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PROTOCOLO DE ULTRASSONOGRAFIA GERAL 1 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 3 ULTRASSONOGRAFIA .......................................................................... 4 NORMAS E ROTINAS DO DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EXAMES DE ULTRASSOM .................................................................................................... 4 O IMPACTO DO PROJETO DE LEI Nº 3.661/2012 NA ULTRA- SONOGRAFIA .................................................................................................. 5 INFARTO PÓS-TRANSPLANTE HEPÁTICO ......................................... 6 PSEUDOANEURISMA DA ARTÉRIA RENAL APÓS TRANSPLANTE: UM RELATO DE CASO........................................................................................... 8 DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO DE FRATURAS DE ESTRESSE EM METATARSOS: SÉRIE DE 7 CASOS CORRELACIONADOS COM OUTROS EXAMES DE IMAGEM .......................................................... 10 DOPPLER COLORIDO TRANSCRANIANO NA MORTE ENCEFÁLICA ........................................................................................................................ 11 COLANGIOPATIA POR HIV: RELATO DE CASO ................................ 12 DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO DE TRIORQUIDIA: RELATO DE CASO ........................................................................................................ 13 ACURÁCIA DO ULTRASSOM NA AVALIAÇÃO DA RESSECABILIDADE DE TUMORES ABDOMINAIS SÓLIDOS EM CRIANÇAS ............................... 15 CARACTERIZAÇÃO TECIDUAL ULTRASSONOGRÁFICA (CATUS) DE RINS TRANSPLANTADOS: PESQUISA EM FASE DE DESCOBERTA ......... 16 DOPPLER DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES – SISTEMA VENOSO PROFUNDO ................................................................................... 25 DOPPLER DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES – SISTEMA VENOSO SUPERFICIAL ................................................................................ 26 DOPPLER DAS ARTÉRIAS DOS MEMBROS INFERIORES ............... 28 2 2 DOPPLER DAS ARTÉRIAS DOS MEMBROS SUPERIORES ............. 29 DOPPLER VENOSO DOS MEMBROS SUPERIORES ........................ 30 DOPPLER DE ARTÉRIAS RENAIS ...................................................... 31 DOPPLER HEPÁTICO / SISTEMA PORTA .......................................... 32 PAREDE ABDOMINAL ......................................................................... 34 BOLSA TESTICULAR .......................................................................... 35 BOLSA TESTICULAR COM DOPPLER ............................................... 35 PRÓSTATA VIA SUPRAPÚBICA ......................................................... 37 PRÓSTATA VIA TRANSRETAL ........................................................... 37 DEMAIS EXAMES ................................................................................ 38 IMPRESSÃO DA DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA ........................ 38 COMO REALIZAR O EXAME ............................................................... 40 ACHADOS NORMAIS NA US DE PULMÕES E PLEURAS.................. 41 SINAIS ULTRASSONOGRÁFICOS DE ALTERAÇÕES PULMONARES, PLEURAIS E DA PAREDE TORÁCICA .......................................................... 43 DESTAQUES NA COVID-19 ................................................................ 49 O RELATÓRIO DA US DE TÓRAX ...................................................... 50 SUGESTÃO DE RELATÓRIO .............................................................. 50 REFERENCIAS .................................................................................... 53 3 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 4 ULTRASSONOGRAFIA A ultrassonografia é um método de diagnóstico que se baseia em ondas sonoras de alta frequência que são emitidas através do transdutor que desliza sobre a pele/mucosa. Ao encontrar os diferentes tecidos internos, essas ondas produzem ecos, que são convertidos em imagem. Possibilita o estudo dinâmico de diversos órgãos e/ou estruturas. Há técnicas especificas para o estudo de cada região de interesse. Devido aos procedimentos intervencionistas de diagnóstico e tratamento, a ultrassonografia tornou-se um dos métodos utilizados para a orientação dos mesmos. O exame ultrassonográfico deve ser realizado por médico especialista. NORMAS E ROTINAS DO DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EXAMES DE ULTRASSOM • OBSTÉTRICO • DOPPLER • PÉLVICO • TRANSVAGINAL • ABDOMINAL; • ORGÃOS ISOLADOS • MAMAS • E MORFOLÓGICO 5 5 •ULTRASSONOGRAFIA EM NEONATALOGIA (Transfontanela, Abdominal, Renal, Quadril, etc). O IMPACTO DO PROJETO DE LEI Nº 3.661/2012 NA ULTRA- SONOGRAFIA Principais pontos do Projeto de Lei Nº 3.661 de 2012, de autoria original do senador Paulo Paim, do Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio Grande do Sul, atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, sob a liderança da Deputada Federal Benedita da Silva, do PT do Rio de Janeiro, que visa atualizar a Lei 7.394 de 1985, com a formação do Bacharel em Ciências Radiológicas e a inclusão do Tecnólogo em Radiologia na área de Diagnóstico por Imagem, entre outros aspectos. ´ Material e métodos: Foi avaliado do ponto de vista médico e jurídico o impacto a ser gerado pelo referido Projeto de Lei, mediante a análise da experiência norte-americana, onde os radiologistas são os legalmente responsáveis pelo exame, mesmo quando as imagens em tempo real são obtidas pelo tecnólogo em radiologia, e a comparação com o que é feito atualmente na Europa e no Brasil. Resultados: Em abril de 2012, o Congresso Nacional decretou que a lei 7.394, de outubro de 1985, dispondo sobre o exercício das profissões de Técnico e Tecnólogo em Radiologia, passou a vigorar com a seguinte alteração, entre outras: “Artigo 1º, inciso II – imagenologia: obtenção de imagens por ressonância magnética, ultrassonografia e outros métodos que não utilizam fontes ionizantes. A Ultrassonografia é uma área altamente competitiva e muitos profissionais, dentro e fora da Medicina, almejam incorporá-la a sua rotina de 6 6 trabalho, porém nem todos apresentam