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Planejamento Estratégico na Gestão Pública e Marketing Governamental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcelo Bernardino Araújo Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque • O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque · Conhecer os enfoques da análise política e do planejamento estratégico situacional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno(a)! Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre o Planejamento Estratégico Governamental. Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado, por favor, estude todos com atenção! É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Bons estudos! ORIENTAÇÕES O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque Contextualização Vivenciamos, em nosso país, uma crise política. Crise essa, de princípios, valores, bons costumes e que acaba influenciando a cultura, o ensino, a economia e também as estruturas familiares. Você sabe o que é uma crise político-econômica? Segundo Dias e Aguirre (1992), uma crise político-econômica é resultado de compromissos político-econômicos assumidos e de que estes imprimem uma determinada dinâmica desfavorável aos acordos implícitos nas reestruturações institucionais que poderiam permitir um redirecionamento da atividade econômica. Os recentes escândalos de corrupção nas estatais provocam desconforto tanto na sociedade, quanto nos investidores estrangeiros. Isso gera saída do capital estrangeiro do país; consequentemente, aumentam os níveis de desemprego, o endividamento das famílias, que consomem menos, gerando uma desaceleração da economia. Isso é denominado “efeito dominó” na economia. Leia o artigo intitulado “Crise tem efeito dominó no país” de 06/03/2016 do Jornal do Comércio para saber sobre o assunto. https://goo.gl/2Afs8c Ex pl or 6 7 O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque A Ciência Política e a Supervalorização do Político Você sabe o que é Ciência Política? Ciência Política, segundo Bonavides (1994), tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das ideias políticas, tanto no sentido teórico, como em sentido prático, referido ao passado, ao presente e às possibilidades futuras. A ciência política é pautada na legalidade dos sistemas políticos, que exprime basicamente a observância das leis, isto é, o procedimento da autoridade em consonância estrita com o direito estabelecido. Em outras palavras, traduz a noção de que todo poder estatal deverá atuar sempre em conformidade com as regras jurídicas vigentes. Portanto, a acomodação do poder que se exerce ao direito que o regula (BENEVIDES, 1994). O autor ainda afirma que a legalidade pressupõe o livre e desembaraçado mecanismo das instituições e dos atos da autoridade, movendo-se em acordo com os preceitos jurídicos vigentes ou respeitando a hierarquia das normas, que vão dos regulamentos, decretos, leis ordinárias, leis complementares até a lei máxima e superior, que é a Constituição Federal. Já a legitimidade tem exigências mais específicas, haja vista que levanta o problema profundo, ou seja, questiona sobre a justificação e dos valores do poder legal. Nesse sentido, a legitimidade é a legalidade acrescida de sua valoração. A legitimidade é, portanto, o critério que se busca menos para compreender e aplicar do que para aceitar ou negar a adequação do poder às situações da vida social que ele é chamado a normatizar e fazer obedecer. O processo de formulação e implementação de políticas públicas não é objeto de estudo no campo de pesquisa da Ciência Política (DAGNINO, 2012). As diversas teorias que tratam da relação entre Estado e sociedade ensinam que as decisões governamentais ocorrem por meio da consideração de variáveis externas: Por exemplo, na visão pluralista, é aquela que percebe o resultado do processo decisório (o conteúdo da política) como algo indefinido (em constante mudança), haja vista que é fruto de um ajuste acrescido das preferências de uma série de atores (governamentais e não governamentais) indiferentes do ponto de vista de seu poder político. Já na visão marxista, por exemplo, é aquela na qual o resultado (o conteúdo