantas nas cidades de Kalmar e Uddevala (esta construída no início da década de 90), que, em função de suas características únicas de organização do trabalho, tornaram-se paradigmas organizacionais. Ambas as fábricas da Volvo eram organizadas com base no trabalho em equipe: todas as tarefas de montagem dos veículos eram definidas pelos grupos de trabalho, assim como a distribuição das atividades e a organização de outras rotinas inerentes ao processo produtivo. A participação dos funcionários, desde operadores até os níveis diretivos, ocorreu desde o projeto da planta. Não havia níveis de supervisão na fábrica para o controle do trabalho, e a verificação de qualidade era compartilhada pelos próprios empregados. EAD UNIFACVEST 10 Aprendizagem baseada em projetos The plant was outstanding in its human-centredness and the quality of work with groups building whole cars based on theories of holistic human learning. The plant also introduced advanced computer technology in logistics and planning in order to supply the teams with the components they needed to build a specific car in an efficient way (Sandberg, 1994, p. 24). O mesmo autor enfatiza a importância da aplicação das ideias sociotécnicas, as quais contribuíram para o desenvolvimento de políticas de qualidade de vida do trabalho em conjunto com uma gestão voltada para o estímulo à aprendizagem e à resolução de problemas para os resultados alcançados nas duas plantas, em termos de satisfação dos funcionários e dos altos níveis de qualidade verificados nos carros produzidos nas duas fábricas. Contudo, não obstante o reconhecimento das experiências suecas pelo seu caráter de referência para o estudo dos modelos organizacionais, Morgan (1996) ressalta a enorme publicidade obtida pelo sistema de organização do trabalho volvista, não necessariamente decorrente do sucesso deste sistema. A principal contribuição do enfoque sistêmico para as teorias da organização, além da compreensão da interdependência entre os diversos elementos que compõem a organização, deve-se à identificação da necessidade de percepção das variáveis externas que incidem e interferem na atuação das organizações. Consequentemente, o debate corrente nos manuais gerenciais a partir das décadas de 70 e 80 orienta-se fortemente para a necessidade contínua de mudança, e para a capacidade das organizações de aprenderem e adaptarem-se a um ambiente em permanente estado de transformação: “o enfoque de sistemas fundamenta-se no princípio de que as organizações, como os organismos, estão ‘abertas’ ao seu meio ambiente e devem atingir uma relação apropriada com este ambiente caso queiram sobreviver” (Morgan, 1996, p. 46). A hegemonia de uma visão da organização como um sistema em constante interação com o ambiente e, em função disto, submetido a necessidade de permanente adaptação, contribuiu para o surgimento do enfoque da aprendizagem organizacional, desde a sua origem influenciado pela concepção sistêmica de organização. A noção da aprendizagem organizacional é relativamente recente nos estudos organizacionais. Cabe ressaltar que a ideia de aprendizagem era praticamente inexistente na concepção clássica e burocrática de organização, uma vez que a necessidade de aprendizagem não coadunava com a execução de tarefas prescritas e rotinizadas, características deste tipo de organização. O conceito de aprendizagem organizacional, neste sentido, contrapõe-se, em sua definição, à ideia de organizações normativas de cunho burocrático, alicerçadas no controle dos indivíduos. Esta oposição pode ser identificada já nos estudos realizados pelos autores ligados ao enfoque sociotécnico. Para Souza (2004), a aprendizagem organizacional está alinhada diretamente com a percepção de adequação da organização ao seu ambiente. A aprendizagem organizacional, assim, estaria intrinsecamente ligada à concepção de que as organizações estão em contínuo aprimoramento, abrangendo, neste processo, todos os tipos de mudanças organizacionais. O processo de aprendizagem deveria, neste contexto, contemplar um ou mais tipos de mudanças que podem afetar as EAD UNIFACVEST 11 Aprendizagem baseada em projetos organizações. A partir disto, deduz-se que os indivíduos segundo o enfoque da aprendizagem organizacional estariam aptos, naturalmente, à aprendizagem e à adequação a diferentes situações, impondo a estes as exigências de permanente formação e aprimoramento, a fim de tornarem-se capazes de atender às demandas das “novas” organizações. Transfere-se, desta forma, para o indivíduo, a responsabilidade de formação e requalificação a fim de atender às demandas de adaptação das organizações às mudanças. Na visão de Motta e Vasconcellos (2006), o conceito de aprendizagem organizacional está associado à necessidade e à capacidade de inovações tecnológicas e sociais pelas organizações. De acordo com estes autores, os pressupostos que definem as chamadas organizações “pós-industriais” estão baseados em aspectos como mudança contínua, comunicação, diferença e diversidade, autonomia, entre outros, que obrigam a adequação das organizações a sistemas ambientais complexos. À aprendizagem organizacional é então colocada a questão de como obter do comportamento humano a capacidade de inovação e adaptação a um contexto caracterizado por estes aspectos. Peter Senge (1994), autor de uma espécie de manual que propõe uma sistematização do conceito de aprendizagem organizacional, assim como os meios de sua aplicação, define que esta adaptação deve ser sustentada a partir da convergência de cinco elementos, os quais são denominados por ele de “disciplinas”. As cinco disciplinas descritas por Senge, “domínio pessoal”, “modelos mentais”, “objetivos comuns”, “aprendizado em grupo” e “raciocínio sistêmico” (a quinta disciplina), em conjunto, seriam responsáveis pela promoção da aprendizagem organizacional. Contudo, a quinta disciplina consistiria na base da aprendizagem organizacional. A quinta disciplina representa, para o autor, a percepção do indivíduo acerca das inter-relações subjacentes aos fenômenos, transcendendo desta forma uma visão “linear”, centrada unicamente na identificação de relações de causa e efeito. O conceito de quinta disciplina proposto por Peter Senge é claramente inspirado nos conceitos sociotécnicos desenvolvidos pelos pesquisadores de Tavistock Institute of Human Relations na década de 70. Além disso, a concepção contida na quinta disciplina estimularia a criação de “organizações de aprendizagem”, orientadas por práticas que desenvolvem a criatividade e a inovação, as quais se oporiam às “organizações controladoras” (Senge, 1994), sustentadas pela falta de autonomia dos indivíduos e pela limitação de sua criatividade. No entanto, um modelo de aplicação de um processo de aprendizagem sustentado em cinco “disciplinas”, ainda que em atuação “integrada”, induz à uma ideia do processo de aprendizagem como algo passível de formatação em um conjunto de etapas tão prescritivas quanto alguns princípios da administração clássica. Além disto, a concepção do processo de aprendizagem como um “modelo” pressupõe que todos os indivíduos desenvolvem a aprendizagem segundo um mesmo roteiro preestabelecido. O enfoque da aprendizagem organizacional e suas aplicações assemelham-se,neste aspecto, aos modelos conceituais funcionalistas que propõem a existência de um padrão de comportamento para os seres humanos, assim como para as organizações, padrão este passível de estimulação e de controle. Tal perspectiva é reforçada pela afirmação de Bulgacov (2000) acerca das origens epistemológicas do conceito de aprendizagem organizacional, classificando-o como uma teorização que poderia ser identificada