a habilidade de realizar o exame e interpretar adequadamente as imagens. Além disso, a demanda por exames de ultrassom tem crescido vertiginosamente nas últimas décadas. A Radiologia, como especialidade médica, está enfrentando, portanto, uma situação arriscada, pois, se aprovado, o Projeto de Lei 3.661/2012, nos termos amplos e inespecíficos empregados, ampliaráo leque de profissionais habilitados à realização de ultrassonografia, incluindo aqueles não médicos, em que pesem as manifestações do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia negando tal intuito, e a aprovação, ainda pendente de sanção presidencial, da Lei do Ato Médico. INFARTO PÓS-TRANSPLANTE HEPÁTICO Complicações vasculares pós-transplante hepático estão associadas a altos índices de morbidade e mortalidade. A trombose de artéria hepática é a complicação mais frequente, seguida de estenose de artéria hepática. Tromboses de veias supra-hepáticas não são comumente relatadas. Objetivo: Descrever o caso de trombose de veias supra-hepáticas direita e esquerda pós-transplante hepático. Método: Para o acompanhamento e diagnóstico foi realizada ultrassonografia (US) com auxílio de Doppler e colangiorressonância. Relato de caso: Paciente feminina, 61 anos, diagnóstico de hepatite C através de exames laboratoriais de rotina há 13 anos. 7 7 Feito acompanhamento ambulatorial mediante dosagem de alfa- fetoproteína e US de abdome total, em 2012, identificou-se um nódulo suspeito de hepatocarcinoma. Na ressonância magnética apresentava lesão nodular expansiva, captante de contraste nos segmentos hepáticos II e III, medindo 34 × 20 mm de diâmetro. Sinais de hepatopatia crônica caracterizada por hipertrofia dos lobos esquerdos, além de intensidade de sinal discretamente heterogêneo e contornos microlobulares. US Doppler revelou veia porta sem sinais de trombose, fluxo monofásico centrípeto. Tomografia computadorizada não identificou metástase em crânio, tórax e abdome. Em março de 2013 foi realizado transplante hepático. No pós- operatório a paciente exacerbou quadro de confusão mental pré-existente e apresentou dispneia por derrame pleural bilateral com posterior drenagem. Recebeu alta hospitalar com imunossupressão após término de sintomas e exame de US com perviedade de vasos hepáticos, fluxo normal. Após 26 dias do transplante apresentou aumento de transaminases em consulta ambulatorial. Na US Doppler havia vasos hepáticos com perviedade. Biópsia demonstrou ausência de endotelite e presença de congestão sinusoidal e colestase discreta. Em cinco dias retornou com vômitos, dor em hipocôndrio direito e dispneia. Ao ser avaliada por US Doppler, identificou-se trombose de veia supra- hepática direita e esquerda. Paciente com RNI de 1,0 em uso de enoxiparina, iniciou marevan. Nos seguintes dias ainda mostrava trombose e havia aumento de enzimas canaliculares. 8 8 Ajustados imunossupressores. Paciente recebeu alta com imunossupressores e anticoagulante para seguimento ambulatorial. Resultados e conclusão: Trombose de veia supra-hepática é incomum, há poucos relatos dessa complicação, ainda se as veias direita e esquerda são acometidas concomitantemente. Muitas vezes assintomática no início, foi feito diagnóstico em vista das alterações de transaminases seguidas das de enzimas canaliculares, o que incentivou a procura de complicações, que são diagnosticadas somente por exames de imagem. Ao contrário da maioria das outras complicações vasculares póstransplante hepático que são tratadas com revascularização ou re- transplante, o caso foi conduzido com sucesso com tratamento clínico. PSEUDOANEURISMA DA ARTÉRIA RENAL APÓS TRANSPLANTE: UM RELATO DE CASO O pseudoaneurisma da artéria renal é uma complicação vascular incomum, porém não rara, nos pacientes em pós-operatório de transplante renal. Consiste em uma cavidade extravascular que se comunica com a artéria, havendo fluxo de entrada e saída no seu interior. É um transtorno evidenciado por alterações clínicas e confirmado por exames de imagem. A ultrassonografia com Doppler colorido é a técnica inicial de escolha para avaliar pacientes que não estejam dentro da evolução esperada após a cirurgia, indicando a necessidade de outros exames. 9 9 Objetivos: Relatar o caso de um paciente jovem, sexo masculino, que realizou transplante renal devido a doença parenquimatosa por hipertensão arterial, tendo evoluído no 10º dia pós-operatório com piora da função renal, anúria e necessidade de diálise. Foi diagnosticado com pseudoaneurisma da artéria renal após ultrassonografia, confirmado também com tomografia computadorizada com contraste. Iremos ilustrar os achados ultrassonográficos do pseudoaneurisma da artéria renal neste paciente através de fotos e vídeos, e correlacionar o caso clínico com a literatura vigente, através de uma revisão. Discussão: Existem achados ultrassonográficos que identificam o pseudoaneurisma e que devem ser prontamente reconhecidos pelos ultrassonografistas, uma vez que é necessária uma terapêutica rápida e efetiva para evitar ruptura da lesão e choque hipovolêmico. Ao modo B, observa-se geralmente uma lesão ovalada, de aspecto cístico, em íntimo contato com a artéria renal e/ou artéria ilíaca externa e que apresenta fluxo ao estudo Doppler, visto de forma turbilhonada em ying-yang (sinal característico). Devido ao perigo de rotura iminente, a conduta recomendada habitualmente consiste em clampeamento do vaso acometido e remoção do enxerto, desfecho que ocorreu na evolução do paciente em questão. 