da política) como alguma coisa predeterminada pela estrutura econômica, haja vista que resulta da ação de um único ator. 7 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque Dagnino (2012) afirma que o problema da Ciência Política é de tipo investigativo, pois indica as razões contextuais que explicavam o caráter do que havia sido decidido. Seu foco é a política (politics) e não as políticas (policies), o sistema e o processo político (political process) e não o processo de elaboração de políticas (policy process). Importante! Segundo Souza (2006), as características das Políticas Públicas são: • A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz. • A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes. • A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras. • A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados. • A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo. • A política pública envolve processos subsequentes após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação. Em Síntese A Administração Pública e a Subvalorização do Conflito Conforme Dagnino (2012), a Administração Pública tem como premissa a separação entre o político (politics) e o administrativo (servidor burocrata); a separação entre o mundo da política (politics) e o das organizações (entidades de direito público e de direito privado); a separação entre a tomada de decisão e a implementação das políticas. O primeiro termo, no sentido de político desta divisão, era caracterizado pelo conflito de interesses e a discordância política que se manifesta na sociedade. Já o segundo, no sentido de mundo político, pela concordância técnica em torno de um interesse comum que se expressa no interior do aparelho de Estado, ou seja, se a implementação foi eficiente, não interessa nem como nem por que é decidida. Como se o primeiro fosse a sombra do segundo e, este, o segundo, uma simples consequência do primeiro. Dagnino (2012) destaca que diferentemente da Ciência Política, o problema da Administração Pública pode ser entendido, para marcar a diferença entre elas (politics), como de tipo operacional. Assim, o principal objetivo da Administração Pública era executar, do melhor jeito possível, segundo alguns critérios, como de otimização, abrangentes, incrementais e que não justificassem questionamentos seja de tipo político, seja socioeconômico das decisões tomadas pelos governantes. 8 9 Então, o processo decisório era frequentemente entendido como a expressão do desejo da maioria, numa estrutura político-social percebida como uma poliarquia (participação e oposição). O estudo do processo decisóriobem como da natureza conflitiva de sua implementação era, dessa maneira, desprezado. O fi lme “Selvagens em Wall Street” dirigido por Glenn Jordan conta a história verídica da batalha pela compra alavancada da RJR Nabisco ocorrida no fi nal dos anos 1980. Como a RJR, Nabisco era uma sociedade anônima de capital aberto, as partes interessadas tinham que fazer uma oferta de recompra de todas as ações da empresa presentes no mercado, a um valor bem acima do praticado. O que ocorre em situações como essa é um leilão, com as partes interessadas apresentando suas ofertas ao conselho da empresa e este decidindo qual das propostas aceitar. Ex pl or A Concepção Ingênua do Estado Neutro O conceito de Estado pode ter diversas conotações. É comum se confundir Estado com governo, ou ainda estado-nação com país, ou ainda com regime político e até mesmo sistema econômico. O Estado é uma parte da sociedade, ou seja, é uma estrutura política e organizacional que se sobrepõe à sociedade, ao mesmo tempo que dela faz parte. Já estado-nação ou país é a entidade política soberana constituída por uma população que habita um determinado território. Vimos, na seção anterior, a diferença entre a Administração Pública e a Ciência Política. Então, o estudo do Estado deve ser realizado sob a perspectiva da Administração Pública ou da Ciência Política? De ambas. Tanto a visão técnica, quanto a visão sociológica são necessárias para conhecimento e aplicação de uma adequada governabilidade. Segundo Dagnino (p. 70, 2012), “A Ciência Política, ao contrário, era