como neofuncionalista. EAD UNIFACVEST 12 Aprendizagem baseada em projetos Embora amplamente difundido nos meios acadêmicos, o modelo de Aprendizagem Organizacional de Senge se junta a vários outros trabalhos acerca do tema nas últimas décadas. Não obstante a profusão de trabalhos sobre aprendizagem organizacional, este campo de estudos, como ressalta Souza (2004), ainda não se configura como um campo teórico, em vista da diversidade de conceitos sobre o tema, assim como das formas de sua aplicação. Versiani e Fischer (2008) destacam que a ausência de um modelo dominante de aprendizagem organizacional talvez se apresente como principal obstáculo para a formulação de uma teoria da aprendizagem organizacional. Por outro lado, os autores apontam a existência de trabalhos que tratam a aprendizagem organizacional como um modismo apenas e, portanto, de relevância temporária. De acordo com Weick e Wesley (1999), a impossibilidade da criação de uma teoria da aprendizagem organizacional decorre da dificuldade de conceituar “organizações”e “aprendizagem”: Organizar e aprender são essencialmente processos antagônicos, o que significa que a expressão aprendizagem organizacional é um oxímoro. Aprender é desorganizar e aumentar a variedade. Organizar é esquecer e reduzir a variedade. Os teóricos organizacionais negligenciaram esta tensão. (Weick; Wesley, 1999, p. 361) A afirmação dos autores corrobora a noção dos enfoques de aprendizagem organizacional como modelos que visam instrumentalizar um processo que ocorre individualmente, de formas distintas e não necessariamente voltados para a aplicação prática. Adiciona-se a esta afirmação a conclusão de Bulgacov (2000) de que a teorização contida nestes enfoques baseia-se no imperativo da coesão, da harmonia entre as partes em prol de um objetivo comum, não admitindo em hipótese alguma a existência de uma tensão entre os elementos que compõem o sistema. ORGANIZAÇÕES E CONTROLE: DA SUPERVISÃO DIRETA À APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL A maior parte da discussão sobre aprendizagem organizacional divide-se em duas grandes correntes, embora uma delas seja amplamente predominante. A primeira, e predominante, representa a corrente sistêmico-funcionalista, explicada na seção anterior deste capítulo, que tem como fundamento central a ideia de harmonia. Desta forma, o progresso de um sistema depende do progresso das suas diversas partes componentes e vice-versa. Esta visão tem sua origem nos sistemas cibernéticos e biológicos. A aprendizagem organizacional torna-se, portanto, uma ferramenta neutra de gestão que tem como objetivo principal melhorar o desempenho do sistema como um todo, em um jogo do tipo “ganha-ganha”. O conflito é entendido como um elemento externo ao sistema que, quando ocorre, diminui seu desempenho. Para reverter o quadro de baixo desempenho os gestores utilizam soluções criativas que acabam não só por fazer com que o sistema retorne ao desempenho original, mas o melhorem em graus variados. EAD UNIFACVEST 13 Aprendizagem baseada em projetos A segunda corrente tem sua origem nos estudos de uma tendência que ficou conhecida, principalmente na Grã-Bretanha, como análise do processo de trabalho* e que ganhou força e evidência a partir do trabalho seminal de Braverman (1974). De acordo com ela, as organizações e os indivíduos se encontram em constante conflito onde cada parte tenta ganhar algo em relação à outra para diminuir sua dependência de poder. Este poderia ser entendido como um “jogo de soma zero”, onde uma quantidade total de poder é distribuída em um sistema e, quando uma parte aumenta seu volume de poder, o faz necessariamente a retirando da outra parte. Essa perspectiva sustenta que as novas tecnologias de gestão são introduzidas pelas organizações para aumentar o controle sobre a força de trabalho. É nessa direção, entendendo a aprendizagem organizacional como uma tecnologia de gestão, que apresentamos nosso argumento neste capítulo. O conflito, nesta visão, é entendido como parte constituinte do sistema, já que as organizações não são sistemas cibernéticos ou biológicos, mas sociais. A questão do controle tem sido sempre central na teoria das organizações. Como sugere Kouzmin (1980, p. 134) “organização significa um método de controle social, uma forma de impor regularidade à sociedade ou à ação coletiva”. A centralidade do controle na teoria das organizações também foi enfatizada por Tannenbaum (1968, p. 3) que afirmou que: Uma organização social é um arranjo de interações humanas individuais. O processo de controle ajuda a circunscrever comportamentos idiossincráticos e os manter em conformidade com o plano racional da organização […] A coordenação, e a ordem, criadas a partir dos interesses diversos e dos comportamentos potencialmente difusos dos membros é em grande parte uma função do controle. Hickson (1966) sugere que as teorias sobre estruturas das organizações convergem todas para uma linha de análise, qual seja, a especificidade da prescrição do papel. Isso significa o grau em que as organizações controlam seus membros por meio de regras padronizadas preestabelecidas e descrevem seu comportamento durante o desenvolvimento de atividades organizacionais. Hickson argumenta que diferentes tipos de organização são produzidos a partir uma relação linear entre o grau de especificidade da prescrição do papel e outras variáveis da estrutura organizacional, no estudo de cada teórico. Por exemplo, Likert (1961) e Macgregor (1960) relacionam a especificidade do papel com a motivação. Para esses autores quanto maior for o grau de especificidade do papel menor será a motivação dos empregados. Thompson (1965) e Hage (1965) argumentam que a capacidade de inovar é maior quando o grau de especificidade do papel é menor. Crozier (1964) e Litwak (1961) lançaram a hipótese de que um grau mai baixo de prescrição causa conflito entre papéis em disputa por distribuição de poder dentro das organizações. Em uma abordagem semelhante Taylor (1947) e Fayol (1949) argumentam que um grau de especificidade maior reduz confusões durante o desenvolvimento das atividades organizacionais. Mais que um conjunto de técnicas para assegurar que o desempenho organizacional ocorrerá de acordo com os padrões estabelecidos, o controle tem sido analisado em relação ao desenvolvimento social. Perrow (1986) sugere, por exemplo, EAD UNIFACVEST 14 Aprendizagem baseada em projetos que com o processo de industrialização da sociedade moderna, as formas de controle tendem a passar do controle direto para o burocrático e, finalmente, para o controle das premissas cognitivas. O mesmo argumento básico pode ser encontrado nos estudos de Edward (1981), Burris (1989), Carvalho (1999), Silva (2003a) e Rosen e Baroudi (1982). É o controle das premissas cognitivas que nos interessa relacionar à aprendizagem organizacional que será desenvolvida na última parte deste trabalho. Perrow (1986) sumariza claramente essa questão. Ele sugere uma tipologia baseada em três tipos de controle organizacional: 1) controle direto, totalmente evidente; 2) controle burocrático ou menos evidente; 3) controle das premissas cognitivas ou totalmente não evidente. O controle totalmente evidente refere-se à supervisão direta de regras e regulamentos. Esse tipo de controle é necessário em períodos de instabilidade e crises organizacionais, mas falha ao tentarregular a bagagem pessoal, a estrutura cognitiva, anteriormente adquirida dos empregados. As regras também são ineficientes em períodos de inovação continuada. Esse tipo de controle requer um grande esforço da administração, particularmente, no que diz respeito a tempo e custos. O controle