1 0 10 DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO DE FRATURAS DE ESTRESSE EM METATARSOS: SÉRIE DE 7 CASOS CORRELACIONADOS COM OUTROS EXAMES DE IMAGEM As fraturas de estresse são lesões ósseas causadas por impactos repetitivos. Estão relacionadas com aumento súbito da intensidade ou a iniciação em exercícios de alto impacto, como corrida, dança e treinamento militar. Os ossos mais comumente acometidos incluem tíbia, fíbula e metatarsos. Os sintomas e sinais iniciais incluem dor local e aumento de partes moles. Na vigência de quadro clínico sugestivo, a confirmação diagnóstica precoce por métodos de imagem é essencial para evitar consequências catastróficas e até mesmo a necessidade de intervenção cirúrgica em alguns casos. Os métodos considerados padrão ouro são a ressonância magnética e a cintilografia óssea. A radiografia convencional possui baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de fraturas recentes. A ultrassonografia tem emergido nos últimos anos como um método com boa acurácia para o diagnóstico, inclusive para fraturas recentes, apresentando vantagens importantes com relação aos dois principais métodos, incluindo menor custo e maior disponibilidade. Descrição: Apresentaremos uma série de 7 casos de fraturas por estresse em metatarsos diagnosticadas por ultrassonografia. Os achados ultrassonográficos são correlacionados com as radiografias convencionais dos respectivos pacientes. Um dos casos possui também exame de ressonância magnética. Discussão: A ultrassonografia como método diagnóstico para o sistema musculoesquelético está em crescente avanço nos últimos anos. 1 1 11 Nesse contexto, alguns autores têm evidenciado boa sensibilidade e boa especificidade dela no diagnóstico de fraturas de estresse recentes em metatarsos quando comparada aos métodos considerados padrão ouro. Sugere- se, inclusive, que a ultrassonografia deva ser o exame de escolha quando, na vigência de quadro clínico sugestivo em metatarsos, a radiografia for normal, tendo como vantagens o baixo custo, a boa disponibilidade do método, não ser invasiva e a ausência de exposição à radiação ionizante. DOPPLER COLORIDO TRANSCRANIANO NA MORTE ENCEFÁLICA Conceitua-se morte encefálica como o estado clínico em que as funções encefálica e do tronco encefálico estão irreversivelmente comprometidas. São três os requisitos para assegurar a morte encefálica:causa conhecida e irreversível; ausência de hipotermia, hipotensão ou distúrbio metabólico grave; exclusão de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos psicotrópicos. Ainda, presença de coma sem resposta ao estímulo externo, inexistência de reflexos do tronco encefálico e apneia. De acordo com o protocolo, o diagnóstico deve ser estabelecido após dois exames clínicos, com intervalo de no mínimo seis horas, realizados por profissionais diferentes e não vinculados à equipe de transplantes. Deve ser comprovada, por intermédio de exames complementares, a ausência no sistema nervoso central de perfusão, atividade elétrica ou metabolismo. Dentre os exames complementares, o Doppler colorido transcraniano (DTC) é o método de imagem mais rápido, de baixo custo e não invasivo para determinar a morte encefálica. 1 2 12 Segunda a Academia Americana de Neurologia, o DTC para diagnóstico de morte encefálica (tipo A, classe II) tem sensibilidade de 91% a 100% e especificidade de 97% a 100%. No Brasil, o DTC está incluído entre as ferramentas complementares obrigatórias para a confirmação de morte encefálica, conforme a legislação vigente (CFM, Resolução Nº 1.480 de 8 de agosto de 1997). O presente trabalho visa demonstrar casos de morte encefálica em crianças e adultos em que o DTC foi utilizado como ferramenta comprobatória, e um caso em que, embora o diagnóstico clínico e do eletroencefalograma afirmassem morte encefálica, o DTC descartou morte encefálica. Por isso, embora o DTC já venha sendo usado em algumas unidades de terapia intensiva como exame confirmatório para o diagnóstico de morte encefálica, sua utilização ainda pode crescer. COLANGIOPATIA POR HIV: RELATO DE CASO A colangiopatia associada ao HIV é frequentemente diagnosticada durante a avaliação de colestase em pacientes com SIDA. A maioria destes pacientes apresenta um estágio avançado da doença. Vários patógenos estão implicados como a causa desta doença, sendo o Cryptosporidium o microrganismo mais frequentemente isolado, seguido por citomegalovírus. Métodos de imagem não invasivos como ultrassonografia e tomografia computadorizada são geralmente os primeiros passos para o diagnóstico. Apresentamos o caso de um paciente de 39 anos, sexo masculino, com diagnostico de SIDA e em uso de antirretrovirais, que evoluiu com dor abdominal 1 3 13 e quadro colestático anictérico, apresentando níveis séricos elevados de fostatase alcalina e níveis normais de bilirrubina. Ao exame tomográfico observou-se dilatação das vias biliares intra- hepáticas, sendo discreta à direita e acentuada à esquerda, exibindo espessamento parietal, associada a dilatações e estreitamentos focais. Notou- se também discreta dilatação de vias biliares extra-hepáticas, sem evidência de fator obstrutivo. No ultrassom feito previamente, confirmaram-se tais achados. Após investigação, considerou-se diagnóstico de colangiopatia por HIV. O objetivo deste resumo é discutir a possibilidade de colangiopatia em pacientes com SIDA com quadro colestático, e exibir os principais achados de imagem. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO DE TRIORQUIDIA: RELATO DE CASO O escroto é um saco fibromuscular dividido em dois compartimentos por um tecido fibroso, a rafe mediana. Cada saco contém um testículo, epidídimo, cordão espermático e revestimentos de fáscia associados. Todas essas estruturas podem ser afetadas por uma ampla variedade de processos patológicos, incluindo alterações congênitas, inflamatórias e neoplásicas. A poliorquidia, ou testículos supranumerários, é uma rara condição resultante embriologicamente de uma divisão anormal da crista genital. Apesar de a triorquidia ser a forma mais comum de poliorquidia, achado de cinco testículos já foi relatado. 1 4 14 Em aproximadamente 75% dos casos, os testículos supranumerários são intraescrotais, e os pacientes relatam massa escrotal não dolorosa. Apesar de eles serem histologicamente normais, frequentemente apresentam túbulos e espermatogênese anômalos, imaturos. Possuem ainda maior risco de torção e de processos neoplásicos. Na ultrassonografia, usualmente mantêm ecogenicidade semelhante à dos outros testículos, apesar de essa aparência poder ser variável. Relato de caso: Menino de 10 anos com queixa de nódulo não doloroso na bolsa escrotal. Optou-se pela realização de ultrassonografia, que evidenciou, além de dois testículos de ecogenicidade, forma e dimensões normais, uma estrutura ovalar. Esta apresentou ecogenicidade homogênea similar à dos testículos analisados, salientando-se suas menores dimensões e envoltório líquido perinodular. Tais achados foram compatíveis com testículo acessório com hidrocele. Discussão: A triorquidia é uma anomalia da crista genital, geralmente assintomática, mas com riscos aumentados de complicações, como neoplasia e torção. Para o seu diagnóstico e acompanhamento, a ultrassonografia mostra-se como um exame muito importante, exequível com facilidade, acessível à população, e desprovido de efeitos biológicos deletérios. 