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Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 2 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Sumara Luiz Bento Ferreira Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ---------------------------------------------------------------------------- 06 MÓDULO I- Introdução a Avaliação Psicopedagógica ------------------------- 07 O que é avaliação e intervenção Psicopedagógica------------------------------------07 Sobre as dificuldades de aprendizagem escolar---------------------------------------09 Como estruturar uma avaliação psicopedagógica ------------------------------------11 Primeira consulta, Anamnese, EOCA, Vínculo terapêutico e Análise da Hipótese Diagnóstica --------------------------------------------------------------------------------------13 Funções executivas e atenção--------------------------------------------------------------15 Ferramentas avaliativas: instrumentos da Psicopedagogia, Testes de rastreio do Autismo e de TDAH ----------------------------------------------------------------------------17 MÓDULO II- Avaliação a Intervenção Psicopedagógica-------------------------- 21 Psicopedagogia Clínica- Introdução aos aspectos básicos do Diagnóstico Psicopedagógico -------------------------------------------------------------------------------21 Principais Transtornos e síndromes que podem causar desafios/dificuldades de aprendizagem: Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia, TDAH, TPAC e TOD------------------------------------------------------------------------------------------------24 Principais Transtornos e Deficiência: Transtorno do Espetro Autista- TEA, Transtornos Desintegrativos e Deficiência Intelectual --------------------------------33 Diagnóstico Operatório - Provas Piagetianas ------------------------------------------ 37 Teoria da Epistemologia Convergente (Jorge Visca)----------------------------------42 Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 4 Instrumentos e técnicas Projetivas na avaliação Psicopedagógica -----------------46 Ferramentas: Instrumentos, escalas e técnicas Psicopedagógicas para Avaliação dos Aspectos Educacionais e Funções Executivas ---------------------48 Instrumentos de Avaliação e intervenção para Consciência Fonológica --------53 Avaliação dos Aspectos Psicomotores, coordenação motora ampla e fina, coordenação visomotora, lateralidade, esquema corporal, orientação temporal e espacial e sequência lógica; Habilidades adaptativas e Atividades de Vida Social e autônoma- AVAS e Aspectos Emocionais, afetivos e comportamentais-------55 O uso do lúdico no processo de avaliação e intervenção psicopedagógica -----59 Avaliação e proposta de intervenção para crianças com Transtornos Funcionais Específicos: TDAH, TPAC e TOD ---------------------------------------------------------61 Avaliação e proposta de intervenção para crianças com Transtorno Funcionais Específicos: Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia --------------------------67 Avaliação e Intervenção Psicopedagógica em crianças com diagnóstico de Deficiência Intelectual -------------------------------------------------------------------------69 Avaliação e Intervenção Psicopedagógica no Transtorno do Espectro Autista- TEA -----------------------------------------------------------------------------------------------71 Intervenção com atividades de Ginástica Cerebral ----------------------------------75 Proposta de Intervenção Psicopedagógica para o Atendimento e orientação da Família -------------------------------------------------------------------------------------------79 Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 5 Elaboração do Parecer/ Informe Psicopedagógico -----------------------------------81 Devolutiva e Encaminhamentos -----------------------------------------------------------85 MÓDULO III: PRÁTICAS PSICOPEDAGÓGICAS -----------------------------------87 1-Clínica -----------------------------------------------------------------------------------------87 O primeiro contato com o paciente e sua família --------------------------------------87 Anamnese (qual a melhor anamnese para a sua demanda?)-----------------------88 Como elaborar a avaliação Psicopedagógica: Quais ferramentas: testes e instrumentos utilizar? --------------------------------------------------------------------------89 Como estruturar e realizar a EOCA? ------------------------------------------------------90 As estratégias interventivas para as demandas comportamentais, desenvolvimento e aprendizagem----------------------------------------------------------92 2-Educacional: ---------------------------------------------------------------------------------94 Avaliação e Intervenção no contexto escolar, observação no contexto escolar e principais testes no processo de avaliação ----------------------------------------------94 Elaboração do PEI -----------------------------------------------------------------------------96 O trabalho do Atendimento Educacional Especializado- AEE, Adequação Curricular e Inclusão ---------------------------------------------------------------------------98 Mediação junto a Equipe Escolar e atuação em casos de violência, bullying e evasão escolar---------------------------------------------------------------------------------103 3-Hospitalar:-----------------------------------------------------------------------------------104 A atuação e papel do Psicopedagogo no contexto hospitalar e humanização da saúde--------------------------------------------------------------------------------------------104 O processo de aprendizagem no contexto de internação e práticas psicopedagógicas----------------------------------------------------------------------------105 Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 6 4-Empresarial:-------------------------------------------------------------------------------107 Atuação e papel do Psicopedagogo no contexto organizacional e os diversos setores de trabalho -------------------------------------------------------------------------107 Avaliação e intervenção no comportamento, habilidades sociais, cognitivas, inteligência emocional e psicopatologias----------------------------------------------109 Programa de Transição---------------------------------------------------------------------110 CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------------111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------113 ANEXOS ---------------------------------------------------------------------------------------117 Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 7 1. APRESENTAÇÃO Diante a pandemia da Covid-19 no Brasil e no mundo, no qual em praticamente todos os lugares as aulas presenciais foram suspensas e muitas crianças e adolescentes ficaram estudando de forma remota por meio de aulas síncronas e assíncronas, provavelmente teremos um aumento significativo de crianças e adolescentes que poderão ser encaminhadas para o processo de avaliação psicopedagógica. E foi pensando também nessa possibilidade que acreditamos a importância de promover um curso de avaliação eintervenção psicopedagógica, observando que muitas crianças e adolescentes não conseguiram acompanhar as aulas de forma remota e apresentaram dificuldades e defasagem de aprendizagem ao retornar as aulas presenciais. Importante pensar nessa lacuna que existe e nas possibilidades de sanar as dificuldades que irão aparecer. Essa apostila tem como objetivo apresentar a vocês os principais tópicos relacionados com a avaliação e intervenção psicopedagógica. O primeiro módulo é uma introdução ao processo, no qual realizei a definição de avaliação e intervenção psicopedagógica, sobre as dificuldades de aprendizagem, como estruturar uma avaliação, a primeira consulta, as funções executivas no processo de aprendizagem, e os principais instrumentos avaliativos. O segundo módulo, é apresentado o passo a passo de uma avaliação, trazendo os principais autores da área. Trouxemos os principais transtornos funcionais específicos e síndromes, Epistemologia Convergente, Provas operatórias, principais ferramentas, testes e escalas. Acredito que esse módulo está muito completo e irá instrumentalizar você a realizar uma avaliação e intervenção psicopedagógica de qualidade. O terceiro módulo, trouxemos as práticas psicopedagógicas, na área clinica que é a mais conhecida, seguida da Educacional/ Escolar, a Hospitalar e por fim Empresarial/ Organizacional. Aproveitem esse material que foi preparado com muito planejamento, esmero, carinho e qualidade. E vamos juntos aperfeiçoar a nossa prática profissional. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 8 MÓDULO I- INTRODUÇÃO A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA O que é avaliação e intervenção psicopedagógica A psicopedagogia é um campo de conhecimento em que a psicologia e a pedagogia interagem, com objetivo de facilitar o processo de ensino- aprendizagem. Nesse sentido, a psicopedagogia é a ciência que permite investigar a pessoa e o seu ambiente nas várias etapas de aprendizagem que abarca a sua vida, seja os desafios e dificuldades apresentadas, e também as potencialidades. Sendo a Psicopedagogia uma ciência que visa estudar a aprendizagem em suas diferentes relações e circunstâncias, ela se ocupa do processo de aprendizagem e suas variações e da construção de estratégias para a superação do não-aprender, tendo como um de seus focos principais a autoria do pensamento e da aprendizagem (PICETTI &MARQUES, 2016). Cabe salientar que a Psicopedagogia visa compreender o ser aprendente como um todo, entendendo todas as dimensões da pessoa em seus distintos processos: cognitivos, afetivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos, psíquicos e pedagógicos. Dessa forma para conhecer os desafios e dificuldades de aprendizagem do estudante e suas potencialidades e com isso elaborar estratégias de intervenção é preciso realizar a avaliação psicopedagógica. A avaliação psicopedagógica é o processo no qual visa investigar as relações do estudante com o conhecimento e os seus vínculos com a aprendizagem, procurando considerar os aspectos emocionais, sociais e cognitivos. De acordo com Weiss (2012), o diagnóstico psicopedagógico, nada mais é que um processo de investigação, uma pesquisa, do que não vai bem com a pessoa em relação ao que se era esperado. É o esclarecimento de uma queixa, que pode ser do próprio estudante, da família e em sua maioria da escola. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 9 Importante destacar que, na avaliação psicopedagógica a intenção é obter a compreensão global da forma de aprender e dos desvios que pode estar acontecendo nesse processo. De acordo com Sampaio (2018), a avaliação psicopedagógica é como montar um grande quebra-cabeças, pois conforme vai se encaixando as peças, vai se descobrindo o que tem por trás dos sintomas que a pessoa apresenta. As peças do quebra cabeça vêm do próprio estudante, da família, da escola, e a forma de montá-las, depende de quem está conduzindo a avaliação, no caso, o psicopedagogo, pois precisa levar em consideração todos os aspectos objetivos e subjetivos observados nos diversos âmbitos: cognitivo, familiar, pedagógico e social. Após todo o processo de avaliação, em que o psicopedagogo já tem a visão global da pessoa, a sua contextualização na família, na escola e no seu meio social, elabora-se um documento contendo todas as etapas do processo, com a intenção de apresentar tudo o que foi realizado, investigado e quais os encaminhamentos a realizar e um desses pode ser a intervenção psicopedagógica, como pontua Weiss (2012). A intervenção psicopedagógica tem como objetivo auxiliar o estudante nos seus desafios e dificuldades de aprendizagem apresentados durante o processo de avaliação, por isso para cada pessoa é preciso criar plano de intervenção, baseado no que é preciso intervir. A intervenção psicopedagógica visa por meio de atividades escolhidas e direcionadas pelo psicopedagogo contribuir no processo de ensino aprendizagem da pessoa e mediar a relação do aprendente com a construção do saber. Durante as intervenções podem realizar atividades tanto pedagógicas como lúdicas. Importante salientar que, a avaliação e intervenção psicopedagógica pode ser realizada por profissionais com especialização na área da psicopedagogia, seja psicólogo, pedagogo ou de outra formação, mas que tenha a experiência e o conhecimento para tal. E muitos perguntam: somente criança e adolescentes que podem ser avaliados? A reposta é não. Muitos adultos também procuram o profissional de Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 10 psicopedagogia para avaliação e até mesmo intervenção. Adultos esse que tiveram um histórico de dificuldade de aprendizagem quando criança, ou até mesmo adultos que procuram conhecer como aprendem e como melhorar seu desempenho nos estudos. Sobre as dificuldades de aprendizagem escolar Boa parte das famílias que procuram pela avaliação psicopedagógica de uma criança, de um adolescente e até mesmo de um adulto, percebem que estes apresentam ou apresentaram alguma dificuldade de aprendizagem escolar. Geralmente o profissional de psicopedagogia é procurado pois, a escola observou que a criança ou adolescente apresenta desafios e dificuldades de aprendizagem que para a sua faixa etária já teriam sido vencidas. Em outros momentos percebem desafios comportamentais que também estão contribuindo para a não aprendizagem. Por vezes, o professor relata que a criança apresenta uma linguagem oral com trocas de fonemas, ou que ainda não consegue escreve o seu prenome. Outros percebem uma agitação motora e dificuldade no processo de alfabetização. Alguns adolescentes apresentam desafios na atenção e concentração para concluir as atividades. E muitas vezes acontece de os pais também perceberem esses desafios e confirmar com o professor da criança ou adolescente. E acontece ainda de alguns médicos perceberem durante uma consulta que a criança apresenta um olhar fugaz, estereotipias, dificuldades de socialização e interação com seus pares. Mas antes de falar sobre o que dificuldade de aprendizagem escolar, precisamos saber o que é aprendizagem e temos muitos teóricos que trazem o conceito de aprendizagem diante a perspectiva de sua teoria. De um modo geral aprendizagem pode ser considerada como o resultado de uma organização dos esquemas mentais desenvolvidos em diferentes estágios com influência do ambiente, assimilação dos valores culturais e demais Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 11 aspectos funcionais, conceituada como a capacidade de compreender, conhecer e observar as informações obtidas(CHIARELLO, 2019). No entanto a aprendizagem e formas de aprender vem sendo estudadas ao longo de muitos anos e as teorias clássicas como Comportamentalismo, Cognitivismo, Humanismo e Teoria Sócio-Histórica são as mais conhecidas quando estudamos a psicologia da aprendizagem ou do desenvolvimento. Para os comportamentalistas, aprender implica mudanças no comportamento, destacando as teorias do reflexo, associacionista, Behaviorismo de Watson e o Behaviorismo de Skinner (BARBOSA, 2015, p.16). Já no cognitivismo busca entender a ocorrência dos processos mentais durante a aprendizagem. Os cognitivistas entendem que se aprende a partir da construção do conhecimento e a base do cognitivismo está na cognição, dando ênfase aos processos da mente, percepção e compreensão, como retrata bem Piaget. O Humanismo, tendo como representante Carl Rogers, destaca que aprender leva a autonomia e auto- realização do ser. Tem a atenção voltada para o ensino centrado no aluno e a sua principal preocupação é o crescimento pessoal. E a teoria Sócio-Histórica de Lev Vygotsky, Luria e Leontiev, destacando a influência das questões culturais, históricas e sociais as quais agem diretamente na aprendizagem do indivíduo, nesta perspectiva a mediação é uma atividade indispensável para a aprendizagem do aluno. Diante das abordagens descritas cada uma procura investigar como a aprendizagem acontece e também passam a perceber quando ela não ocorre e então passam a investigar os motivos. Sendo assim as dificuldades de aprendizagem podem acontecer por vários motivos: por uma desordem ou disfunção neurológica, causada por lesões cerebrais, desenvolvimento inadequado do cérebro ou desconformidade química. Ou as dificuldades surgem a partir de obstáculos encontrados no processo de ensino-aprendizagem causados pelos fatores externos, metodologias inapropriadas, conflitos pessoais e diferenças culturais, como pontua Chiarello (2019) em seu artigo. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 12 E é no ambiente escolar que percebe as dificuldades de aprendizagem de crianças e de adolescentes. E também é nesse ambiente que os transtornos de aprendizagem se tornam mais evidentes. Sendo que é nesse momento que muitas crianças recebem diagnósticos de Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção- TDAH, Dislexia, Discalculia, Disgrafia, Disortografia, Transtorno do Processo Auditivo Central- TPAC, Transtorno do Espectro Autista- TEA, Transtorno Opositor Desafiador- TOD e Deficiência Intelectual. Transtornos que falaremos mais adiante. Enfim, as dificuldades de aprendizagem escolar são um dos maiores motivos para os encaminhamentos de avaliação e intervenção psicopedagógica. Como estruturar uma avaliação psicopedagógica Para a realização da avaliação psicopedagógica é preciso estruturar e criar um roteiro para que aconteça da melhor maneira possível a partir da queixa que foi levada até o psicopedagogo. Importante destacar que, a forma de realizar a avaliação psicopedagógica, depende da postura teórica adotada. Aqui vou apresentar duas teorias mais conhecidas de estruturar e realizar uma avaliação. De acordo com Weiss (2012) para iniciar o processo de avaliação é importante que o psicopedagogo tenha claro dois grandes eixos: o eixo horizontal que se explora o presente, a contextualização da queixa atual, centrada nas causas que coexistem temporalmente com o sintoma. E o eixo vertical, que é o histórico, no qual se busca a construção geral da pessoa, procurando contextualizar em vários