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APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS EAD UNIFACVEST 0 Aprendizagem baseada em projetos Claudia Simone Antonello Ingrid Gayer Pessi Marcelo Milano Falcão Vieira Mary Ann Von Glinow Rejane Prevot Nascimento Renata Perrenoud Steven L. McShane APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS Edição revisada Grupo A Educação Porto Alegre 2022 EAD UNIFACVEST 1 Aprendizagem baseada em projetos © 2022 – Grupo A Educação. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _____________________________________________________ S581g Claudia Simone Antonello. Et. Al. Aprendizagem Baseada Em Projetos. - 1.ed., rev. – Porto Alegre, RS : Grupo A Brasil, 2022. 121p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3102-3 1. Aprendizagem Baseada Em Projetos. I. Título. 41-6948. CDD: 341.207 CDU: 47.014.5 84.10.18 10.10.18 239393 _____________________________________________________ Capa: Núcleo de Produção EAD Unifacvest Imagem da capa: Copyright © 2010-2022 Freepik Company Imagem livre de Direito Autoral Centro Universitário Unifacvest © 2022 - Todos os direitos reservados. © Grupo A Educação. Todos os direitos reservados. Av.Jerônimo de Ornelas, 670 | Santana CEP 90040-340 | Porto Alegre/RS CNPJ: 87.133.666/0001-04 EAD UNIFACVEST 2 Aprendizagem baseada em projetos Sumário APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA |03 UNIDADE I Aprendizagem organizacional|04 UNIDADE II Dinâmica de equipe|19 UNIDADE III Aprendizagem baseada em projetos|62 UNIDADE IV Aprendizagem baseada em projetos e em problemas|74 UNIDADE V Estilos de aprendizagem|88 GABARITO DOS EXERCÍCIOS|119 EAD UNIFACVEST 3 Aprendizagem baseada em projetos Apresentação Olá! Você sabe que a aprendizagem é essencial ao crescimento dos indivíduos. Nas organizações não é diferente. O conceito de aprendizagem organizacional está associado à necessidade e à capacidade de inovações tecnológicas e sociais pelas organizações. Neste livro, você verá o que é aprendizagem dentro das organizações e o modelo conceitual para a gestão da aprendizagem organizacional. Boa leitura. Bons estudos! EAD UNIFACVEST 4 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE I Aprendizagem organizacional APRESENTAÇÃO Olá! A maior parte da discussão sobre aprendizagem organizacional divide-se em duas grande correntes, embora uma delas seja predominante. Para saber mais sobre o tema, leia o capítulo A aprendizagem organizacional como forma de controle dos indivíduos do livro "Aprendizagem organizacional no Brasil". Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Conceituar aprendizagem organizacional. II. Identificar os processos da aprendizagem organizacional. III. Reconhecer os tipos de aprendizagem organizacional. EAD UNIFACVEST 5 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO Para Souza (2004), a aprendizagem organizacional está alinhada diretamente com a percepção de adequação da organização ao seu ambiente. A aprendizagem organizacional, assim, estaria intrinsecamente ligada à concepção de que as organizações estão em contínuo aprimoramento, abrangendo, neste processo, todos os tipos de mudanças organizacionais. O processo de aprendizagem deveria, neste contexto, contemplar um ou mais tipos de mudanças que podem afetar as organizações. Sabendo da existência de diversos modelos de aprendizagem dentro da aprendizagem organizacional, identifique a partir da situação abaixo, a qual modelo de aprendizagem o pedagogo João atende. João possui competências que o classificam dentro de um modelo conceitual de aprendizagem. João é um profissional que gera oportunidades dentro de sua organização, relaciona-se bem com as pessoas, possui medidas administrativas e estratégicas com comprometimento. Alguns fatores como: resultados prévios e lógicos lhe influenciam no processo de transformação e exploração de demandas existentes e novas. Ele cria equipes com o foco em transformá-las em equipes comprometidas com o trabalho e que buscam o crescimento e oportunidades tanto para si quanto para os seus colaboradores. INFOGRÁFICO O infográfico que você verá agora sistematiza o modo como a aprendizagem organizacional tem sido compreendida e tratada nas empresas. Confira! EAD UNIFACVEST 6 Aprendizagem baseada em projetos A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL COMO FORMA DE CONTROLE DOS INDIVÍDUOS OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Apresentar uma reflexão crítica acerca do uso da Aprendizagem Organizacional como forma de controle nas organizações. RESUMO Este capítulo apresenta uma análise crítica da aprendizagem organizacional, abordando-a como um mecanismo que visa propiciar o controle dos indivíduos nas organizações. Resgata-se, neste sentido, as origens sistêmico-funcionalistas do conceito de aprendizagem organizacional e sua associação com a ideia de organização como um espaço para a obtenção de relações “harmoniosas” de trabalho. O uso da aprendizagem organizacional como forma de controle sustenta-se no argumento contido nos estudos sobre o processo de trabalho, segundo o qual as novas tecnologias de gestão utilizadas pelas organizações tem como finalidade possibilitar o controle dos indivíduos, controle este que, no que tange a aprendizagem organizacional, ocorre no nível cognitivo. INTRODUÇÃO O surgimento da teoria de sistemas ao final da década de 30, e sua posterior difusão nos estudos organizacionais na década de 50, representou um rompimento ontológico com os pressupostos funcionalistas predominantes nestes estudos ao longo do século XX. A influência desta teoria, construída em bases interdisciplinares a partir da biologia, possibilitou uma visão integrada do ambiente organizacional e da inter-relação entre seus elementos internos, assim como entre esses e o ambiente externo. EAD UNIFACVEST 7 Aprendizagem baseada em projetos Esta nova visão de mundo substituiu a visão reduzida da organização como uma estrutura simplificada e departamentalizada, cujos elementos constituintes eram passíveis de controle e predeterminação e cujo funcionamento poderia ser explicado a partir de leis gerais. Em contrapartida, o paradigma sistêmico introduz uma visão da organização, por meio da metáfora de organismo complexo, submetido à atuação de múltiplas e indeterminadas variáveis e a relações não lineares. A difusão dos pressupostos sistêmicos coincide com o declínio da burocracia e do taylorismo como formas de gestão das organizações e do trabalho, em função das mudanças ocorridas no contexto organizacional após a segunda guerra mundial. Estas mudanças levaram a maiores exigências de inovação e qualidade de produtos provocando, posteriormente, a crise do setor industrial em paralelo à expansão do setor de serviços. Como consequência, há uma mudança sobre as demandas de qualificação dos indivíduos. Nas organizações burocráticas, os trabalhadores deveriam restringir-se às atividades previamente prescritas e à tomada de decisões baseada em categorizações preexistentes, sendo submetidos a um controle direto. A hiperespecialização, exigida pelos processos burocráticos, foi substituída pela necessidade de um trabalhador com formação generalista, capaz de adaptar-se a diferentes processos e, principalmente, capaz de exercer a autonomiapara decidir rapidamente quando da ocorrência de eventos inesperados no decorrer do seu trabalho. Em outras palavras, um indivíduo apto a lidar com as organizações complexas preconizadas pela visão sistêmica. Dentre as características exigidas por este tipo de organização encontra-se a capacidade do indivíduo de aprender continuamente, formatando ao longo da sua vida “produtiva” múltiplos conhecimentos sobre os novos processos de produção. Da mesma forma, é demandada a capacidade de compartilhar o conhecimento adquirido sobre as atividades de trabalho, a fim de possibilitar a constituição de sistemas produtivos flexíveis (assim como a adaptação a estes sistemas). O discuro presente neste “novo” tipo de gestão voltada para a obtenção da flexibilidade ressalta com frequência a ampliação do espaço de autonomia e intervenção do sujeito sobre o seu próprio trabalho, além de supostamente permitir uma compreensão mais abrangente da organização, em contraposição à percepção fragmentada do indivíduo sobre o processo de trabalho sob a gestão burocrática, possibilitando a constituição de um ambiente mais propício ao desenvolvimento humano. É na oposição a esta visão da aprendizagem organizacional que se situa a análise que desenvolvemos neste capítulo, a saber, a discussão da aprendizagem organizacional não como uma possibilidade de desenvolvimento humano no trabalho. A nosso ver, a aprendizagem organizacional é utilizada como tecnologia de gestão que amplia o controle da organização sobre os indivíduos, no que se refere ao controle de suas premissas cognitivas, não obstante ela esteja fortemente revestida, nos meios acadêmicos e empresariais, por um discurso de autonomia do trabalho e crescimento dos indivíduos. A TEORIA DE SISTEMAS E AS ORIGENS DA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Na década de 30, sociólogos e cientistas passam a questionar a interpretação feita sobre o mundo e suas relações. Desta forma surge um novo paradigma, substituindo a visão mecanicista do mundo por um pensamento sistêmico, ou seja, o mundo passa a ser analisado por suas relações e integrações. Esta nova visão denomina-se Teoria dos EAD UNIFACVEST 8 Aprendizagem baseada em projetos Sistemas, segundo a qual “a propriedade das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior” (Capra, 1998). Prestes Motta (1971) entende por teoria dos sistemas um conjunto complexo de elementos que estão em constante interação e intercâmbio com os diversos ambientes. Esta teoria foi influenciada por diversas disciplinas científicas, entre elas biologia, ciências sociais e relações humanas. Para o estudo da aplicação do modelo do sistema aberto à teoria das organizações, a visão do processo simbiótico, pelo contato dessa abordagem com a teoria sociológica, é fundamental, assim como o conhecimento do funcionalismo, na concepção de Talcott Parsons. Foram fundamentais as contribuições do biólogo Ludwig von Bertalanffy que objetivava criar uma unidade entre as diversas ciências, sendo contra o reducionismo científico presente na década de 50. Segundo este biólogo, “um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação que formam um todo organizado no sentido de alcançar um propósito” (Bertalanffy, 1975, p. 33). Assim, Von Bertalanffy especifica as funções básicas da Sociedade de Pesquisa Geral dos Sistemas, fundada em 1954: investigar a isomorfia de conceitos, leis e modelos em vários campos e promover a transferência útil de um campo para outro; 2– encorajar a criação de modelos teóricos adequados em campos onde atualmente não existem: 3– reduzir ao mínimo a duplicação do esforço teórico em diferentes campos; 4– promover a unidade da ciência mediante a melhoria da comunicação entre os especialistas. (Bertalanffy, 1975, p. 33) A necessidade de relacionar o funcionamento do organismo vivo com o conceito de sistemas parte da premissa de que os problemas encontrados nos seres humanos são típicos de um sistema, considerando todas as partes envolvidas nele. Morgan (1996) propõe que o entendimento dos sistemas biológicos podem ser reproduzidos para teoria geral dos sistemas, trazendo para o campo organizacional conceitos como: homeostase (autorregulação e capacidade para se manter um sistema em estado estável – desvios ativam ações de correção a fim de assegurar a harmonia do sistema); entropia e entropia negativa (entropia caracteriza os sistemas fechados tendendo ao desaparecimento; os sistemas abertos buscam a autossustentação, por meio da entropia negativa, importando energia para compensar as tendências do processo entrópico); estrutura, função, diferenciação e integração (todos esses elementos estando inter-relacionados permitem a autossustentação); requisito de variedade (a diversividade do ambiente necessita que aja uma variedade de mecanismos de controle interno compatível); equifinalidades (relacionada à diversidade de métodos possíveis para se atingir um determinado objetivo); evolução do sistema (habilidade de expandir-se para formas mais complexas de diferenciação e integração). Para Katz e Kahn (1987), a abordagem mais desenvolvida de sistemas abertos é definida por Talcott Parsons, principal ator do funcionalismo, com o estudo das estruturas sociais, resultando na visão dessas estruturas como sistemas de natureza planejada, já que apresentam padrões de relacionamento. Fatores como pressões do ambiente, valores e expectativas compartilhadas reduzem a variabilidade possível desses padrões. EAD UNIFACVEST 9 Aprendizagem baseada em projetos Outras influências também têm sido absorvidas por muitos estudiosos que adotaram o modelo do sistema aberto na teoria das organizações. Entre elas se encontra a psicologia social, pela obra de F. H. Allport, que desenvolveu suas ideias em uma linha adequada à abordagem sistêmica das organizações, definindo estrutura como ciclos de eventos paralelos ou tangenciais que ocorrem em um sistema social. Da mesma forma, as ideias difundidas pela Teoria Geral de Sistemas e pelo Funcionalismo Parsoniano influenciaram significativamente os pesquisadores do Instituto Tavistock, de Londres, Fred Emery e Eric Trist, responsáveis pela elaboração do Modelo Sociotécnico de Organização. O Modelo Sociotécnico baseia-se na valorização não somente dos aspectos técnicos e tecnológicos do ambiente organizacional como também dos aspectos humanos e sociais: “a organização eficiente precisa levar em conta tanto as importações que o subsistema social faz do ambiente, isto é, valores e aspirações, como também a que faz o subsistema técnico, ou seja, matérias-primas, equipamentos, etc.” (Motta; Vasconcellos, 2006, p. 181). A noção sociotécnica de organização compreende que a eficiência produtiva seria, portanto, decorrente da integração entre os aspectos técnicos e sociais da organização, entendendo-se o subsistema técnico como aquele capaz de conferir a eficiência potencial do sistema como um todo, enquanto que o subsistema social seria responsável por tornar a eficiência potencial em eficiência real. Em outras palavras, o modelo aponta para o fato de que a eficiência técnica/tecnológica só é possível de ser alcançada considerando-se a participação dos indivíduos nos processos organizacionais de forma a mobilizar suas capacidades de aprendizagem e relacionamento mútuo, promovendo desta forma a integração entre os diferentes subsistemas de forma harmoniosa (e, consequentemente, produtiva). A concepção sociotécnica está alicerçada, assim, em características que a distinguem da concepção clássica de organização burocrática, uma vez que ela pressupõe que o indivíduo possua uma visão sistêmica do seu trabalho, como um conjunto de atividades integradas entre si, e não como uma série de tarefas parcelizadas que não possibilitam a percepção do todo;há uma ênfase no trabalho em grupo, no lugar do trabalho individualizado, sendo este grupo responsável pela organização de suas atividades e da própria distribuição de tarefas, conferindo um alto grau de autonomia ao grupo no que concerne à tomada de decisões relativas ao processo de trabalho, excluindo a existência de controles do trabalho externos aos grupos. O modelo sociotécnico de organização foi aplicado em várias empresas automobilísticas suecas na década de 70, como a Saab Scania e a Volvo. Nesta última, principalmente, em duas plantas nas cidades de Kalmar e Uddevala (esta construída no início da década de 90), que, em função de suas características únicas de organização do trabalho, tornaram-se paradigmas organizacionais. Ambas as fábricas da Volvo eram organizadas com base no trabalho em equipe: todas as tarefas de montagem dos veículos eram definidas pelos grupos de trabalho, assim como a distribuição das atividades e a organização de outras rotinas inerentes ao processo produtivo. A participação dos funcionários, desde operadores até os níveis diretivos, ocorreu desde o projeto da planta. Não havia níveis de supervisão na fábrica para o controle do trabalho, e a verificação de qualidade era compartilhada pelos próprios empregados. EAD UNIFACVEST 10 Aprendizagem baseada em projetos The plant was outstanding in its human-centredness and the quality of work with groups building whole cars based on theories of holistic human learning. The plant also introduced advanced computer technology in logistics and planning in order to supply the teams with the components they needed to build a specific car in an efficient way (Sandberg, 1994, p. 24). O mesmo autor enfatiza a importância da aplicação das ideias sociotécnicas, as quais contribuíram para o desenvolvimento de políticas de qualidade de vida do trabalho em conjunto com uma gestão voltada para o estímulo à aprendizagem e à resolução de problemas para os resultados alcançados nas duas plantas, em termos de satisfação dos funcionários e dos altos níveis de qualidade verificados nos carros produzidos nas duas fábricas. Contudo, não obstante o reconhecimento das experiências suecas pelo seu caráter de referência para o estudo dos modelos organizacionais, Morgan (1996) ressalta a enorme publicidade obtida pelo sistema de organização do trabalho volvista, não necessariamente decorrente do sucesso deste sistema. A principal contribuição do enfoque sistêmico para as teorias da organização, além da compreensão da interdependência entre os diversos elementos que compõem a organização, deve-se à identificação da necessidade de percepção das variáveis externas que incidem e interferem na atuação das organizações. Consequentemente, o debate corrente nos manuais gerenciais a partir das décadas de 70 e 80 orienta-se fortemente para a necessidade contínua de mudança, e para a capacidade das organizações de aprenderem e adaptarem-se a um ambiente em permanente estado de transformação: “o enfoque de sistemas fundamenta-se no princípio de que as organizações, como os organismos, estão ‘abertas’ ao seu meio ambiente e devem atingir uma relação apropriada com este ambiente caso queiram sobreviver” (Morgan, 1996, p. 46). A hegemonia de uma visão da organização como um sistema em constante interação com o ambiente e, em função disto, submetido a necessidade de permanente adaptação, contribuiu para o surgimento do enfoque da aprendizagem organizacional, desde a sua origem influenciado pela concepção sistêmica de organização. A noção da aprendizagem organizacional é relativamente recente nos estudos organizacionais. Cabe ressaltar que a ideia de aprendizagem era praticamente inexistente na concepção clássica e burocrática de organização, uma vez que a necessidade de aprendizagem não coadunava com a execução de tarefas prescritas e rotinizadas, características deste tipo de organização. O conceito de aprendizagem organizacional, neste sentido, contrapõe-se, em sua definição, à ideia de organizações normativas de cunho burocrático, alicerçadas no controle dos indivíduos. Esta oposição pode ser identificada já nos estudos realizados pelos autores ligados ao enfoque sociotécnico. Para Souza (2004), a aprendizagem organizacional está alinhada diretamente com a percepção de adequação da organização ao seu ambiente. A aprendizagem organizacional, assim, estaria intrinsecamente ligada à concepção de que as organizações estão em contínuo aprimoramento, abrangendo, neste processo, todos os tipos de mudanças organizacionais. O processo de aprendizagem deveria, neste contexto, contemplar um ou mais tipos de mudanças que podem afetar as EAD UNIFACVEST 11 Aprendizagem baseada em projetos organizações. A partir disto, deduz-se que os indivíduos segundo o enfoque da aprendizagem organizacional estariam aptos, naturalmente, à aprendizagem e à adequação a diferentes situações, impondo a estes as exigências de permanente formação e aprimoramento, a fim de tornarem-se capazes de atender às demandas das “novas” organizações. Transfere-se, desta forma, para o indivíduo, a responsabilidade de formação e requalificação a fim de atender às demandas de adaptação das organizações às mudanças. Na visão de Motta e Vasconcellos (2006), o conceito de aprendizagem organizacional está associado à necessidade e à capacidade de inovações tecnológicas e sociais pelas organizações. De acordo com estes autores, os pressupostos que definem as chamadas organizações “pós-industriais” estão baseados em aspectos como mudança contínua, comunicação, diferença e diversidade, autonomia, entre outros, que obrigam a adequação das organizações a sistemas ambientais complexos. À aprendizagem organizacional é então colocada a questão de como obter do comportamento humano a capacidade de inovação e adaptação a um contexto caracterizado por estes aspectos. Peter Senge (1994), autor de uma espécie de manual que propõe uma sistematização do conceito de aprendizagem organizacional, assim como os meios de sua aplicação, define que esta adaptação deve ser sustentada a partir da convergência de cinco elementos, os quais são denominados por ele de “disciplinas”. As cinco disciplinas descritas por Senge, “domínio pessoal”, “modelos mentais”, “objetivos comuns”, “aprendizado em grupo” e “raciocínio sistêmico” (a quinta disciplina), em conjunto, seriam responsáveis pela promoção da aprendizagem organizacional. Contudo, a quinta disciplina consistiria na base da aprendizagem organizacional. A quinta disciplina representa, para o autor, a percepção do indivíduo acerca das inter-relações subjacentes aos fenômenos, transcendendo desta forma uma visão “linear”, centrada unicamente na identificação de relações de causa e efeito. O conceito de quinta disciplina proposto por Peter Senge é claramente inspirado nos conceitos sociotécnicos desenvolvidos pelos pesquisadores de Tavistock Institute of Human Relations na década de 70. Além disso, a concepção contida na quinta disciplina estimularia a criação de “organizações de aprendizagem”, orientadas por práticas que desenvolvem a criatividade e a inovação, as quais se oporiam às “organizações controladoras” (Senge, 1994), sustentadas pela falta de autonomia dos indivíduos e pela limitação de sua criatividade. No entanto, um modelo de aplicação de um processo de aprendizagem sustentado em cinco “disciplinas”, ainda que em atuação “integrada”, induz à uma ideia do processo de aprendizagem como algo passível de formatação em um conjunto de etapas tão prescritivas quanto alguns princípios da administração clássica. Além disto, a concepção do processo de aprendizagem como um “modelo” pressupõe que todos os indivíduos desenvolvem a aprendizagem segundo um mesmo roteiro preestabelecido. O enfoque da aprendizagem organizacional e suas aplicações assemelham-se,neste aspecto, aos modelos conceituais funcionalistas que propõem a existência de um padrão de comportamento para os seres humanos, assim como para as organizações, padrão este passível de estimulação e de controle. Tal perspectiva é reforçada pela afirmação de Bulgacov (2000) acerca das origens epistemológicas do conceito de aprendizagem organizacional, classificando-o como uma teorização que poderia ser identificada como neofuncionalista. EAD UNIFACVEST 12 Aprendizagem baseada em projetos Embora amplamente difundido nos meios acadêmicos, o modelo de Aprendizagem Organizacional de Senge se junta a vários outros trabalhos acerca do tema nas últimas décadas. Não obstante a profusão de trabalhos sobre aprendizagem organizacional, este campo de estudos, como ressalta Souza (2004), ainda não se configura como um campo teórico, em vista da diversidade de conceitos sobre o tema, assim como das formas de sua aplicação. Versiani e Fischer (2008) destacam que a ausência de um modelo dominante de aprendizagem organizacional talvez se apresente como principal obstáculo para a formulação de uma teoria da aprendizagem organizacional. Por outro lado, os autores apontam a existência de trabalhos que tratam a aprendizagem organizacional como um modismo apenas e, portanto, de relevância temporária. De acordo com Weick e Wesley (1999), a impossibilidade da criação de uma teoria da aprendizagem organizacional decorre da dificuldade de conceituar “organizações”e “aprendizagem”: Organizar e aprender são essencialmente processos antagônicos, o que significa que a expressão aprendizagem organizacional é um oxímoro. Aprender é desorganizar e aumentar a variedade. Organizar é esquecer e reduzir a variedade. Os teóricos organizacionais negligenciaram esta tensão. (Weick; Wesley, 1999, p. 361) A afirmação dos autores corrobora a noção dos enfoques de aprendizagem organizacional como modelos que visam instrumentalizar um processo que ocorre individualmente, de formas distintas e não necessariamente voltados para a aplicação prática. Adiciona-se a esta afirmação a conclusão de Bulgacov (2000) de que a teorização contida nestes enfoques baseia-se no imperativo da coesão, da harmonia entre as partes em prol de um objetivo comum, não admitindo em hipótese alguma a existência de uma tensão entre os elementos que compõem o sistema. ORGANIZAÇÕES E CONTROLE: DA SUPERVISÃO DIRETA À APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL A maior parte da discussão sobre aprendizagem organizacional divide-se em duas grandes correntes, embora uma delas seja amplamente predominante. A primeira, e predominante, representa a corrente sistêmico-funcionalista, explicada na seção anterior deste capítulo, que tem como fundamento central a ideia de harmonia. Desta forma, o progresso de um sistema depende do progresso das suas diversas partes componentes e vice-versa. Esta visão tem sua origem nos sistemas cibernéticos e biológicos. A aprendizagem organizacional torna-se, portanto, uma ferramenta neutra de gestão que tem como objetivo principal melhorar o desempenho do sistema como um todo, em um jogo do tipo “ganha-ganha”. O conflito é entendido como um elemento externo ao sistema que, quando ocorre, diminui seu desempenho. Para reverter o quadro de baixo desempenho os gestores utilizam soluções criativas que acabam não só por fazer com que o sistema retorne ao desempenho original, mas o melhorem em graus variados. EAD UNIFACVEST 13 Aprendizagem baseada em projetos A segunda corrente tem sua origem nos estudos de uma tendência que ficou conhecida, principalmente na Grã-Bretanha, como análise do processo de trabalho* e que ganhou força e evidência a partir do trabalho seminal de Braverman (1974). De acordo com ela, as organizações e os indivíduos se encontram em constante conflito onde cada parte tenta ganhar algo em relação à outra para diminuir sua dependência de poder. Este poderia ser entendido como um “jogo de soma zero”, onde uma quantidade total de poder é distribuída em um sistema e, quando uma parte aumenta seu volume de poder, o faz necessariamente a retirando da outra parte. Essa perspectiva sustenta que as novas tecnologias de gestão são introduzidas pelas organizações para aumentar o controle sobre a força de trabalho. É nessa direção, entendendo a aprendizagem organizacional como uma tecnologia de gestão, que apresentamos nosso argumento neste capítulo. O conflito, nesta visão, é entendido como parte constituinte do sistema, já que as organizações não são sistemas cibernéticos ou biológicos, mas sociais. A questão do controle tem sido sempre central na teoria das organizações. Como sugere Kouzmin (1980, p. 134) “organização significa um método de controle social, uma forma de impor regularidade à sociedade ou à ação coletiva”. A centralidade do controle na teoria das organizações também foi enfatizada por Tannenbaum (1968, p. 3) que afirmou que: Uma organização social é um arranjo de interações humanas individuais. O processo de controle ajuda a circunscrever comportamentos idiossincráticos e os manter em conformidade com o plano racional da organização […] A coordenação, e a ordem, criadas a partir dos interesses diversos e dos comportamentos potencialmente difusos dos membros é em grande parte uma função do controle. Hickson (1966) sugere que as teorias sobre estruturas das organizações convergem todas para uma linha de análise, qual seja, a especificidade da prescrição do papel. Isso significa o grau em que as organizações controlam seus membros por meio de regras padronizadas preestabelecidas e descrevem seu comportamento durante o desenvolvimento de atividades organizacionais. Hickson argumenta que diferentes tipos de organização são produzidos a partir uma relação linear entre o grau de especificidade da prescrição do papel e outras variáveis da estrutura organizacional, no estudo de cada teórico. Por exemplo, Likert (1961) e Macgregor (1960) relacionam a especificidade do papel com a motivação. Para esses autores quanto maior for o grau de especificidade do papel menor será a motivação dos empregados. Thompson (1965) e Hage (1965) argumentam que a capacidade de inovar é maior quando o grau de especificidade do papel é menor. Crozier (1964) e Litwak (1961) lançaram a hipótese de que um grau mai baixo de prescrição causa conflito entre papéis em disputa por distribuição de poder dentro das organizações. Em uma abordagem semelhante Taylor (1947) e Fayol (1949) argumentam que um grau de especificidade maior reduz confusões durante o desenvolvimento das atividades organizacionais. Mais que um conjunto de técnicas para assegurar que o desempenho organizacional ocorrerá de acordo com os padrões estabelecidos, o controle tem sido analisado em relação ao desenvolvimento social. Perrow (1986) sugere, por exemplo, EAD UNIFACVEST 14 Aprendizagem baseada em projetos que com o processo de industrialização da sociedade moderna, as formas de controle tendem a passar do controle direto para o burocrático e, finalmente, para o controle das premissas cognitivas. O mesmo argumento básico pode ser encontrado nos estudos de Edward (1981), Burris (1989), Carvalho (1999), Silva (2003a) e Rosen e Baroudi (1982). É o controle das premissas cognitivas que nos interessa relacionar à aprendizagem organizacional que será desenvolvida na última parte deste trabalho. Perrow (1986) sumariza claramente essa questão. Ele sugere uma tipologia baseada em três tipos de controle organizacional: 1) controle