entendida como uma perspectiva “de esquerda”, na medida em que iluminava as contradições de classe e permitia discernir a dominação e a exploração”. Portanto, nem a Ciência Política nem a Administração Pública consideram o processo de elaboração de políticas como problemático, o que levou à recuperação do desafio de compreensão colocado pela construção do “Estado Necessário” como extremamente difícil. A adoção indiferente da Administração Pública, no âmbito do aparelho de Estado, foi conformando e levou a uma concepção ingênua: a do Estado neutro. Entretanto, para a Ciência Política, a natureza do processo de elaboração de políticas e o seu resultado (atendimento às necessidades públicas) é decorrência das relações de poder existentes no contexto externo ao Estado, ou seja, é uma concepção que pode ser entendida, como mecanicista, ou ainda, uma espécie de determinismo social do processo de elaboração da política, bem como do conteúdo da política. 9 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque O Portal da Transparência do Governo Federal é uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU), lançada em novembro de 2004, para assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos. O objetivo é aumentar a transparência da gestão pública, permitindo que o cidadão acompanhe como o dinheiro público está sendo utilizado e ajude a fiscalizar. http://transparencia.gov.br/ Ex pl or Encontramos o conceito de “Estado neutro”, tanto no pensamento marxista, quanto no pensamento liberal. Em Dallari (2005), por exemplo, escreve que o Estado é uma “Ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em um território e cuja finalidade para os indivíduos e demais sociedades é fornecer os meios para atingir seus fins particulares, ou seja, o fim do Estado é o bem comum”. Quadro 1 – Diferença entre a teoria marxista e a teoria liberal de Estado Teoria marxista Teoria liberal Baseia-se na concepção de sociedade dividida em classes antagônicas e com interesses divergentes. Baseia-se na concepção feita pela burguesia nos diferentes momentos da história do capitalismo. Nega a ideia de um Estado neutro, voltado para o bem comum. Afirma que o Estado deve ser neutro e que está acima dos interesses das classes sociais. O Estado é visto como uma instituição política que representa os interesses de uma classe social dominante, que prevalece sobre o conjunto da sociedade. O Estado é visto como uma entidade que tem como objetivo a realização do bem comum, bem como o aperfeiçoamento do organismo social no seu conjunto. Fonte: Schumpeter (1961). Já os Mencheviques do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) de tradição marxista, durante a Revolução Russa de 1917, acreditavam que o Estado é um órgão que tornava possível a “conciliação de classes” e, por isso, defendiam que o seu partido deveria entrar e ocupá-lo e não o substituir como propunham seus adversários (Bolcheviques). Os debates e escritos dos séculos XIX e XX são ricos nessa polêmica sobre a possível neutralidade do Estado, sua finalidade e as possibilidades de reprimir ou servir-se dele tanto na tradição marxista, quanto na tradição liberal (IASI, 2001). Mas para compreendermos melhor o conteúdo, é preciso conhecermos, nesse ponto, o que é o poder. A origem da palavra poder, segundo Hillman (2001, p.103): Poder vem do latim potere (ser capaz), ela se define inocentemente como disposição para agir, fazer, ser. A capacidade de desempenhar um trabalho como energia elétrica e poder muscular. Na verdade, poder e energia são abstrações induzidas pelo desempenho do trabalho. Quando alguma coisa se move ou sofre uma mudança, nós postulamos e depois mensuramos a razão invisível dessa alteração como sendo energia ou poder. De maneira mais ampla, o poder seria definido como pura potência ou potencialidade – não o fazer, mas a capacidade de fazer. 10 11 O autor ainda destaca que os tipos mais comuns sobre a ideia de poder são: a liderança, a influência, a resistência, a autoridade, o prestígio, a tirania, o controle e a ambição. Já May (1981) define o poder como a capacidade de causar ou impedir mudança. Para ele, há duas dimensões do poder: como potencialidade ou como realidade. O autor ainda classifica o poder em cinco tipos diferentes: 1. explorador: consiste em sujeitar as pessoas a qualquer uso que elas possam ter para quem detém o poder. 