burocrático, por sua vez, é mais eficiente; ele está relacionado ao grau de padronização e especialização das atividades organizacionais. Quanto mais as atividades forem padronizadas e especializadas, os subordinados têm menor chance de tomar decisões de acordo com seus interesses pessoais. Perrow argumenta que isso explica alguns resultados de pesquisas anteriores (Blau; Scott, 1963; Blau, 1970; os estudos do Grupo de Aston – especialmente Pugh; Hickson, 1976 e Pugh; Hinings, 1976), que demonstram que quanto maior é o grau de burocratização maior será o grau de centralização. Isso ocorre porque a aplicação das regras e regulamentações organizacionais estabelece parâmetros individuais de discernimento, permitindo, assim, a previsibilidade e o controle do processo organizacional mais baixo. Os controles das premissas cognitivas ou totalmente não evidente é o mais difícil de ser alcançado, mas, é o mais eficaz. Refere-se à adesão normativa voluntária entre o subordinado e o objeto de sua tarefa. Por meio de um processo de internacionalização das premissas comportamentais necessárias para o desenvolvimento da tarefa. Embora aplicável a todos os níveis da organização, essa forma de controle é mais importante quando a natureza do trabalho é rotineira; nesse caso as regras e os regulamentos não podem ser estabelecidos para a determinação do comportamento durante o desenvolvimento das atividades (ex.: cientistas em laboratório de pesquisa, professores em universidades, executivos de níveis hierárquicos em empresas, etc.). Esse tipo de controle é frequentemente mais usado em níveis mais altos da organização do que nos níveis mais baixos, porque o trabalho gerencial como o administrativo é menos rotineiro. Embora o controle direto e burocrático seja mais visível nos níveis mais baixos da hierarquia, todos esses níveis de controle são encontrados em todos os níveis organizacionais, variando apenas no seu grau de aplicabilidade. Um aspecto importante do argumento de Perrow (1986) a respeito da transição para as formas menos visíveis de controle é que embora essas formas sejam mais evidentes hoje, as outras continuam a ser aplicadas. A aprendizagem organizacional é entendida por nós neste capítulo como uma forma avançada de controle das premissas cognitivas (controle visível), uma vez que tem sido considerada como uma questão estratégica relacionada não apenas a questões técnicas, mas também, a mudanças culturais nas organizações. EAD UNIFACVEST 15 Aprendizagem baseada em projetos CONCLUSÃO Barker (1993) conclui que, ao contrário de alguns defensores da especialização flexível e de formas organizacionais de grupos, o controle consentido emergente dessas estruturas dá mais enrijecimento à gaiola de ferro weberiana, por meio de uma poderosa combinação de pressão dos pares e de regras racionais em um sistema de controle consentido, aprendido e reproduzido pelos próprios funcionários. Carvalho (2003) em um estudo emblemático na Siderúrgica Riograndense analisou como a organização, por meio de técnicas de gestão da qualidade, altera os mecanismos de controle de burocráticos para culturais. Esta mudança estava fortemente vinculada à estratégia de internacionalização do grupo do qual a Siderúrgica faz parte. Um organização familiar não seria legitimada no mercado internacional sem um modelo de gestão considerado moderno e profissional. No estudo de Carvalho (2003, p. 280) a autora argumenta que [...] a cultura é compreendida como um conjunto de evidências compartilhadas (THÉVENET e VACHETTE, 1994). Essas evidências são construídas ao longo da história da organização, como respostas encontradas para problemas, e se transformam na solução permanente para um problema da coletividade (BERGER E LUCKMANN, 1996). Elas não exigem verificação; são consideradas como ‘indo por si’ (allant de soi) e só são problematizadas quando não servem mais ao uso convencional de maneira adequada. Os resultados de Carvalho (2003) demonstram a construção de um novo mundo organizacional, compartilhado e aprendido, a partir da introdução da ferramenta de gestão da qualidade. Este novo mundo transforma o colega de trabalho em controlador. No caso da aprendizagem organizacional, argumenta-se que ela faz parte de um conjunto, ao mesmo tempo amplo e específico, de técnicas de gestão que compõem o controle invisível (controle das premissas cognitivas) de Perrow (1986) que vem evoluindo ao longo do tempo nas organizações. Seu mecanismo de funcionamento pode ser reduzido a um jogo de poder. Quando o trabalhador aprende algo novo e esse “algo” é útil para a organização, ocorre o que já é de senso comum conceber-se como aprendizagem individual. Tal aprendizagem é, muitas vezes, patrocinada total ou parcialmente pela própria organização (cursos de MBA, ou oficinas para treinamento específico, por exemplo), ou pode emergir das interações entre os trabalhadores. Nesse momento de aprendizagem o trabalhador adquire conhecimento, especialização ou técnica que é útil e, neste sentido, ele diminui sua dependência de poder em relação à organização. Relembramos neste momento que definimos toda e qualquer organização como uma forma de poder ou, em sentido weberiano, como uma forma de dominação (manutenção da ordem dada por um período longo de tempo). No jogo de poder, a organização, obviamente, sempre possui um volume muito maior de recursos do que o indivíduo. Ao aprender, o indivíduo aumenta seus recursos de poder e pode negociar melhor sua posição no espaço organizacional. É neste exato EAD UNIFACVEST 16 Aprendizagem baseada em projetos momento que entra no jogo a aprendizagem organizacional; uma regra segundo a qual o indivíduo que aprendeu, e portanto ganhou poder para jogar, é obrigado a compartilhar seu aprendizado em um suposto benefício mútuo, como se o jogo pudesse ser considerado uma partida do tipo ganha-ganha. Esse argumento só pode ser considerado razoável quando se aceita o paradigma sistêmico-funcionalista como orientação epistemológica, origem da aprendizagem organizacional. Não nos cabe discorrer agora sobre as formas como se dá a passagem da aprendizagem individual para a organizacional. Este livro está cheio de exemplos nos capítulos seguintes (treinamentos, cursos, institucionalização de regras e procedimentos, etc.) Cabe-nos, entretanto, reafirmar o nosso argumento de que tanto quanto razoável, no sentido de possuir lógica interna, consideramos a técnica de gestão, conhecida como aprendizagem organizacional fundamentada na visão sistêmico-funcionalista de organização social, se não ingênua, no mínimo perigosa para o indivíduo. EXERCÍCIOS 1) Segundo Tannenbaum (1968, p. , _______ é um arranjo de interações humanas individuais. O processo de controle ajuda a circunscrever comportamentos idiossincráticos e mantê-los em conformidade com o plano racional da organização. A coordenação e a ordem, criadas a partir dos interesses diversos e dos comportamentos potencialmente difusos dos membros, são, em grande parte, uma função do controle. A) Uma organização social. B) Uma organização. C) Uma empresa privada. D) Uma escola. E) Uma organização governamental. 2) O que são organizações de aprendizagem? A) São organizações que não estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo comum. B) São organizações que estimulam os gestores no alcance de um objetivo comum. C) São organizações que estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo diferente.D) São organizações que estimulam o seu elemento humano. E) São organizações que estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo comum. EAD UNIFACVEST 17 Aprendizagem baseada em projetos 3) _______ é entendida como uma forma avançada de controle das premissas cognitivas (controle visível), uma vez que tem sido considerada como uma questão estratégica relacionada não apenas a questões técnicas, mas também a mudanças culturais nas organizações. A) A organização. B) A aprendizagem organizacional. C) A aprendizaqgem. D) A organização do indivíduo na empresa. E) A organização e suas técnicas. 