direto, totalmente evidente; 2) controle burocrático ou menos evidente; 3) controle das premissas cognitivas ou totalmente não evidente. O controle totalmente evidente refere-se à supervisão direta de regras e regulamentos. Esse tipo de controle é necessário em períodos de instabilidade e crises organizacionais, mas falha ao tentarregular a bagagem pessoal, a estrutura cognitiva, anteriormente adquirida dos empregados. As regras também são ineficientes em períodos de inovação continuada. Esse tipo de controle requer um grande esforço da administração, particularmente, no que diz respeito a tempo e custos. O controle burocrático, por sua vez, é mais eficiente; ele está relacionado ao grau de padronização e especialização das atividades organizacionais. Quanto mais as atividades forem padronizadas e especializadas, os subordinados têm menor chance de tomar decisões de acordo com seus interesses pessoais. Perrow argumenta que isso explica alguns resultados de pesquisas anteriores (Blau; Scott, 1963; Blau, 1970; os estudos do Grupo de Aston – especialmente Pugh; Hickson, 1976 e Pugh; Hinings, 1976), que demonstram que quanto maior é o grau de burocratização maior será o grau de centralização. Isso ocorre porque a aplicação das regras e regulamentações organizacionais estabelece parâmetros individuais de discernimento, permitindo, assim, a previsibilidade e o controle do processo organizacional mais baixo. Os controles das premissas cognitivas ou totalmente não evidente é o mais difícil de ser alcançado, mas, é o mais eficaz. Refere-se à adesão normativa voluntária entre o subordinado e o objeto de sua tarefa. Por meio de um processo de internacionalização das premissas comportamentais necessárias para o desenvolvimento da tarefa. Embora aplicável a todos os níveis da organização, essa forma de controle é mais importante quando a natureza do trabalho é rotineira; nesse caso as regras e os regulamentos não podem ser estabelecidos para a determinação do comportamento durante o desenvolvimento das atividades (ex.: cientistas em laboratório de pesquisa, professores em universidades, executivos de níveis hierárquicos em empresas, etc.). Esse tipo de controle é frequentemente mais usado em níveis mais altos da organização do que nos níveis mais baixos, porque o trabalho gerencial como o administrativo é menos rotineiro. Embora o controle direto e burocrático seja mais visível nos níveis mais baixos da hierarquia, todos esses níveis de controle são encontrados em todos os níveis organizacionais, variando apenas no seu grau de aplicabilidade. Um aspecto importante do argumento de Perrow (1986) a respeito da transição para as formas menos visíveis de controle é que embora essas formas sejam mais evidentes hoje, as outras continuam a ser aplicadas. A aprendizagem organizacional é entendida por nós neste capítulo como uma forma avançada de controle das premissas cognitivas (controle visível), uma vez que tem sido considerada como uma questão estratégica relacionada não apenas a questões técnicas, mas também, a mudanças culturais nas organizações. EAD UNIFACVEST 15 Aprendizagem baseada em projetos CONCLUSÃO Barker (1993) conclui que, ao contrário de alguns defensores da especialização flexível e de formas organizacionais de grupos, o controle consentido emergente dessas estruturas dá mais enrijecimento à gaiola de ferro weberiana, por meio de uma poderosa combinação de pressão dos pares e de regras racionais em um sistema de controle consentido, aprendido e reproduzido pelos próprios funcionários. Carvalho (2003) em um estudo emblemático na Siderúrgica Riograndense analisou como a organização, por meio de técnicas de gestão da qualidade, altera os mecanismos de controle de burocráticos para culturais. Esta mudança estava fortemente vinculada à estratégia de internacionalização do grupo do qual a Siderúrgica faz parte. Um organização familiar não seria legitimada no mercado internacional sem um modelo de gestão considerado moderno e profissional. No estudo de Carvalho (2003, p. 280) a autora argumenta que [...] a cultura é compreendida como um conjunto de evidências compartilhadas (THÉVENET e VACHETTE, 1994). Essas evidências são construídas ao longo da história da organização, como respostas encontradas para problemas, e se transformam na solução permanente para um problema da coletividade (BERGER E LUCKMANN, 1996). Elas não exigem verificação; são consideradas como ‘indo por si’ (allant de soi) e só são problematizadas quando não servem mais ao uso convencional de maneira adequada. Os resultados de Carvalho (2003) demonstram a construção de um novo mundo organizacional, compartilhado e aprendido, a partir da introdução da ferramenta de gestão da qualidade. Este novo mundo transforma o colega de trabalho em controlador. No caso da aprendizagem organizacional, argumenta-se que ela faz parte de um conjunto, ao mesmo tempo amplo e específico, de técnicas de gestão que compõem o controle invisível (controle das premissas cognitivas) de Perrow (1986) que vem evoluindo ao longo do tempo nas organizações. Seu mecanismo de funcionamento pode ser reduzido a um jogo de poder. Quando o trabalhador aprende algo novo e esse “algo” é útil para a organização, ocorre o que já é de senso comum conceber-se como aprendizagem individual. Tal aprendizagem é, muitas vezes, patrocinada total ou parcialmente pela própria organização (cursos de MBA, ou oficinas para treinamento específico, por exemplo), ou pode emergir das interações entre os trabalhadores. Nesse momento de aprendizagem o trabalhador adquire conhecimento, especialização ou técnica que é útil e, neste sentido, ele diminui sua dependência de poder em relação à organização. Relembramos neste momento que definimos toda e qualquer organização como uma forma de poder ou, em sentido weberiano, como uma forma de dominação (manutenção da ordem dada por um período longo de tempo). No jogo de poder, a organização, obviamente, sempre possui um volume muito maior de recursos do que o indivíduo. Ao aprender, o indivíduo aumenta seus recursos de poder e pode negociar melhor sua posição no espaço organizacional. É neste exato EAD UNIFACVEST 16 Aprendizagem baseada em projetos momento que entra no jogo a aprendizagem organizacional; uma regra segundo a qual o indivíduo que aprendeu, e portanto ganhou poder para jogar, é obrigado a compartilhar seu aprendizado em um suposto benefício mútuo, como se o jogo pudesse ser considerado uma partida do tipo ganha-ganha. Esse argumento só pode ser considerado razoável quando se aceita o paradigma sistêmico-funcionalista como orientação epistemológica, origem da aprendizagem organizacional. Não nos cabe discorrer agora sobre as formas como se dá a passagem da aprendizagem individual para a organizacional. Este livro está cheio de exemplos nos capítulos seguintes (treinamentos, cursos, institucionalização de regras e procedimentos, etc.) Cabe-nos, entretanto, reafirmar o nosso argumento de que tanto quanto razoável, no sentido de possuir lógica interna, consideramos a técnica de gestão, conhecida como aprendizagem organizacional fundamentada na visão sistêmico-funcionalista de organização social, se não ingênua, no mínimo perigosa para o indivíduo. EXERCÍCIOS 1) Segundo Tannenbaum (1968, p. , _______ é um arranjo de interações humanas individuais. O processo de controle ajuda a circunscrever comportamentos idiossincráticos e mantê-los em conformidade com o plano racional da organização. A coordenação e a ordem, criadas a partir dos interesses diversos e dos comportamentos potencialmente difusos dos membros, são, em grande parte, uma função do controle. A) Uma organização social. B) Uma organização. C) Uma empresa privada. D) Uma escola. E) Uma organização governamental. 2) O que são organizações de aprendizagem? A) São organizações que não estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo comum. B) São organizações que estimulam os gestores no alcance de um objetivo comum. C) São organizações que estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo diferente.D) São organizações que estimulam o seu elemento humano. E) São organizações que estimulam o seu elemento humano para o alcance de um objetivo comum. EAD UNIFACVEST 17 Aprendizagem baseada em projetos 3) _______ é entendida como uma forma avançada de controle das premissas cognitivas (controle visível), uma vez que tem sido considerada como uma questão estratégica relacionada não apenas a questões técnicas, mas também a mudanças culturais nas organizações. A) A organização. B) A aprendizagem organizacional. C) A aprendizaqgem. D) A organização do indivíduo na empresa. E) A organização e suas técnicas. 4) O dificultador das organizações contemporâneas para alcançar a organização da aprendizagem configura-se na expressão "aprender a aprender", talvez pelo fato de que tenhamos que nos reinventar constantemente. A realidade empresarial está em mutação plena e carece de profissionais capazes de cair, levantar, cair e levantar novamente, e que aprendam com todas as adversidades existentes. De acordo com o conteúdo trabalhado até aqui e após ler as alternativas a seguir, escolha aquela que melhor define a expressão "aprender a aprender". A) Aprender a acreditar nas oportunidades que as mudanças trazem consigo. B) Tornar-se competente e manter-se assim. C) Adquirir uma postura flexível, em que o erro é visto como uma experiência positiva, além de uma oportunidade na construção de um novo conhecimento. D) Aquisição, disseminação e interpretação de informações. E) Em essência, as organizações que aprendem são capazes não somente de aprender, mas também de aprender a aprender. 5) As cinco disciplinas de Peter Senge configuram um marco nos estudos de gestão. Podemos observar em seus trabalhos que não basta apenas desenvolver o lado organizacional se não houver, no controle e desenvolvimento dos processos, pessoas com características diferenciadas. No entanto, se pudéssemos sintetizar todos os estudos de Peter Senge, quais seriam eles? A) Modelos mentais. B) Domínio pessoal. C) Aprendizado em grupo. EAD UNIFACVEST 18 Aprendizagem baseada em projetos D) Objetivo comum. E) Raciocínio sistêmico. EAD UNIFACVEST 19 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE II Dinâmica de equipe APRESENTAÇÃO Olá! Você já ouviu a expressão de que o todo pode ser maior do que a simples equação de soma das partes? Analogamente, o conjunto das performances individuais isoladas de um grupo de determinada organização pode ser ampliada pela ideia de que em uma equipe, as performances são desenvolvidas coletivamente, em torno de um objetivo comum. Com o compartilhamento de metas e modos de fazer e operacionalizar o trabalho, a integração de competências pode desdobrar-se em resultados otimizados pela cadência na realização das atividades laborais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as principais diferenças e entre equipes e grupos, bem como as diferentes maneiras pelas quais uma equipe pode contribuir para a consecução de metas e objetivos organizacionais, além de identificar tipos de equipes, como a autodirigida e a virtual. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Explicar o que é equipe e o que é grupo. II. Analisar as contribuições das equipes. III. Identificar tipos de equipe: autodirigida e virtual. EAD UNIFACVEST 20 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO A fábrica da Reckitt Benckiser (RB) em Derby, Grã-Bretanha, é um modelo de eficiência, mas você não vai encontrar muitos chefes por lá. As duas áreas de produção da unidade ultracompetitiva (uma faz líquidos de alto volume como o detergente Woolite, a outra é a única produtora de aerosóis da Europa) operam com equipes autolideradas. As equipes são responsáveis pelo treinamento, pela melhoria da produtividade e pelo controle de qualidade. A fábrica emprega 200 funcionários e possui apenas três gerentes de produção. Os funcionários recebem bonificações de equipe baseadas na qualidade dos produtos e na rapidez com que resolvem problemas de qualidade. As equipes autodirigidas também alicerçam a produção da fábrica de produtos de saúde da RB em Hull, na Grã-Bretanha. “O pessoal nas linhas de frente decide como vai trabalhar nas próximas três ou quatro semanas”, conta um líder de equipe na fábrica de Hull, que produz o antiácido Gaviscon® e outros medicamentos de venda livre. Outro líder de equipe se orgulha em dizer que sua equipe se tornou “uma das mais eficientes do norte da Europa”, porque “tivemos a oportunidade de assumir o controle em relação à linha”. O espírito de equipe da Reckitt Benckiser se estende ao Marketing, pesquisa e outras funções, muitas vezes com equipes virtuais. “Na maioria dos projetos de que participei, os membros de equipe quase sempre estão em países diferentes”, explica Gaonan, que trabalha no grupo de serviços de informação (SI) da RB. “O que você acha que é a base das equipes globais?”, ele pergunta. “O elementos essencial é a confiança. O pessoal de SI que está em um local confia que seus membros de equipe que estão em outro continente entendem totalmente e podem ajudá-los a resolver seus problemas”. A cultura orientada para equipes da RB é reforçada pela socialização, recompensas e eventos de formação de equipe. Por exemplo, 65 funcionários de 34 países se reuniram recentemente no Brasil para reformar instalações dedicadas a crianças em idade pré-escolar em situação vulnerável e para levantar fundos com uma caminhada na natureza. “Trabalho não faltava, e todos trabalhamos incrivelmente bem em equipe... é o estilo da RB, é claro!”, conta Mmalorato Mabaso, gerente da RB na África do Sul que participou do evento no Brasil. “A equipe se reuniu com um só objetivo em mente: levar esperança às crianças”. A ênfase da Reckitt Benckiser no trabalho em equipe é um dos motivos para a empresa ser uma rival importante da Procter & Gamble e da Unilever, mas a empresa britânica de produtos de higiene e limpeza não é a única a aproveitar os benefícios das equipes. 1) Identifique no texto os tipos de equipe da empresa RB. 2) Aponte os fatores que contribuíram/contribuem para o sucesso. 3) Analise a viabilidade e os riscos da implementação de equipes semiautônomas no setor de produção: você deverá imaginar se é possível ter equipes semiautônomas em linhas de produção de alimentos, de carros etc., sinalizando os possíveis impactos (positivos ou negativos). EAD UNIFACVEST 21 Aprendizagem baseada em projetos INFOGRÁFICO EAD UNIFACVEST 22 Aprendizagem baseada em projetos DINÂMICA DE EQUIPE A fábrica da Reckitt Benckiser (RB) em Derby, Grã-Bretanha, é um modelo de eficiência, mas você não vai encontrar muitos chefes por lá. As duas áreas de produção da unidade ultracompetitiva (uma faz líquidos de alto volume como o detergente Woolite®, a outra é a única produtora de aerosóis da Europa) operam com equipes autolideradas. As equipes são responsáveis pelo treinamento, pela melhoria da produtividade e pelo controle de qualidade. A fábrica emprega 200 funcionários e possui apenas três gerentes de produção. Os funcionários recebem bonificações de equipe baseadas na qualidade dos produtos e na rapidez com que resolvem problemas de qualidade. As equipes autodirigidas também alicerçam a produção da fábrica de produtos de saúde da RB em Hull, na Grã-Bretanha. “O pessoal nas linhas de frente decide como EAD UNIFACVEST 23 Aprendizagem baseada em projetos vai trabalhar nas próximas três ou quatro semanas”, conta um líder de equipe na fábricade Hull, que produz o antiácido Gaviscon® e outros medicamentos de venda livre. Outro líder de equipe se orgulha em dizer que sua equipe se tornou “uma das mais eficientes do norte da Europa” porque “tivemos a oportunidade de assumir o controle em relação à linha”. O espírito de equipe da Reckitt Benckiser se estende ao marketing, pesquisa e outras funções, muitas vezes com equipes virtuais. “Na maioria dos projetos de que participei, os membros de equipe quase sempre estão em países diferentes”, explica Gaonan, que trabalha no grupo de serviços de informação (SI) da RB. “O que você acha que é a base das equipes globais?”, ele pergunta. “O elementos essencial é a confiança. O pessoal de SI que está em um local confia que seus membros de equipe que estão em outro continente entendem totalmente e podem ajudá-los a resolver seus problemas”. A cultura orientada para equipes da RB é reforçada pela socialização, recompensas e eventos de formação de equipe. Por exemplo, 65 funcionários de 34 países se reuniram recentemente no Brasil para reformar instalações dedicadas a crianças em idade pré-escolar em situação vulnerável e para levantar fundos com uma caminhada na natureza. “Trabalho não faltava e todos trabalhamos incrivelmente bem em equipe... é o estilo da RB, é claro!”, conta Mmalorato Mabaso, gerente da RB na África do Sul que participou do evento no Brasil. “A equipe se reuniu com uma só objetivo em mente: levar esperança às crianças”. A ênfase da Reckitt Benckiser no trabalho em equipe é um dos motivos para a empresa ser uma rival importante da Procter & Gamble e da Unilever, mas a empresa britânica de produtos de higiene e limpeza não é a única a aproveitar os benefícios das equipes. Mais da metade das organizações reunidas em uma pesquisa recente usa equipes em um ponto elevado ou muito elevado para conduzir os negócios do dia a dia. Além disso, 77% dessas empresas contam com equipes para projetos únicos e 67%, para projetos contínuos. Em comparação, uma década atrás, apenas 50% dos executivos afirmava que seu trabalho era realizado em equipes. Duas décadas atrás, apenas 20% desses executivos afirmavam trabalhar em equipes. O trabalho em equipe também se tornou mais importante na pesquisa científica. Um estudo recente com quase 20 milhões de publicações de pesquisa mostrou que a porcentagem de artigos escritos por equipes aumentou substancialmente ao longo das últimas cinco décadas. Esses artigos também tiveram um número muito maior de citações subsequentes, sugerindo que são superiores aos escritos por um único indivíduo. EAD UNIFACVEST 24 Aprendizagem baseada em projetos Por que as equipes estão ficando tão importantes e como as empresas podem reforçar seu potencial para a eficácia organizacional? Encontramos a resposta para essa e outras perguntas neste capítulo sobre dinâmica de equipe, que começará definindo as equipes e examinando as razões pelas quais as empresas se baseiam nelas e por que as pessoas participam de grupos informais nos contextos organizacionais. Uma grande parte deste capítulo examinará um modelo de eficácia da equipe, que inclui o ambiente da equipe e o da organização, a formação de equipes e os processos de equipe: o desenvolvimento, as normas, a coesão e a confiança. Depois voltaremos nossa atenção para dois tipos específicos de equipes: autodirigidas e virtuais. A seção final deste capítulo examinará desafios e estratégias para tomar melhores decisões em equipe. Objetivos de aprendizagem Após ler este capítulo, você deve ser capaz de: OA1 Discutir os benefícios e limitações das equipes e explicar por que os funcionários participam de grupos informais. OA2 Apresentar o modelo de eficácia da equipe e discutir como as características da tarefa, o tamanho e a composição da equipe influenciam em tal eficácia. OA3 Discutir como os quatro processos da equipe (desenvolvimento, normas, coesão e confiança) influenciam em sua eficiência. OA4 Discutir as características e fatores necessários para o sucesso das equipes autodirigidas e das equipes virtuais. OA5 Identificar quatro restrições à tomada de decisão da equipe e discutir as vantagens e desvantagens das quatro estruturas destinadas a aprimorá-la. OA1 EQUIPES E GRUPOS INFORMAIS Equipes são grupos de duas ou mais pessoas que interagem e influenciam umas às outras, que se consideram mutuamente responsáveis por atingir objetivos comuns associados aos objetivos organizacionais e que se percebem como uma entidade social dentro de uma empresa.4 Essa definição tem alguns componentes importantes que valem a pena ser enfatizados. Primeiro, todas as equipes existem para satisfazer alguma finalidade, por exemplo, consertar linhas de transmissão elétrica, montar um produto, conceber um novo programa de bem- -estar social, tomar uma decisão importante ou atingir algum outro objetivo. Segundo, os membros da equipe são mantidos unidos pela sua interdependência e necessidade de colaboração para atingir objetivos comuns. Todas as equipes requerem alguma forma de comunicação para que os membros possam coordenar e compartilhar objetivos comuns. Terceiro, os membros da equipe influenciam uns aos outros, embora alguns possam ser mais influentes do que outros em relação aos objetivos e atividades da equipe. Finalmente, uma equipe existe quando seus membros se veem como uma equipe. A Figura 8.1 descreve brevemente diversos tipos de equipes organizacionais. Algumas equipes são permanentes, enquanto outras são temporárias; algumas são responsáveis por criar produtos ou prestar serviços, enquanto outras existem para tomar decisões ou compartilhar conhecimento. Cada tipo de equipe foi criado deliberadamente para atender a um propósito organizacional. Algumas equipes, como EAD UNIFACVEST 25 Aprendizagem baseada em projetos as de skunkworks, inicialmente não são sancionadas pela gestão, no entanto são chamadas de “equipes” porque seus membros trabalham para um objetivo organizacional. GRUPOS INFORMAIS A maior parte deste capítulo se concentra nas equipes formais, mas os funcionários também pertencem a grupos informais. Todas as equipes são grupos, mas muitos deles não satisfazem a nossa definição de equipe. Grupos incluem pessoas reunidas, tendo elas ou não interdependência ou objetivo focalizado na empresa. Os amigos que você encontra no almoço são um grupo informal, mas não seriam chamados de equipe porque têm pouca ou nenhuma interdependência (cada pessoa poderia almoçar sozinha com a mesma facilidade) e nenhum propósito determinado organizacionalmente. Em vez disso, os grupos informais existem principalmente para o benefício dos seus membros. Embora os termos sejam empregados como sinônimos, a palavra equipes praticamente substituiu grupos na linguagem dos negócios quando se faz referência a funcionários que trabalham juntos a fim de realizar tarefas organizacionais. Por que os grupos informais existem? Uma razão para isso é que os seres humanos são animais sociais. A evolução gerou um impulso inato de nos vincularmos, criando uma necessidade de pertencer a grupos informais.6 Isso é evidenciado pelo fato de que as pessoas investem tempo e esforço consideráveis formando e mantendo relações sociais EAD UNIFACVEST 26 Aprendizagem baseada em projetos sem quaisquer circunstâncias especiais ou outros motivos. Outra razão pela qual as pessoas participam de grupos informais é dada pela teoria da identidade social, segundo a qual os indivíduos se definem pelos grupos aos quais são afiliados (ver Capítulo 3). Desse modo, participamos de grupos, particularmente os que são vistos favoravelmente pelas outras pessoas e que têm valores similares aos nossos, porque eles moldam e reforçam nossos autoconceitos. Uma terceira razão pela qual as pessoas são motivadas a formar grupos informais é quetais grupos realizam tarefas que não podem ser realizadas por indivíduos que trabalham isoladamente. Por exemplo, os funcionários às vezes se reúnem para combater mudanças organizacionais porque esse esforço coletivo tem mais energia do que quando os indivíduos tentam enfrentar a mudança sozinhos. Esses grupos informais, chamados de coalizões, são discutidas no Capítulo 10. Uma quarta explicação para a existência dos grupos informais é que nos sentimos confortados pela mera presença de outras pessoas e, portanto, somos motivados a ficar próximos delas nas situações estressantes. Quando estão em perigo, as pessoas se juntam, mesmo que isso não tenha um efeito protetor. De modo similar, os funcionários tendem a socializar com mais frequência após ouvirem rumores de que a empresa pode ser adquirida por um concorrente. Como explicou o Capítulo 4, esse convívios social minimiza o estresse ao dar apoio emocional e/ou informacional para amortecer a experiência de estresse. Grupos informais e resultados organizacionais Os grupos informais não são criados para atender aos objetivos organizacionais. Todavia, eles têm uma profunda influência sobre as empresas e seus funcionários. Os grupos informais têm potencial para minimizar o estresse do funcionário porque, como acabamos de mencionar, os membros do grupo proporcionam apoio social emocional e informacional. Tal capacidade melhora o bem-estar do funcionário e, no processo, a eficácia organizacional. Os grupos informais também são a espinha dorsal das redes sociais, fontes importantes de criação de confiança, compartilhamento de informações, poder, influência e bem-estar dos funcionários no local de trabalho.9 O Capítulo 9 descreverá a importância crescente dos sites de rede social similares ao Facebook e ao LinkedIn para estimular a formação de grupos informais e a comunicação a eles associada. O Capítulo 10 explica como as redes sociais são uma fonte de influência em ambientes organizacionais. Os funcionários com redes informais fortes tendem a ter mais poder e influência porque recebem informações melhores e tratamento preferencial das outras pessoas, e seu talento é mais visível para os principais tomadores de decisão. EAD UNIFACVEST 27 Aprendizagem baseada em projetos VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS EQUIPES É raro que um funcionário trabalhe sozinho na Menlo Innovations. A desenvolvedora de software de Ann Arbor, Michigan, organiza os funcionários em duplas todas as semanas. Dois funcionários compartilham um só computador enquanto analisam ideias na mesma parte de um grande projeto. Além de trocar de parceiro, toda segunda-feira os cerca de 25 funcionários se focam em uma parte diferente do projeto, ou até mesmo passam para projetos diferentes. “O simples fato de uma pessoa contar para a outra em que estado está o projeto, dizer tudo em voz alta, traz à baila coisas que ninguém tinha notado antes”, explica Richard Sheridan, um dos quatro cofundadores da Menlo Innovations. “Isso os torna mais inteligentes” O sistema de dança das cadeiras da Menlo Innovations indica que o trabalho em equipe é um ingrediente importante para o sucesso da empresa de software. Por que as equipes são tão importantes? A resposta para essa pergunta envolve uma longa história.12 As primeiras pesquisas sobre a mineração de carvão britânica nos anos 1940, sobre o milagre econômico japonês nos anos 1970 e uma imensa quantidade de investigações desde então revelaram que, sob as condições certas, as equipes tomam decisões melhores, desenvolvem produtos e serviços melhores e criam uma força de trabalho mais envolvida do que os funcionários trabalhando isoladamente o fariam.13 Do mesmo modo, os membros da equipe podem compartilhar rapidamente as informações e coordenar as tarefas, enquanto esses processos são mais lentos e propensos a erros nos departamentos tradicionais liderados por supervisores. Em geral, as equipes prestam ao cliente um serviço superior porque lhe fornecem uma gama mais ampla de conhecimento e especialização do que as “estrelas” individuais podem oferecer. Em muitas situações, as pessoas podem estar mais motivadas quando trabalham em equipes do que quando trabalham sozinhas.14 Uma razão para essa motivação é que, como foi mencionado alguns parágrafos atrás, os funcionários têm um impulso para se vincular e são motivados a satisfazer os objetivos dos grupos aos quais pertencem. Essa motivação é particularmente forte quando a equipe é parte da identidade social do funcionário. Segundo, as pessoas são mais motivadas em equipes porque são responsáveis perante os colegas de equipe que monitoram o seu desempenho mais estreitamente do que um supervisor tradicional. Isso é particularmente verdadeiro quando o desempenho da equipe depende do pior executor, como em uma linha de montagem, na qual a velocidade da montagem de um produto depende da velocidade do funcionário mais lento. Terceiro, em algumas circunstâncias, o desempenho melhora quando os funcionários trabalham perto dos outros porque os colegas se tornam parâmetros de comparação. Os funcionários também são motivados a trabalhar mais intensamente devido à apreensão de que seu desempenho seja comparado ao desempenho dos demais. EAD UNIFACVEST 28 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIOS DAS EQUIPES Apesar dos muitos benefícios do trabalho das equipes, elas nem sempre são tão eficazes quanto os indivíduos trabalhando sozinhos.15 Geralmente, as equipes são mais adequadas para o trabalho complexo, como projetar uma edificação ou auditar os registros financeiros de uma empresa. Sob essas circunstâncias, uma pessoa sozinha raramente possui todo o conhecimento e as habilidades necessárias. Em vez disso, os trabalhos complexos são realizados com melhor qualidade com a divisão das tarefas entre funções mais especializadas, com as pessoas em tais cargos especializados se coordenando umas com as outras. Por outro lado, o trabalho normalmente é realizado de maneira mais eficaz pelos indivíduos isoladamente quando possuem todo o conhecimento e habilidades necessárias e quando ele não pode ser dividido em tarefas especializadas ou não é suficientemente complexo para se beneficiar da especialização. Mesmo quando o trabalho pode e deve ser especializado, uma estrutura de equipe pode não ser necessária se as tarefas realizadas por várias pessoas exigirem pouca coordenação. O principal problema das equipes é que elas têm custos adicionais chamados perdas de processo, que são os recursos (incluindo tempo e energia) despendidos para o desenvolvimento e a manutenção da equipe em vez da tarefa.16 Para um indivíduo, é muito mais eficiente trabalhar uma questão sozinho do que resolver diferenças de opinião com outras pessoas. Para que uma equipe tenha um bom desempenho, seus membros precisam entrar em acordo e compreender mutuamente seus objetivos, a estratégia para alcançar tais objetivos, suas funções específicas e as regras de conduta informais. Os membros da equipe precisam desviar tempo e energia que seriam destinados à realização do trabalho para que