1 5 15 ACURÁCIA DO ULTRASSOM NA AVALIAÇÃO DA RESSECABILIDADE DE TUMORES ABDOMINAIS SÓLIDOS EM CRIANÇAS Determinar a acurácia, as medidas de desempenho e o coeficiente kappa do ultrassom (US) na avaliação da ressecabilidade de tumores sólidos intra- abdominais em uma população pediátrica. Material e métodos: Estudo prospectivo e consecutivo de 26 crianças [19 meninas (73,1%) e 7 meninos (26,9%)], mediana de idade de 50,5 meses (3 meses a 210 meses), portadoras de tumores intra-abdominais sólidos, que realizaram US pré-operatório, no período de outubro de 2008 a setembro de 2011. Os achados cirúrgicos (padrão ouro) foram comparados aos observados no US. Foi definido, pelo US, como “órgão livre” quando havia movimento entre o tumor e o órgão examinado, e “órgão comprometido” na ausência deste movimento. O US foi realizado por médicos radiologistas com experiência no método, sendo que cada órgão ou estrutura em contato com o tumor foi considerado uma unidade de estudo. Resultados: Foram examinados pelo US 409 órgãos e estruturas: 94 (24,9%) foram considerados aderidos ou comprometidos e 315 (77%), livres. Em comparação à cirurgia, a acurácia do US para avaliar a ressecabilidade dos tumores intra-abdominais foi 93,6% (IC95: 90,8–95,8%), a sensibilidade, 86,2% (IC95: 77,5–92,4%), a especificidade, 95,9% (IC95: 93– 97,8%), o valor preditivo positivo, 86,2% (IC95: 77,5–92,4%), e o valor preditivo negativo, 95,9% (IC95: 93–97,8%). O coeficiente kappa foi 0,82 (p < 0,001). 1 6 16 O US apresentou altas acurácia, sensibilidade e especificidade na avaliação da ressecabilidade de tumores sólidos intra-abdominais em crianças, mostrando que pode ser usado como exame complementar no pré-operatório destes pacientes, desde que realizado por radiologista treinado e experiente, e com equipamento adequado. CARACTERIZAÇÃO TECIDUAL ULTRASSONOGRÁFICA (CATUS) DE RINS TRANSPLANTADOS: PESQUISA EM FASE DE DESCOBERTA Descoberta de alterações da mediana da escala cinza, ou gray scale median (GSM), precedendo anormalidades da hemodinâmica renal e sintomas no pós-operatório imediato de rim transplantado, originou estudo CATUS-GSM de rins normais. Esta compara GSM-CATUS de transplantes renais em seis pacientes submetidos a biópsia. Métodos: Amplitudes de brilho de imagens longitudinais, obtidas para dimensionar rins, foram classificadas em 14 intervalos: não ecogênico, hipoecogênico I a IV, ecogênico I a IV, hiperecogênico I a IV e saturado (0–4, 5–7, 8– 26, 27–40, 41–60, 61–76, 77–90, 91–111, 112–132, 133–153, 154–174, 175–196, 197–210, 211–255). GSMs e proporções de pixels em intervalos específicos foram comparadas aos dados normais. Resultados: 1) Rejeição aguda vascular grave, acompanhada de nefropatia crônica (NC), fibrose intersticial (FI) e atrofia tubular (AT) moderadas, foi constatada em transplante com proporções altas em intervalos 0–7 (6,1% vs. 2,1%; p =.15) e 61–174 (45% vs. 17%; p < 0,001), e proporção baixa no intervalo 8–60 (49% vs. 81%; p < 0,001); 1 7 17 2) necrose tubular aguda em regeneração apresentou 67% vs. 17% (p < 0,001) de pixels no intervalo 61–174 e 3% vs. 58% no intervalo 8–40 (p < .0,001); 3) esclerose glomerular e NC discreta em transplante com 57% e 15% para intervalos descritos em 2) (p < 0,001); 4) nefrotoxicidade à ciclosporina em transplante com proporção alta no intervalo 41–90 (91% vs. 35%; p < 0,001); 5 e 6) NC, FI e/ou AT discretas com proporções 73% e 42% no intervalo 41–90 (p < 0,001; p = 0,35). GSMs de 1) a 6): 56, 73, 67, 62, 55 e 39. Conclusões: CATUS demonstrou alterações de ecogenicidade em transplantes renais patológicos. GSM alterada poderia indicar estudos adicionais. Este relato, em nível de descoberta, justifica estudos CATUS, paralelos e longitudinais, de transplantes renais. A observação de protocolos de documentação estabelecidos para exames de ultrassonografia, além de servir como eventual respaldo jurídico comprova que o exame foi realizado esgotando, do ponto de vista técnico, o método em questão. As recomendações especificadas neste documento abrangem a documentação mínima necessária para permitir uma avaliação da qualidade do estudo realizado em casos sem doenças ou alterações específicas. Para exames patológicos, além da documentação mínima, imagens específicas de cada alteração devem ser registradas. Essas recomendações não podem ser usadas para limitar a documentação dos exames. Os médicos devem ter autonomia para documentar outras estruturas, ou as mesmas estruturas em outros planos, além daqueles aqui especificados, visando a melhor prática e cuidado com os pacientes. Como os exames enviados ao CBR deverão ser PATOLÓGICOS, exceção feita apenas aos exames obstétricos, além da documentação básica especificada abaixo, devem ser registradas ao menos mais duas imagens, em 1 8 18 planos ortogonais, de cada alteração, com as respectivas medidas quando pertinentes. Observação: A documentação deve conter a medida da veia porta. Na presença de hepatomegalia, recomenda-se documentar a medida do diâmetro longitudinal do lobo direito e esquerdo. Caso haja esplenomegalia, recomenda-se registrar as medidas do maior e menor eixo do baço para cálculo do índice esplênico uniplanar. 1 9 19 2 0 20 2 1 21 2 2 22 2 3 23 2 4 24 2 5 25 Observações: A documentação deve conter a medida da velocidade de pico sistólico das artérias carótidas comuns; velocidade de pico sistólico e velocidade diastólica final das artérias carótidas internas. O ângulo Doppler deve ser corrigido e menor ou igual a 60 graus sempre que houver medida de velocidades de fluxo. DOPPLER DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES – SISTEMA VENOSO PROFUNDO 2 6 26 Para exames com achados patológicos, além da documentação mínima exigida, realizar imagens específicas (p.ex.: refluxo com mapeamento colorido e comprovação com a análise espectral; corte transversal com e sem compressão, devidamente identificados, para veias contendo trombos; mapeamento colorido para veias contendo trombos e recanalização parcial). DOPPLER DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES – SISTEMA VENOSO SUPERFICIAL Realizar sempre o exame do sistema venoso profundo, registrando a respectiva documentação fotográfica além o mapeamento do sistema superficial. 