4) O dificultador das organizações contemporâneas para alcançar a organização da aprendizagem configura-se na expressão "aprender a aprender", talvez pelo fato de que tenhamos que nos reinventar constantemente. A realidade empresarial está em mutação plena e carece de profissionais capazes de cair, levantar, cair e levantar novamente, e que aprendam com todas as adversidades existentes. De acordo com o conteúdo trabalhado até aqui e após ler as alternativas a seguir, escolha aquela que melhor define a expressão "aprender a aprender". A) Aprender a acreditar nas oportunidades que as mudanças trazem consigo. B) Tornar-se competente e manter-se assim. C) Adquirir uma postura flexível, em que o erro é visto como uma experiência positiva, além de uma oportunidade na construção de um novo conhecimento. D) Aquisição, disseminação e interpretação de informações. E) Em essência, as organizações que aprendem são capazes não somente de aprender, mas também de aprender a aprender. 5) As cinco disciplinas de Peter Senge configuram um marco nos estudos de gestão. Podemos observar em seus trabalhos que não basta apenas desenvolver o lado organizacional se não houver, no controle e desenvolvimento dos processos, pessoas com características diferenciadas. No entanto, se pudéssemos sintetizar todos os estudos de Peter Senge, quais seriam eles? A) Modelos mentais. B) Domínio pessoal. C) Aprendizado em grupo. EAD UNIFACVEST 18 Aprendizagem baseada em projetos D) Objetivo comum. E) Raciocínio sistêmico. EAD UNIFACVEST 19 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE II Dinâmica de equipe APRESENTAÇÃO Olá! Você já ouviu a expressão de que o todo pode ser maior do que a simples equação de soma das partes? Analogamente, o conjunto das performances individuais isoladas de um grupo de determinada organização pode ser ampliada pela ideia de que em uma equipe, as performances são desenvolvidas coletivamente, em torno de um objetivo comum. Com o compartilhamento de metas e modos de fazer e operacionalizar o trabalho, a integração de competências pode desdobrar-se em resultados otimizados pela cadência na realização das atividades laborais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as principais diferenças e entre equipes e grupos, bem como as diferentes maneiras pelas quais uma equipe pode contribuir para a consecução de metas e objetivos organizacionais, além de identificar tipos de equipes, como a autodirigida e a virtual. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Explicar o que é equipe e o que é grupo. II. Analisar as contribuições das equipes. III. Identificar tipos de equipe: autodirigida e virtual. EAD UNIFACVEST 20 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO A fábrica da Reckitt Benckiser (RB) em Derby, Grã-Bretanha, é um modelo de eficiência, mas você não vai encontrar muitos chefes por lá. As duas áreas de produção da unidade ultracompetitiva (uma faz líquidos de alto volume como o detergente Woolite, a outra é a única produtora de aerosóis da Europa) operam com equipes autolideradas. As equipes são responsáveis pelo treinamento, pela melhoria da produtividade e pelo controle de qualidade. A fábrica emprega 200 funcionários e possui apenas três gerentes de produção. Os funcionários recebem bonificações de equipe baseadas na qualidade dos produtos e na rapidez com que resolvem problemas de qualidade. As equipes autodirigidas também alicerçam a produção da fábrica de produtos de saúde da RB em Hull, na Grã-Bretanha. “O pessoal nas linhas de frente decide como vai trabalhar nas próximas três ou quatro semanas”, conta um líder de equipe na fábrica de Hull, que produz o antiácido Gaviscon® e outros medicamentos de venda livre. Outro líder de equipe se orgulha em dizer que sua equipe se tornou “uma das mais eficientes do norte da Europa”, porque “tivemos a oportunidade de assumir o controle em relação à linha”. O espírito de equipe da Reckitt Benckiser se estende ao Marketing, pesquisa e outras funções, muitas vezes com equipes virtuais. “Na maioria dos projetos de que participei, os membros de equipe quase sempre estão em países diferentes”, explica Gaonan, que trabalha no grupo de serviços de informação (SI) da RB. “O que você acha que é a base das equipes globais?”, ele pergunta. “O elementos essencial é a confiança. O pessoal de SI que está em um local confia que seus membros de equipe que estão em outro continente entendem totalmente e podem ajudá-los a resolver seus problemas”. A cultura orientada para equipes da RB é reforçada pela socialização, recompensas e eventos de formação de equipe. Por exemplo, 65 funcionários de 34 países se reuniram recentemente no Brasil para reformar instalações dedicadas a crianças em idade pré-escolar em situação vulnerável e para levantar fundos com uma caminhada na natureza. “Trabalho não faltava, e todos trabalhamos incrivelmente bem em equipe... é o estilo da RB, é claro!”, conta Mmalorato Mabaso, gerente da RB na África do Sul que participou do evento no Brasil. “A equipe se reuniu com um só objetivo em mente: levar esperança às crianças”. A ênfase da Reckitt Benckiser no trabalho em equipe é um dos motivos para a empresa ser uma rival importante da Procter & Gamble e da Unilever, mas a empresa britânica de produtos de higiene e limpeza não é a única a aproveitar os benefícios das equipes. 1) Identifique no texto os tipos de equipe da empresa RB. 2) Aponte os fatores que contribuíram/contribuem para o sucesso. 3) Analise a viabilidade e os riscos da implementação de equipes semiautônomas no setor de produção: você deverá imaginar se é possível ter equipes semiautônomas em linhas de produção de alimentos, de carros etc., sinalizando os possíveis impactos (positivos ou negativos). EAD UNIFACVEST 21 Aprendizagem baseada em projetos INFOGRÁFICO EAD UNIFACVEST 22 Aprendizagem baseada em projetos DINÂMICA DE EQUIPE A fábrica da Reckitt Benckiser (RB) em Derby, Grã-Bretanha, é um modelo de eficiência, mas você não vai encontrar muitos chefes por lá. As duas áreas de produção da unidade ultracompetitiva (uma faz líquidos de alto volume como o detergente Woolite®, a outra é a única produtora de aerosóis da Europa) operam com equipes autolideradas. As equipes são responsáveis pelo treinamento, pela melhoria da produtividade e pelo controle de qualidade. A fábrica emprega 200 funcionários e possui apenas três gerentes de produção. Os funcionários recebem bonificações de equipe baseadas na qualidade dos produtos e na rapidez com que resolvem problemas de qualidade. As equipes autodirigidas também alicerçam a produção da fábrica de produtos de saúde da RB em Hull, na Grã-Bretanha. “O pessoal nas linhas de frente decide como EAD UNIFACVEST 23 Aprendizagem baseada em projetos vai trabalhar nas próximas três ou quatro semanas”, conta um líder de equipe na fábricade Hull, que produz o antiácido Gaviscon® e outros medicamentos de venda livre. Outro líder de equipe se orgulha em dizer que sua equipe se tornou “uma das mais eficientes do norte da Europa” porque “tivemos a oportunidade de assumir o controle em relação à linha”. O espírito de equipe da Reckitt Benckiser se estende ao marketing, pesquisa e outras funções, muitas vezes com equipes virtuais. “Na maioria dos projetos de que participei, os membros de equipe quase sempre estão em países