possam desenvolver e manter esses elementos necessários para a equipe. O problema das perdas de processo é particularmente evidente quando mais funcionários são acrescentados ou substituem outros na equipe. O desempenho da equipe sofre quando ela acrescenta membros porque os funcionários precisam aprender como a equipe funciona e como se EAD UNIFACVEST 29 Aprendizagem baseada em projetos coordenar de maneira eficiente com os outros membros. As perdas de processo também ocorrem bastante devido à necessidade de redistribuir a carga de trabalho. A indústria de software tem até um nome para esse fenômeno: a lei de Brooks (conhecida também como “mito do homem-mês”) diz que acrescentar mais pessoas a um projeto de software atrasado apenas o atrasa aindamais! De acordo com algumas fontes, a Apple, Inc., pode ter caído nessa armadilha no desenvolvimento recente do seu aplicativo de fotografia profissional, chamado Aperture. Quando o projeto começou a ter o seu cronograma atrasado, o gestor encarregado dele aumentou o tamanho da equipe; algumas fontes dizem que em poucas semanas a equipe passou de 20 para 150 engenheiros e pessoal de garantia de qualidade. Infelizmente, acrescentar tantas pessoas atrasou ainda mais o projeto. O resultado? Quando finalmente foi lançado, o Aperture contava com nove meses de atraso e foi considerado um dos produtos mais cheios de bugs do catálogo da Apple. Ócio social Talvez a limitação das equipes mais conhecida seja o risco de perda da produtividade decorrente do ócio social, que ocorre quando as pessoas exercem menos esforço (e geralmente têm um desempenho inferior) quando trabalham em grupos do que quando trabalham sozinhas.19 O ócio social tende a ser mais grave quando o desempenho do indivíduo é menos propenso a ser notado, como quando as pessoas trabalham juntas em equipes grandes. O resultado do indivíduo também é menos perceptível quando a equipe produz um único resultado (em vez de cada membro da equipe ter sua produção estabelecida e mensurável), por exemplo, encontra uma única solução para o problema de um cliente. O ócio social é menor quando a contribuição de cada membro da equipe é mais perceptível, o que pode ser alcançado pela redução do tamanho da equipe, por exemplo, ou pela mensuração do desempenho de cada membro. A Strategic Investments & Holdings Inc., uma empresa especializada em aquisições de Buffalo, no estado de Nova Iorque, restringe propositalmente o número de seus diretores exatamente por esse motivo. “Quando o grupo é menor, não há como se esconder”, explica David Zebro, diretor da Strategic Investments. “Todos precisam fazer a sua parte”. O ócio social também depende da motivação do funcionário para realizar o trabalho. Ele é menos prevalente quando a tarefa é interessante, porque os indivíduos são mais motivados pelo próprio trabalho a cumprir suas obrigações. Por exemplo, um estudo recente revelou que a apatia dos alunos explica parte do ócio social que ocorre nas equipes de estudantes universitários. Esse fenômeno também é menos comum quando o objetivo da equipe é importante, possivelmente porque os indivíduos sentem mais pressão dos colegas de trabalho para ter um bom desempenho. Finalmente, o ócio EAD UNIFACVEST 30 Aprendizagem baseada em projetos social ocorre com menos frequência entre os membros que valorizam a participação na equipe e acreditam trabalhar para atender aos objetivos dela. Em suma, as equipes podem ser forças poderosas de vantagem competitiva ou significar mais problemas do que soluções, tanto que o desempenho e o moral no trabalho diminuem quando os funcionários são colocados em equipes. Para compreendermos quando as equipes são melhores do que os indivíduos trabalhando sozinhos, precisamos examinar mais de perto as condições que tornam as equipes eficazes ou ineficazes. As próximas seções deste capítulo discutirão o modelo de eficácia da equipe. OA2 MODELO DE EFICÁCIA DAS EQUIPES Por que algumas equipes são eficazes enquanto outras fracassam? Para responder a essa pergunta, precisamos esclarecer o significado de eficácia da equipe. Uma equipe é eficaz quando beneficia a empresa, seus membros e sua própria sobrevivência.22 Primeiro, as equipes existem para servir a algum propósito organizacional, então a eficiência é medida parcialmente pela realização desse propósito. Segundo, a eficácia de uma equipe se baseia na satisfação e no bem- -estar dos seus membros. As pessoas participam de grupos para satisfazer suas necessidades, então a eficácia é medida parcialmente pela sua satisfação. Finalmente, a eficácia da equipe inclui sua própria viabilidade, sua capacidade para sobreviver, pois deve conseguir manter o comprometimento dos seus membros, particularmente durante a turbulência do desenvolvimento da equipe. Sem esse comprometimento, a equipe desmorona. A equipe também deve garantir recursos suficientes e encontrar um ambiente benevolente no qual atuar. Os pesquisadores desenvolveram vários modelos ao longo dos anos para identificar as características ou condições que tornam algumas equipes mais eficazes do que outras. A Figura 8.2 reúne os principais componentes desses modelos de eficácia das equipes. Examinaremos de perto cada componente ao longo das próximas páginas. A melhor maneira de analisar a figura é como um metamodelo que conecta diversas teorias, pois cada componente (desenvolvimento da equipe, coesão da equipe, etc.) tem o seu próprio conjunto de teorias e modelos para explicar sua própria atuação. Ambiente da organização e da equipe O ambiente organizacional e da equipe representa todas as condições, para além das fronteiras da equipe, que influenciam a sua eficácia. Os membros da equipe tendem a trabalhar juntos com mais eficácia quando são ao menos em parte recompensados pelo desempenho dela. Outro fator ambiental é a estrutura EAD UNIFACVEST 31 Aprendizagem baseada em projetos organizacional. As equipes se desenvolvem quando organizadas em torno dos processos de trabalho, pois essa estrutura aumenta a interação e a interdependência entre os membros da equipe e diminui a interação com as pessoas fora dela. As equipes de alto desempenho também dependem dos líderes organizacionais, que fornecem apoio e direção estratégica enquanto os membros da equipe se concentram na eficiência operacional e na flexibilidade. A configuração física do espaço de trabalho da equipe também pode fazer a diferença. Por exemplo, a Toyota Motor Company, a PSA Peugeot Citroën e outras empresas têm uma “sala de obeya” onde reúnem os membros de projetos com formações e habilidades diversas para resolver problemas mais rapidamente. EAD UNIFACVEST 32 Aprendizagem baseada em projetos ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DA EQUIPE Além de estabelecerem um ambiente favorável à equipe, os líderes precisam formar cuidadosamente a própria equipe, determinando as características da tarefa e o tamanho, a composição e as funções dela. Características da tarefa As equipes são mais eficazes do que os indivíduos em tipos específicos de tarefas. Elas são melhores em tarefas complexas demais para qualquer indivíduo isolado, como lançar um negócio em um novo mercado, desenvolver um sistema operacional de computador ou construir uma ponte. O trabalho complexo requer habilidades e conhecimentos que estão além das competências de uma pessoa. As equipes são particularmente apropriadas quando o trabalho complexo pode ser dividido em funções mais especializadas, nas quais as pessoas requerem coordenação frequente. Algumas evidências também sugerem que as equipes funcionam melhor com tarefas bem estruturadas, pois é mais fácil coordenar esse tipo de trabalho entre várias pessoas. Uma característica que é particularmente importante para as equipes é a interdependência das tarefas, o quanto os membros da equipe têm de compartilhar materiais, informações ou especialização para realizar suas tarefas. Além da independência total, existem três níveis de interdependência das tarefas, conforme ilustrado pela Figura 8.3. O nível mais baixo de interdependência, chamado interdependência conjunta, ocorre quando um funcionário ou uma unidade de trabalho compartilha um recurso comum, como maquinário, apoio administrativo ou orçamento, com outros funcionários ou unidades de trabalho. Isso ocorreria em um contexto de equipe no qual cada membro trabalha sozinho, mas compartilha matérias-primas ou maquinário para realizar suas tarefas que, com exceção desse aspecto, seriam independentes. A interdependência é mais alta sob a interdependência sequencial, na qual o resultadode uma pessoa se torna o insumo direto para outra pessoa ou unidade. A interdependência sequencial ocorre quando os membros da equipe são organizados em uma linha de montagem. A interdependência recíproca, na qual o resultado do trabalho é intercambiado entre os indivíduos, é o grau mais elevado de interdependência. As pessoas que projetam um produto ou serviço novo terão uma interdependência recíproca porque suas decisões de projeto afetam as outras pessoas envolvidas no processo. Qualquer decisão tomada pelos engenheiros de projeto influenciaria o trabalho do engenheiro de produção e do especialista em compras e vice-versa. Os funcionários com interdependência recíproca devem ser organizados em equipes para facilitar a coordenação de sua relação entrelaçada. EAD UNIFACVEST 33 Aprendizagem baseada em projetos Em geral, quanto maior o nível de interdependência das tarefas, maior a necessidade de organizar as pessoas em equipes em vez de mantê-las trabalhando sozinhas. Uma estrutura de equipe melhora a comunicação interpessoal e, desse modo, resulta em uma melhor coordenação. A alta interdependência das tarefas também motiva as pessoas a integrarem a equipe. No entanto, a regra de que uma equipe deve ser formada quando os funcionários têm alta interdependência se aplica quando os membros têm os mesmos objetivos de tarefas, como atender os mesmos clientes ou montar coletivamente o mesmo produto. Quando os membros da equipe têm objetivos diferentes (por exemplo, atender clientes diferentes), mas dependem de outros membros da equipe para atingir tais objetivos exclusivos, o trabalho em equipe pode criar conflito em excesso. Sob essas circunstâncias, a empresa deve tentar reduzir o nível de interdependência ou se basear na supervisão como um amortecedor ou mediador entre os funcionários. Tamanho da equipe Qual é o tamanho ideal para uma equipe? A varejista on-line Amazon segue a regra da “equipe de duas pizzas”, a saber, que a equipe deve ser pequena o suficiente para ser alimentada confortavelmente com duas pizzas grandes. A regra produz equipes de cinco a sete funcionários. No outro extremo da questão, alguns especialistas argumentam que as tarefas estão ficando tão complexas que muitas equipes precisam ter mais de 100 membros. Infelizmente, a primeira ideia (as equipes de duas pizzas) é excessivamente simplista e a segunda parece ter perdido de vista o significado e a dinâmica das verdadeiras equipes. Em geral, as equipes devem ser grandes o bastante para proporcionar as competências e perspectivas necessárias para realizar o trabalho, mas ainda pequenas EAD UNIFACVEST 34 Aprendizagem baseada em projetos o bastante para manter a coordenação eficiente e o envolvimento significativo de cada membro. “Você precisa obter um equilíbrio entre ter pessoas suficientes para fazer todas as coisas que precisam ser feitas, e manter a equipe pequena o bastante para que seja coesa e tome decisões com eficácia e rapidez”, diz Jim Hassell, um alto executivo da NBN Co que já trabalhou na Sun e na IBM. As equipes pequenas (com, digamos, menos de doze membros) operam com eficácia porque têm menos perdas de processo. Os membros das equipes menores também tendem a se sentir mais envolvidos porque conhecem os colegas de equipe (o que aumenta a confiança), têm mais influência sobre as normas do grupo e se sentem mais responsáveis pelo sucesso ou fracasso da equipe. As empresas devem ter equipes de 100 pessoas se a tarefa for altamente complexa? A resposta é que um grupo tão grande provavelmente não é uma equipe, mesmo que a gestão o chame assim. Uma equipe existe quando seus membros interagem e influenciam uns aos outros, são mutuamente responsáveis por cumprir as metas comuns associadas aos objetivos organizacionais e se veem como uma entidade social dentro de uma empresa. É muito difícil que todos em uma unidade de trabalho de 100 pessoas influenciem uns aos outros e que sintam uma coesão suficiente para que se percebam como membros de uma equipe. Os executivos na Whole Foods Market tinham consciência de que as equipes reais reúnem muito menos do que 100 pessoas quando abriram sua imensa loja no Columbus Circle, na cidade de Nova Iorque. A loja tinha 140 operadores de caixas, demais para ser considerada uma equipe dessa função, então a Whole Foods Market dividiu o grupo em equipes com uma dúzia de funcionários em cada. Todos os operadores de caixas se encontram mensalmente como um grupo enorme para discutir questões de produção, mas as equipes menores trabalham de maneira eficiente no dia a dia. Composição da equipe Na maioria dos locais de trabalho, os funcionários devem ter mais do que competências técnicas; eles também precisam ser capazes e dispostos a realizar um trabalho em um ambiente de equipe. As competências de equipe são tão importantes na Royal Dutch/Shell que a gigante do setor de energia realiza um exercício especial Gourami de cinco dias na Europa, América do Norte, Ásia e Oriente Médio para observar com quanta eficácia os universitários (possíveis candidatos a empregos) trabalham sob pressão em um ambiente de equipe. “Trabalhar com os desafios do ‘mundo real’ do Gourami conscientizou todos nós sobre o valor de outras habilidades e aptidões e sobre a necessidade de trabalhar em equipe”, conta um estudante de engenharia mecânica que participou de um dos eventos. EAD UNIFACVEST 35 Aprendizagem baseada em projetos As características ou comportamentos mencionados com mais frequência em relação aos membros de equipe eficazes são os “cinco Cs” ilustrados na Figura 8.4: cooperação, coordenação, comunicação, conforto e resolução de conflitos. As três primeiras competências são basicamente (mas não inteiramente) relacionadas à tarefa, enquanto as duas últimas ajudam principalmente na manutenção da equipe: • Cooperação. Os membros de equipe eficazes estão dispostos e são capazes de trabalhar juntos em vez de sozinhos. Isso inclui compartilhar recursos e ser suficientemente adaptativo ou flexível para acomodar as necessidades e preferências dos demais membros da equipe, como reescalonar o uso do maquinário para que outro membro com um prazo mais apertado possa utilizá- lo. • Coordenação. Os membros de equipe eficazes gerenciam ativamente o trabalho da equipe para que seja realizado de maneira mais eficiente e harmoniosa. Por exemplo, os membros eficazes mantêm a equipe no caminho certo e ajudam a integrar o trabalho realizado pelos diferentes membros. Em geral, isso exige que os membros de equipe eficazes conheçam o trabalho dos colegas, não apenas o próprio. EAD UNIFACVEST 36 Aprendizagem baseada em projetos • Comunicação. Os membros de equipe eficazes transmitem as informações livremente (em vez de acumulá-las para si), de maneira eficiente (usando o melhor canal e a melhor linguagem) e respeitosamente (evitando despertar emoções negativas). Eles também ouvem ativamente os colegas de trabalho. • Conforto. Os membros de equipe eficazes ajudam os colegas a manter um estado psicológico positivo e saudável. Eles demonstram empatia, oferecem conforto psicológico e colaboram com os sentimentos de confiança e autoestima dos colegas. • Resolução de conflitos. O conflito é inevitável nos contextos sociais, então os membros de equipe eficazes têm as habilidades e a motivação para resolver as discordâncias entre colegas. Isso requer o uso eficaz de vários estilos de resolução de conflitos e também de habilidades de diagnóstico para identificar e resolver as fontes estruturais do conflito. Quais funcionários tendem a ter essas competências de equipe? No alto da lista estão aqueles com altos níveis de dois traços de personalidade, a escrupulosidade e a extroversão, além de alta inteligência emocional. Além do mais, o antigo ditado “uma maçã podre estragao cesto” parece se aplicar às equipes; um integrante que não possua essas competências de trabalho em equipe pode minar a dinâmica da equipe inteira. Diversidade da equipe Outra dimensão importante da composição da equipe é a diversidade. A diversidade da equipe parece ter efeitos positivos e negativos em sua eficácia. Vamos começar pelos benefícios da diversidade. As pesquisas sugerem que, em situações específicas, as equipes diversas são melhores do que as homogêneas na tomada de decisões. Um motivo é que pessoas de formações diferentes tendem a ver um problema ou uma oportunidade a partir de ângulos distintos. Os membros da equipe têm modelos mentais diferentes, então são mais propensos a identificar soluções viáveis para problemas difíceis. Uma segunda justificativa de por que as equipes diversificadas tendem a tomar decisões melhores é que elas têm um conjunto mais amplo de competências técnicas. Por exemplo, cada equipe na Rackspace Hosting consiste em mais de uma dúzia de pessoas com habilidades diversas, por exemplo, gestão de contas, engenharia de sistemas, suporte técnico, experiência em faturamento e suporte de data center. A empresa de infraestrutura empresarial na web necessita dessa diversificação de competências técnicas dentro de cada equipe para atender as necessidades dos clientes atribuídos à equipe. Uma terceira razão em favor das equipes com membros diversificados é que elas proporcionam melhor representação dos constituintes da equipe, como outros departamentos ou clientes com experiências similarmente diversificadas. Uma equipe responsável por projetar e lançar um novo serviço, por exemplo, deve ter representação das várias especializações da organização para que as pessoas nessas unidades de trabalho apoiem as decisões da equipe. A diversidade da equipe oferece muitas vantagens, mas também apresenta uma série de desafios. Mais especificamente, funcionários com formações diversas demoram mais para se tornarem uma equipe de alto desempenho. Em parte, isso ocorre EAD UNIFACVEST 37 Aprendizagem baseada em projetos porque os respectivos membros levam mais tempo para se relacionar com pessoas diferentes deles, particularmente quando as outras pessoas têm perspectivas e valores diferentes (ou seja, quando têm um nível de diversidade profundo). As equipes diversificadas são suscetíveis a “rachaduras”, linhas divisórias hipotéticas que podem dividir uma equipe em subgrupos ao longo das dimensões de gênero, étnicas, profissionais ou outras. Essas rachaduras diminuem a eficiência da equipe ao reduzir a motivação para se comunicar e coordenar com os colegas de equipe no outro lado das divisões hipotéticas. Em contraste, os membros das equipes com um nível de diversidade mínimo sentem uma satisfação maior, passam por menos conflitos e têm melhores relações interpessoais. Por consequência, as equipes homogêneas tendem a ser mais eficazes nas tarefas que exigem um alto grau de cooperação e coordenação, como as equipes de atendimento de emergência. AO3 PROCESSOS DE EQUIPE O terceiro conjunto de elementos no modelo de eficácia da equipe, conhecidos coletivamente como processos da equipe, inclui o desenvolvimento, as normas, a coesão e a confiança da equipe. Esses elementos representam as características da equipe que evoluem continuamente. Desenvolvimento da equipe Os membros da equipe devem resolver várias questões e passar por vários estágios de desenvolvimento antes de emergir como uma unidade de trabalho de sucesso. Para isso, precisam se conhecer e confiar uns nos outros, compreender e chegar a um acordo sobre suas respectivas funções, descobrir os comportamentos adequados e inadequados e aprender como se coordenar uns com os outros. Quanto mais tempo os EAD UNIFACVEST 38 Aprendizagem baseada em projetos membros da equipe trabalham juntos, mais desenvolvem modelos mentais comuns ou complementares, entendimento mútuo e rotinas de desempenho eficazes para completar o trabalho. Um modelo popular que captura muitas atividades de desenvolvimento de equipes é exibido na Figura 8.5. O diagrama mostra as equipes passando sistematicamente de um estágio para o outro, enquanto as linhas tracejadas ilustram que as equipes podem voltar para um estágio de desenvolvimento anterior à medida que novos membros a integrem ou que outras condições afetem a maturidade da equipe. A formação, o primeiro estágio do desenvolvimento da equipe, é um período de teste e orientação no qual os membros se conhecem mutuamente e avaliam os benefícios e os custos da participação. As pessoas tendem a ser educadas, a respeitar a autoridade e a descobrir o que se espera delas e como se enquadrarão na equipe. O estágio de ataque é marcado pelo conflito interpessoal, pois os membros se tornam mais proativos e competem pelas várias funções na equipe. Além disso, eles tentam estabelecer normas de comportamento adequado e padrões de desempenho. Durante o estágio de normatização, a equipe desenvolve seu primeiro senso real de coesão, à medida que as funções são estabelecidas e se forma um consenso em torno dos objetivos do grupo ou um modelo mental complementar baseado na equipe. No estágio de realização, os membros aprendem a coordenar de maneira eficiente e a resolver conflitos. Nas equipes de alto desempenho, todos são altamente cooperativos, têm um alto nível de confiança uns nos outros, são comprometidos com os objetivos do grupo e se identificam com a equipe. Finalmente, o estágio de encerramento ocorre quando a equipe está prestes a se dissolver. Nele, os membros deslocam sua atenção das tarefas para as relações. O modelo de cinco estágios é consistente com o que os estudantes vivenciam nos projetos em equipe (como revela um estudo), mas está longe de ser uma representação perfeita do processo de desenvolvimento da equipe. Por exemplo, ele não mostra que algumas equipes permanecem em um determinado estágio por mais tempo do que as outras. O modelo também mascara dois processos distintos durante o desenvolvimento da equipe: o desenvolvimento da identidade de equipe e o desenvolvimento da competência de equipe. • Desenvolvimento da identidade de equipe. O processo envolve a transição que os indivíduos fazem, de ver a equipe como algo que está “lá fora” para vê-la como algo ao qual pertencem. Em outras palavras, o desenvolvimento da equipe ocorre quando os funcionários mudam sua visão do “eles” para “nós”. Desenvolver a identidade de equipe tem a ver com se familiarizar com a equipe, torná-la parte da sua identidade social e moldá-la para se ajustar melhor ao seu protótipo de uma equipe ideal. EAD UNIFACVEST 39 Aprendizagem baseada em projetos EAD UNIFACVEST 40 Aprendizagem baseada em projetos • Desenvolvimento da competência de equipe. O processo inclui o desenvolvimento de rotinas habituais com os colegas e a formação de modelos mentais compartilhados ou complementares.42 Os modelos mentais da equipe são imagens mentais visuais ou relacionais compartilhadas pelos membros. Por exemplo, os membros de uma equipe recém-formada podem ter visões diferentes a respeito do atendimento ao cliente (qualidade da interação, velocidade do serviço, especialização técnica fornecida e assim por diante). À medida que a equipe se desenvolve, essas visões convergem para um modelo mental compartilhado de atendimento ao cliente. Uma metanálise recente informou que as equipes são mais eficazes quando seus membros compartilham modelos mentais comuns do trabalho. Funções da equipe Uma parte importante do processo de desenvolvimento da equipe é a formação e o reforço das funções da equipe. Uma função é um conjunto de comportamentos que as pessoas deverão ter porque ocupam certas posições em uma equipe ou empresa.44 Em um contexto de equipe, algumas funções a ajudam a atingirseus objetivos; outras mantêm as relações dentro da equipe. Algumas funções são atribuídas formalmente a determinadas pessoas. Por exemplo, os líderes de equipe geralmente deverão iniciar a discussão, garantir que todos tenham oportunidade para apresentar suas opiniões e ajudar a equipe a chegar a um acordo sobre as questões discutidas. Os membros da equipe recebem funções específicas dentro de suas responsabilidades de trabalho formais. Contudo, eles também assumem funções informais que correspondem a suas personalidades e valores e também aos desejos dos outros membros da equipe. Essas funções informais, que são negociadas durante todo o EAD UNIFACVEST 41 Aprendizagem baseada em projetos processo de desenvolvimento da equipe, variam do apoio aos demais membros até a sugestão de novas ideias. As funções informais da equipe são compartilhadas, mas muitas são associadas a uma ou duas pessoas na equipe. Acelerar o desenvolvimento da equipe por meio da formação da equipe A formação de equipes consiste nas atividades formais destinadas a aprimorar o desenvolvimento e o funcionamento de uma equipe de trabalho.46 Em grande medida, a formação da equipe tenta acelerar o respectivo processo de desenvolvimento, o qual pode ser aplicado às novas equipes, mas é introduzido com mais frequência naquelas existentes, que regrediram para estágios anteriores do desenvolvimento de equipe devido à rotatividade dos participantes ou à perda de foco. Algumas intervenções de formação de equipes são focadas em tarefas. Elas esclarecem os objetivos de desempenho das equipes, aumentam a sua motivação para atingi-los e estabelecem um mecanismo de feedback sistemático sobre eles. Um segundo tipo de formação de equipes tenta melhorar as habilidades de resolução de problemas da equipe. Uma terceira categoria esclarece e reconstrói as percepções de cada membro quanto ao seu papel e também as expectativas que o membro tem em relação aos papéis dos demais membros. A formação de equipes pela definição dos papéis também ajuda a equipe a desenvolver modelos mentais compartilhados, ou seja, representações internas comuns do mundo externo; por exemplo, como interagir com os clientes, manter o maquinário e participar de reuniões. Pesquisas recentes indicam que os processos e o desempenho da equipe dependem da eficiência com que seus membros compartilham os modelos mentais pertinentes ao modo como devem trabalhar juntos. Atividades populares na formação de equipes Um quarto tipo de formação de equipes, e provavelmente o mais comum, se concentra em melhorar as relações entre os membros. Seu objetivo é ajudar os EAD UNIFACVEST 42 Aprendizagem baseada em projetos integrantes da equipe a se conhecerem melhor, desenvolverem confiança e criarem maneiras de administrar os conflitos internos. As intervenções populares, como as atividades de equipe no campo ou na floresta, batalhas de paintball e pistas de obstáculos, geralmente são oferecidas para criar relações de confiança. “Se dois colegas seguram a corda para você enquanto escala 10 metros, isso realmente é formação de equipe”, sugere um parceiro de uma empresa alemã de consultoria em comunicação que participou de um evento de formação de equipes. Embora as atividades de formação de equipes sejam populares, seu sucesso nem sempre é garantido.50 Um dos problemas é que as atividades de formação de equipes são utilizadas como soluções gerais para problemas específicos da equipe. Uma abordagem melhor é começar com um diagnóstico sólido da saúde da equipe e depois escolher as intervenções de formação de equipe que tratem dos pontos fracos dela.51 Outro problema é que a formação de equipes é aplicada como uma inoculação médica em dose única que toda equipe deve receber quando é formada. Na verdade, a formação da equipe é um processo contínuo, não um pontapé inicial de três dias de duração.52 Finalmente, devemos lembrar que a formação da equipe ocorre durante o trabalho, não apenas em uma pista de obstáculos ou em um parque nacional. As organizações devem estimular os membros da equipe a refletirem sobre suas experiências profissionais e a experimentarem a aprendizagem para o desenvolvimento da equipe na hora certa. Normas da equipe Normas são regras informais e expectativas compartilhadas que os grupos estabelecem para regular o comportamento dos seus membros. As normas se aplicam somente ao comportamento, não aos pensamentos ou sentimentos de caráter privado. Além disso, elas existem apenas para os comportamentos importantes para a equipe. As normas são impostas de várias maneiras. Os colegas fazem caretas quando nos atrasamos para uma reunião ou comentários sarcásticos se não concluímos a nossa parte do projeto dentro do prazo. As normas também são reforçadas diretamente por meio dos elogios dos membros de status mais elevado, mais acesso aos recursos valorizados ou outras recompensas disponíveis para a equipe. Contudo, os membros da equipe muitas vezes agem em conformidade com as normas dominantes sem reforço direto ou punição, pois se identificam com o grupo e querem alinhar o seu comportamento aos valores da equipe. Quanto mais estreitamente a identidade social de uma pessoa estiver conectada a um grupo, mais ela se sente motivada a evitar sanções negativas dele. Como as normas de equipe se desenvolvem Normas se desenvolvem quando as equipes se formam porque as pessoas precisam antecipar ou prever como as outras agirão. Até mesmo os eventos sutis durante a formação da equipe, como a forma como as pessoas se cumprimentam inicialmente e onde se sentam nas primeiras reuniões, podem dar início a normas que depois são difíceis de mudar. As normas também se formam à medida que os membros da equipe descobrem comportamentos que os ajudam a trabalhar de maneira mais eficaz (por exemplo, a necessidade de responder rapidamente a uma mensagem de e-mail). Em EAD UNIFACVEST 43 Aprendizagem baseada em projetos particular, um evento fundamental no histórico da equipe pode desencadear a formação de uma norma ou acentuar uma que antes era vaga. Uma terceira influência sobre as normas da equipe são as experiências e os valores que os membros trazem. Se os membros de uma nova equipe valorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, é provável