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W BA 00 60 _v 2. 2 GESTÃO FINANCEIRA 22 Marcello Eduardo Monaco Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Gestão financeira 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Alexander Antunes da Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ______________________________________________________________________________________ Monaco, Marcello Eduardo M734g Gestão financeira/ Marcello Eduardo Monaco, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 100 p. ISBN 978-85-522-1639-1 1. Juros. 2. Taxa de juros. I. Monaco, Marcello Eduardo. Título. CDD 300 ____________________________________________________________________________________________ Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Conceitos fundamentais de gestão financeira 6 Capitalização simples e composta 23 Inflação, taxas de juros reais e nominais 41 Sistemas de amortização 58 Fontes de financiamento 76 Avaliação de investimento e custo de capital 93 Alavancagem financeira e cálculo do custo de capital 110 GESTÃO FINANCEIRA 55 5 Apresentação da disciplina Em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo o desenvolvimento das atividades de gestão financeira é cada vez mais relevante. Nas últimas décadas, migramos de uma situação de concorrência local e regional para um ambiente de concorrência globalizado – especialmente em função do desenvolvimento das telecomunicações e da internet. Mais e mais empresas de outros países e continentes chegam ao nosso país para disputar os mercados consumidores existentes. O número de competidores em cada segmento de mercado nunca foi tão grande como atualmente. Nesse contexto, a inovação também ganha crescente importância, gerando novas oportunidades e fazendo com que os players nacionais tenham que se reinventar todos os dias – o que só é possível por meio de capacitação e investimentos em seus produtos e serviços. Nesta disciplina, você terá a oportunidade de aprender conceitos fundamentais da Matemática Financeira (como a função dos juros, os regimes de capitalização simples e composta, os sistemas de amortização), assim como refletir sobre as alternativas de captação de recursos para a realização de investimentos. O principal objetivo da disciplina é proporcionar ferramentas aos profissionais (sejam da área financeira ou de áreas correlatas) para que eles possam apoiar as corporações nas atividades de avaliação de investimentos, qualificando dessa forma os processos de tomada de decisão. 666 Conceitos fundamentais de gestão financeira Autor: Marcello Eduardo Mônaco Objetivos • Apresentar o conceito de juros. • Compreender os elementos que influenciam na definição das taxas de juros em uma operação financeira. • Assimilar os conceitos de capital, taxa de juros, montante e tempo da operação. 77 7 1. Conceitos iniciais Nesta Leitura Fundamental, você estudará conceitos básicos relacionados à Matemática Financeira: o surgimento do dinheiro como elemento de troca, os conceitos de capital, montante e juros, assim como a importância deste em todas as atividades ligadas ao ambiente financeiro. Nossa civilização é o produto de inúmeras transformações que vêm ocorrendo ao longo dos últimos séculos. Inicialmente, o ser humano vivia em cavernas e se alimentava de animais obtidos por meio da caça e da pesca, além de alguns vegetais e frutos disponíveis na natureza. O tempo passou e ele evoluiu, aprendendo a controlar o fogo, desenvolvendo ferramentas com base em pedras (e posteriormente, metais) – tudo com o objetivo de ampliar o seu conforto. Com o passar do tempo, o ser humano também começa a perceber que nem todas as suas necessidades serão satisfeitas apenas com base naquilo que ele produz. Nesse contexto, ele observa que poderia fazer trocas de bens e alimentos com outros indivíduos com o objetivo de maximizar a sua satisfação. Conforme descrito pela Casa da Moeda do Brasil (2019), essa forma de “troca direta” foi a base para o surgimento de termos muito conhecidos atualmente, como o salário (que correspondia ao pagamento feito com base em uma dada quantidade de sal) e a pecúnia (comum no jargão do Direito Tributário e que vem do termo em latim “pecus”, correspondendo a rebanho ou gado). Ao longo dos séculos, a dinâmica das trocas se tornou mais complexa e surgiu a necessidade de existirem elementos que sistematizariam esse processo – as moedas. Ainda segundo a Casa da Moeda do Brasil (2019), as primeiras moedas surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII a.C., inicialmente cunhadas em ouro e prata, mas sempre buscando transmitir elementos representativos da história, da cultura, da riqueza e do poder nas diferentes sociedades. 88 Em um ambiente que já apresentava as moedas disponíveis, segundo Matias (2019), os primeiros indícios de atividades financeiras apareceram nas obras de inúmeros pensadores, como Xenofonte (355 a.C), Aristóteles (384-322 a.C), entre outros. Em Roma, um império que acumulou muitas riquezas por meio da conquista de territórios na região do Mar Mediterrâneo, a atividade financeira estava concentrada em questões do cotidiano. Por meio da adoção de moedas para facilitar o sistema de trocas, acabaram surgindo os chamados banqueiros profissionais – que negociavam títulos de crédito similares a cheques e notas promissórias. A partir desses fundamentos, as atividades financeiras evoluíram significativamente nos últimos séculos, chegando a um nível de sofisticação bastante grande atualmente. 2. Conceito de juros Em uma empresa, nem sempre os recursos necessários para que um determinado compromisso seja cumprido - como a compra de uma máquina ou o pagamento de salários - estão disponíveis. Nesse momento, é necessário obter tais recursos de alguma maneira para que os objetivos de negócio sejam atingidos. Uma das formas possíveis seria obter um empréstimo junto a uma instituição bancária, que disponibilizaria tal recurso cobrando um “excedente” por tal operação. Esse “excedente” é o que chamamos de juros. Uma das definições mais intuitivas de juros é apresentada por Vieira Sobrinho (2018). Segundo ele, “juro é a remuneração do capital emprestado, podendo ser entendido, de forma simplificada, como sendo o aluguel pago pelo uso do dinheiro”. De fato, quando pagamos juros a quem quer que seja, estamos remunerando essa pessoa (ou empresa) por disponibilizar um recurso do qual necessitamos em um determinado momento no tempo – seja para adquirir um equipamento, pagar um fornecedor ou refinanciar uma dívida que está por vencer. 99 9 Ainda segundo Vieira Sobrinho (2018), o valor dos juros que é cobrado por um banco em uma operação de empréstimo é formado pelos seguintescomponentes: • Custo de captação: juros que o banco paga a um aplicador (investidor) para deixar dinheiro depositado em sua instituição – ou seja, o valor pago pelo banco para obter dinheiro no mercado. • Risco: probabilidade de que a pessoa que tomará o empréstimo não o pague (o que resulta na chamada inadimplência). • Custo operacional: são as despesas administrativas, operacionais e tributárias da operação. • Impacto da inflação no período: corresponde à perda de poder aquisitivo em função da inflação durante o período do empréstimo. • Lucro do banco na operação: corresponde a quanto o banco deseja efetivamente lucrar naquela operação de empréstimo. Para ilustrar tais conceitos, observe o exemplo envolvendo diferentes operações financeiras realizadas pelo Banco Gama, apresentado pela Figura 2.1: Figura 2.1 – Exemplo de operações financeiras realizadas pelo Banco Gama Fonte: elaborada pelo autor. 1010 Imagine que o Banco Gama ofereceu uma aplicação com pagamento de 1% de juros ao mês (representado pela expressão 1% a.m) aos seus correntistas. Diante dessa oportunidade, Marcos decidiu investir R$ 2.000,00 nessa aplicação. Por outro lado, Luiz precisa de R$ 2.000,00 emprestados para comprar uma geladeira para a sua casa, com o compromisso de pagar o valor emprestado de uma só vez após 6 meses. Quando o Banco Gama necessitar definir a taxa de juros que cobrará de Luiz em seu empréstimo, levará em consideração os seguintes aspectos: 1. Custo de captação: no caso, a taxa de juros que o Banco Gama pagará para Marcos investir no Banco Gama (1% a.m), que corresponde ao “custo de captação” do recurso pago pelo banco. 