2. manipulatório: é o poder sobre outra pessoa; pode ter sido originalmente provocado pela própria ansiedade ou desespero da pessoa. 3. competitivo: poder contra outrem. Em sua forma negativa, consiste em uma pessoa subir, não por causa de qualquer coisa que faz ou de qualquer mérito que tenha, mas porque o seu antagonista desce. Mas, positivamente, funciona como nos esportes, neutralizando o poder competitivo que poderia levar as nações a se engalfinharem em guerra. 4. nutriente: é o poder para o outro. Por exemplo: o que os pais normais dispensam a seus filhos. 5. integrativo: poder com a outra pessoa, ou seja, o meu poder apoia o poder do vizinho. Nesse sentido, Kich et al. (2012) identificaram, em uma pesquisa, num Laboratório Médico, que relações de poder viabilizam o Planejamento Estratégico, pois, uma vez que ele não conta com o apoio da coalizão dominante da organização, não conseguirá ser realizado, já que nem sempre os membros se envolvem por livre e espontânea vontade, mas pelo cumprimento de ordens vindas de seus superiores. Nesse contexto, a concepção de que o Aparelho de Estado (um conjunto de organismos que representam o poder de um Estado) seja um simples instrumento, neutro e capaz de atuar, a qualquer tempo, de forma a implementar políticas contrárias às premissas, tanto de manutenção, quanto de naturalização das relações sociais, por exemplo, de produção capitalistas que o geraram, pode levar a uma postura de voluntariado, tende a diminuir as dificuldades enfrentadas pelos governos esquerdistas (DAGNINO, 2012). O Enfoque da Análise de Política A Análise de Política surge, então, como área de pesquisa ligada à disciplina de Administração Pública. Nos anos 1960, os estudiosos de administração pública direcionavam seus estudos na análise organizacional,nos métodos quantitativos, mas não enfatizavam a questão dos valores e interesses que a Análise de Política sugeria como essencial para a Administração Pública. Para outros pesquisadores, contudo, a Análise de Política se estabelece por diferenciação/exclusão em relação à Ciência Política, em círculos a ela ligados (DAGNINO, 2012). 11 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque Bardach (1998) define a Análise de Políticas como um conjunto de conhecimentos proporcionado por diversas disciplinas das ciências humanas utilizado para analisar ou buscar resolver problemas concretos relacionados à política (policy) pública. Para Wildavsky (1979), a Análise de Política se utiliza das contribuições de uma série de disciplinas diferentes a fim de interpretar as causas e consequências da ação do governo, em particular, do processo de elaboração de políticas. Para esse pesquisador, a Análise de Política é uma subárea aplicada, cujo conteúdo não pode ser determinado por fronteiras disciplinares, mas sim por uma abordagem que pareça apropriada às circunstâncias do tempo e à natureza do problema. Nessa linha, Lasswell (1951), essa abordagem vai além das especializações acadêmicas existentes. Já conforme Dye (1966), a realização de uma Análise de Política implica em descobrir o que os governos fazem, por que fazem e a diferença que isto causa. Nesse caso, a Análise de Política é o detalhamento e a explicação das causas e consequências das ações governamentais. A priori, essa definição parece descrever o objeto da Ciência Política, tanto quanto o da Análise de Política. Entretanto, ao procurar explicar as causas e consequências da ação governamental, os cientistas políticos têm-se preocupado com as instituições e com as estruturas de governo, só há pouco registrando-se o deslocamento para um enfoque comportamental que é essência da Análise de Política. Ham e Hill (1993) ressaltam que, a partir da década de 1990, a política pública tornou-se um objeto importante para os cientistas políticos. E o que a distingue da Ciência Política é a preocupação de como o governo a faz. Assim, pode-se afirmar que as políticas públicas e os atores são envolvidos se utilizam da Análise de