que se desenvolvam normas que desestimulem horas prolongadas ou sobrecarga de trabalho. Prevenção e mudanças das normas disfuncionais das equipes As normas da equipe muitas vezes se tornam profundamente arraigadas, então a melhor maneira de evitar aquelas que minam o sucesso organizacional ou o bem-estar dos funcionários é estabelecer normas desejáveis quando a equipe é formada pela primeira vez. Uma maneira de fazer isso é definir claramente as normas desejadas quando a equipe é criada. Outra abordagem é selecionar pessoas com valores adequados. Se os líderes organizacionais querem que suas equipes tenham normas de segurança fortes, devem contratar pessoas que já valorizem a segurança e que identifiquem claramente a importância desse fator quando a equipe é formada. As sugestões até aqui se referem às novas equipes, mas como os líderes organizacionais mantêm as normas desejadas nas equipes estabelecidas? Um estudo recente oferece uma solução, mostrando que os líderes muitas vezes têm a capacidade de alterar as normas existentes. Ao manifestarem suas opiniões ou treinarem ativamente a equipe, muitas vezes eles conseguem subjugar as normas disfuncionais, ao mesmo tempo em que desenvolvem normas úteis. Uma segunda sugestão é introduzir recompensas em nível de equipe que se opõem às normas disfuncionais. No entanto, estudos relatam que os funcionários podem continuar seguindo uma norma disfuncional da equipe (por exemplo, limitar seus resultados), embora esse comportamento diminua sua remuneração. Finalmente, seas normas disfuncionais estiverem profundamente arraigadas e as soluções anteriores não funcionarem, pode ser necessário dissolver o grupo e substituí-lo por pessoas capazes de desenvolver normas mais favoráveis. Coesão da equipe A coesão da equipe é o grau de atração que as pessoas sentem em relação à equipe e sua motivação para continuar sendo membros dela. Trata-se de uma característica da equipe, incluindo até que ponto seus membros são atraídos para a equipe, são comprometidos com seus objetivos ou tarefas e sentem uma sensação coletiva de orgulho dela. Assim, a coesão da equipe é uma experiência emocional, não apenas um cálculo para decidir quem fica ou sai da equipe. Ela existe quando seus membros a tornam parte da sua identidade social. O desenvolvimento da equipe tende EAD UNIFACVEST 44 Aprendizagem baseada em projetos a reforçar sua coesão, pois os membros fortalecem sua identidade em relação à equipe durante o processo. Influência sobre a coesão da equipe Diversos fatores influenciam a coesão da equipe: similaridade e interação dos membros, tamanho da equipe, barreiras de entrada, sucesso da equipe e concorrência ou desafios externos. Em sua maioria, esses fatores refletem a identidade social do indivíduo com o grupo e as crenças sobre como a participação na equipe satisfará as necessidades pessoais. • Semelhança entre os membros. Os sociólogos sabem há bastante tempo que as pessoas são atraídas por outras que são semelhantes a elas.58 Esse efeito semelhança-atração ocorre porque presumimos que pessoas parecidas conosco e com históricos semelhantes são mais confiáveis e têm maior probabilidade de nos aceitar. Também esperamos ter menos experiências negativas com elas, como conflitos e violações de nossas expectativas e crenças. Assim, as equipes têm ou desenvolvem alta coesão mais rapidamente quando seus membros são semelhantes. As equipes com membros mais diversos, por outro lado, demoram mais e têm mais dificuldade para se tornarem coesas. Essa dificuldade depende da forma de diversidade, entretanto. As equipes compostas de indivíduos de diferentes grupos de trabalho parecem se tornar coesas com tanta facilidade quanto aquelas com indivíduos com os mesmos empregos. • Tamanho da equipe. As equipes menores tendem a ter mais coesão do que as maiores, pois é mais fácil poucas pessoas entrarem em acordo sobre os objetivos e coordenarem as atividades de trabalho. No entanto, as equipes pequenas têm menos coesão quando não possuem membros suficientes para realizar as tarefas necessárias. • Interação dos membros. As equipes tendem a ter mais coesão quando seus membros interagem entre si com bastante regularidade. Isso ocorre quando eles executam tarefas altamente independentes no mesmo espaço físico. • Barreiras de entrada parciais. As equipes tendem a ter mais coesão quando a entrada na equipe é restrita. As equipes de elite dão mais prestígio a seus membros, o que por sua vez aumenta o valor de participar dela. Ao mesmo tempo, pesquisas sugerem que as iniciações mais conturbadas podem enfraquecer a coesão da equipe devido aos efeitos adversos da humilhação, mesmo para os que toleram bem a iniciação. • Sucesso da equipe. A coesão é tanto emocional quanto instrumental, com esta última se referindo à noção de que as pessoas sentem mais coesão em relação a equipes que satisfaçam suas necessidades e objetivos. Por consequência, a coesão aumenta com o nível de sucesso da equipe.61 Além disso, os indivíduos são mais propensos a relacionar suas identidades sociais às equipes bem- sucedidas do que àquelas com uma série de fracassos. • Concorrência e desafios externos. A coesão da equipe tende a aumentar quando os membros se deparam com a concorrência externa ou têm um objetivo valorizado que seja desafiador. Isso poderia incluir uma ameaça de um concorrente externo ou a concorrência amigável das outras equipes. Os EAD UNIFACVEST 45 Aprendizagem baseada em projetos funcionários valorizam sua participação na equipe devido à sua capacidade para vencer a ameaça ou a concorrência e como uma forma de apoio social. No entanto, a coesão pode se dissipar quando as ameaças externas são graves, porque são estressantes e forçam as equipes a tomar decisões menos eficazes. Consequências da coesão da equipe Toda equipe deve ter algum nível mínimo de coesão para manter sua existência. Quem pertence a equipes de alta coesão se sente motivado a manter sua participação e a ajudar a equipe a ter um desempenho eficaz. Em comparação com as equipes de baixa coesão, os membros das de alta coesão passam mais tempo juntos, compartilham informações com mais frequência e se sentem mais satisfeitos uns com os outros. Eles também oferecem uns aos outros mais apoio social em situações de estresse.65 Os membros das equipes de alta coesão geralmente são mais sensíveis às necessidades dos outros membros e desenvolvem relações interpessoais melhores, reduzindo assim o conflito disfuncional. Nas ocasiões em que surge o conflito, os membros tendem a resolver suas diferenças de maneira rápida e eficaz. Com uma cooperação melhor e maior conformidade às normas, as equipes de alta coesão geralmente têm um desempenho melhor do que as de baixa coesão. Entretanto, é preciso analisar duas questões importantes quanto à relação coesão-desempenho. Primeiro, apesar de normalmente presumirmos que a coesão leva ao melhor desempenho da equipe, explicamos anteriormente que o desempenho (sucesso) é um preditor de coesão. Na verdade, um estudo recente estimou que o desempenho da equipe possui um efeito mais forte sobre a coesão do que vice-versa. Em outras palavras, o desempenho da equipe provavelmente afetará sua coesão, enquanto sua coesão terá menos efeito sobre seu desempenho. Segundo, o efeito mais fraco da coesão sobre o desempenho pode ser explicado por outra questão que precisa ser trabalhada. Como vemos na Figura 8.6, a coesão da equipe aumenta seu desempenho apenas quando as normas da equipe são compatíveis com os valores e objetivos organizacionais. Quando as normas da equipe são contraproducentes (por exemplo, quando encorajam o absenteísmo ou EAD UNIFACVEST 46 Aprendizagem baseada em projetos desincentivam os funcionários a trabalhar mais produtivamente), uma equipe coesa normalmente tem desempenho pior do uma incoesa. O efeito ocorre porque a coesão motiva os funcionários a trabalharem em um nível mais consistente com as normas da equipe. Quando as normas prejudicam o desempenho da organização, a alta coesão motiva os funcionários a reduzirem o desempenho da equipe.6 Confiança na equipe Qualquer relacionamento, incluindo aquele entre os membros da equipe, depende de um certo grau de confiança. Confiança refere-se às expectativas positivas nutridas por uma pessoa em relação a outra nas situações que envolvem risco (ver Capítulo 4). Um alto nível de confiança ocorre quando as outras pessoas o afetam nas EAD UNIFACVEST 47 Aprendizagem baseada em projetos situações nas quais você está em risco, mas você acredita que elas não lhe prejudicarão. A confiança inclui as suas crenças e seus sentimentos conscientes a respeito da relação com os demais membros da equipe. Em outras palavras, uma pessoa avalia logicamente a situação como confiável e sente que é digna de confiança. A confiança é construída sobre três bases: cálculo, conhecimento e identificação (ver Figura 8.7). A confiança baseada no cálculo representa um cálculo lógico de que os outros membros da equipe agirão adequadamente porque enfrentarão sanções se as respectivas ações violarem expectativas razoáveis. Ela oferece o menor potencial de confiança e é facilmente quebrada por uma violação das expectativas. Geralmente, a confiança baseada no cálculo não consegue sustentar as relações de uma equipe porquese baseia na dissuasão. A confiança baseada no conhecimento se baseia na previsibilidade do comportamento de outro membro da equipe. Mesmo que não concordemos com as ações de um determinado membro da equipe, sua consistência gera algum nível de confiança. A confiança baseada no conhecimento também está relacionada à confiança na capacidade ou competência da outra pessoa, como aquela que existe quando confiamos em um médico. A confiança baseada no conhecimento oferece um nível potencial mais alto de confiança e é mais estável, pois se desenvolve ao longo do tempo. A confiança baseada na identificação se baseia na compreensão mútua e na ligação emocional entre os membros da equipe, e ocorre quando estes pensam, sentem e agem uns como os outros. As equipes de alto desempenho exibem esse nível de confiança porque compartilham os mesmos valores e modelos mentais. A confiança baseada na identificação tem o potencial de ser o mais forte e sólido dos três tipos de confiança. O autoconceito do indivíduo se baseia parcialmente na participação na equipe e ele acredita que os valores dos membros são bastante parecidos, então quaisquer transgressões por outros membros da equipe logo são perdoadas. As pessoas relutam mais em reconhecer uma violação dessa confiança de alto nível porque ela atinge o centro do seu autoconceito. Dinâmica da confiança na equipe Quando entram em uma equipe, os funcionários normalmente têm níveis moderados ou altos, não baixos, de confiança em seus colegas. A principal explicação para a confiança inicialmente elevada (chamada confiança rápida) nos contextos organizacionais é que as pessoas geralmente acreditam que os colegas membros da equipe são razoavelmente competentes (confiança baseada no conhecimento) e que tendem a desenvolver algum grau de identidade social com a equipe (confiança baseada na identificação). Mesmo quando trabalhamos com estranhos, a maioria de EAD UNIFACVEST 48 Aprendizagem baseada em projetos nós demonstra algum nível de confiança, no mínimo porque isso apoia o nosso autoconceito de ser uma pessoa boa.74 Contudo, a confiança é frágil nos novos relacionamentos, pois se baseia em pressupostos em vez de experiências estabelecidas. Por consequência, estudos informam que a confiança tende a diminuir com o passar do tempo, não a aumentar. É lamentável, pois os funcionários se tornam menos tolerantes e menos cooperativos entre si à medida que seu nível de confiança diminui, o que mina a equipe e a eficácia organizacional. O modelo de eficácia da equipe é um guia útil para compreender como as equipes funcionam (e não funcionam) nas organizações. A partir desse conhecimento, investigaremos resumidamente dois tipos de equipes que receberam uma atenção considerável entre os especialistas e profissionais em CO: equipes autodirigidas e equipes virtuais. OA4 EQUIPES AUTODIRIGIDAS A cena de abertura deste capítulo descreveu duas fábricas da Reckitt Benckiser na Grã-Bretanha que operam com envolvimento mínimo da gerência na tomada de decisões ou nas atividades da linha de produção. Em vez de gerentes, as instalações utilizam equipes autodirigidas. Equipes autodirigidas (EADs), também conhecidas como grupos semiautônomos, são grupos multifuncionais, organizados em torno de processos de trabalho, que concluem um trabalho que exige várias tarefas interdependentes e que têm autonomia substancial para executá-las. A definição captura duas características especiais das EADs. Primeiro, essas equipes concluem um trabalho que exige várias tarefas interdependentes. Esse tipo de arranjo de trabalho agrupa os membros da equipe ao mesmo tempo em que minimiza a interdependência e a interação com funcionários externos a ela. O resultado é um grupo coeso de funcionários que dependem uns dos outros para realizar suas tarefas individuais. Por exemplo, os funcionários da Reckitt Benckiser responsáveis pela fabricação do desinfetante Lysol® são responsáveis por toda a linha de produção, desde receber a matéria-prima até embalar o produto. A segunda característica distintiva das EADs é que elas têm autonomia substancial sobre a execução de suas tarefas. Em particular, essas equipes planejam, organizam e controlam as atividades de trabalho com pouco ou nenhum envolvimento direto de um supervisor de status mais elevado. As equipes das fábricas da Reckitt Benckiser, por exemplo, são consideradas autodirigidas porque têm uma autonomia e uma responsabilidade consideráveis pelas decisões em sua área de trabalho, incluindo a gestão do estoque, a eficiência de produção e questões relacionadas. EAD UNIFACVEST 49 Aprendizagem baseada em projetos Equipes autodirigidas são encontradas em muitos setores, variando do petroquímico à produção de peças para aeronaves. A maioria das empresas de fabricação mais bem cotadas da América do Norte conta com EADs. As equipes autodirigidas se tornaram uma maneira tão popular de organizar os funcionários em indústrias, empresas de serviço e governos que muitas empresas nem mesmo sabem que já as possuem. A popularidade das EADs é coerente com as pesquisas que indicam que elas têm o potencial de aumentar a produtividade e a satisfação no trabalho. Por exemplo, um estudo constatou que as concessionárias de automóveis que organizam os funcionários em EADs são significativamente mais lucrativas do que as que possuem funcionários sem uma estrutura de equipe. Outro estudo divulgou que a satisfação dos clientes, no curto e longo prazo, aumentou após a organização dos garis de uma cidade alemã em EADs. Fatores do sucesso das equipes autodirigidas O sucesso da implementação das equipes autodirigidas depende de diversos fatores.80 As EADs devem ser responsáveis por todo um processo de trabalho, por exemplo, fabricar um produto ou fornecer um serviço completo. Essa estrutura mantém cada equipe suficientemente independente das demais, mas ainda exige um grau relativamente alto de interdependência entres os funcionários dentro da equipe. As EADs também devem ter autonomia suficiente para organizar e coordenar o seu trabalho. A autonomia permite que elas reajam com mais rapidez e eficácia às demandas de clientes e partes interessadas, além de motivar seus membros com sentimentos de autocapacitação. Por fim, as EADs são mais bem-sucedidas quando o local de trabalho e a tecnologia apoiam a coordenação e a comunicação entre os membros da equipe e aumentam o enriquecimento do trabalho. Infelizmente, é muito comum que a gerência simplesmente chame um grupo de funcionários de “equipe”, apesar deles permanecerem isolados pelo arranjo físico do espaço de trabalho, pela estrutura de linha de montagem e outras tecnologias. EQUIPES VIRTUAIS EAD UNIFACVEST 50 Aprendizagem baseada em projetos Muitas de suas fábricas são operadas por equipes autodirigidas, mas a Reckitt Benckiser costuma utilizar equipes virtuais em marketing, sistemas da informação e outras atividades de escritório. As equipes virtuais são aquelas cujos membros atravessam fronteiras de espaço, tempo e organizacionais e que são ligados pelas tecnologias da informação para realizar as tarefas organizacionais.83 As equipes virtuais diferem das equipes tradicionais de duas maneiras: (1) geralmente não se localizam no mesmo espaço físico e, devido a esse fato, (2) os membros das equipes virtuais dependem basicamente das tecnologias da informação em vez da interação pessoal para se comunicar e coordenar seus esforços de trabalho. As equipes virtuais se disseminaram na maioria das organizações, uma tendência que deve continuar no futuro. Dois terços dos gerentes de recursos humanos estimam que o uso de equipes virtuais crescerá rapidamente nos próximos cinco anos.84 Em multinacionais como a IBM, quase todos os trabalhadores do conhecimento pertencem a equipes virtuais. Um motivo paraessas equipes serem tão comuns é que as tecnologias da informação tornaram mais fácil do que nunca a comunicação e coordenação à longa distância.85 A transição do trabalho baseado em produção para aquele baseado em conhecimento é um segundo motivo para a viabilidade do trabalho em equipe virtual. Ainda não é possível fabricar um produto físico quando os membros da equipe estão distantes uns dos outros, mas hoje em dia quase todos nós trabalhamos principalmente processando conhecimento. As tecnologias da informação e o trabalho baseado no conhecimento possibilitam a existência das equipes virtuais, mas a aprendizagem organizacional e a globalização são duas razões para que elas sejam cada vez mais necessárias. As equipes virtuais representam uma parte natural do processo de aprendizagem organizacional porque estimulam os funcionários a compartilhar e usar o conhecimento quando a geografia limita as formas de colaboração mais diretas. A globalização torna as equipes virtuais cada vez mais necessárias porque os funcionários estão espalhados por todo o planeta em vez de concentrados em um edifício ou uma cidade. Desse modo, os negócios globais dependem do trabalho em equipe virtual para alavancar seu capital humano. EAD UNIFACVEST 51 Aprendizagem baseada em projetos Fatores do sucesso das equipes virtuais As equipes virtuais têm todos os desafios das tradicionais, além das complicações da distância e do tempo. Felizmente, os pesquisadores de CO têm demonstrado um forte interesse pelas equipes virtuais e seus estudos estão buscando maneiras de aumentar a eficácia dessas equipes. Primeiro, além de ter as competências de equipe descritas anteriormente neste capítulo, os membros das equipes virtuais bem-sucedidas devem ter boas habilidades de tecnologia de comunicação, fortes habilidades de autoliderança para motivá-los e guiar seu comportamento sem colegas e chefes em volta e uma inteligência emocional mais alta para que possam decifrar os sentimentos dos outros membros da equipe a partir do e-mail e de outros meios de comunicação limitados. Segundo, as equipes virtuais devem ter uma caixa de ferramentas de canais de comunicação (e-mail, lousas virtuais, videoconferência, etc.) e também a liberdade para escolher os canais que funcionam melhor para elas. Isso pode parecer óbvio, mas EAD UNIFACVEST 52 Aprendizagem baseada em projetos infelizmente a alta gerência tende a impor determinada tecnologia às equipes virtuais, muitas vezes com base nos conselhos de consultores externos, e espera que os membros da equipe usem a mesma tecnologia de comunicação em todo o seu trabalho. Por outro lado, as pesquisas sugerem que os canais de comunicação ganham e perdem importância com o passar do tempo, dependendo da tarefa e do nível de confiança. Terceiro, as equipes virtuais precisam de muita estrutura. Em uma análise recente das equipes virtuais eficazes, muitos dos princípios das equipes virtuais de sucesso estavam relacionados com a criação dessas estruturas, como objetivos operacionais claros, processos de trabalho documentados e funções e responsabilidades acordadas. A recomendação final é que os membros da equipe virtual devem se encontrar pessoalmente relativamente cedo no processo de desenvolvimento da equipe. A ideia pode parecer contraditória em relação à noção de equipes virtuais, mas até agora nenhuma tecnologia substituiu a interação pessoal para o alto nível de ligação e compreensão mútua.93 TOMADA DE DECISÃO EM EQUIPE As equipes autodirigidas, as equipes virtuais e praticamente todos os outros grupos devem tomar decisões. Sob certas condições, as equipes são mais eficazes do que os indivíduos que trabalham isoladamente na identificação de problemas, escolha de alternativas e avaliação das suas decisões. Para alavancar esses benefícios, porém, primeiro precisamos compreender as restrições sobre a tomada de decisão eficaz em equipe. Depois, examinamos as estruturas de equipe específicas que tentam superá-las. Restrições sobre a tomada de decisão em equipe Qualquer pessoa que tenha passado tempo suficiente no local de trabalho pode citar várias maneiras pelas quais as equipes tropeçam na tomada de decisão. Os quatro problemas mais comuns são as restrições de tempo, o medo da avaliação, a pressão para se conformar e os elementos do pensamento de grupo. Restrições de tempo Diz o ditado que as comissões registram minutas e desperdiçam horas. Isso reflete o fato de que as equipes levam mais tempo do que os indivíduos para tomar decisões. Ao contrário dos indivíduos, as equipes necessitam de tempo adicional para organizar, coordenar e manter relações. Quanto maior o grupo, mais tempo é necessário para EAD UNIFACVEST 53 Aprendizagem baseada em projetos tomar uma decisão. Os integrantes da equipe precisam de tempo para conhecer uns aos outros e construir relacionamentos. Eles precisam gerir um processo de comunicação imperfeito para que haja compreensão suficiente das ideias alheias, além de coordenar funções e regras de ordem dentro do processo de decisão Outra restrição relacionada ao tempo encontrada na maioria das estruturas de equipe é que apenas uma pessoa pode falar de cada vez. Esse problema, conhecido como produção de bloqueio, mina a geração de ideias de várias maneiras. Primeiro, os membros da equipe precisam ouvir a conversa para encontrar um momento oportuno para falar e esse monitoramento dificulta a sua concentração nas próprias ideias. Segundo, as ideias são passageiras, então quanto mais eles esperarem para falar, mais provável que as ideias venham a desaparecer. Terceiro, os membros da equipe se lembram dos pensamentos passageiros ao se concentrar neles, mas isso os força a prestar menos atenção à conversa. Ao ignorar o que as outras pessoas dizem, os membros da equipe deixam passar outras ideias potencialmente boas e também a oportunidade de transmitir as próprias ideias para os outros membros do grupo. Medo da avaliação Os membros de equipes muitas vezes hesitam em mencionar ideias que parecem bobas porque acreditam (em geral, corretamente) que os outros membros estão os avaliando em silêncio. Esse medo da avaliação se baseia no desejo do indivíduo de criar uma apresentação pessoal favorável e na necessidade de proteger sua autoestima. Ele é mais comum quando as reuniões são frequentadas por pessoas com níveis de status ou experiência diferentes ou quando os membros da equipe avaliam formalmente o desempenho uns dos outros durante o ano (como em um feedback de 360 graus). As ideias criativas muitas vezes parecem bizarras ou ilógicas quando são apresentadas pela primeira vez, de modo que o medo da avaliação tende a desestimular os funcionários a mencioná-las na frente dos colegas. Pressão para se conformar A coesão da equipe leva os funcionários a se conformarem com as normas da equipe. Esse controle mantém o grupo organizado em torno de objetivos comuns, mas também pode induzir os membros a suprimirem suas opiniões divergentes, particularmente quando uma forte norma da equipe está relacionada com a questão. Quando alguém coloca um ponto de vista que viola a opinião da maioria, outros membros podem punir o violador ou tentar persuadi-lo de que sua opinião está errada. O conformismo também pode ser sutil. Até certo ponto, dependemos das opiniões das outras pessoas para validar as nossas próprias. Se os colegas não concordam conosco, começamos a questionar novas opiniões, mesmo sem pressão ostensiva por parte deles. Pensamento de grupo O pensamento de grupo se refere à tendência de grupos altamente coesos de valorizarem o consenso às custas da qualidade da decisão. O conceito inclui os efeitos disfuncionais do conformismo sobre a tomada de decisão em equipe, que acabamos de descrever, além de abranger as consequênciasdisfuncionais de tentar manter a EAD UNIFACVEST 54 Aprendizagem baseada em projetos harmonia dentro da equipe. Esse desejo de harmonia existe como uma norma do grupo e fica mais evidente quando os membros da equipe têm uma forte identidade social com o grupo. Supostamente, o pensamento de grupo ocorre com mais frequência quando a equipe está isolada em relação às pessoas de fora, seu líder tem opiniões fortes (em vez de ser imparcial), ela está sob estresse devido a uma ameaça externa, passou por fracassos recentes ou outros problemas de tomada de decisão e não pode contar com uma orientação clara a partir das políticas ou procedimentos da empresa. O termo pensamento de grupo (groupthink) atualmente faz parte da linguagem diária, mas os especialistas rejeitaram o conceito. O principal problema com o conceito de pensamento de grupo é que ele consiste em diversos elementos que não se aglutinam, e algumas de suas características melhoram em vez de minar a tomada de decisão em algumas situações. Além disso, quase todo o apoio para o conceito de pensamento de grupo vem de estudos de caso, muitos dos quais são problemáticos. O conceito de pensamento de grupo pode estar dando seus últimos suspiros, mas elementos específicos da ideia permanecem relevantes enquanto problemas na tomada de decisão em equipe. Um desses elementos, o conformismo, foi identificado anteriormente como um problema na tomada de decisão em equipe. O excesso de confiança é outro elemento do pensamento de grupo que também merece continuar recebendo atenção. Os estudos são consistentes em demonstrar que equipes altamente confiantes possuem uma falsa sensação de invulnerabilidade, o que as torna menos atenciosas na tomada de decisão do que as equipes com níveis moderados de confiança.99 Esse efeito do excesso de confiança está relacionado com os problemas da autovalorização descritos no Capítulo 3 e com os efeitos adversos de humores e emoções positivos na qualidade da tomada de decisão (ver Capítulo 7). Estruturas de equipe para aprimorar a tomada de decisão A tomada de decisão em equipe é cheia de problemas, mas dos estudos que identificam esses problemas também surgem várias soluções. Os membros da equipe precisam ser confiantes em sua tomada de decisão, mas não tão confiantes a ponto de se sentirem coletivamente invulneráveis. Para isso são necessárias normas de equipe que estimulem o raciocínio crítico e também a diversificação dos membros da equipe. É preciso haver mecanismos de controle e equilíbrio para evitar que uma ou duas pessoas dominem a discussão. A equipe deve ser grande o bastante para possuir o conhecimento coletivo para resolver o problema, mas também pequena o bastante para que não consuma tempo demais ou restrinja a contribuição individual. As estruturas de equipe também ajudam a minimizar os problemas descritos ao longo das últimas páginas. Quatro estruturas têm o potencial de melhorar a tomada de decisão em equipe: conflito construtivo, brainstorming, brainstorming eletrônico e a técnica de grupo nominal. EAD UNIFACVEST 55 Aprendizagem baseada em projetos Conflito construtivo Uma maneira popular de aprimorar a tomada de decisão em equipe na empresa Corning é atribuir ideias promissoras a equipes de duas pessoas, que passam até quatro meses analisando a viabilidade delas. Uma característica especial do processo nessa empresa de cerâmica e vidro é que a equipe sempre é composta de um indivíduo especializado em marketing e outro com conhecimento técnico. Essa combinação “óleo e água” às vezes provoca conflitos, mas parece gerar ideias e avaliações melhores. “Produzimos um ótimo conflito construtivo dessa maneira”, afirma Deborah Mills, que lidera a equipe de marketing em estágio inicial da Corning. O conflito construtivo ocorre quando as pessoas se concentram na questão e mantêm o respeito pelas pessoas que têm outros pontos de vista. O conflito é chamado de construtivo porque encoraja os indivíduos a apresentarem pontos de vista divergentes para que as ideias e recomendações possam ser esclarecidas, re-elaboradas e testadas para garantir sua integridade lógica. A análise e o pensamento crítico ajudam os participantes a reanalisarem seus pressupostos e sua lógica. O principal desafio do conflito construtivo é que as pessoas ficam na defensiva quando suas ideias são questionadas, mesmo quando as críticas são lógicas e bem-educadas. Por consequência, o conflito construtivo muitas vezes se degenera, produzindo comportamentos defensivos e ataques pessoais. A tendência pode explicar por que o conflito construtivo não é consistentemente benéfico para a tomada de decisão em todos os estudos. A questão será explorada em mais detalhes no Capítulo 11, junto com estratégias específicas para a minimização dos efeitos emocionais do conflito aliada à preservação do debate construtivo. Brainstorming Brainstorming é um evento de equipe no qual os participantes tentam inventar tantas ideias quanto puderem. O processo foi criado pelo executivo de publicidade Alex Osborn em 1939 e possui quatro regras simples para maximizar a quantidade e qualidade das ideias apresentadas: (1) falar livremente: descrever até mesmo as ideias mais loucas; (2) não criticar as outras pessoas ou suas ideias; (3) fornecer o máximo possível de ideias: a respectiva qualidade aumenta com a sua quantidade; (4) aproveitar as ideias que as outras pessoas apresentaram. O objetivo dessas regras é estimular o pensamento EAD UNIFACVEST 56 Aprendizagem baseada em projetos divergente e ao