diferentes”, explica Gaonan, que trabalha no grupo de serviços de informação (SI) da RB. “O que você acha que é a base das equipes globais?”, ele pergunta. “O elementos essencial é a confiança. O pessoal de SI que está em um local confia que seus membros de equipe que estão em outro continente entendem totalmente e podem ajudá-los a resolver seus problemas”. A cultura orientada para equipes da RB é reforçada pela socialização, recompensas e eventos de formação de equipe. Por exemplo, 65 funcionários de 34 países se reuniram recentemente no Brasil para reformar instalações dedicadas a crianças em idade pré-escolar em situação vulnerável e para levantar fundos com uma caminhada na natureza. “Trabalho não faltava e todos trabalhamos incrivelmente bem em equipe... é o estilo da RB, é claro!”, conta Mmalorato Mabaso, gerente da RB na África do Sul que participou do evento no Brasil. “A equipe se reuniu com uma só objetivo em mente: levar esperança às crianças”. A ênfase da Reckitt Benckiser no trabalho em equipe é um dos motivos para a empresa ser uma rival importante da Procter & Gamble e da Unilever, mas a empresa britânica de produtos de higiene e limpeza não é a única a aproveitar os benefícios das equipes. Mais da metade das organizações reunidas em uma pesquisa recente usa equipes em um ponto elevado ou muito elevado para conduzir os negócios do dia a dia. Além disso, 77% dessas empresas contam com equipes para projetos únicos e 67%, para projetos contínuos. Em comparação, uma década atrás, apenas 50% dos executivos afirmava que seu trabalho era realizado em equipes. Duas décadas atrás, apenas 20% desses executivos afirmavam trabalhar em equipes. O trabalho em equipe também se tornou mais importante na pesquisa científica. Um estudo recente com quase 20 milhões de publicações de pesquisa mostrou que a porcentagem de artigos escritos por equipes aumentou substancialmente ao longo das últimas cinco décadas. Esses artigos também tiveram um número muito maior de citações subsequentes, sugerindo que são superiores aos escritos por um único indivíduo. EAD UNIFACVEST 24 Aprendizagem baseada em projetos Por que as equipes estão ficando tão importantes e como as empresas podem reforçar seu potencial para a eficácia organizacional? Encontramos a resposta para essa e outras perguntas neste capítulo sobre dinâmica de equipe, que começará definindo as equipes e examinando as razões pelas quais as empresas se baseiam nelas e por que as pessoas participam de grupos informais nos contextos organizacionais. Uma grande parte deste capítulo examinará um modelo de eficácia da equipe, que inclui o ambiente da equipe e o da organização, a formação de equipes e os processos de equipe: o desenvolvimento, as normas, a coesão e a confiança. Depois voltaremos nossa atenção para dois tipos específicos de equipes: autodirigidas e virtuais. A seção final deste capítulo examinará desafios e estratégias para tomar melhores decisões em equipe. Objetivos de aprendizagem Após ler este capítulo, você deve ser capaz de: OA1 Discutir os benefícios e limitações das equipes e explicar por que os funcionários participam de grupos informais. OA2 Apresentar o modelo de eficácia da equipe e discutir como as características da tarefa, o tamanho e a composição da equipe influenciam em tal eficácia. OA3 Discutir como os quatro processos da equipe (desenvolvimento, normas, coesão e confiança) influenciam em sua eficiência. OA4 Discutir as características e fatores necessários para o sucesso das equipes autodirigidas e das equipes virtuais. OA5 Identificar quatro restrições à tomada de decisão da equipe e discutir as vantagens e desvantagens das quatro estruturas destinadas a aprimorá-la. OA1 EQUIPES E GRUPOS INFORMAIS Equipes são grupos de duas ou mais pessoas que interagem e influenciam umas às outras, que se consideram mutuamente responsáveis por atingir objetivos comuns associados aos objetivos organizacionais e que se percebem como uma entidade social dentro de uma empresa.4 Essa definição tem alguns componentes importantes que valem a pena ser enfatizados. Primeiro, todas as equipes existem para satisfazer alguma finalidade, por exemplo, consertar linhas de transmissão elétrica, montar um produto, conceber um novo programa de bem- -estar social, tomar uma decisão importante ou atingir algum outro objetivo. Segundo, os membros da equipe são mantidos unidos pela sua interdependência e necessidade de colaboração para atingir objetivos comuns. Todas as equipes requerem alguma forma de comunicação para que os membros possam coordenar e compartilhar objetivos comuns. Terceiro, os membros da equipe influenciam uns aos outros, embora alguns possam ser mais influentes do que outros em relação aos objetivos e atividades da equipe. Finalmente, uma equipe existe quando seus membros se veem como uma equipe. A Figura 8.1 descreve brevemente diversos tipos de equipes organizacionais. Algumas equipes são permanentes, enquanto outras são temporárias; algumas são responsáveis por criar produtos ou prestar serviços, enquanto outras existem para tomar decisões ou compartilhar conhecimento. Cada tipo de equipe foi criado deliberadamente para atender a um propósito organizacional. Algumas equipes, como EAD UNIFACVEST 25 Aprendizagem baseada em projetos as de skunkworks, inicialmente não são sancionadas pela gestão, no entanto são chamadas de “equipes” porque seus membros trabalham para um objetivo organizacional. GRUPOS INFORMAIS A maior parte deste capítulo se concentra nas equipes formais, mas os funcionários também pertencem a grupos informais. Todas as equipes são grupos, mas muitos deles não satisfazem a nossa definição de equipe. Grupos incluem pessoas reunidas, tendo elas ou não interdependência ou objetivo focalizado na empresa. Os amigos que você encontra no almoço são um grupo informal, mas não seriam chamados de equipe porque têm pouca ou nenhuma interdependência (cada pessoa poderia almoçar sozinha com a mesma facilidade) e nenhum propósito determinado organizacionalmente. Em vez disso, os grupos informais existem principalmente para o benefício dos seus membros. Embora os termos sejam empregados como sinônimos, a palavra equipes praticamente substituiu grupos na linguagem dos negócios quando se faz referência a funcionários que trabalham juntos a fim de realizar tarefas organizacionais. Por que os grupos informais existem? Uma razão para isso é que os seres humanos são animais sociais. A evolução gerou um impulso inato de nos vincularmos, criando uma necessidade de pertencer a grupos informais.6 Isso é evidenciado pelo fato de que as pessoas investem tempo e esforço consideráveis formando e mantendo relações sociais EAD UNIFACVEST 26 Aprendizagem baseada em projetos sem quaisquer circunstâncias especiais ou outros motivos. Outra razão pela qual as pessoas participam de grupos informais é dada pela teoria da identidade social, segundo a qual os indivíduos se definem pelos grupos aos quais são afiliados (ver Capítulo 3). Desse modo, participamos de grupos, particularmente os que são vistos favoravelmente pelas outras pessoas e que têm valores similares aos nossos, porque eles moldam e reforçam nossos autoconceitos. Uma terceira razão pela qual as pessoas são motivadas a formar grupos informais é quetais grupos realizam tarefas que não podem ser realizadas por indivíduos que trabalham isoladamente. Por exemplo, os funcionários às vezes se reúnem para combater mudanças organizacionais porque esse esforço coletivo tem mais energia do que quando os indivíduos tentam enfrentar a mudança sozinhos. Esses grupos informais, chamados de coalizões, são discutidas no Capítulo 10. Uma quarta explicação para a existência