2. Risco: corresponde à probabilidade de Luiz não pagar de volta o valor que recebeu no empréstimo. Normalmente, este percentual é definido por modelos matemáticos presentes nos sistemas de gestão de riscos de crédito da instituição financeira. A título de exemplo, considere que o banco adicionará mais 3% a.m em função da eventual inadimplência de Luiz. 3. Custos envolvidos na operação (operacionais, administrativos, impostos e outros tributos). Vamos considerar que para o Banco Gama tais custos correspondam a outros 1% a.m. 4. Inflação no período: considere que a inflação projetada para o período do empréstimo será de 0,5% a.m. 5. Lucro do banco no empréstimo: vamos considerar que a diretoria do Banco Gama definiu um lucro mínimo de 1,5% a.m para todas as operações de empréstimos a serem realizadas. Com isso, a taxa de juros a ser cobrada de Luiz corresponderia à soma das cinco parcelas descritas acima (1% a.m + 3% a.m + 1% a.m + 0,5% a.m + 1,5% a.m), totalizando uma taxa de juros para o empréstimo de 7% a.m. 1111 11 Nessa situação, Luiz terá que devolver R$ 3.001,46 ao Banco Gama no final dos seis meses – pagando assim o equivalente a R$ 1.001,46 de juros! É importante ressaltar que muitas dessas variáveis que integram o cálculo das taxas de juros dependem das condições macroeconômicas do país. Se os índices de desemprego estão elevados, possivelmente os consumidores podem enfrentar maiores dificuldades para pagarem suas contas – o que pode acarretar uma elevação nos níveis de inadimplência, impactando diretamente nas taxas de juros praticadas no mercado. Uma das taxas de juros mais importantes no país é a chamada Taxa Selic, que corresponde à taxa básica de juros da economia – sendo utilizada pelo Banco Central como uma das ferramentas para o controle dos níveis de inflação. Segundo o Banco Central do Brasil (2019), o nome SELIC corresponde à abreviação de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ambiente onde o Banco Central negocia títulos da dívida pública diariamente. De forma simplificada, se a taxa SELIC sobe, os custos de captação dos bancos se elevam, fazendo com que as taxas de juros cobradas em um empréstimo fiquem mais caras. Assim, o governo utiliza a taxa SELIC como um instrumento de calibragem da economia nacional: se deseja estimular a atividade econômica, a redução da taxa SELIC induzirá a redução das taxas de juros praticadas pelos bancos – consequentemente estimulando os consumidores a se utilizarem do crédito (empréstimos, parcelamentos e cartão de crédito, dentre outros) para adquirirem os produtos e serviços que necessitem. O gráfico 2.1 mostra a evolução da taxa SELIC ao longo da última década. Observe que, após atingir um patamar de 14% a.a. em 2015, a taxa SELIC caiu de forma sistemática, estabilizando-se na faixa entre 6% e 8% ao ano a partir de 2018. 1212 Gráfico 2.1 – Evolução da taxa SELIC entre 2009 e 2019 Fonte: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/historicotaxasjuros. Acesso em: 21 set. 2019. Tal situação reflete o cenário de baixas taxas anuais de inflação registradas no país. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, alcançou 3,75% no ano de 2018, apresentando uma trajetória de queda a partir de 2015. O gráfico 2.2 apresenta a evolução das taxas de inflação no mesmo intervalo de tempo do gráfico anterior. 1313 13 Gráfico 2.2 – Evolução do IPCA entre 2009 e 2019 Fonte: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice- nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?t=series-historicas. Acesso em: 21 set. 2019. Mas o que justifica pagar um valor tão alto de juros em uma operação como a discutida anteriormente? Segundo Vieira Sobrinho (2018), existem teorias que defendem que o pagamento dos juros ocorre devido à necessidade de dispor daquele recurso (seja por uma emergência ou uma situação específica). Entretanto, existem outras que ligam o pagamento dos juros à preferência do consumidor em adquirir bens e serviços no momento presente ao invés de poupar para fazer tal compra no futuro. Tal situação é o que se denomina “antecipação do consumo”, e frequentemente é praticada pelos consumidores em nosso país. De forma bastante corriqueira, os varejistas oferecem seus produtos e apresentam o pagamento de forma parcelada como uma alternativa atrativa – mas que na maioria dos casos envolve um pagamento relevante de juros. 1414 PARA SABER MAIS O Banco Central do Brasil tem a missão institucional de “assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente”. Seu website (www. bcb.gov.br) disponibiliza dados relevantes sobre o panorama econômico, incluindo o acesso a dados atualizados e séries históricas das principais variáveis financeiras. Vale a pena acompanhar tais informações como referência para os processos de tomada de decisão organizacional. 3. Conceitos de capital, montante, taxa e tempo Neste momento, torna-se importante conhecer alguns conceitos fundamentais relacionados com operações de empréstimo ou financiamento, como aquela vista em nosso exemplo anterior. • Capital (C): na matemática financeira, o capital é “qualquer valor expresso em moeda e disponível em determinada época” (VIEIRA SOBRINHO, 2018). Em operações financeiras, o capital consiste no valor inicialmente considerado – ou seja, aquele que foi investido ou tomado por empréstimo no processo. • Montante (M): corresponde ao valor final da operação, a ser pago ou recebido dependendo do caso. • Taxa de juros (i): como vimos anteriormente, corresponde à grandeza que expressa a remuneração paga pelo “aluguel do dinheiro”. Sempre expressa na forma de porcentagem em uma base de tempo (por exemplo: % ao mês = % a.m; % ao ano = % a.a., etc.). Vale destacar que a taxa de juros é representada pela letra i em função de sua denominação na língua inglesa, que começa propriamente com a letra i (interest rate). http://www.bcb.gov.br http://www.bcb.gov.br 1515 15 • Tempo (t): expressa o tempo de duração daquela operação financeira (e, portanto, por quanto tempo a taxa de juros será aplicada ao valor investido/emprestado). Veja mais um exemplo de operação financeira, representada na Figura 3.1, para que tais conceitos sejam reforçados: Figura 3.1 – Exemplode operação de empréstimo realizada pelo Banco Gama para Marcello Fonte: elaborada pelo autor. Neste exemplo, Marcello tomou um empréstimo no valor de R$ 2.000,00 junto ao Banco Gama no dia 01/01/2020. Foi acordado uma taxa de juros (i) no valor de 2% ao mês e que o pagamento do empréstimo seria feito por meio de uma única parcela, no dia 01/07/2020 (6 meses depois do empréstimo ter sido concedido). Como identificar quais são os principais elementos dessa operação financeira? • O valor inicial da operação – que foi emprestado pelo Banco Gama a Marcello – corresponde ao que chamamos de capital (C). • Já o valor final da operação – aquele que foi pago por Marcello ao Banco Gama depois de 6 meses - corresponde ao montante (M). • A duração da operação financeira (período de 6 meses entre a concessão do empréstimo e o seu pagamento por Marcello) é o que chamamos de tempo (t). 1616 • A taxa de juros (i) praticada nesta operação foi de 2% a.m., como inicialmente apresentado na Figura 3.1. • Um outro ponto importante a ser destacado é que a diferença entre o valor final pago por Marcello ao Banco Gama (montante) e o valor recebido por Marcello no empréstimo (capital) corresponde aos juros (J) pagos por Marcello na operação! A expressão matemática que representa essa relação é destacada pela Figura 3.2. Figura 3.2 – Relação matemática entre capital, montante e juros Fonte: elaborada pelo autor. Assim, Marcello recebeu R$ 2.000,00 do Banco Gama em 01/01 e pagou R$ 2.252,32 em 01/07 – a diferença entre esses dois valores (R$ 2.252,32 – R$ 2.000,00 = R$ 252,32) corresponde aos juros pagos por Marcello ao Banco Gama pelo empréstimo. Vale destacar que é de fundamental importância saber identificar cada um desses elementos de uma operação financeira, para que seja possível a realização de cálculos de matemática financeira (envolvendo juros simples, compostos e amortizações) para a adequada tomada de decisão no ambiente empresarial. ASSIMILE Para a compreensão de qualquer operação financeira, é fundamental que seja possível identificar quais os valores do capital, do montante, da taxa de juros praticada e do tempo da transação em questão. 1717 17 Nesta Leitura Fundamental, foram apresentados alguns conceitos fundamentais para as atividades de Gestão Financeira: a definição de juros, taxas de juros, além das variáveis básicas da Matemática Financeira. Tais conceitos permitirão que você possa avaliar diferentes cenários, assim como tomar decisões relevantes para o ambiente de negócios de sua empresa. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: a empresa QFria deseja comprar uma nova máquina para a sua linha de produção de sorvetes, que custa R$ 200.000,00. O fornecedor oferece a venda à vista da máquina com 8% de desconto, ou a venda parcelada em 12 parcelas de R$ 20,000.00. O gerente financeiro da QFria também recebeu uma proposta de seu banco para financiar a compra da máquina, com o pagamento de uma entrada de R$ 20.000,00 e mais 10 parcelas de R$ 19.500,00. Qual seria a melhor alternativa para a empresa? Situações como essa são bastante frequentes em qualquer empresa. Neste contexto, é fundamental compreender quais as variáveis envolvidas e os custos associados a cada solução - para que seja tomada a melhor decisão! VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O estagiário da área financeira de uma empresa multinacional de alimentos recebeu um desafio do seu supervisor em seu primeiro dia de estágio: definir o conceito de juros! 1818 Dentre as alternativas abaixo, selecione aquela que melhor representa o conceito em questão: a. “Os juros correspondem ao valor que foi emprestado junto ao banco em determinado momento”. b. “Os juros correspondem ao valor final a ser pago ao banco ao final de um empréstimo”. c. “Os juros podem ser considerados como a remuneração paga a alguém pelo empréstimo de uma determinada quantidade de dinheiro”. d. “Os juros correspondem à diferença entre o valor obtido em um empréstimo e a taxa de juros da operação”. e. “Os juros correspondem a um valor fixo do tempo, sendo independente do tempo da operação”. 2. A Empresa XYZ é uma fabricante de eletrodomésticos situada em Manaus. Diante de um incêndio que ocorreu em sua linha de produção, a empresa foi até o Banco Gama para fazer um empréstimo para reparar suas instalações. Nesse cenário, foi alinhada a seguinte operação: Data da operação: 01/12/2019. Valor do empréstimo: R$ 100.000,00. Taxa de juros: 2,5% a.m. Pagamento será realizado em 1 parcela. Data de vencimento: 01/03/2020. Valor a ser pago: R$ 107.689,06. 