momentos. Nesse sentido, Weiss (2012) inicia a avaliação utilizando os seguintes instrumentos: Entrevista Familiar Exploratória Situacional (EFES), Entrevista com toda família, incluindo pais e irmãos, (anamnese), Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), as sessões lúdicas centradas na aprendizagem (em crianças), provas e testes diversos, de acordo com a necessidade, entrevistas com equipe da escola ou outros profissionais Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 13 envolvidos, depois elabora a Síntese Diagnóstica e entrevista de Devolução e encaminhamentos. Porém, na linha teórica da Epistemologia Convergente de Jorge Visca, a avaliação inicia-se por uma consulta inicial de cunho contratual com os pais e ou responsáveis, para explicar todo o processo, depois segue para a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), testes e provas diversos de acordo com a necessidade, Anamnese que visa nesse momento, conhecer toda a história da pessoa, posteriormente a elaboração do informe e por fim a devolutiva e encaminhamentos como destaca Sampaio (2018). Pode ser perceber que a diferença entre as duas propostas está na escolha de quando será realizada a Anamnese. A Epistemologia Convergente acredita que ao realizar a Anamnese logo no início do processo avaliativo pode “contaminar” o psicopedagogo e fica-se preocupado com os indícios já relatados. Já a outra abordagem não percebe problema em já conhecer tudo sobre a pessoa que estará em avaliação (SAMPAIO, 2018). É muito importante destacar, que esta diferença não vai alterar o resultado da sua avaliação e nem tem pouco irá prejudicar o seu trabalho, o importante é você seguir a estrutura que escolheu para desempenhar a sua avaliação. Sobre a quantidade de sessões para o processo de avalição, depende muito do que precisa ser avaliado, geralmente a avaliação acontece em 10 sessões, sendo a primeira sessão a entrevista com os pais ou responsáveis para firmar o contrato, a segunda para Anamnese ou a EOCA (conforme sua base teórica), da terceira até a sétima sessão, a aplicação de provas operatórias, projetivas e provas pedagógicas, se necessário, oitava sessão (a Anamnese no caso da Epistemologia Convergente) e nona e décima sessão a devolutiva e encaminhamentos. O principal é que você enquanto pessoa que está avaliando a criança, o adolescente ou até mesmo o adulto, tenha um plano estruturado de avaliação. Procure sempre fazer um específico para cada paciente e de forma que você consiga realizar todo processo dentro de um período satisfatório. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 14 Primeira consulta, Anamnese, EOCA, Vínculo terapêutico e Análise da Hipótese Diagnóstica O passo inicial para iniciar o processo de Avaliação Psicopedagógica é a primeira consulta com que será avaliado, com os pais ou responsáveis. Nessa primeira consulta o profissional em psicopedagogia ouvirá a queixa inicial, e irá explicar como será todo o processo. É na primeira consulta que se estabelece o contrato com a família, o valor das sessões, caso realizado em uma clínica, a quantidade de sessões, o tempo determinado de cada sessão, a frequência, se será uma vez por semana ou mais. Nesse contato é importante destacar que para a avaliação acontecer da melhor maneira possível é preciso dedicação também por parte da família, sendo assim é preciso não faltar, chegar no horário combinado, explicar para a pessoa que vai passar pela avaliação, principalmente as crianças, sobre a ida dela às sessões, avisar com antecedência se não puder comparecer. Caso queira formalizar tudo que foi acordado, é interessante ter um contrato impresso, com todas as explicações e cláusulas para que sempre possa ser consultado por ambos. Lembrando: a primeira consulta é o momento dos pais ou responsáveis e até mesmo de quem será avaliado tirar todas as dúvidas e entender todo o processo. Procure explicar da melhor maneira como se fosse para você. No primeiro encontro além do contrato também será realizada a Entrevista Familiar Exploratória Situacional (EFES), de acordo com Weis (2012), tem comoobjetivo a compreensão da queixa nas dimensões familiar e escolar, captar as relações e as expectativas familiares centrada na aprendizagem escolar, a expetativa em relação ao psicopedagogo, a aceitação e o comprometimento da pessoa que será avaliada e também de sua família. Nesse momento procure criar um clima de confiança, demonstre que a sua intenção é de fazer o melhor trabalho possível e que você tem conhecimento do que irá ser feito. Nessa entrevista é importante que estejam os pais ou responsáveis e a criança ou adolescente. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 15 Após a primeira consulta com todos os esclarecimentos e dúvidas sanadas, iniciado o vínculo terapêutico com a criança ou adolescente e a família, o próximo passo é a Anamnese. A Anamnese é uma entrevista, com foco mais específico, é considerada como um dos pontos cruciais para um bom diagnóstico, visando coletar dados importantes sobre a história da pessoa na família, integrando passado, presente e projeções para o futuro, permitindo perceber a inserção deste na sua família e a influência das gerações passadas neste núcleo e no próprio. Na anamnese, são levantados dados das primeiras aprendizagens, evolução geral da pessoa, história clínica, história da família nuclear, história das famílias materna e paterna e história escolar (WEISS, 2012). Mais a frente detalharemos sobre a Anamnese. Em seguida o psicopedagogo dará início ao atendimento individualizado com a criança ou adolescente em que seguira para a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem- EOCA. A EOCA é a primeira entrevista realizada com a criança ou adolescente no processo de avaliação psicopedagógica, e o seu objetivo é investigar os vínculos que ela possui com o objetos e conteúdos da aprendizagem escolar, observando a suas defesas, as condutas evitativas e como enfrenta novos desafios. Isto é, perceber o que a criança e adolescente sabe fazer e o que aprendeu a fazer (SAMPAIO, 2018). A EOCA é uma proposta de Jorge Visca, e tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem da pessoa. E no qual se deve observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a serem verificados em outros momentos do diagnóstico, que são: A temática, a dinâmica e o produto feito pela pessoa. Vamos explicar melhor sobre a EOCA, mais adiante, aqui é só uma breve introdução. É a partir da EOCA que se pode extrair o primeiro sistema de hipóteses, por meio das observações realizadas, procurando levar em consideração a dinâmica, a temática e o produto. Depois da análise de Hipóteses Diagnóstica é possível separar os testes e provas que serão utilizados no processo de avaliação, de acordo com a sua faixa etária, que veremos mais adiante com todas as explicações. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 16 Esses são os primeiros passos da avaliação psicopedagógica, em outra aula falaremos de forma detalhada sobre todos os processos. Funções executivas e atenção No processo de avaliação psicopedagógica é de suma importância ter conhecimento das funções executivas e atenção, pois faz parte do processo de aprendizagem do indivíduo. Por isso faz-se necessário a definição das funções executivas e atenção para melhor compreensão. Funções executivas constituem um conjunto de habilidades que são fundamentais para o controle consciente e deliberado sobre ações, pensamentos e emoções. Elas possibilitam a pessoa gerenciar diferentes aspectos da vida com autonomia, isto é, tomar decisões com independência e responsabilidade. É possível considerar três dimensões das funções executivas que, apesar de distintas, são interligadas. São elas a memória de trabalho, o controle inibitório e a flexibilidade cognitiva (COSTA, et al, 2016). A Memória de trabalho, permite armazenar, relacionar e pensar informações no curto prazo. Sem essa capacidade, por exemplo, o indivíduo não se lembraria do que estava fazendo após ser interrompido. O Controle inibitório, possibilita controlar e filtrar pensamentos, ter o domínio sobre atenção e comportamento. Conseguir ler um texto, mesmo na presença de barulhos incômodos, é um exemplo de uso dessa habilidade. E a Flexibilidade cognitiva, permite mudar de perspectiva no momento de pensar e agir, e considerar diferentes ângulos na tomada de decisão. Por exemplo, essa capacidade é fundamental para o indivíduo perceber um erro e poder corrigir (COSTA, et al, 2016). Considera-se que a partir das três dimensões, ou componentes principais das funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva), são construídas as funções executivas de ordem superior, que envolvem a capacidade de raciocínio, solução de problemas e planejamento. Além disso, as três dimensões, das funções executivas são essenciais para a construção de diversas habilidades fundamentais para a autonomia individual, Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 17 como criatividade, perseverança, cooperação, respeito mútuo, disciplina e flexibilidade (COSTA, et al, 2016). Outra função cognitiva que precisamos