2 7 27 Observações: A pesquisa de refluxo deve ser realizada em ortostase; Veias com refluxo devem ser documentadas no modo Color e espectral, evidenciando o tempo de refluxo; Veias perfurantes dilatadas e insuficientes devem ser documentadas no modo B, mapeamento com Doppler colorido e se possível com análise espectral; Os sítios de origem e drenagem do refluxo venoso devem ser cuidadosamente anotados. 2 8 28 DOPPLER DAS ARTÉRIAS DOS MEMBROS INFERIORES Observação: O ângulo Doppler deve ser corrigido e menor ou igual a 60 graus sempre que houver medida de velocidades de fluxo. 2 9 29 DOPPLER DAS ARTÉRIAS DOS MEMBROS SUPERIORES Observações: Realizar manobras para pesquisa da "Síndrome do Desfiladeiro" e registrar as velocidades de pico sistólico durante as manobras. O ângulo Doppler deve ser corrigido e menor ou igual a 60 graus sempre que houver medida de velocidades de fluxo. 3 0 30 DOPPLER VENOSO DOS MEMBROS SUPERIORES Para avaliação pré-operatória de fístula arteriovenosa para hemodiálise, realizar adicionalmente: Imagens modo B com corte transversal com medida de calibre na veia cefálica nos terços proximal, médio e distal do braço; e terços proximal, médio e distal do antebraço; Imagens modo B com corte transversal com medida de calibre na veia basílica no terço distal do braço; e terços proximal, médio e distal do antebraço; Imagens modo B com corte transversal com medida de calibre na veia cefálica: no terço proximal, médio e distal do braço; terço proximal, médio e distal do antebraço. Uma imagem modo B com corte transversal com medida de calibre da artéria braquial no terço distal do braço; Imagens modo B com corte transversal com medida de calibre das artérias radial e ulnar no terço distal do antebraço. Observações: * Realizar manobras de compressão para pesquisa de trombose venosa. 3 1 31 * Para exames com achados patológicos, além da documentação mínima exigida, adquirir imagens específicas (p. ex. corte transversal com e sem compressão, devidamente identificados, para veias contendo trombos; mapeamento colorido para veias contendo trombos e recanalização parcial). DOPPLER DE ARTÉRIAS RENAIS Observações: 3 2 32 Para exames com achados patológicos, além da documentação mínima exigida, realizar ao menos duas imagens em planos ortogonais de cada alteração, com as respectivas medidas quando pertinentes. É obrigatório corrigir o ângulo, que deve ser menor ou igual a 60 graus para as medidas de velocidade de fluxo. DOPPLER HEPÁTICO / SISTEMA PORTA 3 3 33 Observações: Recomenda-se documentar a medida do diâmetro longitudinal do lobo direito e esquerdo. Devem-se registrar as medidas do maior e menor eixo do baço para cálculo do índice esplênico uniplanar. A pesquisa de circulação colateral sempre deve ser realizada e os achados patológicos registrados. Se a pesquisa for negativa, faculta-se documentar esta pesquisa. Para exames com achados patológicos, além da documentação mínima exigida, realizar ao menos duas imagens em planos ortogonais de cada alteração, com as respectivas medidas quando pertinentes. Se a veia esplênica retropancreatica não for caracterizada, deve-se fotografar medir e documentar com Doppler coloridoao nível do hilo esplênico. 3 4 34 PAREDE ABDOMINAL Observações: A pesquisa de hérnias inguinais e femorais deve ser feita em ortostase caso o exame seja negativo com o paciente em decúbito. Para exames com lesões focais ou outros achados patológicos, além da documentação mínima exigida, realizar ao menos duas imagens em planos ortogonais de cada alteração, com as respectivas medidas quando pertinentes. 3 5 35 BOLSA TESTICULAR Observação: Evitar dividir a tela para medir os testículos. BOLSA TESTICULAR COM DOPPLER 3 6 36 Observações: Evitar dividir a tela para medir os testículos. A pesquisa de varicocele deve ser feita em ortostase caso o exame seja negativo com o paciente em decúbito. Se possível, é desejável registrar o refluxo venoso com Doppler espectral. Para exames com lesões focais ou outros achados patológicos, além da documentação mínima exigida, realizar ao menos duas imagens em planos ortogonais de cada alteração, com as respectivas medidas quando pertinentes. 3 7 37 PRÓSTATA VIA SUPRAPÚBICA PRÓSTATA VIA TRANSRETAL 3 8 38 DEMAIS EXAMES Documentar cada exame com ao menos 6 imagens ilustrativas da anatomia e/ou características do tecido, estrutura, órgão ou região analisada. IMPRESSÃO DA DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Recomendamos que as imagens sejam impressas em múltiplos de seis, pois o formato padrão de impressão é de duas colunas e três linhas com seis imagens por página formato carta ou A4 com gramatura 90 ou superior. Nos últimos anos, a ultrassonografia (US) de pulmões e pleuras vem ganhando espaço na avaliação de pacientes nos setores de emergência e de medicina intensiva. Diversos protocolos definidos no conceito point of care ultrasound - ultrassom dedicado e limitado à solução de uma questão específica - estão bem delineados na literatura, seja na abordagem da síndrome respiratória aguda pelo protocolo bedside lung ultrasoud in emergency (BLUE) - ultrassom pulmonar à beira do leito em situações de emergência -, seja no diagnóstico do choque circulatório como parte do protocolo rapid ultrasound for shock and hypotension (RUSH) - ultrassom direcionado para o choque e hipotensão. Além disso, integra o consagrado extended focus assessment sonography for trauma (e-FAST) - avaliação focada com ultrassonografia para o trauma. O método é isento de radiação ionizante, dinâmico, de baixo custo e pode ser realizado à beira do leito. 