1919 19 Diante desta situação, podemos dizer que os valores do capital, montante e tempo de operação são, respectivamente: a. R$ 107.689,06 / R$ 100.000,00 / 6 meses. b. R$ 100.000,00 / R$ 107.689,06 / 6 meses. c. R$ 107.689,06 / R$ 100.000,00 / 3 meses. d. R$ 100.000,00 / R$ 107.689,06 / 3 meses. e. R$ 100.000,00 / R$ 107.689,06 / 1 mês. 3. Pedro Luiz precisa fazer a compra de um novo computador para a área financeira da empresa QFria, líder na fabricação de sorvetes no mercado brasileiro. O fornecedor enviou uma cotação, indicando que o valor do equipamento era de R$ 15.000,00. Como não dispunha dos recursos para a compra, Pedro Luiz financiou a aquisição do computador junto ao Banco Gama, mediante o pagamento de 5 parcelas mensais e iguais de R$ 3.200,00. Diante da situação apresentada, julgue as assertivas a seguir e assinale a alternativa correta: I. O valor do capital envolvido nessa operação é de R$ 16.000,00. II. Os juros pagos pela QFria nessa compra foram de R$ 1.000,00. III. O valor do montante envolvido nessa operação é de R$ 15.000,00. 2020 a. I – Verdadeira; II – Verdadeira; III – Verdadeira. b. I – Verdadeira; II – Falsa; III – Verdadeira. c. I – Falsa; II – Verdadeira; III – Verdadeira. d. I – Falsa; II – Verdadeira; III – Falsa. e. I – Falsa; II – Falsa; III – Falsa. Referências bibliográficas BRASIL. Banco Central do Brasil. Política Monetária: COPOM: Histórico das taxas de juros. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/ historicotaxasjuros. Acesso em: 21 set. 2019. BRASIL. Banco Central do Brasil. Comitê de Política Monetária (Copom). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/copom. Acesso em: 21 set. 2019. BRASIL. Casa da Moeda do Brasil. República Federativa do Brasil. A Origem do Dinheiro. 2019. Disponível em: https://www.casadamoeda.gov.br/portal/ socioambiental/cultural/origem-do-dinheiro.html. Acesso em: 22 set. 2019. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA: Séries Históricas. Disponível em: https:// www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de- precos-ao-consumidor-amplo.html?t=series-historicas. Acesso em: 21 set. 2019. ESTADÃO. Taxa SELIC: o que é e como ela influencia no seu bolso. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,taxa-selic-o-que-e-e-como-ela- influencia-seu-bolso,70002727673. Acesso em: 21 set. 2019. MATIAS, Alberto Borges (Org.). Introdução à história do pensamento financeiro. In: MATIAS, Alberto Borges. 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Alternativa B – ERRADA – a assertiva apresenta o conceito de montante. Alternativa C – CORRETA – de fato, os juros são considerados por muitos como a remuneração paga pelo “aluguel” do recurso que foi disponibilizado. Alternativa D – ERRADA – na verdade, os juros correspondem à diferença entre o montante e o capital da operação em questão. Alternativa E – ERRADA – os juros são calculados com base na taxa de juros, que está definida com base temporal. Quanto maior o período da operação, maior será o valor dos juros, o que torna a assertiva incorreta. Questão 2 – Resposta D Diante da situação apresentada na questão, torna-se necessário identificar as principais variáveis desta operação financeira. - Valor do empréstimo = valor inicial = R$ 100.000,00 esse é o capital (C). - Valor a ser pago = valor final = R$ 107,689,06 esse é o montante (M). - Tempo de operação = período compreendido entre a data inicial (01/12/2019) e a data final (01/03/2010) ou seja, corresponde a 3 meses. 2222 - Juros = diferença entre o montante e o capital = R$ 107,689,06 - R$ 100.000,00 = R$ 7.689,06. Sendo assim, a sequência capital/montante/tempo de operação é dada por: R$ 100.000,00; R$ 107,689,06; 3 meses. Alternativa correta é a letra D. Questão 3 – Resposta D Nesta situação, mais uma vez torna-se necessário identificar as principais variáveis desta operação financeira. - Valor da compra = valor inicial = R$ 15.000,00 esse é o capital (C). - Valor a ser pago = valor final = neste caso, corresponde às 5 parcelas de R$ 3.200,00 que serão pagas 5 x R$ 3.200,00 R$ 16.000,00 esse é o montante (M). - Juros = diferença entre o montante e o capital = R$ 16.000,00 - R$ 15.000,00 = R$ 1.000,00. Vamos analisar as assertivas: I) FALSA, pois o valor do capital é de R$ 15.000,00. II) VERDADEIRA, já que os juros incorridos são de R$ 1.000,00. III) FALSA, já que o montante da operação é de R$ 16.000,00. Sendo assim, a alternativa que combina corretamente com a avaliação das três assertivas é a letra D. 2323 23 Capitalização simples e composta Autor: Marcello Eduardo Mônaco Objetivos • Compreender as características fundamentais dos regimes de capitalização simples e composta. • Ser capaz de identificar, com base em situações práticas, quais as variáveis envolvidas e como devem ser utilizadas nos cálculos de matemática financeira (envolvendo capital, juros, montante e taxas de juros). • Tomar decisões adequadas diante de situações práticas que envolvam o cálculo de juros simples ou compostos. 2424 1. Introdução Nesta Leitura Fundamental, serão abordados os regimes de capitalização e seu impacto no cálculo de uma das principais variáveis da vida financeira de qualquer empresa: os juros. De acordo com o regime escolhido e das condições acordadas em uma operação financeira, os juros decorrentes poderão gerar diferentes impactos sobre o caixa de uma empresa – sendo, assim, uma importante variável a ser considerada nos processos de tomada de decisão empresarial. 2. Conceitos fundamentais Antes de você estudar os regimes de capitalização e sua influência no cálculo de juros simples e compostos, vale a pena resgatar alguns conceitos importantes para o estudo desta leitura. • Capital (C): consiste no valor inicialmente considerado – ou seja, aquele que foi investido ou tomado por empréstimo no processo. • Montante (M): corresponde ao valor final da operação, a ser pago ou recebido, dependendo do caso. • Taxa de juros (i): expressa a remuneração paga pelo “aluguel do dinheiro”, sempre representada em forma porcentual. • Juros (J): conforme Vieira Sobrinho (2018), “juro é a remuneração do capital emprestado, podendo ser entendido, de forma simplificada, como sendo o aluguel pago pelo uso do dinheiro”. Outra informação importante se refere à forma como utilizamos a taxa de juros em um cálculo de matemática financeira. Um valor descrito como porcentagem pode ser expresso de diferentes maneiras. Por exemplo, se a taxa de juros de um financiamento é de 0,2% ao mês, ela pode ser expressa como: 0,2% = (0,2/100) = 0,002 2525 25 Assim, ter em mente essa equivalência será bastante útil para os cálculos que você realizará ao longo desta leitura. Além disso, é importante recordar como você pode fazer o cálculo da porcentagem de um valor. Considere, por exemplo, que você se esqueceu de pagar um boleto de R$ 800,00 e que será cobrada uma multa de 5% do valor desse. Como posso calcular o valor da multa? Neste caso, considere o seguinte: 5% de um determinado valor é o mesmo que multiplicar 5% por esse valor! Ou seja, 5% de R$ 800,00 equivale a: 5% * R$ 800,00 = (5/100) * R$ 800,00 = 0,05 * R$ 800,00 = R$ 40,00 Conhecer bem esses fundamentos será de grande valia para os cálculos que serão desenvolvidos ao longo deste tópico. 3. Regimes de capitalização O conceito de capitalização é um dos mais importantes no estudo da matemática financeira, influenciando de forma significativa os processos de tomada de decisão econômica e financeira de qualquer empresa. Segundo Hoji (2016), o termo capitalizar significa “o processo de evolução do capital por meio do acréscimo de juros”. Ou seja, uma vez realizada uma operação financeira (como um empréstimo ou um financiamento), à medida que o tempo passa os juros vão sendo adicionados ao valor inicial (capital) – tal processo corresponde à capitalização. Considere o seguinte exemplo: Gabriela decide guardar R$ 100,00 de sua mesada em uma conta poupança, que renderá 1,0% ao mês. Ela deposita o dinheiro no dia 01/03/2020. Após um mês de aplicação, será realizada a capitalização do valor aplicado por Gabriela – ou seja, será realizado o cálculo dos juros devidos pelo banco durante o período 2626 de aplicação, sendo esse valor adicionado em sua conta. A Figura 3.1 mostra de forma esquemática como essa situação ocorre, apresentando os juros que estão sendo adicionados por meio de caixas na cor azul. Figura 3.1 – Exemplo de aplicação em conta poupança feita por Gabriela Fonte: elaborada pelo autor. Assim, se o dinheiro permanecer depositado na conta poupança de Gabriela até o dia 01/06/2020, como descrito na Figura 3.1, ocorrerão três capitalizações (realizadas nos dias 01/04, 01/05 e 01/06) – momentos em que serão realizados os cálculos dos juros e definido o valor do novo saldo de sua conta. Entretanto, existem duas maneiras de realizar a capitalização (cálculo dos juros): simples e composta. 