Política: 1. Por problemas de esferas públicas e política (politics); 2. Com processos e resultados de políticas sempre envolvem vários grupos sociais; e 3. Políticas públicas se constituem em objeto de disputa entre os políticos. Mas o que é Análise de Política? A Análise de Política é a orientação aplicada, socialmente relevante, multidisciplinar, integradora e direcionada para a solução de problemas sociais. A Análise de Política tem como característica sua natureza descritiva e normativa. Conforme Dagnino (2012), para que uma Análise de Política seja efetivada de maneira completa e adequada, é necessário explorar três níveis: conhecer a estrutura administrativa, o processo decisório e a relação entre Estrado e sociedade. Esses níveis são aqueles em que se dão realmente as relações políticas (policy e politics) e como categorias analíticas: 12 13 · Funcionamento da estrutura administrativa (institucional): nível superficial, descritivo, que explora as ligações e redes intra e interagências, determinadas por fluxos de recursos e de autoridade etc. É o que podemos denominar nível da aparência ou superficial; · Processo de decisão: nível em que se manifestam os interesses presentes no âmbito da estrutura administrativa, isto é, dos grupos de pressão que atuam no seu interior e que influenciam o conteúdo das decisões tomadas. Dado que os grupos existentes no interior de uma instituição respondem a demandas de grupos situados em outras instituições públicas e em organizações privadas, as características e o funcionamento desta não podem ser adequadamente entendidos, a não ser em função das relações de poder que se manifestam entre esses grupos. É o que podemos chamar de nível dos interesses dos atores; e · Relações entre estado e sociedade: referentes ao nível da estrutura de poder e das regras de sua formação, o da “infraestrutura econômico- material”. É o determinado pelas funções do Estado que asseguram a reprodução econômica e a normatização das relações entre os grupos sociais. É o que explica, em última instância, a conformação dos outros dois níveis, quando pensados como níveis da realidade, ou as características que assumem as relações a serem investigadas, quando pensadas como categorias analíticas. Este nível de análise trata da função das agências estatais que é, em última instância, o que assegura o processo de acumulação de capital e a sua legitimação perante a sociedade. É o que podemos denominar nível da essência ou estrutural. Por meio da passagem por esses três níveis, diversas vezes, será possível se conhecer o comportamento da “comunidade política” existente numa área qualquer de política pública. Dessa forma, será possível identificar as características necessárias para uma política. Este processo envolve, ainda, o estudo da estrutura de relações de interesses políticos construídos entre os diversos atores envolvidos, bem como explica a relação tanto no primeiro nível superficial das instituições, quanto no terceiro nível, aquele complexo da estrutura econômica. Conforme Dagnino (2012), o Planejamento Estratégico Governamental (PEG) conta ainda com uma série de instrumentos, metodologias e técnicas que adicionam à reflexão sobre Análise de Políticas apreensões realistas e próximas do contexto latino-americano. Os principais aspectos dessa metodologia são: · O planejamento tradicional (normativo) é criticado, pois é autoritário e baseado em acordos fechados de gabinete. · A utilização do termo estratégico, no seu duplo sentido de movimento, pois depende da solução de um problema para o ator que planeja. Dessa forma, este ator enfrenta ou vai ser enfrentado por um adversário que também se movimenta, inclusive em resposta às suas ações. Essas ações irão construir o cenário normativo, ou seja, aquele cujo conteúdo interessa apenas ao ator que o planeja. Então, a estratégia por ter seu foco em projetos de longo prazo, não apenas em manobras de curto prazo. 