3 9 39 No contexto de doença infecciosa de alta transmissibilidade, sua realização envolve a exposição de somente um profissional, ao contrário da tomografia computadorizada (TC). Esses dispositivos podem ser facilmente protegidos com plástico, diminuindo risco de contaminação e facilitando os processos de esterilização. No cenário atual da pandemia pelo vírus SARS-CoV-2, responsável pela doença do novo coronavírus 2019 (COVID-19) iniciada em Wuhan na China em dezembro de 2019, todos os continentes (213 países) estão afetados, com 3.090.445 casos e 217.769 óbitos. No Brasil, são mais de 71.886 infectados, com 5.017 óbitos (30/4/2020). A US na avaliação dos pulmões e das pleuras ganhou grande importância na propedêutica desses pacientes. Diversas condições podem ser avaliadas pela US de pulmões e pleuras, por exemplo, consolidações, atelectasias, edema intersticial e alveolar, pneumotórax, derrame pleural simples e complicado, entre outras. Nem todos esses achados são característicos de pacientes com a COVID- 19. Seu conhecimento é de grande importância tanto na abordagem inicial para avaliar diagnósticos diferenciais quanto no seguimento de pacientes com COVID-19 A avaliação ultrassonográfica do pulmão é baseada em artefatos, de forma que descreveremos vários deles, como linhas A, B e Z. Além disso, mencionaremos sinais, alguns com analogias para traduzirem esses artefatos, num processo mnemônico, mas que muitas vezes mitificam esse exame. Nesse contexto, nos propusemos a elaborar uma revisão dos principais achados da US de tórax, destacando os comumente visualizados na COVID-19, além de padronizar a realização do exame e fazermos sugestão do relatório ultrassonográfico. 4 0 40 COMO REALIZAR O EXAME Por ser um exame dinâmico, o paciente pode ser avaliado em diversas posições, a exemplo dos decúbitos dorsal, lateral, posição prona, sentado e em ortostase. No contexto do desconforto respiratório, ou já com controle de vias aéreas, o mais comum é realizá-lo no decúbito dorsal ou até mesmo na posição prona, a depender da estratégia ventilatória traçada no momento.. Existem diversos protocolos na literatura quanto às regiões torácicas a serem avaliadas. Seis áreas são avaliadas em cada hemitórax segundo o protocolo BLUE, primeiro a testar a US em afecções pleuropulmonares. Na superfície anterior do tórax registramos as regiões anterossuperior e anteroinferior (limitadas pelas linhas paraesternal anterior e axilar anterior). Na superfície lateral, avaliamos as regiões laterais superior e inferior (limitadas pelas linhas axilar anterior e axilar posterior). Por fim, na superfície posterior, analisamos as regiões posterossuperior e posteroinferior (posteriores à linha axilar posterior). Outros protocolos avaliam 14 áreas em cada paciente (duas anteriores, duas laterais e três posteriores em cada hemitórax), cuja pontuação, a depender dos achados, auxilia no diagnóstico e seguimento desses pacientes. Em geral, se inicia o exame com equipamento ajustado para US de abdome. Podem ser utilizados transdutores convexos, cuja frequência menor e comprimento de onda acústica maior permitirão avaliação de regiões mais profundas, porém, com menor resolução de imagem do plano superficial. Por outro lado, os transdutores lineares de maior frequência fornecem mais detalhes da interface pleuropulmonar. Segundo Lichtenstein et al., o ideal seria a sonda de 6 MHz, utilizada no seu trabalho. Outras estratégias durante a aquisição das imagens na US de tórax (incluindo a direcionada ao paciente com a COVID-19) é o uso do índice 4 1 41 mecânico baixo, começando em 0,7 e podendo-se reduzir esse índice para melhorar a aquisição da imagem. Recomenda-se evitar ao máximo o fenômeno da saturação, filtros cosméticos, modalidades específicas de imagem, assim como evitar a utilização da imagem harmônica, uma vez que na US de tórax estaremos pautando o diagnóstico em artefatos ultrassonográficos. A avaliação deve ser preferencialmente com transdutor no sentido longitudinal. Nesse plano são observadas duas sombras acústicas, que representam artefatos posteriores às costelas. A disposição do transdutor de modo paralelo às costelas também pode ser adotada, em que nesse corte o campo de avaliação será maior, entretanto, as referências das costelas são perdidas. Essa aquisição é especialmente aconselhada quando se caracteriza alguma anormalidade. Esse plano, com maior campo de avaliação, também pode ser importante no diagnóstico de pneumotórax. ACHADOS NORMAIS NA US DE PULMÕES E PLEURAS Linha pleural A linha pleural tem aspecto ultrassonográfico hiperecogênico e representa seus folhetos parietal e visceral. Por ser um exame dinâmico, podemos verificar a movimentação pleural durante as incursões respiratórias, e esse simples achado não deve ser menosprezado. Ele pode ser confirmado na avaliação ao modo M, no qual o achado característico é o “sinal da praia”, que representao bom deslizamento pleural. O contrário é observado na vigência de pneumotórax, tubo endotraqueal seletivo e, mais raramente, em atelectasia. Linhas A As linhas A se formam em função da grande diferença de densidade entre a pleura e o pulmão. Notamos fenômenos de reverberação acústica pleural, com formação de linhas hiperecogênicas. 4 2 42 Essas linhas são esparsas e paralelas à linha pleural e se repetem no sentido anteroposterior com a mesma distância da pleura para a pele. Este é um achado virtual, fruto de artefato decorrente das características da interface pleuropulmonar. Nos processos patológicos, suas características podem se alterar, como veremos adiante. Pacientes acamados por algum tempo podem ter alguns septos espessados, principalmente nas regiões posteriores (decúbito-dependentes), o que acarretaria a observação de até duas linhas B por espaço intercostal, aspecto que ainda é considerado como ausência de alterações significativas. https://www.scielo.br/img/revistas/rb/v53n4/0100-3984-rb-20200051-gf04-pt.jpg 4 3 43 Figura 4 US pulmonar no modo B. A: Representação com as marcações correspondentes às linhas A, B e pleural. A linha B (asteriscos) representa artefatos hiperecogênicos, verticais e que percorrem todo o campo anteroposterior avaliado. Uma importante característica é o fato de apagarem as linhas A (seta amarela) ao se cruzarem (X). A linha pleural mostra-se como linha hiperecogênica (seta vermelha). B: Imagem demonstra US pulmonar modo B sem as marcações indicativas. Linhas Z As linhas Z (conhecidas como “falsas linhas B”) não têm significado patológico. São artefatos “em cauda de cometa” que se iniciam na pleura e seguem em sentido anteroposterior, porém, não apagam as linhas A, além de não alcançarem toda a extensão do campo pulmonar avaliado. Diferentemente das linhas B, as linhas Z não são sincrônicas às incursões respiratórias. SINAIS ULTRASSONOGRÁFICOS DE ALTERAÇÕES PULMONARES, PLEURAIS E DA PAREDE TORÁCICA Linhas B patológicas Três ou mais linhas B por espaço intercostal traduzem espessamento dos septos interlobulares ou intralobulares subpleurais, podendo ser visto em doenças que acometem as estruturas que percorrem tais septos, como o interstício pulmonar, que contém veias, vasos linfáticos e tecido conjuntivo. Exemplos de tais doenças são: edema pulmonar, intersticiopatias, linfangites, entre outras. 