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RESENHA - ÁFRICA ISLÃ

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE
CAMPUS GARANHUNS
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
HISTÓRIA DA ÁFRICA, 4º PERÍODO
M’BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. Pag.: 460-502. Tradução: Alfredo Margarido. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2009.
Profª. Me. Maria Giseuda de Barros Machado [footnoteRef:1]
Diego Luiz Ribeiro de Almeida [footnoteRef:2]2 [1: Mestra e professora do curso de História na Universidade de Pernambuco – UPE, Campus Garanhuns.] [2: 2 Graduando do curso de História pela Universidade de Pernambuco – UPE, Campus Garanhuns] 
RESENHA – Documento 49: A busca de um islã popular na Senegâmbia
 África Negra: história e civilizações, é uma obra escrita pelo escrito pesquisador congolês Elikia M’bokolo em 2008 e foi traduzida em 2011 pelo projeto editorial Histórias ao Sul, coordenado por José Murilo de Carvalho, Lilia Moritz Schwarcz e Valdemir Zamparoni. Elikia é professor na Universidade de Kinshas do Congo, com estudos voltados para a História Moderna e Contemporânea da África, em uma perspectiva de longa duração. Sua história de vida contribui para suas pesquisas, uma vez que viveu o colonialismo, o apartheid e a descolonização. 
O texto abordado na presente resenha se inicia a partir da página 460, onde Elikia aborda as guerras e revoluções ocorridas na região da Senegâmbia. Essa parte do texto é intitulada Documento 49: a busca de um islã popular na Senegâmbia. No primeiro tópico desse texto, intitulado A guerra dos marabus, é enfocado nos esforços de Nasir-al-Din, um líder marabu, em levar o islã aos reinos do vale do Senegal, numa tentativa de diminuir a tirania dos reis locais. É interessante perceber como religião e política se misturam nesse processo, onde a religião funciona como justificativa e pano de fundo para as preocupações políticas e sociais. Mesmo possuindo pouca duração (1673 a 1678), suas implicações foram importantes e tiveram “efeitos duradouros” (p. 462). Em seguida, o autor aborda Malik Sy e o Bundu. O Bundu foi a primeira região a ter um movimento semelhante, liderado por Malik Sy, um taumaturgo que conseguiu transformar poder econômico em poder político-militar. Outro local abordado por Elikia, o Fuuta Jallon, teve a guerra santa como uma reação à violência oriunda do escravismo. As aspirações de outros grupos, como os peul e os mandingas, também são fatores a se destacar. Nesse contexto, o islã ofereceu “suporte discursivo” (p. 465) para as múltiplas reivindicações. As consequências desta guerra santa foram sentidas em diversos segmentos da sociedade, como o surgimento de uma nova classe política. O Fuuta Jallon é outro exemplo da religião, no caso o islã, como justificativa para a reformulação política da sociedade.
Em Abdul Kader e o Fuuta Tooro, o autor vai destrinchar a chegada do islã na região chamada, como o título sugere, de Fuuta Tooro. A revolução islâmica em Fuuta Tooro foi encabeçada por Abdul Kader, determinado a instalar o Estado islâmico na região. Para isso, foi necessário vencer os denianke, antiga dinastia reinante. Após uma grave crise ocorrida no ano de 1720, o movimento islâmico torna-se mais ativo e consegue apoiadores entre as lideranças locais. Entretanto, são seria fácil a instalação do Estado islâmico, pois eram várias as oposições à revolução, como as lideranças locais denianke e os mouros. Estas, porém, não foram as maiores dificuldades enfrentadas por Abdul Kader, mas sim os estados vizinhos e os franceses. Apesar das dificuldades, Abdul Kader é proclamado almami. A primeira dificuldade Abdul que enfrenta é a falta de conexões internas, uma vez que ele esteve fora do Fuuta Tooro, em formação. Outro problema durante seu governo foi a manutenção de privilégios, contrariando as expectativas de um governo mais socializante. Esse fato gerou insatisfação, que culminou em rebeliões e insurreições. Por fim, o almami perdeu a maior parte de seus poderes originais, sendo controlado por uma elite de dignitários. “Apesar dos inúmeros reveses”, como afirma Elikia (p. 472), “essas revoluções islâmicas da época negreira não foram fracassos definitivos.” Uma vez que movimentaram o panorama politico local e demonstraram a possibilidade de mudança, a participação do islã na África já representa algo a ser considerado. Além disso, a busca por um islã popular ainda era almejada. Contudo, o islã não foi a única religião que adentra a África. O cristianismo, que já havia penetrado o continente muito antes, sofre um processo de reapropriação no século XVIII, na região do Kongo. Os nativos, inicialmente, não entendiam o cristianismo como uma religião, mas como “um núcleo de crenças estranhas” (p. 474). As crises pelas quais o Kongo passava foram um dos motivos para essa modificação de paradigma, pois muitas pessoas acreditavam que o cristianismo poderia mudar sua sorte. Com isso surgem, também, profetas e profetisas que são posteriormente julgados por heresia. Esse processo culminou com mudanças tanto na fé local, que sofre influencia do cristianismo, como na própria religião judaica.