3.1 Capitalização simples Conforme Hoji (2016), “no regime de capitalização simples, o juro incide ‘sempre’ sobre o capital inicial, mesmo que seja capitalizado mais de uma vez”. Nesse contexto, toda vez que estivermos aplicando a capitalização simples, estamos operando no regime de juros simples. Mas como isso de fato funciona? Retomemos o exemplo do depósito de R$ 100,00 realizado na conta poupança de Gabriela. A cada mês, ocorrerá a capitalização dos juros, sempre com base no valor do capital, que foi o valor inicial da operação (neste caso, os R$ 100,00). Sendo assim, vamos fazer o cálculo dos juros (capitalização) mês a mês: 2727 27 • 01/04/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu primeiro aniversário. Como a taxa de juros a ser paga é de 1% a.m., calcularemos 1% de juros sobre o valor inicialmente depositado (capital): Juros (em 01/04) 1% de R$ 100,00 = 1% * R$ 100,00 = (1/100) * R$ 100,00 = (0,01) * R$ 100,00 = R$ 1,00 Novo saldo (em 01/04) = R$ 100,00 + R$ 1,00 = R$ 101,00. • 01/05/2020: a aplicação na conta poupança fez o seusegundo aniversário. Ainda que o saldo da conta tenha aumentado, os juros de 1% a.m. serão novamente calculados sobre o valor inicialmente depositado (capital): Juros (em 01/05) 1% de R$ 100,00 = 1% * R$ 100,00 = (1/100) * R$ 100,00 = (0,01) * R$ 100,00 = R$ 1,00 Novo saldo (em 01/05) = R$ 101,00 + R$ 1,00 = R$ 102,00. • 01/06/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu terceiro aniversário. Novamente os juros de 1% a.m serão calculados sobre o valor inicialmente depositado (capital): Juros (em 01/06) 1% de R$ 100,00 = 1% * R$ 100,00 = (1/100) * R$ 100,00 = (0,01) * R$ 100,00 = R$ 1,00 Novo saldo (em 01/06) = R$ 102,00 + R$ 1,00 = R$ 103,00. • 01/07/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu quarto aniversário. Novamente os juros de 1% a.m serão calculados sobre o valor inicialmente depositado (capital): Juros (em 01/07) 1% de R$ 100,00 = 1% * R$ 100,00 = (1/100) * R$ 100,00 = (0,01) * R$ 100,00 = R$ 1,00 Novo saldo (em 01/07) = R$ 103,00 + R$ 1,00 = R$ 104,00. 2828 A esta altura, você já percebeu que na capitalização simples, não importa o quanto o saldo da aplicação está sendo alterado com o acréscimo dos juros – a cada período, o valor dos juros será sempre calculado com base no valor inicial da operação. Por essa razão, dizemos que na capitalização simples a taxa de juros tem natureza linear – pois o capital evoluirá de forma linear ao longo do tempo (sempre sendo aumentado de uma quantidade fixa, período a período). Entretanto, fazer o cálculo dos juros período a período (como exemplificado anteriormente) seria desnecessariamente trabalhoso. Desta forma, algumas equações foram definidas para auxiliar nesse processo, apresentadas na Figura 3.1.1. Figura 3.1.1 – Equações para o regime de juros simples (capitalização simples) Onde: J = juros C= capital i = taxa de juros t = tempo (prazo) Fonte: elaborada pelo autor. Como você pode aplicar tais equações em uma situação prática? Veja a seguir um exemplo de operação financeira com essas características: “Beatriz deseja emprestar R$ 800,00 junto ao Banco Gama para comprar uma bicicleta nova. O banco oferece o empréstimo em regime de capitalização simples, à taxa de 5% ao mês, para pagamento, em parcela única, após 6 meses”. Pergunta-se: 2929 29 a. Qual o valor que Beatriz deverá pagar ao banco ao final do empréstimo? b. Qual o valor dos juros pagos por Beatriz nesta operação? Em situações como essa, a primeira atitude que você deve tomar é identificar o que significa cada um dos dados apresentados na questão, como segue: • O valor que Beatriz está pegando emprestado com o Banco Gama (R$ 800,00) corresponde ao capital (C) da operação. • O período de tempo entre a concessão do empréstimo e a parcela final a ser paga é de 6 meses – e corresponde ao tempo (t). • A taxa de juros da operação (i) foi dada, sendo igual a 5% ao mês (ou 5% a.m.). • O valor que Beatriz pagará no final dos 6 meses corresponde ao valor final da operação, que chamamos de montante (M) – e que estamos buscando descobrir na questão. • Vale destacar que, antes de aplicarmos as fórmulas, devemos sempre garantir que o tempo (t) e a taxa de juros (i) estejam na mesma base. Como a taxa de juros é ao mês e o tempo da operação está em meses, podemos aplicar as equações com tranquilidade. Caso isso não ocorresse, teríamos que ajustar o tempo para que ambas as grandezas se tornassem compatíveis. Veja um exemplo: “Dado um capital de R$ 1.000,00, calcule o valor do montante (M) que será obtido com uma taxa de juros de 2% ao semestre, por 12 meses, com base em capitalização simples (juros simples).” Note que, neste caso, as variáveis de tempo e taxa de juros não estão na mesma base (a taxa está com base semestral, enquanto o tempo está em base mensal). Assim, deveríamos ajustar o tempo para que fique também na mesma base da taxa (semestral): 3030 Taxa de juros: 2% ao semestre Tempo = 12 meses = 2 semestres Agora sim, você poderia substituir todos os dados na equação sem nenhuma preocupação. Voltando à resolução da situação envolvendo Beatriz, temos os seguintes dados: C = 800,00 t = 6 meses i = 5% a.m = (5/100) = 0,05 M = ? Dentre as equações apresentadas na Figura 3.1.1, podemos aplicar a segunda para solucionar o nosso problema: M = C * (1 + i * t) M = 800 * (1 + 0,05 * 6) M = 800 * (1 + 0,30) M = 800 * (1,30) M = 1040,00 Ou seja, Beatriz terá que pagar R$ 1040,00 ao Banco Gama ao final dos seis meses, resolvendo a primeira parte da questão. E qual foi o valor dos juros pago por Beatriz? Para esse cálculo, podemos utilizar a terceira fórmula apresentada na Figura 3.1.1, considerando que agora sabemos que C = 800,00 e M = 1040,00: M = C + J 1040,00 = 800,00 + J 1040,00 – 800,00 = J J = 240,00 Assim, Beatriz pagou R$ 240,00 em juros nesse empréstimo. 3.2 Capitalização composta Segundo descrito por Hoji (2016), “no regime de capitalização composta, a forma de cálculo do juro é igual ao da capitalização simples. A diferença é que o juro incide sobre o capital inicial e sobre os juros acumulados”. Vale dizer que a capitalização composta é a mais utilizada em nosso dia 3131 31 a dia, sendo aplicada por bancos e outras instituições financeiras. Toda vez que estivermos aplicando a capitalização composta, considere que estamos operando no regime de juros compostos. Mas como esse regime funciona na prática? Analisemos mais uma vez o exemplo do depósito de R$ 100,00 realizado na conta poupança de Gabriela. Agora, a cada mês, ocorrerá a capitalização dos juros sempre considerando o saldo atual da aplicação (e não mais o valor do capital). Isso causará uma importante mudança nos valores que serão encontrados. Vamos fazer novamente o cálculo dos juros (capitalização) mês a mês nessa nova condição: • 01/04/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu primeiro aniversário. Como a taxa de juros a ser paga é de 1% a.m., calcularemos 1% de juros sobre o saldo atual (que será igual ao capital apenas neste mês): Juros (em 01/04) 1% de R$ 100,00 = 1% * R$ 100,00 = (1/100) * R$ 100,00 = (0,01) * R$ 100,00 = R$ 1,00 Novo saldo (em 01/04) = R$ 100,00 + R$ 1,00 = R$ 101,00. • 01/05/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu segundo aniversário. Entretanto, agora os juros de 1% a.m. serão calculados sobre o saldo atual da conta: Juros (em 01/05) 1% de R$ 101,00 = 1% * R$ 101,00 = (1/100) * R$ 101,00 = (0,01) * R$ 101,00 = R$ 1,01 Novo saldo (em 01/05) = R$ 101,00 + R$ 1,01 = R$ 102,01. • 01/06/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu terceiro aniversário. Novamente os juros de 1% a.m. serão calculados sobre o saldo atual da conta: Juros (em 01/06) 1% de R$ 102,01 = 1% * R$ 102,01 = (1/100) * R$ 102,01 = (0,01) * R$ 102,01 = R$ 1,02 Novo saldo (em 01/06) = R$ 102,01 + R$ 1,02 = R$ 103,03. 3232 • 01/07/2020: a aplicação na conta poupança fez o seu quarto aniversário. Novamente os juros de 1% a.m. serão calculados sobre o saldo atual da conta: Juros (em 01/07) 1% de R$ 103,03 = 1% * R$ 103,03 = (1/100) * R$ 103,03 = (0,01) * R$ 103,03 = R$ 1,03 Novo saldo (em 01/07) = R$ 103,03 + R$ 1,03 = R$ 104,06. Note que o valor final do saldo da conta poupança de Gabriela com o regime de capitalização composta (R$ 104,06) foi maior do que aquele obtido com a capitalização simples (R$ 104,00). De fato, toda vez que aplicamos o mesmo capital, com a mesma taxa de juros, pelo mesmo intervalo de tempo, o valor final obtido será sempre maior com a utilização da capitalização composta. Como os juros são calculados sobre a soma de capital + juros, dizemos que na capitalização composta a taxa de juros tem natureza exponencial. Para o cálculo de situações envolvendo juros compostos, algumas equações foram determinadas e se encontram apresentadas na Figura 3.2.1. Figura 3.2.1 – Equações para o regime de juros compostos (capitalização composta) Fonte: elaborada pelo autor. ASSIMILE Note que a expressão M = C + J vale tanto para a capitalizaçãosimples (juros simples) como para a capitalização composta (juros compostos)! Não se esqueça de aplicá-la nos cálculos envolvendo tais tipos de situações. 3333 33 E como seria uma situação prática de capitalização composta? Veja a seguir um exemplo de operação financeira com essas características. “Alessandro deseja comprar uma nova lente Sigma 18-35 mm F1.8 para sua câmera fotográfica profissional, no valor de R$ 3.200,00. Como ele não pode fazer o pagamento pela lente à vista, o vendedor oferece que ele faça o pagamento apenas daqui a seis meses, à uma taxa de juros de 2% ao mês, com capitalização composta. Como ele quer usar sua lente nova ainda hoje, ele concorda com a condição oferecida e fecha o negócio com o vendedor”. Com base nessa situação, pergunta-se: a. Qual o valor que Alessandro pagará pela lente daqui a seis meses? b. Qual o valor dos juros pagos por Alessandro nesta operação? Em situações como essa, você sempre deve identificar o significado de cada um dos dados apresentados na questão: • O valor da lente que Alessandro está adquirindo (R$ 3.200,00) corresponde ao capital (C) da operação. • O período de tempo entre a compra e o pagamento da dívida ao vendedor é de 6 meses – e corresponde ao tempo da operação (t). • A taxa de juros da operação (i) foi dada, sendo igual a 2% ao mês (ou 2% a.m. = 2/100 = 0,02). • O valor que Alessandro pagará ao lojista após os seis meses corresponde ao valor final da operação, que chamamos de montante (M) – e que estamos buscando descobrir na questão. • Mais uma vez, vale destacar que, antes de aplicarmos as fórmulas, devemos garantir que o tempo (t) e a taxa de juros (i) estejam sempre na mesma base! Como a taxa de juros é ao mês e o tempo da operação está em meses, podemos aplicar as equações com tranquilidade. Caso isso não ocorresse, teríamos que ajustar o tempo para que ambas as variáveis fiquem compatíveis. 