dos grupos informais é que nos sentimos confortados pela mera presença de outras pessoas e, portanto, somos motivados a ficar próximos delas nas situações estressantes. Quando estão em perigo, as pessoas se juntam, mesmo que isso não tenha um efeito protetor. De modo similar, os funcionários tendem a socializar com mais frequência após ouvirem rumores de que a empresa pode ser adquirida por um concorrente. Como explicou o Capítulo 4, esse convívios social minimiza o estresse ao dar apoio emocional e/ou informacional para amortecer a experiência de estresse. Grupos informais e resultados organizacionais Os grupos informais não são criados para atender aos objetivos organizacionais. Todavia, eles têm uma profunda influência sobre as empresas e seus funcionários. Os grupos informais têm potencial para minimizar o estresse do funcionário porque, como acabamos de mencionar, os membros do grupo proporcionam apoio social emocional e informacional. Tal capacidade melhora o bem-estar do funcionário e, no processo, a eficácia organizacional. Os grupos informais também são a espinha dorsal das redes sociais, fontes importantes de criação de confiança, compartilhamento de informações, poder, influência e bem-estar dos funcionários no local de trabalho.9 O Capítulo 9 descreverá a importância crescente dos sites de rede social similares ao Facebook e ao LinkedIn para estimular a formação de grupos informais e a comunicação a eles associada. O Capítulo 10 explica como as redes sociais são uma fonte de influência em ambientes organizacionais. Os funcionários com redes informais fortes tendem a ter mais poder e influência porque recebem informações melhores e tratamento preferencial das outras pessoas, e seu talento é mais visível para os principais tomadores de decisão. EAD UNIFACVEST 27 Aprendizagem baseada em projetos VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS EQUIPES É raro que um funcionário trabalhe sozinho na Menlo Innovations. A desenvolvedora de software de Ann Arbor, Michigan, organiza os funcionários em duplas todas as semanas. Dois funcionários compartilham um só computador enquanto analisam ideias na mesma parte de um grande projeto. Além de trocar de parceiro, toda segunda-feira os cerca de 25 funcionários se focam em uma parte diferente do projeto, ou até mesmo passam para projetos diferentes. “O simples fato de uma pessoa contar para a outra em que estado está o projeto, dizer tudo em voz alta, traz à baila coisas que ninguém tinha notado antes”, explica Richard Sheridan, um dos quatro cofundadores da Menlo Innovations. “Isso os torna mais inteligentes” O sistema de dança das cadeiras da Menlo Innovations indica que o trabalho em equipe é um ingrediente importante para o sucesso da empresa de software. Por que as equipes são tão importantes? A resposta para essa pergunta envolve uma longa história.12 As primeiras pesquisas sobre a mineração de carvão britânica nos anos 1940, sobre o milagre econômico japonês nos anos 1970 e uma imensa quantidade de investigações desde então revelaram que, sob as condições certas, as equipes tomam decisões melhores, desenvolvem produtos e serviços melhores e criam uma força de trabalho mais envolvida do que os funcionários trabalhando isoladamente o fariam.13 Do mesmo modo, os membros da equipe podem compartilhar rapidamente as informações e coordenar as tarefas, enquanto esses processos são mais lentos e propensos a erros nos departamentos tradicionais liderados por supervisores. Em geral, as equipes prestam ao cliente um serviço superior porque lhe fornecem uma gama mais ampla de conhecimento e especialização do que as “estrelas” individuais podem oferecer. Em muitas situações, as pessoas podem estar mais motivadas quando trabalham em equipes do que quando trabalham sozinhas.14 Uma razão para essa motivação é que, como foi mencionado alguns parágrafos atrás, os funcionários têm um impulso para se vincular e são motivados a satisfazer os objetivos dos grupos aos quais pertencem. Essa motivação é particularmente forte quando a equipe é parte da identidade social do funcionário. Segundo, as pessoas são mais motivadas em equipes porque são responsáveis perante os colegas de equipe que monitoram o seu desempenho mais estreitamente do que um supervisor tradicional. Isso é particularmente verdadeiro quando o desempenho da equipe depende do pior executor, como em uma linha de montagem, na qual a velocidade da montagem de um produto depende da velocidade do funcionário mais lento. Terceiro, em algumas circunstâncias, o desempenho melhora quando os funcionários trabalham perto dos outros porque os colegas se tornam parâmetros de comparação. Os funcionários também são motivados a trabalhar mais intensamente devido à apreensão de que seu desempenho seja comparado ao desempenho dos demais. EAD UNIFACVEST 28 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIOS DAS EQUIPES Apesar dos muitos benefícios do trabalho das equipes, elas nem sempre são tão eficazes quanto os indivíduos trabalhando sozinhos.15 Geralmente, as equipes são mais adequadas para o trabalho complexo, como projetar uma edificação ou auditar os registros financeiros de uma empresa. Sob essas circunstâncias, uma pessoa sozinha raramente possui todo o conhecimento e as habilidades necessárias. Em vez disso, os trabalhos complexos são realizados com melhor qualidade com a divisão das tarefas entre funções mais especializadas, com as pessoas em tais cargos especializados se coordenando umas com as outras. Por outro lado, o trabalho normalmente é realizado de maneira mais eficaz pelos indivíduos isoladamente quando possuem todo o conhecimento e habilidades necessárias e quando ele não pode ser dividido em tarefas especializadas ou não é suficientemente complexo para se beneficiar da especialização. Mesmo quando o trabalho pode e deve ser especializado, uma estrutura de equipe pode não ser necessária se as tarefas realizadas por várias pessoas exigirem pouca coordenação. O principal problema das equipes é que elas têm custos adicionais chamados perdas de processo, que são os recursos (incluindo tempo e energia) despendidos para o desenvolvimento e a manutenção da equipe em vez da tarefa.16 Para um indivíduo, é muito mais eficiente trabalhar uma questão sozinho do que resolver diferenças de opinião com outras pessoas. Para que uma equipe tenha um bom desempenho, seus membros precisam entrar em acordo e compreender mutuamente seus objetivos, a estratégia para alcançar tais objetivos, suas funções específicas e as regras de conduta informais. Os membros da equipe precisam desviar tempo e energia que seriam destinados à realização do trabalho para que possam desenvolver e manter esses elementos necessários para a equipe. O problema das perdas de processo é particularmente evidente quando mais funcionários são acrescentados ou substituem outros na equipe. O desempenho da equipe sofre quando ela acrescenta membros porque os funcionários precisam aprender como a equipe funciona e como se EAD UNIFACVEST 29 Aprendizagem baseada em projetos coordenar de maneira eficiente com os outros membros. As perdas de processo também ocorrem bastante devido à necessidade de redistribuir a carga de trabalho. A indústria de software tem até um nome para esse fenômeno: a lei de Brooks (conhecida também como “mito do homem-mês”) diz que acrescentar mais pessoas a um projeto de software atrasado apenas o atrasa aindamais! De acordo com algumas fontes, a Apple, Inc., pode ter caído nessa armadilha no desenvolvimento recente do seu aplicativo de fotografia profissional, chamado Aperture. Quando o projeto começou a ter o seu cronograma atrasado, o gestor encarregado dele