No tópico intitulado Revoltas, fugas, quilombos, o autor começa a tratar das formas de resistência realizadas pelos escravos no continente africano. Inicialmente, aborda as insurreições realizadas nos navios, como forma de evitar a deportação. A maioria dessas revoltas de escravos empreendidas em navios foram bem-sucedidas, conseguindo destruir os navios ou tomá-los. Além das revoltas realizadas pelos escravos, também houveram navios atacados por africanos livres. Em alguns desses casos, a motivação era solidariedade pelos escravizados, mas também era comum que esses assaltos ocorressem por motivos políticos. Por último, haviam os ataques aos navios sem motivo aparente, devido à má reputação que os navios negreiros possuíam na costa. Em seguida, Elikia aborda as revoltas e aquilombamentos, afirmando que mesmo que as maiores e mais estudadas revoltas remontem ao século XIX, antes dessa data ocorreram sim outras ações revoltosas. A região da Senegâmbia possui informações bastante precisas sobre essas revoltas armadas. No local, sempre houve o temor de que houvesse uma revolta de escravos. Por isso, foram criadas leis para evitar que os escravos pudessem insurgir-se. Essa atitude não impede a revolta, que ocorre em meados do século XVIII. Os escravos fugidos formavam cidades ou se dirigiam para outras regiões. Contudo, a falta de fontes leva o autor a postular hipóteses sobre as formas de resistência na região costeira. A primeira hipótese seria a dos mecanismos integradores, onde os escravos usariam das estruturas existentes na própria sociedade. A outra hipótese seria de fugas individuais ou coletivas, onde os fugitivos criariam comunidades quilombolas. 
Em seguida, no tema O começo do processo colonial, o autor aborda algumas das formas de colonização. As feitorias, ao contrário do que se possa pensar, não desempenhavam um papel tão importante na máquina colonial, pois eram deficitárias em pessoal e em poder de influência, além de dependerem dos reinos vizinhos. A mestiçagem, que já vinha ocorrendo antes desse período, foi apenas acentuada pela colonização. Todavia, essa mestiçagem ocorria de acordo com as necessidades europeias de se integrarem aos reinos africanos, uma vez que ainda era primada a continuidade do “sangue puro”. Os mestiços gerados desse processo ocupavam um lugar intermediário entre europeus e africanos, tanto do ponto de vista social, quanto como verdadeiros intermediadores das relações entre os continentes. Quanto à aculturação, esta se deu de duas maneiras principais: a cristianização e a escola. No que se refere à cristianização, Portugal se destaca na tentativa de assimilação da religião pelos africanos (p. 488). As escolas, por sua vez, representaram uma inesperada forma de ascensão social para alguns africanos, que a partir do estudo, puderam melhorar suas condições e desenvolverem algum ofício. Elikia volta a falar dos mestiços, detalhando seu papel em meio à colonização e afirmando que alguns deles chegaram a acumular grandesquantidades de riqueza e algum poder político. Em alguns locais, como Sereno e Pequena-Costa, as mulheres desempenharam papéis importantes, o que não ocorre na Costa do Ouro, dominada por homens. O autor termina o tópico destacando como alguns desses mestiços, ou até mesmo negros, que obtiveram destaque econômico e político, acabam sofrendo um processo de aculturação, passando então a verem a Europa como um modelo. 
Em A dinâmica do oceano Índico, Elikia começa a tratar das relações dos reinos da África com os países do oriente, proporcionadas pela via marítima oferecida pelo Índico. O autor afirma que os colonizadores árabes eram, de um modo geral, tão ricos quanto os europeus, contudo não tão influentes culturalmente falando. Ocorrido por volta do século XV, esse ingresso dos árabes no continente trouxe muitos conflitos, em especial com os católicos e portugueses. Esse fato, somado às agitações internas ocorridas na África, causou várias alterações no seio do continente. Entre elas, a perda do equilíbrio, as reorganizações geográficas e políticas realizadas por alguns povos, etc. A expansão da cultura suaíli ocorre nesse meio tempo, sendo esse povo caracterizado pelo forte intercambio, em vários sentidos, com os persas e árabes, além dos indianos. Até onde as culturas se misturam é alvo de dúvidas, pois os mitos de fundação são pouco claros quanto a isso. Entretanto, o autor afirma que o reino Suaíli foi bastante prospero, chegando a impressionar os europeus por sua magnificência. Por outro lado, a cultura suaíli aparece como dependente, economicamente falando, do sucesso de suas importações. O mais impressionante em relação a essa rica civilização é sua síntese cultural, unindo e abarcando mais de três matrizes. Por fim, Elikia aborda os prazos moçambicanos: a “africanização” dos portugueses e indianos. Nos chamados prazos moçambicanos, porções de terras desejadas pelos portugueses, houve uma das mais eficientes formas de resistência ao colonialismo. Nenhuma investida militar europeia conseguiu alcançar o local. Várias estratégias foram empreendidas nessa região, como deslocamentos em massa. Para além da resistência ao imperialismo, os prazos, que deveriam ser uma instancia portuguesa, acabaram sofrendo uma “africanização”, demonstrando a força africana.
De forma geral, Elikia traz em sua escrita toda a clareza e profundidade de alguém que não só possui autoridade para falar sobre o tema, como também identificação com o mesmo. Abordando diversos povos, etnias, culturas e termos distintos, o autor não perde o fio da meada e desenvolve uma escrita repleta de informações e ideias importantes para o entendimento da África e de alguns processos que permeiam a História do continente. O processo de tradução deixa algumas partes do texto difíceis de serem entendidas em um primeiro momento, contudo, isso não prejudica a leitura atenta e comprometida que deve ser feita no âmbito acadêmico.

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