3434 Sendo assim, temos: C = 3.200,00 t = 6 meses i = 2% a.m. = (2/100) = 0,02 M = ? Dentre as equações apresentadas na Figura 3.2.1, você pode aplicar a primeira delas para encontrar o valor do Montante (M): M = C * (1 + i)t M = 3.200,00 * (1 + 0,02)6 M = 3.200,00 * (1,02)6 Como (1,02)6 = 1,1262, basta substituir esse valor em nossa expressão: M = 3.200,00 * 1,1262 M = 3.603,84 Ou seja, Alessandro terá que pagar R$ 3.603,84 ao vendedor depois de seis meses, resolvendo a primeira parte da questão. E qual foi o valor dos juros pago por Alessandro? Para esse cálculo, podemos utilizar a 2ª fórmula apresentada na Figura 3.2.1, que relaciona o montante, o capital e o juros: M = C + J 3.603,84 = 3.200,00 + J 3.603,84 - 3.200,00 = J J = 403,84 Assim, Alessandro pagou R$ 403,84 em juros nessa operação de compra da lente para sua câmera fotográfica. PARA SABER MAIS Quer saber mais sobre juros e o impacto que ele exerce sobre a vida do cidadão e das empresas? Visite o site “Papo Reto” disponibilizado pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), que foi criado com o objetivo de auxiliar o brasileiro a melhorar a sua relação com o dinheiro. No site, você pode encontrar ferramentas como tabelas de controle orçamentário, simulador de sonhos, dentre outras. 3535 35 Dominar os conceitos envolvendo juros simples e compostos é de fundamental importância para a adequada tomada de decisão financeira, tanto no ambiente pessoal como no profissional. Neste momento, revise os conceitos expostos nesta leitura e tente aplicá-los nas questões apresentadas, de forma a fixar o conteúdo aqui exposto. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: imagine que você é o Diretor Financeiro da empresa QFria. Após uma reunião da diretoria, a empresa decide fazer uma aquisição de uma nova frota de 100 veículos para a equipe de vendas. Depois de pedir cotações junto a 3 montadoras, a empresa decidiu pela compra de 100 unidades do veículo Zeta 1.8 Turbo, ao valor unitário de R$ 50.000,00. Entretanto, a QFria não dispõe do dinheiro em caixa para a compra dos veículos e você recorre ao Banco Gama para financiar a aquisição. Diante da solicitação, o gerente da instituição financeira oferece duas possibilidades de financiamento: a) financiar o valor para pagamento em 1 parcela única, após 24 meses, com taxa de juros de 2% a.m., capitalização simples, ou b) financiar o valor para pagamento em 1 parcela única, após 20 meses, com taxa de juros de 2% a.m., capitalização composta. Diante desse cenário, em qual das alternativas a empresa pagará menos juros? No ambiente de trabalho, situações em que você precisará tomar decisões como esta são frequentes, exigindo o conhecimento técnico necessário para que a alternativa selecionada seja a melhor para a empresa. 3636 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O gerente da empresa QFria percebeu que a fatura de energia elétrica de maio (no valor de R$ 1.280,00) não foi paga pelo responsável no vencimento. Em função disso, a concessionária de energia cobrará um percentual de 12% de acréscimo (em função de juros e multa). O novo valor a ser pago pela QFria por essa fatura de energia será de: a. R$ 1.336,30. b. R$ 1.376,30. c. R$ 1.386,60. d. R$ 1.433,60. e. R$ 1.456,30. 2. Paulo Ricardo é o gerente geral da unidade de Itupeva da empresa QFria e conseguiu a aprovação da Diretoria Executiva da empresa para a montagem de mais uma linha de produção de sorvetes. O investimento dessa expansão será de R$ 500.000,00, mas a empresa não dispõe de recursos para tal ação. Por isso, Paulo Ricardo foi orientado a procurar o Banco Gama para a obtenção de um empréstimo para cobrir tais custos. Com base no histórico favorável da QFria com a instituição, o gerente do Banco Gama concordou em conceder o empréstimo, com as seguintes condições: 3737 37 - Data do empréstimo: 01/05/2020; taxa de juros: 2,5% a.m.; capitalização simples; pagamento do empréstimo em parcela única, após 10 meses (em 01/03/2021). Paulo Ricardo concordou com as condições e o empréstimo foi efetivado em 01/05/2020. Considerando esta situação, o valor final a ser pago pela QFria em 01/03/2021 e o valor dos juros pagos são, respectivamente, iguais a: a. R$ 615.000,00 e R$ 115.000,00. b. R$ 625.000,00 e R$ 125.000,00. c. R$ 650.000,00 e R$ 150.000,00. d. R$ 675.000,00 e R$ 175.000,00. e. R$ 695.000,00 e R$ 195.000,00. 3. Luiz Claudio deseja comprar uma TV 4K LED de 50 polegadas nas Lojas PraCasa. O preço da TV à vista é de R$ 2.999,99, mas Luiz não dispõe de todo esse dinheiro para comprar a TV. Assim, ele decide fazer um empréstimo no Banco Gama, com taxa de juros de 3,0% a.m., capitalização composta, para pagamento em uma parcela única daqui a 12 meses – e compra sua sonhada TV. Dados: (1,3)12 = 23,2981; (1,03)12 = 1,4258; (1,003)12 = 1,0366 O valor que Luiz pagará ao banco ao final do empréstimo será de: 3838 a. R$ 2.999,99. b. R$ 3.245,29. c. R$ 4.277,39. d. R$ 3.109,79. e. R$ 69.894,07. Referências bibliográficas HOJI, Masakazu. Matemática financeira: didática, objetiva e prática. São Paulo: Atlas, 2016. p. 25-30, 44-49. PAPO RETO FEBRABAN. Ferramentas. Disponível em: https://paporetocomfebraban. com.br/. Acesso em: 26 set. 2019. VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Matemática Financeira. São Paulo: Atlas, 2018. p. 7-11. Gabarito Questão 1 – Resposta D Neste caso, a multa será de 12% sobre o valor da fatura de maio (que era de R$ 1.280,00). Sendo assim, podemos calcular a multa da seguinte forma: Multa = 12% de R$ 1.280,00 = 12% * R$ 1.280,00 = (12/100) * R$ 1.280,00 Multa = 0,12 * R$ 1.280,00 = R$ 153,60. Assim, o novo valor da fatura será: Novo valor = valor fatura + multa = R$ 1.280,00 + R$ 153,60 Novo valor = R$ 1.433,60. https://paporetocomfebraban.com.br/ https://paporetocomfebraban.com.br/ 3939 39 Questão 2 – Resposta B Em questões desse tipo, inicialmente é importante identificar todos os dados que foram apresentados, como segue: - Valor da expansão = valor a ser emprestado = Capital (C) = R$ 500.000,00- Taxa de juros = 2,5 % a.m. - Pagamento em parcela única após 10 meses = tempo operação (t) = 10 meses - Capitalização simples = juros simples - Valor final a ser pago = Montante (M) = ? - Juros a serem pagos = Juros (J) = ? Sendo assim, vamos inicialmente calcular os juros dessa operação. Como se trata de uma operação com capitalização simples (juros simples), basta usar a equação J = C * i * t e substituir os dados oferecidos. Fique atento para conferir se a taxa e o tempo se encontram na mesma base. Como ambos estão com base mensal, podemos fazer a substituição na equação sem maiores problemas. J = 500.000,00 * 2,5% * 10 = 500.000,000 * (2.5/100) * 10 J = 500.000,00 * (0,025) * 10 -> J = 125.000,00. Sendo assim, o valor final a ser pago (Montante, M) pode ser calculado: M = C + J = 500.000,00 + 125.000,00 --> M = 625.000,00 Questão 3 – Resposta C Nesta questão, mais uma vez é importante identificar os dados apresentados no enunciado: - Preço à vista = Valor do financiamento = Capital (C) = R$ 2.999,99 - Taxa de juros = 3,0 % a.m. = (3/100) = (0,03) 4040 - Capitalização composta = juros compostos - Pagamento em parcela única após 12 meses = tempo operação (t) = 12 meses - Valor final a ser pago = Montante (M) = ? Como se trata de uma operação com capitalização composta (juros compostos), basta usar a equação M = C * (1 + i)t. M = 2.999,99 * (1 + 0,03)12 M = 2.999,99 * (1,03)12 Como o enunciado fornece o valor de (1,03)12 = 1,4258, basta substituí-lo na fórmula: M = 2.999,99 * 1,4258 M = 4.277,39. 4141 41 Inflação, taxas de juros reais e nominais Autor: Marcello Eduardo Mônaco Objetivos • Compreender o conceito de inflação e suas causas. • Entender quais são os efeitos da inflação sobre os processos de tomada de decisão em uma empresa. • Assimilar os conceitos de taxas de juros nominal e efetiva, assim como sua importância nas decisões econômico-financeiras de uma organização. 4242 1. Introdução Avaliar a rentabilidade de um investimento é uma das atribuições mais comuns na área financeira de qualquer empresa. Para que tal avaliação atenda aos interesses dos envolvidos, é fundamental que conceitos como inflação, taxa nominal e taxa efetiva sejam plenamente compreendidos pelos profissionais. Nesta leitura, você estudará tais conceitos e será capaz de avaliar qual a opção de investimento mais vantajosa para uma empresa diante de diversas possibilidades oferecidas pelo mercado. 