aumentou o tamanho da equipe; algumas fontes dizem que em poucas semanas a equipe passou de 20 para 150 engenheiros e pessoal de garantia de qualidade. Infelizmente, acrescentar tantas pessoas atrasou ainda mais o projeto. O resultado? Quando finalmente foi lançado, o Aperture contava com nove meses de atraso e foi considerado um dos produtos mais cheios de bugs do catálogo da Apple. Ócio social Talvez a limitação das equipes mais conhecida seja o risco de perda da produtividade decorrente do ócio social, que ocorre quando as pessoas exercem menos esforço (e geralmente têm um desempenho inferior) quando trabalham em grupos do que quando trabalham sozinhas.19 O ócio social tende a ser mais grave quando o desempenho do indivíduo é menos propenso a ser notado, como quando as pessoas trabalham juntas em equipes grandes. O resultado do indivíduo também é menos perceptível quando a equipe produz um único resultado (em vez de cada membro da equipe ter sua produção estabelecida e mensurável), por exemplo, encontra uma única solução para o problema de um cliente. O ócio social é menor quando a contribuição de cada membro da equipe é mais perceptível, o que pode ser alcançado pela redução do tamanho da equipe, por exemplo, ou pela mensuração do desempenho de cada membro. A Strategic Investments & Holdings Inc., uma empresa especializada em aquisições de Buffalo, no estado de Nova Iorque, restringe propositalmente o número de seus diretores exatamente por esse motivo. “Quando o grupo é menor, não há como se esconder”, explica David Zebro, diretor da Strategic Investments. “Todos precisam fazer a sua parte”. O ócio social também depende da motivação do funcionário para realizar o trabalho. Ele é menos prevalente quando a tarefa é interessante, porque os indivíduos são mais motivados pelo próprio trabalho a cumprir suas obrigações. Por exemplo, um estudo recente revelou que a apatia dos alunos explica parte do ócio social que ocorre nas equipes de estudantes universitários. Esse fenômeno também é menos comum quando o objetivo da equipe é importante, possivelmente porque os indivíduos sentem mais pressão dos colegas de trabalho para ter um bom desempenho. Finalmente, o ócio EAD UNIFACVEST 30 Aprendizagem baseada em projetos social ocorre com menos frequência entre os membros que valorizam a participação na equipe e acreditam trabalhar para atender aos objetivos dela. Em suma, as equipes podem ser forças poderosas de vantagem competitiva ou significar mais problemas do que soluções, tanto que o desempenho e o moral no trabalho diminuem quando os funcionários são colocados em equipes. Para compreendermos quando as equipes são melhores do que os indivíduos trabalhando sozinhos, precisamos examinar mais de perto as condições que tornam as equipes eficazes ou ineficazes. As próximas seções deste capítulo discutirão o modelo de eficácia da equipe. OA2 MODELO DE EFICÁCIA DAS EQUIPES Por que algumas equipes são eficazes enquanto outras fracassam? Para responder a essa pergunta, precisamos esclarecer o significado de eficácia da equipe. Uma equipe é eficaz quando beneficia a empresa, seus membros e sua própria sobrevivência.22 Primeiro, as equipes existem para servir a algum propósito organizacional, então a eficiência é medida parcialmente pela realização desse propósito. Segundo, a eficácia de uma equipe se baseia na satisfação e no bem- -estar dos seus membros. As pessoas participam de grupos para satisfazer suas necessidades, então a eficácia é medida parcialmente pela sua satisfação. Finalmente, a eficácia da equipe inclui sua própria viabilidade, sua capacidade para sobreviver, pois deve conseguir manter o comprometimento dos seus membros, particularmente durante a turbulência do desenvolvimento da equipe. Sem esse comprometimento, a equipe desmorona. A equipe também deve garantir recursos suficientes e encontrar um ambiente benevolente no qual atuar. Os pesquisadores desenvolveram vários modelos ao longo dos anos para identificar as características ou condições que tornam algumas equipes mais eficazes do que outras. A Figura 8.2 reúne os principais componentes desses modelos de eficácia das equipes. Examinaremos de perto cada componente ao longo das próximas páginas. A melhor maneira de analisar a figura é como um metamodelo que conecta diversas teorias, pois cada componente (desenvolvimento da equipe, coesão da equipe, etc.) tem o seu próprio conjunto de teorias e modelos para explicar sua própria atuação. Ambiente da organização e da equipe O ambiente organizacional e da equipe representa todas as condições, para além das fronteiras da equipe, que influenciam a sua eficácia. Os membros da equipe tendem a trabalhar juntos com mais eficácia quando são ao menos em parte recompensados pelo desempenho dela. Outro fator ambiental é a estrutura EAD UNIFACVEST 31 Aprendizagem baseada em projetos organizacional. As equipes se desenvolvem quando organizadas em torno dos processos de trabalho, pois essa estrutura aumenta a interação e a interdependência entre os membros da equipe e diminui a interação com as pessoas fora dela. As equipes de alto desempenho também dependem dos líderes organizacionais, que fornecem apoio e direção estratégica enquanto os membros da equipe se concentram na eficiência operacional e na flexibilidade. A configuração física do espaço de trabalho da equipe também pode fazer a diferença. Por exemplo, a Toyota Motor Company, a PSA Peugeot Citroën e outras empresas têm uma “sala de obeya” onde reúnem os membros de projetos com formações e habilidades diversas para resolver problemas mais rapidamente. EAD UNIFACVEST 32 Aprendizagem baseada em projetos ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DA EQUIPE Além de estabelecerem um ambiente favorável à equipe, os líderes precisam formar cuidadosamente a própria equipe, determinando as características da tarefa e o tamanho, a composição e as funções dela. Características da tarefa As equipes são mais eficazes do que os indivíduos em tipos específicos de tarefas. Elas são melhores em tarefas complexas demais para qualquer indivíduo isolado, como lançar um negócio em um novo mercado, desenvolver um sistema operacional de computador ou construir uma ponte. O trabalho complexo requer habilidades e conhecimentos que estão além das competências de uma pessoa. As equipes são particularmente apropriadas quando o trabalho complexo pode ser dividido em funções mais especializadas, nas quais as pessoas requerem coordenação frequente. Algumas evidências também sugerem que as equipes funcionam melhor com tarefas bem estruturadas, pois é mais fácil coordenar esse tipo de trabalho entre várias pessoas. Uma característica que é particularmente importante para as equipes é a interdependência das tarefas, o quanto os membros da equipe têm de compartilhar materiais, informações ou especialização para realizar suas tarefas. Além da independência total, existem três níveis de interdependência das tarefas, conforme ilustrado pela Figura 8.3. O nível mais baixo de interdependência, chamado interdependência conjunta, ocorre quando um funcionário ou uma unidade de trabalho compartilha um recurso comum, como maquinário, apoio administrativo ou orçamento, com outros funcionários ou unidades de trabalho. Isso ocorreria em um contexto de equipe no qual cada membro trabalha sozinho, mas compartilha matérias-primas ou maquinário para realizar suas tarefas que, com exceção desse aspecto, seriam independentes. A interdependência é mais alta sob a interdependência sequencial, na qual o resultadode uma pessoa se torna o insumo direto para outra pessoa ou unidade. A interdependência sequencial ocorre quando os membros da equipe