mesmo tempo minimizar o medo da avaliação e outros problemas de dinâmica de equipe. Apesar de ter se tornado incrivelmente popular quando foi introduzido, o brainstorming perdeu credibilidade com o passar dos anos, mas quase sempre pelos motivos errados. Primeiro, um artigo em uma revista de negócios na década de 1950 fez uma caricatura grosseira do processo. Segundo, diversos estudos de laboratório com universitários concluíram que o brainstorming não é muito eficaz, em grande parte porque a produção de bloqueio e o medo da avaliação ainda interferem na dinâmica da equipe. Esses estudos e o artigo de revista foram infelizes porque pesquisas subsequentes revelaram que o brainstorming pode ser bastante útil em ambientes de trabalho reais. As empresas que utilizam o brainstorming enfatizam que é preciso um nível considerável de habilidade e experiência para liderar sessões bem-sucedidas, mas a maioria dos estudos de laboratório envolvia equipes de universitários com pouco treinamento e zero experiência nessas atividades. Os executivos afirmam que o brainstorming exige uma cultura colaborativa com orientação para aprendizagem, na qual os funcionários não se sentem inibidos pelo medo da avaliação, enquanto os experimentos em laboratório envolviam alunos que muitas vezes não conheciam uns aos outros e tinham receios quanto à sua imagem perante os colegas. A maioria dos estudos também comete o erro de mensurar a eficácia do processo pelo número de ideias geradas, enquanto as pesquisas recentes indicam que o brainstorming tende a gerar ideias mais criativas (e não necessariamente um maior número de ideias). Os estudos de laboratório também ignoram outros benefícios do brainstorming informados pelas empresas que defendem sua eficácia. O foco positivo do brainstorming (críticas são proibidas) tende a aumentar a coesão da equipe e o comprometimento dos participantes com a decisão final. As sessões também tendem a disseminar entusiasmo, uma condição que muitas vezes gera criatividade além dos eventos em si. Em suma, o brainstorming pode não ser sempre a melhor estrutura de equipe, mas parece ser mais valioso do que muitos estudos laboratoriais indicam. Brainstorming eletrônico EAD UNIFACVEST 57 Aprendizagem baseada em projetosO brainstorming eletrônico é uma variação do brainstorming que se baseia em computadores ligados em rede para enviar e compartilhar ideias criativas. Após receber a pergunta ou problema, os participantes enviam suas ideias usando um software especial. Estas são distribuídas anonimamente para os outros participantes, que são estimulados a pegar carona nelas. No fim, os membros da equipe votam eletronicamente nas ideias apresentadas. Geralmente, segue-se a discussão face a face. O brainstorming eletrônico pode ser bastante eficaz na geração de ideias criativas com um mínimo de produção de bloqueio, medo da avaliação ou problemas de conformidade. Apesar dessas inúmeras vantagens, para alguns executivos o brainstorming eletrônico parece estruturado demais e muito ligado à tecnologia. Alguns líderes também podem se sentir ameaçados pela honestidade das colocações geradas mediante esse processo e por sua capacidade limitada para controlar a discussão. Técnica de grupo nominal A técnica de grupo nominal é mais uma variação do brainstorming tradicional. Ela tenta combinar os benefícios da tomada de decisão em equipe sem os problemas mencionados anteriormente. O método é chamado de “nominal” porque os participantes formam um grupo apenas em nome durante duas de suas três fases. Após o problema ser descrito, os membros da equipe escrevem de forma silenciosa e independente o máximo de soluções que puderem. No segundo estágio, os participantes descrevem suas soluções para os outros membros da equipe, geralmente em um formato de rodízio. Assim como no brainstorming, não há críticas ou debates, embora os membros sejam estimulados a pedir esclarecimentos sobre as ideias apresentadas. No terceiro estágio, os participantes votam de forma silenciosa e independente em cada solução proposta. A técnica de grupo nominal já foi aplicada em inúmeros contextos de laboratório e práticos, como na identificação de maneiras de melhorar o turismo em diversos países.110 Em geral, esses estudos apoiam o uso dessa forma estruturada de tomada de decisão em equipe. Ela tende a gerar um número maior de ideias e mais ideias de alta qualidade do que a interação tradicional e possivelmente os grupos de brainstorming. Devido ao alto grau de estrutura, a técnica de grupo nominal normalmente mantém uma alta orientação para tarefas e potencial relativamente baixo de conflito interno. Contudo, a produção de bloqueio e o medo da avaliação não são eliminados por completo. Pelo menos um estudo mostrou também que os participantes precisam de treinamento para aplicar essa abordagem estruturada à tomada de decisão em equipe. EAD UNIFACVEST 58 Aprendizagem baseada em projetos REFERÊNCIAS MCSHANE, Steven L.; VON GLINOW, Mary Ann. Comportamento organizacional: conhecimento emergente, realidade global [recurso eletrônico] /; tradução: Francisco Araújo da Costa. – 6. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2014. EXERCÍCIOS 1) Se você deseja trabalhar em uma equipe ou se você, líder, deseja ter uma equipe de alto desempenho prepara-se para lidar com a energia de pessoas inquietas e para ser muito exigido” – diz reportagem da Revista Exame, Você S/A. Na cotidianidade organizacional, a dinâmica do trabalho em equipe, desta maneira, pode ser relacionada com multiplicidade de perspectivas sobre as relações que se estabelecem no desenvolvimento das tarefas. Com relação ao trabalho em equipe, assinale, abaixo, uma alternativa correta : A) Compartilhar informações com outros membros da equipe pode levar algumas pessoas a perder seu emprego por propiciar o aumento de conhecimento a outras pessoas. B) O trabalho individual terá mais sucesso diante das atividades mais complexas. C) O ócio social somente ocorre quando as pessoas dependem uma das outras. D) Uma desvantagem do trabalho em equipe é a perda de tempo e o atraso para tomar decisão, já que várias pessoas estão envolvidas no processo. E) Uma equipe é um grupo de pessoas que reconhece que precisa da contribuição de todos os membros. 2) Os estudos do sociólogo Elton Mayo trouxeram inúmeras contribuições para Administração, especialmente em direção a reflexões mais democráticas e humanizadas nos processos de planejar, dirigir, organizar e “controlar”. As experiências realizadas Mayo na fábrica da Western Eletric Company resultaram na Teoria das Relações Humanas. Ele explicou, dentre outros, que havia um sentimento de lealdade dos operários entre si, com notório exercício de liderança de alguns deles, em uma organização não formal, com regras próprias e com previsão de punição a quem as desrespeitasse. A partir do exemplo acima, com base nas reflexões sobre equipes, está correto o que se afirma em: A) A descrição de Mayo ilustra o trabalho em equipe. B) O exercício de liderança analisado pelo sociólogo tem poder formal sobre o grupo. C) A organização democrática e humanizada ilustra a necessidade de apoio e de relações sociais autênticas no ambiente de trabalho. EAD UNIFACVEST 59 Aprendizagem baseada em projetos D) A criação de grupos informais em organizações tende a prejudicar o desenvolvimento dos colaboradores e o alcance de metas organizacionais. E) A rede social formal independe das relações de poder, influência, confiança entre as pessoas. 3) Leia o texto abaixo sobre equipes. A PSA Peugeot Citroën, a segunda maior montadora da Europa, montou uma “sala de obeya” (“sala grande”, em japonês) para acelerar a tomada de decisão em equipe. As paredes ficam forradas com gráficos e anotações para que os membros da equipe possam visualizar as principais questões do momento. A sala de obeya cria uma ambiente de equipe especial que encoraja a interação presencial para resolver rapidamente decisões críticas e focadas. Em uma sessão, por exemplo, os gerentes descobriram como reduzir significativamente os acidentes entre trabalhadores temporários. “Os temas dos projetos em andamento são colocados nas paredes, e marcados com vermelho quando algo está errado”, explica Philippe Varin, executivochefe da PSA Peugeot Citroën. “Todos enfrentam o mesmo problema e tentam resolvê-lo”. De acordo com o texto, pode-se afirmar que: A) O espaço físico de trabalho determina o sucesso da equipe. B) Gráficos e alertas em vermelho são os únicos determinantes para o trabalho em equipe. C) A afirmativa do executivo chefe “Todos enfrentam o mesmo problema e tentam resolvêlo” caracteriza um trabalho de grupo. D) O objetivo organizacional e a interdependência entre os membros move a equipe para gerar melhores resultados. E) O trabalho dos gestores é mais importante que o dos outros trabalhadores, pois foram eles que descobriram como reduzir significativamente os acidentes no trabalho. 4) Quando analisamos a prática organizacional, mesmo observando os grupos que trabalham juntos em colaboração para o alcance de metas comuns enquanto equipes, ainda assim diferentes tipos de equipes podem ser identificados nestas relações plurais e múltiplas que se estabelecem entre os indivíduos. Com relação aos tipos de equipes, assinale, abaixo, a alternativa que identifica corretamente o tipo de equipe com a sua descrição (MCSHANE, GLINOW, 2014): (1) Equipes Departamentais (2) Equipes autodirigidas (3) Equipes de serviços, produção (4) Equipes virtuais EAD UNIFACVEST 60 Aprendizagem baseada em projetos ( ) Formada por colaboradores com habilidades similares ou complementares, localizados na mesma unidade de uma estrutura funcional; geralmente, há uma interdependência mínima das tarefas. ( ) Neste tipo de equipe, os membros atravessam fronteiras de espaço, tempo e organizacionais; ligados pelas tecnologias da informação para realizar as tarefas organizacionais. ( ) Tarefas interdependentes e autonomia substancial sobre a execuçãodessas tarefas, com controle de insumo, fluxo e resultados. ( ) Os membros da equipe produzem coletivamente ou tomam decisões contínuas; este tipo de equipe possui interdependência análoga à linha de montagem. A) 4 – 3 – 1 – 2 B) 1 – 4 – 2 – 3 C) 3 – 2 – 4 – 1 D) 2 – 1 – 3 – 4 E) 1 – 2 – 3 – 4 5) As equipes, de modo geral, podem ser analisadas como eficazes quando beneficiam a empresa, os seus membros e renovam sua própria sobrevivência, a qual depende de planejamento e de ações contínuas. Deste modo, algumas equipes são eficazes por mais tempo, com a renovação de propósitos; outras cumprem com um propósito definido e, quando alcançado se desfaz; outras equipes, por fim, fracassam completamente. Com relação ao modelo de eficácia de uma equipe, assinale, abaixo, uma alternativa correta(MCSHANE, GLINOW, 2014): A) A formação da equipe compreende a realização de tarefas e a satisfação dos membros da equipe. B) Os processos de equipe envolvem as caraterísticas da tarefa, o tamanho e a composição da equipe. C) A confiança e a determinação da equipe são determinantes para o ambiente da organização e da equipe. D) A eficácia da equipe prioriza as recompensas e o espaço físico. E) Na formação da equipe, relacionada à tarefa, a interdependência recíproca é o mais alto grau de dependência. EAD UNIFACVEST 61 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE III Aprendizagem baseada em projetos APRESENTAÇÃO Olá! A aprendizagem baseada em projetos (PBL — project based learning) é um método sistêmico capaz de engajar os alunos no processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências, estruturado em torno de questões, provocações e tarefas cuidadosamente planejadas. O uso do PBL pressupõe que os alunos são inerentemente orientados a aprender, assim o professor tem o papel de direcionador no processo de aprendizagem. É uma metodologia que engaja o aluno, pois o processo de aprendizagem se dá pela prática e aplicação de conceitos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer a metodologia na íntegra, entender a importância de sua aplicação, compreender as suas etapas estratégicas para a realização do planejamento de aula e da aplicação prática do modelo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Descrever a metodologia e sua respectiva aplicação. II. Planejar um conjunto de aulas com a metodologia. III. Identificar atividades dentro da metodologia com caráter interdisciplinar. EAD UNIFACVEST 62 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO Ao trabalhar com a metodologia de aprendizagem baseada em projeto, é preciso saber inverter a sala de aula. Aplicar essa metodologia é completamente diferente do que se pensa ao trabalhar com o desenvolvimento de um projeto. A estratégia de aplicação da metodologia se baseia em ter claramente definidas as etapas de um plano de aula utilizando a metodologia PBL. Pense nessas atividades. Para um projeto, pense em atividades que possam ser trabalhadas de diferentes maneiras entre os alunos para que se possa ter resultados de aprendizagem individual ou colaborativa. a) Defina uma atividade em que seus alunos a realizem de forma individual e como você avaliará a entrega dessa atividade. b) Defina uma atividade em que seus alunos terão que trabalhar em grupo, ou seja, de forma colaborativa, e explique como você avaliará a entrega dessa atividade. Assim, você poderá planejar, ao longo de sua disciplina, diversas atividades individuais e colaborativas, para atingir os objetivos de aprendizagem. INFOGRÁFICO Ao aplicar a aprendizagem baseada em projetos, é fundamental que o planejamento passe por todas as etapas (definição dos objetivos de aprendizagem, tema do projeto, atividades que serão trabalhadas com os estudantes, respectivas entregas ou produtos e definição do processo de avaliação) e que ela seja pensada nos detalhes. Um bom planejamento de cada etapa da metodologia proporciona um EAD UNIFACVEST 63 Aprendizagem baseada em projetos resultado diferenciado. É necessário pensar no contexto de aplicação da metodologia, no que se quer ensinar e seguir detalhadamente as etapas da metodologia. No Infográfico a seguir, tenha uma visão geral do PBL e entender que essa metodologia pressupõe uma formação integral. EAD UNIFACVEST 64 Aprendizagem baseada em projetos INTRODUÇÃO O mundo em que vivemos é caracterizado pelos desafios do uso e do desenvolvimento da tecnologia, que remetem à Revolução Industrial, e, por consequência, à necessidade de uma formação integral, não apenas focada nos conceitos teóricos, mas no desenvolvimento de competências e habilidades que formam o aluno do século XXI. EAD UNIFACVEST 65 Aprendizagem baseada em projetos O fenômeno da globalização influencia fortemente a estrutura e as práticas das organizações, bem como as percepções e o desempenho dos seus agentes. Neste sentido, o mercado de trabalho vai sofrendo igualmente mutações constantes, que atribuem a ele uma nova configuração, caracterizada por maior competitividade e instabilidade (LIMA; MESQUITA; PEREIRA, 2008). Surge a necessidade de termos um pensamento diferenciado na comunidade acadêmica para que possamos formar alunos/profissionais que sejam capazes de promover ações e realizar investigações, trabalhar em equipe, gerir problemas e apresentar soluções, pois estas são as novas exigências de formação para uma boa atuação no mercado de trabalho. Assim, o conceito de integrar e conectar as mais diferentes áreas com o mundo tecnológico é de extrema importância. A realidade virtual permite que o ser humano consuma e interaja com as informações de maneiras distintas, por meio de robôs e software, impressoras 3D, integração de dados, comando e controle de voz, e uma interminável lista de outros exemplos. O impacto que a quarta Revolução Industrial poderá causar na sociedade e a direção que isto tomará ainda são desconhecidos para a humanidade. Nesse contexto, as instituições de ensino superior se deparam com o jovem da chamada “geração milênio”, que interage com as mais distintas tecnologias. O jovem atual dificilmente se comunica por meio de instrumento estático, e-mail, carta escrita, etc. Conectado permanentemente, ele se comunica em tempo real por meio de imagens, mensagens curtas, manifestações afetivas ou claras da sua posição em tempo real. Há pouco tempo o conhecimento estava nas enciclopédias, cujo status que a coleção de livros se propunha saber e conhecer era restrito a poucas pessoas e, mesmo assim, não eram todas as bibliotecas escolares que dispunham do referido recurso para o acesso à informação pelo aluno. O atual volume de informações disponível com a democratização da internet permite ao aluno ser o protagonista do conhecimento que ele quer desenvolver. De fato, o termo internet das coisas (IoT) está associado a essa conexão–integração entre equipamentos nunca imaginada anteriormente. Hoje, as universidades, os museus, as bibliotecas têm atuado no sentido de disponibilizar e compartilhar o conhecimento que possuem, têm democratizado seus conteúdos de forma que se permita interação através de passeios (tours) virtuais em suas instalações, pesquisas e buscas em seus acervos, que nunca antes da década de 2000 se imaginou ser possível. Desta maneira, aprender tornou-se possível, tornou-se prático; explorar novas áreas de conhecimento tornou-se permeável e sem a necessidade de se ter um diploma de nível superior, de especialista ou de qualquer outra natureza. O project based learning, ou aprendizado baseado em projeto (PjBL) é a metodologia de aprendizagem ativa definida literalmente com “mão na massa”,na qual o estudante tem o seu aprendizado desenvolvido com tarefas práticas e desafios que visam a desenvolver um projeto ou produto aplicando conceitos que fundamentam o aprendizado. Assim, o aprendizado baseado em projeto promove um desenvolvimento integral e inclui a avaliação como um processo formativo de aprendizagem. Neste capítulo, você vai ter uma visão geral da aplicação da metodologia de aprendizagem baseada em projetos, suas etapas, um olhar para a avaliação e a interdisciplinaridade. Metodologia de aplicação EAD UNIFACVEST 66 Aprendizagem baseada em projetos A aprendizagem ativa é uma das metas mais importantes nos cenários europeus, as quais incluem um conceito de uma sociedade de aprendizagem. A característica mais importante dessa sociedade é desenvolver o próprio aprendizado e responsabilidades pelo seu progresso (NIEMI, 2002). O apoio do professor em uma sala de aula com condições climáticas saudáveis é absolutamente essencial para o desenvolvimento do aluno, e inclinações naturais destes para a aprendizagem podem ser facilmente interrompidas caso não haja suporte. Estudos mostram que a percepção positiva dos alunos na realização autônoma de sua tarefa, quando há suporte docente, podem levar a aumentos na motivação intrínseca, na autorregulação, na percepção de competência, no interesse, no engajamento e no desempenho acadêmico (STOLK et al., 2010). A motivação desenvolvida nos estudantes é um fator preponderante para o sucesso da aplicação da aprendizagem ativa dentro de uma disciplina, pois o aluno precisa entender os benefícios de trabalhar desenvolvendo conceitos e buscando mais informações para uma conceitualização. Se há motivação, o aluno tem um maior engajamento na disciplina; consequentemente, consegue melhorar seu desempenho. A utilização de métodos de aprendizagem ativa varia muito de acordo com sua implementação, incluindo abordagens diversas para diferentes grupos — como resolução de problemas, planilhas ou tutoriais concluídos durante a aula, utilização de sistemas de resposta pessoais com ou sem instrução por pares — em ambientes de sala de aula ou novos ambientes de aprendizagem (FREEMAN et al., 2014). As metodologias ativas podem ser trabalhadas na sua íntegra para fortalecer os conceitos de aprendizagem e desenvolverem competências e habilidades. A aprendizagem baseada em projetos tem etapas que constituem a metodologia. Seu modelo de aplicação é dividido em trabalhos prévios e extraclasses, práticas e estudos conceituais presencias e apresentação de projetos e/ou produtos. Para fazer a distribuição das atividades no semestre, é necessário planejar com detalhes cada uma das aulas a ser ministrada, pois sugere-se que para um semestre com média de 15 a 17 semanas, sejam trabalhados três projetos, ou seja, em média, a cada 5 a 6 semanas, apresenta-se um projeto. É possível, entretanto, aplicar a metodologia em tempos variados, como em um mês, ou uma semana, ou em um conceito dentro de uma aula. O projeto ou produto a ser desenvolvido deve ser trabalhado e apresentado continuamente em grupo para que se possa avaliar a participação dos componentes e o aprendizado comum da equipe. Aplicação Para um resultado efetivo de aprendizagem dessa metodologia, deve-se envolver os estudantes e garantir que eles tenham acesso prévio a material relacionado com o tema a ser estudado no projeto e na aula seguinte. O trabalho prévio consiste em atividades como leituras de texto, artigos científicos, vídeos de experimento, videoaulas, entre outros a serem encaminhados aos estudantes com prazo mínimo de uma semana, para que eles tenham tempo de realizar a análise do material. EAD UNIFACVEST 67 Aprendizagem baseada em projetos O objetivo do material prévio é que ele seja trabalhado em atividades presenciais na aula, garantindo assim a obrigatoriedade de acesso e estudo prévio do estudante, para que possa realizar as atividades direcionadas. No período que antecede a apresentação de cada projeto, é interessante trabalhar os temas relacionados aos objetivos de projeto. As aulas presenciais devem passar pelas etapas descritas a seguir, divididas de maneira a melhor atender as necessidades dos alunos e do professor: 1. Metas de aprendizagem: são trabalhados os tópicos da ementa a ser desenvolvida. Aqui estão os conceitos principais que o aluno deve aprender e aplicar no projeto. Como meta de aprendizagem também podem ser colocadas habilidades e competências a serem desenvolvidas no estudante, como capacidade de trabalhar em equipe, gestão de tempo, entre outras. 2. Atividades: para cada uma das aulas presenciais tem-se a necessidade de trabalhar atividades, sejam de leitura, debate, laboratório, cálculos, estudos de caso, mas que possibilitem a interação professor–aluno na sala de aula. Durante as etapas de desenvolvimento das atividades, 3. o professor direciona o aprendizado do assunto a ser trabalhado nesta aula. 4. Produto: para cada atividade trabalhada pelo professor é gerado um resultado, o que chamamos de produto, que o aluno entrega para ser avaliado ou para verificação de grau de retenção do conhecimento trabalhado nesta aula. 5. Avaliação: a avaliação deve ser pensada para todas as etapas do PjBL ou do semestre, sendo assim, deve-se pontuar inicialmente o percentual de avaliação individual e em grupo, e as atividades e projetos a serem entregues também devem ser avaliados em sua totalidade — com relatório entregue, apresentação e desenvolvimento. Cada produto entregue individualmente deve ser corrigido e um feedback deve ser dado ao aluno quanto ao seu aprendizado. FIQUE ATENTO Para complementar o trabalho, pode-se planejar etapas da avaliação formativa e utilizar metodologias como peer instruction e team based learning para suporte à avaliação. Para facilitar o desenvolvimento e a aplicação da metodologia, utiliza-se uma planilha na qual figuram as etapas de aprendizagem: metas de aprendizagem, avalições, atividades e produtos. Apresentação e avaliação de projetos É parte do planejamento o alinhamento da apresentação do projeto. Deixe claro e de preferência registrado no plano de ensino como será realizada esta etapa, os critérios de avaliação do projeto e o cronograma de entrega das etapas. Desenvolva um modelo de avaliação, elabore uma planilha que contenha os itens que serão avaliados. EAD UNIFACVEST 68 Aprendizagem baseada em projetos O modelo do relatório a ser entregue é definido pelo professor da disciplina e pode ser trabalhado na forma de um artigo científico, o que motiva e engaja o estudante em seu aprendizado. O Quadro 1 mostra um exemplo de critérios que podem ser criados para a avaliação de um projeto. Para avaliação dos projetos é necessário ainda sistematizar o modelo pelo qual os projetos serão avaliados e criar os critérios de avaliação. O exemplo do Quadro 1 indica todos os itens que serão avaliados, tanto com a apresentação projeto, o protótipo (produto a ser entregue) e o relatório. Na apresentação do projeto é importante a participação de todos os componentes do grupo. O enfoque no trabalho colaborativo sempre tem resultados e deve-se solicitar aos alunos que elaborem trabalhos criativos com a aplicação dos conceitos (CHAGAS, 2020). A Figura 1 exemplifica projetos realizados por estudantes de engenharia. EAD UNIFACVEST 69 Aprendizagem baseada em projetos Algo muito importante para complementar o processo de aprendizagem do estudante é a autoavaliação. O professor pode pensar um em tabela de rubrica que possibilite esse feedback do aluno. A autoavaliação pode ser feita sobre o desempenho do próprio estudante, do seu aprendizado ou ainda do trabalho em grupo e do projeto realizado. Ao se trabalhar a autoavaliação, o estudante sente-se empoderado e relatade uma maneira direta os pontos favoráveis que foram trabalhados no processo e problemas e dificuldades encontradas. Essa transparência possibilita ao professor indicar pontos de melhoria nas atividades propostas. O Quadro 2 mostra um exemplo de rubricas de autoavaliação trabalhadas em projeto. EAD UNIFACVEST 70 Aprendizagem baseada em projetos As práticas e a avaliação Na maioria das vezes, as práticas aplicadas em avaliação no ensino superior diversificam-se quanto à escolha dos instrumentos a serem utilizados, mas normalmente o processo e as técnicas de avaliação não costumam variar muito, ou seja, a prática tradicional no ensino resume-se em transmitir o conteúdo, aplicar a validação que pode ser prova, trabalhos, pesquisa, seminários de apresentação de projetos, corrigir e entregar a nota, que mede o “aprendizado” do aluno em um determinado período ou relacionado a um determinado assunto. Isso não é um processo avaliativo, mas um processo de medição de resultado. Ao trabalharmos com aprendizagem ativa, entende-se que a avaliação deva acompanhar as aulas; para isso é necessário um trabalho prévio de preparação das aulas focando na metodologia a ser trabalhada e em qual será o melhor processo de avaliação para ser aplicado que acompanhe o nível de aprendizado do aluno. Uma avaliação contínua sugere um acompanhamento intenso do professor, pois neste modelo, busca-se verificar não somente o aprendizado do aluno quanto aos conceitos, mas também a necessidade de medir habilidades e competência (hard e soft skills) desenvolvidas. Essa é uma grande dificuldade encontrada. O que se percebe ao procurar um aprofundamento maior sobre o assunto em questão é que o ensino superior não está livre de problemas mais gerais constatados nesta área e que, quando se trata de aprendizado ativo, tanto na teoria quanto na prática, a avaliação precisa passar por um processo formativo. Sendo assim, é necessário realizar um trabalho pedagógico na sala de aula e observar sua influência na condução do processo de ensino. Com as aplicações de diferentes metodologias ativas de aprendizagem no ensino superior, tem-se a necessidade de trabalhar a classificação de técnicas de avaliação, ou seja, deve haver um planejamento das diferentes técnicas e dos instrumentos avaliativos, devido à diversidade do que oferecemos atualmente. Algumas instituições de ensino trabalham apenas com a avaliação somativa. Esse processo não entra em consonância com a aprendizagem baseada em projetos. Quando se trabalha com metodologia ativa é importante que a avaliação esteja alinhada com o que está sendo proposto. No processo de avaliação ativa, podemos trabalhar o processo avaliativo de forma contínua. A avaliação deve ser formativa e ser parte do processo de aprendizagem do aluno. Ao seguir as etapas desta metodologia, o professor contextualiza a aprendizagem de maneira a colocar o aluno no processo ativo de aprendizagem. É evidente e deve ficar claro que o bom resultado ao se trabalhar com a aprendizagem baseada em projetos está em aplicar a metodologia em sua íntegra, o que requer que o professor se sinta seguro. Cabe à instituição de ensino definir a estratégia, preparar a gestão pedagógica e capacitar docentes para a aplicação da metodologia. REFERÊNCIAS CHAGAS, J. M. Aprendizagem ativa do estudante: aplicação do Project Based Learning nos cursos de engenharia. Orientador: Messias Borges Silva. Coorientadora: Renata Lucia Cavalca Perrenoud Chagas. 2020. 85 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de EAD UNIFACVEST 71 Aprendizagem baseada em projetos Produção na área de Gestão de Operações) – Faculdade de Engenharia, Universidade Estatual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Guaratinguetá, 2020. Disponível em: https:// repositorio.unesp.br/handle/11449/192441. Acesso em: 5 mar. 2021. FREEMAN, S. et al. Active learning increases student performance in science, engineering, and mathematics. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, v. 111, n. 23, p. 8410–8415, June 2014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4060654/. Acesso em: 5 mar. 2021. LIMA, R. M.; MESQUITA, D.; PEREIRA, G. Engenharia e gestão industrial em Portugal: uma visão da procura profissional. In: CONGRESSO LUSO-MOÇAMBICANO DE ENGENHARIA, 5., 2008, Maputo. Anais [...]