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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL E SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS AULA 4 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Negociação de interesse público Olá! Nesta aula iremos identificar o que são interesses públicos em uma negociação, bem como a responsabilidade diante do coletivo e de um bem maior para nossa sociedade. Diferenciaremos diplomacia bilateral, multilateral e paradiplomática, assim como veremos também algumas peculiaridades macroambientais dos negócios internacionais, como exposto por Gustavo Iamin (2016), e da competitividade do Brasil no cenário internacional. Além disso, abordaremos algumas concepções de como negociar ao representar a sociedade civil organizada, como atuando em organizações não governamentais (ONGs). Esperamos que essa exposição possa auxiliar em sua formação profissional no âmbito da negociação. Portanto, os objetivos gerais de sua aprendizagem, nesse momento, são: identificar e compreender os principais conceitos da negociação pública; diferenciar os tipos de negociação: bilateral, multilateral e paradiplomática; e compreender a importância do interesse público como campo de atuação profissional em negociação. Bons estudos! TEMA 1 – RESPONSABILIDADE PÚBLICA Quando negociamos por uma cidade, uma nação ou instituições do governo e organizações internacionais (OIs), estamos definindo reflexos na vida pública, ou seja, interferiremos nos ganhos e nas responsabilidades de nossa comunidade. Cabe ao negociador, portanto, compreender que em suas mãos está a responsabilidade diante do interesse público – o bem comum. Vale a pena diferenciar espaço público de interesse público, em que o primeiro é onde as decisões e a política são formuladas e tomadas (em OIs, cafés, praças etc.). Já o segundo é o bem comum, ou seja, decisões e obrigações que serão benéficas (em maior ou menor grau) a todos os indivíduos pertencentes a uma dada comunidade. Quando negociamos no espaço público podemos representar determinados grupos políticos, mas também empresarias. Contudo, quando negociamos sobre e para o interesse público, devemos oferecer resultados favoráveis à sociedade em sua diversidade – e não apenas aos grupos detentores do poder na negociação. 3 TEMA 2 – MACROAMBIENTES DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Tanto nas negociações públicas quanto nas privadas, o cenário internacional interfere nas dinâmicas e em seus resultados. Os regimes internacionais, as OIs, as legislações nacionais, a economia, os blocos regionais de integração e outras dimensões interferem e recriam, constantemente, o macroambiente de negócios internacionais. Dessa forma, o macroambiente de negócios afeta tanto as empresas quanto os Estados, em suas negociações internacionais. Segundo Gustavo Iamin (2016), o macroambiente internacional possui dinâmicas próprias, diferentes das nacionais e que exigem do negociador uma observação cuidadosa sobre os rumos da negociação. É importante compreender toda essa gama de variáveis que interferem no cenário político, econômico e cultural das relações internacionais. Outro ponto importante é a capacidade de julgamento diante desse cenário, que pode mudar constantemente, de forma a alterar o sistema político-econômico; mas também há mudanças menores que ocorrem em determinadas regiões, como crises econômicas nacionais. Mudanças no setor privado podem interferir no setor público e vice- versa. Nesse sentido, destaca-se o papel do analista internacional, que contribuirá com as práticas da negociação internacional. Onde investir, como investir, quais parcerias acionar e como respaldar seus negócios no âmbito fora do seu tradicional são pautas a serem inseridas na preparação das negociações. A diversidade de legislações entre as nações exige cuidado e, por isso, é possível, em muitos casos, buscar referenciais nos regimes internacionais, como nos International Commercial Terms (Incoterms) da Câmara Internacional do Comércio, que tratam dos seguros logísticos entre mercados, ao redor do mundo. TEMA 3 – DIPLOMACIA BILATERAL, MULTILATERAL E PARADIPLOMÁTICA Ao negociar, em nível internacional, representando instituições públicas, é preciso saber se sua prática se enquadra em uma: 1. Negociação bilateral; 2. Negociação multilateral; ou 3. Negociação paradiplomática. A negociação bilateral é quando duas partes estão envolvidas sem intermediários; quando, por exemplo, países como Brasil e China firmam acordo de cooperação 4 técnica. A negociação multilateral é quando mais partes ou uma OI se envolvem na negociação; como, por exemplo, há definição de uma nova agenda ambiental na Conferência do Clima. Já a negociação paradiplomática ocorre quando um agente (supostamente) sem personalidade jurídica internacional cria uma agenda de ação e se relaciona com agentes externos em paralelo aos seus governos legítimos; como no caso do empréstimo pego pela cidade do Rio de Janeiro junto ao Banco Mundial, nos anos 2000. As dificuldades nas relações