4 4 44 Quando as linhas B ficam mais espessas (acima de 3,0 mm), temos as chamadas linhas B coalescentes, que, por sua vez, correspondem ao vidro fosco na periferia pulmonar, evidente na TC. No contexto da COVID-19, múltiplas linhas B coalescentes na US configuram o padrão white lung (pulmão branco) e apresentam boa correlação com o padrão de vidro fosco identificado na TC. Há uma correlação inversamente proporcional entre o número de linhas B e a relação de pressão parcial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio, ou seja, quanto maior o número de linhas B, maior é o comprometimento das trocas gasosas. O controle ultrassonográfico evolutivo pode ser uma ferramenta auxiliar no monitoramento de pacientes nessa condição. Consolidações e as linhas C pulmonares As consolidações pulmonares podem se apresentar como áreas hipoecogênicas que tangenciam a pleura, descaracterizando o eco pleural nessa região. Os artefatos “em cauda de cometa” na base das consolidações correspondem às linhas C. Broncogramas aéreos são imagens hiperecogênicas puntiformes ou lineares, cujas características se modificam durante as fases de inspiração e expiração. Podem ser observados como movimentações de permeio às consolidações (denominados dinâmicos) na US em tempo real, ou seja, identifica-se a movimentação do ar no interior da árvore brônquica dentro da condensação. Nos aerobroncogramas dinâmicos pode-se registrar um padrão tipo “vascular” no estudo Doppler. 4 5 45 Figura 9 A,B: Representação esquemática dos aerobroncogramas dinâmicos. Aerobroncogramas dinâmicos (asteriscos) na US modo B (avaliação em tempo real) em meio a consolidação pulmonar (seta vermelha). Suas características modificam-se durante as fases do ciclo respiratório. Podem apresentar sinal de movimentação ao Doppler. Atelectasia pulmonar está associada à redução volumétrica pulmonar, podendo se apresentar semelhante às consolidações, com aerobroncogramas, porém, esses não são habitualmente dinâmicos, sendo denominados estáticos. https://www.scielo.br/img/revistas/rb/v53n4/0100-3984-rb-20200051-gf09-pt.jpg 4 6 46 Neste caso, não se observa movimentação das imagens hiperecogênicas de permeio à consolidação, tampouco a presença do padrão “vascular” no Doppler, durante o ciclo respiratório. É verdade que em até 6% dos casos de atelectasia aerobroncogramas dinâmicos podem ser visualizados. Figura 10 A,B: Corte ultrassonográfico no terço inferior do hemitórax direito. Atelectasia (seta vermelha) e derrame pleural (seta amarela). Notar a redução volumétrica do segmento pulmonar avaliado e a presença de broncograma aéreo estático (círculo). https://www.scielo.br/img/revistas/rb/v53n4/0100-3984-rb-20200051-gf10-pt.jpg 4 7 47 Durante as incursões respiratórias não há mudança de suas características e de fenômeno Doppler. Estes estariam presentes nos broncogramas dinâmicos das consolidações. As consolidações pulmonares podem dar ao parênquima pulmonar o aspecto de “hepatização pulmonar”, também chamado de sinal pseudotissular, cuja ecogenicidade é semelhante à do fígado . Um estudo de metanálise publicado no ano de 2014 mostrou que no contexto clínico a US pulmonar pode ter sensibilidade de 97% e especificidade de 94% (IC 95%), com área sob a curva ROC de 0,99 no diagnóstico de pneumonia. Nos pacientes portadores da COVID-19, consolidações podem adquirir aspectos multilobares, pequenas dimensões e associadas a broncogramas aéreos dinâmicos. Grandes consolidações pulmonares, como nas pneumonias lobares, não costumam ser observadas na COVID-19. Derrame pleural O feixe ultrassônico é transmitido facilmente pelo meio líquido, o que torna a US método excelente para avaliar derrame pleural. Possui aspecto geralmente anecoico, podendo, no entanto, também se apresentar hipoecogênico. No modo M, pode-se verificar o chamado “sinal do sinusoide”, que ocorre devido ao movimento flutuante do pulmão em meio à coleção líquida. Na literatura há diversas formas de calcular e estimar o volume da coleção pleural. Com o transdutor ao nível da linha axilar posterior no fim da expiração pode-se medir a distância entre os folhetos visceral e parietal da pleura. A distância entre esses folhetos pode estimar o volume de derrame pleural. Dessa forma, distância de 3 mm significaria volume de derrame pleural 4 8 48 de 15 a 30 mL; distância de 10 mm, volume de 75 a 150 mL; distância de 20 mm, volume de 300 a 600 mL; e distância de 35 mm, volume de 1500 a 2500 mL. Outra forma para obter uma estimativa do volume é multiplicar a distância entre os folhetos pleurais por 20, resultando no volume (estimado) da coleção pleural. Vale ressaltar que no nosso serviço não quantificamos o volume do derrame pleural, visto que há grande divergência entre as estimativas e o real volume. Apenas referimos, de forma subjetiva, se é pequeno, moderado ou volumoso. A escolha do local anatômico para punção do espaço pleural pode ser realizada e demarcada com a US. Sua marcação deve ser feita com o paciente na posição em que será puncionado, atentando-se também para oposicionamento dos membros superiores. A distância (espessura) entre a pele e o folheto pleural deve ser informada no relatório, assim como o local demarcado. No contexto da COVID-19, avaliar corretamente o espaço pleural é fundamental. O derrame pleural é um achado raro nesta condição. Pneumotórax É a presença de ar entre os folhetos pleurais, que irá impedir o adequado deslizamento pleural; assim, a pleura visceral, que se movimenta, não estará mais acessível. As linhas A, por outro lado, podem estar presentes e com origem no folheto parietal. Na US modo M, o aspecto fisiológico da interface pleuropulmonar (representado pelo “sinal da praia”) é perdido. Na presença de pneumotórax, observaremos o “sinal da estratosfera”, também denominado “código de barras”, que confirma a ausência de deslizamento pleural. 