13 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque · Existe uma diferença colocada entre o planejamento estratégico corporativo ou empresarial e o que trata dos problemas públicos. O primeiro, do qual infelizmente se originam muitas das propostas que são furtadas para a esfera governamental. Já o segundo, trata dos problemas públicos sociais, que estão situados no contexto Estado-Sociedade, de forma lógica com as demandas da sociedade e não apenas com as de um grupo econômico e politicamente favorecido. · Há um empenho para a criação de um método para se conhecer o jogo social, ou seja, a relação entre os seres humanos e, dessa maneira, conseguir resultados expressivos apesar da incerteza, quase sempre presente, a partir de categorias: ator social, teoria da ação social, produção social e conceitos como o de situação e o de momento. Quadro 2 – Etapas do planejamento estratégico clássico Pergunta Etapa do Planejamento Estratégico Tecnologia ou Ferramenta Quem somos? 1. Declaração da missão organizacional Não há Aonde vamos? 2. Estabelecimento de visão de futuro Não há Onde / Como estamos? 3. Avaliação do ambiente interno 4. Avaliação do ambiente externo Análise de pontos fortes e fracos, análise de ameaças e oportunidades, análise PEST (ambientes: político, econômico, social e tecnológico), análise de cenários, análise prospectiva genérica, fatores críticos de sucesso, análise da cadeia de valor. Como vamos? 5. Definição de objetivos estratégicos 6. Seleção de estratégias 7. Planos de ação Objetivos-chave, estratégias, políticas,controle estratégico, balanced scorecard, ciclo PDCA. Fonte: Fontes Filho (2006). O Enfoque do Planejamento Estratégico Situacional Aqui, diferentemente do enfoque da Análise de Política, no enfoque do Planejamento Estratégico Situacional (PES), será realizada uma introdução ao tema, que será abordado com mais ênfase e detalhes na próxima unidade. Figura 1 – Golpe militar no chile. Foto sobre notícia sobre os trinta anos do golpe militar chileno, liderado pelo General Augusto Pinochet, que bombardeou o Palácio de La Moneda (sede da presidência chilena) Fonte: OtraPrensa (2011) 14 15 O Planejamento Estratégico Situacional surgiu após um longo processo de reflexão ocorrido no período, em que Carlus Matus ficou preso em função do golpe militar chileno, o qual levou à morte o presidente Salvador Allende, em 1973. Essa reflexão o levou a formular uma crítica ao planejamento governamental tradicional e propor um método alternativo, que leva em consideração não só o caráter situacional, ou seja, da situação do ator que planeja, como também estratégico, o qual deveria possuir o planejamento; em especial, aquele necessário para lidar com as particularidades do Estado latino-americano. O texto intitulado “O que é o Planejamento Estratégico Situacional?” conta a história do Economista chileno Carlos Matus, que criou o Planejamento Estratégico Situacional (PES) em meados da década de 1970. Esse método é uma ferramenta de suporte ao mesmo tempo científi ca e política para o trabalho cotidiano de dirigentes públicos e outros profi ssionais em situação de governo. Disponível em: http://goo.gl/Zj6xEN Ex pl or O Planejamento Estratégico Situacional, ao contrário da Análise de Política, coloca-se, por sua vez, como uma “contraproposta epistemológica” ao planejamento de tipo economicista. Conforme Dagnino (2012), o PES opera sobre variáveis quantitativas, frequentemente de natureza econômica, que demonstra uma enganosa impressão de exatidão e racionalidade, cujas características básicas são: · Nega a probabilidade de uma única análise sobre a realidade, pois realça que os diversos atores esclarecem ou mostram seu ponto de vista sobre a realidade, a partir de suas vivências particulares e são voltados para a ação. Não deve existir uma única visão sobre a realidade, pois cada um tem um entendimento sobre determinado assunto. · Reconhece que os diversos atores favoráveis ao governo (situação) nunca têm todo controle sobre os recursos necessários para seus projetos. Assim sendo, eles nunca saberão, com certeza, que suas ações obterão os resultados anunciados. Isso ocorre por que os recursos são escassos. Não apenas os recursos econômicos, mas também os de poder, os de conhecimento e ainda de capacidade de organização e gestão. · Aceita que a ação do homem é intencional e dificilmente previsível, como dizem os comportamentalistas. · Aceita que, no jogo social, nunca se sabe o final da história. O autor ainda complementa, que apesar da incerteza, da incapacidade de controlar os recursos, do abandono de qualquer posição determinística, há sempre espaço para a ação humana intencional, para se “fazer história”, para se “construir sujeitos” individuais e coletivos e para se lutar contra a improvisação, construindo um caminho possível que se aproxime do rumo desejado. 