2. Inflação Uma das variáveis mais importantes para a economia de um país é a taxa de inflação. Segundo o site do Banco Central do Brasil (2019), a inflação corresponde ao “aumento dos preços de bens e serviços”. Se os preços aumentam e os salários não são elevados na mesma proporção, a inflação resulta no que chamamos de diminuição do poder de compra da moeda – ou seja, compramos menos com o mesmo recurso que temos. Consideremos um exemplo: imagine que o seu salário é de R$ 1.000,00 por mês e que seu gasto mensal com compras no supermercado é de R$ 800,00 (considerando uma cesta de produtos definida). Imagine, também, que, após seis meses, as mesmas compras no supermercado levaram a um gasto de R$ 850,00 – mas o seu salário permaneceu o mesmo. Assim, seu poder de compra diminuiu – para fazer as mesmas compras no supermercado, você gastou mais e assim sobrou menos dinheiro (apenas R$ 150,00) para a satisfação de outras necessidades. Mas, o que causa a inflação? Segundo o site do Banco Central do Brasil (2019), existem quatro variáveis que podem incentivar o surgimento das taxas inflacionárias: 4343 43 • Pressões de demanda: se existe uma procura acima do normal por um determinado produto, isso pode fazer com que os comerciantes elevem o preço de venda. Um exemplo disso ocorreu durante a greve dos caminhoneiros de 2018, quando em função da falta de combustíveis muitos donos de postos chegaram a cobrar R$ 10,00 por um litro de gasolina. • Pressões de custos: quando o insumo de uma determinada empresa tem seu preço aumentado, isso pode impactar no preço final do produto ofertado aos consumidores. Um exemplo: se a empresa QFria utiliza leite na produção dos seus sorvetes e ocorre um aumento de 10% no preço do leite oferecido pelos produtores, tal aumento poderá ser repassado aos consumidores e gerar um efeito inflacionário. • Inércia inflacionária: corresponde a elevações automáticas de preço, realizadas com base em índices de inflação passados. Ou seja, se no ano de 2020 a inflação medida foi de 5%, muitas entidades podem realizar o aumento de seus preços de forma automática em 2021 com base nesse índice. • Expectativas de inflação: esta parcela está relacionada com a perspectiva que o mercado tem com respeito à evolução inflacionária no futuro. Em ambientes de altos níveis de inflação (como o Brasil na década de 1980), este componente apresenta uma relevância maior do que em outros ambientes. Mas, como a taxa de inflação é calculada? Em geral, esse cálculo é realizado por meio dos chamados índices de preços. No Brasil, inúmeros índices de preços são calculados pelas mais diferentes entidades: IPCA, INPC, IGP, IGP-M, dentre outros. Entretanto, o índice selecionado pelo Banco Central do Brasil no monitoramento da inflação em nosso país (por meio do chamado regime de metas de inflação) é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), fundação do Governo Federal responsável pelo cálculo das estatísticas oficiais brasileiras. 4444 O IPCA estima o custo de uma “cesta de produtos e serviços”, que corresponde ao padrão de consumo das famílias brasileiras com renda entre 1 e 40 salários mínimos. Esta cesta inclui as seguintes categorias: alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação. O levantamento é feito de forma mensal, com resultados gerados para o Total Brasil e para algumas áreas metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal), além dos municípios de Goiânia e Campo Grande. O gráfico 1 apresenta os dados do IPCA levantados no mês de agosto de 2019, para a Região Metropolitana de São Paulo – incluindo o percentual para o índice geral, assim como os percentuais para cada uma das categorias que compõem o IPCA. Gráfico 2.1 – Dados do IPCA na Região Metropolitana de São Paulo, relativos a agosto/2019 Fonte: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice- nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?t=destaques. Acesso em: 30 set. 2019. https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-co https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-co 4545 45 Entretanto, o IPCA não é o único índice de preços calculado em nosso país. Vários outros índices também são produzidos, com diferentes propósitos e metodologias. Veja a seguir alguns desses índices, destacados por Assaf Neto (2019): • IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna): calculado pelo Instituto de Economia da FGV (FGV/IBRE), ele engloba três outros índices: o Índice de Preços no Atacado (IPA, pesando 60% no cálculo), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC, com peso de 30% no cálculo) e o Índice Nacional da Construção Civil (INCC, com 10% no cálculo). • IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado): muito utilizado no mercado, este índice é também calculado pela FGV/IBRE. Ele estima o valor da inflação entre o dia 21 de um mês até o dia 20 do mês seguinte – sendo esta a única diferença metodológica frente ao IGP-DI. • INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor): foi criado pelo Governo Federal para funcionar como balizador para reajustes salariais. Ele é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e avalia apenas a variação de preços de bense serviços destinados ao consumo (incluindo alimentação, vestuário, transporte, entre outras categorias). Sua base de medição é mensal, englobando do primeiro ao último dia de cada mês. Mas se na década de 2010-2020 os níveis de inflação estão controlados e na faixa entre 3,0% e 7,0% ao ano, nem sempre a situação foi tão tranquila. Ao longo do século XX, o Brasil enfrentou grandes dificuldades para conter os picos inflacionários que aconteceram em diferentes momentos de nossa história. O Gráfico 2.1, produzido por Assaf Neto (2019), apresenta a evolução da taxa de inflação no período entre 1935 e 2011. A análise do gráfico demonstra níveis de inflação crescentes entre 1947 e 1963, em meio ao processo de industrialização do país observado nesse período. 4646 Gráfico 2.1 – Evolução da taxa de inflação entre 1935 e 2011 no Brasil Fonte: adaptado de Assaf Neto (2019, s/p). Durante o regime militar os índices de inflação se mantiveram elevados, mas na década de 1980 atingiram níveis ainda maiores – o que desencadeou vários esforços por parte do Governo Federal para reverter esse quadro. Tais esforços se materializaram por meio de seguidos planos econômicos (Plano Cruzado 1 e 2, Plano Bresser, Plano Verão e Plano Collor) – todos gerando efeitos imediatos, mas que não se sustentaram no médio prazo. Apenas em 1994, com o Plano Real, o Brasil conseguiu implementar um conjunto de ações efetivas contra o comportamento inercial de nossa inflação, permitindo que as taxas retornassem a um patamar mais adequado (em torno de 3% a 5% ao ano), situação que felizmente se manteve até os dias atuais. Segundo o site do Banco Central do Brasil (2019), a inflação causa inúmeros efeitos em nossa sociedade: gera incertezas, desestimula os investimentos e impacta o crescimento da economia. Em geral, as classes menos favorecidas acabam sendo mais impactadas por taxas elevadas de inflação – pois normalmente não têm acesso a produtos financeiros (como caderneta de poupança e outras aplicações financeiras) para minimizar o efeito da inflação sobre o seu poder de compra. Além disso, a existência de taxas de inflação elevadas também atrapalha os processos de planejamento das empresas – pois agregam maior incerteza sobre o cenário futuro. 4747 47 PARA SABER MAIS Quer saber mais sobre a forma como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula o IPCA? Acesse o site do IBGE, no qual você pode acessar séries históricas, metodologia de cálculo do índice, releases para a imprensa, dentre outros materiais. E de que forma podemos calcular o impacto efetivo da inflação em nossos recursos? Segundo Assaf Neto (2019), tal impacto pode ser calculado por meio da Taxa de Desvalorização da Moeda (TDM), com base em um índice de preços (ou taxa de inflação) relativo a dado período. A expressão usada nesse cálculo, na qual a parcela INF corresponde à taxa de inflação no período, é apresentada a seguir: Veja como funciona a aplicação dessa equação por meio de um exemplo. Imagine que no ano de 2018, o valor do IPCA tenha sido de 3,75%. Qual foi o impacto dessa taxa inflacionária sobre o consumo das famílias e das empresas? Nesta situação, temos que aplicar a equação da TDM vista anteriormente. Note que, antes de substituir a taxa de inflação (IPCA) na expressão, temos que colocá-la em uma forma decimal, como segue: Agora sim, substituindo o valor na equação da TDM (com INF = 0,0375): 4848 Como sabemos, o resultado encontrado pode ser expresso da seguinte forma: Se a perda de poder de compra foi de 3,61% ao longo de 2017, isso significa que você poderia comprar apenas 96,39% (= 100% - 3,61%) dos produtos e serviços em 2018 se contasse exatamente com os mesmos recursos do ano anterior. 3. Taxa nominal e real Com base nos conceitos relativos à inflação vistos até aqui, você pode perceber que nem todo o rendimento que conseguimos em uma operação (como uma aplicação financeira, por exemplo) representa um acréscimo efetivo do capital investido. Considere o seguinte exemplo: a empresa QFria possuía R$ 1.000.000,00 em caixa para fazer uma aplicação financeira por 12 meses. Após aplicar em um título bancário (CDB), a empresa conseguiu uma rentabilidade de 6,7% – equivalente a R$ 67.000,00. Nesse contexto, podemos então afirmar que o ganho real da QFria foi de R$ 67.000,00? Vamos antes conhecer os conceitos de taxa nominal e real para compreender melhor essa situação. Conforme Assaf Neto (2019), a taxa real (ou efetiva) pode ser vista “como o resultado de uma operação (aplicação ou captação) calculado após serem expurgados os acréscimos oriundos da inflação”. Por outro lado, a taxa nominal representa o percentual bruto de ganho com a operação, sem descontar a taxa de inflação correspondente ao período da mesma. Muito tranquilo, não? A Figura 3.1 apresenta essa relação de forma esquemática. 