. Porto: Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial, 2008. p. 941–942. NIEMI, H. Active learning—a cultural change needed in teacher education and schools. Teaching and Teacher Education, [S. l.], v. 18, n. 7, p. 763–780, Oct. 2002. STOLK, J. et al. Engineering students’ definitions of and responses to self-directed learning. The International Journal of Engineering, Dublin, v. 26, n. extra 4, p. 900–913, 2010. EXERCÍCIOS 1) A metodologia de projetos preconiza a inversão da sala de aula. Isso acontece devido ao conceito de que é necessário aprender fazendo, pois com a prática se constrói a aprendizagem. Pensando dessa maneira, pode-se afirmar que: A) não há diferença entre a metodologia do PBL e a realização de projetos, pois, para ambos os casos, os produtos são entregues para a avaliação do professor. Assim, o aluno, ao entregar, aprende ao realizar atividades. B) ao inverter a sala da aula e trabalhar o PBL, o aluno deve fazer um esforço individual e aprender o conteúdo pesquisando sozinho na internet para a realização do projeto. C) a aprendizagem se dá a partir de atividades prévias, pesquisa, atividades direcionadas pelo professor e aplicação dos conceitos estudados na construção de projetos. D) ao inverter a sala de aula, o professor espera que o aluno pesquise, estude, busque os conceitos a serem aplicados no projeto sozinho, de forma a entregar o resultado para a verificação da aprendizagem. E) ao inverter a sala de aula, o professor espera que o aluno pesquise, estude, busque os conceitos a serem aplicados no projeto para a construção protótipos pesquisados na internet e, assim, atinja os objetivos de aprendizagem. EAD UNIFACVEST 72 Aprendizagem baseada em projetos 2) Ao aplicar a metodologia de aprendizagem baseada em projetos ou qualquer outra metodologia ativa, um ponto a se trabalhar é a avaliação. O que é correto afirmar sobre o processo de avaliação? A) O processo de avaliação não precisa estar conectado ao processo de aprendizagem ativa. B) O processo de avaliação precisa estar conectado com a metodologia ativa e permitir avaliar todo o processo de aprendizagem. C) A avaliação deve ser somativa, para que o aluno tenha nota a cada atividade realizada. D) A avaliação deve ser diagnóstica a cada etapa do projeto. E) A avaliação formativa não agrega o processo de aprendizagem do aluno. 3) Sabe-se que o processo de feedback faz parte da aprendizagem, da formação do aluno e contribui para se atingir os objetivos de aprendizagem propostos. Assim, é correto afirmar que: A) ao dar o feedback das atividades trabalhadas em aula, o aluno foca nos pontos importantes a serem fixados. B) ao trabalhar o feedback, o professor pode usar esse momento para esclarecer dúvidas. C) o feedback é o momento da aula que o professor explica aos alunos como foram os resultados das atividades. D) o feedback é o momento da aula que o professor faz a verificação se os objetivos de aprendizagem foram alcançados. E) o feedback é realizado apenas para mostrar aos alunos a correção das avaliações e fixar os conhecimentos trabalhados. 4) No PBL, trabalha-se o desenvolvimento de competências transversais e socioemocionais, em que se aplica o conceito denominado "chave". Esse conceito traduz o que se deve trabalhar para atingir os diferentes objetivos de aprendizagem, que significa: A) conhecimento, habilidade,atitudes, valores e emoções. B) competência, habilidades, atitudes, valores e emoções. C) competência, habilidades, ações práticas, valores e emoções. EAD UNIFACVEST 73 Aprendizagem baseada em projetos D) conhecimento, habilidades, ações práticas, valores e emoções. E) conhecimento, habilidades, ações transversais, valores e emoções. 5) No Brasil, ainda há um déficit de ensino-aprendizagem devido à falta de infraestrutura de internet, de aplicação de novas tecnologias e de acesso às informações. Adicione-se a isso o acesso que os jovens têm à informação e muitos acervos de livros e artigos que podem ser acessados como apoio ao aprendizado, mas que, muitas vezes, são subutilizados pelos docentes, pelas escolas e pelas instituições. Pode-se afirmar que a tecnologia na sala de aula: A) pode ser usada como ferramenta de apoio ao desenvolvimento da aprendizagem, com o professor direcionando seu uso e proporcionando o engajamento do aluno. B) a tecnologia não deve ser utilizada dentro da sala de aula, pois distrai a atenção do estudante e atrapalha o rendimento do professor. C) pode ser usada como ferramenta de apoio ao desenvolvimento da aprendizagem engajando o aluno, e o professor não interfere nas pesquisas dos estudantes. D) não deve ser usada como ferramenta de apoio ao desenvolvimento da aprendizagem engajando o aluno. Toda pesquisa deve ser realizada em livros e materiais de apoio direcionados pelo professor. E) pode ser usada como metodologia ativa de aprendizagem e utilizada livremente pelo aluno e com o professor direcionando com feedbacks contínuos. EAD UNIFACVEST 74 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE IV Aprendizagem baseada em projetos e em problemas APRESENTAÇÃO Olá! Aprendizagem baseada em projetos e problemas caracteriza-se como metodologias para aprendizagem ativa, que possibilitam que os alunos trabalhem como investigadores e em pequenos grupos. Estas metodologias também permitem que o professor assuma o papel de orientador. Vindo ao encontro das constantes mudanças sociais e considerando os desafios que se apresentam cotidianamente no contexto escolar, essas metodologias configuram-se como uma possibilidade de reinventar os papéis do aluno e do professor na construção da aprendizagem. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender o que é a aprendizagem baseada em problemas (ABP), analisando sua relevância no contexto educacional; vai perceber a importância da construção de bons problemas; e também vai conhecer estratégias para o desenvolvimento e a avaliação das atividades. Além disso, você vai aprender modos de aplicação da aprendizagem baseada em projetos e problemas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Definir as metodologias pautadas em resolução de problemas e sua relevância para o contexto social vigente. II. Identificar os diferentes modos de elaborar a questão norteadora. III. Descrever os modos de aplicação das estratégias pedagógicas baseadas em problemas e projetos e o aprendizado em times, bem como possibilidades de avaliação. EAD UNIFACVEST 75 Aprendizagem baseada em projetos INFOGRÁFICO A ABP entende que o problema é usado para ajudar os alunos a identificarem suas próprias necessidades de aprendizagem, à medida que tentam entendê-lo, reunir, sintetizar e aplicar informações para o problema e começar a trabalhar efetivamente para aprender com os membros do grupo e tutor (o professor). No Infográfico a seguir, você vai conhecer os fundamentos da aprendizagem baseada em projetos e problemas. EAD UNIFACVEST 76 Aprendizagem baseada em projetos INTRODUÇÃO EAD UNIFACVEST 77 Aprendizagem baseada em projetos A aprendizagem baseada em projetos e em problemas é uma metodologia que coloca os alunos na posição de investigadores, separando-os em pequenos grupos, tendo o professor como orientador. Essa modalidade de aprendizagem permite a construção coletiva e colaborativa do conhecimento. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos e as características principais da aprendizagem baseada em projetos e em problemas (ABP), entendendo como o professor pode transformar suas aulas em momentos de reflexão e de interação, a partir da construção de bons problemas. Você também conhecerá as estratégias que podem ser utilizadas no desenvolvimento dessa metodologia e como construir uma avaliação significativa. Por fim, você aprenderá aspectos importantes do planejamento de projetos e a refletir sobre o uso da ABP na prática educativa. Metodologias pautadas em resolução de problemas No final da década de 1960, professores da faculdade de Medicina da Universidade MacMaster, no Canadá, introduziram uma abordagem específica educacional, com o objetivo de mudar a forma de ensino da medicina, denominada aprendizagem baseada em problemas (ABP). O intuito da equipe de professores era formar médicos que soubessem aplicar, na prática, todo o conhecimento obtido de forma teórica. Para tanto, essa proposta era introduzida nos últimos anos do curso, em que os alunos já possuíam conhecimento teórico suficiente para resolver determinados problemas. Conhecida como aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas ou aprendizagem por descoberta, a abordagem é sempre a mesma: colocar o aluno em contato com problemas ou situações que se aproximem de sua realidade, para que possa resolvê-los utilizando seus conhecimentos. A maior diferença entre a aprendizagem baseada em projetos e a aprendizagem baseada em problemas está na necessidade de integração das diferentes áreas do conhecimento, na capacidade de solução da questão em forma de um produto e na cooperação para resolução da proposta de trabalho. FIQUE ATENTO Na aprendizagem baseada em projetos, o resultado está no produto ou no artefato, e ela exige maior participação dos alunos, envolvendo-os ao longo de todo o processo de construção do conhecimento. Já na aprendizagem baseada em problemas, o foco está na busca pela solução do problema. A ABP, originalmente denominada project based learning (PBL), representa uma estratégia de ensino ativa e inovadora, em que o aluno irá construir o conhecimento de forma coletiva e interdisciplinar, por meio de atividades de projeto. Em linhas gerais, a ABP é a solução de um ou mais problemas que podem se desenvolver durante o ensino de projeto. Trata-se de uma abordagem pedagógica na qual os estudantes iniciam sua atividade partindo de um problema que pode ser real ou uma situação simulada de qualquer área do conhecimento, desde que atenda aos objetivos de aprendizagem de um curso ou disciplina. É importante considerar que os problemas são situações EAD UNIFACVEST 78 Aprendizagem baseada em projetos contextualizadas e apresentadas pelo professor em forma de questões, casos e cenários que necessitam de uma solução/resposta por meio de um processo investigativo realizado pelos discentes. Apesar de ter sua origem na década de 1960, foi a partir de 1990 que a ABP passou a ser aplicada nos Estados Unidos. É uma metodologia que tem ganhado cada vez mais espaço, por ser “[…] um formato de ensino empolgante e inovador, no qual os alunos selecionam muitos aspectos de sua tarefa e são motivados por problemas do mundo real que podem, e em muitos casos, irão contribuir para a sua comunidade” (BENDER, 2014, p. 15). Diferentes universidades passaram a introduzir a metodologia em seus cursos de Medicina, inclusive o Brasil, que em 1993, implantou a ABP pela primeira vez na Escola de Saúde Pública do Ceará. Em seguida, a prática começou a ser empregada em diferentes universidades eáreas que não fossem somente da saúde, como administração, pedagogia, engenharias, entre outras. Analisando o modelo educacional tradicional, baseado demasiadamente em aulas expositivas e na memorização de conteúdos, entendemos a importância de repensarmos sobre metodologias inovadoras, que possibilitem maior participação do aluno em seu processo de aprendizagem. A ABP entende que o problema é apresentado para ajudar os alunos a identificarem suas próprias necessidades de aprendizagem, à medida que tentam entendê-lo, reunir, sintetizar e aplicar informações sobre o problema e começar a trabalhar efetivamente para aprender com os membros do grupo e com o tutor (professor). Os fundamentos da aprendizagem baseada em problemas estão descritos a seguir. „ Aprendizagem em grupos pequenos: a aprendizagem baseada em projetos e em problemas ocorre em uma configuração de tutoria, em grupos de sete a oito alunos. Um aluno é designado para um grupo tutorial e há um facilitador diferente em cada uma das cinco áreas de fundamentação. Os tutoriais ocorrem duas vezes por semana. „ Facilitação por parte dos professores: o tutor procura estabelecer um equilíbrio entre guiar a conversa do tutorial e solicitar ativamente o feedback dos alunos, para garantir que suas lacunas de conhecimento sejam abordadas e resolvidas. „ Uso de casos reais: os alunos são apresentados a casos reais durante o primeiro tutorial da semana. Espera-se que os alunos estudem, investiguem o caso e apresentem seus resultados durante o segundo tutorial dessa semana. „ Objetivos de aprendizagem: simplesmente propor aos alunos um caso não garante que eles entenderão os conceitos apropriados. Cada caso/ tutorial é fundamentado em um conjunto de objetivos de aprendizagem definidos, essenciais para garantir que os alunos abordem o conteúdo correto e identifiquem seus pontos fortes e fracos naquela área em particular. Para Bruner (1976), o processo de aprendizagem ocorre a partir da aquisição e da transformação de uma nova informação, adaptando novas ideias e avaliando a aquisição dessa informação. Entendendo o processo de aprendizagem e considerando os fundamentos da ABP, é importante destacar que, para o sucesso desse processo e EAD UNIFACVEST 79 Aprendizagem baseada em projetos para que o aprendizado realmente aconteça, é necessário o envolvimento do aluno, seu interesse e sua curiosidade em aprender. Para que esse interesse desperte no aluno, os problemas trazidos para sala de aula não podem ser rotineiros: devem ser construídos, privilegiando problemas reais, que desenvolvam as habilidades dos alunos, instiguem a busca criativa de soluções e o pensamento crítico. O papel do professor é fundamental, uma vez que ele é o mediador entre o aluno e o conteúdo a ser estudado (Figura 1), estimulando-o em suas descobertas. É ele quem cria as situações de aprendizagem e seu papel na construção dos problemas é fundamental, uma vez que ao formulá-los, ele precisa fazer conexões entre a teoria e a prática, buscando as relações entre o que ensina e as habilidades necessárias aos futuros profissionais, de forma que estimule os alunos a tomarem suas próprias decisões. Quando bem aplicada, a ABP pode produzir efeitos positivos na prática educativa, levando os alunos a interagir com a realidade e a desenvolverem o senso crítico. Ao analisar as constantes mudanças sociais, é de suma importância repensar os métodos adotados pelo professor em sala de aula, para que estes também atendam às necessidades da sociedade. Entendendo que a aprendizagem não é um processo passivo, em que um obrigatoriamente ensina e outro aprende, a ABP coloca professor e aluno como parceiros na construção do conhecimento. Para Mamede e Penaforte (2001), a ABP possibilita que o aluno, autodirigindo sua aprendizagem, construa o conhecimento de forma ativa e colaborativa, aprendendo de forma contextualizada e dando um significado pessoal ao saber. Nesse sentido, para construir um bom problema, o professor deve pensar em atrair a atenção e o interesse de seus alunos, a fim de motivá-los a buscarem respostas para a questão, não esquecendo que este (o problema) venha ao encontro dos objetivos da disciplina para que os educandos percebam a correspondência entre o EAD UNIFACVEST 80 Aprendizagem baseada em projetos conteúdo e a proposta apresentada. Outro aspecto importante é propor um problema desafiante, porém não muito extenso, que contenha informações claras e contemple os conhecimentos prévios dos alunos para que tenham interesse em pesquisar e descobrir mais. FIQUE ATENTO A aprendizagem baseada em projetos e em problemas se diferencia em muitos aspectos da problematização. Primeiramente, por quem a executa: enquanto a ABP envolve todos na gestão educacional, fazendo necessária a preparação do ambiente educacional, a problematização é uma decisão do professor que não requer grandes mudanças na estrutura e nos materiais. Trata-se de uma mudança comportamental do professor e dos estudantes. Na problematização, o indicado é que os estudantes possam identificar os problemas a partir da primeira fase da metodologia, que é a observação da realidade, enquanto na ABP usualmente quem introduz o problema é o professor e os estudantes devem resolvê-lo, pois este problema é elaborado de acordo com o objetivo da aula/conteúdo ou da disciplina na qual será desenvolvida a ABP. Em comum, ambas as metodologias oferecem a possibilidade de os estudantes formularem hipóteses, incluem trabalho em grupo e partem de uma pergunta focal como padrão para gerar novas informações, mediante processos de análise e de síntese. Estratégias para o desenvolvimento e para a avaliação das atividades A aplicação da ABP em sala de aula requer profunda reflexão sobre o(s) objetivo(s) que se pretende atingir, para que a partir disso seja elaborada a questão que norteará a aprendizagem. No desenvolvimento da atividade, o professor deve estar ciente de que não se trata de mera obtenção de conceitos por parte dos alunos, mas do desenvolvimento de habilidades cognitivas como compreensão, raciocínio e estratégia. Para a aplicação da ABP, Souza e Dourado (2015) apresentam uma estrutura básica de passos que podem ser adaptados e aplicados em diferentes níveis de ensino. „ Elaboração do cenário ou contexto problemático: deve ser de acordo com o objetivo que se pretende atingir e chamar a atenção do aluno para que este identifique o tema do objeto de estudo. Além disso, deve haver relação com o conteúdo, ser funcional e de um tamanho ideal. „ Questões-problema: ao receber as questões-problema, os grupos devem organizar as informações, dividir as tarefas, esclarecer as dúvidas com o professor/tutor para então decidirem como vão aprofundá-las. „ Resolução dos problemas: é a fase em que os alunos colocam em prática todas as ações planejadas anteriormente. „ Apresentação do resultado e autoavaliação: o grupo deve elaborar uma síntese com as reflexões e os debates realizados. Todos deverão apresentar a solução encontrada para o grupo. No final, é importante que o grupo e que cada aluno realizem uma autoavaliação junto ao professor, que irá verificar se o objetivo foi ou não atingido, realizando, assim, a avaliação da aprendizagem. EAD UNIFACVEST 81 Aprendizagem baseada em projetos A construção de conhecimentos por meio da ABP se caracteriza não só por ser uma oportunidade rica e significativa para que o aluno confronte suas ideias com as de outros colegas, mas também propicia uma visão concreta e prática do aprendizado. Ao trabalhar em grupo, os alunos percebem a importância da troca de saberes e da colaboração, apoiam-se mutuamente, significando a importância de atingirem os objetivos que lhes são comuns, acordados pelo coletivo, o que, por sua vez, exige o estabelecimentode relações que prezem pela liderança compartilhada, pela confiança mútua e a corresponsabilidade para a condução das tarefas. A aprendizagem em grupo na ABP se configura como uma estratégia de ensino na qual os sujeitos, de diferentes níveis de desempenho, trabalham juntos e em pequenos grupos a fim de atingir uma meta — a partir da qual entram em expressiva e significativa interatividade. Uma das mais importantes mudanças que acontecem na prática docente da ABP começa pela concepção que se tem de avaliação, uma vez que esta deve vir carregada de significados e não ser apenas uma forma de mensurar quantitativamente o quanto o aluno sabe ou não. A ABP permite o feedback imediato para que o professor avalie o progresso da aprendizagem dos alunos, obtendo pistas da assimilação do conteúdo e das possíveis dificuldades encontradas. Já para o aluno, é a oportunidade de refletir, em tempo real, sobre as estratégias utilizadas e avaliar o caminho que percorreu. Ao receber o feedback imediato, o aluno desmistifica a ideia negativa que se tem do erro na aprendizagem, uma vez que o percebe como parte natural do processo e isso o leva a experimentar diferentes formas de pensar. Como elaborar questões norteadoras Ao planejar a questão norteadora, o professor deve privilegiar para que a avaliação ocorra durante todo o processo e na sua aplicação, estando atento às impressões dos alunos. Na elaboração de uma questão norteadora, deve-se considerar que: „ as questões devem ser provocativas, ir além de superficialidades, instigando e despertando o interesse dos alunos; „ devem ir além da obtenção por respostas fáceis, levando os alunos a um pensamento superior, exigindo que eles integrem, sintetizem e avaliem criticamente as informações; „ não podem privilegiar apenas uma disciplina ou tópico; é importante que promovam conexões e quando possível, a interdisciplinaridade; „ podem surgir a partir de dilemas da vida real dos alunos e responder às suas dúvidas ou curiosidades; „ não se detenham a responder “o que é isso?” ou “quais são?”, mas sim, “por que isso acontece?” ou “como isso acontece?”. Além dessas dicas, é importante que o professor tenha claro seu objetivo e evite “armadilhas”, pois a questão norteadora deve promover a reflexão por parte dos alunos. Isso o possibilitará a melhora de possíveis futuros aspectos que acabaram não funcionando em determinada atividade. A avaliação contínua permite uma melhor EAD UNIFACVEST 82 Aprendizagem baseada em projetos reflexão sobre as relações entre professor e aluno, professor e conhecimento, estudante e estudante, estudante e conhecimento (SOUZA; DOURADO, 2015). A avaliação se caracteriza como um dos maiores desafios da ABP, uma vez que as instituições escolares ainda privilegiam avaliações formais. Nesta metodologia, a avaliação acontece de forma contínua e exige cuidados por parte do professor, uma vez que é baseada na observação direta, nos argumentos e nos registros realizados pelos alunos. O professor deve pensar em uma forma de avaliar por meio da APB, solicitando um produto final da solução encontrada pelo grupo, podendo ser: „ uma apresentação de slides; „ a produção de um artigo científico; „ um relatório escrito; „ qualquer outra produção que evidencie a construção significativa do conhecimento. É preciso ter em mente que a ABP possibilita a integração de conhecimentos, uma vez que considera o conhecimento prévio do aluno para a construção de novos conhecimentos. Nesse sentido, é importante valorizar aquilo que o aluno já sabe, planejando questões que instiguem sua curiosidade e seu pensamento crítico. SAIBA MAIS A ABP pode ser implementada em um ambiente on-line, sem alterar sua filosofia fundamental. A riqueza de mídias que podem ser utilizadas no ambiente on-line acaba fundamentando a experiência. Apesar da curva de aprendizado ser íngreme, o treinamento e o planejamento podem ajudar estudantes e tutores a se adaptarem e a desenvolverem a alfabetização on-line para se utilizar a ABP em educação a distância. Apesar de seus desafios, a ABP on-line tem potencial para apoiar a aquisição e a aplicação de novos conhecimentos em diversos contextos, além de criar a possibilidade de aprendizagem interdisciplinar. A aprendizagem baseada em projetos e em problemas na prática A aprendizagem baseada em projetos e em problemas não tem como objetivo a mera transmissão e a aquisição de conteúdos, mas é caracterizada pela articulação entre teoria e prática, com a intenção de apresentar ao aluno um problema ou uma situação próxima da realidade, que resulte em uma solução e leve o aprendiz a tomar consciência da sua participação efetiva nesse processo. A aprendizagem baseada em projetos desenvolve nos educandos o senso de responsabilidade, amplia seus conhecimentos e desperta a atenção às diferenças individuais. Os resultados obtidos refletem a coletividade, favorecendo futuras discussões e o intercâmbio de ideias, permitindo uma comunicação direta em que todos percebam os problemas e as dificuldades durante a atividade. Esta interação possibilita o desenvolvimento de lideranças, o compartilhamento de expectativas, dificuldades e metas, promovendo o sentimento de coleguismo e, principalmente, de aprendizagem colaborativa. EAD UNIFACVEST 83 Aprendizagem baseada em projetos Segundo Bender (2014), para se conceber o planejamento dos projetos de ABP são necessários alguns componentes essenciais, conforme descrito no Quadro 1. Analisando o Quadro 1, temos uma visão geral de como a ABP pode contribuir para a formação de um aluno com habilidades necessárias para atuar em nossa atual sociedade por meio da comunicação, do raciocínio lógico, do desenvolvimento da criatividade e do pensamento inovador. A seguir, podemos analisar uma sequência didática de aplicação da metodologia da ABP. a) O professor seleciona um problema, caso, cenário ou uma situação a partir das necessidades do conteúdo trabalhado. b) Os estudantes realizam pesquisas ou a coleta de informações, individualmente ou em grupo, ou seja, passam a investigar o assunto/ solução conforme as especificidades de cada situação, com o intuito de desvendar ou resolver o problema que receberam. EAD UNIFACVEST 84 Aprendizagem baseada em projetos c) Para que os estudantes consigam solucionar o problema elencado, o professor pode indicar as fontes ou autores de base para a investigação, mas nesta forma de trabalho também é possível utilizar outras referências como parte do processo de busca e de qualificação da resposta/solução. d) O professor deve indicar a forma de apresentação da resolução do problema, bem como critérios para sua solução, como a capacidade de execução, a viabilidade, entre outros. Para enriquecer sua proposta, o professor pode organizar o projeto fazendo uso das tecnologias disponíveis para o ensino. Quando bem utilizadas, estas aumentam a eficácia da aprendizagem e o envolvimento dos alunos na atividade, abrindo oportunidade para integrar, enriquecer e expandir os materiais educacionais, apresentando novas maneiras de interação. É importante utilizar tecnologias nas metodologias adotadas pelo professor, pois ao mesmo tempo em que inovam a prática docente, elas também vão ao encontro da realidade dos alunos. Quando aplicadas à ABP, as tecnologias se tornam ferramentas que proporcionam possibilidades de aprendizagem que colaboram para o professor estreitar laços de fala e interação com os educandos. É possível planejar atividades que utilizem a internet, softwares, celulares, câmeras fotográficas e de vídeo, quadros interativos, aplicativos, jogos digitais, entre outros. Tipos de projetos da ABP Como mencionado anteriormente, o planejamento de um projeto deve vir ao encontro da necessidadede se possibilitar uma aprendizagem significativa, contemplando problemas contextualizados, que levem o aluno a fazer uso do pensamento reflexivo e crítico. Moura (1993) apresenta três categorias de projetos que podem ser adotadas no planejamento da ABP. „ Projeto construtivo: tem o objetivo de construir algo novo, inovador ou uma nova solução para um problema. „ Projeto investigativo: adotando o método científico, o aluno utiliza da pesquisa em diversas fontes para encontrar a solução do problema. „ Projeto didático ou explicativo: com base nas questões: “Como?” e “Para quê?”, explica a funcionalidade do objeto de estudo. A ABP pode ser planejada por um ou mais professores, contemplando diferentes disciplinas. O importante é que, em seu planejamento, o professor privilegie oportunidades de interação e de interiorização dos conhecimentos produzidos pelos alunos. EXEMPLO Para entender melhor como a ABP pode ser usada na prática pedagógica, vamos imaginar que o professor, após ter trabalhado o conteúdo de alimentação saudável, lança o seguinte desafio: como conscientizar as pessoas sobre a importância de uma alimentação saudável? Pode ser que um grupo crie uma campanha com EAD UNIFACVEST 85 Aprendizagem baseada em projetos panfletos e cartazes que informem os benefícios dos alimentos funcionais; outro grupo pode criar um aplicativo com receitas saudáveis; enquanto o outro pode entrevistar um nutricionista para aprofundar a questão. Portanto, na ABP não há um único caminho para encontrar a solução de um problema: a aprendizagem é construída a partir da curiosidade, da criatividade e da autonomia. REFERÊNCIAS BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. 156 p. BRUNER, J. S. Uma nova teoria de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1976. 162 p. MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. Aprendizagem baseada em problemas: características, processos e racionalidade. In: MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. (org.). Aprendizagem baseada em problemas; anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza: Hucitec, 2001. p. 27–48. MOURA, D. G. A dimensão lúdica no ensino de ciências: atividades práticas como elemento de realização lúdica. 1993. 311 f. Orientador: Ernst Wolfgang Hamburger. Tese (Doutorado em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993. SOUZA, S. C.; DOURADO, L. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método de aprendizagem inovador para o ensino educativo. Holos, Natal, v. 5, p. 182–200, 2015. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/2880/. Acesso em: 8 maio 2019. EXERCÍCIOS 1) Considerando as mudanças ocorridas na sociedade, que vêm influenciando diretamente a educação, com a necessidade de repensar e reinventar os papéis do aluno e do professor no processo de aprendizagem, a aprendizagem baseada em projetos e problemas apresenta-se como uma metodologia de ensino que: A) Proporciona ao aluno construir o conhecimento de forma coletiva e interdisciplinar, por meio de atividades de projeto. B) Prioriza o trabalho individual para a construção de saberes por meio de projeto. C) Surge de uma questão, sem fundamentos específicos. D) Visa à memorização e à repetição dos conteúdos de uma única disciplina. E) Tem a construção do conhecimento centrada na figura do professor, que transmite o conteúdo para os alunos. EAD UNIFACVEST 86 Aprendizagem baseada em projetos 2) Ao fazer uso de uma metodologia diferenciada em suas aulas, o professor geralmente se preocupa em como irá avaliar seus alunos, de forma que não banalize a avaliação ou a torne um elemento extremamente entediante e sem significado algum para seus alunos. Considerando isso, analise as afirmativas sobre a avaliação na ABP e marque a resposta correta. A) A avaliação acontece de forma contínua e exige cuidados por parte do professor, uma vez que é baseada na observação direta, nos argumentos e nos registros realizados pelos alunos. B) A avaliação acontece de forma somativa, uma vez que somente o professor pode atribuir uma nota ao aluno por a cada atividade realizada. C) A avaliação é caracterizada por uma prova formal, em que, ao final de todas as atividades, o aluno precisa responder um número de questões específicas. D) A avaliação não configura-se como um desafio na ABP, pois todas as instituições escolares já têm modelos de avaliações flexíveis implantados há anos. E) Na ABP, o aluno não realiza a sua autoavaliação nem a avaliação do seu grupo. O professor é o único responsável pelo processo avaliativo. 