são organizados em uma linha de montagem. A interdependência recíproca, na qual o resultado do trabalho é intercambiado entre os indivíduos, é o grau mais elevado de interdependência. As pessoas que projetam um produto ou serviço novo terão uma interdependência recíproca porque suas decisões de projeto afetam as outras pessoas envolvidas no processo. Qualquer decisão tomada pelos engenheiros de projeto influenciaria o trabalho do engenheiro de produção e do especialista em compras e vice-versa. Os funcionários com interdependência recíproca devem ser organizados em equipes para facilitar a coordenação de sua relação entrelaçada. EAD UNIFACVEST 33 Aprendizagem baseada em projetos Em geral, quanto maior o nível de interdependência das tarefas, maior a necessidade de organizar as pessoas em equipes em vez de mantê-las trabalhando sozinhas. Uma estrutura de equipe melhora a comunicação interpessoal e, desse modo, resulta em uma melhor coordenação. A alta interdependência das tarefas também motiva as pessoas a integrarem a equipe. No entanto, a regra de que uma equipe deve ser formada quando os funcionários têm alta interdependência se aplica quando os membros têm os mesmos objetivos de tarefas, como atender os mesmos clientes ou montar coletivamente o mesmo produto. Quando os membros da equipe têm objetivos diferentes (por exemplo, atender clientes diferentes), mas dependem de outros membros da equipe para atingir tais objetivos exclusivos, o trabalho em equipe pode criar conflito em excesso. Sob essas circunstâncias, a empresa deve tentar reduzir o nível de interdependência ou se basear na supervisão como um amortecedor ou mediador entre os funcionários. Tamanho da equipe Qual é o tamanho ideal para uma equipe? A varejista on-line Amazon segue a regra da “equipe de duas pizzas”, a saber, que a equipe deve ser pequena o suficiente para ser alimentada confortavelmente com duas pizzas grandes. A regra produz equipes de cinco a sete funcionários. No outro extremo da questão, alguns especialistas argumentam que as tarefas estão ficando tão complexas que muitas equipes precisam ter mais de 100 membros. Infelizmente, a primeira ideia (as equipes de duas pizzas) é excessivamente simplista e a segunda parece ter perdido de vista o significado e a dinâmica das verdadeiras equipes. Em geral, as equipes devem ser grandes o bastante para proporcionar as competências e perspectivas necessárias para realizar o trabalho, mas ainda pequenas EAD UNIFACVEST 34 Aprendizagem baseada em projetos o bastante para manter a coordenação eficiente e o envolvimento significativo de cada membro. “Você precisa obter um equilíbrio entre ter pessoas suficientes para fazer todas as coisas que precisam ser feitas, e manter a equipe pequena o bastante para que seja coesa e tome decisões com eficácia e rapidez”, diz Jim Hassell, um alto executivo da NBN Co que já trabalhou na Sun e na IBM. As equipes pequenas (com, digamos, menos de doze membros) operam com eficácia porque têm menos perdas de processo. Os membros das equipes menores também tendem a se sentir mais envolvidos porque conhecem os colegas de equipe (o que aumenta a confiança), têm mais influência sobre as normas do grupo e se sentem mais responsáveis pelo sucesso ou fracasso da equipe. As empresas devem ter equipes de 100 pessoas se a tarefa for altamente complexa? A resposta é que um grupo tão grande provavelmente não é uma equipe, mesmo que a gestão o chame assim. Uma equipe existe quando seus membros interagem e influenciam uns aos outros, são mutuamente responsáveis por cumprir as metas comuns associadas aos objetivos organizacionais e se veem como uma entidade social dentro de uma empresa. É muito difícil que todos em uma unidade de trabalho de 100 pessoas influenciem uns aos outros e que sintam uma coesão suficiente para que se percebam como membros de uma equipe. Os executivos na Whole Foods Market tinham consciência de que as equipes reais reúnem muito menos do que 100 pessoas quando abriram sua imensa loja no Columbus Circle, na cidade de Nova Iorque. A loja tinha 140 operadores de caixas, demais para ser considerada uma equipe dessa função, então a Whole Foods Market dividiu o grupo em equipes com uma dúzia de funcionários em cada. Todos os operadores de caixas se encontram mensalmente como um grupo enorme para discutir questões de produção, mas as equipes menores trabalham de maneira eficiente no dia a dia. Composição da equipe Na maioria dos locais de trabalho, os funcionários devem ter mais do que competências técnicas; eles também precisam ser capazes e dispostos a realizar um trabalho em um ambiente de equipe. As competências de equipe são tão importantes na Royal Dutch/Shell que a gigante do setor de energia realiza um exercício especial Gourami de cinco dias na Europa, América do Norte, Ásia e Oriente Médio para observar com quanta eficácia os universitários (possíveis candidatos a empregos) trabalham sob pressão em um ambiente de equipe. “Trabalhar com os desafios do ‘mundo real’ do Gourami conscientizou todos nós sobre o valor de outras habilidades e aptidões e sobre a necessidade de trabalhar em equipe”, conta um estudante de engenharia mecânica que participou de um dos eventos. EAD UNIFACVEST 35 Aprendizagem baseada em projetos As características ou comportamentos mencionados com mais frequência em relação aos membros de equipe eficazes são os “cinco Cs” ilustrados na Figura 8.4: cooperação, coordenação, comunicação, conforto e resolução de conflitos. As três primeiras competências são basicamente (mas não inteiramente) relacionadas à tarefa, enquanto as duas últimas ajudam principalmente na manutenção da equipe: • Cooperação. Os membros de equipe eficazes estão dispostos e são capazes de trabalhar juntos em vez de sozinhos. Isso inclui compartilhar recursos e ser suficientemente adaptativo ou flexível para acomodar as necessidades e preferências dos demais membros da equipe, como reescalonar o uso do maquinário para que outro membro com um prazo mais apertado possa utilizá- lo. • Coordenação. Os membros de equipe eficazes gerenciam ativamente o trabalho da equipe para que seja realizado de maneira mais eficiente e harmoniosa. Por exemplo, os membros eficazes mantêm a equipe no caminho certo e ajudam a integrar o trabalho realizado pelos diferentes membros. Em geral, isso exige que os membros de equipe eficazes conheçam o trabalho dos colegas, não apenas o próprio. EAD UNIFACVEST 36 Aprendizagem baseada em projetos • Comunicação. Os membros de equipe eficazes transmitem as informações livremente (em vez de acumulá-las para si), de maneira eficiente (usando o melhor canal e a melhor linguagem) e respeitosamente (evitando despertar emoções negativas). Eles também ouvem ativamente os colegas de trabalho. • Conforto. Os membros de equipe eficazes ajudam os colegas a manter um estado psicológico positivo e saudável. Eles demonstram empatia, oferecem conforto psicológico e colaboram com os sentimentos de confiança e autoestima dos colegas. • Resolução de conflitos. O conflito é inevitável nos contextos sociais, então os membros de equipe eficazes têm as habilidades e a motivação para resolver as discordâncias entre colegas. Isso requer o uso eficaz de vários estilos de resolução de conflitos e também de habilidades de diagnóstico para identificar e resolver as fontes estruturais do conflito. Quais funcionários tendem a ter essas competências de equipe? No alto da lista estão aqueles com altos níveis de dois traços de personalidade, a escrupulosidade e a extroversão, além de alta inteligência emocional. Além do mais, o antigo ditado “uma maçã podre estraga
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