bilaterais se dão por terem apenas duas partes, ou seja, uma poderá ser mais forte do que a outra e impor suas posições de forma mais incisiva. Já as dificuldades da negociação multilateral são o tempo e custo prolongado até que todas as partes cheguem a um comum acordo. No caso da paradiplomacia, o grande desafio é a relação jurídica e política com governos nacionais que podem impedir a ação ou dificultar a atuação de governos subnacionais, no cenário internacional. Em alguns casos, fala-se de paradiplomacia empresarial, mas o termo em si requer muitos cuidados, predominando o uso do termo para a ação de cidades e outros governos de regiões subnacionais atuantes em negociações internacionais. TEMA 4 – BRASIL E COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL Sabemos que não são apenas empresas que competem entre si no mercado internacional. Muitos Estados, como os EUA, a China e o Brasil interferem nessas dinâmicas para favorecerem seus empresários com o interesse público de promover desenvolvimento interno. Na ótica de desenvolvimento por meio do comércio, muitas nações podem favorecer agendas diplomáticas comerciais, levando empresários nacionais e temas de comércio para pautas de encontros e cúpulas internacionais. O Brasil possui vantagens territoriais, recursos de mão de obra e desafios na logística internacional e custo burocrático. Da mesma forma, outras nações possuem suas vantagens e desafios, como a China, que possui grande mão de obra, mas se aproxima de cenários críticos de recursos naturais para alimentar sua produção industrial. Alguns dados são observados por Gustavo Iamin (2016), que apresenta as pautas comerciais internacionais de Alemanha, Brasil, China e EUA nos últimos anos. De modo geral, o Brasil ainda figura 5 como uma das economias mais importantes do mundo, especialmente no Hemisfério Sul. TEMA 5 – SOCIEDADE CIVIL A sociedade civil é compreendida como pública em certos critérios, mas pode agir com interesse privado em outras situações. ONGs, por exemplo, são, em sua maioria, iniciativas de grupos privados (pessoas com interesses em comum) de ação junto ao interesse público (defendendo causas sociais, ambientais etc.). Alguns tipos comuns de ONGs são: fundações; institutos; sindicatos; e associações. Cada tipo desses possui uma peculiaridade e função distinta, mas, de modo geral, se justificam em existir por seu comprometimento com interesses comunitários locais, regionais e até internacionais. As ONGs hoje sustentam duas grandes frentes de negociações: a defesa de sua agenda (em questões sociais ou ambientais, por exemplo); e a captação de recursos para o seu funcionamento. ONGs que atuam em questões ambientais precisam negociar diretamente com o interesse econômico (empresas e governos). Já ONGs que atuam em associações de moradores demandam mais de governos locais. A negociação,quando se faz parte de uma ONG, precisa se orientar pela defesa de uma causa de forma lógica, fazendo com que as partes compreendam a sua demanda. A confiabilidade é um critério importante nesse tipo de negociação. Portanto, é imprescindível a transparência na mesa de negociação, incluindo a financeira e a de elaboração e execução de projetos. Negociar por recursos demanda confiabilidade, enquanto que negociar a execução de projetos requer negociadores com domínio de alto nível técnico sobre os temas tratados. NA PRÁTICA Chegou o momento de fixar e praticar o conteúdo da aula visto até aqui. Para compreender um pouco mais a negociação de interesse público, tente exercitar a sua capacidade com a atividade a seguir: Identifique uma associação da sociedade civil (ONG); 6 Registre como essa ONG se apresenta para o público. Lembre-se de que a apresentação é um dos primeiros passos de comunicação em uma negociação; Avalie se ela lhe oferece confiabilidade; Se possível, busque um caso real de solução de conflito de interesses entre público e privado de que uma ONG de sua região tenha participado (controle de poluição, direitos humanos, trabalhistas etc.). Bom trabalho! FINALIZANDO Vimos que o interesse público não é apenas o da maioria da opinião pública, mas do bem comum para todos. Negociar pelo interesse público requer pensar também em fomentar a competitividade de nossas instituições privadas, como ocorre internacionalmente com o apoio dos Estados aos seus setores comerciais. Além disso, vale destacar as distintas modalidades de negociação, como a bilateral, a multilateral e a paradiplomática. Da mesma maneira, é importante ressaltar o atual papel das ONGs em negociações internacionais, tanto em busca de recursos, como na defesa de agendas de interesse público, como as ambientais e as de direitos humanos. Esperamos que a presente aula tenha contribuído para a sua melhor compreensão da esfera pública diante das negociações internacionais. Até a próxima aula! 7 REFERÊNCIAS IAMIN, G. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. VANIN, J. A. Processos da negociação. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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