3) No processo de aprendizagem, nem sempre é possível dar ao aluno uma resposta imediata sobre o seu rendimento, seus erros e seus acertos. Nesse sentido, na ABP o feedback assume um papel importante na aprendizagem do aluno, pois: A) É uma oportunidade de o aluno refletir, em tempo real, sobre as estratégias utilizadas e avaliar o caminho que percorreu. B) Pode fazer com que o aluno, ao perceber que errou, fique frustrado e desista projeto junto ao seu grupo. C) Faz com que o aluno avalie o progresso da aprendizagem de outros grupos, gerando competição entre as equipes. D) É a resposta somente das dificuldades encontradas pelo grupo na resolução do problema. E) faz com que o grupo, receber o feedback, não se sinta motivado a fazer revisões do caminho percorrido. 4) Sabendo que o mundo globalizado traz cada vez mais desafios para o homem, entende-se que a escola assume papel fundamental na formação de um aluno que corresponda às necessidades da sociedade. Nesse sentido, algumas das habilidades necessárias para o aluno do século XXI são: A) Comunicação, raciocínio lógico, criatividade e pensamento inovador. EAD UNIFACVEST 87 Aprendizagem baseada em projetos B) Domínio das tecnologias digitais, memorização e repetição de conteúdos. C) Organização, interação, inovação e trabalho individual. D) Pesquisa, autonomia, dependência do conhecimento do professor e criatividade. E) Motivação, competição, liderança e autonomia. 5) Analisando o perfil de seus alunos, o professor pode escolher pela melhor metodologia a ser utilizada por ele em sua prática. Porém, ele pode enriquecer ainda mais seu trabalho fazendo uso de recursos tecnológicos. Na ABP, estes recursos também podem ser utilizados. Nesse sentido, o que é correto afirmar? A) Quando bem utilizadas, as tecnologias aumentam a eficácia da aprendizagem e o envolvimento dos alunos na atividade, abrindo oportunidade para integrar, enriquecer e expandir os materiais educacionais, apresentando novas maneiras de interação B) As tecnologias são importantes ferramentas para que os alunos possam consultar as respostas para os problemas em sites de buscas e apenas reproduzirem na construção das suas soluções C) As tecnologias são importantes ferramentas para a construção do conhecimento do aluno, mas dificultam o trabalho do professor D) O professor pode permitir que os alunos utilizem dos recursos tecnológicos da forma como quiserem, sem se preocupar com os objetivos propostos E) Os recursos tecnológicos podem ser utilizados somente pelo professor na elaboração do projeto, para encontrar situações reais da vida de seus alunos. Porém, não deve permitir que seus alunos façam o uso dessa estratégia, uma vez que pode prejudicar a construção de novos conhecimentos EAD UNIFACVEST 88 Aprendizagem baseada em projetos UNIDADE V Estilos de Aprendizagem APRESENTAÇÃO Olá! Você sabia que os estilos de aprendizagem são úteis para classificar e analisar os comportamentos humanos? Eles nos dão base para chegar a conclusões sobre a formacomo as pessoas agem. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá os estilos de aprendizagem nas organizações, identificando sua abordagem conceitual no ciclo de aprendizagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: I. Identificar a abordagem conceitual do ciclo de aprendizagem. II. Reconhecer, a partir de uma situação real, o estilo de aprendizagem da experiência concreta. III. Diagnosticar os estilos de aprendizagem dos colaboradores para posterior projeto. EAD UNIFACVEST 89 Aprendizagem baseada em projetos DESAFIO A forma como as pessoas agem pode estar baseada em estilos de aprendizagem. Você é pedagogo empresarial em uma organização e deverá diagnosticar, a partir de alguns perfis e situações, o estilo de aprendizagem de colaboradores. O objetivo é fazer uma avaliação diagnóstica de como cada um aprende para poder focar nesses estilos de aprendizagem em um posterior projeto. EAD UNIFACVEST 90 Aprendizagem baseada em projetos Leia os perfis dos colaboradores Cristina, Cristiano e Ronaldo e associe esses perfis aos estilos de aprendizagem citados por Kolb. Qual o estilo de cada um dos funcionários? INFOGRÁFICO O ciclo de aprendizagem pode ser visto como um modelo-padrão a ser seguido no desenvolvimento de técnicas de aprendizagem, cuja estrutura interna pode ser representada por questões como: por quê? O que fazer? Como? E se? Estas são questões básicas perguntadas em um projeto e objeto do projeto. Veja no infográfico a abordagem conceitual do ciclo de aprendizagem de Kolb, apresentando seus estilos de aprendizagem, suas caracterizções e dimensões. DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS E APRENDIZAGEM NAS ORGANIZAÇÕES OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Apresentar as noções básicas de desenvolvimento de projetos e sua possível articulação aos processos de aprendizagem nas organizações. • Discutir a coexistência de processos de aprendizagem em diferentes níveis organizacionais. RESUMO O capítulo apresenta um estudo cujo objetivo é analisar o desenvolvimento de um método de intervenção voltado para geração, difusão e compartilhamento de conhecimento no âmbito organizacional. Os resultados do estudo indicam que o processo de aprendizagem gerencial associado ao desenvolvimento de competências é complexo e dinâmico, transcendendo o domínio individual. A teoria substantiva gerada EAD UNIFACVEST 91 Aprendizagem baseada em projetos permite destacar a importância da aprendizagem na ação e o compartilhar significados, e a transição da aprendizagem do nível individual para o organizacional pelo desenvolvimento de projetos. O processo de conhecimento e a aprendizagem gerencial no desenvolvimento de competências foram compreendidos como um processo contínuo de responder às diversas demandas pessoais e ambientais, organizacionais e sociais, que surgem da interação entre experiência, conceituação, reflexão e ação. INTRODUÇÃO: A FORMAÇÃO GERENCIAL E O CONTEXTO EMPRESARIAL As inovações tecnológicas, a transformação das estruturas organizacionais, as mudanças quase contínuas nos processos de trabalho e o crescente volume dos conhecimentos científicos exigem aprendizagem contínua como base que permita enfrentar a mudança e as transformações que dela decorrem. A questão suscita a necessidade de capacitar os gestores a lidarem e a “gerirem” as incertezas. Os sistemas de treinamento e desenvolvimento gerencial baseados em competências tornaram-se uma resposta frequente a este cenário, insistindo na flexibilidade e adaptabilidade do indivíduo. Contudo, até o presente momento, são escassos os estudos que validem seus resultados considerando a performance dos gerentes como eficaz. Os programas baseados em competências e, em particular, os que possuem um formato unificado, têm atraído consideráveis críticas, tanto filosóficas quanto práticas. Estas críticas surgem fundamentadas no fato de que programas baseados em competências são muito funcionais ou comportamentais em sua orientação; acentuadamente burocráticos e simplistas; atomísticos e individualistas e deficientes no sentido de cobrir adequadamente a diversidade característica do ambiente das organizações. Muitos dos programas de formação de executivos, por exemplo, têm dificuldade de levar em conta a complexidade, a contextualidade, a contingencialidade e a natureza sempre variável do papel gerencial. Estes programas vêm sendo desafiados a fornecer formação mais abrangente, a integrar conteúdos e referenciais. Se a competência não se reduz ao saber, nem tampouco ao saber-fazer, mas à sua capacidade de mobilizar e aplicar esses conhecimentos e capacidades numa condição particular, onde se colocam recursos e restrições próprias à situação específica, pode-se presumir que os programas de formação gerencial deveriam considerar a natureza evolutiva, dinâmica e processual do desenvolvimento de competências gerenciais. A revisão da literatura acerca destas questões decepciona pela carência de trabalhos empíricos que avaliem a eficácia da formação gerencial voltada para o desenvolvimento de competências. As empresas não investem na mensuração dos resultados destes investimentos da mesma forma que para avaliar a eficiência e eficácia de suas vendas e produção. Os investimentos, nesta área, continuam sendo feitos sem considerar uma avaliação sistemática. Ao mesmo tempo, constata-se outro problema: as abordagens e metodologias empregadas nos referidos cursos. Por exemplo, nos programas de pós-graduação lato sensu (especialização), as abordagens e metodologias estariam distantes da problemática empresarial, deixando transparecer não estar conseguindo atender às demandas de formação gerencial, em função da complexidade do atual ambiente de negócios. EAD UNIFACVEST 92 Aprendizagem baseada em projetos Mais recentemente, os programas de formação convencionais têm procurado inserir inovações, como experiências, simulações em sala de aula, laboratórios e estudo de caso, mas ainda estão “distantes de uma perspectiva de desenvolvimento de competências” (Ruas, 2001, ver também Capítulos 10, 14 e 17 deste livro). Concomitantemente, a crítica empresarial volta-se para o distanciamento destas metodologias das especificidades do ambiente organizacional. Há dificuldade no processo de transferência e adaptação dos resultados da formação no ambiente de trabalho pelos participantes destes cursos. Neste contexto, surge um questionamento: quais competências e como elas são desenvolvidas no processo de relação entre os conteúdos apropriados em sala de aula e o espaço/ambiente organizacional? Para responder a esta problemática foi desenvolvido um estudo longitudinal junto a duas turmas de gestores integrantes de um curso de especialização e de mestrado profissional in company, pertencentes a uma organização do setor de telefonia móvel – aqui denominada Telefonia. Os cursos foram concebidos a partir de desenho e metodologia diferenciados. O estudo teve dois objetivos principais: primeiro, conhecer e analisar qual o potencial de contribuição e possíveis relações entre o desenvolvimento de projetos e o desenvolvimento de competências gerenciais, a partir da noção de aprendizagem experiencial; segundo, identificar e analisar quais as oportunidades de aprendizagem, além da educação formal, que contribuem para o desenvolvimento de competências. A relevância científica do estudo apoia-se nos seguintes aspectos, que dizem respeito à escassez na literatura de estudos nacionais: (a) que tentem esclarecer as relações entre o desenvolvimento de competências gerenciais e os processos de aprendizagem formais e informais; (b) que desenvolvam um estudo longitudinal tendo como objeto de análise o indivíduo,visando examinar a natureza processual da aprendizagem individual e coletiva no desenvolvimento de competências. Salienta-se que os resultados e as análises apresentados são fruto de estudo mais abrangente e representam uma parcela dos achados de pesquisa. ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER COMPETÊNCIAS GERENCIAIS: A APRENDIZAGEM NA AÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS Se as competências e atividades gerenciais são conceituadas para serem específicas às situações e inseridas nas organizações nas quais elas são praticadas, a questão que surge é: qual é o melhor modo para preparar os gerentes para a complexidade, a incerteza e a singularidade? – aspectos que caracterizam os ambientes organizacionais. O estudo aqui apresentado buscou referências em Raelin (1998), que propõe um modelo calcado na aprendizagem baseada no trabalho. O modelo deste autor é sustentado na simples ideia que aprendizagem pode ser adquirida por meio da prática. Raelin propõe que sejam fundidas, deliberadamente, a teoria com a prática e reconhece a interseção de formas explícitas e tácitas de saber. Embora atualmente exista uma rica fonte de conhecimento, que ajuda a entender como aprendizagem baseada no trabalho acontece e pode ser facilitada, precisa-se de uma concepção que possa integrar as muitas tradições que estão por trás de sua construção (Raelin, 1998). Ao se tentar desenvolver esta concepção aqui, incorporaram-se duas dimensões fundamentais para o processo de aprendizagem na EAD UNIFACVEST 93 Aprendizagem baseada em projetos ação: teoria e modos de prática de aprender de Kolb, Rubin e McIntyre (1990) e formas explícitas e tácitas de conhecimento dos autores Nonaka e Takeuchi (1997). Desde que a teoria possa ser vista como uma estrutura que desafia as suposições da prática, faz sentido combinar o modo de aprender com a ação. (Schön, 2000). Além da teoria e da prática, a outra dimensão incorporada foi a distinção entre formas explícitas e tácitas de conhecimento. Aprendizagem na ação requer uma epistemologia de prática que busca não somente explorar as instruções explícitas e as diretrizes disponíveis no local de trabalho, mas também os processos tácitos invocados pessoalmente pelos gestores, como eles resolvem os problemas de gerenciamento diário. Conhecimento explícito é a forma classificada familiar, a qual é transmissível pela linguagem formal e sistemática. Conhecimento tácito é o componente de conhecimento que não é facilmente relatado, na medida em que está profundamente vinculado à ação e implicado num contexto específico (Polanyi, 1966). Há dois níveis de atividade nos quais se aprende pela ação e pelo trabalho. Um deles é que se pode aprender no nível individual, quando a interseção entre os modos de aprendizagem e as formas de conhecimento desafiam as estruturas pessoais de ação. Porém, aprender numa extensão de aprendizagem que vá além da individual já diz respeito a outro nível, o da aprendizagem em nível coletivo. Este é constituído, entre outros, por colegas de trabalho, estejam eles presentes dentro ou fora do ambiente de trabalho ou de ensino. Na tentativa de responder a indagação lançada no início desta seção, a partir da literatura sobre o assunto, propõe-se considerar a articulação do desenvolvimento de projetos – seja em ambiente organizacional ou de formação – à concepção do ciclo de aprendizagem experiencial de Kolb, Rubin e McIntyre (1990). O pressuposto é que, ao associar o ciclo de desenvolvimento de projetos ao ciclo de aprendizagem experiencial, de forma que aumente a sinergia entre ambos, possa se propiciar o desenvolvimento de competências gerenciais. Tomou-se, como parâmetro e eixo norteador, a proposta experimental realizada por Ruas (2001, p. 255) de “desenvolver um método de intervenção que contribua para geração, difusão, sistematização e compartilhamento de competências no âmbito das organizações”. Este autor desenvolveu e implementou uma intervenção orientada para o desenvolvimento de competências com a finalidade de “[…] orientar o processo de apropriação e aplicação, no ambiente de trabalho, dos conteúdos e experiências vivenciadas em programas de formação e treinamento”(Ruas, 2001, p. 254), através, dentre outras estratégias de aprendizagem, da elaboração de miniprojetos experimentais de desenvolvimento de competências. Esta proposta abrange diversas estratégias com as quais se compactua, mas, aqui, a ideia é aprofundar a questão da relação entre os dois ciclos mencionados – de desenvolvimento de projeto e da aprendizagem experiencial e a conversão do conhecimento (Nonaka; Takeuchi, 1997), como apresentado no Quadro 20-1. Considera-se que o ciclo de aprendizagem experiencial de Kolb, Rubin e McIntyre (1990) e a noção de conversão do conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997) oferecem uma epistemologia que, ao ser integrada aos domínios de programas de desenvolvimento de competências, pode ser útil. Ela pode auxiliar os gestores a atribuírem significado à experiência, elevar a consciência da sua teoria-em-uso e ajudá- los a desenvolver, testar e continuamente refinar teorias subjetivas de ação, facilitando sua formação/desenvolvimento de competências. EAD UNIFACVEST 94 Aprendizagem baseada em projetos Dewey (2000) apresenta duas conclusões importantes sobre o processo de aprender pela experiência e que se entende relevantes para este estudo: (1) experiência é principalmente um fazer ativo-passivo; não é principalmente cognitivo; (2) a medida do valor de uma experiência está na percepção das relações e continuidade para as quais conduz. Aprender com base na experiência é fazer uma conexão para trás e para frente entre o que se faz para os acontecimentos e o que se desfruta ou se sofre, como consequência, a partir deles. Sob tais condições, fazer torna-se tentar; um experimento com o mundo para descobrir com que se parece; a experiência transforma-se em instrução – descoberta da conexão entre as coisas […] a experiência é, principalmente, uma questão ativa-passiva; não é fundamentalmente cognitiva. Todavia, a medida do valor de uma experiência reside na percepção das relações ou continuidades, as quais ela conduz. Inclui cognição, à medida que é cumulativa ou corresponde a algo, possui significado (Dewey, 2000, p. 140). A partir deste posicionamento, conclui-se que o significado do pensamento pode ser inferido pela reflexão das ações que eles produziram. Dewey clarifica este processo elucidando a tarefa do pensamento: fundamentalmente experiência reflexiva é instituir um conjunto de conexões entre o que se faz e suas consequências. A visão do autor de experiência humana é que inclui ambas: experiência ativa e passiva em combinação. O desenvolvimento de projetos possibilita “experimentar” (tentar algo) e, nas palavras de Dewey, “sofrer as consequências”. Quando se está sofrendo estas consequências é que se experimenta algo que está sendo feito à própria pessoa. Quando se faz algo, o impacto da experiência no próprio sujeito não é tanto o produto do que se fez, como o efeito ao qual os componentes passivo e ativo, de tentar e sofrer as consequências, estão conectados. Levando em conta as propostas de Dewey e de Kolb, pode-se começar a apreciar a riqueza da ação do ciclo de aprendizagem experiencial como um conceito central na geração de competências gerenciais e na aprendizagem. Experimentação ativa rende experiências concretas que são mais bem compreendidas por meio de observação reflexiva e que levam a novo conhecimento de conceituação abstrata. Claramente, a ação que leva à aprendizagem é reiterativa ou um processo cíclico. Incorporar a fase de reflexão no desenvolvimento de projetos é uma contribuição relevante do ciclo de Kolb. Perrenoud (2001) diz que a utilização de desenvolvimento de projetos pode visar alguns objetivos: fazer ver as práticassociais que acrescentam saberes e aprendizagens; a mobilização do saber e do saber-fazer, construindo competências; descobrir novos saberes e mundos com uma perspectiva de sensibilização ou de motivação; colocar diante de obstáculos além do projeto; provocar novas aprendizagens sobre o mesmo projeto; permitir identificar experiências e falhas, a partir de uma perspectiva de auto e heteroavaliação; desenvolver a cooperação e a inteligência coletiva; ajudar na obtenção da confiança em si, reforçar a identidade pessoal e coletiva, por meio de uma EAD UNIFACVEST 95 Aprendizagem baseada em projetos forma de empowerment, tomada de iniciativa do ator; desenvolver a autonomia e a capacidade de fazer escolhas e de negociar; formar concepção e conduta de projetos. EAD UNIFACVEST 96 Aprendizagem baseada em projetos É importante comentar, que neste processo, a participação é descrita como fundamental na aprendizagem situada. Trata-se do processo pelo qual os estudantes que trabalham em conjunto e com especialistas numa organização social, resolvendo problemas relacionados a circunstâncias de sua vida cotidiana (Lave, 1988; Shön, 1983). A participação descreve o intercâmbio de ideias, a tentativa de resolver problemas e o compromisso ativo dos indivíduos entre si e com os conteúdos de aprendizagem. É o processo de interação com outros que produz e estabelece sistemas de significado entre os aprendizes. A partir de uma perspectiva de cognição situada, a aprendizagem ocorre num setting social, através do diálogo com outros (Lave, 1988). Aprender torna-se um pro cesso de refletir, interpretar e negociar significados entre os participantes de um grupo, de compartilhar as narrativas produzidas por um grupo. Orner (1996) relata como narrativas que surgem das experiências vividas pelos aprendizes tornam-se informações para o diálogo e situam o significado de conteúdo para o grupo. A cognição situada no ambiente de ensino torna-se o veículo para os aprendizes desafiarem e intervirem nas construções sociais impostas por várias instituições e cenários políticos e culturais. O autor estimula os aprendizes a se engajarem a “interpretar negócios como projetos usuais”(Orner, 1996, p. 77). Os projetos são oportunidades para os indivíduos interpretarem, intervirem e interromperem os acontecimentos habituais de suas próprias experiências. A aprendizagem ocorre pela reflexão na experiência, ocupando-se de diálogo com outros e explorando o significado de eventos em um espaço e tempo particulares, isto é, num contexto específico. EAD UNIFACVEST 97 Aprendizagem baseada em projetos O ESTUDO E A METODOLOGIA EMPREGADA Caracteriza-se como um estudo exploratório de natureza predominantemente qualitativa, construído a partir de um desenho longitudinal (dois anos). A pesquisa desenvolvida teve como unidade de análise o gestor e constituiu-se de três etapas – inicial, intermediária, avançada –, o que permitiu cortes profundos para uma análise processual do tema investigado. Caracterização: desenho dos cursos desenvolvidos e os workshops de miniprojeto O desenho dos cursos em questão (vide Figura 20-1), em que são apresentadas as grandes linhas e referências de sua programação, ressalta a relevância da associação entre os conhecimentos originários de disciplinas teóricas e as experiências no ambiente de trabalho, a partir de uma metodologia específica. A abordagem adotada pretendia desencadear um processo de desenvolvimento de competências gerenciais que atingisse resultados muito mais amplos do que uma proposta de curso convencional. Tinha como objetivo identificar, explorar e buscar o desenvolvimento de competências gerenciais e organizacionais, considerando o atual ambiente de negócios, destacando a dinâmica, a problemática e as perspectivas do setor de telecomunicações. Objetivava alavancar um processo sistemático e integrado de desenvolvimento de competências, explorar e integrar esse esforço ao fortalecimento e à consolidação das chamadas competências essenciais da empresa: gestão do negócio, sensibilidade ao cliente, prontidão para mudanças e gestão humana do trabalho. A metodologia adotada para os cursos baseava-se em princípios e métodos de formação e capacitação, orientados para o ambiente de trabalho, visando associar os conteúdos e as vivências desenvolvidas no curriculum de disciplinas e seminários às experiências e práticas dos participantes. Permitia que cada participante selecionasse duas competências que desejasse desenvolver, num processo de aprendizagem e experimentação que fosse apropriado pelo coletivo da empresa e não por alguns gestores de forma individual. Os programas dos cursos compreendiam três fases básicas (Ruas, 2001). • Fase 1: sensibilização e compreensão: etapa de desenvolvimento de disciplinas, seminários e workshops, a partir dos quais se pretendia apresentar e explorar os conteúdos teóricos e as experiências considerados mais relevantes para o desempenho gerencial, nas condições em que atuava a Telefonia. • Fase 2: análise e síntese e projetos de competência: pretendia recuperar os conteúdos e as experiências desenvolvidas na fase anterior; identificar aqueles mais relevantes para a atividade gerencial dos participantes, bem como para as necessidades da empresa; organizá-los e explorá-los sob a forma de Projetos de Competências a serem desenvolvidas. Compreendia um pequeno conjunto de workshops temáticos e metodológicos e a elaboração “in loco” de Projetos de Competências Individuais e Grupais, a serem aplicados nas semanas seguintes, em seu próprio ambiente de trabalho. • Fase 3: exploração, avaliação e replanejamento: nesta fase, os Projetos de Competências foram aplicados nas próprias situações de trabalho dos EAD UNIFACVEST 98 Aprendizagem baseada em projetos participantes, mobilizando os potenciais e recursos acumulados. Compreendia o monitoramento periódico durante a aplicação do projeto a partir de uma atividade de tutoria que, ao final, foi avaliado em workshop específico. A partir dessa fase, foi possível repensar e, quando necessário, replanejar projetos, atividades e processos corporativos. A realização de workshops que trataram da apropriação de conteúdos, elaboração e avaliação de miniprojetos de competências é o que diferencia o curso in company da Telefonia em relação aos convencionais. Ocorreu o desenvolvimento de uma série de workshops, cujo conjunto teve o objetivo de explorar a relação entre o programa de pós-graduação e a geração de competências gerenciais. O objetivo final dessas atividades, que envolveram quatro workshops, foi o de desenvolver uma metodologia de apropriação de competências, a partir de processos de formação e/ou desenvolvimento, que pudesse ser explorada em toda a organização. a. Workshop 1 – recuperar conteúdos do curso de pós-graduação e elaborar um Miniprojeto de Competência, o qual iria direcionar o processo de aplicação de uma competência no ambiente de trabalho/atividade de cada participante deste programa. O objetivo do primeiro workshop foi o de construir um projeto (Miniprojeto) de exploração e desenvolvimento de uma competência associada à atividade gerencial dos participantes. Foram realizadas, neste workshop, as seguintes atividades: relacionar a noção de competências gerenciais às condições das atividades profissionais dos participantes; elaborar um roteiro que oriente as atividades teórico-práticas de aplicação e análise da competência no ambiente de trabalho, roteiro este que foi denominado Miniprojeto de Desenvolvimento de Competência; recuperar os principais conteúdos e experiências desenvolvidos no programa de pós-graduação, como forma de subsídio ao processo de exploração da competência selecionada na etapa anterior. b. Workshop 2 (duas edições) – acompanhou o processo deaplicação das competências no ambiente de trabalho e de registro e análise desse processo sob a forma de relato. c. Workshop 3 – Apresentação e avaliação dos relatos e análise das experiências da exploração de competências em ambiente de trabalho. As atividades associadas aos quatro workshops desenvolvidos resultaram num relatório final, que constituiu a primeira parte do trabalho de conclusão obrigatório para o recebimento do diploma, no caso da turma de especialização. Na elaboração dos miniprojetos, foram estabelecidas ações associadas a indicadores e fontes de informações (relatórios gerenciais, pesquisa de clima, etc.), utilizados para mensurar os resultados obtidos em cada miniprojeto (resultado esperado versus obtido). Para que o leitor tenha maior clareza, apresenta-se, no Quadro 20-2, os indicadores e as fontes de informação utilizadas pelos alunos no desenvolvimento de seus miniprojetos. Os resultados esperados eram: a) sensibilizar os participantes para o desenvolvimento de procedimentos de apropriação de competências; b) desenvolver EAD UNIFACVEST 99 Aprendizagem baseada em projetos de forma compartilhada um método que associava, de um lado, os conteúdos e as experiências desenvolvidos em formação e desenvolvimento e, de outro, as competências gerenciais requeridas à realização de certas atribuições profissionais, no sentido de buscar a apropriação e o desenvolvimento destas últimas. Procedimentos para coleta e análise dos dados A principal técnica de campo foi a entrevista em profundidade. “O campo de aplicação clássica da grounded theory é a pesquisa de campo na qual o próprio pesquisador é envolvido, geralmente por meio da observação participante” (Mayring, 2002, p. 106). Foram também utilizadas as técnicas de observação participante acerca da interação e atuação dos alunos em oito workshops, e a realização de grupos de foco, perfazendo um total de 130 horas; anotações da participação e orientação (tutoria) dos miniprojetos, junto a dois grupos de trabalho (elaboração do roteiro do projeto, saída a campo e apresentação dos resultados); anotações da participação e relatos do coordenador dos workshops e de outro orientador dos miniprojetos; o estabelecimento de comparativo entre a proposta inicial do miniprojeto e a fase final; e sua apresentação formal pelos participantes em sala de aula. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O número total de miniprojetos desenvolvidos foi de 44, a distribuição por áreas da empresa está demonstrada no Quadro 20-3. O público que foi envolvido diretamente pelos miniprojetos abrangeu diversos níveis funcionais. No total de cerca de 670 funcionários e 60 gestores, 215 eram atendentes; 27 técnicos de engenharia; 4 engenheiros; 36 analistas (júnior/ pleno/master); 4 operadores de habilitação; 3 advogados; 1 consultor externo; 95, vendedores; 8 caixas; 9 assistentes;, 19 executivos de conta; 4 executivos de negócios; 5 monitores; 7 promotores; e 60 gerentes e supervisores. EAD UNIFACVEST 100 Aprendizagem baseada em projetos Os pesquisados envolvidos neste estudo foram 44 gestores. As competências organizacionais envolvidas em cada projeto constam no Quadro 20-4. As competências organizacionais envolvidas em cada projeto foram: 22 projetos em Gestão Humana no Trabalho; 14 em Gestão do Negócio; 11 em Prontidão à Mudança e 9 em Sensibilidade aos Clientes. Diversos miniprojetos estavam voltados, simultaneamente, para duas competências organizacionais em particular: em Gestão Humana no Trabalho e Gestão do Negócio. Durante os workshops, diferentes atividades e exercícios foram desenvolvidos, além do miniprojeto, o que permitiu identificar, mapear e estabelecer relações entre as competências organizacionais. Os resultados e as áreas impactadas pelos miniprojetos, assim como o desenvolvimento de competências gerenciais e as disciplinas e os conteúdos que contribuíram para a apropriação de recursos de competência, na percepção dos participantes dos referidos cursos, estão apresentados no Quadro 20-5. Um aspecto particularmente relevante é que, pela análise das entrevistas, dos miniprojetos, dos grupos de foco, de orientações e relatórios, identificou-se forte EAD UNIFACVEST 101 Aprendizagem baseada em projetos tendência quanto às competências gerenciais escolhidas para serem desenvolvidas pelos gestores, particularmente em relação ao desenvolvimento de equipes. Identificou-se que ocorreu uma preocupação bem direcionada por parte dos gestores em desenvolver a capacidade de atuar como facilitador e mobilizador de sua equipe de trabalho para: 1. prevenir, compartilhar e resolver problemas, desafios e melhorias; 2. relacionar-se com o cliente; 3. compartilhar responsabilidade e autonomia e ampliar comprometimento; 4. orientar-se para e atingir metas/resultados; 5. ter capacidade para perceber, entender e agir frente a mudanças; 6. priorizar e compartilhar informações; 7. identificar oportunidades de negócio. EAD UNIFACVEST 102 Aprendizagem baseada em projetos EAD UNIFACVEST 103 Aprendizagem baseada em projetos Ou seja, o aspecto mobilizar a equipe para compartilhar mostrou-se prioridade para os gestores e terminou abrangendo e contribuindo para as competências EAD UNIFACVEST 104 Aprendizagem baseada em projetos organizacionais de Gestão Humana no Trabalho e Prontidão para Mudança e a combinação destas duas competências organizacionais, em especial em áreas como, Engenharia, Call Center e Comercial. Identificou-se também que conteúdos abordados e as disciplinas, como criatividade, cultura organizacional, liderança e mobilização de pessoas, foram os que mais contribuíram como suporte para o desenvolvimento de competências de acordo com os pesquisados. Enquanto conteúdos abordados nos workshops de competência e métodos de pesquisa foram recursos empregados em todos os miniprojetos, de acordo com os gestores. Diversos miniprojetos também foram desenvolvidos, associando a competência organizacional Gestão Humana no Trabalho à Gestão do Negócio. Neste caso, a competência gerencial visada era desenvolver e mobilizar junto a sua equipe a capacidade de orientar-se para atingir metas e resultados e identificar oportunidades de negócio, utilizando os conteúdos das disciplinas de estratégia competitiva, liderança e mobilização de pessoas e cultura organizacional, principalmente nas áreas de Marketing, Comercial e Call Center. Além de oportunizar o desenvolvimento de competências gerenciais para facilitar e mobilizar suas equipes, numa visão mais geral, os resultados obtido, a partir dos miniprojetos voltados para competência organizacional Prontidão para Mudança e Gestão Humana do Trabalho, concentraram-se em cinco pontos: 1. processos: no repensar, redesenhar e criar processos implicando sua padronização e racionalização; 2. ambiente de trabalho: relações interpessoais; 3. no campo da atitude: proatividade em relação aos problemas; 4. desempenho: melhor performance na obtenção de resultados; 5. equipe: coesa e integrada, principalmente pelo compartilhar de informações e conhecimento. Os resultados obtidos, a partir de miniprojetos voltados para Gestão do Negócio e Sensibilidade ao Cliente, concentram-se em: 1. atendimento: inovação no processo; agilidade e qualidade no serviço; 2. aproximação de marketing e estratégias da empresa: incremento do relacionamento com cliente; 3. integração das áreas: call center – comercial – marketing Conexão: desenvolvimento do miniprojeto e o ciclo de aprendizagem experiencial Na investigação do processo de aprendizagem, emergiram as categorias apresentadas no Quadro 20-6. A partir das categorias identificadas, que se referem ao processo e às oportunidades de aprendizagem, é possível dizer que o desenvolvimentodo miniprojeto permitiu aos participantes dos cur sos vivenciarem o ciclo de aprendizagem de Kolb em suas diferentes fases. Isto é, planejar uma experiência, ter esta experiência, examinar seus resultados e extrair conclusões, sendo que cada uma destas fases implicou uma maneira de o indivíduo lidar com a informação, os sentimentos, a situação e o conhecimento. O gestor tratou a informação de maneira simbólica ou conceitual, apoiou-se nas EAD UNIFACVEST 105 Aprendizagem baseada em projetos qualidades tangíveis da experiência imediata, ampliando a percepção do ambiente, mediante a intervenção ativa ou a reflexão pessoal. EAD UNIFACVEST 106 Aprendizagem baseada em projetos Identificou-se também que, a cada fase do miniprojeto, subciclos foram ocorrendo. Por exemplo, as reavaliações sistemáticas relatadas pelos pesquisados, quando estavam na fase de campo do miniprojeto. Conforme desenvolviam as ações e atividades propostas em seu miniprojeto, deparavam-se com obstáculos – resistência da equipe, mudanças organizacionais, sobrecarga de trabalho, a situação de fusão que a empresa estava atravessando, novos acionistas, etc. – que os obrigavam a sucessivas paradas para reavaliações, exigindo observação e reflexão para orientação das próximas ações do projeto. Na Figura 20-2, apresenta-se a relação dos relatos dos gestores sobre o desenvolvimento do miniprojeto e o ciclo de aprendizagem experiencial (Kolb, 1984, 1990), em que: a. Conceituação-abstração – etapa de elaboração – atividades em grupo: a partir da revisão de conteúdos das disciplinas, reunidos em grupos por áreas afins, os gestores iniciaram a elaboração de seus miniprojetos. Embora, num macroprocesso refira-se à fase de conceituação/abstração do ciclo de apren dizagem experiencial, os gestores realizaram também troca de ideias e experiência e refletiram sobre as ações e a elaboração do miniprojeto. b. Experiência concreta – etapa prática do projeto: depois de elaborado o miniprojeto – definidos objetivos; competências gerenciais a serem desenvolvidas, cronograma de ações, indicadores, resultados esperados – os gestores partiram para campo com o objetivo de colocar em prática seu projeto junto a sua equipe de trabalho. Na própria ação, diversos gestores tiveram necessidade de refletir, observar e, muitas vezes, redirecionar algumas das ações que estavam previamente programadas no miniprojeto. c. Experimentação – ativa: apresentação de trabalhos em sala de aula: a cada workshop, e também em seu dia a dia, o gestor discutia, com os orientadores, coordenador e seus pares, o andamento de seu miniprojeto, refletindo, trocando experiências e compartilhando dúvidas e conhecimentos, numa espécie de monitoramento do processo. No final, os resultados foram apresentados em aula. Novamente, em grande grupo, houve interação, troca de experiências e conhecimentos e reflexão sobre o processo e os resultados obtidos em cada miniprojeto. d. Observação/reflexão: aprendizagem obtida com o miniprojeto – na elaboração do relatório final do miniprojeto, cada gestor refletiu sobre os resultados desejados e os obtidos e, especificamente, sobre como havia se desenvolvido todo o miniprojeto, se a competência gerencial havia sido desenvolvida e como. A observação e a reflexão pessoal predominaram durante todo o processo. EAD UNIFACVEST 107 Aprendizagem baseada em projetos Os resultados até aqui apresentados já permitem estabelecer algumas relações com aspectos da teoria apresentada sobre aprendizagem experiencial/ na ação. A riqueza de informações obtida nesta coleta leva a estabelecer alguns pontos relacionados ao ciclo de aprendizagem experiencial de Kolb, como pode ser visualizado na Figura 20-2. Os miniprojetos, sob a concepção da aprendizagem experiencial, favoreceram o intercâmbio de informação e de ideias a partir de discussões formais e informais, entre colegas em nível de setor, área ou departamentos, e tornou-se um estímulo para experimentar novas práticas, intercâmbio e observação recíproca. Entre os processos individuais que favoreceram a aprendizagem há que considerar a reflexão para aprender com a própria experiência. A experimentação de novas estratégias ou enfoques tornou-se enriquecedora quando foi estimulada pelo intercâmbio com os colegas. No Quadro 20-7, são apresentadas as análises obtidas a partir dos dados coletados junto aos participantes e relacionados a cada fase de conversão e criação de conhecimento. Destaca-se a importância atribuída ao socializar, compartilhar conhecimento e experiência com seus colegas no discurso dos pesquisados. Pode-se dizer que: a. A aprendizagem experiencial/na ação e o desenvolvimento do miniprojeto estão permeados por estas conversões de conhecimento. EAD UNIFACVEST 108 Aprendizagem baseada em projetos b. A função da organização, no processo de criação do conhecimento organizacional foi a de fornecer o contexto apropriado para facilitar as atividades em grupo (p.ex.: com a fusão da empresa havia ocorrido ameaça de suspensão dos cursos, mas os novos acionistas optaram por sua manutenção), bem como a criação de conhecimento em nível individual e grupal (através da aprendizagem experiencial associada às atividade em grupo e às práticas de trabalho). EAD UNIFACVEST 109 Aprendizagem baseada em projetos O ciclo de aprendizagem experiencial associado ao desenvolvimento de projetos revelou-se instrumento que deu suporte às conversões de conhecimento, principalmente por propiciar o compartilhamento de modelos mentais.A realização de projetos com esta concepção gerou aprendizagem e o desenvolvimento de competências, à medida que os participantes projetaram, classificaram, armazenaram, refletiram, disseminaram e incorporaram lições aprendidas. Diversos miniprojetos desenvolvidos inovaram, de alguma forma, processos, por mais simples que fossem e também geraram conhecimento, podendo inspirar futuras práticas organizacionais. Observou-se que os pesquisados aprenderam, reconhecendo e respondendo a um jogo diverso de demandas ambientais e pessoais. A aprendizagem envolveu a interação entre duas dimensões interdependentes de conhecimento: aquisição e transformação. Cada dimensão exigiu dos gestores que solucionassem uma dialética ou um jogo de aprender através das tensões. Kolb (1984, p. 105) descreve: EAD UNIFACVEST 110 Aprendizagem baseada em projetos Apreensão da experiência é um processo subjetivo pessoal que não pode ser conhecido pelos outros, exceto pela comunicação a eles das compreensões que usamos para descrever nossa experiência imediata. Por outro lado, compreensão é um processo objetivo, uma ferramenta de cultura. Disto resultam dois tipos de conhecimento: o pessoal (a combinação de minhas apreensões diretas de experiência e as compreensões socialmente adquiridas que eu uso para explicar esta experiência e guiar minhas ações); e o conhecimento social (independente, social e culturalmente transmitido por uma rede de palavras, símbolos e imagens que são somente baseados em compreensão). Quando se fala em aprendizagem, se está falando de um conceito que inclui o explícito e o tácito. Inclui o que é dito e o que é não dito; o que é representado e o que é assumido. Envolve a linguagem, as ferramentas, os documentos, as imagens, os símbolos, os papéis bem definidos, os critérios especificados, os procedimentos, os regulamentos e os contratos que várias práticas fazem explícitas para uma variedade de propósitos. Abrange também todas as relações implícitas, convenções tácitas, sugestões sutis, regras não declaradas, as intuições, as percepções, a sensibilidade, compreensões incorporadas, suposições subjacentes, as visões de mundo compartilhadas que nunca puderam ser articuladas. Compartilhare transformar modelos mentais Nesta seção, são apresentados os resultados que possibilitam afirmar a mudança de alguns dos modelos mentais dos gestores que participaram do curso e que revelam que o ciclo de aprendizagem experiencial pode facilitar seu compartilhamento. Os denominados modelos mentais abrangem interpretações, esquematizações, perspectivas e pontos de vista que ajudam os indivíduos a perceberem e a definirem as suas visões de mundo (Senge, 1990). Em outras palavras, os indivíduos criam modelos da realidade que são usados para tratar e construir respostas apropriadas para dada situação (Argyris, 1999). Identificou-se que o momento pelo qual a Telefonia passava – de aquisição e fusão – propiciava a seus gestores responderem a esta situação com determinados modelos mentais. O curso e o desenvolvimento de miniprojetos auxiliaram na maneira como os indivíduos representavam o mundo, através de suas estruturas ou esquemas mentais internos, mudando sistematicamente, através da assimilação de novos conhecimentos e a acomodação dos conhecimentos existentes (Piaget, 1977). A aprendizagem é, portanto, a modificação de uma experiência, modificação esta que leva à evolução da organização interna do pensamento. De uma maneira geral, identificou-se a mudança em três grandes modelos mentais a partir do compartilhar: a) em relação a como percebiam sua equipe; b) da noção de problema e de miniprojeto propriamente dito; c) da noção de atendimento e foco no cliente, apresentados a seguir. a. Modelo mental de sua equipe EAD UNIFACVEST 111 Aprendizagem baseada em projetos Duas questões foram fundamentais na análise dos relatos: primeiro, a mudança de modelo mental do gestor; segundo, por consequência, a mudança de modelos mentais em suas equipes de trabalho. Um dos modelos mentais que mais se transformou, no transcorrer do desenvolvimento dos miniprojetos, foi o de equipe. Os gestores apresentavam uma visão de que suas equipes eram passivas, desinteressadas e que dificilmente poderia lhes ser atribuída maior autonomia. Havia uma atitude de desconfiança em relação a sua equipe de trabalho, fazendo com que centralizassem as informações. Outro modelo mental identificado foi de que a forma como estavam gerindo até aquele momento suas equipes trazia resultados, “por que mudar?”. Ocorria uma certa rigidez em utilizar as mesmas técnicas de gerenciamento de equipes para obtenção de resultados ou para resolução de problemas, uma vez que obtinham resultados. Com o desenvolvimento de miniprojetos, estes modelos foram se transformando, foram sendo reconstruídos. Isto foi impulsionado pelo compartilhamento de modelos mentais com seus colegas no desenvolvimento dos miniprojetos, em sala de aula, e no compartilhamento de com suas equipes de trabalho, no dia a dia. Estes aspectos repercutiram no modo de gestão da equipe. O gestor passou a descentralizar, atribuir maior responsabilidade à equipe, compartilhar informações e gerar indicadores de acompanhamento de desempenho. Os gestores, além de compartilhar as informações, reexaminaram algumas questões sobre ações disciplinares junto a sua equipe e estabeleceram uma relação de maior confiança, autonomia e responsabilidade assumida. Isto ocorreu porque houve mudança de atitude do gestor em relação à equipe, ampliação de sua capacidade de escuta das necessidades da equipe. b. Modelo mental de problema e o desenvolvimento de miniprojeto Na medida em que, principalmente no Call Center, as metas vinham sendo atendidas e, na área comercial, muitas eram superadas, os gestores entendiam que em pouco precisariam modificar suas práticas de trabalho. Na ocasião, sua atenção estava voltada para a captação de novos clientes demandada pela nova direção da empresa. A justificativa de que a falta de tempo não lhes permitia rever processos e práticas de trabalho ou estabelecer algum tipo de planejamento, reforçado pelos bons resultados, os levava a crer que os problemas não poderiam ter outro tratamento além do atual. Identificar, analisar e planejar o tratamento de um problema, ou seja, ter algum método que sistematizasse seu tratamento e auxiliasse na tomada de decisão era, na opinião dos entrevistados, desnecessário. Contudo, no desenvolvimento dos miniprojetos, diversos gestores modificaram esta percepção, mudaram seu modelo mental evidenciando, em alguns casos, a adoção de maior flexibilidade no tratamento das situações-problema. Diversos gestores mostraram-se resistentes e incrédulos, no momento inicial, à necessidade de desenvolver miniprojetos e seus impactos no desempenho. Ao final do trabalho, esta crença havia sido modificada. O miniprojeto, além de ser veículo para o desenvolvimento de competências gerenciais, permitiu a conexão de conteúdos teóricos abordados durante as disciplinas do curso EAD UNIFACVEST 112 Aprendizagem baseada em projetos e, inclusive, perceber o gerenciamento de equipe como uma forma de gestão viável. c. Modelo Mental de Atendimento e Foco no Cliente Além da mudança que já ocorrera no atendimento, a unificação das ilhas de atendimento no call center – a situação de aquisição da Telefonia por outra empresa intensificou a necessidade de obter melhores resultados, consequentemente, a revisão da noção de “foco no cliente”. Naquele momento, sua visão era obter maior número possível de clientes para incrementar e atingir os resultados solicitados pela organização, predominando a preocupação “quantidade de clientes” De acordo com alguns gestores, o desenvolvimento dos miniprojetos permitiu alterar a visão de cliente e rever a questão do atendimento. De um atendimento passivo passaram a desenvolver uma atitude de abordar o cliente para venda e as formas de negociação foram aperfeiçoadas. Interessante que alguns gestores conseguiram perceber o próprio ciclo de aprendizagem experiencial em suas equipes de trabalho. (Entrevistado 6) – “A postura do atendimento ao cliente está sendo refletida pelas participantes de uma forma mais crítica. Sabemos que este é um exercício cíclico, pois constantemente temos que reforçar conceitos e eles são mais facilmente compreendidos quando vivenciados” […]. Houve mudança na postura da área de Marketing, buscando reduzir seu distanciamento do cliente e tornar-se mais orientada para o mercado, aproximando-se das estratégias da empresa. Na captação de clientes, deixaram de buscar apenas quantidade e adotaram estratégias que permitissem o predomínio da visão de qualidade – clientes não somente rentáveis em curto prazo, mas em longo prazo. Em diversos casos, a explicitação e a revisão de modelos mentais passou ou levou a reconsiderar processos e procedimentos, como o ter desencadeado questionamentos sobre o formato dos registros de atendimentos atuais e melhor entendimento das necessidades dos atendentes e dos clientes internos. Nesta oportunidade, não ocorre apenas o repensar processos e procedimentos, mas é necessário repensar a própria forma de lidar com a questão “falta de tempo”, utilizada como justificativa para a não realização de mudanças ou reflexões sobre suas práticas de trabalho, ou, até mesmo, a postura de querer obter resultados imediatos, sempre em curto prazo. Em diversos casos, a explicitação e a revisão de modelos mentais levaram os gestores a reconsiderar processos, procedimentos e resultados. Enquanto elementos interdependentes, foi possível identificar a contribuição da mudança de modelos mentais para a ocorrência de aprendizagem do gestor e sua relevância para o desenvolvimento de competências. Evidenciou-se que a fase de criação de conceitos concretizara-se quando os gestores expressaram um modelo mental compartilhado através do diálogo contínuo, sob a forma de reflexão coletiva nos trabalhos em sala de aula e junto a sua equipe de trabalho. O modelo mental tácitocompartilhado foi verbalizado em palavras, frases e cristalizado em conceitos explícitos e na atitude e na ação dos gestores (Nonaka; Takeuchi, 1997). Isto foi acompanhado do desenvolvimento de alguma competência do gestor. EAD UNIFACVEST 113 Aprendizagem baseada em projetos Quando os modelos mentais foram, explicita e ativamente compartilhados, a base de significados comuns expandiu-se e a capacidade para uma ação eficaz e coordenada aumentou (Kim, 1993, p. 13). Isto ficou visível nos relatos e resultados obtidos com os miniprojetos e o desenvolvimento de competências, apresentados no Quadro 20-3. Essa base de conhecimento organizacional serviu como fonte rica e relevante para a formulação da estratégia organizacional e a tomada de decisões (Duncan; Weiss, 1979), a exemplo da aproximação que ocorreu entre as áreas de Marketing e Atendimento do Call Center. Aqui se destaca um aspecto fundamental: as ações e decisões derivam de mo delos mentais que repercutiram no processo de aprendizagem e no desenvolvimento de competências gerenciais e, consequentemente, terão impacto nas ações e no desempenho da organização. O estudo evidencia que, para o aprendizado ser significativo, deve avançar em dois níveis (Kim, 1996). No nível operacional, o aprendizado evidenciou-se no aperfeiçoamento de comportamentos ou métodos (compartilhar informações, estabelecer indicadores, avaliar resultados dos exemplos relatados), a fim de melhorar o desempenho de determinados sistemas da empresa pesquisada. A noção de aprendizado conceitual diz respeito à mudança dos modelos mentais sobre como o mundo funciona, como reformular um problema num contexto diferente e investigar suas implicações (por exemplo, reformulação da crença de quantidade versus qualidade de clientes). CONSIDERAÇÕES FINAIS Além de serem identificadas as competências gerenciais desenvolvidas durante os cursos e sua relação com as competências organizacionais, em resposta às questões de pesquisa, evidenciaram-se os seguintes achados: a. Ocorreu a articulação entre prática e teoria, através da realização dos miniprojetos, valorizando a abordagem da aprendizagem experiencial/na ação e a apropriação de competências pelos gestores. b. As práticas de trabalho, se associadas ao ambiente de ensino, contribuem para o desenvolvimento de competências. c. A relevância da mudança de modelos mentais no desenvolvimento de competências e no processo de aprendizagem individual e grupal. d. A possibilidade de articulação do processo de conversão e criação de conhecimento à aprendizagem na ação pela realização de projetos. e. A aprendizagem gerencial é um processo de natureza social, emancipatória, que envolve a representação interna do gestor (autoconhecimento) e sua ação social (conhecimento do outro, viabilizando o desenvolvimento de suas competências. f. Historicamente, o gerenciamento de projetos foi visto como uma estrutura organizada de várias equipes espalhadas pela empresa e empregadas independentemente. Porém, quando são associadas às características de aprendizagem experiencial para transformá-lo em “aprendizagem por EAD UNIFACVEST 114 Aprendizagem baseada em projetos projeto” é que este sistema possibilita o desenvolvimento de competências do gestor e da equipe. Não só auxilia os gestores a transferirem suas competências e a compreensão de contextos, como também lhes apresenta diferentes estratégias para realizar essas conexões. A proposta em análise, que promoveu a criação e a implementação de projetos, desenvolveu nos gestores capacidade: a. de transferir o que aprenderam de um contexto para o outro e a consolidação de seus próprios conhecimentos; b. de empenharem-se em processos de conhecimento organizacional e no desenvolvimento de competências. Ela contribuiu igualmente para a geração de algum de conhecimento em suas equipes. Nesta formação, baseada na exploração e na apropriação de competências, percebe-se que ocorre estímulo à “capacidade de descoberta” do gestor, reorientando o domínio das competências da organização para o indivíduo. Outro aspecto relevante é a autonomia exigida ao gestor em seu processo de aprendizagem. A oportunidade de identificação e escolha das competências a serem desenvolvidas e os caminhos por ele selecionados para seu desenvolvimento (tendo como veículo o projeto) foram fundamentais para que assumisse a responsabilidade por sua própria formação e, portanto, de autonomia como protagonista deste processo de aprendizagem. A inter-relação entre formação, educação e trabalho deve centrar-se mais na aprendizagem. Se a intenção é, sobretudo, auxiliar o gestor a desenvolver capacidade de transferir competências e compreensão de diversas situações, são necessários contextos de aprendizagem que explorem e chamem a atenção para isso. Como se pode constatar, essa transferência exigiu processos de revisão e reflexão crítica. A reflexão organizada sobre o que se aprendeu e o que será necessário aprender para o futuro pode servir como ponte entre as práticas de trabalho, a aprendizagem e entre as competências que se deseja desenvolver. A investigação realizada e sua respectiva análise permitem dizer que a formação se dá pelo percurso profissional e também por intermédio de processos e interações formais e informais, no contexto em que o indivíduo está inserido, sendo viável uma combinação da formação com aspectos profissionalizantes. Esta noção converge para a ideia que o desenvolvimento de competências é um processo individual e coletivo. As competências tornaram-se coletivas no âmbito das equipes ou da empresa pesquisada. Identificou-se a natureza social do processo analisado. O contexto é uma complexa trama de referências (intercâmbio de informações, ideias, etc.) que, a longo prazo, pode auxiliar a configurar o saber dos indivíduos e determinar uma arquitetura social para este saber. Compreendido deste modo, o contexto em que ocorre a aprendizagem pode ou não criar equilíbrio dinâmico entre o saber/teoria e saber- fazer/prática (Sellin, 2003). É através desta estreita interdependência ou coprodução de conhecimento teórico-prático que as competências podem ser desenvolvidas. A alternativa de atividades acadêmicas conjuntas às organizações mostrou-se oportunidade, espaço e laboratório para a experimentação de novas ideias, modelos e práticas voltados para a realidade das empresas brasileiras, oxigenando-as. EAD UNIFACVEST 115 Aprendizagem baseada em projetos Tangencialmente, acredita-se que o estudo atribui luz e contribui, mesmo que minimamente, para reduzir a pouca atenção conferida aos microprocessos de aprendizagem e às interações dos indivíduos em pequenos grupos, nos estudos sobre o fenômeno da aprendizagem nas organizações e geração de conhecimento, seja pelos resultados obtidos, seja por ter considerado sua natureza processual ao tratar como ocorre esta articulação. Por outras vias, instiga e descortina possibilidades para a continuidade desta investigação. QUESTÕES PARA REFLETIR 1. Como você estabeleceria a diferença entre compartilhar modelos mentais e compartilhar significados para construção de uma realidade (a partir da leitura deste capítulo e do Capítulo 3)? 2. Que aspectos podem ser considerados mais relevantes no desenvolvimento de projetos e sua articulação com a aprendizagem nas organizações? 3. Existe alguma etapa, no desenvolvimento de projetos, que você entende que seja crucial para que ocorram processos de aprendizagem? 4. Quais aspectos podem ser considerados obstáculos para o processo de aprendizagem dos integrantes de um grupo que está desenvolvendo projetos? REFERÊNCIAS ARGYRIS, C. On organizational learning. 2nd ed. Oxford: Blackwell, 1999. DEWEY, J. Democracy and education. New York: Macmillan: 2000. DUNCAN, R.; WEISS,A. Organizational learning: Implications for organizational design. In: CUMMINGS, L. L.; STAW, B.M. (Ed.). Research in organizational behavior. Greenwich: JAI Press, 1979. p. 75-123. KIM, D. H. 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EXERCÍCIOS 1) A aprendizagem na ação requer __________________, que busca não somente explorar as instruções explícitas e as diretrizes disponíveis no local de trabalho, mas também os processos tácitos invocados pessoalmente pelos gestores, como eles resolvem os problemas de gerenciamento diário. A) Epistemologia de prática. B) Prática. C) Teoria. D) Competências. E) Estratégias. EAD UNIFACVEST 117 Aprendizagem baseada em projetos 2) O que é conhecimento explícito? A) É a forma de linguagem estruturada e sistemática. B) É uma forma sistemática de linguagem. C) É o componente de conhecimento que não é facilmente relatado, na medida em que está profundamente vinculado à ação e implicado em contexto específico. D) É a forma de linguagem informal e sistemática. E) É uma forma de linguagem formal e sistemática. 3) Dewey apresenta duas conclusões importantes sobre o processo de aprender pela experiência, entendidas como relevantes para o estudo do desenvolvimento de projetos ao ciclo de aprendizagem experimental. Quais são elas? A) - A prática é principalmente um fazer ativo-passivo, não é principalmente cognitivo. - A medida do valor de uma experiência está na percepção das relações e na continuidade para as quais conduz. B) - A experiência é principalmente um fazer ativo-passivo, não é principalmente cognitivo. - A medida do valor de uma experiência está na reação das relações e na continuidade para as quais conduz. C) - A experiência é principalmente um fazer passivo, não é principalmente cognitivo. - A medida do valor de uma experiência está na reação das relações e na continuidade para as quais conduz. D) - A experiência é principalmente um fazer ativo-passivo, não é principalmente cognitivo. - A medida da competência de uma experiência está na percepção das relações e na continuidade para as quais conduz. E) - A experiência é principalmente um fazer ativo-passivo, não é principalmente cognitivo. - A medida do valor de uma experiência está na percepção das relações e na continuidade para as quais conduz. 4) De que forma a aprendizagem ocorre? A) Pela reflexão na experiência. B) Pela percepção na experiência. C) Pela metodologia empregada. EAD UNIFACVEST 118 Aprendizagem baseada em projetos D) Pelo processo de interação. E) Pela prática. 5) Há dois níveis de atividade nos quais se aprende pela ação e pelo trabalho. Quais são esses níveis? A) Aprendizagem em nível individual e aprendizagem em nível coletivo. B) Aprendizagem em nível colaborativo e aprendizagem em nível coletivo. C) Aprendizagem em nível organizacional e aprendizagem em nível coletivo. D) Aprendizagem em nível individual e aprendizagem em nível tácito. E) Aprendizagem em nível conceitual e aprendizagem em nível coletivo. EAD UNIFACVEST 119 Aprendizagem baseada em projetos GABARITO DOS EXERCÍCIOS UNIDADE I: Questão Resposta 01. A 02. E 03. B 04. C 05. E UNIDADE II: Questão Resposta 01. E 02. C 03. D 04. B 05. E UNIDADE III: Questão Resposta 01. C 02. B 03. A 04. A 05. A UNIDADE IV: Questão Resposta 01. A 02. A 03. A 04. A 05. A UNIDADE V: Questão Resposta 01. D 02. C 03. B 04. E 05. A EAD UNIFACVEST 120 Aprendizagem baseada em projetos Capa: Núcleo de Produção EAD Unifacvest Imagem da capa: Copyright © 2010-2022 Freepik Company | Imagem livre de Direito Autoral Centro Universitário Unifacvest © 2022 - Todos os direitos reservados.