avaliar e que é importante no processo de aprendizagem é a Atenção, que consiste num processo cognitivo que permite escolhermos um estímulo relevante e, em consequência, dar-lhe uma resposta. Esta habilidade cognitiva é uma função essencial no nosso dia a dia. Nesse sentido a atenção não pode ser reduzida a somente um aspecto, pois deve ser entendida por meio dos seus subsistemas componentes, que por vezes são evidenciados em função da demanda de uma tarefa (MENEZES et al., 2012). Existem vários estudos sobre a atenção e a literatura cientifica nos traz a separação entre a atenção de orientação voluntária e atenção de orientação involuntária ou automática. Sendo que a atenção voluntária ocorre intencionalmente, está ligada as motivações e interesses, enquanto que a involuntária ocorre mediante eventos inesperados no ambiente e o indivíduo não é o agente de escolha da sua atenção (MENEZES et al., 2012; LIMA, 2005). Mas também existe outra subdivisão da atenção, baseada na maneira como ela operacionalizada que são: seletiva, sustentada, alternada e dividida. A atenção seletiva é a capacidade de o indivíduo privilegiar determinados estímulos, ignorando os estímulos distratores ou irrelevantes. A atenção sustentada é a capacidade de o indivíduo manter o foco atencional em determinado estímulo e sustentar por um período de tempo de modo consistente. A atenção alternada é a capacidade de alternar o foco atencional entre duas ou mais tarefas. E a atenção dividida é a capacidade de desenvolver duas tarefas simultaneamente (MENEZES et al., 2012; LIMA, 2005). Diante de toda explicação para a avaliação de funções executivas, em muitos momentos avaliam-se também a atenção. Atualmente existem muitos testes e baterias para avalição das funções executivas e atenção. Falaremos de alguns testes que podem ser utilizados, como o Teste de Atenção por Cancelamento, para crianças e adolescentes de 5 a 14 anos e Teste de Torre de Londres para crianças e adolescentes de 11 a 14 anos. No entanto sabe-se que existem vários testes psicológicos que podem ser utilizados no processo de avaliação psicopedagógica, e também na avalição Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 18 neuropsicológica, porém cabe salientar que estes testes só podem ser aplicados por psicólogos conforme dispõe o Art. 13 da lei 4.119/62 e amparado pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo. Alguns testes que podem ser utilizados no processo na avaliação psicopedagógica como: WISC-IV- Escala de Inteligência Wechsler para crianças,Figuras Complexas de Rey, Neupsilin, entre outros. Porém nesse curso não veremos esses testes específicos. Ferramentas avaliativas: instrumentos da Psicopedagogia, Testes de rastreio do Autismo e de TDAH. Sabe-se que para a avaliação psicopedagógica faz o uso de vários instrumentos e testes, nesse tópico falaremos de alguns principais que podem ser utilizados nesse processo. Importante destacar que as provas e testes devem ser selecionados de acordo com a necessidade diante as hipóteses formuladas nas entrevistas com a família e na EOCA. Segue abaixo os instrumentos, testes e provas utilizados: INSTRUMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA Os instrumentos da psicopedagogia auxiliam o psicopedagogo a identificar dificuldades e desafios de fala, leitura ou escrita, bem como dificuldades psicomotora e visomotoras. A identificação do que não está bem por meio dos testes psicopedagógicos permite que profissional elabore o plano de intervenção mais apropriado para utilizar na clínica, na escola e junto aos pais. Provas Operatórias Piagetianas Consiste em provas que foram desenvolvidas por Jean Piaget para auxiliar na compreensão do funcionamento das habilidades lógicas do indivíduo, permitindo investigar e identificar o nível cognitivo, bem como atrasos em relação a idade cronológica (ALVES, et al, 2021). De acordo com Sampaio (2018), é por meio das provas operatórios que enquanto profissionais teremos condições de Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 19 conhecer o funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas da pessoa. Pois uma criança com dificuldades de aprendizagem poderá ter uma díade cognitiva diferente da idade cronológica. As provas operatórias piagetianas são classificadas em provas de conservação, classificação, seriação e mensuração espacial. São treze provas operatórias, a saber: Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos; Conservação de superfície; Conservação dos líquidos; Conservação de Massa; Conservação de Peso; Conservação de Volume; Conservação de Comprimento; Mudança de Critério (Dicotomia); Inclusão de Classes; Intersecção de Classes; Seriação de Palitos; Combinação de Fichas e Predição, como destaca (ALVES, et al,2021). O objetivo da utilização das provas piagetianas é identificar o estágio de desenvolvimento da criança, bem como seu nível de desenvolvimento cognitivo, não se importando com o erro ou acerto das respostas. O primeiro nível, expressa que a criança não compreendeu os conceitos avaliados. O segundo nível refere-se àquelas crianças que apresentam respostas incompletas, que alcançaram parcialmente êxitos nas respostas. Já o terceiro nível é quando as respostas foram dadas com êxito e argumentações claras (SAMPAIO, 2018). Existe no mercado kit prontos para aplicação de provas operatórias, porém você pode construir o seu de acordo com as suas possibilidades. Teremos no curso uma aula específica para explicitar melhor sobre as Provas Operatórias de Piaget. Outros instrumentos e testes que podem ser utilizados na avaliação psicopedagógica: IAR- Instrumento de Avaliação do Repertório Básico para a alfabetização, que é um instrumento de auxílio para os educadores que atuam com crianças da faixa pré-escolar (5-6 anos) e do primeiro ano do Ensino Fundamental. CONFIAS – Consciência Fonológica Instrumento de Avaliação Sequencial é um instrumento que tem como objetivo avaliar a consciência fonológica de forma abrangente e sequencial. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 20 TDE – Teste de Desempenho Escolar: é um instrumento que busca oferecer de forma objetiva uma avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais especificamente da escrita, aritmética e leitura. Teste de Competência de Leitura: Sampaio (2018) sugere, o Teste de Competência de Leitura que consiste no teste no qual entrega-se ao sujeito um texto e observa-se a velocidade da leitura. TCLPP - Teste De Competência de Leitura De Palavras e Pseudo: Visa avaliar a competência de leitura silenciosa de palavras isoladas. TESTES DE RASTREIO DO AUTISMO M-CHAT: teste de rastreio recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, em caso de suspeita de TEA. Para crianças de 16 a 30meses de idade. CARS- Escala de Avaliação de Autismo na Infância: questionário também utilizado por profissionais da área da saúde, em crianças a partir de 2 anos. ATA – Escala de Avaliação de Traços Autísticos: busca averiguar a possibilidade de presença de autismo em crianças, a partir e 2 anos de idade, parecido com o CARS Ao longo de pesquisas, observa-se que existe vários testes de rastreio para traços de autismo. Porém vamos nos ater a somente esse três, que falaremos também na aula referente a Avaliação e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista- TEA. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 21 TESTE DE RASTREIO DE TDAH: SNAP –IV: questionário que pode ser preenchido pela família e também pelo professor da criança ou adolescente. ETDAH- pais - Escala de Avaliação de comportamento infanto- juvenis no TDAH em ambiente familiar: avalia os comportamentos de crianças e adolescentes no ambiente familiar. ETDAH- CriAd- Escala de Auto avaliação do TDAH: versão para crianças e adolescentes: a própria criança ou adolescente se auto avaliam em relação a atenção, hiperatividade/impulsividade. ASRS 18: questionário de rastreio para adultos, muito parecido com o SNAP-IV e é autoaplicável. Na aula referente a avaliação e intervenção dos transtornos funcionais abordarei sobre melhor sobre os instrumentos. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 22 MÓDULO II - Avaliação a Intervenção Psicopedagógica Nesse módulo será abordado modelos de avaliações e sugestões de intervenções Psicopedagógicas que podem ser realizadas em sua prática clínica, desde avaliação de crianças, adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem, até daqueles que já possuem diagnóstico. Psicopedagogia Clínica- Introdução aos aspectos básicos do Diagnóstico Psicopedagógico O processo de Avaliação psicopedagógica até o seu fim tem um longo percurso. Na maioria das vezes o momento inicial é a queixa, isto é, o motivo para que se realize a avaliação psicopedagógica e o término acontece com a devolução para aqueles que a solicitaram. Muitas vezes a queixa para avaliação vem da família da criança e adolescente ou até mesmo da própria pessoa quando já é adulta. Pode vir também do médico que realiza o acompanhamento. Mas no caso de crianças e adolescentes também pode vir da escola, seja do professor que tem o contato direto com o aprendente ou da coordenação pedagógica. Algumas queixas são bem conhecidas como: “ Meu filho não aprende nada”, ou “ Em sala de aula parece estar em outro lugar, voando”, ou “ essa criança não para quieta um segundo”, ou “ não compreendo nada do que ele fala”, ou “ ele me desafia em sala de aula”, ou ainda “ ela lê, mas não consegue escrever, as frases dela não têm sentido”. Dentre outra muitas queixas que aparecem nesse primeiro momento. A questão é que a queixa é somente uma frase falada no primeiro contato, por isso precisa ser escutada ao longo da avaliação e procurar refletir com o olhar diferenciado para o significado que ela traz. Em muitos momentos, a família repete o mesmo que a escola apontou como queixa, ou a suspeita do médico, como destaca Weiss (2012). No processo de avaliação é preciso buscar pela unidade, coerência e integração com a intençãode evitar que vire uma “colcha de retalhos”. “É Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 23 importante percebe o sintoma, que é o que emerge da personalidade em interação social em está inserido o sujeito” (WEISS, 2012, p.31). Por isso na avalição clínica é preciso segundo Weiss (2012), observar dois eixos o horizontal, que a visão do presente, o aqui e agora e o vertical que é a visão do passado, da construção do sujeito. No eixo horizontal realiza a contextualização que permite evidenciar o aqui e agora e nesse eixo utiliza-se os seguintes instrumentos: Entrevista com a família (exploratória), a EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem, Sessões Lúdicas, provas, testes diversos, diagnóstico operatório, entrevista com professores da criança ou adolescente e até mesmo análise de documentos e materiais produzidos na escola. Já no eixo vertical, que busca a construção histórica do indivíduo, pode- se usar, a entrevista de anamnese, com a família, e também com a escola, além de laudos, relatórios escolares, álbuns de fotografia, entre outros. Como Weiss (2012) destaca que o objetivo básico da avaliação psicopedagógica é de identificar os desafios básicos no modelo de aprendizagem da pessoa que o impedem de crescer na aprendizagem no nível esperado. O Modelo de aprendizagem é um conjunto dinâmico que estrutura os conhecimentos que o sujeito já possui, quais estilos utilizados nessa aprendizagem, a mobilidade e o funcionamento cognitivos, as modalidades de aprendizagem assimilativa e acomodativa e suas distorções, os hábitos adquiridos, as motivações presentes, as ansiedades, o vínculo da pessoa com o conhecimento, o que significa a aprendizagem para o sujeito, a sua família e até mesmo a escola. E quando nesse processo de avaliação o profissional consegue perceber, analisar e compreender o modelo de aprendizagem da pessoa avaliada, e com isso permite refletir sobre os desafios e dificuldades apresentados com a integração dos dados é que surge o Prognóstico e também o conteúdo para a devolução da avaliação. É importante salientar que o processo de avaliação psicopedagógica já pode ser considerado também uma intervenção junto a pessoa avaliada, a família e até mesmo a escola. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 24 Destaco ainda que muitos preocupam-se com quais instrumentos utilizar, se precisa utilizar todos os instrumentos oferecidos, mas adianto a vocês que não precisa aplicar todos os instrumentos disponíveis, por isso é de muita importância o planejamento da avaliação e das intervenções. Pois o trabalho se torna fiel quando de fato seguimos o planejamento. Falo isso por experiência profissional. E por onde começar a avaliação? Comece recebendo a queixa e seguindo as sugestões que aqui serão apresentadas. Como saber que instrumentos eu vou precisar utilizar em cada caso? Ao longo das aulas a seguir falarei dos instrumentos que poderão ser utilizados em cada caso. Aqui vou explicitar uma sugestão de sequência diagnóstica para o seu planejamento, pois a avaliação é composta de vários momentos, claro que dependendo de cada caso e claro que no decorrer da avaliação essa sequência pode ser modificada. Pois a avaliação não é imutável. Sequencia diagnóstica proposta por Weiss (2012): 1- Entrevista Inicial para recebimento da queixa principal e contrato com a família; 2- Entrevista Familiar Exploratória Situacional; 3- Entrevista de Anamnese; 4- Sessões Lúdicas Centrada na aprendizagem (para crianças ou até mesmo adolescentes); 5- Provas e testes (quando necessário); 6- Síntese Diagnóstica; 7- Entrevista de Devolução e Encaminhamentos Porém pode acontecer outras modificações ao longo da avaliação, podendo incluir também a EOCA, conforme proposta de Jorge Visca (1987) baseado na Epistemologia Convergente, sendo que a EOCA acontece logo após o contato inicial com a queixa. No módulo I falei um pouco sobre a primeira consulta, a anamnese, a EOCA, e de como comumente pode acontecer a avaliação psicopedagógica. E Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 25 vou trazer o passo a passo especifico no módulo III em que falarei da prática da Psicopedagogia Clínica. Principais Transtornos Funcionais Específicos: Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia, TDAH, TPAC e TOD O presente tópico visa apresentar de forma objetiva e clara os principais Transtornos Funcionais Específicos que podem levar a desafios e dificuldades de aprendizagem. Na maioria das vezes a solicitação de uma avaliação psicopedagógica em pessoas que tem a suspeita de um Transtorno Funcional Especifico, vem do médico que acompanha, da escola ou até mesmo da família. Comumente a queixa da avaliação vem acompanhada de um discurso de que o indivíduo não aprende, não escreve, não realiza leitura, apresenta erros ortográficos grosseiros, apresenta-se desafiador, parece não compreender comandos e vários outros. Mas antes de definir os transtornos em questão. Tenho certeza que a pergunta é: Mas o que são Transtornos Funcionais Específicos? De acordo com o DSM-5, o transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão. Já o Classificação Internacional de Doenças-CID esclarece que a etiologia dos Transtornos de Aprendizagem não é conhecida, mas que há "uma suposição de primazia de fatores biológicos, os quais interagem com fatores não- biológicos". Os dois manuais informam que os transtornos não podem ser consequência de: Falta de oportunidade de aprender; Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 26 Descontinuidades educacionais resultantes de mudanças de escola; Traumatismo ou doença cerebral adquirida; Comprometimento na inteligência global; Comprometimentos visuais ou auditivos não corrigidos. Enfim, os transtornos funcionais específicos se configuram em um conjunto de sintomas que provocam uma série de perturbações na aprendizagem do estudante. Dentre os distúrbios de aprendizagem mais comuns estão: dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia - e transtornos de atenção e hiperatividade (CUSTÓDIO & PEREIRA, 2013). Além disso é considerado também o Transtorno do Processamento Auditivo Central – TPAC embora o Transtorno Opositor Desafiador- TOD, não seja um Transtorno Especifico Funcional, frequentemente nos deparamos com ele na clínica ou escola, por isso a proposta de falar um pouco sobre o assunto. Dislexia É uma específica dificuldade de aprendizado da linguagem: em leitura, soletração, escrita, em linguagem expressiva ou receptiva, linguagem corporal e social. Importante destacar que não é o resultado da má alfabetização, desatenção, condição sócio- econômica ou baixa Inteligência. É uma condição hereditária com alterações genéticas neurológicas (ACAMPORA, 2019; CUSTÓDIO&PEREIRA, 2013). Os principais sinais da dislexia são: a dificuldade de escrever, inversão de letras, leitura lenta no qual pronuncia uma sílaba por vez, troca de fonemas semelhantes como a letra b com a letra p ou até mesmo visualmente parecidos, como a letra q com a letra p (ACAMPORA, 2019). Geralmente a pessoa com dislexia tem aprendizagem dentro do esperado em outras disciplinas, porémpode ter apresentado atraso de fala, dificuldade com rimas na pré-escola, confusões temporal-espacial, desafios em relação a consciência fonológica, e dificuldade na relação entre letra (grafema) e som (fonema) como salienta Acampora (2019). Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 27 Disgrafia A Disgrafia é uma alteração da escrita ligada normalmente a problemas perceptivo-motores. Isto é, para escrever é necessário o desenvolvimento da coordenação visomotora, para que realize movimentos finos e precisos no desenho das letras (ACAMPORA, 2019). Também chamada de letra feia a Disgrafia ocorre devido a criança não conseguir recordar a grafia correta da letra. Ao tentar recordar a grafia, apresenta a sua escrita muito lenta e por vezes, ilegível. Essa deficiência em traçar a letra corretamente não significa que ela tenha algum déficit intelectual ou neurológico. Embora algumas crianças com disgrafia também possuam disortografia, essas não estão associadas (SAMPAIO, 2018). Disortografia A Disortografia caracteriza-se por troca de fonemas na escrita, aglutinação ou separação indevida das palavras, confusão com as sílabas, omissões de letras e inversões, dificuldades em perceber as sinalizações gráficas, coo parágrafos, acentuação e pontuação. É uma escrita com muitos erros e fica aparente logo a pessoa adquiriu os mecanismos da leitura e da escrita (ACAMPORA, 2019). As causas da Disortografia é as alterações na linguagem, como: um atraso na aquisição ou no desenvolvimento e a utilização da linguagem, com pobreza de vocabulário. Ela não compromete o traçado ou a grafia. Destaca-se que até o terceiro ano do Ensino Fundamental que as crianças façam rocas ortográficas pois a relação entre o fonema e a grafema ainda não estão sendo dominados por completo (ACAMPORA, 2019). Discalculia A discalculia é um distúrbio neurológico que afeta a habilidade com números. É um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, que se manifesta fazendo com que a pessoa confunda em operações matemáticas, conceitos matemáticos, formulas, sequencias numéricas, ao Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 28 realizar contagens, sinais numéricos e até mesmo na utilização da matemática no cotidiano (ACAMPORA, 2019). A pessoa com discalculia apresenta dificuldades em sequenciar números, compreender os sinais das quatro operações, lembrar os passos para realizar as operações, contar objetos e aprender a tabuada (CUSTÓDIO & PEREIRA, 2013). Acampora (2019), destaca que o distúrbio neurológico que provoca a Discalculia não causa deficiência mentais. TDAH- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade O TDAH é um transtorno neurológico. Sua origem é genética. Para a Associação Brasileira do Déficit de Atenção-ABDA é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos. O DSM-5 destaca que o TDAH com um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, que pode ser caracterizado pela combinação de Desatenção e Hiperatividade e Impulsividade. Para a pessoa que tem o diagnóstico fechado de TDAH, muitas vezes é preciso fazer uso de medicação. A medicação mais conhecida é a Ritalina, de curta duração, porém existem outras no mercado de longa duração como a Concerta, a Venvanse e pode utilizados outras medicações adjuvantes. Porém precisa se prescrita por um médico e ser acompanhado sistematicamente. No entanto, outras medidas e intervenções podem ser aliadas a pessoas com TDAH, veremos mais a frente sugestões de intervenção. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 29 Pessoas com o diagnóstico de TDAH se não acompanhadas podem apresentar complicações como: baixo auto estima, comportamento disruptivo, atraso e dificuldades de aprendizagens, desafios nas habilidades sociais, comportamento de oposição ou conduta, exclusão escolar, abuso de substâncias, alterações no comportamento, problemas emocionais e dificuldades acadêmicas. TPAC- Transtorno do Processamento Auditivo Central O Transtorno do Processamento Auditivo Central – TPAC pode ser descrito como uma dificuldade que o sujeito tem em lidar com as informações que chegam por meio da audição. É um transtorno funcional da audição, no qual o indivíduo detecta os sons normalmente, mas tem dificuldades em interpretá- los. Também pode ser considerado como uma dificuldade em processar a informação auditiva da forma correta (PEREIRA, 2018). O Transtorno do Processamento Auditivo Central costuma produzir dificuldades diárias no processo de comunicação oral, na leitura e escrita, incluindo o desempenho escolar e a compreensão da linguagem. Além dos prejuízos acadêmicos, é comum que esses indivíduos tenham algum tipo de dificuldade de adaptação social (PEREIRA, 2018). Segundo Pereira (2018), os sintomas comportamentais do Transtorno do Processamento Auditivo Central poderão apresentar-se com características diferentes entre os indivíduos, e esta diferença vai ocorrer dependendo da habilidade auditiva que esteja em déficit, ou dependendo do subtipo no qual foi classificado o TPAC. De acordo com Pereira (2018) existe vários autores que classificam os tipos de TPAC, os estudiosos Bellis (2002), Ferre (1997) e Sanchez (2013), classificam o TPAC em três subperfis primários e dois secundários, são eles: Subperfil primários do TPAC: Déficit de Decodificação Auditiva: Déficit de Prosódia ou não verbal: Déficit de Integração Auditiva: Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 30 Subperfil secundário do TPAC: Déficit de Associação Auditivo- Linguístico: Déficit de Organização de Saída/Resposta: Vamos exemplificar cada subtipo para que você entenda da melhor maneira de acordo com os autores citados por Pereira (2018): Déficit de Decodificação Auditiva: Solicitam a repetição da mensagem ou utilizam as expressões: Hã? O quê? Como? Durante a conversa. Tal fato ocorre porque a análise do sinal acústico está comprometida prejudicando a compreensão da mensagem recebida, ou seja, apresentam dificuldades em reconhecer e discriminar os sons, principalmente os da fala; Ex.: Mãe pergunta: Você viu a cola? Dificuldade de discriminação auditiva especialmente em ambientes ruidosos, ou seja, possuem déficit para ouvir na presença de ruído. Tempo de atenção auditiva reduzido, ou seja, em atividades que necessitam se manter por muito tempo escutando, sem outros estímulos visuais, por exemplo, se cansam com mais facilidade. Podendo ter um aprendizado deficitário pelo tempo da atenção auditiva ser reduzida; Déficit de Prosódia ou não verbal: Dificuldades em reconhecer ênfase, entonação, expressões de emoções e sentimentos daquilo que está sendo falado. Ou seja, tem dificuldade de compreender o subliminar da comunicação, por não entender o tom de voz do interlocutor. Desta forma, podem interpretar erroneamente a mensagem, pois não percebem se aquilo que está sendo falado é brincadeira ou agressão; Dificuldades de ler silenciosamente; Dificuldades em compreender piadas ou “a moral da estória”; Geralmentesuas maiores defasagens serão nas aulas de Cálculo, Geometria, Música e Artes. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 31 Déficit de Integração Auditiva: Necessitam de mais tempo para realizarem atividades que exigem a formulação e a execução de respostas. Por isto, muitas vezes são considerados mais lentos; Apresentam o processamento da informação mais lento, podendo “esquecer” ou não compreender parte da tarefa quando transmitida através de frases complexas, e em ordens seguidas. Por exemplo, lembrando somente as duas ou três últimas sentenças ou palavras faladas por outra pessoa; Podem apresentar dificuldades em acompanhar tarefas multimodais, ou seja, que utilizam a integração auditiva e visual, como por exemplo, o ditado, a anotação da explicação do professor, ou acompanhar a correção das tarefas; Dificuldades no ritmo, como por exemplo, em acompanhar o ritmo da música ou coreografia; Apresentam dificuldades em entender a ideia central da mensagem, do que está ouvindo ou lendo; Dificuldades para dar início a tarefas complexas, para mudar de uma tarefa para outra, e/ou para completar ou finalizar uma tarefa, isto quando é determinado um prazo/tempo; Déficit de Associação Auditivo- Linguístico: Dificuldades em compreender o que ouvem. Este sintoma aparece com mais frequência em sentença complexas e em sentenças que incluem várias formas temporais (antes, depois, primeiro, então), espaciais (sobre, dentro, fora, ao lado) e outros conceitos relacionados. Desta forma, podem solicitar a repetição da mensagem, ou utilizar as expressões: Hã?, O quê?, Não entendi!; Frequentemente só compreendem instruções simplificadas; Na escrita é muito comum apresentarem erros gramaticais, de pontuação e do emprego do tempo verbal; A grande maioria tem dificuldade em fazer sozinha qualquer tarefa acadêmica. Dificuldades na memória auditiva (responsável por toda a informação auditiva de curto prazo que recebemos do que está ao nosso redor); Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 32 Baixa habilidade em comunicação, apresentando déficit em vocabulário, semântica (significado) e sintaxe (na estrutura das palavras dentro da frase). Déficit de Organização de Saída/Resposta: Apresentar dificuldade para nomear rapidamente e resgatar verbalmente uma informação. Muitas vezes dizendo, por exemplo: “Como que é mesmo o nome daquela coisa que coloca no pão e que tem na geladeira” (porque esqueceu o nome da palavra manteiga); Alteração nas funções executivas (atenção sustentada e memória operacional ou de trabalho); Podem ser considerados bagunceiros ou desorganizados, por apresentarem dificuldades nas habilidades de organizar, sequencializar, planejar ou resgatar as informações adequadas para executar tarefas. Deixar atividades de sala de aula e/ou provas com questões incompletas ou sem resposta, ou esquecer de realizar alguma tarefa em sala de aula ou em casa que fora solicitada pelo professor; Pouca motivação para execução de tarefa e por consequência também podem comprometer o desempenho das atividades que são solicitadas tanto da escola, quanto em casa; Atenção: Para crianças e adolescentes que foram diagnosticados com TPAC, além da avaliação psicopedagógica ou neuropsicológica, devem ser acompanhados pelo profissional da fonoaudiologia e realizar o exame de PAC, no qual detecta se tem ou não o Transtorno do Processamento Auditivo Central. Muitas vezes, o indivíduo precisa da terapia de cabine, que se chama Terapia de PAC, na terapia de Processamento Auditivo Central, o profissional de Fonoaudiologia irá intermediar esse processo, realizando exercícios verbais e não verbais, dentro e/ou fora da cabine acústica, capazes de estimular o córtex cerebral e, utilizando a plasticidade cerebral do indivíduo, minimizar as dificuldades de compreensão de fala em ambientes gerais ou específicos. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 33 O profissional que realiza a avaliação psicopedagógica pode auxiliar em estratégias para lidar com os desafios do TAC, mas é o profissional de fonoaudiologia que melhor orientará a família da necessidade da realização de atendimento fonoaudiólogico para a reabilitação das habilidades auditivas que se apresentam em déficit, bem como encaminhará para outras avaliações ou acompanhamentos médicos e/ou terapêuticos dependendo de cada caso, como bem salienta Pereira (2018). TOD – Transtorno Opositor Desafiador O TOD se caracteriza por comportamentos desafiadores, irresponsável, agressivo, com dificuldades para assumir erros e responsabilidades, apresenta humor irritável e índole vingativa. Segundo Jorge, Ribeiro e André (2019), o TOD pode ainda apresentar as seguintes características: crueldade com animais ou crianças menores, destruição dos pertences de outra criança, crises de birra e de desobediência, condutas incendiárias e roubos. O Transtorno Opositor Desafiador não é considerado um transtorno de aprendizagem, visto que seus sintomas não afetam diretamente o processo de ensino aprendizagem, mas seu comportamento e atitudes dificultam o convívio social entre o aluno e todos ao seu redor, necessitando de regras bem definidas e respeitadas e da compreensão por parte dos professores que ele possui uma patologia e que suas especificidades devem ser trabalhadas como destacam os autores Jorge, Ribeiro e André (2019). Segundo a Classificação Internacional de Doenças, pode-se dizer que o TDO é caracterizado por ser um Transtorno de conduta que se manifesta habitualmente em crianças jovens, apresenta como características um comportamento provocador, desobediente ou perturbador e não acompanhado de comportamentos delituosos ou de condutas agressivas ou dissociais graves. Para que um diagnóstico positivo possa ser feito, o transtorno deve corresponder aos seguintes critérios gerais citados em F-91 (capítulo da classificação internacional de doenças que aborda e caracteriza os distúrbios de conduta), são eles: Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 34 Manifestações excessivas de agressividade e de tirania; Crueldade com relação a outras pessoas ou a animais; Destruição dos bens de outrem; Condutas incendiárias; roubos; mentiras repetidas; cabular aulas e fugir de casa; crises de birra e de desobediência anormalmente frequentes e graves. A presença de manifestações nítidas de um dos grupos de conduta precedentes é suficiente para o diagnóstico, mas atos dissociais isolados não o são. Portanto ainda segundo a Classificação Internacional de Doenças esta categoria deve ser utilizada com prudência, em particular nas crianças com mais idade, dado que os transtornos de conduta que apresentam uma significação clínica se acompanham habitualmente de comportamentos dissociais ou agressivos que ultrapassam o quadro de um comportamento provocador, desobediente ou perturbador. Por isso em algum momento poderá se deparar com uma criança com suspeita de TOD e precisará realizar uma avalição psicopedagógica. Principais Transtornos e Deficiência: Transtorno do Espetro Autista- TEA, Transtornos Desintegrativos e Deficiência Intelectual O presente tópico visa apresentar de forma objetiva e clara os principais Transtornos, Síndromes e Deficiência que podem levar a desafios e dificuldades de aprendizagem. TEA -Transtorno do Espetro Autista De acordo com DSM-5 o Transtorno do Espectro Autista é novo nome para categoria, que inclui transtorno autístico (autismo), Transtorno de Asperger,Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global ou Invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 35 Atualmente, os domínios para o TEA incluem deficiências na comunicação, na interação social, nos interesses restritos e nos comportamentos repetitivos. A chamada tríade autista (ACAMPORA, 2019). Agora o DSM-5 são realizadas distinções de acordo com a nível de gravidade à interação e comunicação: Nível 1- pouco dependente, nível 2- dependência moderada, nível 3- muito dependente. De acordo com o DSM-5, são esses os critérios de diagnóstico: A-Deficiências persistentes na comunicação e interação social: Limitação na reciprocidade social e emocional; Limitação nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para interação social; Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos, variando de dificuldades com adaptação de comportamento para se ajustar as diversas situações sociais. B-Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestadas pelo menos por dois dos seguintes aspectos observados ou pela história clínica: Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos ou fala; Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às rotinas ou padrões ritualísticos de comportamentos verbais e não verbais; Interesses restritos que são anormais na intensidade e foco; Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente C- Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do desenvolvimento. Eles podem não estar totalmente manifestos até que a demanda social exceder suas capacidades ou podem ficar mascarados por algumas estratégias de aprendizado ao longo da vida D- Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento atual do paciente. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 36 E- Esses distúrbios não são melhores explicados por deficiência cognitiva ou atraso global do desenvolvimento. Ainda de acordo com o DSM-5 no que se refere ao comprometimento da interação, enfatizam-se os prejuízos persistentes na comunicação e na interação social em vários contextos, e no que tange ao comportamento, citam-se padrões repetitivos e restritos dos comportamentos, interesses ou atividades, há referências à hipo ou hiper-reatividades a estímulos sensoriais ou a intenso interesse nos aspectos sensoriais do ambiente. O TEA pode se manifestar já nos primeiros meses de vida ou se apresentar após período inicial de desenvolvimento aparentemente normal seguido por regressão do desenvolvimento (autismo regressivo), o que ocorre em cerca de 30% dos casos diagnosticados. Também apresentam dificuldades sociais para compartilhar interesses, iniciar ou manter interações sociais; possuem dificuldades em compreender expressões faciais de sentimentos e afetos. Comportamentos estereotipados são observados (como bater palmas ou flapping – movimentar os braços como que batendo asas), os interesses são limitados, e há dificuldade em mudar rotinas, dentre outras alterações. Por isso é preciso conhecer sobre o TEA, pois provavelmente a criança com suspeita ou hipótese diagnóstica pode ser encaminhada pelo médico que acompanha para uma avaliação psicopedagógica. Transtornos Desintegrativos Os Transtornos Desintegrativos implicam na perda de funções e capacidade previamente adquirida pela criança e que a uma perceptível regressão. Para a realização do diagnóstico a perda deve ocorrer após dois anos de idade e antes dos dez anos e antes da regressão precisa ter o desenvolvimento claro das competências da linguagem, comunicação verbal, jogo, relações sociais e condutas adaptativas (ACAMPORA, 2019). Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 37 Nesse sentido, o critério para o diagnóstico é que deve haver a perda de pelo menos em duas destas cinco áreas (COLL, 2004, apud ACAMPORA,2019): 1- Linguagem Expressiva e Receptiva; 2- Competências Sociais e adaptativas; 3- Controle de esfíncteres vesicais e/ou anais; 4- Jogo; 5- Destrezas motoras Por isso, muitas vezes se faz necessário o processo de avaliação psicopedagógica. Deficiência Intelectual De acordo com o DSM-5 a Deficiência intelectual é um transtorno com início no período do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático. O DSM-5 caracteriza a Deficiência Intelectual em Leve, Moderada, Grave e Profunda. Para o diagnóstico é preciso preencher os seguintes critérios: Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência confirmado tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados. Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como: comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade. Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 38 Importante destacar que a avaliação da deficiência Intelectual não é somente psicopedagógica, neurológica ou neuropsicológica, precisa ser biopsicossocial, e realizada por uma equipe multidisciplinar, de acordo com a Lei nº 13.146/2015, precisa considerar: I- Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II- Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III- A limitação no desempenho de atividades; IV- A restrição de participação As causas da Deficiência Intelectual advêm de vários processos patológicos que afetam o funcionamento do sistema nervoso central que podem ser: hereditariedade (mutações genéticas); alterações no desenvolvimento embrionário; alterações cromossômicas (Síndrome de Down e outras síndromes, como o X- frágil); dano causado por toxinas durante a gestação (álcool, drogas); problemas na gravidez (infecção urinária); desnutrição fetal, prematuridade, hipóxia, traumas encefálicos; influencias ambientais e outros transtornos mentais, maus tratos quando bebê, falta de estimulação social, linguística e outras; Essas são os Transtornos e deficiências que a escola, os pais e até mesmo médicos podem solicitar avaliação psicopedagógica. Diagnóstico Operatório - Provas Piagetianas As provas operatórias são baseadas nas fases de desenvolvimento de Jean Piaget. A provas piagetianas pode auxiliar na compreensão do funcionamento das habilidades lógicas do indivíduo, permitindo investigar e identificar o nível cognitivo, bem como atrasado em relação a idade cronológica. Piaget dividiu o desenvolvimento humano em quatro estágios vividos de acordo com cada pessoa. Que são: sensório motor – até os dois anos de idade, nesse estágio a criança busca adquirir o controle motor e aprender sobre objetos físicos que o rodeia; o estágio simbólico ou pré-operatório – de dois a 8 anos de Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 39 idade, nesse estágio a criança busca habilidade verbal; o estágio operatório concreto- entre 7/8 anos a 11/12 anos de idade, nesse estágio a criança lida comconceitos abstratos, números e relacionamentos; o estágio operatório formal- de 12/14 anos a 15 anos, no qual a criança começa a ter raciocínio lógico e sistemático (OLIVEIRA, 2012). As provas operatórias ou piagetianas são classificadas em provas de conservação, classificação, seriação e mensuração espacial. São treze provas: Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos, Conservação de superfície, Conservação de líquidos, Conservação de massa, Conservação de peso, Conservação de massa, Conservação de peso, Conservação de volume, Conservação de comprimento, Mudança de critério (dicotomia), Inclusão de classes, Intersecção de classes, Seriação de palitos, Combinação de Fichas e Predição. Para aplicação das provas operatórias é preciso de muita atenção, para quem ainda não se sente seguro para aplicação, sugiro ter um roteiro de aplicação, você mesmo pode elaborar o seu roteiro, da melhor forma que convier. Sampaio (2018) destaca para aplicar as provas, deve-se aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão, para que não haja uma possível contaminação das repostas da pessoa. É interessante que alterne entre provas de conservação, classificação e seriação. É muito importante anotar as respostas do avaliado, até mesmo as reações, postura, falar, as reações diante o desconhecido, os seus argumentos e questionamento, como manipula os objetos, como organiza o material (SAMPAIO,2018). Para a avaliação, as respostas são divididas em três níveis, segundo Sampaio (2018): Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse domínio; Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento, conservam, em outro não. Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 40 Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção, sem vacilação. Atenção: Algumas crianças não obtêm êxito em apenas uma prova e apresentam acerto operatório nas demais. Porém isso não significa que ela esteja em defasagem. É preciso analisar o resultado geral das provas. Sampaio (2018) relaciona quais provas podem ser utilizadas na aplicação das provas operatórias: Seleção das provas operatórias para pensamento operatório concreto de acordo com a idade: 7 anos (seriação, conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos; conservação de massa; Conservação de comprimento; Conservação de superfície; Conservação de líquido; Espaço unidimensional); 8 a 9 anos (todos de 7 anos, mais quantificação de inclusão de classes, interseção de classe e Espaço bidimensional); 10 a 11 anos (todos de 8 anos, mais a conservação de volume) Seleção das provas para pensamento formal: acima de 12 anos, procure iniciar com conservação de volume, caso não consiga, aplique as provas de pensamento formal, caso ainda tenha dificuldade aplica as provas anteriores, depois aplique a combinação de fichas; permutação de fichas, predição espaço tridimensional. É sempre importante perguntar ao avaliado, após cada resolução de atividade, como ele sabe, peça para explicar como resolveu, com o objetivo de observar como o avaliado pensa e que argumentos utiliza. O avaliado pode conservar, mas também pode apresentar desafios em argumentar e explica como denota Sampaio (2018). Aplicação das Provas operatórias: De acordo com o que apresentamos, pode-se perceber que a aplicação das provas operatórias é extensa, por isso é preciso o roteiro, e também é preciso por dividir em etapas de aplicação. Não é recomendado aplicar tudo no Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 41 mesmo dia, procure dividir em sessões. Aplicar tudo na mesma sessão pode levar o avaliado a fadiga e a responder de forma aleatória, por já estar cansado. Vamos então para aplicação na prática, o roteiro de provas operatórias piagetianas elaborada pelo Professor Jefferson Baptista Macedo (2014) que se encontra bem didático e que pode ser utilizado incialmente. Depois de você poderá criar o seu próprio roteiro. É importante que você já tenha preparado todo o material para a avaliação, conforme venho enfatizando é preciso planejamento, para que tudo aconteça da melhor maneira possível. Segue um exemplo de aplicação de prova de conservação. Prova de conservação: Número: 10 fichas vermelhas e 10 fichas azuis Disponha sobre a mesa 6 a 8 fichas azuis (para a criança de 4 anos, usar 6 fichas), alinhando-as. Pedir à criança que faça outra fileira igual com as fichas vermelhas, dizendo: Faça outra fileira com as suas fichas e coloque a mesma quantidade como eu fiz com as azuis. Espere a criança realizar e depois faça o seguinte questionamento: você tem certeza que estas duas fileiras têm a mesma quantidade de fichas? Como você sabe disso? A preparação é finalizada quando a criança dá uma resposta positiva para o questionamento. Anote as repostas. Depois faça uma modificação na disposição das fichas de uma das fileiras, espaçando-as, de modo que uma fique mais comprida do que a outra, a faça o seguinte questionamento: E agora? As fileiras ainda têm a mesma quantidade (tanto) de fichas? Como você sabe disso? Se a resposta for negativa, pergunte: Onde tem mais? Como você sabe? Independente da resposta faça a contra argumentação. Como pode ser realizada a contra argumentação: Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 42 Conservação: Olha como esta fila é mais comprida do que a outras, será que aqui não tem mais fichas? Não- Conservação: Você se lembra que antes havia uma ficha em frente a outra? Retorno: Se arrumarmos as fichas como antes, as fileiras ficarão iguais? Posteriormente faça uma nova preparação: Faça um círculo com as fichas azuis e peça à criança para ajudar e fazer a mesma coisa com as fichas vermelhas de modo que fiquem idênticos. Anotar o que a criança fez e perguntar: Você tem certeza que os círculos têm a mesma quantidade? Há a mesma quantidade (tanto) de fichas vermelhas e azuis? Como você sabe? A preparação é finalizada quando a criança dá uma resposta positiva para o questionamento. Em seguida junte as fichas de um dos círculos e pergunte: E agora? Ainda há mesma quantidade de fichas azuis e vermelhas? Como você sabe disso? Agora faça a contra-argumentação: Conversação: Veja como os círculos são diferentes? Será mesmo que tem a mesma quantidade? Não- conservação: Você se lembra que antes havia uma ficha vermelha em frente a uma azul? Retorno: Se arrumamos os círculos como antes, eles serão iguais? Formação da Hipótese Diagnóstica: Possui Noção de Conservação de quantidade- afirma a igualdade da quantidade mesmo quando a correspondência ótica deixa de existir. Argumentações lógicas: De identidade: Colocamos a mesma quantidade, você somente espalhou; De Reversibilidade simples: Se esticar vai ficar igual Ellocursos Educacional e Profissional - contato@ellocursos.com.br - CNPJ: 40.090.634/0001-05 43 De Reversibilidade por reciprocidade: esta fileira é mais comprida porque as fichas estão separadas, mas a quantidade é a mesma. Não possui Noção de Conservação de Quantidade- Quando admite que a quantidade de um conjunto é maior ou menor, quando a configuração espacial é modificada; Transição: Algumas vezes admite e outras nega a conservação Diante desse exemplo, pode-se ter a avaliação da prova de conservação: Nível 1- Não conservador Nível 2- Transição Nível 3- Conservador Qual nível encontra-se a criança que avaliou: 1, 2 ou 3. E dessa forma, você pode proceder em todas as provas operatórias. Lembrando que é importante sempre anotar todas as observações.
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