4949 49 Figura 3.1 – Relação entre taxa nominal, efetiva e inflação Fonte: elaborada pelo autor. Para conseguir determinar tais taxas, que são essenciais no gerenciamento financeiro e na tomada de decisão empresarial, será necessário que você conheça alguns conceitos importantes apresentados por Assaf Neto (2019): • Ganho aparente: corresponde ao valor bruto obtido na operação financeira, após a aplicação de sua taxa nominal. • Variação causada pela inflação: é o valor incremental observado pela aplicação da taxa de inflação no período. • Ganho efetivo: corresponde ao valor do ganho aparente, descontado da parcela gerada pela variação da inflação. • Rentabilidade real: corresponde à taxa efetivamente obtida pela empresa, após ser desconsiderada a parcela relativa à inflação, sendo calculada por meio da expressão: ASSIMILE Quando você necessitar comparar a performance entre diferentes opções de investimento, opte sempre por avaliar a rentabilidade real – que indica o retorno real sobre o investimento, já desconsiderando o efeito da inflação. 5050 Voltemos então ao exemplo da QFria para contextualizar todos os conceitos que foram apresentados. Considere que, durante o período da aplicação da empresa no CDB, a inflação medida pelo IBGE (IPCA) foi de 4,75%. Como você pode calcular a taxa real obtida pela empresa com a aplicação? • Inicialmente, você deve determinar o ganho aparente da operação: Ganho aparente=valor final-valor inicial Ganho aparente = 1.067.000 – 1.000.000 = R$ 67.000,00 • Em seguida, você deve determinar qual a variação sofrida no valor do capital em função da inflação. Para isso, deve aplicar a taxa de 4,75% sobre o capital de R$ 1.000.000,00: Variaçao inflaçao = 4,75% × 1.000.000 = 0,0475 × 1.000.000 Variação inflação = R$ 47.500,00 • Assim, você pode calcular o ganho efetivo da operação, que corresponde à diferença entre o ganho aparente e à variação causada pela inflação: Ganho efetivo = ganho aparente-variacao inflacao Ganho efetivo = 67.000 – 47.500 Ganho efetivo = R$ 19.500,00 • Por fim, você deve calcular o valor da rentabilidade efetiva obtida após essa operação: 5151 51 Note que, apesar da taxa de juros da operação parecer atrativa (6,7% a.a), a rentabilidade real foi de apenas 1,86% (descontando-se o efeito da inflação). Essa situação demonstra como é importante fazer uma avaliação profunda acerca de uma possível operação financeira, de modo a detectar se os ganhos efetivos realmente fazem com que a mesma deva ser contratada (ou não) pela empresa. Dominar os conceitos de taxas de inflação e taxas de juros nominal e efetiva apoiam os profissionais para a tomada de decisão adequada diante de diferentes opções de investimento. Neste momento, revise os conceitos disponibilizados nesta leitura e tente aplicá-los nas questões apresentadas, de forma a fixar o conteúdo aqui exposto. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: você é um investidor que busca alternativas para aplicar seus recursos, que totalizam R$ 1.000.000,00. Após uma reunião com o consultor de investimentosdo Banco Gama, foram oferecidas as seguintes alternativas: - Período do investimento: 1 ano. - Opção 1: aplicação em fundos de ação, com taxa de 8,0% a.a, com impostos sobre os rendimentos de 15%. - Opção 2: aplicação em fundos imobiliários, com taxa de 7,5% a.a, isento de impostos sobre os rendimentos. Considere que a taxa de inflação nesse período é de 2%. Diante desse cenário, qual a taxa efetiva de cada caso? Qual delas é mais vantajosa para o investidor? 5252 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Paulo era o gerente financeiro da empresa QFria e ganhava um salário mensal de R$ 12.000,00 em 01/01/2020. No final do ano de 2020, Paulo percebeu que não recebeu nenhum aumento e que o seu poder de compra era de apenas 94,5% do que ele conseguiu consumir em 2019. Com base nessa situação, o valor da taxa de inflação observada em 2020 foi de: a. 5,12%. b. 5,22%. c. 5,42%. d. 5,62%. e. 5,82%. 2. Carlos Eduardo é o gerente financeiro da empresa QFria e deseja fazer um empréstimo no valor de R$ 800.000,00. Para tanto, Carlos decide procurar o gerente do Banco Gama, Ivan, para verificar quais seriam as condições para essa operação. Com base no histórico favorável da QFria com a instituição, Ivan a concordou em conceder o empréstimo, com as seguintes condições: - Data da concessão do empréstimo: 01/09/2020. - Data de pagamento do empréstimo: 01/09/2021. 5353 53 - Taxa de juros: 11,0% a.a. - Capitalização anual. Carlos Eduardo concordou com as condições e o empréstimo foi efetivado em 01/09/2020. Considere que no período do empréstimo, a taxa de inflação foi de 3,0%. Considerando esta situação, quais foram respectivamente as taxa de juros nominal e efetiva dessa operação? a. 11,0% e 6,9%. b. 11,0% e 7,3%. c. 11,0% e 7,8%. d. 11,0% e 8,0%. e. 11,0% e 8,2%. 3. Eugenio deseja investir o seu 13º salário, no valor de R$ 4.500,00, em um fundo de investimentos imobiliário. Após entrar em contato com o Banco Gama, seu gerente ofereceu as seguintes condições: - Tempo da operação: 1 ano. - Valor investido: R$ 4.500,00. - Taxa de juros: 7,5% ao ano. - Inflação no período da aplicação: 2,7%. Eugenio concorda em fazer a aplicação, a qual foi efetivada no dia 01/06/2020. 5454 Os valores do ganho aparente e do ganho real são, respectivamente, iguais a: a. R$ 115,50 e R$ 79,50. b. R$ 195,50 e R$ 177,50. c. R$ 210,50 e R$ 190,50. d. R$ 293,50 e R$ 245,50. e. R$ 337,50 e R$ 216,00. Referências bibliográficas ASSAF NETO, Alexandre. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2019. Banco Central do Brasil - BACEN. O que é inflação. Disponível em: https://www.bcb. gov.br/controleinflacao/oqueinflacao. Acesso em: 30. set. 2019. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/ economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo. html?t=o-que-e. Acesso em: 30 set. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta E Nesta questão, inicialmente você precisa avaliar a perda do poder de compra observado por Paulo. Como ele indicou que consegue comprar apenas 94,5% do que conseguia no ano anterior, podemos concluir que seu salário perdeu 5,5% de poder de compra, calculado como destacado a seguir: TDM = (poder compra em 2019) – (poder compra em 2020) TDM = 100% – 94,5% → TDM = 5,5% = 0,055 https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/oqueinflacao https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/oqueinflacao https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-co https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-co https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-co 5555 55 Por outro lado, temos a equação que relaciona a taxa de desvalorização da moeda e a taxa de inflação: Aplicando o valor do TDM na equação, temos: Com isso, a alternativa correta é a letra E Questão 2 – Resposta C Em questões desse tipo, inicialmente é importante identificar todos os dados que foram apresentados, como segue: • Valor do empréstimo = Capital = R$ 800.000,00 • Data da concessão do empréstimo: 01/09/2020 / Data de pagamento do empréstimo: 01/09/2021 Portanto, o tempo da operação é de 1 ano. • Taxa de juros: 11,0% a.a esta é a taxa de juros da operação taxa nominal • Capitalização anual significa que o cálculo dos juros é realizado uma vez ao ano, com base na taxa da operação • Taxa de inflação (INF) = 3,0% 5656 Para resolver a questão, você precisa inicialmente calcular os ganhos aparente e real dessa operação. O ganho aparente corresponde à aplicação da taxa de juros da operação sobre o capital, como segue: Ganho aparente = 11% × 800.000 = 0,11 × 800.000 = R$ 88.000,00 A seguir, você deve calcular qual o valor da variação da inflação sobre o capital – aplicando-se a taxa de inflação (INF), como descrito a seguir: Variaçao inflaçao = 3% × 800.000 = 0,03 × 800.000 → Variaçao inflaçao = R$ 24.000,00 Em seguida, deve ser apurado o ganho efetivo da operação: Ganho efetivo = ganho aparente – variacao inflacao Ganho efetivo = 88.000 – 24.000 Ganho efetivo = R$ 64.000,00 Por fim, deve ser calculada a rentabilidade real dessa operação: Diante disso, temos que a taxa de juros nominal corresponde a 11% (taxa da operação), enquanto a taxa efetiva foi de 7,8% - de forma que a alternativa correta é a letra C Questão 3 – Resposta E Nesta questão, mais uma vez é importante identificar os dados apresentados no enunciado: 5757 57 • valor da aplicação = Capital = 4.500,00 • tempo da operação: 1 ano • taxa de juros: 7,5% ao ano • taxa de inflação no período da aplicação: 2,7% Novamente, você precisa calcular os ganhos aparente e real dessa operação. O ganho aparente corresponde à aplicação da taxa de juros da operação sobre o capital, como segue: Ganho aparente = 7,5% × 4.500 = 0,075 × 4.500 = R$ 337,50 A seguir, você deve calcular qual o valor da variação da inflação sobre o capital – aplicando-se a taxa de inflação (INF), como descrito a seguir: Variaçao inflaçao = 2,7% × 4.500 = 0,027 × 4.500 → Variaçao inflaçao = R$ 121,50 Em seguida, deve ser apurado o ganho efetivo da operação: Ganho efetivo = ganho aparente – variacao inflacao Ganho efetivo = 337,50 – 121,50 Ganho efetivo = R$ 216,00 Sendo assim, a alternativa que corresponde aos valores do ganho aparente e do ganho real aqui calculados é a alternativa E. 585858 Sistemas de amortização Autor: Marcello Eduardo Mônaco Objetivos • Compreender o conceito de amortização de uma operação financeira. • Apresentar as principais características do Sistema de Amortização Constante (SAC) e do Sistema Francês de Amortização (SFA/Price). • Preparar o aluno para realizar cálculos relacionados aos dois sistemas de amortização, permitindo a adequada tomada de decisão em situações de captação de recursos. 