4 9 49 Na COVID-19, a exemplo do derrame pleural, o pneumotórax não é uma apresentação usual. Entretanto, esta é uma complicação possível durante o tratamento de pacientes em ventilação mecânica invasiva e a US pode fazer parte do arsenal diagnóstico desses pacientes. Enfisema subcutâneo É a presença de ar contido no subcutâneo. Na vigência dessa condição, observam-se as linhas E, que são linhas verticais. Essas linhas não surgem da linha pleural, mas do tecido subcutâneo; como o ar está no subcutâneo (ou seja, não se movimenta com a respiração), essas linhas não são sincronizadas com os movimentos respiratórios. As linhas E são bem definidas e também apagam as linhas A e, portanto, podem ser confundidas com as linhas B verdadeiras. DESTAQUES NA COVID-19 Conforme relatado por diversos autores, as áreas superficiais (periféricas) basais dos pulmões são as mais afetadas na COVID-19 . O acesso a essas regiões pela US é bastante satisfatório, o que faz este método uma importante ferramenta auxiliar nessa doença. Entretanto, ainda não temos dados na literatura significativos acerca da sensibilidade da US nos diferentes graus de acometimento pleuropulmonar na COVID-19 para estabelecê-la como método de triagem. Alguns achados na TC de tórax de alta resolução mostram concordância com aspectos ultrassonográficos. Espessamento, irregularidade pleural e consolidações são bem caracterizados em ambos os métodos. Opacidades em vidro fosco na TC de alta resolução correspondem às múltiplas linhas B coalescentes na US, às vezes com aspecto de pulmão branco, de distribuição heterogênea pelo parênquima pulmonar, diferente do aspecto homogêneo do edema pulmonar. Conforme a doença progride (com pico entre 9 e 13 dias do início dos sintomas), aumentam as áreas de linhas B coalescentes na US, que indicam 5 0 50 tanto o aumento das áreas de vidro fosco como o surgimento da pavimentação em mosaico na TC. Além disso, surgem consolidações, geralmente pequenas e subpleurais. O RELATÓRIO DA US DE TÓRAX No relatório da US de tórax devem constar os achados principais de cada região torácica avaliada, sendo seis em cada hemitórax. Em cada registro fotográfico é importante identificá-las . (Recomenda-se relatar nos casos normais: a integridade, regularidade e espessura da pleura (atenção ao espessamento pleural, que é um achado inicial na COVID-19); a presença de deslizamento pleural; e a presença das linhas A.). É importante negar a presença de derrame pleural. Nos casos alterados, relatar os achados patológicos e qual perfil predominante de cada região avaliada. Caso seja possível, é interessante comparar cada região com exame US prévio, a fim de caracterizar a evolução do quadro. Achados como espessamento pleural, presença de mais que duas linhas B ou linhas B coalescentes por espaço intercostal e consolidações subpleurais devem ser criteriosamente avaliados em paciente com suspeita ou diagnóstico confirmado da COVID-19, lembrando que esses achados não são patognomônicos dessa condição. SUGESTÃO DE RELATÓRIO US de tórax 1 - Técnica: Exame realizado com transdutor convexo (baixa frequência) e/ou linear (alta frequência), com o paciente em decúbitos horizontais dorsal e laterais e/ou sentado. 5 1 51 2 - Pulmões: Foi realizada a varredura dos espaços intercostais, dividindo cada hemitórax em seis regiões, sendo encontrados os principais achados pulmonares conforme descritos no quadro abaixo: Região Pulmão direito Pulmão esquerdo 1. Anterossuperior 2. Anteroinferior 3. Lateral superior 4. Lateral inferior 5. Posterossuperior 6. Posteroinferior 1 - Cada célula do quadro pode ser preenchida com os seguintes conteúdos (legenda): A - Só foram encontradas linhas A ou até duas linhas B por espaço intercostal (aeração normal). B1 - Foram encontradas mais que duas linhas B por espaço intercostal (espessamento de septos interlobulares ou intralobulares periféricos puro). B2 - Foram encontradas linhas B coalescentes (“vidro fosco ultrassonográfico”). C - Foram encontradas consolidações periféricas, porém pequenas, inferiores a 2,5 cm. CC - Foram encontradas consolidações periféricas, porém maiores que 2,5 cm. CCC - Foi encontrada consolidação lobar. AAA - Foi encontrada atelectasia pulmonar. Obs.: Caso haja duas ou mais alterações em uma mesma região, deve prevalecer a mais grave ou mais importante no quadro clínico em questão. Caso seja importante relatar duas alterações na mesma região, pode-se utilizar o modelo: B2 + AAA, por exemplo, para indicar que há linhas B coalescentes e atelectasias pulmonares em uma mesma região. 5 2 52 2 - Pleura: Descrever eventuais espessamentos e/ou irregularidades pleurais, bem como fazer a avaliação dos espaços pleurais: espaços pleurais virtuais ou presença de “pequeno/moderado/volumoso” derrame pleural à “direita/esquerda/bilateral”. O derrame é líquido homogêneo ou contém septos/loculações/nódulos (especificar). Se houver pneumotórax, também deve ser relatado aqui. 3 - Mobilidade diafragmática: Descrever eventual redução ou paralisia da mobilidade diafragmática de algum ou ambos os hemitórax. 4 - Parede torácica: Não foram encontradas alterações significativas ou presença de enfisema de subcutâneo e/ou fratura de arco costal em determinada região. 5 - Outros achados: Descrever eventuais achados que podem ser encontrados no exame, por exemplo, derrame pericárdico ou alterações significativas da transição toracoabdominal, como o calibre da veia cava inferior, importante em pacientes com choque hipovolêmico. 5 3 53 REFERENCIAS Lichtenstein DA, Mezière GA. Relevance of lung ultrasound in the diagnosis of acute respiratory failure: the BLUE protocol. Chest. 2008;134:117-25. Ianniello S, Di Giacomo V, Sessa B, et al. First-line sonographic diagnosis of pneumothorax in major trauma: accuracy of e-FAST and comparison with multidetector computed tomography. Radiol Med. 2014;119:674-80. 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