15 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque Quadro 3 – Comparativo da Análise de Política X PES Descrição Análise de Política Planejamento Estratégico Situacional 1. Visão Futuro Presente 2. Explicação da realidade Baseada em diagnósticos Apreciação situacional 3. Concepção do Plano Normativo-prescritivo Adaptativo 4. Análise estratégica Consultas a especialistas Análise da viabilidade 5. Fatores Genéricos Específico 6. Operação Ação separada do plano Mediação entre plano e ação Fonte: Lida (1993). Deixo aqui uma citação de Públio Siro (foi escritor de Latim na Roma antiga) “O plano que não pode ser mudado não presta”. Chegamos ao fim de mais uma unidade. Não se esqueça de realizar todas as atividades. Releia todo o conteúdo, pois em cada um há diversos conceitos essenciais para o exercício da profissão. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Revista do Serviço Público MACEDO, Marcelo Ernandez; ALVES, Andrea Moraes. Reforma administrativa: o caso do Reino Unido. Revista do Serviço Público, v. 48, n. 3, p. 62-83, 2014. http://goo.gl/fNZefE Revista Brasileira de Administração Política DAGNINO, Renato. A capacitação de gestores públicos: uma aproximação ao problema sob a ótica da administração política. Revista Brasileira de Administração Política, v. 6, n. 1, 2016. http://goo.gl/eWjkf7 Revista Direito, Estado e Sociedade ALVAREZ, Alejandro Bugallo. Análise econômica do direito: contribuições e desmistificações. Revista Direito, Estado e Sociedade, n. 29, 2014. Disponível em: http://goo.gl/gdfzpe Organizações e Sociedade BOGADO, Rogério; BENINI, Elcio Gustavo. Ferramentas para a gestão pública: uma análise comparativa entre o Balance Scorecard e o Planejamento Estratégico Situacional (PES). Organizações e Sociedade, v. 3, jan/dez, 2014. http://goo.gl/8nd27J 17 UNIDADE O Planejamento Estratégico Governamental como Convergência e Enfoque Referências BARDACH, Eugene. Getting Agencies to Work Together: The Practice and Theory of Managerial Craftsmanship. Washington DC: Brookings Institution Press, 1998. BONAVIDES, Paulo. Ciência política. Malheiros, 1994. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 25. ed. São Paulo:Saraiva. 2005. DYE, Thomas. Politics, Economics and the Public: Policy Outcomes in the American States. Chicago: Rand McNally. 1966. FONTES FILHO, Joaquim Rubens. Planejamento Estratégico da pequena e média empresa: aplicações no setor turístico. Rio de Janeiro: Publit, 2006. HAM, Christopher; HILL, Michael. The policy process in the modern capitalist state. Londres: Harvester Wheatsheaf, 1993. HILLMAN, J. Tipos de poder: um guia para o uso inteligente do poder nos negócios. São Paulo: Cultura Editores Associados, Axis Mundi, 2001. IASI, Mauro. Processo de Consciência. 2. ed. São Paulo: CPV, 2001. KICH, Juliane Ines Di Francesco; SIMON, Vanêssa Pereira; PEREIRA, Mauricio Fernandes; COSTA, Alexandre Marino. Relações de poder no processo de planejamento estratégico. Revista de Administração FACES Journal, v. 11, n. 2, p. 85-106, 2012. IIDA, Itiro. Planejamento estratégico situacional. Production, v. 3, n. 2, p. 113- 125, 1993. MAY, Rollo. Poder e inocência: uma análise das fontes da violência. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. OTRAPRENSA. ¿En Chile hubo un golpe de Estado en 1973? Pedro Brieger. 12 de setembro de 2011. Dispnível em: http://www.otraprensa.com/%C2%BFen- chile-hubo-un-golpe-de-estado-en-1973/ SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento econômico. Fundo de Cultura, 1961. SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n. 16, p. 20-45, Dec. 2006. WILDAVSKY, Aaron. Speaking Truth to Power: The Art and Craft of Policy Analysis. Boston: Little Brown, 1979. 18
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