5959 59 1. Introdução Em muitos momentos do dia a dia de uma empresa, torna-se necessário levantar recursos para fazer frente a suas necessidades, seja de curto como de longo prazo. Em muitas dessas operações, as instituições financeiras aplicam os conceitos de sistemas de amortização – fundamentais para qualquer usuário ou profissional da área financeira para a adequada tomada de decisão no ambiente corporativo. 2. Conceitos iniciais Muitas vezes as pessoas utilizam os termos “empréstimo” e “financiamento” como sinônimos, mas há uma diferença conceitual entre eles. Segundo Hoji (2016), enquanto o empréstimo se refere a um valor obtido sem qualquer finalidade específica, o financiamento corresponde a um recurso que visa atender a uma aquisição específica (como a compra de uma máquina, a importação de um equipamento, etc). Sendo assim: • Se uma pessoa vai a um banco para obter R$ 1.000,00 para cobrir o seu “cheque especial” e se preparar para as despesas de fim de ano, essa operação é caracterizadacomo um empréstimo. • Se uma pessoa vai ao Banco Gama para obter R$ 30.000,00 necessários para a compra de seu primeiro carro 0 Km na Concessionária ABCD, essa operação financeira é definida como um financiamento. Conseguiu compreender a diferença? Mas seja qual for o tipo de operação contratada (empréstimo ou financiamento), como funciona o processo de pagamento do valor inicialmente recebido pela pessoa ou empresa que contratou a operação? 6060 Antes de mais nada, é fundamental que você saiba qual o conceito de amortização. Segundo Hoji (2016), ocorre a amortização de uma operação financeira no momento em que a pessoa ou empresa devolve parte do capital por meio do pagamento de uma parcela. Ou seja, a amortização corresponde à parte da dívida em questão que está sendo efetivamente paga. Para deixar esse conceito mais claro, considere um exemplo: imagine que Marcello deseja comprar uma nova casa no valor de R$ 360.000,00. Como ele não possui recursos suficientes para essa aquisição, procura o Banco Gama para obter esses recursos. Após fazer os cálculos pertinentes (e que você aprenderá ao longo desta leitura), considerando taxa de juros de 0,5% ao mês, o banco informa que ele deverá pagar o financiamento em 360 parcelas – com a primeira no valor de R$ 2.800,00 - para ter acesso ao recurso necessário para a compra da casa. Neste contexto, imagine que Marcello efetuou o pagamento da 1ª parcela do seu financiamento no valor de R$ 2.800,00. Será que todo esse valor pago está reduzindo sua dívida com o Banco Gama? Infelizmente, não. Saiba que, dentro de uma parcela de uma operação financeira, parte desse valor corresponde à amortização (e está “pagando” de fato a dívida), enquanto o restante corresponde aos juros. A Figura 2.1 mostra de forma esquemática essa composição para a 1ª parcela do financiamento em questão. Figura 2.1 – Composição do valor – 1ª parcela do financiamento Fonte: elaborada pelo autor. 6161 61 Ou seja, no exemplo em questão, apenas R$ 1.000,00 da primeira parcela correspondem à amortização – e efetivamente pagam a dívida. Assim, após o pagamento da primeira parcela, a dívida será de R$ 359.000,00 (ou seja, corresponderá ao valor financiado de R$ 360.000,00 menos a amortização de R$ 1.000,00). 3. Sistemas de amortização Segundo Hoji (2016), um sistema de amortização consiste em um fluxo de caixa no qual o valor da operação é concedido no início do prazo, sendo esse valor (acrescido de juros) amortizado totalmente até o vencimento da operação financeira. Ou seja, após a liberação inicial do capital do empréstimo ou financiamento, ele será gradativamente amortizado até que o prazo da operação chegue ao final. São componentes comuns a todos os sistemas de amortização, segundo Hoji (2016): • Juros (J): sempre calculados sobre o saldo devedor da operação ao final do mês anterior. • Parcela (P): corresponde ao valor total pago pelo contratante da operação em cada período da operação. • Saldo devedor do mês (SD): calculado por meio da seguinte expressão: SD = Saldo devedor anterior + J – P → (como P = J + A) → SD = Saldo devedor anterior – A • Amortização (A): seu cálculo dependerá do sistema de capitalização. No entanto, sempre é válida a seguinte expressão: P = A + J 6262 A seguir, você estudará os dois sistemas de amortização mais comumente utilizados no mercado: SAC e SFA. 3.1 Sistema de Amortização Constante (SAC) A principal característica do Sistema de Amortização Constante (SAC) está expressa em seu nome – ou seja, em todas as parcelas do empréstimo ou financiamento, o valor da amortização paga será sempre o mesmo (constante). E como o valor da amortização (A) pode ser calculado? Basta dividir o valor do financiamento pelo número de parcelas, conforme apresentado a seguir: Além disso, no sistema SAC tanto as parcelas pagas como os juros serão decrescentes. Para compreendermos as características deste sistema, considere o seguinte exemplo: José Carlos deseja comprar uma máquina para sua tecelagem, com valor de R$ 200.000,00. O Banco Gama financiará a operação pelo sistema SAC, com taxa de juros de 1% ao mês e duração de 2 meses (data da operação: 01/05/2020). Quais os valores de parcela, amortização e juros a serem pagos por José Carlos em cada mês da operação? Em situações desse tipo, será necessário calcular mês a mês as condições da operação: • Inicialmente, vamos calcular a amortização (A), considerando a equação apresentada anteriormente: 6363 63 • Mês zero (corresponde à data da operação, ou seja, 01/05/2020). Saldo devedor (SD) = SDmês 0 = R$ 200.000,00 • Mês 1 (corresponde a 01/06/2020): Neste momento, já sabemos qual o valor de Amortização que será pago no mês 1: Amês 1 = 100.000,00 Sendo assim, devemos calcular os juros no mês 1 – que corresponde à aplicação da taxa sobre o saldo devedor do mês anterior: Jmês 1 = tx juros × SDmês 0 = 1% × 200.000,00 = 0,01 × 200.000,00 Jmês 1 = R$ 2.000,00 Como já foi visto nesta Leitura Fundamental, o valor da parcela é calculado pela soma da amortização com os juros: P = A + J → Pmês 1 = Amês 1 + Jmês 1 → Pmês 1 = 100.000 + 2.000 Pmês 1 = R$ 102.000,00 Com isso, calculamos os valores de J, P e A para o mês 1. Mas qual será o saldo devedor do financiamento ao final do mês 1? SD = Saldo devedor anterior – A SDmês 1 = SDmês 0 – A = 200.000 – 100.000 → SDmês 1 = R$ 100.000,00 • Mês 2 (corresponde a 01/07/2020): Neste momento, já sabemos qual o valor de Amortização que será pago no mês 2 (que é igual ao valor pago no mês 1): Amês 2 = 100.000,00 6464 Sendo assim, devemos calcular os juros no mês 2 – que corresponde à aplicação da taxa sobre o saldo devedor do mês anterior: Jmês 2 = tx juros × SDmês 1 = 1% × 100.000,00 = 0,01 × 100.000,00 Jmês 2 = R$ 1.000,00 Como você já estudou, o valor da parcela é calculado pela soma da amortização com os juros: P = A + J → Pmês 2 = Amês 2 + Jmês 2 → Pmês 2 = 100.000 + 1.000 Pmês 2 = R$ 101.000,00 Com isso, calculamos os valores de J, P e A para o mês 2. E qual será o saldo devedor do financiamento ao final do mês 2? SD = Saldo devedor anterior – A SDmês 2 = SDmês 1 – A = 100.000 – 100.000 → SDmês 2 = R$ 0,00 Este resultado faz sentido para você? Claro que sim! Afinal, depois de transcorrido o período da operação (2 meses), espera-se que o saldo devedor seja igual a zero! Preste atenção, pois essa situação sempre ocorre nas operações relativas a sistemas de amortização! 3.2 Sistema Francês de Amortização (SFA ou Price) Este sistema de amortização foi criado pelo matemático inglês Richard Price, sendo comumente conhecido como Sistema Price. Ele é um dos sistemas mais utilizados no mercado. A principal característica do Sistema Francês (SFA) é que nele as parcelas são sempre constantes – sendo calculadas pela expressão abaixo: onde i corresponde à taxa de juros da operação e n corresponde ao prazo dela. 6565 65 Ou seja, no SFA, o valor da parcela paga será sempre o mesmo – variando os valores de amortização e juros a cada período. ASSIMILE Sistema SAC valor da amortização é constante. Sistema SFA (Francês/Price) valor da parcela é constante. Vamos usar um exemplo bem parecido com o anterior para mostrarmos como funciona o cálculo via SFA: José Carlos deseja comprar uma máquina para sua tecelagem, com valor de R$ 200.000,00. O Banco Gama financiará a operação pelo sistema SFA (Price), com taxa de juros de 1% ao mês e duração de 2 meses (data da operação: 01/05/2020). Quais os valores de parcela, amortização e juros a serem pagos por José Carlos em cada mês da operação? Mais uma vez, será necessário calcular as condições da operação mês a mês: • Inicialmente, vamos calcular o valor da parcela (P), considerando a equação apresentada e os dados fornecidos no problema: Valor financiado: R$ 200.000,00 Taxa de juros da operação (i) = 1% a.m. = 0,01 Tempo da operação (n) = 2 meses Obs.: vale destacar que a taxa de juros (i) e o período de
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